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Direito Constitucional e Direitos Humanos
Direito Constitucional e Direitos Humanos
APRESENTAÇÃO
Vamos analisar na primeira apostila acerca das noções introdutórias do que vem
a ser o constitucionalismo, seus desdobramentos e as teorias que buscam
explicar o que se entende por constituição e constitucionalismo. Estudaremos
também sobre o princípio da dignidade na pessoa humana, suas várias
acepções, e a discussão que gira em torno do tema.
Plano de Estudo:
● Conceitos fundamentais atrelados ao direito constitucional;
● Campos de estudo das características essenciais da Constituição Federal;
● Conceituação e discussão sobre as caraterísticas essenciais da Constituição
Federal;
● Fontes do direito constitucional.
Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar o que é o direito constitucional, bem como discutir sobre os
diferentes conceitos e campos de estudo;
● Compreender as características essenciais da constituição e qual a sua
importância;
● Analisar as fontes da disciplina.
INTRODUÇÃO
Olá, caro estudante, tudo bem? Nesta unidade iremos estudar acerca das noções
introdutórias de direito constitucional. Vamos começar analisando os conceitos e os
sentidos de constituição, para que você entenda, ao final, qual o sentido que mais se
coaduna com a nossa realidade brasileira. Note-se que todos os sentidos de constituição
podem ser aplicados à nossa Constituição Federal, mas tudo vai depender de qual
aspecto você está analisando.
Posteriormente iremos estudar acerca do princípio da dignidade da pessoa
humana, que é tão importante para a compreensão do status atual do ser humano em
nossa legislação brasileira. Esse conceito vem evoluindo com o decorrer dos tempos e
da sociedade, sendo de extrema relevância para o estudo do direito e deveres de todos
os seres humanos.
Logo após iniciaremos o estudo das características da constituição brasileira, ou
ainda, a sua classificação conforme a doutrina. E por fim, iremos analisar acerca das
fontes do direito constitucional, analisando alguns julgados de extrema importância para
a nossa sociedade.
Bom estudo!
DAS NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DO DIREITO CONSTITUCIONAL
1
BRASIL. Constituição Federal de 1988.
2
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23. ed. São Paulo: Malheiros,
2004. p. 41
A Constituição Federal de 1988 possui “o seu fundamento de validade na norma
hipotética fundamental, está, o fundamento de validade de todo o sistema. Trata-se de
norma suposta, e não posta, uma vez que não editada por nenhum ato de autoridade.
Figura, como referimos, no plano lógico-jurídico, prescrevendo a observância do
estabelecido na Constituição e nas demais normas jurídicas do sistema, estas últimas
fundamentadas na própria Constituição. A norma fundamental, hipoteticamente suposta,
prescreve a observância da primeira Constituição histórica”3
Pelo sentido culturalista a constituição decorre de fato cultural, criado pela
sociedade que, por sua vez, também pode nela interferir. Assim a constituição seria a
tradução dos ideais da sociedade, uma formação objetiva de cultura, decorrente de
fatores reais, como a natureza humana, necessidades da sociedade e das pessoas,
costumes, e etc.; além de elementos espirituais, como a religião, sentimentos, ideais
políticos; e elementos racionais, como as técnicas jurídicas, formas políticas, instituições
e etc.
Pedro Lenza, citando o professor J. H. Meirelles Teixeira, nos traz a explicação
sobre a concepção culturalista que “...conduz ao conceito de uma Constituição Total em
uma visão suprema e sintética que “... apresenta, na sua complexidade intrínseca,
aspectos econômicos, sociológicos, jurídicos e filosóficos, a fim de abranger o seu
conceito em uma perspectiva unitária”. Desse modo, sob o conceito culturalista de
Constituição, “... as Constituições positivas são um conjunto de normas fundamentais,
condicionadas pela Cultura total, e ao mesmo tempo condicionantes desta, emanadas
da vontade existencial da unidade política, e reguladoras da existência, estrutura e fins
do Estado e do modo de exercício e limites do poder político”4
Ainda na discussão sobre as diferentes acepções e sentidos de “constituição”,
tem-se a ideia de uma Constituição aberta, o que invoca o sentido de que ela tenha
abertura para que permaneça condizente com a nossa época histórica e social, evitando-
se o risco de desmoronamento de sua força normativa.
3
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo:2017. p. 83
4
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo:2017. p. 85. APUD. Teixeira,
J.H> Meirelles. Curso de direito constitucional, p. 58-59.
Neste capítulo vamos estudar acerca do papel da constituição no ordenamento
jurídico, ou seja, qual a sua função no ordenamento jurídico de um país, qual a sua
relação com a atividade do legislador ( a de criar as leis). Isso é importante para que
você entenda qual a ordem de hierarquia da constituição em um país, e se ela se encaixa
como lei, como ato legislativo, como carta magna e etc.
Assim, vamos analisar o papel da constituição ou de sua função, dividindo-a em
quatro itens: a constituição – lei, a constituição – fundamento, a constituição – moldura
e a constituição dúctil ou maleável.
Pela concepção de constituição-lei a constituição não está acima do poder legislativo.
Ou seja, ela tem a mesma hierarquia de uma lei ordinária. Note-se que ela concepção
de constituição não é mais viável em uma democracia, eis que precisamos de um
fundamento maior para se buscar a validade de nossas leis. Pedro Lenza nos ensina
acerca desta concepção nos seguintes termos:
“Nesse sentido, a Constituição é, na verdade, uma lei como qualquer outra. Os
dispositivos constitucionais, especialmente os direitos fundamentais, teriam uma função
meramente indicativa, pois apenas indicariam ao legislador um possível caminho, que
ele não precisaria necessariamente seguir.” Esse modelo, certamente, permite a
justificação da tese acerca da supremacia do parlamento, mitigada, contudo, em tempos
mais recentes, como pode ser observado, para se ter um exemplo, na Inglaterra a partir
da entrada em vigor do Human Rights Act”.5
Na concepção de constituição fundamento, ou constituição total, existe a
onipresença da constituição, e assim, a área reservada ao legislador, aos cidadãos e
etc., é muito pequena. Consequentemente, esses atos passam a ser encarados como
instrumentos de realização da constituição. A constituição seria a lei fundamental de toda
a vida social, e todas as ações humanas seriam reguladas pela constituição.
Pela concepção de constituição-moldura, ou constituição-quadro, que é uma
proposta intermediária entre a constituição-lei e a constituição – fundamento, a
Constituição serve como limite à atuação do legislador.
5
LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. Saraiva. São Paulo: 2017. p. 86
Virgílio Afonso da Silva explica sobre o tema: “a metáfora da moldura, no campo
da teoria constitucional, é usada para designar uma Constituição que apenas sirva de
limites para a atividade legislativa. Ela é apenas uma moldura, sem tela, sem
preenchimento. À jurisdição constitucional cabe apenas a tarefa de controlar se o
legislador age dentro da moldura. Como o legislador age no interior desses limites é uma
questão de oportunidade política. Segundo Starck, entender a Constituição como
moldura significa sustentar que nem tudo está predefinido pela Constituição e que
inúmeras questões substanciais estão sujeitas à simples decisão da maioria parlamentar
no processo legislativo ordinário. Definir a ‘largura’ da moldura, que funcionará como
simples limitação ao poder estatal, é a tarefa da interpretação constitucional. Mas essa
seria sua única tarefa. Todo o resto é questão de oportunidade política”. 6
Por fim, a Constituição dúctil (Constituição maleável, suave) (“Costituzione mite”
— Gustavo Zagrebelsky), é constituição que necessita acompanhar a evolução da
sociedade, deixando assim de ser o centro do ordenamento e passando então a refletir
sobre o pluralismo social, político e econômico. Dessa maneira, cabe a constituição
apenas assegurar as condições possibilitadoras de uma vida em comum.
6
Virgílio Afonso da Silva, A constitucionalização do direito: os direitos fundamentais nas relações entre
particulares. Malheiros. São Paulo: 2011. p. 116
2 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.
