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Direito Constitucional e Direitos Humanos

APRESENTAÇÃO

Professora Mestra Jaqueline da Silva Paulichi

● Doutoranda em Ciências Jurídicas- Direitos da Personalidade pela


Unicesumar-Maringá.
● Mestra em Ciências Jurídicas- Direitos da Personalidade pela
Unicesumar- Maringá.
● Bacharela em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Maringá-
PR
● Especialista em Direito Civil e Processual Civil Pela Unicesumar.
● Especialista em Direito Aplicado pela Escola da Magistratura do Paraná.
● Especialista em Direito Tributário e Direito Público pela Universidade
para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, UNIDERP
● Especialista em docência do Ensino Superior e Metodologias Ativas pela
Unicesumar
● Pós Graduanda em Direito Digital.
● Professora de Direito.
● Advogada.

Ampla experiência como professora no curso de direito, e de cursos à distância,


advogada desde 2011, atuando principalmente na área do direito privado.
Olá, Caro Estudante, tudo bem?

Vamos estudar nessas quatro unidades alguns pontos introdutórios do Direito


Constitucional e de Direitos humanos, que são essenciais para a compreensão
da teoria das constituições, sua classificação e a principiologia utilizada.

Vamos analisar na primeira apostila acerca das noções introdutórias do que vem
a ser o constitucionalismo, seus desdobramentos e as teorias que buscam
explicar o que se entende por constituição e constitucionalismo. Estudaremos
também sobre o princípio da dignidade na pessoa humana, suas várias
acepções, e a discussão que gira em torno do tema.

Na segunda apostila vamos estudar sobre as normas constitucionais e sua


eficácia, analisando a teoria de José Afonso da Silva, além da hermenêutica
constitucional, sua conceituação e abrangência, bem como as formas de
resolução quando há colisão de princípios fundamentais.

Na unidade III iremos abordar sobre os princípios fundamentais previstos na


Constituição Federal, bem como os seus objetivos fundamentais, analisando os
artigos 1º, 2º e 3º do texto constitucional. Logo após, vamos estudar sobre a
teoria das dimensões dos direitos fundamentais e a sua relevância para a
disciplina, demonstrando a divisão doutrinária acerca do tema. Finalizando a
unidade iremos abordar sobre a classificação dos direitos fundamentais.

Na unidade IV, finalizando nossos estudos, o tema proposto será o artigo 5º da


Constituição Federal de 1988, além dos conceitos essenciais atrelados aos
direitos humanos. Logo após, o tema proposto será a positivação dos direitos
humanos na Constituição Federal, finalizando com a análise e compreensão de
alguns pontos primordiais da Declaração Universal dos Direitos Humanos e
tratados internacionais.
UNIDADE I
DAS NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DO DIREITO CONSTITUCIONAL
Professora Mestre Jaqueline da Silva Paulichi

Plano de Estudo:
● Conceitos fundamentais atrelados ao direito constitucional;
● Campos de estudo das características essenciais da Constituição Federal;
● Conceituação e discussão sobre as caraterísticas essenciais da Constituição
Federal;
● Fontes do direito constitucional.

Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar o que é o direito constitucional, bem como discutir sobre os
diferentes conceitos e campos de estudo;
● Compreender as características essenciais da constituição e qual a sua
importância;
● Analisar as fontes da disciplina.
INTRODUÇÃO

Olá, caro estudante, tudo bem? Nesta unidade iremos estudar acerca das noções
introdutórias de direito constitucional. Vamos começar analisando os conceitos e os
sentidos de constituição, para que você entenda, ao final, qual o sentido que mais se
coaduna com a nossa realidade brasileira. Note-se que todos os sentidos de constituição
podem ser aplicados à nossa Constituição Federal, mas tudo vai depender de qual
aspecto você está analisando.
Posteriormente iremos estudar acerca do princípio da dignidade da pessoa
humana, que é tão importante para a compreensão do status atual do ser humano em
nossa legislação brasileira. Esse conceito vem evoluindo com o decorrer dos tempos e
da sociedade, sendo de extrema relevância para o estudo do direito e deveres de todos
os seres humanos.
Logo após iniciaremos o estudo das características da constituição brasileira, ou
ainda, a sua classificação conforme a doutrina. E por fim, iremos analisar acerca das
fontes do direito constitucional, analisando alguns julgados de extrema importância para
a nossa sociedade.
Bom estudo!
DAS NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DO DIREITO CONSTITUCIONAL

1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS ATRELADOS AO DIREITO CONSTITUCIONAL;

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O direito constitucional possui inúmeros conceitos ou concepções. Nesse sentido,
passa-se a analisar os conceitos de Constituição em seus inúmeros sentidos. Lembre-
se que não existe conceito certo ou errado, e sim, o mais adequado.

1.1 Acepções do Conceito de “Constituição”.

Ferdinand Lassalle traz o conceito no sentido sociológico. Dessa forma, uma


Constituição só seria legítima se o poder social estivesse representado, e as forças
sociais que constituem o poder estivessem refletidas. Caso isso não ocorresse, a
constituição não teria poder ou valor, sendo apenas uma folha de papel. O autor
conceitua nos seguintes termos: Constituição é a somatória dos fatores reais do poder
dentro de uma sociedade.
Carl Schimitt traz o sentido político, e diferencia “Constituição” de “lei
constitucional”. Neste sentido, Constituição seria a organização política fundamental de
um Estado, como a estrutura e órgãos , vida democrática e etc.. Já, as leis constitucionais
são as demais normas inseridas no texto constitucional, como o reconhecimento e
garantia de alguns direitos.
Em terceiro sentido a ser analisado, a Constituição também pode ser definida
tomando-se o sentido material e formal, sendo este critério bem próximo da
classificação trazida por Carl Schimitt.
Pelo sentido material deve ser analisada a Constituição pelo seu conteúdo, não
importando a forma com que essa norma foi introduzida no ordenamento jurídico. Assim,
considera-se como constitucional toda a norma que trate de regras estruturais da
sociedade, como exemplo cite-se: as formas de Estado, governo, órgãos, divisão dos
poderes. Por este critério é possível afirmar que existem normas constitucionais fora do
texto da constituição, pois o mais importante é o conteúdo da norma, e não a sua forma
de elaboração.
No sentido formal, ou lei constitucional, conforme classificação de Schmitt, as
normas constitucionais dependem de sua formalidade para ingresso no ordenamento
jurídico. Assim, entende-se como norma constitucional aquela que segue os trâmites
formais de elaboração, que por sua vez é mais demorado e burocrático. Como exemplo,
podemos citar o art. 242 parágrafo 2º da Constituição Federal de 19881, que por sua vez
dispõe que o Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na
órbita federal. Note-se que o conteúdo da norma não se trata de tema constitucional,
porém, pela norma estar inserida no Texto Constitucional – na Constituição Federal-, por
ter seguido os rigores para sua elaboração, ela é considerada como constitucional pelo
sentido formal.
Hans Kelsen nos traz outro sentido do conceito de constituição, denominado de
“Sentido Jurídico”. De acordo com este conceito (ou sentido) a Constituição está
alocada no mundo do “Dever-ser” e não no mundo do “ser”. Nesse sentido, a constituição
é fruto da vontade racional do homem, e não das leis naturais.
José Afonso da Silva explica o sentido jurídico ensinado por Kelsen nos seguintes
termos:
“... Constituição é, então, considerada norma pura, puro dever-ser, sem qualquer
pretensão a fundamentação sociológica, política ou filosófica. A concepção de Kelsen
toma a palavra Constituição em dois sentidos: no lógico-jurídico e no jurídico-positivo.
De acordo com o primeiro, Constituição significa norma fundamental hipotética, cuja
função é servir de fundamento lógico transcendental da validade da Constituição jurídico-
positiva, que equivale à norma positiva suprema, conjunto de normas que regula a
criação de outras normas, lei nacional no seu mais alto grau”.2
Pedro Lenza ensina ainda que no direito brasileiro há um escalonamento das
normas, em que uma constitui e dá fundamento para a criação de outra norma,
constituindo-se assim a verticalidade hierárquica.

1
BRASIL. Constituição Federal de 1988.
2
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23. ed. São Paulo: Malheiros,
2004. p. 41
A Constituição Federal de 1988 possui “o seu fundamento de validade na norma
hipotética fundamental, está, o fundamento de validade de todo o sistema. Trata-se de
norma suposta, e não posta, uma vez que não editada por nenhum ato de autoridade.
Figura, como referimos, no plano lógico-jurídico, prescrevendo a observância do
estabelecido na Constituição e nas demais normas jurídicas do sistema, estas últimas
fundamentadas na própria Constituição. A norma fundamental, hipoteticamente suposta,
prescreve a observância da primeira Constituição histórica”3
Pelo sentido culturalista a constituição decorre de fato cultural, criado pela
sociedade que, por sua vez, também pode nela interferir. Assim a constituição seria a
tradução dos ideais da sociedade, uma formação objetiva de cultura, decorrente de
fatores reais, como a natureza humana, necessidades da sociedade e das pessoas,
costumes, e etc.; além de elementos espirituais, como a religião, sentimentos, ideais
políticos; e elementos racionais, como as técnicas jurídicas, formas políticas, instituições
e etc.
Pedro Lenza, citando o professor J. H. Meirelles Teixeira, nos traz a explicação
sobre a concepção culturalista que “...conduz ao conceito de uma Constituição Total em
uma visão suprema e sintética que “... apresenta, na sua complexidade intrínseca,
aspectos econômicos, sociológicos, jurídicos e filosóficos, a fim de abranger o seu
conceito em uma perspectiva unitária”. Desse modo, sob o conceito culturalista de
Constituição, “... as Constituições positivas são um conjunto de normas fundamentais,
condicionadas pela Cultura total, e ao mesmo tempo condicionantes desta, emanadas
da vontade existencial da unidade política, e reguladoras da existência, estrutura e fins
do Estado e do modo de exercício e limites do poder político”4
Ainda na discussão sobre as diferentes acepções e sentidos de “constituição”,
tem-se a ideia de uma Constituição aberta, o que invoca o sentido de que ela tenha
abertura para que permaneça condizente com a nossa época histórica e social, evitando-
se o risco de desmoronamento de sua força normativa.

1.2 Concepções da Constituição.

3
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo:2017. p. 83
4
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo:2017. p. 85. APUD. Teixeira,
J.H> Meirelles. Curso de direito constitucional, p. 58-59.
Neste capítulo vamos estudar acerca do papel da constituição no ordenamento
jurídico, ou seja, qual a sua função no ordenamento jurídico de um país, qual a sua
relação com a atividade do legislador ( a de criar as leis). Isso é importante para que
você entenda qual a ordem de hierarquia da constituição em um país, e se ela se encaixa
como lei, como ato legislativo, como carta magna e etc.
Assim, vamos analisar o papel da constituição ou de sua função, dividindo-a em
quatro itens: a constituição – lei, a constituição – fundamento, a constituição – moldura
e a constituição dúctil ou maleável.
Pela concepção de constituição-lei a constituição não está acima do poder legislativo.
Ou seja, ela tem a mesma hierarquia de uma lei ordinária. Note-se que ela concepção
de constituição não é mais viável em uma democracia, eis que precisamos de um
fundamento maior para se buscar a validade de nossas leis. Pedro Lenza nos ensina
acerca desta concepção nos seguintes termos:
“Nesse sentido, a Constituição é, na verdade, uma lei como qualquer outra. Os
dispositivos constitucionais, especialmente os direitos fundamentais, teriam uma função
meramente indicativa, pois apenas indicariam ao legislador um possível caminho, que
ele não precisaria necessariamente seguir.” Esse modelo, certamente, permite a
justificação da tese acerca da supremacia do parlamento, mitigada, contudo, em tempos
mais recentes, como pode ser observado, para se ter um exemplo, na Inglaterra a partir
da entrada em vigor do Human Rights Act”.5
Na concepção de constituição fundamento, ou constituição total, existe a
onipresença da constituição, e assim, a área reservada ao legislador, aos cidadãos e
etc., é muito pequena. Consequentemente, esses atos passam a ser encarados como
instrumentos de realização da constituição. A constituição seria a lei fundamental de toda
a vida social, e todas as ações humanas seriam reguladas pela constituição.
Pela concepção de constituição-moldura, ou constituição-quadro, que é uma
proposta intermediária entre a constituição-lei e a constituição – fundamento, a
Constituição serve como limite à atuação do legislador.

5
LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. Saraiva. São Paulo: 2017. p. 86
Virgílio Afonso da Silva explica sobre o tema: “a metáfora da moldura, no campo
da teoria constitucional, é usada para designar uma Constituição que apenas sirva de
limites para a atividade legislativa. Ela é apenas uma moldura, sem tela, sem
preenchimento. À jurisdição constitucional cabe apenas a tarefa de controlar se o
legislador age dentro da moldura. Como o legislador age no interior desses limites é uma
questão de oportunidade política. Segundo Starck, entender a Constituição como
moldura significa sustentar que nem tudo está predefinido pela Constituição e que
inúmeras questões substanciais estão sujeitas à simples decisão da maioria parlamentar
no processo legislativo ordinário. Definir a ‘largura’ da moldura, que funcionará como
simples limitação ao poder estatal, é a tarefa da interpretação constitucional. Mas essa
seria sua única tarefa. Todo o resto é questão de oportunidade política”. 6
Por fim, a Constituição dúctil (Constituição maleável, suave) (“Costituzione mite”
— Gustavo Zagrebelsky), é constituição que necessita acompanhar a evolução da
sociedade, deixando assim de ser o centro do ordenamento e passando então a refletir
sobre o pluralismo social, político e econômico. Dessa maneira, cabe a constituição
apenas assegurar as condições possibilitadoras de uma vida em comum.

6
Virgílio Afonso da Silva, A constitucionalização do direito: os direitos fundamentais nas relações entre
particulares. Malheiros. São Paulo: 2011. p. 116
2 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

A dignidade humana está prevista no art. 1º , inc. III da nossa Constituição Federal
de 1988 e se classifica como um dos princípios fundamentais da República Federativa
do Brasil. No entanto, a sua discussão e importância é muito mais antiga, ante a sua
relevância para se tutelar os direitos e garantias básicos dos cidadãos. Certo é que não
existe apenas um conceito que se enquadre perfeitamente no sentido mais profundo e
axiológico do termo “dignidade”. Por este motivo é que o estudo quanto à valoração e
aplicação deste princípio é tão apaixonante pelo estudioso do direito.
Paulichi e Moraes, em estudo sobre o tema:
“A dignidade da pessoa humana nasceu na filosofia e tem a sua
raiz na ética e na moral. Porém, em primeiro lugar, a dignidade
humana é um valor, sendo que, após a segunda guerra mundial, o
conceito de dignidade humana passou a ser incorporado ao
discurso político dos países que venceram o conflito, tornando-se
uma meta política e objetivo a ser alcançado. A dignidade tem dupla
dimensão, sendo uma interna, expressada no valor intrínseco de
cada indivíduo, e uma externa que representa seus direitos. A
primeira dimensão pode sofrer violações, já a segunda não pode.
A proteção da dignidade da pessoa humana, em um primeiro
momento, foi dada aos poderes executivo e legislativo.
Posteriormente, migrou para o meio jurídico, eis que a dignidade
humana foi consagrada em diversos documentos oficiais. No
entanto, a importância dada a esse conceito deu-se após a
segunda guerra mundial, pois foi consequência de uma mudança
fundamental no pensamento jurídico.” 7

7
PAULICHI, Jaqueline da Silva. MORAES, Carlos Alexandre de. A DIGNIDADE HUMANA EM KANT E
O PRINCÍPIO DA SACRALIDADE DA VIDA EM BIODIREITO. Conpedi- João Pessoa/PB. 2014.
http://conpedi.danilolr.info/publicacoes/c178h0tg/x552ze4o/mlC99HW58Wq6N7iQ.pdf.
Em alguns conceitos garimpados pelas doutrinas que tratam do assunto, pode-se
definir a dignidade da pessoa humana:
Para Maria Celina Bodin de Moraes:
“é uma questão que, ao longo da história, tem atormentado
filósofos, teólogos, sociólogos de todos os matizes, das mais
diversas perspectivas, ideológicas e metodológicas. A temática
tornou-se, a partir de sua inserção nas longas Constituições,
merecedora da atenção privilegiada do jurista que tem, também
ele, grande dificuldade em dar substância a um conceito que, por
sua polissemia e o atual uso indiscriminado, tem um conteúdo
ainda mais controvertido do que no passado”.8
Para Danilo Fontenele: “o fundamento primeiro e a finalidade última, de toda a
atuação estatal e mesmo particular” 9
Chaves Camargo conceitua a dignidade humana da seguinte maneira:
“[...] pessoa humana, pela condição natural de ser, com sua
inteligência e possibilidade de exercício de sua liberdade, se
destaca na natureza e diferencia do ser irracional. Estas
características expressam um valor e fazem do homem não mais
um mero existir, pois este domínio sobre a própria vida, sua
superação, é a raiz da dignidade humana. Assim, toda pessoa
humana, pelo simples fato de existir, independentemente de sua
situação social, traz na sua superioridade racional a dignidade de
todo ser.”10
Elimar Szaniawski explica que “o princípio da dignidade da pessoa humana
consiste, pois, no ponto nuclear onde se desdobram todos os direitos fundamentais do

8
MORAES, Maria Celina Bodin de. O conceito de dignidade humana: substrato axiológico e conteúdo
normativo – ob. cit., 2003, p. 109.
9
SAMPAIO. Danilo Fontenelle. A Intervenção do Estado na Economia. Apud. SZANIAWSKI. Elimar.
Direitos da Personalidade e sua tutela.
10
CAMARGO, A. L. Chaves. Culpabilidade e Reprovação Penal. São Paulo: Sugestões Literárias, 1994.
ser humano, vinculando o poder público como um todo, bem como os particulares,
pessoa naturais ou jurídicas” 11.
Jorge Pinheiro Duarte diz: “decorre que a pessoa deve ser tratada como pessoa,
como um fim em si mesmo; que à pessoa deve ser reconhecida autonomia,
autodeterminação; que o ser humano não deve ser coisificado, instrumentalizado nem
comercializado.”12
Débora Gozzo explica nos seguintes termos: “Chega-se a afirmar que a dignidade
da pessoa humana impende, inclusive, do nascer com vida, pois o nascituro, mesmo
sem ainda ter nascido, possui a qualidade de humano. O pressuposto da dignidade é a
qualidade de humano, não o nascimento com a vida”. 13
Percebe-se que a dignidade da pessoa humana pode ser vista como um princípio,
ou ainda como um valor no sistema normativo. Certo é que, a dignidade humana se
aplica aos mais diversos conflitos existentes no direito, e diz respeito ao tratamento com
o ser humano, em todas as classes sociais, em todas as regiões, religiões, filosofias e
políticas, não devendo haver distinção entre as pessoas.
A dignidade deve ser vista como valor primordial, núcleo dos direitos da
personalidade, dos direitos fundamentais e dos direitos humanos.
Para que haja aplicação deste princípio (da dignidade da pessoa humana) basta
ser um ser humano. Durante anos o ordenamento jurídico não conferiu o tratamento
digno a inúmeros grupos sociais, como os escravos, os negros, as mulheres, as pessoas
em situação de rua, índios, deficientes, idosos, dentre outros. Dessa forma, a dignidade
serve como valor primordial de uma sociedade, para conferir tratamento digno a todas
as pessoas, seja por meio de políticas públicas ou privadas, seja por meio de leis ou
ações afirmativas.

