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Introdução:

O contrato administrativo é um dos pilares fundamentais do funcionamento do setor público em


qualquer país, desempenhando um papel crucial na relação entre o Estado e os particulares. Em
Moçambique, como em muitas outras nações, o contrato administrativo é regido por um conjunto
específico de normas e princípios que visam garantir a eficiência, transparência e legalidade nas relações
entre a administração pública e os seus contratantes.

Ao abordar os aspectos gerais do contrato administrativo, é essencial compreender a sua natureza


jurídica e os princípios que o norteiam. O contrato administrativo, ao contrário do contrato privado,
envolve uma das partes como ente público, dotado de prerrogativas e sujeições próprias do direito
administrativo. Isso implica uma série de particularidades, tais como a supremacia do interesse público,
a indisponibilidade do interesse público, a sujeição à lei e aos princípios da administração pública, entre
outros.

No contexto específico de Moçambique, o regime jurídico do contrato do trabalho administrativo


assume uma importância significativa. Este regime estabelece as regras e os direitos aplicáveis aos
trabalhadores que prestam serviços ao Estado ou a entidades públicas, regulando aspectos como a
contratação, remuneração, direitos e deveres dos funcionários públicos.

Objetivo Geral:

Analisar o contrato administrativo e o regime jurídico do contrato do trabalho administrativo, com o


intuito de compreender as suas características, princípios e particularidades.

Objetivos Específicos:

1. Investigar a natureza jurídica e os princípios que regem o contrato administrativo em Moçambique.

2. Analisar as principais características e elementos constitutivos do contrato administrativo no


ordenamento jurídico moçambicano.

3. Examinar as peculiaridades do regime jurídico do contrato do trabalho administrativo, destacando as


normas e os direitos aplicáveis aos trabalhadores do setor público em Moçambique.

4. Identificar os desafios e as questões em aberto relacionadas ao contrato administrativo e ao regime


do contrato do trabalho administrativo em Moçambique, propondo eventuais soluções ou melhorias.

5. Contribuir para o debate acadêmico e jurídico sobre o tema, fornecendo uma análise crítica e
atualizada da legislação e jurisprudência pertinentes.

CONTRATO ADMINISTRATIVO

O contrato administrativo envolve um acordo de vontade entre duas ou mais pessoas, como qualquer
outro contrato, só que uma delas é uma entidade que integra a Administração Pública e que em vez de
uma manifestação unilateral de autoridade, como acontece com o acto administrativo, estabelece esse
acordo de vontades. Mas em vez de se apresentar destituída de poderes de autoridade, como acontece
com os contratos de direito privado, aparece provida de poderes especiais.

É o instrumento dado à administração pública para dirigir-se e actuar perante seus administradores
sempre que precisar adquirir bens ou serviços dos particulares. (Alexandre, 2011).

Definição

Segundo Di Pietro (2011), a expressão contrato administrativo revela os ajustes que a Administração,
nessa qualidade, celebra com pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, para a consecução de
fins públicos, segundo regime jurídico de direito público.

Justen Filho (2012), no mesmo sentido, conceitua a figura como um acordo de vontades, em que uma
das partes integra a Administração Pública, orientado a constituir relação jurídica submetida ao regime
de direito público e destinada ou a satisfazer de modo direto necessidades da Administração Pública ou
a constituir uma delegação a um particular da prestação de serviço público.Dessa forma, pode-se, em
apertada síntese, definir contrato administrativo como o vínculo jurídico regido pelo direito público, no
qual um dos polos sempre será ocupado pela Administração Pública.

Na perspectiva de DIAS, o contrato administrativo há-de definir-se em função da sua subordinação a um


regime jurídico de Direito Administrativo. Serão administrativos os contratos cujo regime jurídico seja
traçado pelo Direito Administrativo; serão civis ou comerciais os contratos cujo regime jurídico seja
traçado pelo Direito Civil ou Comercial.

Dai que, MACIE2 define o contrato administrativo como sendo, o acordo de vontade pelo qual é
constituída, modificada ou extinta uma relação jurídica administrativa. O mesmo conceito é adoptado
na legislação contenciosa, segundo o qual, para efeitos de competência contenciosa, considera-se como
contrato administrativo o acordo de vontades pelo qual se constitui, modifica ou extingue uma relação
jurídica de direito administrativo, (n.° 1 do art.11°).

Formação do Contrato Administrativo

Na formação de contractos administrativos encontrados as regras que versam sobre os elementos


essenciais do contrato administrativo - a competência para contratar mútuo consenso em que o
contrato administrativo se traduz, a autorização das despesas públicas a realizar através do contrato, e a
forma e formalidades de celebração do contrato administrativo.

