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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 7ª VARA

CRIMINAL DE CASCAVEL – ESTADO DO PARANÁ

Autos nº _______

ADROALDO DE LIMA, brasileiro, (estado civil), filho de _____, nascido no dia


____, portador da cédula de identidade nº 99.989.899-9, com residência à Rua General
Osório, nº 989, Cascavel/PR, vem, diante de seu advogado que esta subscreve, mui
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 316 do CPP, apresentar o
pedido de

REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA

DOS FATOS
O requerente ADROALDO DE LIMA, no dia 04 de junho de 2022, foi abordado,
dentro de seu carro, após receberem informação que um Vectra prata estava realizando o
tráfico de substâncias entorpecentes. Na referida abordagem do indiciado Adroaldo, foi
encontrado no bolso de sua calça um invólucro de cor branca, dentro uma substância análoga
à cocaína, de modo que, os policias se dirigiram até seu estabelecimento comercial, localizado
na Rua General Osório, nº 989, o qual mesmo fechado foi obrigado a abrir para a revista do
local, onde foi encontrado na gaveta do caixa, uma sacola de cor branca, contendo 2 gramas
de cocaína.
Dado voz de prisão em flagrante, Adroaldo foi encaminhado à Delegacia Policial de
Cascavel, sendo lavrado o Boletim de Ocorrência e realizado os devidos interrogatórios.
Após comunicado a Prisão em flagrante, o juiz plantonista entendeu pela conversão da
Prisão em Flagrante para a Prisão Preventiva, fundamentando-se na inadequação das medidas
cautelares, alegando haver autoria suficiente da prova do crime, além do perigo gerado a
sociedade na liberdade do imputado, ademais, entrou no assunto do tráfico de drogas ser
impossível a conversão de pena em restritiva de direito, com base no artigo 44 da Lei
11.343/2006.
Por deixar de se alinhar a prisão preventiva aos fundamentos lançados, passa a expor
suas razões.

DAS RAZÕES DE REVOGAÇÃO


Recebido o Auto de Prisão em Flagrante, este juízo entendeu por sua homologação e
conversão em prisão preventiva, fundamentado, em linhas gerais, que o flagrante representava
indícios suficientes da autoria do crime, alegando que MANOEL DE SOUZA teria
confirmado ter adquirido a droga com a pessoa de ADROALDO, além de apresentar prova
material suficiente para existência do crime de tráfico, além do perigo social de deixar
Adroaldo livre, visto que, existiu uma sentença transitada em julgado no ano de 2001.
Não se olvidando o entendimento do nobre magistrado, tais fundamentos não
preenchem os requisitos da prisão preventiva no presente caso.
Primeiramente em razão de que não há quaisquer indícios de autoria do crime, eis que
já no interrogatório, do também preso em flagrante MANOEL DE SOUZA, nega ter
adquirido a droga com Adroaldo, “Em seu depoimento prestado na presença do Delegado de
Polícia, Manoel nega que teria adquirido de Adroaldo a droga”. Sendo assim, já se mostra
afastado o requisito do Fumus Comissi Delicti.
Agora, quanto ao art. 312 do CPP, existem 3 requisitos necessários para ensejar a
Prisão Preventiva, como garantia da ordem pública:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública,
da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.

Sendo assim, esses 3 requisitos são indispensáveis para a conversão da prisão em


flagrante, tal qual, primeiro, o indício suficiente de autoria é invalidado neste caso, visto
anteriormente que MANOEL DE SOUZA negou ter adquirido as drogas de ADROALDO,
ademais, o perigo gerado a sociedade também não se enquadra neste caso, visto que, vossa
excelência teria fundamentado na ideia de Adroaldo ser reincidente, contudo, já se passaram 5
(cinco) anos da condenação anterior até a prática do novo delito, de forma que, perante o art.
64, I, do CP, não se pode tratar de reincidência.
Além do mais, a jurisprudência brasileira entende a gravidade do crime como fator
fundamental para a concessão da Prisão Preventiva, de modo que, com base nos diversos
julgados do mesmo ilícito penal, a gravidade se da de maneira diversa da presente.
“A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a existência de indícios
de autoria e prova da materialidade do delito, bem como o juízo valorativo sobre a
gravidade genérica do crime imputado ao paciente e sua periculosidade abstrata, não
constituem fundamentação idônea a autorizar a prisão cautelar, se desvinculados de
qualquer valor concreto ensejador da configuração dos requisitos do art. 312 do
CPP.” (HC 245703- MG, 5ª.T., Rel. Gilson Dipp, 28.08.2012, v.u.)”

Quanto ao artigo 312, Guilherme de Souza Nucci, em seu Código de Processo Penal
Comentado, esclarece que (pág. 670):
“extrai-se da jurisprudência o seguinte conjunto de causas viáveis para autorizar a
prisão preventiva, com base na garantia da ordem pública: a) gravidade concreta do
crime; b) envolvimento com o crime organizado; c) reincidência ou maus
antecedentes do agente e periculosidade; d) particular e anormal modo de execução
do delito; e) repercussão efetiva em sociedade, gerando real clamor público”. O
ideal é a associação de, pelo menos, dois desses fatores,”

