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ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS

SD 2ª CL LUCAS CANDIDO (1868223)


SD 2ª CL MAIK LOPES (1866284)
SD 2ª CL SAMARONE (1870765)
SD 2ª CL SAMUEL ARAUJO (1856079)
SD 2ª CL PRATES (1869064)

VALIDADE DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS

Disciplina: Direito Penal


Prof.: Cel. Antenor Ferreira de Sousa Filho

Belo Horizonte
2024
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1 INTRODUÇÃO

Um policial militar desempenha um papel crucial na manutenção da ordem e segurança


pública em uma comunidade. Sua principal função é proteger e servir à população, garantindo
a aplicação das leis e prevenindo crimes.
No desempenho de suas funções, os policiais militares devem agir de acordo com os
princípios de legalidade, imparcialidade e respeito aos direitos humanos, ter conhecimento dos
aspectos normativos, doutrinários e jurisprudenciais ligados à validade da lei penal em relação
às pessoas, como por exemplo, diferenciar prerrogativas e privilégios, identificar as pessoas
detentoras de imunidade e diferenciar as imunidades absoluta e relativa. Desta forma, o policial
militar estará aparado com fundamentos legais para atuar, evitando, até mesmo, brechas na lei.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Aspectos normativos, doutrinários e jurisprudenciais ligados à validade da lei


penal em relação às pessoas

A validade da lei penal em relação às pessoas significa que a lei se aplica a todos de
forma igual, sem discriminação. Isso implica que as leis penais são válidas e devem ser
respeitadas por todas as pessoas, independentemente de sua posição social, econômica, política
ou qualquer outra característica pessoal.
As leis penais visam garantir a ordem e a segurança da sociedade, além de proteger os
direitos individuais de cada pessoa. Há, no entanto, pessoas que em virtude de suas funções ou
em razão de regras internacionais, desfrutam de imunidades. Isto é, longe de ser uma garantia
pessoal, trata-se de necessária prerrogativa funcional, proteção ao cargo ou função
desempenhada pelo seu titular.
Assim, é necessário que o policial militar conheça de forma mais aprofundada os
aspectos legais ligados à validade da lei penal em relação às pessoas, prerrogativas e privilégios,
para atuar com segurança nas ocorrências mais complexas, bem como nas que envolvem
autoridades.

2.2 Prerrogativas e privilégios

As imunidades diplomáticas baseiam-se nos fundamentos na Convenção de Viena,


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assinada em 18 de abril de 1961, aprovado pelo Decreto Legislativo n° 103 de 1964, além de
ser ratificada em 23 de fevereiro de 1965. Tais imunidades foram criadas para garantia do
extremo respeito ao Estado, bem como possibilitar que as pessoas possam exercê-las de maneira
eficaz. A imunidade é válida somente para os países que compartilham da Convenção, como é
o caso do Brasil, ou que garantam reciprocidade. Assim, é aplicado o tratamento com os
brasileiros que residem em função internacional, que se encontram fora do país.
A imunidade não deve ser reconhecida como um benefício ou privilégio pessoal, mas
sim como uma prerrogativa funcional, pois só serão do alcance de pessoas com certas funções
ou atividades determinadas. No caso da imunidade diplomática visa responder para o país de
destino um delito cometido no Brasil (Oliveira Neto, 2022).
A concessão de privilégios a representantes diplomáticos, relativamente aos atos por
eles praticados, é antiga praxe no direito das gentes, fundando-se no respeito e consideração ao
Estado que representam e na necessidade de cercar sua atividade de garantia para o perfeito
desempenho de sua missão diplomática. Como dizia, Montesquieu que os agentes diplomáticos
são a palavra do príncipe que representam e essa palavra deve ser livre (Oliveira; Prado, 2016
apud Oliveira Neto, 2022).
Deste modo, tal prerrogativa possibilita que seja aplicada a lei do país de origem do(a)
diplomata, ou seja, independentemente da natureza do crime cometido, mesmo que as ações
realizadas sejam contra o presidente da república ou na tentativa contra a vida de outrem em
território brasileiro, serão aplicadas as penalidades de seu país de origem. Ainda, o Brasil não
tem a responsabilidade nem leva em conta o tipo da pena que será empregada ao réu. Ao
verificar essas considerações, tudo fica passível de crítica, pois a entrega de alguém a um país
para que seja penalizado se assemelha com os princípios da extradição.

2.3 As pessoas detentoras de imunidades

A lei Penal não se aplica em crimes praticados no Brasil por pessoas que exerçam
funções internacionais. Isso ocorre devido às regras de Direito Internacional Público,
determinas pelas imunidades diplomáticas. No Direito Público interno brasileiro, a Lei Penal
não pode ser aplicada em casos em que o autor do ilícito ocupe o cargo que enquadre dentro da
chamada imunidade parlamentar (Bayer, 2013).
Na Convenção de Viena, prevista e assinada em 18 de abril de 1961, aprovada no Brasil
de acordo com o Decreto Legislativo n° 103 de 1964 e ratificada em 23 de dezembro de 1965,
é assegurado que, em respeito ao Estado que o infrator representa, há a necessidade de proteção
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da pessoa para que possa exercer a sua missão. Portanto, a regra vale para qualquer delito
praticado pelos agentes diplomáticos, às pessoas da família, bem como aos funcionários da
organização internacional, quando estiverem em serviço. Também, abrangerá os chefes de
governo estrangeiro que visitem o país e sua equipe. Todavia, não se aplica aos empregados
particulares dos agentes diplomáticos e os cônsules, mesmo que atribua algo que estabeleça
algum tratado de imunidade, pois enquadrarão apenas a imunidade de jurisdição administrativa
e jurídica, quando ocorrer atos pertinentes ao exercício de suas atividades consulares (Oliveira
Neto, 2022; Bayer, 2013).

