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CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA

Os quatro acusados são membros da Sociedade Espeleológica - uma organização de exploração de


cavernas. Em princípios de maio do ano de 4299, os exploradores, em companhia de Roger Whetmore (também
membro da Sociedade), entraram no interior de uma caverna de rocha calcária do tipo que se encontra no
Planalto Central do País X.
Já bem distantes da entrada da caverna, ocorreu um desmoronamento de terra: pesados blocos de pedra
foram projetados de maneira a bloquear completamente a sua única abertura. Quando os homens se deram
conta da situação difícil em que se achavam, se concentraram próximo à entrada obstruída, na esperança de que
uma equipe de socorro removesse o entulho que os impedia de deixar a prisão subterrânea. Não voltando
Whetmore e os acusados às suas casas, o secretário da Sociedade foi notificado pelas famílias dos acusados. Os
exploradores haviam deixado indicações, na sede da Sociedade, concernentes à localização da caverna que se
propunham visitar. A equipe de socorro foi prontamente enviada ao local.
A tarefa de resgate revelou-se extremamente difícil, tendo em vista a remota e isolada região, o que
demandava elevados gastos. O trabalho de desobstrução foi muitas vezes frustrado por novos deslizamentos de
terra. Os exploradores tinham levado consigo poucos alimentos e também não havia substância animal ou
vegetal na caverna que lhes permitisse subsistir.
No 20º dia, os exploradores de caverna não tinham mais nada para comer. No 25º dia, Whetmore foi o
primeiro a propor que buscassem alimento na carne de um dentre eles, acreditando que, se não fosse assim, a
sobrevivência seria impossível. Foi também Whetmore quem primeiro propôs a forma de tirar a sorte,
chamando a atenção dos acusados para um par de dados que casualmente trazia consigo. Os acusados,
inicialmente, hesitaram adotar um comportamento tão desatinado, mas, após o diálogo acima relatado,
concordaram com o plano proposto. E chegaram a um acordo sobre o método a ser empregado para a solução
do problema: os dados.
Entretanto, antes que estes fossem lançados, Whetmore declarou que desistia do acordo, pois havia
refletido e decidido esperar outra semana antes de adotar um expediente tão terrível e odioso quanto o
canibalismo. Os outros o acusaram de violação do acordo e procederam ao lançamento dos dados. Quando
chegou a vez de Whetmore, um dos acusados atirou-os em seu lugar, ao mesmo tempo em que lhe pediu para
levantar quaisquer objeções quanto à correção do lance. Ele declarou que não tinha objeções a fazer. Tendo-lhe
sido adversa a sorte, fora então morto e sua carne serviu de alimento para os demais exploradores de caverna.
Após alguns poucos dias, a equipe de resgate conseguiu chegar até eles e os exploradores sobreviventes
foram libertados. Depois, foram acusados pelo homicídio de Whetmore.

Pergunta-se: qual a coisa certa a fazer? Absolver os acusados ou condená-los?


CASO GERALD THOMAS

Gerald Thomas é um famoso diretor de teatro brasileiro, cujas peças teatrais são conhecidas
pelas polêmicas que provocam.

No dia 17 de agosto de 2003, às duas horas da madrugada, Gerald Thomas concluiu a


apresentação de mais uma peça – uma adaptação de “Tristão e Isolda” –, que dirigiu no Teatro
Municipal do Rio de Janeiro. Ao invés de ouvir os tradicionais aplausos, Gerald Thomas foi vaiado
pelo público, que não havia gostado da peça.

Como forma de protesto pelas vaias que recebia, o diretor de teatro simulou ato de
masturbação no palco e, ato contínuo, virou de costas para o público, abaixou as calças até o joelho,
arriou a cueca e exibiu suas nádegas para os espectadores que ali se encontravam. A lamentável
cena foi, inclusive, filmada, tendo gerado ampla repercussão após ser divulgada em cadeia nacional
por diversas redes de televisão.

O caso foi parar na polícia. Gerald Thomas foi acusado da prática de “ato obsceno”, crime
tipificado no art. 233 Código Penal brasileiro: “praticar ato obsceno em público ou aberto ou
exposto ao público: pena, de detenção de três meses a um ano, ou multa”.