A dignidade humana está prevista no art. 1º , inc. III da nossa Constituição Federal
de 1988 e se classifica como um dos princípios fundamentais da República Federativa
do Brasil. No entanto, a sua discussão e importância é muito mais antiga, ante a sua
relevância para se tutelar os direitos e garantias básicos dos cidadãos. Certo é que não
existe apenas um conceito que se enquadre perfeitamente no sentido mais profundo e
axiológico do termo “dignidade”. Por este motivo é que o estudo quanto à valoração e
aplicação deste princípio é tão apaixonante pelo estudioso do direito.
Paulichi e Moraes, em estudo sobre o tema:
“A dignidade da pessoa humana nasceu na filosofia e tem a sua
raiz na ética e na moral. Porém, em primeiro lugar, a dignidade
humana é um valor, sendo que, após a segunda guerra mundial, o
conceito de dignidade humana passou a ser incorporado ao
discurso político dos países que venceram o conflito, tornando-se
uma meta política e objetivo a ser alcançado. A dignidade tem dupla
dimensão, sendo uma interna, expressada no valor intrínseco de
cada indivíduo, e uma externa que representa seus direitos. A
primeira dimensão pode sofrer violações, já a segunda não pode.
A proteção da dignidade da pessoa humana, em um primeiro
momento, foi dada aos poderes executivo e legislativo.
Posteriormente, migrou para o meio jurídico, eis que a dignidade
humana foi consagrada em diversos documentos oficiais. No
entanto, a importância dada a esse conceito deu-se após a
segunda guerra mundial, pois foi consequência de uma mudança
fundamental no pensamento jurídico.” 7
7
PAULICHI, Jaqueline da Silva. MORAES, Carlos Alexandre de. A DIGNIDADE HUMANA EM KANT E
O PRINCÍPIO DA SACRALIDADE DA VIDA EM BIODIREITO. Conpedi- João Pessoa/PB. 2014.
http://conpedi.danilolr.info/publicacoes/c178h0tg/x552ze4o/mlC99HW58Wq6N7iQ.pdf.
Em alguns conceitos garimpados pelas doutrinas que tratam do assunto, pode-se
definir a dignidade da pessoa humana:
Para Maria Celina Bodin de Moraes:
“é uma questão que, ao longo da história, tem atormentado
filósofos, teólogos, sociólogos de todos os matizes, das mais
diversas perspectivas, ideológicas e metodológicas. A temática
tornou-se, a partir de sua inserção nas longas Constituições,
merecedora da atenção privilegiada do jurista que tem, também
ele, grande dificuldade em dar substância a um conceito que, por
sua polissemia e o atual uso indiscriminado, tem um conteúdo
ainda mais controvertido do que no passado”.8
Para Danilo Fontenele: “o fundamento primeiro e a finalidade última, de toda a
atuação estatal e mesmo particular” 9
Chaves Camargo conceitua a dignidade humana da seguinte maneira:
“[...] pessoa humana, pela condição natural de ser, com sua
inteligência e possibilidade de exercício de sua liberdade, se
destaca na natureza e diferencia do ser irracional. Estas
características expressam um valor e fazem do homem não mais
um mero existir, pois este domínio sobre a própria vida, sua
superação, é a raiz da dignidade humana. Assim, toda pessoa
humana, pelo simples fato de existir, independentemente de sua
situação social, traz na sua superioridade racional a dignidade de
todo ser.”10
Elimar Szaniawski explica que “o princípio da dignidade da pessoa humana
consiste, pois, no ponto nuclear onde se desdobram todos os direitos fundamentais do
8
MORAES, Maria Celina Bodin de. O conceito de dignidade humana: substrato axiológico e conteúdo
normativo – ob. cit., 2003, p. 109.
9
SAMPAIO. Danilo Fontenelle. A Intervenção do Estado na Economia. Apud. SZANIAWSKI. Elimar.
Direitos da Personalidade e sua tutela.
10
CAMARGO, A. L. Chaves. Culpabilidade e Reprovação Penal. São Paulo: Sugestões Literárias, 1994.
ser humano, vinculando o poder público como um todo, bem como os particulares,
pessoa naturais ou jurídicas” 11.
Jorge Pinheiro Duarte diz: “decorre que a pessoa deve ser tratada como pessoa,
como um fim em si mesmo; que à pessoa deve ser reconhecida autonomia,
autodeterminação; que o ser humano não deve ser coisificado, instrumentalizado nem
comercializado.”12
Débora Gozzo explica nos seguintes termos: “Chega-se a afirmar que a dignidade
da pessoa humana impende, inclusive, do nascer com vida, pois o nascituro, mesmo
sem ainda ter nascido, possui a qualidade de humano. O pressuposto da dignidade é a
qualidade de humano, não o nascimento com a vida”. 13
Percebe-se que a dignidade da pessoa humana pode ser vista como um princípio,
ou ainda como um valor no sistema normativo. Certo é que, a dignidade humana se
aplica aos mais diversos conflitos existentes no direito, e diz respeito ao tratamento com
o ser humano, em todas as classes sociais, em todas as regiões, religiões, filosofias e
políticas, não devendo haver distinção entre as pessoas.
A dignidade deve ser vista como valor primordial, núcleo dos direitos da
personalidade, dos direitos fundamentais e dos direitos humanos.
Para que haja aplicação deste princípio (da dignidade da pessoa humana) basta
ser um ser humano. Durante anos o ordenamento jurídico não conferiu o tratamento
digno a inúmeros grupos sociais, como os escravos, os negros, as mulheres, as pessoas
em situação de rua, índios, deficientes, idosos, dentre outros. Dessa forma, a dignidade
serve como valor primordial de uma sociedade, para conferir tratamento digno a todas
as pessoas, seja por meio de políticas públicas ou privadas, seja por meio de leis ou
ações afirmativas.
11
SZANIAWSKI, Elimar. Direitos da Personalidade e sua tutela. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2005.
12
PINHEIRO. Jorge Duarte. O Direito de Família Contemporâneo. AAFDL: Lisboa. 2013.
13
GOZZO, Débora. Ligeira, Wilson Ricardo (organizadores). Bioética e direitos fundamentais.
– São Paulo: Saraiva, 2012.p. 174-175.
3 CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
14
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A CONSTITUIÇÃO E O STF. [ADI 5.543, rel. min. Edson
Fachin, j. 11-5-2020, P, DJE de 26-8-2020.]
15
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A CONSTITUIÇÃO E O STF. [RE 670.422, rel. min. Dias
Toffoli, j. 15-8-2018, P, Informativo 911, RG, tema 761.]
manifestações país afora no sentido de proibir tal trabalho por meio de aplicativo,
barateando e facilitando o uso desse tipo de transporte pela população.
16
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A CONSTITUIÇÃO E O STF. [ADPF 449, rel. min. Luiz Fux,
j. 8-5-2019, P, DJE de 2-9-2019.]
Sobre a imunização da população pela vacina contra a Covid19:
17
[ARE 1.267.879, rel. min. Roberto Barroso, j. 17-12-2020, P,Informativo 1.003, Tema 1.103.]
18
[Rcl 38.782, rel. min. Gilmar Mendes, j. 3-11-2020, 2ª T, Informativo 998.]
SAIBA MAIS
Sobre a obrigatoriedade da vacina que protege contra a COVID 19, você já deve
ter lido na internet sobre a obrigatoriedade, ou não, de que as pessoas tomem a vacina,
não é mesmo?
Tema de extrema relevância ante a situação da Pandemia que se iniciou no final
de 2019 e atingiu o Brasil em Março de 2020. A vacina não pode ser coercitiva, ou seja,
não pode o poder público forçar o cidadão brasileiro a se vacinar, caso ele não queira.
Por outro lado, o poder público pode impedir a circulação dessas pessoas em aeroportos,
terminais rodoviários, posse de cargos públicos, dentre outras situações assemelhadas.