A escolha dos particulares está determinada a normas muito restritivas. Pode ser feita através de ajuste
direito, concurso limitado ou concurso público.

A regra geral é que todo o contrato contratual tem de ser celebrado precedendo concurso público, salvo
se a lei autorizar outro processo.
A liberdade contratual da Administração Púbica não é limitada somente pelas regras legais relativas à
escolha do contraente privado, também a liberdade de conformação do conteúdo da relação contratual
está condicionada pela proibição da exigência de prestações desproporcionadas ou que não tenham
uma relação directa com o objecto do contrato. Os contractos administrativos estão sujeitos à forma
escrita (Artigo 107 do Decreto 5/2016 de 8 de Março).

Acontece muitas vezes que as leis administrativas prevêem a figura da adjudicação. Este é um acto
administrativo: trata-se do acto pelo qual o órgão competente escolhe uma proposta preferida e,
portanto, selecciona o particular com quem pretende contratar. A adjudicação é assim, um acto
administrativo, ou seja, um acto jurídico unilateral, ao passo que o conteúdo é um acto jurídico bilateral,
um acordo de vontades.

Cláusulas Essenciais

Os contratos administrativos preceituam quais são as cláusulas necessárias, ou seja, quais são as
cláusulas obrigatórias em todos os contratos administrativos.

De acordo com O (Artigo 112 do Decreto 5/2016 de 8 de Março), aponta algumas cláusulas
necessárias em todo contrato que estabeleçam:

Identificação das partes contratantes;

Objecto do contrato, devidamente individualizado;

Prazo de execução da obra, fonte de bens ou prestação de serviços, com indicação das
datas do respectivo inicio e temo;

Garantias relativas à execução do contrato, quando exigidas;

Forma, prazos e demais cláusulas sobre o regime de pagamento;

Encargo total estimado resultante do contrato;

Sanções aplicáveis em caso de falta de cumprimento;

O foro judicial ou outro, para a solução de qualquer litígio emergente do contrato, seja na
sua interpretação, ou na sua execução;

A inclusão obrigatória de uma cláusula anticorrupção; e


Outras condições que as partes consideram também essenciais à boa execução do
contrato.

Cláusulas Facultativas

As cláusulas facultativas, em contraponto às necessárias, são aquelas cuja previsão se sujeita à


vontade das partes contratantes, podendo ou não estar presentes no instrumento.
Nos dizeres da doutrina, as cláusulas elencadas nos incisos do já mencionado artigo 55,
excluídos os casos de cláusulas necessárias, abrangem as hipóteses dispensáveis ou facultativas,
devendo ser previstas de acordo com a natureza e as peculiaridades de cada contrato (JUSTEN
FILHO, 2012).

Nesse sentido, se inserem como facultativas as seguintes previsões contratuais: respaldo


orçamentário, garantias, direitos e responsabilidades das partes, penalidades, casos de rescisão,
reconhecimento dos direitos da
Administração em caso de rescisão administrativa, taxa de câmbio, vinculação ao edital,
legislação aplicável à execução do contrato e aos casos omissos, manutenção das condições de
habilitação e qualificação exigidas na licitação, e foro contratual. Tais hipóteses podem, também,
contar com previsão anterior já no acto convocatório.

É cláusula necessária em todo contrato a que indique o crédito orçamentário pelo qual corre a
despesa, com a informação da classificação funcional e da estrutura programática, da categoria
econômica e do valor alocado em cada um, nos casos em que forem indicados mais de um
crédito orçamentário.

Cláusulas Exorbitantes
As cláusulas exorbitantes nas palavras de Di Pietro (2011) são aquelas que não seriam comuns
ou que seriam ilícitas em contrato celebrado entre particulares, por conferirem prerrogativas a
uma das partes (a Administração) em relação à outra; elas colocam a Administração em posição
de supremacia sobre o contratado.
Tais prerrogativas conferidas à Administração Pública, quando da celebração de um contrato
administrativo, têm como objetivo privilegiar, em verdade, o interesse público, razão pela qual,
presentes os pressupostos normativos, a inovação jurídica será um dever (JUSTEN FILHO,
2012).
A alteração unilateral do contrato administrativo por parte da Administração é um aspecto que
gera debates, não em virtude da possibilidade de sua aplicação, que é pacífica e decorre de
previsão legal, mas sim porque, a depender da mudança praticada, o equilíbrio econômico-
financeiro deverá ser restabelecido.
Finalidade dos Contratos Administrativos
Conforme já citado anteriormente, os contratos administrativos têm por finalidade única o atendimento
do interesse público. Tal escopo deve ser buscado, ainda que indiretamente, como escreve Di Pietro
(2011, p. 265):
Esta característica está presente em todos os atos e contratos da Administração Pública, ainda que
regidos pelo direito privado; às vezes, pode ocorrer que a utilidade direta seja usufruída apenas pelo
particular, como ocorre na concessão de uso de sepultura, mas, indiretamente, sempre o interesse
público que a Administração tem que ter em vista, sob pena de desvio de poder. No exemplo citado, o
sepultamento adequado, nos termos da lei, é do interesse de todos e, por isso mesmo, colocado sob
tutela do Poder Público.