11
SZANIAWSKI, Elimar. Direitos da Personalidade e sua tutela. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2005.
12
PINHEIRO. Jorge Duarte. O Direito de Família Contemporâneo. AAFDL: Lisboa. 2013.

13
GOZZO, Débora. Ligeira, Wilson Ricardo (organizadores). Bioética e direitos fundamentais.
– São Paulo: Saraiva, 2012.p. 174-175.
3 CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Nas características da Constituição Federal de 1988 podemos tratar da sua


classificação, conforme a doutrina nos ensina. Ressalte-se que não há apenas um
critério a ser analisado, e que a depender da doutrina utilizada, você poderá encontrar
inúmeras outras características e classificações.
a) Quanto à origem: as Constituições podem ser outorgadas, promulgadas,
cesaristas e pactuadas (ou dualistas). Outorgada é aquela constituição que foi
imposta unilateralmente por um governante ou grupo. Promulgada é a
constituição elaborada pelo poder constituinte originário, fruto da assembleia
nacional constituinte, eleita diretamente pelo povo para atuar em nome dele.
Cesarista é a constituição criada por meio de plebiscito para votar acerca de
um projeto já criado. Nesse caso, o voto popular serve apenas para confirmar
a vontade do detentor do poder. Pactuada: é a constituição elaborada a partir
de um pacto de dois ou mais poderes. Nesses casos, o poder constituinte
originário se encontra nas mãos de mais de um titular. Porém, esse modelo de
constituição não mais se coaduna com a realidade das constituições
modernas.
A nossa Constituição Federal de 1988 é promulgada.
b) Quanto à forma: as constituições podem ser escritas ou costumeiras. As
constituições escritas, ou instrumentais, é a ideia de uma constituição
organizada, sistematizada por um conjunto de regras, estabelecendo as
normas fundamentais de um estado. A constituição costumeira advém de
costumes, jurisprudências, e textos normativos, que não traz as regras
codificadas em um único documento. É formada por diversos textos, costumes,
jurisprudências, dentre outros.
A nossa Constituição Federal de 1988 é escrita.
c) Quanto à extensão: as constituições podem ser sintéticas ou analíticas. As
constituições sintéticas, concisas, breves, sumárias são aquelas mais enxutas,
que trazem apenas as normas fundamentais e estruturais de um Estado. As
constituições analíticas abordam todos os temas que os representantes do
povo – eleitos - entendem como fundamentais. Isso é necessário para que o
texto constitucional tenha, além de normas estruturantes, o reconhecimento e
garantia de diversos direitos fundamentais aos seus cidadãos.
A nossa Constituição Federal de 1988 é analítica.
d) Quanto ao conteúdo: as constituições podem ser materiais ou formais. A
constituição material é aquela que possui as normas de organização e
estruturação de um Estado, os direitos e garantias individuais. Formal é a
constituição que traz os critérios de seu processo de formação, e não apenas
o conteúdo de suas normas. Dessa maneira, qualquer norma inserida na
constituição que respeite as formalidades será entendida como constitucional.
A nossa Constituição Federal de 1988 é formal.
e) Quanto ao modo de elaboração: as constituições podem ser dogmáticas ou
históricas. As constituições dogmáticas são escritas e trazem os dogmas
estruturais e fundamentais de um Estado, com teorias preconcebidas. As
constituições históricas são aquelas formadas através do processo histórico,
com as tradições de um povo.
A nossa Constituição Federal de 1988 é dogmática.
f) Quanto à alterabilidade: podem ser rígidas, flexíveis ou semirrígidas. Rígida é
a constituição que exige, para sua alteração, um processo legislativo rigoroso,
solene, dificultoso e burocrático, se comparado com as normas não
constitucionais. A exemplo dessa rigidez constitucional, cite-se o art. 60
parágrafo 2º da CF/88, que estabelece o quórum de votação de 3/5 dos
membros de cada casa, em dois turnos de votação, para aprovação de
emendas constitucionais. As constituições flexíveis são aquelas que não
possuem processo legislativo rigoroso. Ou seja, a sua dificuldade é a mesma
para se alterar uma lei ordinária. A Constituição semirrígida ou semiflexível
(outro nome dado pela doutrina) são aquelas tanto rígidas quanto flexíveis,
pois algumas matérias exigem maior grau de complexidade para sua
alteração, enquanto outras não necessitam de um processo legislativo tão
demorado e detalhado.
A nossa Constituição Federal de 1988 é rígida.
g) Quanto a sistemática: a constituição pode ser reduzida/codificada ou variada.
A constituição reduzida são as que se materializam em um só código, como a
brasileira. A constituição variada são aquelas que se distribuem em diversos
textos normativos.
A nossa Constituição Federal de 1988 é reduzida/ codificada.
4 FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL

O direito constitucional possui fontes imediatas e mediatas. A fonte imediata é a


própria Constituição Federal de 1988, que busca seu fundamento na própria lei. Seria
essa a auto referência. Quanto às fontes mediatas, temos a jurisprudência e a doutrina
que tratam do tema de direito constitucional.
Cite-se por exemplo as jurisprudências do Supremo Tribunal Federal, as suas
súmulas e súmulas vinculantes, que criam norteadores interpretativos para diversos
casos constitucionais.
A jurisprudência do STF é de extrema relevância para o reconhecimento de
direitos e para a constatação da evolução da sociedade. Nos exemplos citados abaixo
você poderá ver a mudança de entendimentos sobre temas polêmicos para a sociedade
e para o ordenamento jurídico.
A restrição de doação de sangue pela comunidade LGBTQ+, por muito tempo
pessoas da comunidade LGBTQ+ foram impedidas de doar sangue. Assim, após anos
de restrição o STF julgou o caso em 2020, decidindo pela aplicação do princípio da
igualdade e a vedação a discriminação a comunidade LGBTQ+:

Restrição de doação de sangue a grupos e não condutas de risco. Discriminação


por orientação sexual. (...) O estabelecimento de grupos – e não de condutas –
de risco incorre em discriminação e viola a dignidade humana e o direito à
igualdade, pois lança mão de uma interpretação consequencialista desmedida
que concebe especialmente que homens homossexuais ou bissexuais são,
apenas em razão da orientação sexual que vivenciam, possíveis vetores de
transmissão de variadas enfermidades. Orientação sexual não contamina
ninguém, condutas de risco sim. O princípio da dignidade da pessoa humana
busca proteger de forma integral o sujeito na qualidade de pessoa vivente em
sua existência concreta. A restrição à doação de sangue por homossexuais
afronta a sua autonomia privada, pois se impede que elas exerçam plenamente
suas escolhas de vida, com quem se relacionar, com que frequência, ainda que
de maneira sexualmente segura e saudável; e a sua autonomia pública, pois se
veda a possibilidade de auxiliarem àqueles que necessitam, por qualquer razão,
de transfusão de sangue. (...) Não se pode tratar os homens que fazem sexo
com outros homens e/ou suas parceiras como sujeitos perigosos, inferiores,
restringido deles a possibilidade de serem como são, de serem solidários, de
participarem de sua comunidade política. Não se pode deixar de reconhecê-los
como membros e partícipes de sua própria comunidade. 14

Alteração do nome do transgênero. Durante anos a pessoa trans se viu obrigada


a utilizar o nome registrado em sua certidão para fins civis, e a alteração do nome civil,
sem a realização de cirurgia de redesignação sexual, era impossibilitada. Em 2020 o STF
decidiu pela possibilidade de alteração do nome do transgênero no próprio cartório de
registro de pessoas, não necessitando de ação judicial para tanto. Leia abaixo a decisão
de 2018 do STF:

O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e


de sua classificação de gênero no registro civil, não se exigindo, para tanto, nada
além da manifestação de vontade do indivíduo, o qual poderá exercer tal
faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa. Essa
alteração deve ser averbada à margem do assento de nascimento, vedada a
inclusão do termo “transgênero”. Nas certidões do registro não constará
nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de certidão de
inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por determinação
judicial. (...) Qualquer tratamento jurídico discriminatório sem justificativa
constitucional razoável e proporcional importa em limitação à liberdade do
indivíduo e ao reconhecimento de seus direitos como ser humano e como
cidadão.15

Sobre os motoristas de aplicativo, em que houve diversas discussões e

14
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A CONSTITUIÇÃO E O STF. [ADI 5.543, rel. min. Edson
Fachin, j. 11-5-2020, P, DJE de 26-8-2020.]
15
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A CONSTITUIÇÃO E O STF. [RE 670.422, rel. min. Dias
Toffoli, j. 15-8-2018, P, Informativo 911, RG, tema 761.]
manifestações país afora no sentido de proibir tal trabalho por meio de aplicativo,
barateando e facilitando o uso desse tipo de transporte pela população.

O motorista particular, em sua atividade laboral, é protegido pela liberdade


fundamental insculpida no art. 5º, XIII, da Carta Magna, submetendo-se apenas
à regulação proporcionalmente definida em lei federal, pelo que o art. 3º, VIII, da
Lei Federal 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) e a Lei Federal 12.587/2012,
alterada pela Lei 13.640 de 26 de março de 2018, garantem a operação de
serviços remunerados de transporte de passageiros por aplicativos. A liberdade
de iniciativa garantida pelos artigos 1º, IV, e 170 da Constituição brasileira
consubstancia cláusula de proteção destacada no ordenamento pátrio como
fundamento da República e é característica de seleto grupo das Constituições
ao redor do mundo, por isso que não pode ser amesquinhada para afastar ou
restringir injustificadamente o controle judicial de atos normativos que afrontem
liberdades econômicas básicas. (...) O exercício de atividades econômicas e
profissionais por particulares deve ser protegido da coerção arbitrária por parte
do Estado, competindo ao Judiciário, à luz do sistema de freios e contrapesos
estabelecidos na Constituição brasileira, invalidar atos normativos que
estabeleçam restrições desproporcionais à livre iniciativa e à liberdade
profissional. (...) A Constituição impõe ao regulador, mesmo na tarefa de
ordenação das cidades, a opção pela medida que não exerça restrições
injustificáveis às liberdades fundamentais de iniciativa e de exercício profissional
(art. 1º, IV, e 170; art. 5º, XIII, CRFB), sendo inequívoco que a necessidade de
aperfeiçoar o uso das vias públicas não autoriza a criação de um oligopólio
prejudicial a consumidores e potenciais prestadores de serviço no setor,
notadamente quando há alternativas conhecidas para o atingimento da mesma
finalidade e à vista de evidências empíricas sobre os benefícios gerados à fluidez
do trânsito por aplicativos de transporte, tornando patente que a norma proibitiva
nega ‘ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente’, em contrariedade ao
mandamento contido no art. 144, § 10, I, da Constituição, incluído pela Emenda
Constitucional 82/2014.16

16
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A CONSTITUIÇÃO E O STF. [ADPF 449, rel. min. Luiz Fux,
j. 8-5-2019, P, DJE de 2-9-2019.]
Sobre a imunização da população pela vacina contra a Covid19:

É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que,


registrada em órgão de vigilância sanitária, (i) tenha sido incluída no Programa
Nacional de Imunizações ou (ii) tenha sua aplicação obrigatória determinada em
lei ou (iii) seja objeto de determinação da União, Estado, Distrito Federal ou
Município, com base em consenso médico-científico. Em tais casos, não se
caracteriza violação à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais
ou responsáveis, nem tampouco ao poder familiar.17

Sobre a retirada de conteúdo em plataforma de streaming paga, em razão de parte


da população se sentir desagradada.

Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em plataforma de


“streaming” apenas porque seu conteúdo desagrada parcela da população,
ainda que majoritária, não encontra fundamento em uma sociedade democrática
e pluralista como a brasileira. Por se tratar de conteúdo veiculado em plataforma
de transmissão particular, na qual o acesso é voluntário e controlado pelo próprio
usuário, é possível optar-se por não assistir ao conteúdo disponibilizado, bem
como é viável decidir-se pelo cancelamento da assinatura contratada. Além
disso, é de se destacar a importância da liberdade de circulação de ideias e o
fato de que deve ser assegurada à sociedade brasileira, na medida do possível,
o livre debate sobre todas as temáticas, permitindo-se que cada indivíduo forme
suas próprias convicções, a partir de informações que escolha obter.18

17
[ARE 1.267.879, rel. min. Roberto Barroso, j. 17-12-2020, P,Informativo 1.003, Tema 1.103.]
18
[Rcl 38.782, rel. min. Gilmar Mendes, j. 3-11-2020, 2ª T, Informativo 998.]
SAIBA MAIS

Sobre a obrigatoriedade da vacina que protege contra a COVID 19, você já deve
ter lido na internet sobre a obrigatoriedade, ou não, de que as pessoas tomem a vacina,
não é mesmo?
Tema de extrema relevância ante a situação da Pandemia que se iniciou no final
de 2019 e atingiu o Brasil em Março de 2020. A vacina não pode ser coercitiva, ou seja,
não pode o poder público forçar o cidadão brasileiro a se vacinar, caso ele não queira.
Por outro lado, o poder público pode impedir a circulação dessas pessoas em aeroportos,
terminais rodoviários, posse de cargos públicos, dentre outras situações assemelhadas.

Leia mais sobre o tema abaixo:

Fonte: COELHO, Gabriela. STF Forma Maioria pela obrigatoriedade da vacina contra Covid-19. CNN
Brasil Disponível em https://www.cnnbrasil.com.br/politica/2020/12/17/stf-forma-maioria-pela-
obrigatoriedade-da-vacina-contra-a-covid-19

#REFLITA #

“[...] para que a liberdade e o direito de acesso à informação seja o farol que ilumina
e assegura a transparência das ações estatais, indispensável uma crescente
participação da sociedade civil, no sentido de uma cidadania proativa. Sem a
pressão e mobilização constantes da sociedade civil, as disposições normativas
que asseguram ampla informação podem converter-se em "letra morta", e os
princípios que as motivam podem ser suplantados por interesses menos
democráticos”

SARLET, Ingo Wolfgang. DIREITOS FUNDAMENTAIS. Direitos fundamentais e


pandemia V — o STF e o acesso à informação. 03.jul.2020.Disponível em
https://www.conjur.com.br/2020-jul-03/direitos-fundamentais-direitos-
fundamentais-pandemia-stf-acesso-informacao Acesso em 19.maio.2021

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao fim de nossa primeira unidade!

Aprendemos sobre os diversos sentidos do termo “Constituição” e suas aplicações


na atualidade, e que conforme a evolução da sociedade foi criado uma definição do que
seria a Constituição. Perceba-se que não existe apenas uma definição correta de
“constituição”, e sim várias concepções, que se comunicam e se complementam.
Analisamos também sobre o princípio da dignidade da pessoa humana, postulado
importante para a compreensão dos direitos e garantias fundamentais. A Constituição
Federal assegura aos cidadãos a dignidade humana, para que não haja violações aos
seus direitos mais básicos.
Por fim, analisamos a classificação da constituição e as fontes.
LEITURA COMPLEMENTAR

Sobre o princípio da dignidade da pessoa humana na contemporaneidade, sua


aplicação e garantia, leia o texto abaixo:

https://www.unifafibe.com.br/revista/index.php/direitos-sociais-politicas-
pub/article/view/610

A dignidade humana é aplicada a todas as pessoas, independente de cor, raça,


religião, status social, sexo, e etc. Note-se que para algumas pessoas o Estado
necessita proporcionar maior proteção, como o caso das mulheres encarceradas. Leia
abaixo artigo sobre o tema:

https://www.indexlaw.org/index.php/rdb/article/view/5742
LIVRO

• Título. O reconhecimento dos novos direitos da personalidade.


• Autor. Cleide Aparecida G. R. Fermentão e Zulmar Fachin
• Editora. Vivens
• Sinopse . O livro é um compilado de artigo científicos que tratam da dignidade da
pessoa humana e direitos da personalidade na atualidade. Com artigos que abordam
desde a aplicação dos direitos da personalidade e fundamentais para crianças e
adolescentes até o reconhecimento de novos direitos a partir da análise do princípio da
dignidade da pessoa humana.
FILME/VÍDEO

• Título. A Lista de Schindler


• Ano. 1993
• Sinopse. “O alemão Oskar Schindler viu na mão de obra judia uma solução barata e
viável para lucrar com negócios durante a guerra. Com sua forte influência dentro do
partido nazista, foi fácil conseguir as autorizações e abrir uma fábrica. O que poderia
parecer uma atitude de um homem não muito bondoso, transformou-se em um dos
maiores casos de amor à vida da História, pois este alemão abdicou de toda sua fortuna
para salvar a vida de mais de mil judeus em plena luta contra o extermínio alemão.”
A lista de Schindler é um filme emocionante que te levará até a 2º Guerra Mundial.
A relação deste filme com a nossa disciplina é que você irá ver as atrocidades cometidas
contra os judeus e outros grupos durante o período da guerra, e poderá compreender a
preocupação com a garantia de direitos para as pessoas. A dignidade humana se faz tão
importante pois é um meio formal de evitar que as atrocidades cometidas contra as
pessoas durante a 2º Guerra Mundial venha a ocorrer novamente.
REFERÊNCIAS

BARROSO, Luis Roberto. A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional


Contemporâneo; A Construção de um Conceito Jurídico a Luz da Jurisprudência
Mundial. Fórum. Belo Horizonte: 2013.

BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A CONSTITUIÇÃO E O STF. [ADPF 449,


rel. min. Luiz Fux, j. 8-5-2019, P, DJE de 2-9-2019.]

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A CONSTITUIÇÃO E O STF.[Rcl 38.782,


rel. min. Gilmar Mendes, j. 3-11-2020, 2ª T, Informativo 998.]

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A CONSTITUIÇÃO E O STF. [ADI 5.543,


rel. min. Edson Fachin, j. 11-5-2020, P, DJE de 26-8-2020.]

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A CONSTITUIÇÃO E O STF. [RE 670.422,


rel. min. Dias Toffoli, j. 15-8-2018, P, Informativo 911, RG, tema 761.]

CAMARGO, A. L. Chaves. Culpabilidade e Reprovação Penal. São Paulo: Sugestões


Literárias, 1994.

GOZZO, Débora. Ligeira, Wilson Ricardo (organizadores). Bioética e direitos


fundamentais. – São Paulo: Saraiva, 2012.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo:2017. p. 83

MORAES, Maria Celina Bodin de. O conceito de dignidade humana: substrato


axiológico e conteúdo normativo – ob. cit., 2003.

PAULICHI, Jaqueline da Silva. MORAES, Carlos Alexandre de. A DIGNIDADE


HUMANA EM KANT E O PRINCÍPIO DA SACRALIDADE DA VIDA EM BIODIREITO.
Conpedi- João Pessoa/PB. 2014.
http://conpedi.danilolr.info/publicacoes/c178h0tg/x552ze4o/mlC99HW58Wq6N7iQ.pdf.

PINHEIRO. Jorge Duarte. O Direito de Família Contemporâneo. AAFDL: Lisboa. 2013.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23. ed. São Paulo:
Malheiros, 2004.

SARLET, Ingo Wolfgang. DIREITOS FUNDAMENTAIS. Direitos fundamentais e


pandemia V — o STF e o acesso à informação. 03.jul.2020.Disponível em
https://www.conjur.com.br/2020-jul-03/direitos-fundamentais-direitos-fundamentais-
pandemia-stf-acesso-informacao Acesso em 19.maio.2021
SZANIAWSKI, Elimar. Direitos da Personalidade e sua tutela. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2005.