Fonte: COELHO, Gabriela. STF Forma Maioria pela obrigatoriedade da vacina contra Covid-19. CNN
Brasil Disponível em https://www.cnnbrasil.com.br/politica/2020/12/17/stf-forma-maioria-pela-
obrigatoriedade-da-vacina-contra-a-covid-19
#REFLITA #
“[...] para que a liberdade e o direito de acesso à informação seja o farol que ilumina
e assegura a transparência das ações estatais, indispensável uma crescente
participação da sociedade civil, no sentido de uma cidadania proativa. Sem a
pressão e mobilização constantes da sociedade civil, as disposições normativas
que asseguram ampla informação podem converter-se em "letra morta", e os
princípios que as motivam podem ser suplantados por interesses menos
democráticos”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
https://www.unifafibe.com.br/revista/index.php/direitos-sociais-politicas-
pub/article/view/610
https://www.indexlaw.org/index.php/rdb/article/view/5742
LIVRO
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23. ed. São Paulo:
Malheiros, 2004.
Plano de Estudo:
Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar os direitos fundamentais e sua relevância, bem como analisar quais
são os direitos fundamentais em espécie;
● Compreender as normas constitucionais e sua eficácia, a diferença entre norma
de eficácia plena, limitada e contida;
● Analisar a hermenêutica constitucional e os conflitos de direitos fundamentais no
ordenamento jurídico e a sua forma de resolução.
INTRODUÇÃO
Olá, caro estudante, tudo bem? Nesta unidade II nós vamos nos aprofundar mais
um pouquinho na matéria, analisando os direitos fundamentais dos cidadãos e a sua
aplicação no ordenamento jurídico. No capítulo 2 vamos estudar sobre a eficácia das
normas constitucionais, como a norma de eficácia plena, eficácia limitada e a eficácia
contida, e entender o porquê da doutrina trazer essa classificação para as normas de
direito brasileira. No capítulo 3 vamos estudar sobre a hermenêutica constitucional,
entender qual a sua relevância para o estudo da matéria e como aplicá-la no dia-a-dia
do aplicador do direito. No último capítulo vamos analisar as formas de resolução dos
conflitos de direitos fundamentais e como isso ocorre no dia-a-dia do operador do direito!
Bom estudo!
Imagem do Tópico:
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background-law-1723862368
[1] SILVA, José Afonso da. Apud. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado.
Saraiva, São Paulo:2021.
1
BRASIL. STF. (RE 603.583, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 26.10.2011, Plenário, Inf. 646/STF)
c) informam a concepção do Estado e da sociedade e inspiram sua
ordenação jurídica, mediante a atribuição de fins sociais, proteção dos
valores da justiça social e revelação dos componentes do bem comum;
d) constituem sentido teleológico para a interpretação, integração e
aplicação das normas jurídicas;
e) condicionam a atividade discricionária da Administração e do
Judiciário;
f) criam situações jurídicas subjetivas, de vantagem ou de desvantagem.2
2
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo: 2021.p.242
3
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo: 2021.p.243
3 DA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL
4
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo: 2021. p. 165
5
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo: 2021.p.167
concreto. Dessa maneira, a jurisprudência confere alterações na interpretação de
institutos legais. Exemplo que pode ser citado é o caso da união homoafetiva. Durante
anos no país houve dificuldade para que casais homoafetivos tivessem o casamento
reconhecido, conferindo direitos aos cônjuges e protegendo a família em caso de morte,
com aplicação dos institutos do direito sucessório. Vejamos abaixo a jurisprudência que
trata do caso:
O caput do art. 226 confere à família, base da sociedade, especial
proteção do Estado. Ênfase constitucional à instituição da família. Família
em seu coloquial ou proverbial significado de núcleo doméstico, pouco
importando se formal ou informalmente constituída, ou se integrada por
casais heteroafetivos ou por pares homoafetivos. A Constituição de 1988,
ao utilizar-se da expressão "família", não limita sua formação a casais
heteroafetivos nem a formalidade cartorária, celebração civil ou liturgia
religiosa. Família como instituição privada que, voluntariamente
constituída entre pessoas adultas, mantém com o Estado e a sociedade
civil uma necessária relação tricotômica. Núcleo familiar que é o principal
lócus institucional de concreção dos direitos fundamentais que a própria
Constituição designa por "intimidade e vida privada" (inciso X do art. 5º).
Isonomia entre casais heteroafetivos e pares homoafetivos que somente
ganha plenitude de sentido se desembocar no igual direito subjetivo à
formação de uma autonomizada família. Família como figura central ou
continente, de que tudo o mais é conteúdo. Imperiosidade da
interpretação não reducionista do conceito de família como instituição que
também se forma por vias distintas do casamento civil. Avanço da CF de
1988 no plano dos costumes. Caminhada na direção do pluralismo como
categoria sócio-político-cultural. Competência do STF para manter,
interpretativamente, o Texto Magno na posse do seu fundamental atributo
da coerência, o que passa pela eliminação de preconceito quanto à
orientação sexual das pessoas. União estável. Normação constitucional
referida a homem e mulher, mas apenas para especial proteção desta
última. (...) A referência constitucional à dualidade básica homem/mulher,
no § 3º do seu art. 226, deve-se ao centrado intuito de não se perder a
menor oportunidade para favorecer relações jurídicas horizontais ou sem
hierarquia no âmbito das sociedades domésticas. Reforço normativo a
um mais eficiente combate à renitência patriarcal dos costumes
brasileiros. Impossibilidade de uso da letra da Constituição para
ressuscitar o art. 175 da Carta de 1967/1969. Não há como fazer rolar a
cabeça do art. 226 no patíbulo do seu parágrafo terceiro. Dispositivo que,
ao utilizar da terminologia "entidade familiar", não pretendeu diferenciá-la
da "família". Inexistência de hierarquia ou diferença de qualidade jurídica
entre as duas formas de constituição de um novo e autonomizado núcleo
doméstico. Emprego do fraseado "entidade familiar" como sinônimo
perfeito de família. (...). (...) Ante a possibilidade de interpretação em
sentido preconceituoso ou discriminatório do art. 1.723 do CC/2002, não
resolúvel à luz dele próprio, faz-se necessária a utilização da técnica de
"interpretação conforme à Constituição". Isso para excluir do dispositivo
em causa qualquer significado que impeça o reconhecimento da união
contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como
família. Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e
com as mesmas consequências da união estável heteroafetiva.
[ADI 4.277 e ADPF 132, rel. min. Ayres Britto, j. 5-5-2011, P, DJE de 14-
10-2011.] = RE 687.432 AgR, rel. min. Luiz Fux, j. 18-9-2012, 1ª
T, DJE de 2-10-2012 Vide RE 646.721, rel. p/ o ac. min. Roberto Barroso,
j. 10-5-2017, P, DJE de 11-9-2017, Tema 4986
6
BRASIL. ADI 4.277. ADPF 132. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. STF. ADI 4.277 e ADPF 132, rel.
min. Ayres Britto, j. 5-5-2011, P, DJE de 14-10-2011.A Constituição Federal e o Supremo. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04.abr.2021.
de excesso (garantindo a manutenção de um mínimo de eficácia dos
direitos fundamentais), e específicos, destacando-se o postulado da
igualdade, o da razoabilidade e o da proporcionalidade.7
Em algumas situações pode ser que o exegeta se depare com normas de mesmo
valor normativo, mesmo grau hierárquico e de especialidade que tutelam um
determinado caso em concreto, mas que são contraditórias.
São os casos que tratam, por exemplo, de direitos fundamentais, em que as
normas que colidem são consideradas como direitos fundamentais e que se contradizem.
O exemplo clássico é o caso do conflito entre o direito à informação e o direito à
privacidade (que além de se caracterizar como direito fundamental é também direito da
personalidade).
Note-se que as regras são mais específicas que os princípios, possuindo assim
características para que haja a sua aplicação. Diante do conflito de regras, apenas uma
deverá prevalecer, se utilizando da ideia do “tudo ou nada”. A regra só não será aplicada
se o fato que a contempla for considerado como inválido, ou se existir outra norma mais
específica, ou se ainda não estiver em vigor. Nesses casos utilizaremos os critérios
hierárquico, da especialidade ou o cronológico.