Diante de tal explicação, nota-se que exigem ao menos 02 dos elementos caracterizadores
para decretar a prisão preventiva, vamos aos fatos:
a) Quanto a gravidade concreta do crime, vemos que o tráfico de drogas geralmente se da
de modo mais sorrateiro, escondido, e muitas vezes existe a presença de armamentos
em bocas de fumo, em becos escuros, sendo que, no presente caso, foi encontrado
dentro do bolso da imputado pouquíssima quantidade da droga, contrário ao que se vê
geralmente em outros julgados.
b) ADROALDO, não faz e nunca fez parte do crime organizado, já que adquire a droga
apenas para consumo próprio, não sendo voltado a comercialização. Ademais, o
mesmo possui sua renda vinda do seu estabelecimento, com a venda de bebidas, etc,
além de residência fixa.
c) Como dito anteriormente, o réu apresenta uma sentença transitada em julgado no ano
de 2001, passados 05 anos, não se enquadra mais como reincidente.
d) Quanto ao modo de execução, o tráfico se quer existiu, de modo que, a pouquíssima
quantidade de droga, certamente o enquadraria no artigo 28 da Lei 11.343/2006.
e) O caso apresentado não alcançou nenhuma repercussão social, e em nada alterou a
credibilidade da Justiça e do sistema penal.
Dessa forma, pela análise minuciosa dos requisitos básicos para a promoção da prisão
preventiva, está claro que o requerente não apresenta nenhum risco à ordem pública.
Corrobora neste entendimento o julgamento do HC 94404-SP, Rel. Min. CELSO DE
MELLO, DJe-110, divulgado em 17.06.2010 e publicado 18.06.2010, cujo trecho está abaixo
transcrito:
A PRISÃO PREVENTIVA - ENQUANTO MEDIDA DE NATUREZA
CAUTELAR - NÃO PODE SER UTILIZADA COMO INSTRUMENTO DE
PUNIÇÃO ANTECIPADA DO INDICIADO OU DO RÉU. - A prisão preventiva
não pode - e não deve - ser utilizada, pelo Poder Público, como instrumento de
punição antecipada daquele a quem se imputou a prática do delito, pois, no sistema
jurídico brasileiro, fundado em bases democráticas, prevalece o princípio da
liberdade, incompatível com punições sem processo e inconciliável com
condenações sem defesa prévia. (...) A GRAVIDADE EM ABSTRATO DO CRIME
NÃO CONSTITUI FATOR DE LEGITIMAÇÃO DA PRIVAÇÃO CAUTELAR
DA LIBERDADE. - A natureza da infração penal não constitui, só por si,
fundamento justificador da decretação da prisão cautelar daquele que sofre a
persecução criminal instaurada pelo Estado. Precedentes. A PRESERVAÇÃO DA
CREDIBILIDADE DAS INSTITUIÇÕES E DA ORDEM PÚBLICA NÃO SE
QUALIFICA, SÓ POR SI, COMO FUNDAMENTO AUTORIZADOR DA
PRISÃO CAUTELAR. - Não se reveste de idoneidade jurídica, para efeito de
justificação do ato excepcional da prisão cautelar, a alegação de que, se em
liberdade, a pessoa sob persecução penal fragilizaria a atividade jurisdicional,
comprometeria a credibilidade das instituições e afetaria a preservação da ordem
pública. Precedentes. A PRISÃO CAUTELAR NÃO PODE APOIARSE EM
JUÍZOS MERAMENTE CONJECTURAIS. - A mera suposição, fundada em
simples conjecturas, não pode autorizar a decretação da prisão cautelar de qualquer
pessoal (...) O CLAMOR PÚBLICO NÃO BASTA PARA JUSTIFICAR A
DECRETAÇÃO DA PRISÃO CAUTELAR. - O estado de comoção social e de
eventual indignação popular, motivado pela repercussão da prática da infração
penal, não pode justificar, só por si, a decretação da prisão cautelar do suposto autor
do comportamento delituoso, sob pena de completa e grave aniquilação do postulado
fundamental da liberdade (...) O POSTULADO CONSTITUCIONAL DA
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA IMPEDE QUE O ESTADO TRATE, COMO SE
CULPADO FOSSE, AQUELE QUE AINDA NÃO SOFREU CONDENAÇÃO
PENAL IRRECORRÍVEL. (...)
Desta maneira, evidente que a prisão cautelar não pode ficar como punição antecipada
do indiciado, tal punição, mais gravosa do que realmente se enquadraria no caso, na pior das
hipóteses, a punição presente no artigo 28 da Lei de Drogas.
Via de regra, seguindo o Princípio constitucional da presunção da inocência, entende-
se que a liberdade deve ser o primeiro passo a ser verificado antes da Prisão preventiva, neste
sentido: “O decreto de prisão preventiva há que fundamentar-se em elementos fáticos
concretos, que demonstrem a necessidade da medida constritiva” (STF, HC 101.244-MG, 1ª
T., rel. Ricardo Lewandowski, 16.03.2010, v.u.).
Exatamente nenhuma das fundamentações do exímio magistrado se enquadram para a
presença do Periculum Libertatis, de modo que, sequer era investigado o indiciado pela
prática do crime, sendo abordado somente pela descrição do carro feita por MANOEL.
Por último, mas não menos importante, percebe-se que ADROALDO foi obrigado a
abrir o bar no período noturno, de modo que, segundo o art. 245 do CPP, as buscas em
domicílio deverão ser feitas no período diurno, ou sob o consentimento do morador, o que no
presente caso não aconteceu.
Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador
consentir que realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa, os executores
mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em
seguida, a abrir a porta.

Sendo assim, devido aos elementos faltantes para qualificar a prisão preventiva,
pugna-se no sentido de ser cessada a privação de liberdade imposta.

DO REQUERIMENTO
Diante dos fatos expostos, requer que seja concedido o pedido de Revogação da Prisão
Preventiva com fulcro no art. 316 do CPP, com a imediata lavra do competente alvará de
soltura do Requerente.

Nestes termos,

Perde deferimento.

Toledo, 07 de junho de 2022

João Vitor Geller


OAB/PR nº 99.999

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