VIRGÍLIO AFONSO DA SILVA, A constitucionalização do direito: os direitos


fundamentais nas relações entre particulares. Malheiros. São Paulo: 2011.
UNIDADE II
DO DIREITO CONSTITUCIONAL
Professora Mestre Jaqueline da Silva Paulichi

Plano de Estudo:

● Das normas constitucionais;


● Da eficácia das normas constitucionais;
● Da hermenêutica constitucional;
● Dos conflitos de normas constitucionais e formas de resolução.

Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar os direitos fundamentais e sua relevância, bem como analisar quais
são os direitos fundamentais em espécie;
● Compreender as normas constitucionais e sua eficácia, a diferença entre norma
de eficácia plena, limitada e contida;
● Analisar a hermenêutica constitucional e os conflitos de direitos fundamentais no
ordenamento jurídico e a sua forma de resolução.
INTRODUÇÃO

Olá, caro estudante, tudo bem? Nesta unidade II nós vamos nos aprofundar mais
um pouquinho na matéria, analisando os direitos fundamentais dos cidadãos e a sua
aplicação no ordenamento jurídico. No capítulo 2 vamos estudar sobre a eficácia das
normas constitucionais, como a norma de eficácia plena, eficácia limitada e a eficácia
contida, e entender o porquê da doutrina trazer essa classificação para as normas de
direito brasileira. No capítulo 3 vamos estudar sobre a hermenêutica constitucional,
entender qual a sua relevância para o estudo da matéria e como aplicá-la no dia-a-dia
do aplicador do direito. No último capítulo vamos analisar as formas de resolução dos
conflitos de direitos fundamentais e como isso ocorre no dia-a-dia do operador do direito!
Bom estudo!
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1 DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

Conforme estudamos na unidade I o direito constitucional retira seu fundamento no


próprio texto da Constituição Federal de 1988 como na doutrina e jurisprudência
brasileira.
A constituição possui normas que são estruturantes do sistema, como a estrutura
e divisão política, do Estado, forma de elaboração e alteração da lei, forma de governo,
voto, dentre outras normas estruturantes. Além dessas normas, a nossa Constituição
Federal também possui previsão acerca dos direitos e garantias fundamentais do
cidadão, como o reconhecimento dos direitos da família, do planejamento familiar, do
desenvolvimento sustentável, da ordem econômica, dentre outros.
Assim, as normas constitucionais são todas aquelas que estão inseridas no texto
constitucional, seguindo as formalidades legais para tal e com conteúdo materialmente
constitucional.
Vejamos abaixo algumas normas constitucionais que não fazem parte das normas
estruturantes do Estado, mas que estão inseridas no texto constitucional:

O art. 225 que trata do meio ambiente:[1]

[1] BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
=§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder
Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover
o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; (Regulamento)
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do
País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material
genético; (Regulamento) (Regulamento) (Regulamento)
(Regulamento)
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais
e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que
justifiquem sua proteção; (Regulamento)
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade; (Regulamento)
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente; (Regulamento)
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e
a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas
que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade. (Regulamento)
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar
o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo
órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar,
o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional,
e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos
recursos naturais. (Regulamento) (Regulamento)
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos
Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos
ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua
localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste
artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem
animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do
art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza
imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser
regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais
envolvidos.
O art. 226 da CF/88 que trata da família e do casamento:[1]

[1] BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.


§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável
entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar
sua conversão em casamento. (Regulamento)
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada
por qualquer dos pais e seus descendentes.
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos
igualmente pelo homem e pela mulher.
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação
dada Pela Emenda Constitucional nº 66, de 2010)
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da
paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal,
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para
o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de
instituições oficiais ou privadas. Regulamento
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um
dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito
de suas relações.

Outras normas podem ser encontradas em nossa Constituição Federal quando se


analisar quais são normas essencialmente constitucionais, como aquelas que tratam da
estrutura, divisão e organização do Estado, e outras que reconhecem e garantem direitos
aos cidadãos.
As normas da CF/88 podem possuir eficácia jurídica social e outras apenas a
eficácia jurídica. Dessa maneira a eficácia social está relacionada com as hipóteses em
que a norma vigente pode ser aplicada diretamente em casos concretos. A eficácia
jurídica significa que a norma já possui aptidão para produzir efeitos nas relações
concretas, mas também produz efeitos ao revogar as normas anteriores que conflitam
com ela.
2 DA EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

José Afonso da Silva[1] divide a eficácia das normas constitucionais em três: as


normas de eficácia plena, de eficácia contida e de eficácia limitada. Passemos a analisar
cada uma.

[1] SILVA, José Afonso da. Apud. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado.
Saraiva, São Paulo:2021.

As normas constitucionais de eficácia plena são aquelas que no momento em que


são inseridas na Constituição Federal, já passam a produzir efeitos, não necessitando
de outra norma (lei) para regulamentá-la ou determinar formas de aplicação do referido
direito.
Via de regra, essas são as normas que criam novos órgãos, conselhos, realizam a
distribuição de competências, ou que realizam a estrutura do governo. Essas normas
não necessitam ser integradas por outra norma infraconstitucional.
A doutrina norte-americana classifica essas normas como “normas autoaplicáveis” ou
self-executing, self-enforcing ou self acting.
Exemplo de norma de eficácia plena:

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos


políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e
observados os seguintes preceitos:
I - caráter nacional;
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou
governo estrangeiros ou de subordinação a estes;
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua
estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração
de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e
funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas
coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas
eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal,
devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade
partidária.
§ 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na
forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.

§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito


ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que
alternativamente:

I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo,


3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um
terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento)
dos votos válidos em cada uma delas; ou (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 97, de 2017)

II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos


em pelo menos um terço das unidades da Federação.

§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização


paramilitar.
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos no §
3º deste artigo é assegurado o mandato é facultada a filiação, sem perda
do mandato, a outro partido que os tenha atingido, não sendo essa
filiação considerada para fins de distribuição dos recursos do fundo
partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão. [1]

[1] BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

Note-se que o artigo acima colacionado já traz as previsões necessárias acerca


dos partidos políticos, não necessitando que outra lei coloque essa garantia em prática.
Em segundo lugar temos as normas de eficácia contida. Essas normas possuem
aplicabilidade direta e imediata, mas não integral. Nesses casos, a norma poderá ter
redução de sua abrangência.
Essa restrição ou limitação das normas constitucionais poderá ocorrer por
previsões na própria constituição, em leis infraconstitucionais, ou ainda em decorrência
dos bons costumes, motivo de ordem pública, paz social e etc.
O primeiro exemplo que podemos analisar é a liberdade. Sabemos que o direito
à liberdade se subdivide em diversas outras formas de liberdades. No entanto, em caso
de decretação de estado de defesa ou estado de sítio, diversos outros direitos,
inclusive os desdobramentos do direito à liberdade, serão restritos ou limitados. Nesses
casos estaremos diante de uma norma constitucional de eficácia limitada.
Outro exemplo é o art. 5º , inc. XIII da CF/88[1] que prevê o livre exercício de
qualquer trabalho, ofício ou profissão. No entanto, para que uma pessoa exerça
algumas profissões é necessário terminar o curso de graduação, ou ainda, passar por
uma prova de qualificação como ocorre nos cursos de direito e contabilidade.
No caso do curso de direito, o estatuto da ordem dos advogados do Brasil prevê
que só poderá exercer a função de advogado aquele que obtiver aprovação do exame
de ordem. Essa questão já foi debatida inclusive no STF, no qual colaciona-se abaixo
trecho da decisão:
[...] o exame de suficiência discutido seria compatível com o juízo de
proporcionalidade e não alcançaria o núcleo essencial da liberdade de
ofício. No concernente à adequação do exame à finalidade prevista na
Constituição — assegurar que as atividades de risco sejam
desempenhadas por pessoas com conhecimento técnico suficiente, de
modo a evitar danos à coletividade — aduziu-se que a aprovação do
candidato seria elemento a qualificá-lo para o exercício profissional. 1

As normas de aplicabilidade limitada são aquelas em que no momento que entram


no texto constitucional não tem a intenção ou a capacidade de produzir todos os seus
efeitos, necessitando de norma regulamentadora infraconstitucional para que
regulamente tal direito. Essas normas são de aplicabilidade indireta, mediata e reduzida.
As normas constitucionais de eficácia limitada produzirão mínimos efeitos, como
o de vincular o legislador aos seus vetores.
Pedro Lenza, ao citar José Afonso da Silva, ressalta que essas normas possuem
eficácia jurídica imediata, direta e vinculante, pois:

a) estabelecem um dever para o legislador ordinário;


b) condicionam a legislação futura, com a consequência de serem
inconstitucionais as leis ou atos que as ferirem;

1
BRASIL. STF. (RE 603.583, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 26.10.2011, Plenário, Inf. 646/STF)
c) informam a concepção do Estado e da sociedade e inspiram sua
ordenação jurídica, mediante a atribuição de fins sociais, proteção dos
valores da justiça social e revelação dos componentes do bem comum;
d) constituem sentido teleológico para a interpretação, integração e
aplicação das normas jurídicas;
e) condicionam a atividade discricionária da Administração e do
Judiciário;
f) criam situações jurídicas subjetivas, de vantagem ou de desvantagem.2

Divide-se essas normas em dois grupos: as normas de princípio institutivo ou


organizativo e as normas de princípio programático. As normas de princípio institutivo
ou organizativo possuem esquemas gerais ou iniciais que estruturam as instituições, os
órgãos ou as entidades. Cite-se os arts. 33, 88, 90, 113, 121, 131, 146 e outros da
Constituição Federal de 1988.
As normas declaratórias de princípios programáticos trazem os programas que
devem ser implementados pelo Estado, com a finalidade de concretizar os fins sociais.
Cite-se os artigos: 6º, 196, 205, 215, dentre outros.
Citando novamente o autor Pedro Lenza, este traz algumas normas programáticas
que são descritas por José Afonso da Silva:

a) art. 7.o, XI (participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da


remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa,
conforme definido em lei, observando que já existe ato normativo
concretizando o direito);
b) art. 7.o, XX (proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante
incentivos específicos, nos termos da lei);
c) art. 7.o, XXVII (proteção em face da automação, na forma da lei);
d) art. 173, § 4.o (a lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise
à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento
arbitrário dos lucros — vide CADE);
e) art. 216, § 3.o;
f) art. 218, § 4.3

2
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo: 2021.p.242
3
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo: 2021.p.243
3 DA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL

A hermenêutica é o estudo e interpretação das leis. Na Constituição, a


interpretação cabe ao exegeta, que irá procurar o real significado dos termos
constitucionais. A função do exegeta é de extrema relevância, pois a constituição confere
validade às normas infraconstitucionais de um país. O hermeneuta leva em consideração
a história, as ideologias, realidades sociais, econômicas e políticas do Estado.
A interpretação dos preceitos constitucionais deve levar em consideração todo o
sistema, assim, caso houver antinomia de normas, busca-se a solução aparente do
conflito pela interpretação sistemática, por meio dos princípios constitucionais.
Podem ocorrer as transformações formais, por meio de reformas à constituição, e
informais, por meio das mutações constitucionais. As mutações constitucionais não são
alterações físicas no texto constitucional, mas sim alterações no sentido interpretativo da
norma. O texto permanece inalterado.
Pedro Lenza no ensina que:

A transformação não está no texto em si, mas na interpretação daquela


regra enunciada. O texto permanece inalterado. As mutações
constitucionais, portanto, exteriorizam o caráter dinâmico e de
prospecção das normas jurídicas, por meio de processos informais.
Informais no sentido de não serem previstos dentre aquelas mudanças
formalmente estabelecidas no texto constitucional.4

Nesta mudança de interpretação ocorre a atribuição de novos sentidos ao texto


constitucional, adaptando-se à realidade fática, social, econômica e política de um país,
ou ainda uma releitura do que se considera ético e justo. Pedro Lenza nos lembra que
essa alteração deve possuir lastro democrático, correspondendo a uma demanda social
efetiva por parte da sociedade, respaldada pela soberania popular.5
Alguns meios de mutações constitucionais devem ser citados como:
- a interpretação judicial e administrativa. Os tribunais superiores estão sempre
analisando algum fato social e jurídico a fim de se aplicar a melhor solução ao caso

4
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo: 2021. p. 165
5
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo: 2021.p.167
concreto. Dessa maneira, a jurisprudência confere alterações na interpretação de
institutos legais. Exemplo que pode ser citado é o caso da união homoafetiva. Durante
anos no país houve dificuldade para que casais homoafetivos tivessem o casamento
reconhecido, conferindo direitos aos cônjuges e protegendo a família em caso de morte,
com aplicação dos institutos do direito sucessório. Vejamos abaixo a jurisprudência que
trata do caso:
O caput do art. 226 confere à família, base da sociedade, especial
proteção do Estado. Ênfase constitucional à instituição da família. Família
em seu coloquial ou proverbial significado de núcleo doméstico, pouco
importando se formal ou informalmente constituída, ou se integrada por
casais heteroafetivos ou por pares homoafetivos. A Constituição de 1988,
ao utilizar-se da expressão "família", não limita sua formação a casais
heteroafetivos nem a formalidade cartorária, celebração civil ou liturgia
religiosa. Família como instituição privada que, voluntariamente
constituída entre pessoas adultas, mantém com o Estado e a sociedade
civil uma necessária relação tricotômica. Núcleo familiar que é o principal
lócus institucional de concreção dos direitos fundamentais que a própria
Constituição designa por "intimidade e vida privada" (inciso X do art. 5º).
Isonomia entre casais heteroafetivos e pares homoafetivos que somente
ganha plenitude de sentido se desembocar no igual direito subjetivo à
formação de uma autonomizada família. Família como figura central ou
continente, de que tudo o mais é conteúdo. Imperiosidade da
interpretação não reducionista do conceito de família como instituição que
também se forma por vias distintas do casamento civil. Avanço da CF de
1988 no plano dos costumes. Caminhada na direção do pluralismo como
categoria sócio-político-cultural. Competência do STF para manter,
interpretativamente, o Texto Magno na posse do seu fundamental atributo
da coerência, o que passa pela eliminação de preconceito quanto à
orientação sexual das pessoas. União estável. Normação constitucional
referida a homem e mulher, mas apenas para especial proteção desta
última. (...) A referência constitucional à dualidade básica homem/mulher,
no § 3º do seu art. 226, deve-se ao centrado intuito de não se perder a
menor oportunidade para favorecer relações jurídicas horizontais ou sem
hierarquia no âmbito das sociedades domésticas. Reforço normativo a
um mais eficiente combate à renitência patriarcal dos costumes
brasileiros. Impossibilidade de uso da letra da Constituição para
ressuscitar o art. 175 da Carta de 1967/1969. Não há como fazer rolar a
cabeça do art. 226 no patíbulo do seu parágrafo terceiro. Dispositivo que,
ao utilizar da terminologia "entidade familiar", não pretendeu diferenciá-la
da "família". Inexistência de hierarquia ou diferença de qualidade jurídica
entre as duas formas de constituição de um novo e autonomizado núcleo
doméstico. Emprego do fraseado "entidade familiar" como sinônimo
perfeito de família. (...). (...) Ante a possibilidade de interpretação em
sentido preconceituoso ou discriminatório do art. 1.723 do CC/2002, não
resolúvel à luz dele próprio, faz-se necessária a utilização da técnica de
"interpretação conforme à Constituição". Isso para excluir do dispositivo
em causa qualquer significado que impeça o reconhecimento da união
contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como
família. Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e
com as mesmas consequências da união estável heteroafetiva.
[ADI 4.277 e ADPF 132, rel. min. Ayres Britto, j. 5-5-2011, P, DJE de 14-
10-2011.] = RE 687.432 AgR, rel. min. Luiz Fux, j. 18-9-2012, 1ª
T, DJE de 2-10-2012 Vide RE 646.721, rel. p/ o ac. min. Roberto Barroso,
j. 10-5-2017, P, DJE de 11-9-2017, Tema 4986

Sobre a interpretação administrativa, cite-se às mudanças de entendimentos do


CNJ – Conselho Nacional de Justiça, que altera suas resoluções com a finalidade de
abranger outras situações jurídicas e se adequar com a realidade.
- Atuação do legislador: trata-se de mutação ao texto legislativo por ato do próprio
legislador, que por sua vez, procura alterar o sentido já dado a alguma norma
constitucional.
- Costumes constitucionais: algumas práticas reiteradas ensejaram mudanças no
sentido interpretativo da constituição.
As mutações e alterações de uma constituição devem respeitar os princípios
estruturantes, para que não se configurem como inconstitucionais. Assim, os princípios
também são considerados como normas, que conferem a uma constituição maior
amplitude e possibilidade de alargamento de conceitos. Os princípios são normas, assim
como as regras. Dessa forma, pode-se afirmar que princípios e regras são espécies de
normas.
Um sistema jurídico não pode ser composto apenas por princípios, eis que isso
traria muita flexibilidade do sistema, e não confere segurança jurídica aos cidadãos. Por
outro lado, um sistema jurídico também não poderia ser composto apenas por regras,
eis que não teríamos assim a possibilidade de interpretações conforme princípios gerais
do direito, se configurando como um sistema extremamente rígido.
Pedro Lenza ressalta que:

[...] a interpretação e a aplicação de princípios e regras dar-se-ão com


base nos postulados normativos inespecíficos, quais sejam, a
ponderação (atribuindo-se pesos), a concordância prática e a proibição

6
BRASIL. ADI 4.277. ADPF 132. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. STF. ADI 4.277 e ADPF 132, rel.
min. Ayres Britto, j. 5-5-2011, P, DJE de 14-10-2011.A Constituição Federal e o Supremo. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04.abr.2021.
de excesso (garantindo a manutenção de um mínimo de eficácia dos
direitos fundamentais), e específicos, destacando-se o postulado da
igualdade, o da razoabilidade e o da proporcionalidade.7

Assim, a hermenêutica trata do estudo e da interpretação das leis e normas


constitucionais. Temos no ordenamento jurídico brasileiro diversas formas de
interpretação das normas jurídicas. Os princípios e as regras previstas no ordenamento
conferem um norte a ser seguido pelo intérprete em caso de dúvidas quanto a sua
aplicação.

4. DOS CONFLITOS DE NORMAS CONSTITUCIONAIS E FORMAS DE


RESOLUÇÃO.

