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LUKE - Lara Smithe
LUKE - Lara Smithe
LUKE
Primeira edição
Salvador/Brasil
2019
Capa: Joice S. Dias
Revisão: Lorena Bastos
Diagramação: Lara Smithe
Você escolhe seu caminho, seus valores, suas ações, elas definem
quem você é.
Jô Soares
Índice
Outros Romances da Autora
Playlist
Agradecimentos
Índice
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Epílogo
SINOPSE
Fazia oito dias que não via o papai. Quando ele finalmente
voltou, na quinta-feira, estava muito magro, abatido e triste. Trouxe
com ele várias sacolas de suprimentos, os mais pesados, como
grãos, massas, sucos e enlatados. Iogurtes, biscoitos e alguns
salgadinhos, também duas caixas térmicas com carnes, aves e
peixes.
Fizemos a festa, eu e a Marion, não pela comida, mas pela
saudade que sentíamos dele. Ficamos abraçados por quase quinze
minutos, chorando e nos beijando. Ele dizendo que nos amava, que
estava morto de saudades, que éramos o mais importante da vida
dele e que, se não fosse nós duas, ele não saberia o que seria viver.
Papai estava tão diferente. A barba por fazer, e eu juro que ele
envelheceu uns cinco anos. Meu pai estava sofrendo, sofrendo muito.
Passamos a quinta-feira agarrados um ao outro. Ele fez o
almoço, a janta, e à noite, tivemos sessão pipoca. Quando a Marion
foi dormir, eu finalmente tive coragem de perguntar sobre a mamãe.
Ele me disse, com profunda tristeza, que percorreu cinco
munícipios, mas todas as pistas resultaram falsas. Como ele ficou
muito tempo fora de casa e longe de nós, precisou voltar, mas
voltaria a procurá-la no sábado pela manhã, pois tinha surgido outra
pista.
Encontraram uma mulher que se parecia muito com a mamãe em
Itabaiana, uma cidade do Sergipe. Papai estava esperançoso, mas
foi sincero. Pelo o que informaram, se for realmente a mamãe, ela
não lembrava nem do próprio nome e, se for isso mesmo, assim que
ela retornasse ele teria que interná-la em uma clínica especializada.
Eu sei que ele não queria isso. A mamãe era o amor da vida
dele, mas eu e a Marion também éramos, e ele queria nos poupar do
sofrimento de ver nos olhos da nossa mãe um esquecimento total de
suas filhas.
Aproveitamos cada minuto com o nosso pai. Eu e Marion. Mas
hoje, sábado logo cedo, ele partiu. Foi à procura do grande amor da
sua vida, cheio de esperança de encontrá-la, sem se importar se ela
lembraria dele ou não. Papai só queria protegê-la e amá-la.
Triste, desolado e preocupado, sabendo que não estava certo
deixar uma garota de dezoito anos sozinha com uma criança de
quatro, ele partiu. Lágrimas rolaram dos olhos dele e dos meus.
Deixou dinheiro suficiente para um mês, os telefones dos amigos da
polícia e mil recomendações. Antes de entrar na balsa, segurou meu
rosto e me disse que eu era o seu orgulho e que sempre cuidaria de
mim. Em qualquer lugar que estivesse, ele cuidaria de mim. Não
gostei muito daquela conversa, soou como uma despedida. Mas eu o
abracei bem apertado, beijei seu rosto sofrido e lhe disse um até
logo.
Marion não viu o papai indo embora, e quando acordou
desandou a chorar. Nada do que eu fazia a acalmava, passou a
manhã inteira emburrada e chorosa, nem quis comer. Então resolvi ir
passear na praia. Estávamos catando conchinhas, quando eu escutei
música ao longe. Marion começou a dançar e a sorrir, então eu me
lembrei que hoje era a festa do Luke, no outro lado da ilha. Como já
estávamos perto e a maré estava baixa, vendo a alegria da minha
irmãzinha, resolvi ir até lá. Afinal, eu fui convidada. Peguei a Marion
pela mão e fomos em direção à música contagiante.
Levamos cerca de meia hora para chegar ao local onde o evento
estava acontecendo. Nunca tinha vindo aqui. Abismada com a beleza
do lugar, eu parecia uma caipira, olhando para tudo.
Eu sei que praia era tudo igual, principalmente em uma ilha. Mas
aquele lado era particularmente mágico. A areia era completamente
branca, a água mais azul e as ondas bem calminhas. Havia coqueiros
em todos os lugares para onde olhava, árvores frutíferas e até
flores. Era mágico.
— Pietra, só assim eu consigo vê-la.
Reconheci a voz atrás de mim. Já estava me virando, quando a
sapeca da minha irmã pulou nos braços do desconhecido.
— Joshua, você gosta de festa? — Ela segurava o queixo do
Joshua enquanto o enchia de perguntas. — Aqui tem sorvete?
Pipoca e maçã do amor? Tem parquinho?
— Marion, se acalme — briguei com ela. Joshua, por sua vez,
olhava para ela prestando atenção em cada pergunta, esperando a
oportunidade de responder.
— Pipi, não seja chata. O Joshua é meu amigo, não é, Joshua?
— ela me repreendeu e depois seus olhos se voltaram para o
Joshua, que sorriu.
— Claro que sou seu amigo. E, sim, aqui tem todas essas
guloseimas, só não tem parquinho.
— Onde? Eu quero maçã do amor. — Marion praticamente pulou
do colo do Joshua. Seus olhinhos atentos procuravam o lugar onde
estava a tal da maçã do amor.
— Ali — Joshua apontou para uma barraquinha, com uma maçã
bem grande no topo.
— Posso comprar, Pipi? Posso? Por favor, por favor... — Ela
juntou as mãozinhas em súplica.
— Claro que pode. — Antes que fizesse qualquer gesto para
pegar o dinheiro no bolso do meu short, Joshua pegou a carteira e
retirou uma nota de vinte reais, entregando-a a Marion. — Você quer
que eu vá com você, ou quer ir sozinha?
Minha irmãzinha sapeca me fitou com aqueles olhos grandes de
felicidade. Apesar de ela ter só quatro anos, era uma menina bem
esperta.
— Eu posso ir sozinha, Pipi? — ela praticamente me implorou.
Reticente, eu parei por alguns minutos, para pensar. Bem, não
havia perigo algum, e no mais, a barraquinha ficava a uns vinte
passos de distância.
— Pode. Espere o troco. — Ela nem esperou minha permissão,
antes mesmo de eu terminar a palavra “pode”, Marion já estava
escolhendo a maçã.
— Veio ver o show? — Joshua se inclinou e ficou bem próximo à
minha orelha.
— Sim — respondi com um sorriso tímido. — Você também
veio?
— Não, eu vim vigiar o meu irmão. Ter a certeza de que está
tudo bem, que a diversão se resuma a música e que a única porcaria
vendida aqui seja cerveja. — Ele apontou para várias barriquinhas
onde se vendiam bebidas.
— Você não confia muito em seu irmão, não é? — sondei com
cuidado.
— Ele não coopera muito para isso, vive se metendo em
encrencas, e eu vivo o tirando delas. — Ele fez sinal para a Marion
esperar, ela nos chamava. Seguimos na direção da minha pequena
espoleta.