Caso o delito aconteça dentro das unidades diplomáticas, o autor será processado pela
lei brasileira se não possuir imunidade. Assim, estes locais desconsiderarão a extensão
do país estrangeiro, mesmo que possua inviolabilidade em face do respeito ao Estado
(Bayer 2013 apud Oliveira Neto, 2022).

Portanto, no caso da função parlamentar, para que possa exercer o seu papel de
representante da sociedade livre de pressões, a Constituição emprega a imunidade de natureza
material ou substantiva determinada pela imunidade absoluta ou relativa. No caso da função de
deputado estadual, atribuirá a mesma imunidade dos congressistas, presentes na Constituição
Federal. São válidas também para as autoridades judiciárias estaduais e locais, todavia não serão
atribuídas em face do judiciário federal. Para a função de vereador, possuirão a imunidade
material em relação às suas opiniões, palavras e votos, empregados no exercício de suas
atividades do respectivo município.

2.4 Imunidade absoluta e relativa

Aplica-se a imunidade absoluta em casos como, por exemplo, dos membros do


congresso nacional em que são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos, conforme o do
art. 53, caput, da Constituição Federal de 1988. São denominados como delitos de opinião ou
de palavra, representados como crimes contra a honra, apologia ao crime, entre outros. É
prerrogativa da função e não da pessoa que a exerce, considerada também como irrenunciável,
não podendo ser instaurado inquérito policial para realização da investigação muito menos
processo-crime. Tal imunidade inicia-se com a diplomação e termina com a finalização do
mandato. Mesmo após a finalização do mandato o parlamentar não poderá ser processado por
algum crime de opinião, ocorrido no período onde foi atribuída a imunidade (Bayer, 2013 apud
Oliveira Neto, 2022).
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Já a imunidade relativa, refere-se à prisão, processo, prerrogativas de foro e uso da


pessoa como testemunha. Após a expedição do diploma, o parlamentar não pode ser preso em
flagrante delito, salvo em casos de crime inafiançável, em que o autor deverá ser lavrado pela
autoridade policial e direcionado a câmara ou senado, de acordo com o caso, e em votação pela
maioria poderá ser aplicada sua soltura. Portanto, para que seja instaurada a ação penal contra
esse autor, deve ser deliberada a licença pela Casa. Ao atribuir as funções de deputado federal
e senador, só poderão ser processados perante o STF (Oliveira Neto, 2022). O indeferimento
do pedido de licença ou ausência de deliberação será suspendido à prescrição enquanto durar o
mandato. Os congressistas não poderão ser chamados a testemunhar diante das informações
recebidas ou prestadas em ração do mandato em exercício, nem pelas pessoas que receberam
informações (Brasil, 1988).

3 CONCLUSÃO

A eficácia da lei penal em relação às pessoas é um tema complexo e multifacetado,


que envolve diversos aspectos do sistema jurídico e da sociedade como um todo. A qualidade
da investigação, a capacidade dos órgãos jurisdicionais e outros fatores podem influenciar
significativamente a capacidade da lei penal de produzir resultados práticos na realidade.
Sendo assim, é importante que o policial militar esteja sempre atento a esses fatores e
busque constantemente aprimorar os conhecimentos jurídico e doutrinário para garantir que a
lei penal seja aplicada em situações do cotidiano policial de forma justa e eficiente. Somente
assim será possível garantir a segurança e a proteção da sociedade como um todo e assegurar
que a lei penal cumpra seu papel de prevenir e punir os crimes que ameaçam a ordem pública e
a paz social.

REFERÊNCIAS

BAYER, Diego Augusto. Lei penal em relação a determinadas pessoas (imunidades).


Jusbrasil, 12 ago. 2013. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/lei-penal-em-
relacao-a-determinadas-pessoas-imunidades/121943196. Acesso em: 28 mar. 2024.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Brasília, DF: Presidente da República, 1988. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 27 mar.
2024.
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BRASIL. Decreto nº 103, de 18 de novembro de 1964. Aprova a Convenção de Viena sobre


Relações Diplomáticas assinada pelo Brasil e outros países a 18 de abril de 1961. Brasília, DF:
Senado Federal, 1964. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/1960-
1969/decretolegislativo-103-18-novembro-1964-350096-publicacaooriginal-1-
pl.html#:~:text=Aprova%20a%20Conven%C3%A7%C3%A3o%20de%20Viena,18%20de%2
0abril%20de%201961. Acesso em: 26 mar. 2024.

BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, RJ:
Presidência da República, 1940. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 27 mar.
2024.

BRASIL. Emenda Constitucional nº 35 de 20 de dezembro de 2001. Dá nova redação ao art.


53 de Constituição Federal. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 2001. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc35.htm. Acesso em: 15
mar. 2024.

CARVALHO, Mariana. Eficácia da Lei Penal em Relação às Pessoas no Direito Penal. [20-
-]. Mapear Direito. Disponível em: https://blog.mapeardireito.com.br/direito-penal/eficacia-da-
lei-penal/. Acesso em: 28 mar. 2024.

MATOSO, Renato. Validade da lei penal em relação às pessoas (imunidades). Studocu,


2020/21. Disponível em: https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-do-estado-
do-rio-grande-do-norte/direito-processual-penal-iii/direito/15789647. Acesso em: 26 mar.
2024.

OLIVEIRA, Laís Alves de; PRADO; Florestan Rodrigo do. Lei Penal em relação às pessoas.
Jusbrasil, 11 jul. 2016. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/lei-penal-em-
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OLIVEIRA NETO, Aminthas Andrade de. Validade da lei penal em relação às pessoas e suas
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https://www.jusbrasil.com.br/artigos/validade-da-lei-penal-em-relacao-as-
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