Em algumas situações pode ser que o exegeta se depare com normas de mesmo
valor normativo, mesmo grau hierárquico e de especialidade que tutelam um
determinado caso em concreto, mas que são contraditórias.
São os casos que tratam, por exemplo, de direitos fundamentais, em que as
normas que colidem são consideradas como direitos fundamentais e que se contradizem.
O exemplo clássico é o caso do conflito entre o direito à informação e o direito à
privacidade (que além de se caracterizar como direito fundamental é também direito da
personalidade).
Note-se que as regras são mais específicas que os princípios, possuindo assim
características para que haja a sua aplicação. Diante do conflito de regras, apenas uma
deverá prevalecer, se utilizando da ideia do “tudo ou nada”. A regra só não será aplicada
se o fato que a contempla for considerado como inválido, ou se existir outra norma mais
específica, ou se ainda não estiver em vigor. Nesses casos utilizaremos os critérios
hierárquico, da especialidade ou o cronológico.
No caso de colisão de princípios, estamos diante de um conflito de valores e
interpretações sobre preceitos normativos mais abstratos. Neste caso, a técnica utilizada
será a da ponderação ou balanceamento, sendo os princípios valorativos ou finalísticos.
Os princípios são mandamentos ou mandados de otimização, nas palavras de
Robert Alexy:

7
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo: 2021.p.169
normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível
dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes. Princípios são,
por conseguinte, mandamentos de otimização, que são caracterizados
por poderem ser satisfeitos em graus variados e pelo fato de que a
medida devida de sua satisfação não depende somente das
possibilidades fáticas, mas também das possibilidades jurídicas. O
âmbito das possibilidades jurídicas é determinado pelos princípios e
regras colidentes.8

A ponderação deverá ser aplicada como meio de se resolver conflitos de normas


constitucionais que abarquem direitos fundamentais ou princípios. Em caso de conflito
de regras, utilizar-se-á os critérios de solução de antinomias, como o critério da
especialidade, o critério da hierarquia ou o critério cronológico.
A ponderação será aplicada através da interpretação da norma, analisando seus
valores, seu sentido, o caso concreto e todo o sistema jurídico. Pondera-se valores,
fundamentos, direitos e deveres, para se chegar a uma resposta justa. Não existe
fórmula mágica ou resposta pré-fabricada a todos os questionamentos jurídicos.
O operador do direito terá que analisar o caso concreto e verificar qual direito
deve sobressair. Esse é o uso da técnica da ponderação.
Vejamos um caso concreto para melhor compreensão:

O veículo de comunicação exime-se de culpa quando busca fontes


fidedignas, quando exerce atividade investigativa, ouve as diversas
partes interessadas e afasta quaisquer dúvidas sérias quanto à
veracidade do que divulgará.” “A reportagem da recorrente indicou o
recorrido como suspeito de integrar organização criminosa. Para
sustentar tal afirmação, trouxe ao ar elementos importantes, como o
depoimento de fontes fidedignas, a saber: (i) a prova testemunhal de
quem foi à autoridade policial formalizar notícia crime; (ii) a opinião de um
Procurador da República. O repórter fez-se passar por agente
interessado nos benefícios da atividade ilícita, obtendo gravações que
efetivamente demonstravam a existência”[...] “de engenho fraudatório.
Houve busca e apreensão em empresa do recorrido e daí infere-se que,
aos olhos da autoridade judicial que determinou tal medida, havia fumaça
do bom direito a justificá-la. Ademais, a reportagem procurou ouvir o
recorrido, levando ao ar a palavra de seu advogado. Não se tratava,

8
R. Alexy, Teoria dos direitos fundamentais, p. 90-91 (trad. de Virgílio Afonso da Silva) (grifamos). Cf.,
também, sobre a distinção entre regras e princípios, L. V. A. da Silva, Princípios e regras: mitos e
equívocos acerca de uma distinção, Revista Latino-Americana de Estudos Constitucionais, p. 607-630
APUD. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo. Saraiva: 2021. p.170
portanto, de um mexerico, fofoca ou boato que, negligentemente, se
divulgava em cadeia nacional.”9

Anderson Schreiber explica acerca da decisão acima colacionada nos seguintes


termos:

Paradigmático exemplo de aplicação da técnica de ponderação entre o


direito à honra e a liberdade de informação, o citado acórdão aponta, com
clareza, os critérios que devem ser observados na solução de conflitos
decorrentes de divulgação de suspeitas de prática criminosa: (i) destaque
para a qualificação do retratado como mero suspeito ou acusado; (ii)
consulta a fontes fidedignas; (iii) apresentação dos indícios recolhidos; e
(iv) oitiva do suspeito e do seu advogado.
Observados esses parâmetros, a posterior frustração da ação penal ou
mesmo a constatação da inocência do acusado não podem resultar em
responsabilidade da entidade jornalística, que se limita a dar notícia da
suspeita ou acusação à época existente. Foi o que concluiu, naquela
mesma ocasião, o Superior Tribunal de Justiça: “A suspeita que recaía
sobre o recorrido, por mais dolorosa que lhe seja, de fato, existia e era, à
época, fidedigna. Se hoje já não pesam sobre o recorrido essas
suspeitas, isso não faz com que o passado se altere. Pensar de modo
contrário seria impor indenização a todo veículo de imprensa que
divulgue investigação ou ação penal que, ao final, se mostre
improcedente.”
É recomendável, todavia, que a entidade jornalística, que considerou a
suspeita relevante o bastante para publicá-la, tenha o cuidado de noticiar
também a eventual absolvição em processo criminal ou arquivamento do
inquérito policial, quando tais fatos vierem a ocorrer, evitando que o
público permaneça apenas parcialmente informado acerca do desfecho
da suspeita criminosa, que representa ônus imenso sobre a honra da
pessoa inocente.10

SAIBA MAIS

Ainda sobre a técnica da ponderação, leia o artigo do Professor Flávio Tartuce


que trata da referida técnica e sua aplicação no Novo Código de Processo Civil:
TARTUCE, Flávio. Técnica de Ponderação no novo CPC. JusBrasil. Disponível em

9
STJ, Recurso Especial 984.803/ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, 26.5.2009.
10
SCHREIBER, Anderson. Direitos da personalidade. São Paulo: Atlas, 2014.p.87
https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/302533403/tecnica-de-ponderacao-no-
novo-cpc-debate-com-o-professor-lenio-streck Acesso em 19.maio.2021

#SAIBA MAIS#

REFLITA

“O juízo de ponderação, pelo qual se busca realizar o justo, remete também à imagem
do ser demiúrgico, que empunha em cada mão a balança e a espada. Trata-se de ofício
reconhecidamente intrincado em dificuldades variadas, mas de elementar importância
para o cidadão e para a comunidade política na sua inteireza moral. Acaso se preferisse
que tal ofício fosse realizado por entidades super-humanas, mitológicas, como a deusa
Themis ou o extraordinário Hércules. No mundo real, é inevitável, porém, conviver com
o que toda empreitada humana tem de precário e de insuficiente, ainda que sob o alento
de que reconhecer limites e atentar para condicionantes favorece superações e propicia
giros evolutivos.”

Fonte: Branco, Paulo Gustavo Gonet Juízo de ponderação na jurisdição constitucional / Paulo
Gustavo Gonet Branco. — São Paulo : Saraiva, 2009. — (Série IDP). p.309

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro estudante,

Nesta unidade aprendemos sobre as normas constitucionais, o que são elas, e a


diferença entre as normas estruturantes de uma constituição e as normas que conferem
direitos e deveres aos cidadãos. Logo após, analisamos sobre a eficácia da norma
constitucional, utilizando-se das lições de José Afonso da Silva sobre o tema.
Vimos a diferença entre as normas constitucionais de eficácia plena, que são
aquelas que ao adentrar o texto constitucional já passam a ter aplicabilidade; as normas
de eficácia contida, que ao adentrar o ordenamento constitucional já podem ser
aplicadas, porém também podem sofrer limitações em decorrências de fatos, direitos,
leis, ou acontecimentos históricos; e as normas de eficácia contida, que ao adentrar o
texto constitucional não possuem aplicabilidade imediata, dependendo de leis
infraconstitucionais que irão regulamentar o texto, a norma, e a sua aplicabilidade.
Estudamos a hermenêutica constitucional e como ela é aplicada em casos
concretos, bem como as formas de resolução dos conflitos das normas constitucionais,
no qual utilizaremos a técnica da ponderação.
Até a próxima unidade.
LEITURA COMPLEMENTAR

Sobre a técnica da ponderação e a aplicação pelo Supremo Tribunal Federal,


leia o artigo de Lenio Streck, publicado pela CONJUR, em que o autor realiza crítica da
forma com que o STF realiza a aplicação da referida técnica:

https://www.conjur.com.br/2016-dez-11/aborto-recepcao-equivocada-ponderacao-alexyana-st
LIVRO

• Título.: Direito Constitucional


• Autor. Alexandre de Moraes
• Editora. Atlas/Gen
• Sinopse: Curso de direito constitucional voltado para acadêmicos de direito e cursos
que estudam o direito constitucional, analisando desde o significado de termos
corriqueiros na matéria, passando pelo poder constituinte, análise dos direitos e
garantias fundamentais, processo legislativo, divisão e estrutura dos poderes, controle
de constitucionalidade, dentre outros temas de extrema relevância.
FILME/VÍDEO

• Título. A vida de David Gale


• Ano. 2003
• Sinopse.
“David Gale (Kevin Spacey) é um homem correto que em circunstâncias bizarras é
condenado à pena de morte pelo estupro e assassinato de sua colega ativista Constance
Hallaway (Laura Linney). Gale é um pai de família e professor respeitado, conhecido por
sua oposição justamente a este tipo de punição. Três dias antes de sua execução, ele
concorda em dar uma entrevista exclusiva para a repórter Bitsey Bloom (Kate Winslet).”
REFERÊNCIAS

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A CONSTITUIÇÃO E O STF.

BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

BRASIL. STF. (RE 603.583, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 26.10.2011, Plenário, Inf.
646/STF)

BRASIL. ADI 4.277 e ADPF 132, rel. min. Ayres Britto, j. 5-5-2011, P, DJE de
14-10-2011.] = RE 687.432 AgR, rel. min. Luiz Fux, j.
18-9-2012, 1ª T, DJE de 2-10-2012 Vide RE 646.721, rel. p/ o ac. min. Roberto
Barroso, j. 10-5-2017, P, DJE de 11-9-2017, Tema 498

Branco, Paulo Gustavo Gonet Juízo de ponderação na jurisdição constitucional / Paulo


Gustavo Gonet Branco. — São Paulo : Saraiva, 2009. — (Série IDP).

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo:2017.

SCHREIBER, Anderson. Direitos da personalidade. São Paulo: Atlas, 2014.


UNIDADE III
DOS PRINCÍPIOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS
Professora Mestre Jaqueline da Silva Paulichi

Plano de Estudo:

● Dos princípios fundamentais previstos na Constituição Federal;


● Dos objetivos fundamentais previstos na Constituição Federal;
● Das dimensões dos direitos fundamentais;
● Da classificação dos direitos fundamentais.

Objetivos de Aprendizagem:
● Demonstrar os conceitos dos princípios previstos na Constituição Federal de
1988;
● Demonstrar os objetivos fundamentais previstos na
Constituição Federal de 1988 e sua importância para a sociedade;
● Verificar a teoria que divide os direitos fundamentais em dimensões, ou
gerações, bem como entender o porquê dessa divisão doutrinária;
● Classificar os direitos fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988.
INTRODUÇÃO

Olá estudante! Tudo bem?


Estamos na III Unidade de Direito Constitucional e Direitos Humanos. Vamos estudar
nesta apostila acerca dos objetivos previstos no art.3º da Constituição Federal de 1988,
analisando detalhadamente cada um dos objetivos previstos nos incisos do referido
artigo. Logo após passaremos a estudar a divisão do estudo dos direitos fundamentais
em gerações, ou, como apresentado nesta apostila, em dimensões de direitos
fundamentais e seus impactos.
Ao final vamos aprender sobre a hermenêutica jurídica aplicada ao direito
constitucional, sobre a importância dos princípios e a divisão entre normas e regras. Ao
fim, abordaremos sobre a classificação dos direitos fundamentais e sua divisão no texto
constitucional.

Bom estudo.
Imagem do Tópico
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/brazil-flag-on-people-hands-
clenched-1488114530

1 DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL


DE 1988

Os princípios constitucionais fundamentais estão previstos no artigo 1º da


Constituição Federal e são eles: a soberania; a cidadania; a dignidade da pessoa
humana; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; e o pluralismo político.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel


dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (Vide Lei nº
13.874, de 2019)
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.[1]

[1] BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

Na verdade, os princípios constitucionais constam de um rol não taxativo, ou seja,


diversos outros princípios podem ser tidos como constitucionais porque advém de artigos
ou de princípios ou de fundamentos previstos na própria Constituição.
Como exemplo pode ser citado o artigo 4º da Constituição Federal que fala sobre
os princípios das relações internacionais, que tratam por sua vez do princípio da
independência nacional; de prevalência dos direitos humanos; da autodeterminação dos
povos; da não intervenção; da igualdade entre os Estados; na defesa da paz; da solução
pacífica de conflitos; no repúdio ao terrorismo e ao racismo; na cooperação entre os
povos para o progresso da humanidade; e na concessão de asilo político.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina,
visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.[1]

[1] BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

Dessa forma iremos estudar os princípios fundamentais da Constituição Federal


previstos no art. 1º. O Caput do artigo diz o seguinte: a “República federativa do Brasil
formada pela união indissolúvel dos estados e municípios e do distrito federal constitui-
se em estado democrático de direito e tem como fundamentos”...

Tratamos o caput deste artigo como princípios fundamentais pois os fundamentos da


nossa Constituição e de todo nosso Estado democrático de direito estão previstos neste
artigo, pois a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais
do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político norteiam todos os outros princípios
e fundamentos previstos na

Constituição Federal.

1.1 Princípio da Soberania.


Pode-se dizer que o princípio fundamental da soberania é um atributo conferido ao
Estado que dá a ele o poder de decisão. É uma das características estatais que,
acompanhada de outros dois requisitos básicos (que são: o povo e o território), sem o
qual o estado não conseguiria exercer a sua soberania.

Em decorrência da globalização existente há anos como fenômeno mundial o


princípio da soberania pode até parecer que é um princípio não respeitado pelo
ordenamento jurídico. No entanto, o princípio da soberania é extremamente importante
para o organismo jurídico, eis que deve haver o respeito e aplicação das normas do
direito interno, bem como o respeito e aplicação das normas internacionais,
configurando-se um sistema de harmonização entre o direito interno e externo.

1.2 Princípio da Cidadania.

O princípio fundamental da cidadania é concebido como a participação integral do


indivíduo na comunidade política em que ele está inserido. Se manifesta como lealdade
ao padrão de civilização vigente a herança social e também como um acesso ao bem-
estar, aos seus direitos sociais, aos seus direitos como cidadão na esfera jurídica, a
todos os direitos assistenciais e previdenciários.

O princípio fundamental da cidadania possui diversos significados distintos a


depender da disciplina que será estudada. Por exemplo, o direito de família ao tratar do
princípio do livre planejamento familiar, ensina acerca da liberdade do indivíduo em ter
filhos, quantos filhos terá, dentre outras liberdades. Verifica-se que o referido princípio
também é direito do cidadão brasileiro em decorrência do princípio fundamental da
cidadania.

Dessa forma podemos afirmar que o princípio fundamental da cidadania é de


extrema relevância para toda a sociedade e para todos cidadãos brasileiro, que,
consequentemente, irão exercer a sua cidadania. Outro significado é o de exercer os
direitos previstos na Constituição Federal tanto seus direitos fundamentais quanto
direitos sociais.

1.3 Princípio da dignidade da pessoa humana

O princípio fundamental da dignidade da pessoa humana está previsto no inciso


III do art. 1 da Constituição Federal é um princípio de extrema relevância para o estudo
do direito, eis que tudo se converge para a dignidade humana.
Note-se que temos diversos julgados pelo STF e pelo STJ e demais tribunais que
tratam do princípio da dignidade da pessoa humana. Afirma-se que a dignidade da
pessoa humana é o núcleo existencial do nosso ordenamento jurídico, ou seja, tudo
decorre tudo nasce a partir da observação ou da preservação do referido princípio.

Até os dias atuais não se tem um conceito preciso um conceito único do que ser
a dignidade da pessoa humana porém temos por diversos aspectos históricos, por
diversas jurisprudências, diversos entendimentos diferentes sobre o princípio o que não
é a dignidade da pessoa humana. Como exemplos podemos citar o que aconteceu
durante a segunda guerra Mundial ( genocídio).
O tratamento conferido aos judeus e as demais pessoas que também foram
vítimas daquele sistema é o que podemos chamar de não respeito ao princípio da
dignidade da pessoa.
A discussão acerca da importância desse princípio iniciou muito antes da Segunda
Guerra Mundial iniciada pelos postulados cristãos e pela análise bíblica, eis que de
acordo com entendimentos doutrinários a dignidade da pessoa humana tratava do ser
em si, de tratar o ser humano como humano e ter um tratamento digno.
No entanto, questiona-se o que seria esse tratamento digno, ou o que é ter
dignidade. Sabe-se o que não é ter dignidade. Não ter dignidade, por exemplo, são as
pessoas que moram que estão em situações de extrema necessidade e que nem o
Estado nem as organizações sem fins lucrativos não conseguem tutelar os interesses
dessas pessoas. Sabemos que não é ter dignidade crianças que ainda trabalham para
ajudar os seus pais em casa.
Também não é dignidade a escravidão do homem que ainda acontece nos dias
atuais porém de forma diferenciada, de forma velada.
Dessa forma podemos tentar conceituar o princípio da dignidade humana como o
seguinte:
Tratar o ser humano de forma digna, um princípio que é núcleo dos direitos
fundamentais e dos direitos da personalidade e também dos direitos humanos, em que
deve ser respeitado independente da esfera, independente do caso a ser tratado. Nem
mesmo o entendimento de que o interesse público é maior do que o interesse privado
deve se sobressair em detrimento deste princípio da dignidade da pessoa humana.
Ou seja, o ser humano é a finalidade da própria lei sendo assim ele deve ser
tratado como tal de forma que seus direitos básicos e fundamentais não sejam violados
e nem deturpados.

1.4 Princípio Fundamental dos Valores Sociais do Trabalho e da Livre Iniciativa

O princípio fundamental dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa são


pilares que assentam as bases do país.
Remetem ao desenvolvimento do povo e respeito à dignidade do empregado e do
empregador. Tem a conotação de incentivar as formas lícitas de trabalho e também as
formas lícitas de atividades empresariais sendo isso uma efetivação ou uma aplicação
do fundamento constitucional do art. 1º da Constituição Federal. Tem relação direta com
o art. 170 que trata da ordem econômica e financeira.
O artigo referido por sua vez deixa claro que a nossa sociedade se pauta na livre
iniciativa e no trabalho digno que são as bases do Estado.
O indivíduo tem o direito de trabalhar, de crescer, se desenvolver ou ainda de
empreender por meio do seu trabalho ou ainda por meio da sua livre iniciativa desde que
respeite as leis vigentes em relação a direitos trabalhistas e que não seja nada ilícito.

1.5 Princípio fundamental do pluralismo político


É o princípio fundamental da República federativa do país previsto no inciso quinto do
artigo 1º e é um conceito ligado à noção de democracia que por sua vez admite as ideias
contrapostas, em qualquer situação.
Todo indivíduo tem direito de ter a sua opinião sobre as mais diversas questões
como o governo como as artes como as políticas públicas quanto as leis com a proteção
de que este indivíduo não sofrerá represálias quanto a manifestação de sua opinião
desde que esta não viole direitos de terceiros.

2 DOS OBJETIVOS FUNDAMENTAIS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Tem-se no texto constitucional a previsão dos objetivos fundamentais, conforme


transcrevemos o art.3º :
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.1

Vamos analisar cada um dos objetivos fundamentais.