No caso de colisão de princípios, estamos diante de um conflito de valores e
interpretações sobre preceitos normativos mais abstratos. Neste caso, a técnica utilizada
será a da ponderação ou balanceamento, sendo os princípios valorativos ou finalísticos.
Os princípios são mandamentos ou mandados de otimização, nas palavras de
Robert Alexy:
7
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva. São Paulo: 2021.p.169
normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível
dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes. Princípios são,
por conseguinte, mandamentos de otimização, que são caracterizados
por poderem ser satisfeitos em graus variados e pelo fato de que a
medida devida de sua satisfação não depende somente das
possibilidades fáticas, mas também das possibilidades jurídicas. O
âmbito das possibilidades jurídicas é determinado pelos princípios e
regras colidentes.8
8
R. Alexy, Teoria dos direitos fundamentais, p. 90-91 (trad. de Virgílio Afonso da Silva) (grifamos). Cf.,
também, sobre a distinção entre regras e princípios, L. V. A. da Silva, Princípios e regras: mitos e
equívocos acerca de uma distinção, Revista Latino-Americana de Estudos Constitucionais, p. 607-630
APUD. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo. Saraiva: 2021. p.170
portanto, de um mexerico, fofoca ou boato que, negligentemente, se
divulgava em cadeia nacional.”9
SAIBA MAIS
9
STJ, Recurso Especial 984.803/ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, 26.5.2009.
10
SCHREIBER, Anderson. Direitos da personalidade. São Paulo: Atlas, 2014.p.87
https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/302533403/tecnica-de-ponderacao-no-
novo-cpc-debate-com-o-professor-lenio-streck Acesso em 19.maio.2021
#SAIBA MAIS#
REFLITA
“O juízo de ponderação, pelo qual se busca realizar o justo, remete também à imagem
do ser demiúrgico, que empunha em cada mão a balança e a espada. Trata-se de ofício
reconhecidamente intrincado em dificuldades variadas, mas de elementar importância
para o cidadão e para a comunidade política na sua inteireza moral. Acaso se preferisse
que tal ofício fosse realizado por entidades super-humanas, mitológicas, como a deusa
Themis ou o extraordinário Hércules. No mundo real, é inevitável, porém, conviver com
o que toda empreitada humana tem de precário e de insuficiente, ainda que sob o alento
de que reconhecer limites e atentar para condicionantes favorece superações e propicia
giros evolutivos.”
Fonte: Branco, Paulo Gustavo Gonet Juízo de ponderação na jurisdição constitucional / Paulo
Gustavo Gonet Branco. — São Paulo : Saraiva, 2009. — (Série IDP). p.309
#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro estudante,
https://www.conjur.com.br/2016-dez-11/aborto-recepcao-equivocada-ponderacao-alexyana-st
LIVRO
BRASIL. STF. (RE 603.583, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 26.10.2011, Plenário, Inf.
646/STF)
BRASIL. ADI 4.277 e ADPF 132, rel. min. Ayres Britto, j. 5-5-2011, P, DJE de
14-10-2011.] = RE 687.432 AgR, rel. min. Luiz Fux, j.
18-9-2012, 1ª T, DJE de 2-10-2012 Vide RE 646.721, rel. p/ o ac. min. Roberto
Barroso, j. 10-5-2017, P, DJE de 11-9-2017, Tema 498
Plano de Estudo:
Objetivos de Aprendizagem:
● Demonstrar os conceitos dos princípios previstos na Constituição Federal de
1988;
● Demonstrar os objetivos fundamentais previstos na
Constituição Federal de 1988 e sua importância para a sociedade;
● Verificar a teoria que divide os direitos fundamentais em dimensões, ou
gerações, bem como entender o porquê dessa divisão doutrinária;
● Classificar os direitos fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988.
INTRODUÇÃO
Bom estudo.
Imagem do Tópico
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/brazil-flag-on-people-hands-
clenched-1488114530
Constituição Federal.
Até os dias atuais não se tem um conceito preciso um conceito único do que ser
a dignidade da pessoa humana porém temos por diversos aspectos históricos, por
diversas jurisprudências, diversos entendimentos diferentes sobre o princípio o que não
é a dignidade da pessoa humana. Como exemplos podemos citar o que aconteceu
durante a segunda guerra Mundial ( genocídio).
O tratamento conferido aos judeus e as demais pessoas que também foram
vítimas daquele sistema é o que podemos chamar de não respeito ao princípio da
dignidade da pessoa.
A discussão acerca da importância desse princípio iniciou muito antes da Segunda
Guerra Mundial iniciada pelos postulados cristãos e pela análise bíblica, eis que de
acordo com entendimentos doutrinários a dignidade da pessoa humana tratava do ser
em si, de tratar o ser humano como humano e ter um tratamento digno.
No entanto, questiona-se o que seria esse tratamento digno, ou o que é ter
dignidade. Sabe-se o que não é ter dignidade. Não ter dignidade, por exemplo, são as
pessoas que moram que estão em situações de extrema necessidade e que nem o
Estado nem as organizações sem fins lucrativos não conseguem tutelar os interesses
dessas pessoas. Sabemos que não é ter dignidade crianças que ainda trabalham para
ajudar os seus pais em casa.
Também não é dignidade a escravidão do homem que ainda acontece nos dias
atuais porém de forma diferenciada, de forma velada.
Dessa forma podemos tentar conceituar o princípio da dignidade humana como o
seguinte:
Tratar o ser humano de forma digna, um princípio que é núcleo dos direitos
fundamentais e dos direitos da personalidade e também dos direitos humanos, em que
deve ser respeitado independente da esfera, independente do caso a ser tratado. Nem
mesmo o entendimento de que o interesse público é maior do que o interesse privado
deve se sobressair em detrimento deste princípio da dignidade da pessoa humana.
Ou seja, o ser humano é a finalidade da própria lei sendo assim ele deve ser
tratado como tal de forma que seus direitos básicos e fundamentais não sejam violados
e nem deturpados.
1
BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Disponível em <<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>> Acesso em 04.abr.2021
justiça e solidariedade diferenciado. Por este motivo, muitos autores tratam as previsões
da constituição como um “dever-ser” jurídico. Algo que devemos buscar a todo custo.
A sociedade pautada pela liberdade das pessoas depende de políticas públicas e
privadas. Isso quer dizer que, mesmo que haja leis que criminalizam a escravidão, que
haja atividades dos membros do ministério do trabalho e do ministério público com a
finalidade de coibir o trabalho escravo, sempre temos novas concepções de trabalho
escravo no país. Veja-se os casos de escravidão moderna, em que mulheres e homens
trabalham sem as mínimas condições de trabalho, sem um salário mínimo digno. Os
direitos trabalhistas que foram alcançados ao longo dos tempos, através de infindáveis
lutas de sindicatos e grupos organizados, passaram a ser vistos na atualidade como
“pesos” ou obrigações na folha de pagamentos da empresa, que os empresários buscam
a todo momento diminuir e rechaçar do seu sistema.
Quando está-se diante de uma sociedade em que empresas, que não possuem
um grande poderio econômico, passam a enxergar o trabalhador como um “peso
tributário e trabalhista”, verifica-se que toda a busca por direitos trabalhistas (salário
mínimo digno e justo, carteira assinada, folga remunerada, 13º salário, férias, e outros
direitos) passa a ser diminuída, deixada de lado, sob o argumento de um “mercado livre”.
Note-se que, para que haja de fato um livre mercado é necessário que a mão de
obra qualificada seja bem remunerada. Em nada adianta defender um livre mercado,
com a flexibilização de normas trabalhistas se o que acontece na realidade é a supressão
de direitos do trabalhador brasileiro. Mesmo que as pessoas tenham o direito de escolha
entre trabalhar em uma empresa, ou não trabalhar, tem-se que pensar na necessidade
desse sujeito. Será que o sujeito poderia naquele momento dizer “não” à oferta de
trabalho indigna? ( Que não pague um salário mínimo? Que não tenha o reconhecimento
em carteira?)