Principais Espécies de Contractos Administrativos

Segundo Maria (2014), ao tratar das modalidades de contratos administrativos analisa em sua obra os
derivados dos contratos administrativos por excelência, sendo os mais utilizados como algumas espécies
de contratos administrativos as seguintes:

Concessão de obras públicas: é um contrato pelo qual um particular se encarrega de executar e explorar
uma obra mediante retribuição a obter directamente dos utentes através do pagamento de taxas de
utilização; trata-se de um contrato com aplicação restrita ao nível das autarquias locais;

Concessão de serviços públicos: é o contrato pelo qual um particular se encarrega de montar e explorar
um serviço público, sendo retribuído através de taxas de utilização a cobrar directamente ao público;
trata-se de uma contrato que, tal como o anterior, tem uma aplicação restrita ao nível das autarquias
locais;

Concessão da exploração de domínio público: é o contrato pelo qual a Administração faculta a um


sujeito privado a utilização económica exclusiva de uma parcela do domínio público, para fins de
utilidade pública; este contrato tem maior aplicação, especialmente nos tempos actuais, ao nível de
muitas autarquias no mundo, com destaque para tratamento e distribuição de água, recolha, instalações
turísticas em áreas de domínio público, etc.

Fornecimento contínuo: contrato pelo qual o particular se encarrega durante um certo período de
entregar regularmente à autarquia local certos bens necessários ao funcionamento regular de um
serviço público;
Prestação serviços: contrato pelo qual um particular ingressa nos quadros permanentes da
Administração e presta a sua actividade profissional de acordo com o estatuto definido;

Contrato de provimento: contrato pelo qual um particular acorda com a Administração dar-lhe a sua
colaboração profissional com o estatuto da função pública;

Contrato de transporte: contrato pelo qual um particular se encarrega de garantir a deslocação de


pessoas ou coisa de interesse público; é igualmente uma área de aplicação limitada nos municípios, a
quem raramente cabe o exercício de atribuições nesta área.

Modalidade da contratação pública

São três as modalidades de contratação pública, nomeadamente, a geral, especial e excepcional

A modalidade geral é constituída pelo concurso público. Isto é, o concurso público é a regra geral para
a selecção de um contraente privado para a celebração do contrato administrativo, (art. 6).

A modalidade especial é regida por regras e normas jurídicas distintas das vertidas no Decreto nº
5/2016, devendo estas serem enunciadas previamente no anúncio. A adopção desta modalidade
pressupõe uma autorização prévia do ministro que superintende a área das finanças. (art. 7).

A modalidade excepcional, a fasta a aplicabilidade do concurso público. Por tanto é excepção a regra
geral, que é concurso publico. A adopção desta modalidade implica sempre a necessidade de
fundamentar, expondo as razões do desvio do regime geral. (art. 8).

A Execução do Contrato Administrativo

Celebrado o contrato, segue-se a fase da sua execução. Note-se que na fase de formação do contrato
administrativo a administração pública aparece despida dos seus poderes de autoridade, cumprindo-lhe
garantir a efectivação material das regras e princípios que regem a formação contratual.

Já na execução do contrato, devido a necessidade de prosseguir o interesse publico, que é continuo, a


administração aparece investida de um conjunto de prerrogativas públicas especiais de que os sujeitos
privados não dispõe nos termos dos contratos de direito privado. Com efeito, a execução do contrato
administrativo obedece a um regime especial e derrogatório do regime geral, segundo o qual, o contrato
constitui, nos termos escritos em que é concluído, a lei imutável entre as partes.

Todavia, o exercício de tais prerrogativas de autoridade (ou poderes de supremacia da administração


publica) sobre o particular contraente não pode, de modo algum, prejudicar os interesses e as legitimas
expectativas deste, no que se refere ao direito de manutenção do equilíbrio financeiro.