2.1 “Construir uma sociedade livre, justa e solidária”

Note-se que o constituinte prevê a construção de uma sociedade pautada nos


princípios de liberdade, justiça e solidariedade. Para muitos, a construção de uma
sociedade livre, justa e solidária é uma utopia, algo a ser buscado, mas que dificilmente
será concretizado. Certo é que, com a evolução do saber do homem, da sociedade, das
nossas instituições democráticas, cada vez mais teremos um conceito de liberdade,

1
BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Disponível em <<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>> Acesso em 04.abr.2021
justiça e solidariedade diferenciado. Por este motivo, muitos autores tratam as previsões
da constituição como um “dever-ser” jurídico. Algo que devemos buscar a todo custo.
A sociedade pautada pela liberdade das pessoas depende de políticas públicas e
privadas. Isso quer dizer que, mesmo que haja leis que criminalizam a escravidão, que
haja atividades dos membros do ministério do trabalho e do ministério público com a
finalidade de coibir o trabalho escravo, sempre temos novas concepções de trabalho
escravo no país. Veja-se os casos de escravidão moderna, em que mulheres e homens
trabalham sem as mínimas condições de trabalho, sem um salário mínimo digno. Os
direitos trabalhistas que foram alcançados ao longo dos tempos, através de infindáveis
lutas de sindicatos e grupos organizados, passaram a ser vistos na atualidade como
“pesos” ou obrigações na folha de pagamentos da empresa, que os empresários buscam
a todo momento diminuir e rechaçar do seu sistema.
Quando está-se diante de uma sociedade em que empresas, que não possuem
um grande poderio econômico, passam a enxergar o trabalhador como um “peso
tributário e trabalhista”, verifica-se que toda a busca por direitos trabalhistas (salário
mínimo digno e justo, carteira assinada, folga remunerada, 13º salário, férias, e outros
direitos) passa a ser diminuída, deixada de lado, sob o argumento de um “mercado livre”.
Note-se que, para que haja de fato um livre mercado é necessário que a mão de
obra qualificada seja bem remunerada. Em nada adianta defender um livre mercado,
com a flexibilização de normas trabalhistas se o que acontece na realidade é a supressão
de direitos do trabalhador brasileiro. Mesmo que as pessoas tenham o direito de escolha
entre trabalhar em uma empresa, ou não trabalhar, tem-se que pensar na necessidade
desse sujeito. Será que o sujeito poderia naquele momento dizer “não” à oferta de
trabalho indigna? ( Que não pague um salário mínimo? Que não tenha o reconhecimento
em carteira?)
A sociedade livre ainda está longe de ser alcançada. Nem todas as pessoas
possuem liberdade de escolha em relação ao trabalho; família, sociedade, dentre outros.
O que seria uma sociedade justa? Seria uma sociedade em que se aplicam os
conceitos de justiça, e que todos possuem o direito de buscá-la.
Outro tema que nos leva a debater acerca da sociedade livre e justa é a questão
dos direitos das mulheres. Você já se perguntou o porque temos o debate tão necessário
acerca do direito das mulheres? Por que nos últimos anos as redes sociais se preocupam
tanto com esse tema? As mulheres são realmente livres para tudo? Ainda existem
resquícios da sociedade patriarcal e machista quando se analisa o direito das mulheres?
Pense em alguma situação em que você enxergou uma mulher com menos
direitos que outras pessoas. Ou ainda que uma mulher passou por uma situação
extremamente vexatória, e que ninguém se manifestou a respeito.
Fala-se muito em “machismo estrutural”, mas você já leu sobre o tema? O
machismo estrutural advém da nossa sociedade patriarcal, e significa que ainda temos
pensamentos essencialmente machistas, que nem sempre percebemos como tal. A
sociedade livre e justa, mencionada no texto constitucional, ainda não conseguiu atingir
a liberdade plena para as mulheres. A mulher ainda se vê em situações em que deve
escolher entre o trabalho e a família; a obrigação de ter filhos; a obrigação em casar e
constituir família; a mulher deve ser “honesta’; a mulher não pode falar abertamente
sobre sexualidade; dentre outros “tabus’ que ainda vemos na sociedade.
Pesquise sobre o tema do feminismo, e o tema do feminismo negro e transexual.
A liberdade é um direito reconhecido, mas é amplamente aplicada e assegurada? Se a
liberdade de fato existe, porque as mulheres ainda estão em situações de medo, receio
de mostrar a sua voz, diminuição de seus direitos?
Ainda sobre a sociedade livre e justa; pense nos casos da comunidade LGBTQ+.
Se a liberdade de fato existe, porque ainda existem casos de casais homoafetivos e
pessoas transexuais que são violentados nas ruas do país? Por que é tão difícil que a
sociedade reconheça os direitos dessa comunidade? Apenas em 2010 o Supremo
Tribunal Federal julgou o caso que reconheceu a união civil dos casais homoafetivos.
Por que houve essa demora? E por que ainda não existe lei que reconheça
expressamente esse direito?
São muitas perguntas e poucas respostas.
A nossa sociedade brasileira ainda não possui a liberdade plena. Temos muito a
buscar e a lutar.
Antes de passar para o próximo tema, pense em alguma liberdade que você acha
que seria justo, mas que ainda não é reconhecida.
Por fim, a sociedade solidária. A solidariedade advém da análise das dimensões
ou gerações de direitos fundamentais, tema que iremos analisar nos próximos tópicos.
Ocorre que, a solidariedade também é um objetivo a ser buscado. Sendo objetivo
previsto no texto constitucional, há que se mencionar que a solidariedade também é
utilizada como fundamento para diversos casos de extrema relevância para nosso
ordenamento jurídico e sociedade. O caso das células tronco e a possibilidade de doação
de material genético para casais inférteis ou ainda para a pesquisa foi julgado com base
nesse valor do nosso texto constitucional.
A solidariedade também já foi utilizada para fundamentar decisões que tratam de
responsabilidade civil. Vejamos abaixo a decisão emblemática:

O art. 7º da Lei 6.194/1974, na redação que lhe deu o art. 1º da Lei


8.441/1992, ao ampliar as hipóteses de responsabilidade civil objetiva,
em tema de acidentes de trânsito nas vias terrestres, causados por
veículo automotor, não parece transgredir os princípios constitucionais
que vedam a prática de confisco, protegem o direito de propriedade e
asseguram o livre exercício da atividade econômica. A Constituição da
República, ao fixar as diretrizes que regem a atividade econômica e que
tutelam o direito de propriedade, proclama, como valores fundamentais a
serem respeitados, a supremacia do interesse público, os ditames da
justiça social, a redução das desigualdades sociais, dando especial
ênfase, dentro dessa perspectiva, ao princípio da solidariedade, cuja
realização parece haver sido implementada pelo Congresso Nacional ao
editar o art. 1º da Lei 8.441/1992.2

No exercício de sua competência privativa, a União editou a Lei


13.45/2017 – Lei de Migração – a qual afirma entre os princípios e
diretrizes da política migratória brasileira, a universalidade,
indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos, a acolhida
humanitária, o fortalecimento da integração econômica, política, social e
cultural dos povos da América Latina, mediante constituição de espaços
de cidadania e de livre circulação de pessoas e a cooperação
internacional com Estados de origem, de trânsito e de destino de
movimentos migratórios, a fim de garantir efetiva proteção aos direitos
humanos do migrante. O art. 5º da Lei nº 9.474/1997 (Lei dos refugiados),
por sua vez, é categórico ao assegurar aos refugiados os mesmos
direitos e deveres do estrangeiro no Brasil. O custeio das políticas
públicas foi distribuído entre os entes federados pelo constituinte,
inexistindo distinção acerca da competência para assegurar tais direitos
em relação a migrantes e refugiados. Na hipótese dos autos, além de ter

2
BRASIL. A constituição e o Supremo. ADI 1.003 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 1º-8-1994, P, DJ de 10-
9-1999 Disponível em <ttp://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04.
Abr.2021
estabelecido políticas públicas dentro de sua esfera de competência, a
União adotou medidas para o cumprimento de seus deveres
constitucionais e internacionais de proteção aos refugiados e imigrantes,
inclusive mediante repasse financeiro ao Estado Autor. 3

O fluxo da imigração massiva é evento extraordinário, imprevisível,


excepcional, e seu impacto no Estado-autor decorre do fato da posição
geográfica de Roraima se mostrar atraente a facilitar a entrada dos
imigrantes ao Brasil. O gasto extraordinário não resultou de qualquer fato
imputável ao Estado de Roraima, mas sim da necessária – decorrência
do cumprimento de tratados internacionais – abertura da fronteira, pelo
Estado brasileiro, para recepcionar refugiados venezuelanos. O
federalismo brasileiro é de base cooperativa, o que encontra fundamento
constitucional. Nas matérias de que trata o art. 23 da CF o cooperativismo
é obrigatório, e não facultativo. O princípio da solidariedade é
constitucional e aplica-se nas relações entre os entes federados. (...) Há
precedentes internacionais no sentido de o Estado Federal arcar com
parcela dos gastos com os refugiados. Necessária a contribuição
financeira da União nos gastos do Estado de Roraima ante o incremento
com os serviços públicos prestados a refugiados. Tal se justifica pelos
princípios da razoabilidade, da proporcionalidade e da solidariedade, e
encontra fundamento na Constituição da República desde seu preâmbulo
e no conceito de “união indissolúvel”, bem como no disposto no art. 3º, I
e III, e, especificamente, no obrigatório auxílio que decorre do federalismo
cooperativo e competências de que trata o art. 23, além dos arts. 30, 144,
196, 205, e seus incisos, todos da Constituição Federal.
[ACO 3.121, rel. min. Rosa Weber, j. 13-10-2020, P, DJE de 27-10-2020.]4

Além de revelar o fim socialmente regenerador do cumprimento da pena,


o art. 1º da LEP alberga um critério de interpretação das suas demais
disposições. É falar: a Lei 7.210/1984 institui a lógica da prevalência de
mecanismos de reinclusão social (e não de exclusão do sujeito apenado)
no exame dos direitos e deveres dos sentenciados. Isto para favorecer,
sempre que possível, a redução das distâncias entre a população
intramuros penitenciários e a comunidade extramuros. Tanto é assim que
o diploma normativo em causa assim dispõe: "O Estado deverá recorrer
à cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena e da
medida de segurança" (Art. 4º), fazendo, ainda, do Conselho da
Comunidade um órgão da execução penal brasileira (art. 61). Essa
particular forma de parametrar a interpretação da lei (no caso, a LEP) é a
que mais se aproxima da CF, que faz da cidadania e da dignidade da

3
BRASIL. A constituição e o Supremo. [ACO 3.113, rel. p/ acórdão: Alexandre de Moraes, j.
13-10-2020, P, DJE de 16-12-2020] Disponível em
http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04. Abr.2021
4
BRASIL. A constituição e o Supremo. [ACO 3.121, rel. min. Rosa Weber, j. 13-10-2020, P,
DJE de 27-10-2020.] Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar
Acesso em 04. Abr.2021
pessoa humana dois de seus fundamentos (incisos II e III do art. 1º). Mais:
Constituição que tem por objetivos fundamentais erradicar a
marginalização e construir uma sociedade livre, justa e solidária (incisos
I e III do art. 3º). Tudo na perspectiva da construção do tipo ideal de
sociedade que o preâmbulo de nossa Constituição caracteriza como
"fraterna". O livramento condicional, para maior respeito à finalidade
reeducativa da pena, constitui a última etapa da execução penal,
timbrada, esta, pela ideia-força da liberdade responsável do condenado,
de modo a lhe permitir melhores condições de reinserção social.5

O sistema público de previdência social é fundamentado no princípio da


solidariedade (art. 3º, I, da Constituição do Brasil/1988), contribuindo os
ativos para financiar os benefícios pagos aos inativos. Se todos, inclusive
inativos e pensionistas, estão sujeitos ao pagamento das contribuições,
bem como aos aumentos de suas alíquotas, seria flagrante a afronta ao
princípio da isonomia se o legislador distinguisse, entre os beneficiários,
alguns mais e outros menos privilegiados, eis que todos contribuem,
conforme as mesmas regras, para financiar o sistema. Se as alterações
na legislação sobre custeio atingem a todos, indiscriminadamente, já que
as contribuições previdenciárias têm natureza tributária, não há que se
estabelecer discriminação entre os beneficiários, sob pena de violação
do princípio constitucional da isonomia.6

2.2 Garantia do Desenvolvimento Nacional

O Estado possui a obrigação de garantir o desenvolvimento nacional, seja por


meio de políticas públicas, por meio da justiça social, da criação de novas leis ou ainda
por políticas de incentivo aos pequenos empreendedores, com isenções fiscais ou
diminuição da carga tributária.
Um exemplo do fomento dado pelo Estado às micro empresas e empresas de
pequeno porte é o tratamento diferenciado conferido pela Lei Complementar 123. A
referida lei trata do sistema do SIMPLES NACIONAL, e confere tratamento justo aos

5
BRASIL. A constituição e o Supremo. [HC 94.163, rel. min. Ayres Britto, j. 2-12-2008, 1ª T, DJE de 23-
10-2009.] Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04.
Abr.2021

6
BRASIL. A constituição e o Supremo. [RE 450.855 AgR, rel. min. Eros Grau, j. 23-8-2005, 1ª T, DJ de 9-
12-2005.] Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04.
Abr.2021
micros e pequenos empresários, com o pagamento de tributos de forma simplificada, em
uma única guia.
O programa do Bolsa Família é um programa de transferência de renda no qual
as famílias de baixa renda recebem valores do Estado mensalmente para que tenham
como adquirir o mínimo possível para sua manutenção e sustento. Logicamente que as
famílias contempladas com o programa de transferência de renda necessitam comprovar
alguns requisitos, como a frequência às aulas dos filhos em idade escolar, renda mínima
mensal, dentre outros. Com essa transferência de valores a essas famílias consideradas
pobres automaticamente haverá maior fluxo na economia, pois as famílias irão comprar
bens e serviços no mercado regional.
O programa de incentivo ao emprego para o jovem, além de sua capacitação para
o trabalho também é meio e garantir o desenvolvimento nacional, eis que havendo
capacitação, ter-se-á mão de obra capacitada e salários melhores.
Veja que o desenvolvimento nacional está presente em diversas outras políticas
públicas que visam garantir o meio ambiente ecologicamente equilibrado, ou ainda o
acesso às universidade públicas, por meio de cotas, ou às universidades privadas, por
meio de bolsas de estudo.
Segue abaixo algumas decisões do Supremo Tribunal Federal que se utilizaram
desse objetivo da República Federativa do Brasil para julgar casos relevantes para a
sociedade:
A questão do desenvolvimento nacional (CF, art. 3º, II) e a necessidade
de preservação da integridade do meio ambiente (CF, art. 225): O
princípio do desenvolvimento sustentável como fator de obtenção do justo
equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia. O princípio
do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter
eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em
compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e
representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da
economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse
postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores
constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância
não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais
significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio
ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas,
a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações.7

Ao poder público de todas as dimensões federativas o que incumbe não


é subestimar, e muito menos hostilizar, comunidades indígenas
brasileiras, mas tirar proveito delas para diversificar o potencial
econômico-cultural dos seus territórios (dos entes federativos). O
desenvolvimento que se fizer sem ou contra os índios, ali onde eles se
encontrarem instalados por modo tradicional, à data da Constituição de
1988, desrespeita o objetivo fundamental do inciso II do art. 3º da CF,
assecuratório de um tipo de "desenvolvimento nacional" tão
ecologicamente equilibrado quanto humanizado e culturalmente
diversificado, de modo a incorporar a realidade indígena.8

2.3 Erradicação da pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais


e regionais

Outro objetivo previsto no corpo da Constituição Federal de 1988 é a erradicação


da pobreza e a marginalização, além de reduzir as desigualdades sociais e regionais.
Este objetivo é de extrema importância para toda a sociedade, pois ao se diminuir as
diferenças sociais, fomentar a educação e promover meios para que as populações mais
carentes tenham acesso à alimentação, saúde, educação, lazer, cultura e moradia,
consequentemente a marginalização, a violência, a morte de crianças e jovens em
decorrência de violência e abuso de substâncias tóxicas irá diminuir.
É responsabilidade do Estado promover meios para que a pobreza seja
erradicada do país. Tem-se o fundo de combate à pobreza instituído pela Emenda
Constitucional N.31 de 2000. A referida emenda constitucional foi prorrogada por prazo
indeterminado por meio da EC 67/2010. Abaixo, colaciona-se o texto da EC 31/2000 que
traz os meios de custeio do fundo de combate a pobreza:

EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 31, DE 14 DE DEZEMBRO DE 2000-

7
BRASIL. A constituição e o Supremo. [ADI 3.540 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 1º-9-2005, P, DJ de 3-
2-2006.] Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04.
Abr.2021
8
BRASIL. A constituição e o Supremo. [Pet 3.388, rel. min. Ayres Britto, j. 19-3-2009, P, DJE de 1º-7-
2010.]
Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04. Abr.2021
Altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, introduzindo
artigos que criam o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza.

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos


do § 3º do art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte emenda
ao texto constitucional:

Art. 1º A Constituição Federal, no Ato das Disposições Constitucionais


Transitórias, é acrescida dos seguintes artigos:

Art. 79. É instituído, para vigorar até o ano de 2010, no âmbito do Poder
Executivo Federal, o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, a ser
regulado por lei complementar com o objetivo de viabilizar a todos os
brasileiros acesso a níveis dignos de subsistência, cujos recursos serão
aplicados em ações suplementares de nutrição, habitação, educação,
saúde, reforço de renda familiar e outros programas de relevante
interesse social voltados para melhoria da qualidade de vida.

Parágrafo único. O Fundo previsto neste artigo terá Conselho Consultivo


e de Acompanhamento que conte com a participação de representantes
da sociedade civil, nos termos da lei.

Art. 80. Compõem o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza:

I – a parcela do produto da arrecadação correspondente a um adicional


de oito centésimos por cento, aplicável de 18 de junho de 2000 a 17 de
junho de 2002, na alíquota da contribuição social de que trata o art. 75 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias;

II – a parcela do produto da arrecadação correspondente a um adicional


de cinco pontos percentuais na alíquota do Imposto sobre Produtos
Industrializados – IPI, ou do imposto que vier a substituí-lo, incidente
sobre produtos supérfluos e aplicável até a extinção do Fundo;

III – o produto da arrecadação do imposto de que trata o art. 153, inciso


VII, da Constituição;

IV – dotações orçamentárias;

V– doações, de qualquer natureza, de pessoas físicas ou jurídicas do


País ou do exterior;

VI – outras receitas, a serem definidas na regulamentação do referido


Fundo.

§ 1º Aos recursos integrantes do Fundo de que trata este artigo não se


aplica o disposto nos arts. 159 e 167, inciso IV, da Constituição, assim
como qualquer desvinculação de recursos orçamentários.

§ 2º A arrecadação decorrente do disposto no inciso I deste artigo, no


período compreendido entre 18 de junho de 2000 e o início da vigência
da lei complementar a que se refere a art. 79, será integralmente
repassada ao Fundo, preservado o seu valor real, em títulos públicos
federais, progressivamente resgatáveis após 18 de junho de 2002, na
forma da lei.

Art. 81. É instituído Fundo constituído pelos recursos recebidos pela


União em decorrência da desestatização de sociedades de economia
mista ou empresas públicas por ela controladas, direta ou indiretamente,
quando a operação envolver a alienação do respectivo controle acionário
a pessoa ou entidade não integrante da Administração Pública, ou de
participação societária remanescente após a alienação, cujos
rendimentos, gerados a partir de 18 de junho de 2002, reverterão ao
Fundo de Combate e Erradicação de Pobreza.

§ 1º Caso o montante anual previsto nos rendimentos transferidos ao


Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, na forma deste artigo, não
alcance o valor de quatro bilhões de reais. far-se-á complementação na
forma do art. 80, inciso IV, do Ato das disposições Constitucionais
Transitórias.

§ 2º Sem prejuízo do disposto no § 1º, o Poder Executivo poderá destinar


ao Fundo a que se refere este artigo outras receitas decorrentes da
alienação de bens da União.