A sociedade livre ainda está longe de ser alcançada. Nem todas as pessoas
possuem liberdade de escolha em relação ao trabalho; família, sociedade, dentre outros.
O que seria uma sociedade justa? Seria uma sociedade em que se aplicam os
conceitos de justiça, e que todos possuem o direito de buscá-la.
Outro tema que nos leva a debater acerca da sociedade livre e justa é a questão
dos direitos das mulheres. Você já se perguntou o porque temos o debate tão necessário
acerca do direito das mulheres? Por que nos últimos anos as redes sociais se preocupam
tanto com esse tema? As mulheres são realmente livres para tudo? Ainda existem
resquícios da sociedade patriarcal e machista quando se analisa o direito das mulheres?
Pense em alguma situação em que você enxergou uma mulher com menos
direitos que outras pessoas. Ou ainda que uma mulher passou por uma situação
extremamente vexatória, e que ninguém se manifestou a respeito.
Fala-se muito em “machismo estrutural”, mas você já leu sobre o tema? O
machismo estrutural advém da nossa sociedade patriarcal, e significa que ainda temos
pensamentos essencialmente machistas, que nem sempre percebemos como tal. A
sociedade livre e justa, mencionada no texto constitucional, ainda não conseguiu atingir
a liberdade plena para as mulheres. A mulher ainda se vê em situações em que deve
escolher entre o trabalho e a família; a obrigação de ter filhos; a obrigação em casar e
constituir família; a mulher deve ser “honesta’; a mulher não pode falar abertamente
sobre sexualidade; dentre outros “tabus’ que ainda vemos na sociedade.
Pesquise sobre o tema do feminismo, e o tema do feminismo negro e transexual.
A liberdade é um direito reconhecido, mas é amplamente aplicada e assegurada? Se a
liberdade de fato existe, porque as mulheres ainda estão em situações de medo, receio
de mostrar a sua voz, diminuição de seus direitos?
Ainda sobre a sociedade livre e justa; pense nos casos da comunidade LGBTQ+.
Se a liberdade de fato existe, porque ainda existem casos de casais homoafetivos e
pessoas transexuais que são violentados nas ruas do país? Por que é tão difícil que a
sociedade reconheça os direitos dessa comunidade? Apenas em 2010 o Supremo
Tribunal Federal julgou o caso que reconheceu a união civil dos casais homoafetivos.
Por que houve essa demora? E por que ainda não existe lei que reconheça
expressamente esse direito?
São muitas perguntas e poucas respostas.
A nossa sociedade brasileira ainda não possui a liberdade plena. Temos muito a
buscar e a lutar.
Antes de passar para o próximo tema, pense em alguma liberdade que você acha
que seria justo, mas que ainda não é reconhecida.
Por fim, a sociedade solidária. A solidariedade advém da análise das dimensões
ou gerações de direitos fundamentais, tema que iremos analisar nos próximos tópicos.
Ocorre que, a solidariedade também é um objetivo a ser buscado. Sendo objetivo
previsto no texto constitucional, há que se mencionar que a solidariedade também é
utilizada como fundamento para diversos casos de extrema relevância para nosso
ordenamento jurídico e sociedade. O caso das células tronco e a possibilidade de doação
de material genético para casais inférteis ou ainda para a pesquisa foi julgado com base
nesse valor do nosso texto constitucional.
A solidariedade também já foi utilizada para fundamentar decisões que tratam de
responsabilidade civil. Vejamos abaixo a decisão emblemática:
2
BRASIL. A constituição e o Supremo. ADI 1.003 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 1º-8-1994, P, DJ de 10-
9-1999 Disponível em <ttp://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04.
Abr.2021
estabelecido políticas públicas dentro de sua esfera de competência, a
União adotou medidas para o cumprimento de seus deveres
constitucionais e internacionais de proteção aos refugiados e imigrantes,
inclusive mediante repasse financeiro ao Estado Autor. 3
3
BRASIL. A constituição e o Supremo. [ACO 3.113, rel. p/ acórdão: Alexandre de Moraes, j.
13-10-2020, P, DJE de 16-12-2020] Disponível em
http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04. Abr.2021
4
BRASIL. A constituição e o Supremo. [ACO 3.121, rel. min. Rosa Weber, j. 13-10-2020, P,
DJE de 27-10-2020.] Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar
Acesso em 04. Abr.2021
pessoa humana dois de seus fundamentos (incisos II e III do art. 1º). Mais:
Constituição que tem por objetivos fundamentais erradicar a
marginalização e construir uma sociedade livre, justa e solidária (incisos
I e III do art. 3º). Tudo na perspectiva da construção do tipo ideal de
sociedade que o preâmbulo de nossa Constituição caracteriza como
"fraterna". O livramento condicional, para maior respeito à finalidade
reeducativa da pena, constitui a última etapa da execução penal,
timbrada, esta, pela ideia-força da liberdade responsável do condenado,
de modo a lhe permitir melhores condições de reinserção social.5
5
BRASIL. A constituição e o Supremo. [HC 94.163, rel. min. Ayres Britto, j. 2-12-2008, 1ª T, DJE de 23-
10-2009.] Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04.
Abr.2021
6
BRASIL. A constituição e o Supremo. [RE 450.855 AgR, rel. min. Eros Grau, j. 23-8-2005, 1ª T, DJ de 9-
12-2005.] Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04.
Abr.2021
micros e pequenos empresários, com o pagamento de tributos de forma simplificada, em
uma única guia.
O programa do Bolsa Família é um programa de transferência de renda no qual
as famílias de baixa renda recebem valores do Estado mensalmente para que tenham
como adquirir o mínimo possível para sua manutenção e sustento. Logicamente que as
famílias contempladas com o programa de transferência de renda necessitam comprovar
alguns requisitos, como a frequência às aulas dos filhos em idade escolar, renda mínima
mensal, dentre outros. Com essa transferência de valores a essas famílias consideradas
pobres automaticamente haverá maior fluxo na economia, pois as famílias irão comprar
bens e serviços no mercado regional.
O programa de incentivo ao emprego para o jovem, além de sua capacitação para
o trabalho também é meio e garantir o desenvolvimento nacional, eis que havendo
capacitação, ter-se-á mão de obra capacitada e salários melhores.
Veja que o desenvolvimento nacional está presente em diversas outras políticas
públicas que visam garantir o meio ambiente ecologicamente equilibrado, ou ainda o
acesso às universidade públicas, por meio de cotas, ou às universidades privadas, por
meio de bolsas de estudo.
Segue abaixo algumas decisões do Supremo Tribunal Federal que se utilizaram
desse objetivo da República Federativa do Brasil para julgar casos relevantes para a
sociedade:
A questão do desenvolvimento nacional (CF, art. 3º, II) e a necessidade
de preservação da integridade do meio ambiente (CF, art. 225): O
princípio do desenvolvimento sustentável como fator de obtenção do justo
equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia. O princípio
do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter
eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em
compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e
representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da
economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse
postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores
constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância
não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais
significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio
ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas,
a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações.7
7
BRASIL. A constituição e o Supremo. [ADI 3.540 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 1º-9-2005, P, DJ de 3-
2-2006.] Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04.
Abr.2021
8
BRASIL. A constituição e o Supremo. [Pet 3.388, rel. min. Ayres Britto, j. 19-3-2009, P, DJE de 1º-7-
2010.]
Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04. Abr.2021
Altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, introduzindo
artigos que criam o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza.
Art. 79. É instituído, para vigorar até o ano de 2010, no âmbito do Poder
Executivo Federal, o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, a ser
regulado por lei complementar com o objetivo de viabilizar a todos os
brasileiros acesso a níveis dignos de subsistência, cujos recursos serão
aplicados em ações suplementares de nutrição, habitação, educação,
saúde, reforço de renda familiar e outros programas de relevante
interesse social voltados para melhoria da qualidade de vida.
