Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Noções preliminares do Controle de Constitucionalidade
Noções preliminares do Controle de Constitucionalidade
a) Constitucionalidade superveniente
Constitucionalidade superveniente significa o fenômeno pelo qual uma lei
ou ato normativo que tenha nascido com algum vício de inconstitucionalidade,
seja formal ou material, e se constitucionaliza. Esse fenômeno é inadmitido na
medida em que o vício congênito não se convalida. Ou seja, se a lei é
inconstitucional, trata-se de ato nulo, írrito, natimorto, ineficaz e, assim, por
regra, não pode ser corrigido, pois o vício de inconstitucionalidade não se
convalida, é um vício insanável, incurável.
Como exceção a essa regra, lembramos o julgamento da ADI 2.240 e da
ADO 3.682 pelas quais, se possibilitaria, artificialmente, a correção do processo
de criação do município Luís Eduardo Magalhães. Estaríamos diante do
fenômeno da constitucionalidade superveniente por decisão judicial;
Como se sabe, a convalidação dos extraordinários vícios de
inconstitucionalidade se deu pela EC 57/2008, que, então, poderia ser um
triste, porque flagrantemente inconstitucional, exemplo de constitucionalidade
superveniente por emenda constitucional e, assim, decisão política do
parlamento, sempre passível, nesse caso específico, de controle judicial.
b) Inconstitucionalidade superveniente
Inconstitucionalidade superveniente, por sua vez, seria o fenômeno pelo
qual uma lei ou ato normativo que nasceu perfeita, sem nenhum tipo de vício
de inconstitucionalidade, venha se tornar inconstitucional.
Em regra, esse fenômeno não é observado. A seguir, dois exemplos
clássicos, na visão da jurisprudência do STF, que afastam essa possibilidade
em razão da caracterização de outros institutos específicos e próprios.
• Lei editada antes do advento da nova Constituição (fenômeno da
recepção): se a lei foi editada antes do advento de uma nova Constituição,
duas situações surgem: ou a lei é compatível e será recepcionada, ou a lei é
incompatível e, então, nesse caso, será revogada por não recepção.
Não se pode falar em inconstitucionalidade superveniente nesse caso,
pois não haverá preenchimento da regra da contemporaneidade. Ou seja, para
se falar em controle de constitucionalidade, a lei tem que ter sido editada na
vigência do texto de 1988 e ser confrontada perante a CF/88 ou toda
normatividade que tenha status de Constituição, dentro da perspectiva de bloco
de constitucionalidade.
• Lei editada já na vigência da nova Constituição e superveniência
de emenda constitucional futura que altere o fundamento de
constitucionalidade da lei: o STF entende que, se a lei foi editada já na vigência
da nova Constituição sem nenhum tipo de vício, eventual emenda
constitucional que mude o parâmetro de controle pode deixar de assegurar
validade a referida norma, e, assim, a nova emenda constitucional revogaria a
lei em sentido contrário. Não se trata, portanto, do fenômeno de
inconstitucionalidade superveniente.
A regra da impossibilidade de inconstitucionalidade superveniente,
contudo, apresenta duas exceções: a mutação constitucional e a mudança
no substrato fático da norma.
No primeiro caso (mutação constitucional), a redação do dispositivo da
Constituição não é alterada, mas o seu sentido interpretativo, surgindo, então,
uma nova norma jurídica. As mutações constitucionais, portanto, exteriorizam o
caráter dinâmico e de prospecção das normas jurídicas, por meio de processos
informais. Informais no sentido de não serem previstos dentre aquelas
mudanças formalmente estabelecidas no texto constitucional, como, por
exemplo, as alterações por emendas constitucionais.
No segundo caso (mudança no substrato fático da norma), não se tem
uma alteração no parâmetro da Constituição, mas novos aspectos de fato que
surgem e que não eram claros no momento da primeira interpretação.
Como exemplo, lembramos o precedente do amianto. Em um primeiro
momento, o STF pronunciou-se no sentido de se declarar a constitucionalidade
da lei federal que admitia o uso controlado de uma das modalidades do
amianto (asbesto branco). Em momento seguinte, em razão da mudança no
substrato fático da norma, referida disposição se tornou inconstitucional,
passando a norma por um processo de inconstitucionalização.
Seja na primeira interpretação, seja 22 anos depois quando houve a mudança
de entendimento, a Constituição sempre proibiu substâncias que fizessem mal
à saúde ou ao meio ambiente. O que se observou foi um novo diagnóstico do
potencial de violação à saúde, inclusive em razão dos avanços tecnológicos e
de pesquisa. Por esse motivo é que estamos fazendo uma distinção com o
fenômeno da mutação constitucional, quando a alteração é do sentido da
própria Constituição.