— Eu quero duas, posso? — Eu sabia, estava demorando para
ela querer se aproveitar da situação.
Joshua olhou para mim, como se pedisse permissão.
— Só mais uma e acabou, ok?
Joshua pegou a outra maçã, e quando a Marion foi devolver o
troco, ele o colocou no bolsinho do shortinho dela. Ela segurou na
mão dele e seguimos para mais perto do palco.
O DJ estava testando o som, e quando eu estiquei mais os
olhos, eu o vi.
Luke estava ao lado de duas mulheres, uma ruiva e outra
morena. A ruiva usava uma minissaia jeans curtinha, mostrando as
pernas torneadas e musculosas. No busto, ela só usava a parte de
cima de um biquíni branco tomara-que-caia. A morena estava com
uma saída de praia em renda que não cobria muita coisa, pois seu
corpo escultural era visto em sua totalidade. Em cima, ela usava uma
biquini preto que, não seria exagero dizer, cabia na palma da minha
mão. As duas se revezavam na boca do Luke. Eu o odiei, queria
subir no palco, dar na sua cara e jogar as duas moças lá de cima.
Ele estava gostando da safadeza, e quando me viu, olhou para o
Joshua e depois para mim. Os seus olhos claros escureceram e um
brilho perigoso foi lançado ao irmão. Tive a impressão de que ele
viria até nós. Não sei se foi só uma impressão, nem nunca saberei,
porque uma das moças pegou seu queixo e o forçou a virar o rosto,
beijando-o na boca enquanto a outra mordia seu pescoço.
— Eu não sei quando o Luke vai criar juízo, mas precisa fazer
isso logo. — Ele apontou para a exibição do irmão com os olhos e eu
notei decepção na sua voz.
— Ele só está se divertindo — disse, comendo a minha raiva. —
E você, não tem namorada?
Joshua me encarou, seus olhos se fixaram nos meus.
— Não, sou um homem muito exigente. As mulheres, quando me
conhecem direito, fogem de mim, então acho melhor ficar sozinho.
— Nossa! Você é tão chato assim? Nem parece.
Ele deu um meio sorriso e bagunçou meu cabelo com a mão.
— Sou muito chato, exigente, mandão, ciumento e possessivo. O
que é meu é meu, e as mulheres não entendem isso, elas me
chamam de machista. Talvez eu seja, mesmo.
— Boa sorte, acho que vai precisar. As mulheres, hoje em dia,
querem mandar e não serem mandadas.
— Algumas só querem ser amadas, minha cara. São poucas,
mas elas existem.
Olhei para o Luke outra vez. Ele estava sozinho. Procurei as
moças e não as encontrei. Assim que me viu olhando, ele fixou o
olhar no meu. Foi tão intenso que não consegui segurar seu olhar. A
intensidade era tanta que eu fervi por dentro e a minha calcinha
molhou.
— Quer uma carona? Estou de lancha, se quiser ir, a hora é
agora, pra mim já deu.
— Não, voltaremos andando. Pode ir.
— Tem certeza? A caminhada é longa, e se tiver quer ir a pé,
não demore. Logo, logo a maré irá subir e você não conseguirá
passar, é perigoso. — Ele olhou para Marion. — Acho melhor você
vir comigo, é muito perigoso.
— Não, pode ir tranquilo. Não vou demorar, já, já irei embora.
Pode ir.
— Ok, mas se precisar voltar de lancha, elas partem às
dezessete horas. Depois disso, só a nado ou pelo mato. E vá por
mim, nem tente isso, é perigoso.
Eu sorri pelo modo como falou. Ele ficou sério.
— Joshua, vá na paz. Eu ficarei bem.
Ele se inclinou e beijou a cabecinha da Marion. Ela circulou os
bracinhos no pescoço dele e lhe deu um beijo demorado no rosto.
— Comporte-se, mocinha.
Ele me beijou no rosto e foi embora.
Fiquei observando-o. Ele devia ter bem mais de trinta anos e era
muito bonito. Acho que quando o Luke tiver a mesma idade se
parecerá com ele ou ficará ainda mais bonito. Com todas aquelas
tatuagens, nossa! Lindo e perigoso.
Marion se sentou na areia e começou a construir seus
castelinhos. Eu fiquei movimentando o corpo ao som da música e a
observando.
Um frio percorreu a minha nuca, e dois segundos depois, entendi
o porquê.
— Você é muito mais linda de perto. — Meu corpo inteiro se
arrepiou, senti um frio na barriga e as minhas pernas começaram a
tremer.
Escutar a voz dele bem próxima à minha nuca era algo
enlouquecedor. Eu quase me virei e me joguei em seus braços.
— E o seu cheiro é melhor do que eu imaginava. — Meu Deus,
me segura, eu vou pular nele! — Pietra, a linda Pietra. — Ele sabia
meu nome. Deus, ele sabia meu nome! — Sua pele... caralho, que
pele delicada. — Seus dedos tatuados tocaram a pele do meu braço
e eu quase caí de joelhos. — Olhe pra mim, Pietra. — Aquela voz
tão próxima, exigente, dura e grave me derreteu por dentro. Eu virei
a cabeça lentamente e os meus olhos encontraram os dele.
Ficamos presos em nossos olhares. O mundo podia acabar
agora, que eu não me importava. Meu coração batia tão apressado
que eu podia escutá-lo. Ele estava bem na minha frente, todinho ali...
boca, olhos, corpo. As tatuagens, os piercing, o cheiro... Ele
realmente era lindo demais. Seu olhar quente, dominador e brilhante
era só para mim no momento. Fiquei muda, hipnotizada.
— Responda-me uma coisa, você e meu irmão estão tendo
algum lance?
Acordei. Balancei a cabeça ligeiramente, para colocar as ideias
no lugar.
— Co-como? — Não havia entendido a pergunta.
— Você e meu irmão, estão se pegando?
— Não! — praticamente gritei. — Cla-claro que não, somos
amigos, só isso. Por quê?
— Porque eu quero você.
Engasguei e comecei a tossir desesperadamente. Luke fez um
sinal para alguém e logo uma garrafa de água foi aberta e entregue
a mim.
— Beba. — Eu peguei a garrafinha e a levei aos lábios. —
Devagar, isso. — Devolvi a garrafa pela metade. — Melhorou? —
Assenti.
— Eu quero você, Pietra. Entendeu? — ele voltou a falar, seus
olhos intensos fixos em meu rosto, avaliando-me, percorrendo meus
lábios, meus olhos e meu pescoço. — E você, me quer?
Inspirei, expirei.
— Você faz essa pergunta para todas as garotas por quem
sente interesse?
— Não, eu não faço perguntas. Quando quero foder uma mulher,
eu vou lá, pego e como.
Deus, o homem era direto, ele não fazia rodeios. Eu não sabia
se gostava disso ou se ficava assustada.
— E você quer me foder?
— Não. — Decepção. — Se eu quisesse, não estaríamos tendo
esta conversa. Você já estaria com meu pau dentro da sua boceta.
— Deus! Você é assustador.
— Sou? E por que ainda está aqui? Deveria fugir de mim,
porque eu quero você.
— Então, o que quer, se não quer me foder?
— Quero fazer sexo com você.
— E não é a mesma coisa?