IV – dotações orçamentárias;
9
BRASIL. EMENDA CONSTITUCIONAL N.31 DE 2000. SITE DO PLANALTO. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc31.htm Acesso em 04.abr.2021
10
BRASIL. A constituição e o Supremo. [[ACO 3.113, rel. p/ acórdão: Alexandre de Moraes, j. 13-10-2020,
P, DJE de 16-12-2020] Disponível em << http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar
Acesso em 04. Abr.2021
é obrigatório, e não facultativo. O princípio da solidariedade é
constitucional e aplica-se nas relações entre os entes federados. (...) Há
precedentes internacionais no sentido de o Estado Federal arcar com
parcela dos gastos com os refugiados. Necessária a contribuição
financeira da União nos gastos do Estado de Roraima ante o incremento
com os serviços públicos prestados a refugiados. Tal se justifica pelos
princípios da razoabilidade, da proporcionalidade e da solidariedade, e
encontra fundamento na Constituição da República desde seu preâmbulo
e no conceito de “união indissolúvel”, bem como no disposto no art. 3º, I
e III, e, especificamente, no obrigatório auxílio que decorre do federalismo
cooperativo e competências de que trata o art. 23, além dos arts. 30, 144,
196, 205, e seus incisos, todos da Constituição Federal.11
2.4 Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade
e quaisquer outras formas de discriminação
11
BRASIL. A constituição e o Supremo. [ACO 3.121, rel. min. Rosa Weber, j. 13-10-2020, P, DJE de 27-
10-2020.]
Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04. Abr.2021
12
BRASIL. A constituição e o Supremo. [AI 630.997 AgR, rel. min. Eros Grau, j. 24-4-2007, 2ª T, DJ de 18-
5-2007.] Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04.
Abr.2021
Pode-se perceber que com esse objetivo o Estado busca a promover a justiça
para os grupos de pessoas que viveram durante toda a história brasileira sofrendo com
preconceitos de todos os tipos.
O reconhecimento e a representatividade dos negros, das mulheres, da
comunidade LGBTQ+ é meio de se promover o bem desses grupos e minorias sociais
que necessitam de amparo estatal. A decisão que reconhece o casamento homoafetivo
decorreu da aplicação desse valor às relações sociais.
Vejamos abaixo algumas decisões que se utilizaram desse objetivo previsto no
art.3º da CF/88:
Não se pode permitir que a lei faça uso de expressões pejorativas e
discriminatórias, ante o reconhecimento do direito à liberdade de
orientação sexual como liberdade existencial do indivíduo. Manifestação
inadmissível de intolerância que atinge grupos tradicionalmente
marginalizados.13
13
BRASIL. A constituição e o Supremo. [ADPF 291, rel. min. Roberto Barroso, j. 28-10-2015, P, DJE de
11-5-2016.]Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso em 04.
Abr.2021
do CC/2002, não resolúvel à luz dele próprio, faz-se necessária a
utilização da técnica de "interpretação conforme à Constituição". Isso
para excluir do dispositivo em causa qualquer significado que impeça o
reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do
mesmo sexo como família. Reconhecimento que é de ser feito segundo
as mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável
heteroafetiva.14
14
BRASIL. A constituição e o Supremo. [ADI 4.277 e ADPF 132, rel. min. Ayres Britto, j. 5-5-2011, P, DJE
de 14-10-2011.] Disponível em << http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar >>
Acesso em 04. Abr.2021
15
BRASIL. A constituição e o Supremo. [RE 670.422, rel. min. Dias Toffoli, j. 15-8-2018, P, Informativo
911, RG, tema 761.] Disponível em << http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar >>
Acesso em 04. Abr.2021
3 DAS DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
16
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo, Saraiva: 2021. p 1171
17
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo, Saraiva: 2021. p.1171
liberdades é a pessoa, os indivíduos, que podem exigir que o Estado cumpra o seu dever,
que é garantir esses direitos. “São faculdades ou atributos da pessoa, são direitos de
resistência ou de oposição perante o Estado”.18
Na segunda geração de direitos fundamentais tem-se a obrigação do Estado em
fazer, e não apenas em não atrapalhar o cidadão. É chamada de Estado providência, e
assim o Estado tem o dever de fornecer educação, assistência, saúde, moradia,
alimentação, dentre outros direitos básicos. A segunda geração de direitos é um marco
em várias discussões relacionadas aos direitos humanos. Dessa forma, tem-se o foco
na igualdade material, ou seja, meios que o Estado possui para efetivar o direito à
igualdade formal.
De nada adianta possuir a previsão em lei acerca da igualdade quando na prática,
no dia-a-dia, não existem meios eficazes de se garantir a igualdade real entre as
pessoas, daí falar-se em políticas públicas e privadas, em ações afirmativas, em
campanhas que conscientizem a população e de leis que buscam beneficiar empresas
que garantem acesso a certos grupos a suas vagas de trabalho.
A Revolução Industrial Européia, a partir do séc. XIX, inspira os direitos humanos
da 2º dimensão. As péssimas situações de trabalho durante a revolução industrial, os
salários baixos e a falta de direitos dos trabalhadores fizeram eclodir diversos
movimentos sociais que buscavam o reconhecimento de direitos trabalhistas. Os
movimentos mais famosos foram o cartista na Inglaterra e a Comuna de Paris .
Outro fato histórico é que no início do séc. XX ocorreu a Primeira Grande Guerra
e o reconhecimento e fixação de direitos sociais. “Essa perspectiva de evidenciação dos
direitos sociais, culturais e econômicos, bem como dos direitos coletivos, ou de
coletividade, correspondendo aos direitos de igualdade (substancial, real e material, e
não meramente formal), mostra-se marcante em alguns documentos”.19
“A Constituição do México, de 1917; a Constituição de Weimar, de 1919, na
Alemanha, conhecida como a Constituição da primeira república alemã; o Tratado de
18
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo, Saraiva: 2021. p.1171
19
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo, Saraiva: 2021. p. 1172
Versalhes, 1919 (OIT); no Brasil, a Constituição de 1934 (lembrando que nos textos
anteriores também havia alguma previsão).”20
Na terceira dimensão dos direitos fundamentais tem-se a titularidade coletiva ou
difusa dos direitos. Ou seja, estamos tratando do direito da coletividade, podendo ser um
número já preestabelecido de pessoas ou não. Por exemplo, o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado; Preservação do patrimônio público como um todo, são
direitos difusos.
Com a evolução da sociedade, outros problemas sociais surgem, como a
preservação do meio ambiente, os direitos dos consumidores, a preservação histórica
de patrimônios públicos e privados, dentre outros. Assim, o ser humano foi inserido em
uma coletividade, passando a ter direitos de solidariedade ou fraternidade. Os direitos
fundamentais de terceira dimensão também são chamados de direitos transindividuais,
pois ultrapassam a noção de um único ser humano, a necessidade de um único sujeito,
e passa a ter importância para uma coletividade de pessoas.
Lenza, citando Paulo Bonavides, descreve alguns dos direitos protegidos nessa
dimensão:
● direito ao desenvolvimento;
● direito à paz;
● direito ao meio ambiente;
● direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade;
● direito de comunicação.21
20
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo, Saraiva: 2021. p. 1172
21
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo, Saraiva: 2021. p.1173
4 DA CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS.
22
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Saraiva, São Paulo:2021. p.1170
Outra classificação dos direitos fundamentais diz respeito aos direitos de primeira,
segunda e terceira geração, conforme já estudamos no capítulo anterior.
SAIBA MAIS
GONÇALVES, Daniele Menengotti Gonçalves. Et al. Temas Atuais de Direitos da Personalidade. Humanita
Vivens. Maringá: 2015. Disponível em:
https://humanitasvivens.com.br/livro/f6b84f419dbc7c5.pdf Acesso em 15.abr.2021
#SAIBA MAIS#
REFLITA
“Os direitos fundamentais não podem ser utilizados como verdadeiro escudo protetivo
para possibilitar a prática de atividades ilícitas, tampouco como argumento para
afastamento ou diminuição da responsabilidade civil ou penal por atos criminosos, sob
pena de total consagração ao desrespeito a um verdadeiro estado democrático de direito.