§ 3º A constituição do Fundo a que se refere o caput, a transferência de


recursos ao Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza e as demais
disposições referentes ao § 1º deste artigo serão disciplinadas em lei, não
se aplicando o disposto no art. 165, § 9º, inciso II, da Constituição.

Art. 82. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem instituir


Fundos de Combate à Pobreza, com os recursos de que trata este artigo
e outros que vierem a destinar, devendo os referidos Fundos ser geridos
por entidades que contem com a participação da sociedade civil.

§ 1º Para o financiamento dos Fundos Estaduais e Distrital, poderá ser


criado adicional de até dois pontos percentuais na alíquota do Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, ou do imposto que
vier a substituí-lo, sobre os produtos e serviços supérfluos, não se
aplicando, sobre este adicional, o disposto no art. 158, inciso IV, da
Constituição.

§ 2º Para o financiamento dos Fundos Municipais, poderá ser criado


adicional de até meio ponto percentual na alíquota do Imposto sobre
serviços ou do imposto que vier a substituí-lo, sobre serviços supérfluos.

Art. 83. Lei federal definirá os produtos e serviços supérfluos a que se


referem os arts. 80, inciso II, e 82, §§ 1º e 2º.
Art. 2º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua
publicação.9

No que concerne ao objetivo de erradicar a pobreza e diminuir as desigualdades


sociais e regionais, temos julgados do Supremo Tribunal Federal que se utilizaram desse
valor para fundamentar algumas decisões importantes para a nossa sociedade. Veja
abaixo algumas dessas decisões:

No exercício de sua competência privativa, a União editou a Lei


13.45/2017 – Lei de Migração – a qual afirma entre os princípios e
diretrizes da política migratória brasileira, a universalidade,
indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos, a acolhida
humanitária, o fortalecimento da integração econômica, política, social e
cultural dos povos da América Latina, mediante constituição de espaços
de cidadania e de livre circulação de pessoas e a cooperação
internacional com Estados de origem, de trânsito e de destino de
movimentos migratórios, a fim de garantir efetiva proteção aos direitos
humanos do migrante. O art. 5º da Lei nº 9.474/1997 (Lei dos refugiados),
por sua vez, é categórico ao assegurar aos refugiados os mesmos
direitos e deveres do estrangeiro no Brasil. O custeio das políticas
públicas foi distribuído entre os entes federados pelo constituinte,
inexistindo distinção acerca da competência para assegurar tais direitos
em relação a migrantes e refugiados. Na hipótese dos autos, além de ter
estabelecido políticas públicas dentro de sua esfera de competência, a
União adotou medidas para o cumprimento de seus deveres
constitucionais e internacionais de proteção aos refugiados e imigrantes,
inclusive mediante repasse financeiro ao Estado Autor.10

O fluxo da imigração massiva é evento extraordinário, imprevisível,


excepcional, e seu impacto no Estado-autor decorre do fato da posição
geográfica de Roraima se mostrar atraente a facilitar a entrada dos
imigrantes ao Brasil. O gasto extraordinário não resultou de qualquer fato
imputável ao Estado de Roraima, mas sim da necessária – decorrência
do cumprimento de tratados internacionais – abertura da fronteira, pelo
Estado brasileiro, para recepcionar refugiados venezuelanos. O
federalismo brasileiro é de base cooperativa, o que encontra fundamento
constitucional. Nas matérias de que trata o art. 23 da CF o cooperativismo

9
BRASIL. EMENDA CONSTITUCIONAL N.31 DE 2000. SITE DO PLANALTO. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc31.htm Acesso em 04.abr.2021
10
BRASIL. A constituição e o Supremo. [[ACO 3.113, rel. p/ acórdão: Alexandre de Moraes, j. 13-10-2020,
P, DJE de 16-12-2020] Disponível em << http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar
Acesso em 04. Abr.2021
é obrigatório, e não facultativo. O princípio da solidariedade é
constitucional e aplica-se nas relações entre os entes federados. (...) Há
precedentes internacionais no sentido de o Estado Federal arcar com
parcela dos gastos com os refugiados. Necessária a contribuição
financeira da União nos gastos do Estado de Roraima ante o incremento
com os serviços públicos prestados a refugiados. Tal se justifica pelos
princípios da razoabilidade, da proporcionalidade e da solidariedade, e
encontra fundamento na Constituição da República desde seu preâmbulo
e no conceito de “união indissolúvel”, bem como no disposto no art. 3º, I
e III, e, especificamente, no obrigatório auxílio que decorre do federalismo
cooperativo e competências de que trata o art. 23, além dos arts. 30, 144,
196, 205, e seus incisos, todos da Constituição Federal.11

Decreto 420/1992. Lei 8.393/1991. IPI. Alíquota regionalizada incidente


sobre o açúcar. Alegada ofensa ao disposto nos arts. 150, I, II e § 3º, e
151, I, da Constituição do Brasil. Constitucionalidade. O Decreto
420/1992 estabeleceu alíquotas diferenciadas – incentivo fiscal – visando
dar concreção ao preceito veiculado pelo art. 3º da Constituição, ao
objetivo da redução das desigualdades regionais e de desenvolvimento
nacional. Autoriza-o o art. 151, I, da Constituição.12

2.4 Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade
e quaisquer outras formas de discriminação

A promoção do bem de todas as pessoas, independente de suas particularidades,


como meio de se combater a discriminação, o preconceito e o racismo, é um dos
objetivos de ampla aplicação da República Federativa do Brasil. Utilizando-se desse
postulado o Estado promove políticas públicas e privadas, ações de incentivo a inclusão
social, combate ao preconceito, promoção de informação, políticas inclusivas que
promovem a inserção de grupos que historicamente foram marginalizados.

11
BRASIL. A constituição e o Supremo. [ACO 3.121, rel. min. Rosa Weber, j. 13-10-2020, P, DJE de 27-
10-2020.]
Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04. Abr.2021

12
BRASIL. A constituição e o Supremo. [AI 630.997 AgR, rel. min. Eros Grau, j. 24-4-2007, 2ª T, DJ de 18-
5-2007.] Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04.
Abr.2021
Pode-se perceber que com esse objetivo o Estado busca a promover a justiça
para os grupos de pessoas que viveram durante toda a história brasileira sofrendo com
preconceitos de todos os tipos.
O reconhecimento e a representatividade dos negros, das mulheres, da
comunidade LGBTQ+ é meio de se promover o bem desses grupos e minorias sociais
que necessitam de amparo estatal. A decisão que reconhece o casamento homoafetivo
decorreu da aplicação desse valor às relações sociais.
Vejamos abaixo algumas decisões que se utilizaram desse objetivo previsto no
art.3º da CF/88:
Não se pode permitir que a lei faça uso de expressões pejorativas e
discriminatórias, ante o reconhecimento do direito à liberdade de
orientação sexual como liberdade existencial do indivíduo. Manifestação
inadmissível de intolerância que atinge grupos tradicionalmente
marginalizados.13

Proibição de discriminação das pessoas em razão do sexo, seja no plano


da dicotomia homem/mulher (gênero), seja no plano da orientação sexual
de cada qual deles. A proibição do preconceito como capítulo do
constitucionalismo fraternal. Homenagem ao pluralismo como valor
sociopolítico-cultural. Liberdade para dispor da própria sexualidade,
inserida na categoria dos direitos fundamentais do indivíduo, expressão
que é da autonomia de vontade. Direito à intimidade e à vida privada.
Cláusula pétrea. O sexo das pessoas, salvo disposição constitucional
expressa ou implícita em sentido contrário, não se presta como fator de
desigualação jurídica. Proibição de preconceito, à luz do inciso IV do art.
3º da CF, por colidir frontalmente com o objetivo constitucional de
"promover o bem de todos". Silêncio normativo da Carta Magna a respeito
do concreto uso do sexo dos indivíduos como saque da kelseniana
"norma geral negativa", segundo a qual "o que não estiver juridicamente
proibido, ou obrigado, está juridicamente permitido". Reconhecimento do
direito à preferência sexual como direta emanação do princípio da
"dignidade da pessoa humana": direito à autoestima no mais elevado
ponto da consciência do indivíduo. Direito à busca da felicidade. Salto
normativo da proibição do preconceito para a proclamação do direito à
liberdade sexual. O concreto uso da sexualidade faz parte da autonomia
da vontade das pessoas naturais. Empírico uso da sexualidade nos
planos da intimidade e da privacidade constitucionalmente tuteladas.
Autonomia da vontade. Cláusula pétrea. (...) Ante a possibilidade de
interpretação em sentido preconceituoso ou discriminatório do art. 1.723

13
BRASIL. A constituição e o Supremo. [ADPF 291, rel. min. Roberto Barroso, j. 28-10-2015, P, DJE de
11-5-2016.]Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04.
Abr.2021
do CC/2002, não resolúvel à luz dele próprio, faz-se necessária a
utilização da técnica de "interpretação conforme à Constituição". Isso
para excluir do dispositivo em causa qualquer significado que impeça o
reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do
mesmo sexo como família. Reconhecimento que é de ser feito segundo
as mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável
heteroafetiva.14

O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu


prenome e de sua classificação de gênero no registro civil, não se
exigindo, para tanto, nada além da manifestação de vontade do indivíduo,
o qual poderá exercer tal faculdade tanto pela via judicial como
diretamente pela via administrativa. Essa alteração deve ser averbada à
margem do assento de nascimento, vedada a inclusão do termo
“transgênero”. Nas certidões do registro não constará nenhuma
observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de certidão de
inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por
determinação judicial. (...) Qualquer tratamento jurídico discriminatório
sem justificativa constitucional razoável e proporcional importa em
limitação à liberdade do indivíduo e ao reconhecimento de seus direitos
como ser humano e como cidadão. 15

14
BRASIL. A constituição e o Supremo. [ADI 4.277 e ADPF 132, rel. min. Ayres Britto, j. 5-5-2011, P, DJE
de 14-10-2011.] Disponível em << http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar >>
Acesso em 04. Abr.2021

15
BRASIL. A constituição e o Supremo. [RE 670.422, rel. min. Dias Toffoli, j. 15-8-2018, P, Informativo
911, RG, tema 761.] Disponível em << http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar >>
Acesso em 04. Abr.2021
3 DAS DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

A doutrina divide o estudo dos direitos fundamentais em dimensões ou gerações.


Essa divisão didática serve para demonstrar quais direitos foram alcançados em primeiro
lugar, para depois analisar os demais direitos conquistados.
Pedro Lenza nos ensina sobre a terminologia de “dimensões” dos direitos
fundamentais:
Dentre vários critérios, costuma-se classificar os direitos fundamentais
em gerações de direitos, ou, como prefere a doutrina mais atual,
“dimensões” dos direitos fundamentais, por entender que uma nova
“dimensão” não abandonaria as conquistas da “dimensão” anterior e,
assim, esta expressão se mostraria mais adequada no sentido de
proibição de evolução reacionária.16

Verifica-se que o estudo das dimensões dos direitos fundamentais se identifica


com os preceitos da Revolução Francesa, que pregava os direitos de Liberdade,
Igualdade e Fraternidade.
Vejamos a primeira dimensão dos direitos fundamentais.
A primeira geração de direitos fundamentais é marcada pela passagem do Estado
absolutista para um estado de direito ou estado constitucional. Dessa forma, o Estado
passa a não se intrometer na vida pessoas de seus cidadãos. Corresponde a uma visão
de Estado mínimo, liberal, de abstenção, que não se mete na vida das pessoas.
O reconhecimento a liberdades individuais passa a ser constatado nas primeiras
constituições escritas, “e podem ser caracterizados como frutos do pensamento liberal-
burguês do século XVIII”17. Com o passar do tempo vemos a Constituição Mexicana e a
de Weimar, que inovam ao reconhecer direitos relacionados à liberdade individual, e
assim novos direitos surgem. Esses novos direitos são caracterizados por obrigações
prestacionais do Estado. Na primeira geração as obrigações de fazer são muito poucas.
Os direitos reconhecidos nesses documentos estão relacionados às liberdades
públicas e aos direitos políticos que traduzem o valor liberdade. O titular dos direitos às

16
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo, Saraiva: 2021. p 1171
17
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo, Saraiva: 2021. p.1171
liberdades é a pessoa, os indivíduos, que podem exigir que o Estado cumpra o seu dever,
que é garantir esses direitos. “São faculdades ou atributos da pessoa, são direitos de
resistência ou de oposição perante o Estado”.18
Na segunda geração de direitos fundamentais tem-se a obrigação do Estado em
fazer, e não apenas em não atrapalhar o cidadão. É chamada de Estado providência, e
assim o Estado tem o dever de fornecer educação, assistência, saúde, moradia,
alimentação, dentre outros direitos básicos. A segunda geração de direitos é um marco
em várias discussões relacionadas aos direitos humanos. Dessa forma, tem-se o foco
na igualdade material, ou seja, meios que o Estado possui para efetivar o direito à
igualdade formal.
De nada adianta possuir a previsão em lei acerca da igualdade quando na prática,
no dia-a-dia, não existem meios eficazes de se garantir a igualdade real entre as
pessoas, daí falar-se em políticas públicas e privadas, em ações afirmativas, em
campanhas que conscientizem a população e de leis que buscam beneficiar empresas
que garantem acesso a certos grupos a suas vagas de trabalho.
A Revolução Industrial Européia, a partir do séc. XIX, inspira os direitos humanos
da 2º dimensão. As péssimas situações de trabalho durante a revolução industrial, os
salários baixos e a falta de direitos dos trabalhadores fizeram eclodir diversos
movimentos sociais que buscavam o reconhecimento de direitos trabalhistas. Os
movimentos mais famosos foram o cartista na Inglaterra e a Comuna de Paris .
Outro fato histórico é que no início do séc. XX ocorreu a Primeira Grande Guerra
e o reconhecimento e fixação de direitos sociais. “Essa perspectiva de evidenciação dos
direitos sociais, culturais e econômicos, bem como dos direitos coletivos, ou de
coletividade, correspondendo aos direitos de igualdade (substancial, real e material, e
não meramente formal), mostra-se marcante em alguns documentos”.19
“A Constituição do México, de 1917; a Constituição de Weimar, de 1919, na
Alemanha, conhecida como a Constituição da primeira república alemã; o Tratado de

18
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo, Saraiva: 2021. p.1171
19
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo, Saraiva: 2021. p. 1172
Versalhes, 1919 (OIT); no Brasil, a Constituição de 1934 (lembrando que nos textos
anteriores também havia alguma previsão).”20
Na terceira dimensão dos direitos fundamentais tem-se a titularidade coletiva ou
difusa dos direitos. Ou seja, estamos tratando do direito da coletividade, podendo ser um
número já preestabelecido de pessoas ou não. Por exemplo, o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado; Preservação do patrimônio público como um todo, são
direitos difusos.
Com a evolução da sociedade, outros problemas sociais surgem, como a
preservação do meio ambiente, os direitos dos consumidores, a preservação histórica
de patrimônios públicos e privados, dentre outros. Assim, o ser humano foi inserido em
uma coletividade, passando a ter direitos de solidariedade ou fraternidade. Os direitos
fundamentais de terceira dimensão também são chamados de direitos transindividuais,
pois ultrapassam a noção de um único ser humano, a necessidade de um único sujeito,
e passa a ter importância para uma coletividade de pessoas.
Lenza, citando Paulo Bonavides, descreve alguns dos direitos protegidos nessa
dimensão:

● direito ao desenvolvimento;
● direito à paz;
● direito ao meio ambiente;
● direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade;
● direito de comunicação.21

Essas três dimensões dos direitos fundamentais são unanimidade na doutrina.


Ocorre que, com o decorrer das pesquisas científicas, tem-se também os direitos
fundamentais de quarta dimensão, quinta dimensão, e assim por diante. Os direitos de
quarta dimensão estão relacionados à democracia, enquanto os direitos de quinta
dimensão estariam relacionados à paz.

20
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo, Saraiva: 2021. p. 1172
21
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo, Saraiva: 2021. p.1173
4 DA CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS.

Com relação à classificação dos direitos fundamentais, existe a diferença quanto


ao seu conteúdo e a formalidade; a divisão quanto a classificação formal e a divisão
quanto às dimensões de direitos.
Quanto ao conteúdo, os direitos fundamentais se dividem em meramente formais
e direitos fundamentais materiais. Os direitos fundamentais meramente formais são
aqueles descritos no texto constitucional. Para que sejam considerados direitos
fundamentais meramente formais, existe a necessidade de sua previsão no corpo da
constituição federal. Já os direitos fundamentais materiais possuem núcleo essencial
vinculado ao princípio da dignidade da pessoa humana.
Já na divisão quanto a classificação formal da Constituição Federal de 1988, tem-
se a divisão entre direitos individuais, previstos no art.5º, os direitos coletivos ( art.5º);
direitos sociais (no art.5º, art. 6º, art. 193 e seguintes); os direitos à nacionalidade (art.12)
e os direitos políticos (arts. 14 a 17).
O estudo dos direitos individuais decorre inicialmente da análise do art. 5º e
posteriormente de outros direitos e garantias previstos no texto constitucional. Os direitos
e garantias individuais não são apenas aqueles previstos no art. 5º da Constituição
Federal, podendo haver o reconhecimento de novos direitos e novas garantias
individuais a partir de debate doutrinário e jurisprudencial. Lenza faz ressalva em sua
obra sobre o tema:

como manifestou o STF, corroborando a doutrina mais atualizada, que os


direitos e deveres individuais e coletivos não se restringem ao art. 5.o da
CF/88, podendo ser encontrados ao longo do texto constitucional,
expressos ou decorrentes do regime e dos princípios adotados pela
Constituição, ou, ainda, decorrentes dos tratados e convenções
internacionais de que o Brasil seja parte.22

Os direitos coletivos e direitos sociais são aqueles que ultrapassam a esfera de


um único ser humano e adentra em interesses da coletividade.

22
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva, São Paulo:2021. p.1170
Outra classificação dos direitos fundamentais diz respeito aos direitos de primeira,
segunda e terceira geração, conforme já estudamos no capítulo anterior.
SAIBA MAIS

Para saber mais sobre os direitos fundamentais e direitos da personalidade em


relação às discussões mais polemicas da atualidade, como a clonagem humana, o uso
das técnicas de reprodução humana assistida, novas tecnologias, sistema carcerário
brasileiro, , leia a obra que trata do tema, disponível gratuitamente pelo link:

GONÇALVES, Daniele Menengotti Gonçalves. Et al. Temas Atuais de Direitos da Personalidade. Humanita
Vivens. Maringá: 2015. Disponível em:
https://humanitasvivens.com.br/livro/f6b84f419dbc7c5.pdf Acesso em 15.abr.2021

#SAIBA MAIS#

REFLITA

“Os direitos fundamentais não podem ser utilizados como verdadeiro escudo protetivo
para possibilitar a prática de atividades ilícitas, tampouco como argumento para
afastamento ou diminuição da responsabilidade civil ou penal por atos criminosos, sob
pena de total consagração ao desrespeito a um verdadeiro estado democrático de direito.
Os direitos e garantias fundamentais consagrados pela CR, portanto, como já explanado,
não são ilimitados, uma vez que encontram limites nos demais direitos igualmente
consagrados pela Carta Magna (princípio da relatividade ou convivência das
liberdades públicas).”