— Não. Eu fodo, como, trepo e transo com aquelas ali... — Ele
apontou para as duas moças que estavam com ele no palco. — Com
você, eu quero fazer sexo, e quero agora. — Ele me pegou pela mão
e tentou me puxar.
— Eu não posso. — Apontei para a Marion, que brincava na
areia sem se dar conta de que tinha um tarado querendo comer a
irmã dela. — É minha irmãzinha, eu não posso deixá-la sozinha aqui.
Ele olhou para Marion, soltou a minha mão, se agachou e alisou
os cabelos dela.
— Posso brincar com você, Estrelinha? — Ele se sentou ao seu
lado. Marion olhava, admirada, para ele.
— Nossa! — Ela ficou de joelhos e tocou o rosto do Luke com
os dedinhos. — Doeu para pôr tudo isso?
— Um pouco — ele respondeu, sem se importar com o toque
curioso dela. Ela tocou as argolas do nariz, das sobrancelhas, da
orelha e, por último, seus lábios.
— E na língua, doeu muito? — Ele mostrou a língua.
— Sim, mas já me esqueci.
— E as tatuagens, doeram? São muitas. — Ela acariciou os
braços do Luke, seguindo o traço de cada detalhe dos desenhos. —
Eu posso fazer uma tatuagem? E posso usar um brinco desse no
nariz?
— Quando você crescer, pode. Por enquanto, não.
— Você é lindo! — Ela me encarou. — Não é, Pipi?
Luke me olhou e sorriu.
— Sim, ele é lindo — respondi, sem jeito.
— Estrelinha, você gosta de cachorro-quente?
— Adoro! — ela gritou de felicidade.
— Então você vai comer o melhor cachorro-quente da ilha. —
Sem se importar com a minha opinião, ele levou dois dedos aos
lábios e assobiou, chamando uma moça. — Silvia, cuide dela para
mim. Ela quer cachorro-quente, e se ela quiser bolo, pode dar
também. Menos refrigerante, só suco. Se acontecer algo com essa
Estrelinha, você nem queira estar viva para saber o que vai lhe
acontecer. Portanto, não tire os olhos dela.
Eu já ia protestar, mas a moça pegou a Marion e saiu
caminhando em direção à barraca de cachorro-quente.
— Pronto, agora somos só você e eu. — Tentei argumentar,
mas dois dedos em meus lábios me calaram. — Ela ficará bem, e eu
quero fazer coisas com você que não podem esperar nem mais um
minuto.
Ele me puxou pela mão, e como uma boneca, fui levada para
não sei onde. Não andamos muito, só o suficiente para nos
escondermos de olhos curiosos, mas não era um lugar muito
reservado. Ele me encostou em um coqueiro. Meus olhos nervosos
percorreram o perímetro, buscando alguma alma curiosa. Eu não via
ninguém, mas escutava vozes vindas de todos os lados e o som da
música pairava sobre nós. Ainda estávamos perto demais, a
qualquer instante alguém surgiria e nos pegaria com a boca na botija.
Luke estava me pressionando contra o tronco do coqueiro. Eu já
conseguia sentir a dureza do seu pau roçando a minha barriga nua e
sua boca nervosa já estava se aproximando da minha, quando eu
virei o rosto e seus lábios tocaram a pele sensível do meu pescoço.
Com esforço, eu empurrei o seu peito, tentando ter um pouco de
espaço, e ele recuou um pouco. Olhei, desesperada, para ele. Um
olhar suplicante, medroso.
— Luke, quer mesmo fazer coisas comigo... aqui? — Eu sei, era
uma pergunta bem idiota, mas eu estava nervosa, com desejo e com
medo. Uma mistura de sentimentos que me deixava sem saber o que
falar.
— Ah, não, Pietra. Não vai bancar a garota virgem e inocente,
pelo amor de Deus. Eu estou furando a minha bermuda com o meu
pau. Caralho, nunca quis uma garota tanto como quero você... — Ele
ergueu a sobrancelha e me encarou. — E antes que pergunte, não,
eu não costumo dizer isso para todas as garotas. Você é a primeira.
— Luke, aqui não é um lugar muito apropriado, não acha?
Enquanto eu falava, ele empurrou minha mão do seu peito e a
levou para a frente da bermuda, forçando meus dedos a apertarem
seu pau. Enquanto ele se masturbava com a minha mão, sua boca
mordia meu pescoço e ia seguindo mais para baixo.
— Luke... — Ou ele não estava prestando atenção ao que eu
dizia, ou fingia não me ouvir. — Luke. Porra. Aqui, não. — Eu o
empurrei quando sua boca tentou morder meu seio esquerdo.
— Caralho, Pietra! Não faz charme, eu a vi me observando
todos esses meses. Todas as vezes que eu te via, você me olhava
com um olhar pidão, esfomeado, praticamente me comendo com os
olhos.
Ele abriu dois botões da minha blusa. Ele sabia fazer isso sem
que eu percebesse. Fechei e abri os olhos quando ele arrastou a
cortininha do biquini e o meu seio ficou à mostra. Eu vi o brilho de
tesão nos seus olhos, ele lambeu os lábios e em seguida eu os senti
no bico retesado do meu peito. Merda! Ele chupou tão
deliciosamente que eu vi estrelinhas em plena luz do dia.
Eu tentei afastá-lo.
— Porra. — Com um olhar impaciente, ele me fitou e eu parei
naqueles olhos lindos. Não conseguia evitar, eu o queria, eu queria
que ele fizesse coisas comigo. — Que merda, Pietra. Eu amo a
forma como você me olha. Esperei como o inferno por esse dia, e
não venha me dizer que você também não queria isso, estou vendo
como reage à minha boca.
Sua boca veio até a minha, mas ele não me beijou, apenas
encostou os lábios nos meus. Ofeguei, meu coração batendo com
violência. Se não fosse o barulho externo, Luke escutaria a bagunça
que fazia comigo.
— E não pense que eu a deixarei ir embora sem que você antes
descubra o que provoca em mim. Foi você quem chamou minha
atenção, agora, ou você foge ou deixa ser pega. De qualquer forma
eu a terei, Pietra. Você não tem saída, sua bocetinha é minha. Aliás,
todos os seus buraquinhos me pertencem agora.
Socorro! Chamem um bombeiro... Não, não, chamem o pelotão
inteiro. Estou em chamas, esse homem está me queimando de
dentro para fora.
Eu fechei os olhos quando senti a ponta da sua língua circulando
meus lábios. Quente, macia, molhada. Eu queria essa língua fazendo
coisas na minha boceta, eu queria aquele piercing roçando a minha
entrada.
— Oh, meu Deus! — ofeguei quando ele socou a língua na
minha boca e chupou a minha com força, fazendo uma bagunça com
ela.
— Deus não está aqui te chupando, Pietra. Sou eu, o Luke. E
não vou só chupar a sua língua, vou chupar sua boceta cremosa, seu
pinguelinho, suas dobras e até o seu cuzinho. Então não mete Deus
nessa história.
Ele me deixava trêmula, nem minhas pernas eu conseguia sentir
direito. Mas eu podia sentir sua boca, língua e mãos percorrendo
meu ventre, até seus dedos chegarem em meu short jeans. Ele
desabotoou o botão e desceu o zíper. Jesus! Ele vai fazer o que
estou pensando. E fez... Enfiou a mão dentro da minha calcinha e
apalpou meu monte com força. Ele não segurava mais a minha mão,
pois eu já estava massageando seu pau sem precisar de ajuda.