Não conseguindo barrar o trâmite da ação penal nas instâncias ordinárias, Gerald Thomas
ingressou com pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal, alegando que a perseguição
penal violava o seu direito à liberdade artística e de expressão.

Tratar-se-ia de liberdade de expressão ou crime? A sociedade moderna dispõe de


mecanismos próprios e adequados, como a própria crítica, para esse tipo de situação, dispensando-
se o enquadramento penal?

Pergunta-se: qual a coisa certa a fazer? Absolver o Sr. Gerald ou condená-lo?


CASO DO LANÇAMENTO

O “lançamento de anões” (em inglês: “dwarf tossing”, “dwarf throwing”; em francês:


“lancer de nains”) é uma brincadeira (ou esporte, para alguns) na qual pessoas com nanismo,
vestindo roupas de proteção, são arremessadas em direção a um tapete acolchoado, vencendo
aquele que conseguir lançar a pessoa na maior distância possível.

Ocorre que, em uma cidade X, a Prefeitura, utilizando seu poder de polícia, resolveu
interditar um bar onde era praticado o referido lançamento, argumentando que aquela atividade
violava a ordem pública, pois era contrária à dignidade da pessoa humana.

Não se conformando com a decisão do Poder Público, o Sr. Gomes (pessoa com
nanismo) questionou a interdição, argumentando que necessitava daquele trabalho para a sua
sobrevivência. Argumentou ainda que o direito ao trabalho e à livre iniciativa também seriam
valores protegidos pelo direito francês e, portanto, tinha o direito de decidir como ganhar a vida.

Em outubro 1995, o tribunal, órgão máximo da jurisdição daquele país, decidiu, em grau
de recurso, que o poder público municipal estaria autorizado a interditar o estabelecimento
comercial que explorasse o lançamento de pessoas com nanismo, pois aquele espetáculo seria
atentatório à dignidade da pessoa humana e, ao ferir a dignidade da pessoa humana, violava
também a ordem pública, fundamento do poder de polícia municipal.

O Sr. Gomes, mais uma vez inconformado, recorreu ao Comitê de Direitos Humanos da
ONU, alegando que a decisão seria discriminatória e violava o seu direito ao trabalho.

Pergunta-se: o que é a coisa certa a fazer? Estaria o Município X com razão ou é a


pretensão do Sr. Gomes que deve ser acatada?

Acusação: advogados do Município X

Defesa: advogados do Sr. Gomes


CASO DO PEEP-SHOW

Na Alemanha, discutia-se a possibilidade de se conceder uma licença de funcionamento para


um estabelecimento onde se praticava o chamado “peep-show”, no qual uma mulher, dança,
completamente sem roupas, em uma cabine fechada, mediante remuneração, para um espectador
individual que assiste ao show. O espectador só pode assistir ao show, não pode conversar com a
mulher ou tocar nela.

A licença de funcionamento do estabelecimento não fora concedida administrativamente sob


o argumento de que aquela atividade seria degradante para mulher e, portanto, violava a dignidade
da pessoa humana. Em razão disso, os donos do estabelecimento ingressaram com ação judicial
questionando o ato administrativo. Eles argumentavam que a mulher estaria realizando aquele
trabalho por livre e espontânea vontade. Logo, não havia que se falar em violação à dignidade da
pessoa humana. Seria um trabalho como qualquer outro. Sustentaram ainda que várias boates onde
se praticava o strip-tease obtiveram a devida licença de funcionamento, razão pela qual o peep-
show também deveria ser permitido.

O caso chegou até a Corte Constitucional Alemã (TCF), que deveria decidir se merecia
prevalecer a autonomia da vontade da mulher, que estava ali voluntariamente, por escolha própria,
ou a dignidade da pessoa humana, já que aquela atividade colocava a dançarina na condição de
mero objeto de prazer sexual.

Pergunta-se: qual a coisa certa a fazer? Teria razão a Administração Pública que vedou o peep-show
ou os donos do estabelecimento estariam corretos?

Acusação: advogados da Administração Pública


Defesa: donos do estabelecimento

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