Fonte: Padilha, Rodrigo. Direito Constitucional. – 6. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2020. p. 245.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro estudante, chegamos ao fim da nossa terceira unidade. Nesta apostila


aprendemos sobre os objetivos previstos no art.3º da Constituição Federal de 1988,
analisamos cada objetivo e algumas formas de aplicações no dia-a-dia. Vimos também
que no corpo da constituição federal existe a previsão de valores a serem seguidos pelo
Estado.
Logo após, analisamos as dimensões dos direitos da personalidade, desde a
primeira dimensão, que trata dos direitos relacionados à liberdade, a segunda dimensão,
que trata dos direitos de igualdade, como os direitos individuais; e a terceira dimensão,
que por sua vez prevê os direitos relacionados à fraternidade ou solidariedade.
O filme indicado ao final da apostila, o Germinal, é interessante pois demonstra a
luta pelos direitos dos trabalhadores, a necessidade de leis protecionistas contra abusos
de grandes corporações, que é exatamente o viés de discussão dos direitos de segunda
dimensão.
Logo após, estudamos sobre a classificação dos direitos fundamentais, e como
estão divididos na Constituição Federal. Lembrando que os direitos fundamentais não
precisam, necessariamente, possuir previsão no artigo 5º do texto constitucional,
podendo ser encontrado por todo corpo de nossa carta magna.
LEITURA COMPLEMENTAR

Sobre o direito à liberdade de expressão e os direitos da personalidade, Gilmar


Mendes realiza importante reflexão sobre o tema:

https://www.conjur.com.br/2019-set-16/direito-civil-atual-liberdade-expressao-direitos-
personalidade
LIVRO

• Título. Direito Constitucional


• Autor. Rodrigo Padilha
• Editora. Método
• Sinopse .
“O autor desenvolve, de modo didático e inteligível, toda a teoria da Constituição,
acrescida de classificações, conceitos, objetivos e funções precípuas. Desenha, ainda,
toda a matéria relativa aos direitos fundamentais e à organização do Estado. Trata, com
minúcias, da hermenêutica constitucional e dos modernos métodos de interpretação.
Alinhava, com cores marcantes, o controle da constitucionalidade das leis, tema hoje
fundamental ao estudo do Direito Constitucional. Não se pode deixar de consignar que
o autor, com farto exercício do magistério nas mais diversas entidades de ensino,
apresenta a obra com a objetividade e a didática próprias do magister, exigidas dos
leitores em geral, seja qual for o padrão em que se situarem, e isso porque a preciosidade
do tempo das pessoas não mais guarda compatibilidade com teorizações excessivas e
inócuas prolixidades. Portanto, pode-se dizer, sem temor de errônea, que a obra é de
leitura agradável e eficaz – e demais ingredientes não precisam os leitores.” José dos
Santos Carvalho Filho Procurador de Justiça do Rio de Janeiro (aposentado) Professor
de Direito Administrativo e Constitucional “A obra, dessa forma, legitima-se
principalmente pelas ricas experiências hauridas em sala de aula, tanto no convívio com
seus alunos bacharéis como com aqueles que ainda ensaiam as primeiras letras no vasto
mundo do Direito. (...) Percebe-se no desenvolvimento dos capítulos e na leitura de seus
parágrafos um encadeamento lógico das matérias, circunstância que facilita o
entendimento ao tempo em que faculta ao estudioso consultar ao pé da página doutrina
e jurisprudência contemporâneas sobre o tema.” Marco Aurélio Bezerra de Melo
Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
FILME/VÍDEO

• Título. GERMINAL
• Ano. 1993
• Sinopse.
“Um jovem sem trabalho se estabelece em Montsou, onde se torna mineiro e descobre
um mundo de homens condenados a sofrer pela falta de dinheiro. Com os problemas,
ele acaba se comprometendo com as causas socialistas.”
REFERÊNCIAS

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A CONSTITUIÇÃO E O STF.

BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

BRASIL. A constituição e o Supremo. <<ADI 1.003 MC, rel. min.


Celso de Mello, j. 1º-8-1994, P, DJ de 10-9-1999 Disponível em
http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04. Abr.2021

[ACO 3.113, rel. p/ acórdão: Alexandre de Moraes, j.


BRASIL. A constituição e o Supremo.
13-10-2020, P, DJE de 16-12-2020] Disponível em
<http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04. Abr.2021

BRASIL. A constituição e o Supremo. [HC 94.163, rel. min. Ayres Britto, j. 2-12-2008, 1ª T, DJE de 23-
10-2009.] Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar
Acesso em 04. Abr.2021

BRASIL. A constituição e o Supremo. [RE 450.855 AgR, rel. min. Eros Grau, j. 23-8-2005, 1ª T, DJ de 9-
12-2005.] Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso
em 04. Abr.2021

GONÇALVES, Daniele Menengotti Gonçalves. Et al. Temas Atuais de Direitos da Personalidade. Humanita
Vivens. Maringá: 2015. Disponível em Acesso em 15.abr.2021

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo:2017.

Padilha, Rodrigo. Direito Constitucional. – 6. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020.
UNIDADE IV
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E DOS DIREITOS HUMANOS
Professora Mestre Jaqueline da Silva Paulichi

Plano de Estudo:
● Do art. 5º, CF: alcance, implicação e limites;
● Dos conceitos essenciais atrelados aos direitos humanos;
● Da positivação dos direitos humanos na Constituição Federal;
● Da Declaração Universal dos Direitos Humanos e tratados internacionais.

Objetivos de Aprendizagem:
● Analisar o art. 5 da CF/88 e sua aplicação e consequências no ordenamento
jurídico;
● Compreender os conceitos atrelados aos direitos humanos;
● Analisar a positivação dos direitos humanos na CF/88;
● Leitura e compreensão da Declaração Universal dos Direitos Humanos e
tratados internacionais.
INTRODUÇÃO

Caro estudante,
Chegamos à última unidade de direito constitucional e direitos humanos. Vamos
estudar sobre o art. 5º da Constituição Federal, os direitos fundamentais nele previstos,
o alcance desses direitos e as limitações de sua aplicação.
Vamos estudar também sobre alguns conceitos que estão atrelados ao estudo
dos direitos humanos, como o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à propriedade e à
segurança.
Logo após iniciaremos o estudo da positivação dos direitos humanos na
Constituição Federal de 1988, e finalizaremos com a análise dos tratados internacionais
de direitos humanos.
Imagem do Tópico

https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/july-1-2019-brazil-woman-holds-
1440761711

1 DO ART. 5º, CF: ALCANCE, IMPLICAÇÃO E LIMITES;

O art. 5º da Constituição Federal de 1988 traz em seu caput a descrição do princípio


da igualdade:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade [...]

Vamos analisar o art. 5º, iniciando pelos destinatários de sua aplicação: Há dois
grupos de destinatários expressos: brasileiros e estrangeiros residentes no país. Temos
direitos que são destinados a determinados grupos de brasileiros. Alguns direitos são
conferidos apenas a brasileiros natos, conforme previsto no art. 12 da Constituição
Federal de 1988. Apenas a CF/88 pode estabelecer diferenças entre o brasileiro nato e
o naturalizado. Vejamos abaixo a previsão:

Art. 12. São brasileiros:


I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais
estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira,
desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do
Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira,
desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou
venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer
tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade
brasileira; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 54, de
2007)
II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira,
exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas
residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na
República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e
sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade
brasileira. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão
nº 3, de 1994)
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se
houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos
inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta
Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional de
Revisão nº 3, de 1994)
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e
naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 23, de 1999)

Ainda com relação à diferença de tratamento entre brasileiros e estrangeiros, há


que se discutir a previsão do inc. LII do art. 5º da CF/88, que prevê "não será concedida
a extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião.”
O Supremo Tribunal Federal já se manifestou acerca da restrição de direitos aos
estrangeiros não domiciliados no Brasil nos seguintes termos:

ESTRANGEIRO NÃO DOMICILIADO NO BRASIL- IRRELEVÂNCIA-


CONDIÇÃO JURÍDICA QUE NÃO O DESQUALIFICA COMO SUJEITO
DE DIREITOS E TITULAR DE GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E
LEGAIS- ... o súdito estrangeiro, mesmo o não domiciliado no Brasil, tem
plena legitimidade para impetrar o remédio constitucional do HABEAS
CORPUS (...) a condição jurídica de não – nacional do brasil, e a
circunstância de o réu estrangeiro não possuir domicílio em nosso país,
não legitimam a adoção, contra tal acusado, de qualquer tratamento
arbitrário ou discriminatório. 1

Note-se que o direito ao habeas corpus é garantido ao estrangeiro não residente


no país.
Os direitos fundamentais são destinados a todas as pessoas: pessoas físicas, as
pessoas jurídicas de direito privado (empresas), as pessoas jurídicas de direito público

1
STF HC 94404 2008
interno – União, Estados Federados, Distrito Federal e Municípios, e as pessoas jurídicas
de direito público externo.
Os direitos previstos na Constituição Federal de 1988 devem terá máxima
aplicação possível, eis que as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais
têm aplicação imediata, irradiando seus efeitos para todos os cidadãos. A aplicação
imediata significa que independe de lei infraconstitucional. A previsão do art. 5º da CF/88
trata do tema: § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata.
Porém, ressalte-se que o referido parágrafo não é absoluto, ou seja, o termo “em
lei” não confere uma aplicabilidade limitada, e sim uma aplicabilidade imediata. Assim,
quando a lei vem, ela é admitida para reduzir o alcance da lei. São normas de eficácia
contida. Podem ser usufruídas desde logo. Exemplo: Art. 5º inc. XXXII e XLI, aqui temos
uma aplicabilidade MEDIATA, temos normas programáticas.
Esses incisos revelam princípios gerais de hermenêutica. No inc. XXXII podemos
ver o in dubio pro consumidor. O Estado não verá apenas uma defesa específica, mas
ele sempre atuará em favor do consumidor.
Por outro lado, alguns doutrinadores defendem que necessita da atuação do
legislador. Essa corrente defende que o poder público deve conferir a maior eficácia
possível às normas constitucionais. Essas normas são presumivelmente de eficácia
plena ou contida que tem aplicabilidade imediata.
A aplicabilidade dos direitos fundamentais pode variar conforme a sua natureza.
Alguns direitos são de natureza prestacional, que necessitam de atuação positiva do
Estado, e consequentemente, a sua aplicabilidade é mais difícil, pois além da atividade
positiva do Estado é necessário um grande número de normas programáticas e a
necessidade de políticas públicas para a sua implementação, além dos recursos
financeiros para efetivá-lo. Dessa maneira, os direitos fundamentais de natureza
prestacional são aplicáveis na medida do possível e do razoável, a luz da teoria da
reserva do possível, ou a teoria da escolha trágica. Exemplo: o direito à saúde é direito
de todos e dever do Estado. No entanto, nem todas as pessoas conseguem efetivamente
o acesso à saúde. Assim, é necessário que haja a escolha de como os recursos serão
utilizados e quais setores devem receber primeiro esses recursos, para que não haja
aplicação incorreta ou injusta.
Ana Franco do Nascimento explica acerca da teoria da reserva do possível e o
direito à saúde nos seguintes termos:

O princípio da reserva do possível consubstancia aquele em que o


Estado, para a prestação de políticas públicas – que incluem os direitos
sociais e prestacionais – deve observar, em cada caso concreto, os três
elementos ditos acima: a necessidade, a distributividade dos recursos e
a eficácia do serviço. Conforme será visto, o Poder Público encontra-se
limitado economicamente, não tendo condições de atender toda a
população indistintamente.
Assim, havendo tais requisitos o serviço a ser prestado estará em
conformidade com a reserva do possível. Consequentemente, incumbirá
ao Poder Público prestar o serviço adequadamente, fazendo jus ao
princípio da dignidade da pessoa humana.
Para tanto, deve-se sempre observar as peculiaridades de cada caso
concreto, pois como o Poder Público não possui recursos financeiros
suficientes para o atendimento de todas as demandas, deve-se fazer
escolhas entre os casos mais necessários.2

Na Constituição Federal de 1988 os direitos fundamentais estão previstos em um


catálogo específico, reunidos no título “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”,
distribuídos em cinco capítulos, dos arts. 5º ao 17. Porém os direitos fundamentais não
se exaurem nos artigos citados, podendo ser encontrados em toda a Constituição
Federal. Cite-se o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado do art. 225 da
CF/88 e o princípio da legalidade tributária, previsto no art. 150 inc. I também da CF/88.3

2
NASCIMENTO, Ana Franco. Direito à saúde deve ser visto em face do princípio da reserva do possível
12 de fevereiro de 2017, 10h44. Conjur. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-fev-12/ana-
franco-direito-saude-visto-face-reserva-possivel. Acesso em 11.abr.2021.
3
FACHIN, Zulmar. Curso de Direito Constitucional. Gen/Forense. Rio de Janeiro: 2013. p.245
2 DOS CONCEITOS ESSENCIAIS ATRELADOS AOS DIREITOS HUMANOS

Inicialmente devemos diferenciar o termo “direitos humanos” do termo “direitos


fundamentais”. Os direitos humanos são direitos reconhecidos a todo ser humano em
documentos internacionais, tais como tratados, convenções e pactos de direitos.
Os direitos fundamentais são o reconhecimento dos direitos humanos no plano
interno, ou seja, em documentos nacionais, como a Constituição Federal de 1988.
Um exemplo de direito humano e direito fundamental é o direito à vida, que está
previsto em documentos internacionais e também do art. 5º da Constituição Federal
de 1988.
O art. 5º da Constituição Federal trata dos direitos e deveres individuais,
espécie dos direitos fundamentais. É importante realizar inicialmente a diferenciação
entre direitos e garantias fundamentais. O primeiro estudioso a tratar do tema foi Rui
Barbosa, que ao analisar a Constituição de 1891 diferenciou as disposições
declaratórias e as disposições assecuratórias.
As disposições declaratórias são aquelas que descrevem os direitos já
reconhecidos, enquanto as disposições assecuratórias são aquelas que em defesa
dos direitos, limitam o poder, sendo assim uma garantia ao cidadão. Os direitos são
as vantagens e bens previstos no texto constitucional e as garantias são meios
assecuratórios do exercício dos direitos.4
Cinco capítulos da CF/88 preveem os direitos e garantias fundamentais, que
são os direitos e garantias individuais e coletivos; os direitos sociais; os direitos da
nacionalidade; direitos políticos e os partidos políticos.
A Constituição Federal garante que todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade. Dentre os direitos assegurados pela Constituição Federal
e também pelos tratados internacionais de direitos humanos, tem-se o principal deles,
que é o direito à vida. O direito à vida é assegurado a todas as pessoas, sendo este
o direito primordial para que o sujeito exerça os demais.

4
FACHIN, Zulmar. Curso de Direito Constitucional. Gen/Forense. Rio de Janeiro: 2013. p.247
Cabe ao Estado assegurar o direito à vida em sua dupla acepção, que é o
direito de nascer com vida, e o direito de permanecer vivo ou que o sujeito tenha
condições de ter uma vida digna. De acordo com o previsto no Código Civil Brasileiro,
o início da personalidade se inicia com o nascimento com vida, dotando-se a teoria
natalista. Ocorre que, os tratados internacionais de direitos humanos consideram o
início da proteção à vida a concepção.
Assim, para o direito brasileiro, a proteção à vida se inicia a partir da
concepção, porém a personalidade e a aquisição de direitos relativos aos direitos
personalíssimos se iniciam a partir do nascimento com vida.
Alexandre de Moraes explica sobre o tema:

A Constituição, é importante ressaltar, protege a vida de forma geral,


inclusive uterina, porém, como os demais Direitos Fundamentais, de
maneira não absoluta, pois como destacado pelo Supremo Tribunal
Federal, “reputou inquestionável o caráter não absoluto do direito à
vida ante o texto constitucional, cujo art. 5º, XLVII, admitiria a pena de
morte no caso de guerra declarada na forma do seu artigo 84, XIX. No
mesmo sentido, citou previsão de aborto ético ou humanitário como
causa excludente de ilicitude ou antijuridicidade no Código Penal,
situação em que o legislador teria priorizado os direitos da mulher em
detrimento dos do feto.30 Recordou que a proteção ao direito à vida
comportaria diferentes gradações, consoante o que estabelecido na
ADI 3510/DF.5

O direito à liberdade também está previsto no texto constitucional e em textos


internacionais, possuindo ampla aplicação no ordenamento jurídico. Ressalte-se que
o direito à liberdade se desdobra em inúmeras outras, como a liberdade de expressão,
de manifestação, de pensamento, de crença, de ir e vir, dentre outras. A liberdade
possui inúmeros significados, a depender do caso concreto.
O direito à igualdade, assim como o direito à liberdade, também possui
diversos desdobramentos, como a igualdade entre homens e mulheres, a igualdade
e os critérios de aplicação da justiça, para beneficiar os grupos e minorias sociais.
Assim, a garantia da igualdade veda o tratamento discriminatório e desigual às

5
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. Gen/Método. São Paulo: 2020. p. 34
pessoas, independente de seu sexo, religião, região, status social, dentre outros
aspectos.
Alexandre de Moraes ressalta que:

[...] o que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações


absurdas, pois, o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida
em que se desigualam, é exigência tradicional do próprio conceito de
Justiça, pois o que realmente protege são certas finalidades, somente
se tendo por lesado o princípio constitucional quando o elemento
discriminador não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida
pelo direito, sem que se esqueça, porém, como ressalvado por Fábio
Konder Comparato, que as chamadas liberdades materiais têm por
objetivo a igualdade de condições sociais, meta a ser alcançada, não
só por meio de leis, mas também pela aplicação de políticas ou
programas de ação estatal.6

A igualdade pressupõe dois planos distintos de aplicação. Em uma primeira


acepção tem-se que o legislador não deve criar normas com a finalidade de beneficiar
apenas certos grupos ou ainda com o intuito de prejudicar pessoas, devendo a norma
possuir aplicação ampla e irrestrita.
Em um segundo momento, a igualdade é voltada para a interpretação do
aplicador do direito, em que este deverá, aplicar a lei indistintamente, não devendo
beneficiar pessoas em detrimento de outras. Cite-se o exemplo de um grupo que tenta
furar a fila das vacinações contra a Covid-19.