— Pega ele, Pietra. Segura meu pau, eu quero sentir o calor da
sua mão... anda.
Apesar da minha inexperiência, eu queria aquilo. Mas eu também
sabia que não era certo fazer isso, estávamos em um lugar público,
mas a voz dele era hipnótica e eu também queria pegar naquele pau
gigante. E fiz o que ele mandou, desci o zíper e mergulhei a mão
dentro da sua cueca. Ele era pauzudo, o bicho pulsava quando eu o
envolvi com os dedos. A cabeça estava toda lambuzada e... Ele tinha
um piercing na cabeça do pau.
Merda, minha cabeça começou a fazer especulações sobre
como era ter um pau enfeitado entrando e saindo da minha boceta.
As poucas histórias que eu soube do Luke não me prepararam para
isso. Comecei a pensar que as poucas moças da ilha, que passaram
pelas mãos dele, nem chagaram às preliminares, do contrário, elas
saberiam do pau enfeitado.
Eu sou a primeira, e isso...
— Aperta ele, Pietra. — Ele largou o bico do meu peito e olhou
para a minha mão. Depois me encarou com aqueles olhos divinos. —
Ele não quebra, Pietra. Pode apertar e fazer o que quiser. Ele
também não morde, só o dono dele faz isso. — Ele sorriu e moveu
os lábios, dizendo silenciosamente: — Aperta essa porra.
Eu apertei e ele apertou os olhos, soltando um urro tão
prazeroso que eu quase gozei.
— Luke... — Eu senti seus dentes apertando o meu mamilo.
Doeu, mas foi tão bom que eu gemi alto.
— Tire-o pra fora, Pietra, e coloque isso nele. — Ele me
mostrou o preservativo. Não sei de onde ele tirou aquilo, pois não o
vi se mexer, só a sua boca se movia em mim. — Vista-o, que eu
quero sentir a sua bocetinha.
— Não. — Ele segurou minha outra mão e pôs o preservativo
nela.
— Sim, eu quero fazer sexo com você e não me interessa o
lugar. Eu só quero matar a minha necessidade de tê-la.
— Não. Não, Luke. Aqui, não. — Estava difícil raciocinar com
uma boca mamando meu peito magistralmente, dentes afiados
roçando a carne sensível e dedos se esfregando no meu sexo
escorregadio.
— Você está pronta para recebê-lo, sua bocetinha está tão
molhadinha que o meu pau vai escorregar igual quiabo. Eu quero
esse calor no meu pau, não nos meus dedos.
Ele voltou a boca para a minha, mordeu meus lábios e me
invadiu com a língua.
Eu precisava resistir, eu precisava...
— Não. Não, Luke, eu não posso. Aqui não dá.
Ele parou. Afastou a boca da minha e eu me senti rejeitada.
Mas, afinal, o que eu queria?
— Tá falando sério? — Respirou fundo, olhando-me com seu
jeito de predador. Eu assenti, ainda ofegante pelo desespero do meu
desejo.
— Alguém pode aparecer aqui a qualquer segundo e eu morreria
de vergonha.
— Ninguém virá aqui. Ninguém é louco o bastante para invadir o
meu território, eu tenho dois rapazes vigiando o perímetro justamente
para não deixar ninguém vir aqui.
Ele fez isso porque já sabia que ia me trazer aqui, ou já
costumava fazer isso com outras garotas? Eu me senti mal com isso,
eu era apenas mais uma. Senti-me triste, e acho que o Luke
percebeu. Eu soltei imediatamente seu pau e o devolvi à cueca. Luke
fez o mesmo, retirando a mão de dentro do meu short.
Agora ele vai me mandar à merda e sairá à procura de uma
garota que tope qualquer parada.
— Ei — disse, segurando meu queixo —, nada disso foi
premeditado. Os rapazes ficam de olho em meus movimentos e eles
me viram vindo para cá com você, só isso. Fique tranquila, ninguém
virá aqui.
Ele me beijou daquele jeito outra vez e eu soltei um gemido em
sua boca.
— Vou tirar o seu short e você vai montar em mim. Não se
preocupe, eu seguro você.
Suas mãos já estavam puxando meu short para baixo.
— Não, Luke, eu já disse que aqui não. Seus convidados podem
até não vir aqui, mas a minha irmãzinha virá, se sentir minha falta, e
não tem cristão na face da terra que a impeça. Não quero que ela
me veja literalmente trepada em você.
Ele puxou o short para cima, inspirou o ar e o soltou
apressadamente, voltando a me encarar com os olhos cheios de
desejo.
— Ok, mas com uma condição. Amanhã, às quatro da tarde,
estarei te esperando no farol, e ai de você se não for, pois eu juro
que irei atrás de você e a levarei à força. Não duvide de mim, ok?
— Amanhã? Mas...
— Nem mais, nem menos. Ou será amanhã, ou hoje e aqui,
escolha.
— Amanhã — disse rapidamente. Eu não sei como eu faria, mas
daria um jeito, pediria para que a dona Mariana ficasse com a
Marion.
— Estava torcendo para você dizer não. — Ele riu e se abaixou.
Eu pensei que ele ia me vestir direito, mas suas mãos
seguraram os dois lados do meu short e o baixaram, juntamente com
minha calcinha.
— Luke, o que está fazendo? — Foi tudo tão rápido que eu só
consegui soltar um longo gemido desesperado.
A boca dele estava entre as minhas pernas. Eu senti sua língua
me lambendo e não pude fazer nada, a não ser abrir as pernas e
sentir o calor vertiginoso da sua boca chupando e mordendo minhas
dobras. Ele sabia como fazer, sabia como enlouquecer uma boceta.
Eu podia sentir toda a pressão, todo o movimento da sua boca
gostosa em mim e seus dedos afastando minhas dobras. Olhei para
baixo e só vi um monte de cabelos e a sua cabeça se movendo.
Porra! Eu vou gozar. Tremi, minhas pernas amoleceram e eu
senti duas mãos segurando minha bunda. Fiquei quase sentada em
suas palmas, o que facilitou o trabalho caprichado da língua do Luke
na minha pobre boceta virgem. Agarrei sua cabeça e a empurrei
entre as coxas, soltando um grito. Para abafá-lo, mordi o lábio.
Mordi tão forte que senti gosto de sangue. Meu coração estava na
garganta, eu poderia morrer só com a força da chupada dele em
minha boceta.
Luke só deixou minhas carnes quando eu parei de tremer. Ele
subiu minha calcinha e o short, fechou o zíper deste e subiu pelo meu
corpo, beijando tudo o que encontrava pelo caminho. Quando ficou
de pé e ficamos face a face, ele estava todo lambuzado com a minha
excitação.
— Você é muito gostosa. Gostosa de doer o pau. — Recebi um
beijo com o meu gosto. — Lembre-se, amanhã, às quatro da tarde.
— Assenti, não conseguia falar, mal conseguia respirar.
Alguém o chamou.
— Já vou, porra! — Ele devolveu o grito. — Vamos, eu tenho
uma festa para administrar. — Ele segurou minha mão enquanto
fechava o zíper da bermuda com a outra. Ele ajeitou a camisa por
cima do pau, que estava evidente na frente da bermuda.