Extinção do contrato administrativo

São causas normais de extinção do contrato administrativo, o cumprimento, a revogação por mútuo
consenso e a rescisão unilateral por incumprimento das partes. (n°.1 do art.125)
Cumprimento

O cumprimento consiste em as partes (contratante e contratada) realizarem as prestações a que se


obrigaram, de forma espontânea ou forçada. A administração publica cumpre o contrato quando realiza
todas as prestações a que se encontra obrigada pelo contrato, pagando, logicamente o preço. O
contraente particular cumpre o contrato quando, também, realiza a prestação, por exemplo, entrega a
obra, os bens ou serviços, sem defeitos.

Revogação por mútuo consenso

A revogação por mútuo consenso consiste na extinção dos efeitos do contrato por acordo entre a
entidade contraente e a entidade contratada, celebrado por escrito, fixando-se no acordo as respectivas
consequências jurídicas. O acordo de revogação segue o principio da equivalência da forma pela qual foi
celebrado o contrato.

Regime jurídico de Contrato Administrativo

O regime jurídico dos contractos administrativos é constituído por normas que conferem Prerrogativas
especiais de Autoridade à Administração Pública, quer por normas que impõe à Administração Pública
especiais deveres ou sujeições que não têm paralelo no regime dos contractos de Direito Privado.

Legalmente o contrato administrativo em Moçambique é regulado pelo Decreto nº 5/2016 de 8 de


Março (Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e
Prestação de Serviços ao Estado), onde encontramos todos os aspectos referentes a estes, desde o
lançamento do concurso até a cessação dos contractos. No (Artigo 107), nos diz: os contractos pautados
pelo Regulamento têm natureza administrativa, regulam-se pelas normas e preceitos de direito público,
aplicando-lhes supletivamente de direito privado.
Conclusão

Ao término desta análise abrangente sobre o contrato administrativo e o regime jurídico do contrato do
trabalho administrativo, é possível afirmar que este tema é de suma importância para a compreensão e
o funcionamento adequado da administração pública no país.

Durante este estudo, foi possível constatar que o contrato administrativo, embora compartilhe algumas
semelhanças com o contrato privado, possui características distintas que decorrem da participação do
Estado como uma das partes contratantes. A supremacia do interesse público, a sujeição à lei e aos
princípios da administração pública, bem como a indisponibilidade do interesse público, são elementos
essenciais que distinguem o contrato administrativo de outras modalidades contratuais.

Além disso, ao examinar o regime jurídico do contrato do trabalho administrativo em Moçambique, foi
possível observar a complexidade das normas e dos direitos aplicáveis aos trabalhadores do setor
público. Aspectos como a contratação, remuneração, direitos e deveres dos funcionários públicos
demandam uma análise minuciosa das disposições legais e da jurisprudência existente, a fim de garantir
a efetiva proteção dos direitos dos trabalhadores e o bom funcionamento da administração pública.

Contudo, ao longo deste estudo, também se tornaram evidentes alguns desafios e questões em aberto
relacionados ao contrato administrativo e ao regime do contrato do trabalho administrativo. Dentre
eles, destacam-se a necessidade de maior clareza e uniformidade na legislação aplicável, a garantia da
eficácia dos direitos dos trabalhadores, bem como a promoção da transparência e na gestão dos
recursos públicos.
Portanto, conclui-se que o aprofundamento do conhecimento sobre o contrato administrativo e o
regime do contrato do trabalho administrativo é fundamental para o fortalecimento do Estado de
Direito e o desenvolvimento socioeconómico. É imperativo que sejam promovidos debates e estudos
contínuos sobre este tema, visando aprimorar a legislação e as práticas relacionadas à contratação e
gestão de recursos humanos no sector público, em benefício de toda a sociedade.

Bibliografia

Legislação

República de Moçambique, Lei n.° 24/2013, de 1 de Novembro, que aprova o controlo da legalidade
dos actos administrativos, in Boletim da República

República de Moçambique, Lei n.° 24/2013, de 1 de Novembro, que aprova o controlo da legalidade
dos actos administrativos, in Boletim da República

República de Moçambique, Lei n.° 14/2011, de 10 de Agosto, que regula a formação da vontade da
administração pública, estabelece as normas de defesa dos direitos e interesses dos particulares, in
Boletim da República

Doutrina

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 13ª ed. São Paulo: Atlas, 2001.

DIAS, Eduardo Rocha. Sanções Administrativas Aplicáveis a Licitantes e Contratados, São Paulo:
Dialética.

MACIE, Albano, Lições de Direito Administrativo, Vol. I. Maputo, Moçambique, Escolar Editora, 2012.

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