O princípio da igualdade consagrado pela constituição opera em dois


planos distintos. De uma parte, frente ao legislador ou ao próprio
executivo, na edição, respectivamente, de leis, atos normativos e
medidas provisórias, impedindo que possam criar tratamentos
abusivamente diferenciados a pessoas que encontram-se em
situações idênticas. Em outro plano, na obrigatoriedade ao intérprete,
basicamente, a autoridade pública, de aplicar a lei e atos normativos
de maneira igualitária, sem estabelecimento de diferenciações em
razão de sexo, religião, convicções filosóficas ou políticas, raça,
classe social.7

O direito de propriedade, também previsto no caput do art. 5º da CF/88,


pressupõe que todos possuem o direito de adquirir bens, sejam móveis ou imóveis. A

6
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. Gen/Método. São Paulo: 2020.p.35
7
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. Gen/Método. São Paulo: 2020.p. 35
aquisição desses bens pode se dar por meio de contrato de compra e venda, doação,
permuta, sucessão, dentre outros.. Qualquer sujeito é livre para ser proprietário de
bens, desde que não haja limitação legal.
A CF/88 prevê uma cláusula geral de propriedade, conforme previsão do art.
5º inc. XXII, sendo também um princípio da ordem econômica, conforme art. 170 inc.
II. A propriedade privada é um bem jurídico essencial à subsistência das pessoas.
Dessa maneira, existe no ordenamento jurídico brasileiro inúmeras formas de
se assegurar a propriedade privada, como exemplo cite-se o direito à usucapião.
Caso o proprietário de um imóvel não cuide do que é seu durante certo lapso
temporal, este poderá perder a sua propriedade em favor de outra pessoa.
Outro meio previsto na lei brasileira é a proteção ao bem de família conforme
inc. XXVI do art. 5º da CF/88. Na CF há previsão de que o único imóvel da família
terá proteção contra constrições judiciais, para que a família seja protegida.
Ainda, existem as restrições quanto ao direito de propriedade, como o direito
que o Estado possui para realizar as desapropriações ou requisições de interesse
público, desde que o proprietário seja indenizado.
Outras aplicações do direito de propriedade são: o direito de autor, direito de
marcas e patentes, direito à propriedade industrial, direito de herança, usucapião,
dentre outros.
Por fim, o direito à segurança, previsto constitucionalmente, possui ampla
acepção. Note-se que a segurança não diz respeito apenas a questões de segurança
pública, forças policiais e atos correlatos, mas também a segurança jurídica. Assim,
a doutrina nos ensina que o direito à segurança decorre dos princípios da legalidade,
da inviolabilidade de domicílio, de correspondência, dentre outros princípios que
asseguram o cidadão quanto a possíveis invasões e violações por parte do Estado e
poderes públicos.
O princípio da legalidade pressupõe que ninguém será obrigado a realizar algo
se não em virtude de lei, de ato ou contrato. Ou seja, caso não haja lei ou contrato
estabelecendo que o sujeito deve fazer algo, este não poderá ser obrigado a realizá-
lo. Este princípio possui aplicação em diversas áreas do direito, desde o direito
administrativo até o processo penal.
3 DA POSITIVAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL;

Tratar da fundamentação dos direitos humanos significa a análise da razão de ser


desta disciplina, o porquê de sua existência, e seu fundamento primordial. Os direitos
humanos nasceram para tutelar e proteger os interesses das pessoas, do ser humano.
Em que pese toda a história mundial, em que realizaram inúmeras atrocidades contra
vários grupos e minorias, deturpando o conceito de pessoa, e diminuindo as suas
existências, os direitos humanos surgem para proteger os cidadãos. Note-se que,
mesmo com a existência de leis, tratados internacionais, constituições, dentre outros
aspectos normativos, o ser humano ainda trata outros seres humanos como inferiores.
É o que ocorre com as pessoas em situação de rua, com a população LGBTQIA+, com
os índios, dependentes químicos, pobres, mulheres, negros, idosos, quilombolas, dentre
outros grupos e minorias vulneráveis.
Os direitos humanos retiram seu fundamento primordial do princípio da dignidade
da pessoa humana8, em consonância com o que estabelece o art. 1.º da Declaração
Universal dos Direitos Humanos de 1948: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em
dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas
às outras com espírito de fraternidade”.
A partir da Declaração Universal de 1948 [1]

[1] Assembleia Geral da ONU. (1948). "Declaração Universal dos Direitos Humanos".
Paris.

podemos retirar três princípios basilares, que são:

1º: A inviolabilidade da pessoa; o ser humano é inviolável, o que abrange o seu direito
à vida e a integridade física, a vedação a tortura, e ao tratamento degradante, assim

8
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. Gen/Método. São Paulo: 2017
como a proibição de condição análoga a de escravo. A pessoa humana não pode ser
submetida a sacrifícios que irão resultar em benefícios, sejam patrimoniais ou pessoais,
a outra pessoa. Ou seja, o ser humano deve ser considerado como um fim em si mesmo,
e não como meio para se atingir algum outro resultado.
2º: A autonomia da pessoa; o ser humano é livre para ir e vir, para ter a liberdade de
pensamento, liberdade religiosa, de convicções políticas e ideológicas. Assim, pode-se
inferir que o sujeito é livre para fazer suas escolhas, desde que não interfira no direito de
outros.
A autonomia da pessoa é um princípio previsto em todo ordenamento jurídico
brasileiro. Por exemplo, no direito civil existe a previsão acerca da autonomia para
contratar, ser contratado, liberdade para estabelecer suas obrigações, casamento,
regime de bens, sucessões, dentre outros. Assim, a autonomia da vontade, ou liberdade,
é um importante princípio que regulamenta o direito brasileiro.
3º: O terceiro princípio básico que podemos extrair é o da dignidade da pessoa
humana, que por sua vez é o núcleo rígido de todos os demais direitos da personalidade,
direitos fundamentais, dentre outros. Dessa forma, a dignidade da pessoa humana traz
o fundamento dos direitos humanos, e a partir dele podemos interpretar diversas outras
normas jurídicas e definir sua aplicabilidade conforme o que é melhor ao ser humano.
Leia abaixo importante trecho de artigo publicado por Flávia Piovesan acerca da
dignidade da pessoa humana:

No dizer de Hannah Arendt, os direitos humanos não são um dado, mas


um construído, uma invenção humana, em constante processo de
construção e reconstrução . Considerando a historicidade destes direitos,
pode-se afirmar que a definição de direitos humanos aponta a uma
pluralidade de significados. Tendo em vista tal pluralidade, destaca-se
neste estudo a chamada concepção contemporânea de direitos
humanos, que veio a ser introduzida com o advento da Declaração
Universal de 1948 e reiterada pela Declaração de Direitos Humanos de
Viena de 1993. 2 Esta concepção é fruto do movimento de
internacionalização dos direitos humanos, que constitui um movimento
extremamente recente na história, surgindo, a partir do pós-guerra, como
resposta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo.
Apresentando o Estado como o grande violador de direitos humanos, a
era Hitler foi marcada pela lógica da destruição e da descartabilidade da
pessoa humana, que resultou no envio de 18 milhões de pessoas a
campos de concentração, com a morte de 11 milhões, sendo 6 milhões
de judeus, além de comunistas, homossexuais, ciganos, etc. O legado do
nazismo foi condicionar a titularidade de direitos, ou seja, a condição de
sujeito de direitos, à pertinência a determinada raça - "a raça pura ariana".
No dizer de Ignacy Sachs, "o século XX foi marcado por duas guerras
mundiais e pelo horror absoluto do genocídio concebido como projeto
político e industrial" . 3 É neste cenário que se desenha o esforço de
reconstrução dos direitos humanos, como paradigma e referencial ético
a orientar a ordem internacional contemporânea..9

9
PIOVESAN. Flávia. DIREITOS HUMANOS, O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA E A
CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988. Revista dos Tribunais | vol. 833/2005 | p. 41 - 53 | Mar / 2005
Doutrinas Essenciais de Direitos Humanos | vol. 1 | p. 305 - 322 | Ago / 2011 Doutrinas Essenciais de
Direito do Trabalho e da Seguridade Social | vol. 1 | p. 511 - 528 | Set / 2012 DTR\2005\203
4 DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS E TRATADOS
INTERNACIONAIS

Inicialmente, o art. 5º, parágrafo 2º da CF/88 prevê o seguinte: § 2º Os direitos e


garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte.
Isso significa que os direitos e garantias previstos em documentos internacionais
não excluem aqueles previstos no texto constitucional, bem como o previsto na CF/88
não exclui outros direitos e garantias previstos internacionalmente. Inclusive, alguns
tratados internacionais de direitos humanos podem prever direitos e garantias ainda não
regulamentados no Brasil, mas que possuem plena eficácia.
Acaso uma norma prevista em tratados de direitos humanos traga alguma
disciplina inovadora sobre a nossa ordem interna, o tratado deverá ser respeitado e
possui eficácia imediata se aprovado nos trâmites do parágrafo 3º.
O art. 5º da CF/88, prevê em seu § 3º: Os tratados e convenções internacionais
sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional,
em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes
às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)[1]

[1] BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

Tipos de tratados no Brasil:


1) Tratados Internacionais comuns (com status de lei ordinária);
2) Tratados Internacionais de Direitos Humanos (TIDHs):
a) anteriores à EC/45; e
b) posteriores à EC 45, na forma do § 3º do art. 5º da CF/88 (equivalentes às
emendas).

O parágrafo 3º da CF/8[1]

[1] BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

8 traz a previsão de que os tratados de direitos humanos, quando aprovados pelo


quórum previsto, serão considerados como emendas à constituição, possuindo assim o
status constitucional.
Os tratados anteriores à EC/45 possuem status diferenciado, no qual o STF já se
manifestou a respeito, no sentido de que os tratados internacionais que tratam de direitos
humanos anteriores à EC/45 possuem status supralegal, ou seja, estão acima das leis
ordinárias e abaixo da Constituição Federal, não podendo conflitar com o ordenamento
jurídico brasileiro.
Assim, acaso um tratado internacional de direitos humanos aprovado antes da
EC/45 conflitar com norma prevista nas leis ordinárias, o tratado deverá prevalecer. No
entanto, se o tratado internacional de direitos humanos for aprovado antes da EC/45
conflitar com norma prevista na CF/88, o que deve prevalecer é a norma constitucional.
Confira abaixo importante julgado sobre o tema:

(...) Desde a adesão do Brasil, sem qualquer reserva, ao Pacto


Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 11) e à Convenção
Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica
(art. 7º, 7), ambos no ano de 1992, não há mais base legal para prisão
civil do depositário infiel, pois o caráter especial desses diplomas
internacionais sobre direitos humanos lhes reserva lugar específico no
ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição, porém acima da
legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados
internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil torna inaplicável
a legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou
posterior ao ato de adesão. (...)10

No que concerne às normas internacionais de direitos humanos e à Constituição


Federal de 1988, note-se que o texto constitucional trouxe algumas previsões que já
existiam internacionalmente, como é o caso do Pacto de San José da Costa Rica, de
1969, e a previsão da CF/88 acerca da prisão por dívida:

Art. 5º, LXVII: “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável
pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e
a do depositário infiel”.

Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da


Costa Rica):

Art. 7º. (...) § 7º: “Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não
limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em
virtude de inadimplemento de obrigação alimentar”. [1]

[1] Organização dos Estados Americanos, Convenção Americana de Direitos Humanos (“Pacto
de San José de Costa Rica”), 1969

Posteriormente, o STF editou a súmula vinculante que trata da ilicitude da prisão


civil do depositário infiel:

STF - Súmula Vinculante 25: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel,


qualquer que seja a modalidade do depósito.”

A Declaração Universal de Direitos Humanos (1948)[1]

10
(RE 349703, Rel. p/ Acórdão Min. GILMAR MENDES, Pleno, j. em 03/12/2008). Vide
ainda: RE 466343, j. em 03/12/2008
[1] Assembleia Geral da ONU. (1948). "Declaração Universal dos Direitos Humanos".
Paris.

é documento de extrema relevância para o Direito brasileiro e mundial. Note-se que a


noção que temos hoje do que se entende por dignidade da pessoa humana decorre de
todo arcabouço histórico, político e social ocorrido durante a 2º Guerra Mundial.
Deslegitimar a luta pelos direitos humanos, ou ainda, diminuir a sua importância é o
mesmo que negar a história mundial.
Vejamos alguns trechos desse importante documento internacional:

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os


membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos
resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da
humanidade e que o advento de um mundo em que mulheres e homens
gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a
salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta
aspiração do ser humano comum,
[...]
Artigo 1
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.
São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos
outros com espírito de fraternidade.

Artigo 2
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as
liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer
espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de
outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou
qualquer outra condição.

Os direitos humanos, assim como os direitos fundamentais, se aplicam a todas as


pessoas indistintamente, sem preconceito de raça, cor, origem, religião ou sexo. A
previsão é necessária para que não haja interpretações duvidosas, como já ocorreu
durante a história, em que certos grupos de pessoas não possuíam o mesmo direito que
outras, ou ainda, a discriminação e o não reconhecimento de direitos a pessoas negras,
às mulheres, aos deficientes, dentre outros.
Os principais Documentos internacionais que tratam de direitos humanos são:

Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio


(1948)
Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial (1965)
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966)
Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
(1966)
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra as Mulheres (1979)
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (1982)
Convenção sobre os Direitos da Criança (1989)
Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (1996)
Convenção Internacional para a Supressão do Financiamento do
Terrorismo (1999)
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006)11

11
Informações de https://nacoesunidas.org/acao/direito-internacional/
SAIBA MAIS

Leia a declaração internacional de direitos do homem e do cidadão;


Assembleia Geral da ONU. (1948). "Declaração Universal dos Direitos Humanos". Paris.
Disponível em
https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos Acesso e, 19.maio.2021

#SAIBA MAIS#

REFLITA

“[...] Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram


em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento de um
mundo em que mulheres e homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da
liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais
alta aspiração do ser humano comum,

Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da
lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a
tirania e a opressão,[...]”

Fonte: DECLARAÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

Assembleia Geral da ONU. (1948). "Declaração Universal dos Direitos Humanos". Paris.

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro aluno, chegamos ao fim de mais uma unidade. Aprendemos nesta última
apostila acerca dos direitos fundamentais e direitos humanos, analisando o significado
de alguns termos relevantes.
Analisamos o alcance do art. 5º da Constituição Federal de 1988, bem como seus
destinatários, e quais as limitações de aplicação de direitos aos estrangeiros residentes
e não residentes no país.
Vimos também a aplicação dos tratados internacionais que versam sobre direitos
humanos e a formalidade para que tenham o status constitucional no país.
Estudamos os principais conceitos atrelados aos direitos fundamentais e direitos
humanos, como direito à vida, à liberdade, à igualdade, à propriedade e à segurança.
Compreendemos também a diferença entre direitos humanos e direitos fundamentais,
garantias e direitos previstos na Constituição Federal, assim como os conceitos
correlatos.
Por fim, analisamos alguns trechos da Declaração Internacional de Direitos
Humanos. Leia a declaração no link sugerido e reflita sobre as normas dispostas no
documento, é de extrema importância que você aplique os conceitos aprendidos no dia-
a-dia.
Até a próxima!
LEITURA COMPLEMENTAR

Sobre os direitos fundamentais e o princípio da dignidade da pessoa humana


previsto no texto na Constituição Federal de 1988.

Fonte:
SARLET, Ingo Wolfgang. CONJUR. DIREITOS FUNDAMENTAIS. Em tempos de reformas é
bom lembrar que existe a dignidade da pessoa humana.22 de novembro de 2019 Disponível em <
https://www.conjur.com.br/2019-nov-22/direitos-fundamentais-bom-lembrar-existe-dignidade-pessoa-
humana> Acesso em 20.maio.2021
LIVRO

• Título. Curso de Direito Constitucional


• Autor. Zulmar Fachin
• Editora. Gen/Forense
• Sinopse . Curso de direito constitucional direcionado a acadêmicos de direito e
profissionais da área, com ênfase em direitos fundamentais.
FILME/VÍDEO

• Título. Uma Noite de 12 Anos


• Ano. 2018
• Sinopse. “José Mujica, Mauricio Rosencof e Eleuterio Fernández Huidobro são
militantes dos Tupamaros, grupo que luta contra a ditadura militar local. Eles são presos
em ações distintas e encarcerados junto a outros nove companheiros, de forma que não
possam sequer falar um com o outro. Ao longo dos anos, o trio busca meios de sobreviver
não só à tortura, mas também ao encarceramento que fez com que ficassem
completamente alheios à sociedade, sem a menor ideia se um dia seriam soltos.”
REFERÊNCIAS

Assembleia Geral da ONU. (1948). "Declaração Universal dos Direitos Humanos".


Paris.

BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

Organização dos Estados Americanos, Convenção Americana de Direitos Humanos


(“Pacto de San José de Costa Rica”), 1969

SARLET, Ingo Wolfgang. CONJUR. DIREITOS


FUNDAMENTAIS. Em tempos de reformas é bom lembrar que existe a dignidade
dapessoa humana.22 de novembro de 2019 Disponível em <
https://www.conjur.com.br/2019-nov-22/direitos-fundamentais-bom-lembrar-existe-
dignidade-pessoa-humana> Acesso em 20.maio.2021

FACHIN, Zulmar. Curso de Direito Constitucional. Gen/Forense. Rio de Janeiro: 2013.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. Gen/Método. São Paulo:


2017

MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. Gen/Método. São Paulo: 2020.

NASCIMENTO, Ana Franco. Direito à saúde deve ser visto em face do princípio da
reserva do possível. 12 de fevereiro de 2017, 10h44. Conjur. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2017-fev-12/ana-franco-direito-saude-visto-face-reserva-
possivel. Acesso em 11.abr.2021.

PIOVESAN. Flávia. DIREITOS HUMANOS, O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA E


A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988. Revista dos Tribunais | vol. 833/2005 | p. 41
- 53 | Mar / 2005 Doutrinas Essenciais de Direitos Humanos | vol. 1 | p. 305 - 322 | Ago
/ 2011 Doutrinas Essenciais de Direito do Trabalho e da Seguridade Social | vol. 1 | p.
511 - 528 | Set / 2012 DTR\2005\203

RE 349703, Rel. p/ Acórdão Min. GILMAR MENDES, Pleno, j. em 03/12/2008). Vide


ainda: RE 466343, j. em 03/12/2008
CONCLUSÃO GERAL

Caro Estudante, chegamos ao fim de nossa disciplina de direito Constitucional e


Direitos humanos.

Estudamos as noções introdutórias do direito constitucional analisando os


conceitos fundamentais relativos ao direito constitucional, como os sentidos da
constituição e a definição de constituição conforme a doutrina moderna.
Posteriormente passamos a analisar a dignidade da pessoa humana e suas
acepções, como núcleo dos direitos humanos, dos direitos fundamentais e dos
direitos da personalidade.

Analisamos as características essenciais da Constituição Federal de 1988 e sua


classificação, para posteriormente compreender de onde advém as fontes da
disciplina, que é o próprio texto de nossa lei maior.

Percebe-se que o direito constitucional evoluiu com o passar das décadas, assim
como a sociedade, mas sempre atrelado aos conceitos básicos de dignidade da
pessoa humana, além de se preocupar com o reconhecimento de outras normas
que não estruturam o Estado, mas sim que reconhecem os direitos fundamentais
com status constitucional.

Na unidade II analisamos o direito constitucional em si, verificando quais são as


normas constitucionais e qual o sentido do termo, para depois compreender a
eficácia das normas constitucionais, bem como o sentido de norma de aplicação
imediata, limitada e contida. Vimos, por exemplo, que alguns direitos
reconhecidos na constituição já passam a ter eficácia a partir do momento em
que adentram o texto constitucional. No entanto, em alguns casos, é necessário
normas programáticas, leis ordinárias e investimentos para que haja a
concretização dos direitos dos cidadãos.

Assim, quando houver conflito entre normas constitucionais, deverá ser utilizada
a técnica da ponderação, no qual se analisa o caso concreto para depois se
estabelecer qual a solução aplicável ao caso.

A técnica da ponderação exige que se utilize de diversos critérios para se chegar


a solução do caso concreto, como a análise dos princípios constitucionais.
Assim, estudamos também os princípios fundamentais previstos no texto
constitucional e a sua aplicação, além da análise dos objetivos fundamentais
previstos no art. 3º da lei maior. Verificamos que os objetivos fundamentais
fazem parte também de políticas públicas e ações afirmativas por parte do
Estado.

O art. 5º da CF/88 é de suma importância, eis que lá estão previstos direitos


fundamentais do cidadão brasileiro, assim, como os meios de efetivar seus
direitos.

Por fim, analisamos a relevância da Declaração Universal dos Direitos Humanos


e tratados internacionais e qual a sua aplicação no país, bem como alguns
trechos da declaração.

Até a próxima!

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