— Eu também tenho que ir. — Finalmente eu consegui soletrar
algumas sílabas. Ainda estava sob o efeito do orgasmo.
— Você que ir na minha lancha? Eu peço para o marinheiro levá-
la.
— Não, não precisa. Não se preocupe.
— As lanchas só sairão às dezessete horas. Você sabe disso,
não sabe?
Não, eu não sabia, mas ele não precisava saber disso.
— Sim, eu sei. — Ele me puxou, e antes de sairmos do nosso
esconderijo, ele se virou para mim. — Quer ficar no palco comigo?
— Luke, eu não sou igual às garotas com quem você fode. Eu
não quero exibição.
Ele me olhou seriamente.
— Se você fosse igual às mulheres que eu fodo, eu não ia
querer fazer sexo com você. Você nem estaria aqui comigo, Pietra.
Teria que esperar sua vez.
Ele me puxou, e eu já ia retrucar, quando a Marion correu em
minha direção.
— Onde vocês estavam? — Ela já estava quase chorando. —
Eu pensei que você tinha esquecido de mim, igual a mamãe.
Luke olhou para mim quando ela disse isso.
— Como assim? Eu jamais esqueceria da minha menininha —
desconversei.
— Nem eu. — O Luke pegou Marion no colo e ela sorriu quando
ele começou a lhe fazer cócegas.
— Para, Luke! Eu vou morrer de tanto rir.
— Certo. — Ele a devolveu ao chão. — A Estrelinha pode comer
o que quiser, é só pedir e deixar na minha conta, tá? Agora eu tenho
que ir.
Luke beijou a Marion no alto da cabeça, depois virou-se para
mim. Ele ia me beijar na boca, mas virei o rosto rapidamente e o
beijo foi na bochecha.
— Não se esqueça, amanhã — sussurrou no meu ouvido e se
afastou. Foi para o palco e para as duas garotas, que quando o
viram abriram o maior sorriso.
Morri de ciúme.
Tangi minha raiva para longe, afinal, ele não era meu e eu sabia
da fama dele.
— Vamos, Marion, vamos embora. Precisamos correr antes que
a maré suba.
Eu não sabia que aquela parte da enseada era perigosa quando
a maré subia, até a hora que o Joshua disse. Assim que passamos
da primeira curva de pedras e chegamos à segunda, eu pude
entender o porquê do perigo. A maré já havia chegado nas pedras e
era impossível atravessar as ondas. Não tendo que levar a Marion...
E agora?
Olhei desesperada para trás. Se voltássemos logo, talvez
pudéssemos pegar alguma lancha. Estava sem o relógio e deixei o
meu celular em casa. Não tinha outro jeito, eu tinha que voltar.
Peguei a Marion no colo e apressei os passos. Eu tinha que ser
rápida, antes que a maré alcançasse a outra curva da parede de
pedras.
Mas era tarde demais.
Ficamos encurraladas e o desespero bateu feito um martelo em
minha cabeça. Olhei para a minha irmãzinha.
Como pude ser tão imprudente?
— Pipi, por que você parou? — Ela olhou para as ondas que
batiam nas pedras, e quando uma bateu em suas perninhas, quase a
derrubou. — Pipi, como vamos passar?
O que eu diria?
Com o coração batendo contra o peito e o medo me
atormentando, olhei para trás.
Água.
Olhei para a frente.
Água.
Olhei para o lado, em direção à parede de pedras cobertas de
vegetação. Ela não era tão alta, daria para escalá-la. Eu conseguiria.
Mas e a Marion? Ela era tão pequena.
Fiquei de joelhos e afastei seus cabelos castanhos dos olhinhos.
— Princesa, vamos brincar de subir o barranco, você topa?
— Não conheço essa brincadeira, Pipi.
Ela respondeu com toda a sua inocência. Oh, meu Deus! Eu sou
a pior irmã da face da terra.
— É uma brincadeira nova. É o seguinte, você vai montar nas
minhas costas, vai prender suas perninhas no meu corpo e segurar
meu pescoço firme, mas sem apertar. Depois fechará os olhos e vai
prometer que só os abrirá quando eu mandar, certo?
— Pipi, eu tô com medo! — Seus bracinhos cercaram minhas
pernas, de certa forma ela sabia o que eu ia fazer.
Por que eu não aceitei a ajuda do Luke ou do Joshua?
— Não tenha medo. Eu estou aqui e prometo que não deixarei
nada lhe acontecer. Agora suba aqui em minhas costas.
Ela deu a volta e subiu. A água da praia já estava na metade da
minha perna.
Deus nos proteja!
— Feche os olhos, princesa. E aconteça o que acontecer, não
abra, certo?
— Certo.
Comecei a subir. Estava escorregadio, mas eu me segurava nos
galhos de algumas trepadeiras. A cada escorregão, os bracinhos de
Marion apertavam meu pescoço. Algumas vezes eu precisei tossir
para que ela afrouxasse o aperto. Foram muitos escorregões, e em
um deles saímos deslizando. Eu pensei que íamos cair, meus joelhos
estavam em carne viva e perdi uma das minhas sandálias, mas
finalmente chegamos ao topo.
— Chegamos, Pipi. Posso abrir meus olhos?
Eu a coloquei de pé sobre as próprias pernas e me joguei de vez
no chão. Já estava noite e o barulho dos bichos noturnos era
assustador.
— Pipi, eu tô com medo. Quero ir pra casa, tô com frio — O
chorinho dela me cortou o coração, e a culpa era toda minha.
Tomei fôlego e me levantei. Precisava achar um lugar para
passarmos a noite, pois voltar para o outro lado da ilha não seria
possível, não naquela escuridão. O jeito era voltar para a enseada e
dormir em algum lugar, talvez embaixo do palco. Acho que não tinha
dado tempo de desmontá-lo. Levei a Marion no colo e ela me
agarrou, escondendo o rosto em meu pescoço. Andamos cerca de
vinte minutos, mas não chegamos a lugar algum, estávamos
perdidas. E eu comecei a me apavorar.
— Pipi, estou com frio. — A roupinha dela ainda estava úmida,
as minhas roupas também. — Estou com fome...
— Calma, meu amor, já, já você comerá algo.
Não sei quando, mas eu esperava que ela fosse vencida pelo
cansaço e adormecesse.
Andei mais uns quinze minutos, quando escutei um barulho de
música. Meu coração bateu de alegria. Onde havia música, havia
gente. Apressei os passos e chegamos a um portão de ferro
gigantesco. Estava trancado a cadeado. Averiguei com cuidado e
encontrei uma brecha na cerca. Atravessei a cerca com Marion e
segui em direção à música. Então eu vi uma casa enorme, muito bem
iluminada e com luzes piscando. Achei estranho, uma boate num
lugar daqueles, mas respirei fundo e fui andando. Alguém ali me
ajudaria. Desci a Marion do colo e a coloquei atrás de mim.
Bati na porta. Bati novamente. E, quando eu percebi que a
música alta não deixaria ninguém escutar as minhas batidas
educadas, eu esmurrei a madeira pesada. A porta se abriu e um
homem que parecia bêbado surgiu na minha frente.