Os direitos e garantias fundamentais consagrados pela CR, portanto, como já explanado,
não são ilimitados, uma vez que encontram limites nos demais direitos igualmente
consagrados pela Carta Magna (princípio da relatividade ou convivência das
liberdades públicas).”
Fonte: Padilha, Rodrigo. Direito Constitucional. – 6. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2020. p. 245.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
https://www.conjur.com.br/2019-set-16/direito-civil-atual-liberdade-expressao-direitos-
personalidade
LIVRO
• Título. GERMINAL
• Ano. 1993
• Sinopse.
“Um jovem sem trabalho se estabelece em Montsou, onde se torna mineiro e descobre
um mundo de homens condenados a sofrer pela falta de dinheiro. Com os problemas,
ele acaba se comprometendo com as causas socialistas.”
REFERÊNCIAS
BRASIL. A constituição e o Supremo. [HC 94.163, rel. min. Ayres Britto, j. 2-12-2008, 1ª T, DJE de 23-
10-2009.] Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar
Acesso em 04. Abr.2021
BRASIL. A constituição e o Supremo. [RE 450.855 AgR, rel. min. Eros Grau, j. 23-8-2005, 1ª T, DJ de 9-
12-2005.] Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar Acesso
em 04. Abr.2021
GONÇALVES, Daniele Menengotti Gonçalves. Et al. Temas Atuais de Direitos da Personalidade. Humanita
Vivens. Maringá: 2015. Disponível em Acesso em 15.abr.2021
Padilha, Rodrigo. Direito Constitucional. – 6. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020.
UNIDADE IV
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E DOS DIREITOS HUMANOS
Professora Mestre Jaqueline da Silva Paulichi
Plano de Estudo:
● Do art. 5º, CF: alcance, implicação e limites;
● Dos conceitos essenciais atrelados aos direitos humanos;
● Da positivação dos direitos humanos na Constituição Federal;
● Da Declaração Universal dos Direitos Humanos e tratados internacionais.
Objetivos de Aprendizagem:
● Analisar o art. 5 da CF/88 e sua aplicação e consequências no ordenamento
jurídico;
● Compreender os conceitos atrelados aos direitos humanos;
● Analisar a positivação dos direitos humanos na CF/88;
● Leitura e compreensão da Declaração Universal dos Direitos Humanos e
tratados internacionais.
INTRODUÇÃO
Caro estudante,
Chegamos à última unidade de direito constitucional e direitos humanos. Vamos
estudar sobre o art. 5º da Constituição Federal, os direitos fundamentais nele previstos,
o alcance desses direitos e as limitações de sua aplicação.
Vamos estudar também sobre alguns conceitos que estão atrelados ao estudo
dos direitos humanos, como o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à propriedade e à
segurança.
Logo após iniciaremos o estudo da positivação dos direitos humanos na
Constituição Federal de 1988, e finalizaremos com a análise dos tratados internacionais
de direitos humanos.
Imagem do Tópico
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/july-1-2019-brazil-woman-holds-
1440761711
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade [...]
Vamos analisar o art. 5º, iniciando pelos destinatários de sua aplicação: Há dois
grupos de destinatários expressos: brasileiros e estrangeiros residentes no país. Temos
direitos que são destinados a determinados grupos de brasileiros. Alguns direitos são
conferidos apenas a brasileiros natos, conforme previsto no art. 12 da Constituição
Federal de 1988. Apenas a CF/88 pode estabelecer diferenças entre o brasileiro nato e
o naturalizado. Vejamos abaixo a previsão:
1
STF HC 94404 2008
interno – União, Estados Federados, Distrito Federal e Municípios, e as pessoas jurídicas
de direito público externo.
Os direitos previstos na Constituição Federal de 1988 devem terá máxima
aplicação possível, eis que as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais
têm aplicação imediata, irradiando seus efeitos para todos os cidadãos. A aplicação
imediata significa que independe de lei infraconstitucional. A previsão do art. 5º da CF/88
trata do tema: § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata.
Porém, ressalte-se que o referido parágrafo não é absoluto, ou seja, o termo “em
lei” não confere uma aplicabilidade limitada, e sim uma aplicabilidade imediata. Assim,
quando a lei vem, ela é admitida para reduzir o alcance da lei. São normas de eficácia
contida. Podem ser usufruídas desde logo. Exemplo: Art. 5º inc. XXXII e XLI, aqui temos
uma aplicabilidade MEDIATA, temos normas programáticas.
Esses incisos revelam princípios gerais de hermenêutica. No inc. XXXII podemos
ver o in dubio pro consumidor. O Estado não verá apenas uma defesa específica, mas
ele sempre atuará em favor do consumidor.
Por outro lado, alguns doutrinadores defendem que necessita da atuação do
legislador. Essa corrente defende que o poder público deve conferir a maior eficácia
possível às normas constitucionais. Essas normas são presumivelmente de eficácia
plena ou contida que tem aplicabilidade imediata.
A aplicabilidade dos direitos fundamentais pode variar conforme a sua natureza.
Alguns direitos são de natureza prestacional, que necessitam de atuação positiva do
Estado, e consequentemente, a sua aplicabilidade é mais difícil, pois além da atividade
positiva do Estado é necessário um grande número de normas programáticas e a
necessidade de políticas públicas para a sua implementação, além dos recursos
financeiros para efetivá-lo. Dessa maneira, os direitos fundamentais de natureza
prestacional são aplicáveis na medida do possível e do razoável, a luz da teoria da
reserva do possível, ou a teoria da escolha trágica. Exemplo: o direito à saúde é direito
de todos e dever do Estado. No entanto, nem todas as pessoas conseguem efetivamente
o acesso à saúde. Assim, é necessário que haja a escolha de como os recursos serão
utilizados e quais setores devem receber primeiro esses recursos, para que não haja
aplicação incorreta ou injusta.
Ana Franco do Nascimento explica acerca da teoria da reserva do possível e o
direito à saúde nos seguintes termos:
2
NASCIMENTO, Ana Franco. Direito à saúde deve ser visto em face do princípio da reserva do possível
12 de fevereiro de 2017, 10h44. Conjur. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-fev-12/ana-
franco-direito-saude-visto-face-reserva-possivel. Acesso em 11.abr.2021.
3
FACHIN, Zulmar. Curso de Direito Constitucional. Gen/Forense. Rio de Janeiro: 2013. p.245
2 DOS CONCEITOS ESSENCIAIS ATRELADOS AOS DIREITOS HUMANOS
4
FACHIN, Zulmar. Curso de Direito Constitucional. Gen/Forense. Rio de Janeiro: 2013. p.247
Cabe ao Estado assegurar o direito à vida em sua dupla acepção, que é o
direito de nascer com vida, e o direito de permanecer vivo ou que o sujeito tenha
condições de ter uma vida digna. De acordo com o previsto no Código Civil Brasileiro,
o início da personalidade se inicia com o nascimento com vida, dotando-se a teoria
natalista. Ocorre que, os tratados internacionais de direitos humanos consideram o
início da proteção à vida a concepção.
Assim, para o direito brasileiro, a proteção à vida se inicia a partir da
concepção, porém a personalidade e a aquisição de direitos relativos aos direitos
personalíssimos se iniciam a partir do nascimento com vida.
Alexandre de Moraes explica sobre o tema:
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MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. Gen/Método. São Paulo: 2020. p. 34
pessoas, independente de seu sexo, religião, região, status social, dentre outros
aspectos.
Alexandre de Moraes ressalta que:
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MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. Gen/Método. São Paulo: 2020.p.35
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MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. Gen/Método. São Paulo: 2020.p. 35
aquisição desses bens pode se dar por meio de contrato de compra e venda, doação,
permuta, sucessão, dentre outros.. Qualquer sujeito é livre para ser proprietário de
bens, desde que não haja limitação legal.