— Olá, gostosinha! Está atrasada, mas pode entrar. Venha se
divertir, que tal comigo?
Ele estava muito alterado, mal conseguia ficar de pé, e quando
tentou me agarrar tropeçou, quase caindo de cara.
Marion se assustou e agarrou a minha perna.
— Que porra é essa? — ele gritou e se levantou rapidamente,
olhando para Marion, assustado. — Você, tudo bem, — disse para
mim —, mas eu não sou pedófilo, não como crianças...
Ele escancarou a porta e então eu vi o que havia lá dentro.
Homens e mulheres bebendo, fumando, alguns dançando, outros se
agarrando. Era uma festa, e uma não muito apropriada.
— Ô, Luke, que porra é essa? Agora você deu pra convidar
crianças? Eu tô fora, porra!
Então eu o vi. E quando ele me viu na porta, veio correndo.
— Pietra, que porra você faz aqui?
Ele empurrou o homem para dentro e fechou a porta, levando-
nos para longe da casa.
Capítulo 6
— Sr. Luke!
Escutei meu nome.
Estava observando, através da janela da sala de espera da
emergência. Olhava para um ponto fixo qualquer. Já fazia uns dez
minutos que o tal Abelardo foi buscar informações sobre a Pietra e
eu já estava contando os segundos para me virar, entrar naquele
território restrito e ir em busca da minha namorada.
— Sou eu. — Virei e olhei para um homem jovem demais para
ser um médico, mais parecia um adolescente.
Magro... Não, ele era desprovido de qualquer gordura corporal.
O homem era esquelético. Baixo, devia ter um metro e sessenta, no
máximo. Loiro, olheiras profundas, olhos castanhos claros e vestia
um jaleco. Me aproximei e li o nome bordado no bolso.
Dr. Mário Leal, médico infectologista.
Ferrou.
O que um infectologista queria com a Pietra?
— Olá, sou o médico de plantão e estou cuidando da Pietra.
Acompanhe-me, por favor.
Sem palavras e me borrando de medo, eu o segui. Entramos
pela mesma porta pela qual a Pietra foi levada. A cada passo que
dava, meu coração apertava mais em meu peito.
Ele parou diante de uma porta entreaberta e eu a vi, deitada,
dormindo. Estava sendo medicada diretamente na veia e usava algo
no nariz. Observei que uma longa borracha seguia até a parede,
onde se prendia a um aparelho.
— Não se preocupe, este aparelho é só para ajudá-la a respirar
melhor. — Ele percebeu as três rugas em minha testa quando meus
olhos se fixaram na linda figura adormecida da Pietra.
— O que ela tem? — perguntei, sem desviar os olhos dela.
— Uma pneumonia leve, mas para descartar algo mais sério eu
já pedi outros exames. — Olhei para ele.
— Ela estava desacordada quando a encontrei e com febre alta.
Pelo o que a irmãzinha dela me disse, ela passou o final de semana
na cama, sem conseguir se levantar. Isso não pode ser só uma
pneumonia leve, doutor!
— Os exames iniciais detectaram isso: febre alta, falta de
energia, sonolência e fraqueza. Às vezes é um resfriado malcuidado
ou uma mudança de clima, e se o sistema imunológico estiver
debilitado pode favorecer a penetração de um agente infeccioso ou
irritante como bactérias, vírus, fungos. Sem falar em reações
alérgicas.
— Ela ficará boa?
— Claro que sim, está medicada e passará a noite em
observação. Se os exames não detectarem nada de anormal,
amanhã ela receberá alta.
— Amanhã! — Pensei logo em Marion. — A irmãzinha dela, de
quatro anos, está aqui, ela poderá ficar?
— Não, o hospital não permite crianças como acompanhantes.
— Ele me olhou desconfiado. — Onde estão os pais da Pietra?
— Viajando, eles estão viajando — menti, pois, mesmo sabendo
que a mãe da Pietra estava doente, não sabia em qual hospital
estava.
— A criança tem com quem ficar?
— Sim, ela tem.
Só pensei no Marco. Eu sei que ele ficará puto, mas ele era o
único com quem eu podia contar.
— Você pode entrar, se quiser. Eu preciso voltar para os outros
pacientes e mais tarde passarei aqui para ver como ela está. — Ele
tocou em meu ombro com a palma da mão. — Ela ficará bem, não
se preocupe.
— Obrigado, doutor Mário.
O médico me deu as costas e saiu andando pelo longo corredor.
Virei minha cabeça de volta para o quarto e entrei. Sentei-me na
cama e segurei a mão dela. Eu nunca estive em um hospital. Já
estive em consultórios, aliás, por quase toda a minha infância e
adolescência vivi em consultórios. Não por doença física, mas porque
achavam que eu tinha problemas psíquicos. Foram tantos psicólogos
que eu perdi a conta. Não sei se estava perturbado
psicologicamente, talvez estivesse, mas o que eu precisava mesmo
era da atenção de meu pai, não apenas que ele fizesse todas as
minhas vontades para assim mascarar a culpa que eu sentia pela
morte de minha mãe.
Joguei meus pensamentos para longe, pois pensar em minha
mãe ainda doía muito. Olhei para a Pietra.
— Garota, para eu estar sentado em uma cadeira no quarto de
um hospital, com o coração batendo forte e a cabeça dando voltas
de preocupação, a pessoa tem que ser bem especial para mim.
Então, eu não menti quando eu disse que a amava. Essa porra louca
que me toma toda a mente é amor. Um amor do caralho, um amor
que domina tudo aqui dentro de mim.
Levei sua mão até os lábios e demorei uma quantidade de
segundos escorregando meus lábios na pele macia e fria.
— Eu já volto. Só vou conversar com o Marco e tentar convencê-
lo a ficar com a Marion.
Beijei sua mão outra vez, reclinei sobre seu corpo e a beijei na
testa. Antes de sair completamente do quarto, me virei e dei uma
última olhada nela. Dormia tranquilamente e respirava bem, então
fechei a porta e fui ao encontro do Marco.
Já estava a caminho do restaurante, quando escutei meu nome
ao longe. Virei-me e vi um homem alto, forte, de músculos definidos
e de terno, parecendo o dono do mundo, vindo em minha direção
com uma cara de poucos amigos.
Meu irmão mais velho, Joshua.
O nosso encontro não foi com abraços e tapinhas nas costas.
Ele me pegou brutalmente pelo braço e saiu me arrastando para uma
sala que, para meu alívio, estava vazia.
— Que diabo você fez com a Pietra, seu moleque
inconsequente? Porra, será que trepar com as beldades do mundo
artístico não o satisfaz mais e agora você quer pegar adolescentes?
Mais de que porra ele estava me acusando?
— Me solte, Joshua. Você não é o papai. — Eu o empurrei com
força, livrando-me de sua mão em meu braço. — Eu sou maior de
idade, porra, e a minha vida sexual não lhe diz respeito. Qual o seu
interesse na Pietra? Não me diga que está de olho nela?
— Não queira bancar o engraçadinho, Luke. Minha paciência
com você está no limite. A Pietra é uma criança para mim e eu só
quero você bem longe dela. Ela não precisa das suas merdas,
aquela moça já tem problemas demais para enfrentar. Portanto, diga
logo, o que você fez?
Joshua estava puto. Ele nunca se meteu na minha vida sexual.
Na minha vida de negócios ele vivia me cercando, não pelos motivos
certos, mas por pensar que eu era um bandido disfarçado de
empresário. Ele já tentou várias vezes cancelar shows na ilha e
algumas vezes conseguiu, quando os meus argumentos não
convenciam meu pai, e isso fazia com que não nos déssemos muito
bem. Não que eu odeie meu irmão. Não, claro que não, eu o amava,
só que às vezes ele era um pé no saco. Mesmo eu dizendo que não
era nenhum criminoso, traficante e o caralho a quatro, ele sempre
acreditava nas coisas que os outros diziam. Então, que se fodesse
tudo, deixei que pensasse o que quisesse.
— Eu não fiz nada. Eu a encontrei em casa queimando de febre
e a trouxe para cá. Pietra é a minha namorada e eu tenho todo o
direito de estar com ela.
Ele me soltou. Seus olhos abertos de espanto em minha cara.
Acho que o assustei.
— Namorada!? E desde quando você tem namorada, Luke?
Você está sacaneando aquela garota? Luke, eu juro que lhe dou uma
surra, a surra que o papai nunca lhe deu, se por acaso você estiver
brincando com os sentimentos daquela moça.
Ele estava falando sério. Eu conhecia meu irmão, ele não era de
brincadeiras. Joshua sempre foi muito sério. Mamãe sempre dizia
que ele era a cópia do papai e eu era a cópia dela. Papai só
desfazia a carranca quando olhava para a mamãe ou para nós, para
mim e para o Joshua. Ao nosso lado ele sempre era sorridente,
alegre, brincalhão. Mas fora isso, ele era frio, duro, sério. As
pessoas nunca faziam piadinhas perto dele, pois corriam o risco de
escutarem uma bela e dura bronca.
O Joshua era assim também. Eu só o via sorrindo ou falando
merda quando estava ao lado da esposa. Ele a amava...
Quando descobriu que seria pai, ele tirou férias, coisa que nunca
fez, e veio para cá. Papai ficou tão feliz que montou um quarto para
o bebê, dizendo que ele nasceria brasileiro e só voltaria para Nova
York quando completasse um ano.
Joshua morava há quase cinco anos lá, ele estava administrando
um dos nossos hotéis na cidade e foi lá que conheceu a esposa.
Durante um tempo ele ficou aqui, cuidando do nosso hotel da ilha,
mas cinco meses depois eles voltaram para os Estados Unidos e a
vida do Joshua desmoronou. Ele perdeu a esposa e o filho em um
acidente de carro. Foi por isso que ele voltou para o Brasil, as
lembranças eram, e ainda são, muito dolorosas. Aqui na ilha ele
podia fugir dos seus fantasmas.
— Solte-me, Joshua, que porra! Eu a amo, tá? Amo, e não me
olhe assim. Sou humano e posso muito bem me apaixonar. A Pietra
não é nenhuma criança, ela é adulta e vacinada.
Ele me avaliou de cima a baixo. Respirou, deixou os braços
caírem ao longo do corpo, depois levou uma das mãos aos cabelos,
deslizou os dedos entre os fios desalinhados e me fitou.
— O que ela tem? E a Marion, onde ela está?
— O médico disse que é uma pneumonia leve, mas vai esperar
até amanhã para ver os resultados dos exames. — Respirei fundo
também. — Estava indo ver a Marion, ela está com o Marco no
restaurante. Ela está bem, mas está sentindo a falta da irmã. Nem
sei como irei dizer que ela ficará com o Marco, já que não poderá
dormir aqui.
— O quê?! Com o Marco? Não, de jeito nenhum, ela ficará
comigo.
Eu me espantei com a atitude dele. Não conseguia imaginar o
Joshua cuidando de uma menina de quatro anos.
— Com você? No hotel? Porque, pelo que eu sei, você vive mais
no hotel do que em casa.
— Não seja idiota, ela ficará melhor comigo e com o papai do
que com o Marco. E tem a Silvia, ela adora crianças. Lembra como
ela cuidava de você? Pronto, já está decidido. Marion voltará comigo
para a ilha.
Ele ficou me olhando.
— Certo, já que você está dizendo. Vamos até lá contar a
novidade, só espero que ela não abra o berreiro quando souber que
a Pietra ficará no hospital.
Joshua abriu a porta e me deu espaço para passar.
— Apaixonado, hein? — Me empurrou com o ombro, rindo de
forma descontraída. — Quem diria, Luke Saravejo está amando.
Eu sorri de leve, entortando a boca.
Sim, eu estava apaixonado... muito apaixonado.
Capítulo 13
Meu sono sempre foi leve, por isso quando meu celular avisou
que eu tinha uma mensagem, bem lá no fundo eu já sabia que era da
Pietra. Estiquei o braço e alcancei o aparelho na mesinha de
cabeceira. Preocupado com ela, resolvi dormir na lancha, assim eu
ficaria mais perto, caso ela precisasse de mim. Mesmo com seu pai
em casa, nunca se sabe, né? Até porque eu já estava me sentindo
importante demais para ser colocado de lado. Ao ler a mensagem,
senti como se estivesse escutando sua voz fraca e chorosa. Meu
chão estremeceu e eu quis matar quem quer que fosse que ousou
fazê-la ficar daquele jeito. Eu nem respirava enquanto escrevia a
resposta, e antes mesmo de enviá-la já estava perto da moto.
Sabe aquele cara hiperssexual, que só pensa em trepar?
Deixou de existir quando entrei no quarto e a vi, tão triste.
Caralho! Eu só queria tanger toda sua tristeza para bem longe. Só
queria abraçar e beijar aquela garota linda e frágil.
E foi o que eu fiz. Deitei-me ao seu lado, beijei a sua boca e
apertei seu corpo trêmulo contra o meu. Ela chorou por quase uma
hora. Não fiz perguntas, só lhe dei o que precisava.
Eu.
Já estava amanhecendo quando pulei a janela e voltei para a
lancha. Sem sono, resolvi me deitar no convés. Devo ter cochilado,
porque acordei com o barulho das gaivotas e as risadas das
pessoas que estavam se preparando para embarcar na primeira
balsa do dia. A marina onde deixava minha lancha ficava um pouco
próxima ao ancoradouro. Fui em busca de um café, e quando voltei
ao convés, dei de cara com o Paolo.
— Bom dia, Luke!
Lá estava ele com uma expressão indecifrável. Encarando-me
de cima a baixo, como se eu fosse um ser insignificante.
— Como soube que eu estava aqui? — Não me movi e o encarei
do mesmo jeito que ele me encarava.
— Não sabia, eu apenas perguntei onde ficava sua lancha. Só
queria deixar um recado. — Ele mostrou um papel embrulhado. —
Mas já que está aqui, darei pessoalmente. — Amassou o papel e o
pôs no bolso da calça. — Só queria lembrá-lo que se escolher ficar
com minha filha tenha em mente que suas escolhas serão refletidas
nela também, portanto, faça as escolhas certas. A Pietra é muito
jovem para ser marcada com os vincos da sua estupidez.