A CF/88 prevê uma cláusula geral de propriedade, conforme previsão do art.
5º inc. XXII, sendo também um princípio da ordem econômica, conforme art. 170 inc.
II. A propriedade privada é um bem jurídico essencial à subsistência das pessoas.
Dessa maneira, existe no ordenamento jurídico brasileiro inúmeras formas de
se assegurar a propriedade privada, como exemplo cite-se o direito à usucapião.
Caso o proprietário de um imóvel não cuide do que é seu durante certo lapso
temporal, este poderá perder a sua propriedade em favor de outra pessoa.
Outro meio previsto na lei brasileira é a proteção ao bem de família conforme
inc. XXVI do art. 5º da CF/88. Na CF há previsão de que o único imóvel da família
terá proteção contra constrições judiciais, para que a família seja protegida.
Ainda, existem as restrições quanto ao direito de propriedade, como o direito
que o Estado possui para realizar as desapropriações ou requisições de interesse
público, desde que o proprietário seja indenizado.
Outras aplicações do direito de propriedade são: o direito de autor, direito de
marcas e patentes, direito à propriedade industrial, direito de herança, usucapião,
dentre outros.
Por fim, o direito à segurança, previsto constitucionalmente, possui ampla
acepção. Note-se que a segurança não diz respeito apenas a questões de segurança
pública, forças policiais e atos correlatos, mas também a segurança jurídica. Assim,
a doutrina nos ensina que o direito à segurança decorre dos princípios da legalidade,
da inviolabilidade de domicílio, de correspondência, dentre outros princípios que
asseguram o cidadão quanto a possíveis invasões e violações por parte do Estado e
poderes públicos.
O princípio da legalidade pressupõe que ninguém será obrigado a realizar algo
se não em virtude de lei, de ato ou contrato. Ou seja, caso não haja lei ou contrato
estabelecendo que o sujeito deve fazer algo, este não poderá ser obrigado a realizá-
lo. Este princípio possui aplicação em diversas áreas do direito, desde o direito
administrativo até o processo penal.
3 DA POSITIVAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL;
[1] Assembleia Geral da ONU. (1948). "Declaração Universal dos Direitos Humanos".
Paris.
1º: A inviolabilidade da pessoa; o ser humano é inviolável, o que abrange o seu direito
à vida e a integridade física, a vedação a tortura, e ao tratamento degradante, assim
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MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. Gen/Método. São Paulo: 2017
como a proibição de condição análoga a de escravo. A pessoa humana não pode ser
submetida a sacrifícios que irão resultar em benefícios, sejam patrimoniais ou pessoais,
a outra pessoa. Ou seja, o ser humano deve ser considerado como um fim em si mesmo,
e não como meio para se atingir algum outro resultado.
2º: A autonomia da pessoa; o ser humano é livre para ir e vir, para ter a liberdade de
pensamento, liberdade religiosa, de convicções políticas e ideológicas. Assim, pode-se
inferir que o sujeito é livre para fazer suas escolhas, desde que não interfira no direito de
outros.
A autonomia da pessoa é um princípio previsto em todo ordenamento jurídico
brasileiro. Por exemplo, no direito civil existe a previsão acerca da autonomia para
contratar, ser contratado, liberdade para estabelecer suas obrigações, casamento,
regime de bens, sucessões, dentre outros. Assim, a autonomia da vontade, ou liberdade,
é um importante princípio que regulamenta o direito brasileiro.
3º: O terceiro princípio básico que podemos extrair é o da dignidade da pessoa
humana, que por sua vez é o núcleo rígido de todos os demais direitos da personalidade,
direitos fundamentais, dentre outros. Dessa forma, a dignidade da pessoa humana traz
o fundamento dos direitos humanos, e a partir dele podemos interpretar diversas outras
normas jurídicas e definir sua aplicabilidade conforme o que é melhor ao ser humano.
Leia abaixo importante trecho de artigo publicado por Flávia Piovesan acerca da
dignidade da pessoa humana:
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PIOVESAN. Flávia. DIREITOS HUMANOS, O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA E A
CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988. Revista dos Tribunais | vol. 833/2005 | p. 41 - 53 | Mar / 2005
Doutrinas Essenciais de Direitos Humanos | vol. 1 | p. 305 - 322 | Ago / 2011 Doutrinas Essenciais de
Direito do Trabalho e da Seguridade Social | vol. 1 | p. 511 - 528 | Set / 2012 DTR\2005\203
4 DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS E TRATADOS
INTERNACIONAIS
O parágrafo 3º da CF/8[1]
Art. 5º, LXVII: “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável
pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e
a do depositário infiel”.
Art. 7º. (...) § 7º: “Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não
limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em
virtude de inadimplemento de obrigação alimentar”. [1]
[1] Organização dos Estados Americanos, Convenção Americana de Direitos Humanos (“Pacto
de San José de Costa Rica”), 1969
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(RE 349703, Rel. p/ Acórdão Min. GILMAR MENDES, Pleno, j. em 03/12/2008). Vide
ainda: RE 466343, j. em 03/12/2008
[1] Assembleia Geral da ONU. (1948). "Declaração Universal dos Direitos Humanos".
Paris.
Artigo 2
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as
liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer
espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de
outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou
qualquer outra condição.
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Informações de https://nacoesunidas.org/acao/direito-internacional/
SAIBA MAIS
#SAIBA MAIS#
REFLITA
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da
lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a
tirania e a opressão,[...]”
Assembleia Geral da ONU. (1948). "Declaração Universal dos Direitos Humanos". Paris.
#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro aluno, chegamos ao fim de mais uma unidade. Aprendemos nesta última
apostila acerca dos direitos fundamentais e direitos humanos, analisando o significado
de alguns termos relevantes.
Analisamos o alcance do art. 5º da Constituição Federal de 1988, bem como seus
destinatários, e quais as limitações de aplicação de direitos aos estrangeiros residentes
e não residentes no país.
Vimos também a aplicação dos tratados internacionais que versam sobre direitos
humanos e a formalidade para que tenham o status constitucional no país.
Estudamos os principais conceitos atrelados aos direitos fundamentais e direitos
humanos, como direito à vida, à liberdade, à igualdade, à propriedade e à segurança.
Compreendemos também a diferença entre direitos humanos e direitos fundamentais,
garantias e direitos previstos na Constituição Federal, assim como os conceitos
correlatos.
Por fim, analisamos alguns trechos da Declaração Internacional de Direitos
Humanos. Leia a declaração no link sugerido e reflita sobre as normas dispostas no
documento, é de extrema importância que você aplique os conceitos aprendidos no dia-
a-dia.
Até a próxima!
LEITURA COMPLEMENTAR
Fonte:
SARLET, Ingo Wolfgang. CONJUR. DIREITOS FUNDAMENTAIS. Em tempos de reformas é
bom lembrar que existe a dignidade da pessoa humana.22 de novembro de 2019 Disponível em <
https://www.conjur.com.br/2019-nov-22/direitos-fundamentais-bom-lembrar-existe-dignidade-pessoa-
humana> Acesso em 20.maio.2021
LIVRO
NASCIMENTO, Ana Franco. Direito à saúde deve ser visto em face do princípio da
reserva do possível. 12 de fevereiro de 2017, 10h44. Conjur. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2017-fev-12/ana-franco-direito-saude-visto-face-reserva-
possivel. Acesso em 11.abr.2021.
Percebe-se que o direito constitucional evoluiu com o passar das décadas, assim
como a sociedade, mas sempre atrelado aos conceitos básicos de dignidade da
pessoa humana, além de se preocupar com o reconhecimento de outras normas
que não estruturam o Estado, mas sim que reconhecem os direitos fundamentais
com status constitucional.
Assim, quando houver conflito entre normas constitucionais, deverá ser utilizada
a técnica da ponderação, no qual se analisa o caso concreto para depois se
estabelecer qual a solução aplicável ao caso.
Até a próxima!