Paolo não me deixou responder, simplesmente virou as costas e
seguiu para o ancoradouro. Não sei se teria uma resposta adequada
para tal disparate. Mas mesmo que eu tivesse, ele já tinha a opinião
formada sobre mim e nada do que eu dissesse a mudaria. Ele seguiu
em direção ao carro, entrou e guiou para a fila de automóveis na
balsa. Enquanto bebericava o café, eu o observava e só desviei os
olhos do seu carro quando a balsa começou a navegar nas águas
calmas da baía.
Ele havia me dado um tempo para fazer as mudanças em minha
vida, mas o pior é que eu não fazia ideia de como ou por onde
começar. Nunca vi, em minha maneira de lidar com a vida ou em meu
trabalho, algo sujo ou imoral. Sujas e imorais eram as mentes de
algumas pessoas, por isso nunca me importei com a opinião de
terceiros. Não queria mudar, não precisava mudar. As pessoas é que
precisavam mudar de opinião a meu respeito, mas eu não estava
muito interessado nisso. Eu precisava mostrar ao pai da Pietra que
não era bandido, nem perigoso, sem precisar abrir mão do que eu
escolhi e do que gostava de fazer.
Terminei meu café, tomei um banho e fui me encontrar com o
Marco. Tinha responsabilidades, não podia simplesmente me abster
dos meus deveres como empresário. Decidido a dar continuidade às
minhas atividades, liguei para meu amigo e sócio, avisando-o que já
estava a caminho.
Apesar de a ilha não ser muito grande, ela tinha vias que muitas
vezes tornava o trânsito insuportável, por isso escolhi a moto em vez
do carro. Eu gostava de me sentir livre, do vento na cara e da
velocidade. Em cinco minutos, já estava diante do prédio de quatro
andares onde Marco morava.
— Que cara é essa? — Marco abriu a porta do apartamento
quase de olhos fechados.
— Sono. — Ele se afastou para que eu pudesse entrar. — Você
pode ser o fodão que não se importa em dormir só algumas horas,
mas eu preciso de no mínimo umas três, ou você correrá o risco de
ficar ao lado de alguém muito mal-humorado.
— Para o mau humor, café. — Entrei na cozinha e liguei a
cafeteira.
— E a Pietra, como está? — Marco se jogou no sofá. Ele estava
péssimo.
A culpa era minha, com a doença repentina da Pietra ele
assumiu sozinho a produção do show do domingo à noite na ilha
vizinha. Eu começava a aceitar a ideia de contratar pessoas novas
para ajudar nos eventos. Só nos eventos, porque nas reuniões
particulares a responsabilidade era minha.
— Ela está bem, daqui a pouco estou indo vê-la...
— Calma aí! — Ele se levantou e foi até a cozinha, pegou uma
xícara e se serviu de café.
— Acordou? — perguntei, olhando para ele com um sorriso
torto.
— Como assim, está indo ver a Pietra? Temos um dia cheio
hoje, ou você se esqueceu que temos dois eventos no final de
semana e duas festas VIP’s, uma com cinco convidados e a outra
com trinta? Endoidou? Vai me deixar sozinho nessa?
Ele tinha razão, não podia exigir tanta responsabilidade dele, as
festas VIP’s eram minhas, então só tinha um jeito.
— Cancele as VIP’s, não tenho cabeça para cuidar de riquinhos
e famosos loucos, a Pietra não está totalmente recuperada e precisa
da minha total atenção. Quanto aos dois shows, você pode dar início
sem mim. Só irei até a casa da Pietra, ver como ela está, e me
encontro com você no escritório.
Nós tínhamos um escritório na cidade muito bem montado e
equipado, com um grupo de pessoas que cuidava das divulgações e
da papelada, incluindo belas modelos muito gostosas, que eu já havia
comido várias vezes, e com duas delas a Pietra já havia
demonstrado ciúmes. Já estava na hora de dispensá-las. Não queria
provocar a minha garota, mesmo tendo a certeza de que a Pietra
precisava confiar em mim, e não na minha fama de comedor de
boceta.
— Cara, essa porra de amor está atrapalhando os negócios. É
melhor você começar a separar as coisas e começar a priorizar o
que é negócio do que é prazer.
— Não preciso fazer isso, eu sei o que é prioridade — disse,
deixando a xícara sobre a mesa.
— Ainda bem que sabe. — Marco me seguiu enquanto falava.
— Pois é, minha prioridade hoje é a Pietra. Até mais.
Fechei a porta na cara do Marco e desci as escadas
apressadamente, pois tinha pressa. Minha boca e língua estavam
sedentas. Antes de ir, passei na banca de flores da praça central e
comprei rosas.
Quem diria, Luke Sarajevo comprando rosas.
Deixei minha moto bem na entrada da escadaria que dava
acesso à casa da Pietra, e assim que desci vi a cortina da casa ao
lado se afastar. Era a casa da tal Mariana. Já estava no segundo
degrau, quando escutei uma voz atrás de mim.
— Se eu fosse você não iria até lá. O pai dela chegou ontem,
ele não vai gostar nada de saber que você está tentando seduzir a
filha dele.
Essa mulher fofoqueira tinha sorte, uma sorte filha da puta, pois
se fosse ontem ela escutaria poucas e boas. Porém, hoje eu estava
de bom humor e cheio de tesão, portanto, não tinha tempo de
mandar a vaca se foder.
— Eu sei, já conheci meu sogro. Bom dia para a senhora
também.
Virei as costas e continuei subindo.
— Marginal. — ela sussurrou.
Sem virar em sua direção eu articulei no tom que ele pudesse
escutar: — Puta fofoqueira.
— O quê!? Você me respeite, seu moleque!
Parei. Respirei e me virei. Ela estava procurando confusão.
— Se dê ao respeito. Acho melhor a senhora se preocupar com
sua vida — disse, descendo dois degraus — Não me queira como
inimigo, dona Mariana. É só um aviso.
Ela me encarou com os olhos arregalados, recuou, entrou em
casa e bateu a porta em minha cara.
Olhei em volta. Alguns vizinhos tinham saído de suas casas,
outros estavam nas janelas.
— E vocês, não têm o que fazer não? Chispem, vão foder
alguém!
Imediatamente portas e janelas foram fechadas com violência.
Cheguei em frente à porta da casa da Pietra e bati. Levei as
mãos atrás das costas e esperei pela minha garota.
Ela abriu a porta, surpresa, com os olhos fixados nos meus, os
cabelos bagunçados e em um pijama de bichinhos. Sorriu satisfeita
ao me ver.
— Bom dia, garota! — Mostrei o buquê de rosas vermelhas. —
Não se iluda com minha delicadeza, eu quero mesmo é jogá-la por
baixo do meu corpo e fazê-la gozar. Meu pau está pulsando de tanto
tesão.
Ela nem teve tempo de responder, eu a puxei para o meu corpo
e roubei sua boca, dominando sua língua, apalpando sua bunda e
espremendo seus peitos no meu.
— Gostosa do caralho. Eu quero essa boceta apertando meu
pau, garota. — disse enquanto a beijava.
— Cadê a Marion? — Afastei um pouco minha boca para
observá-la.
— No quarto dela — respondeu.
— Deus me ama — gracejei. Voltei a beijá-la enquanto a levava
para o seu quarto.
Com os pés suspensos do chão, Pietra só podia me segurar
pelos ombros. Ela mal conseguia respirar, pois minha boca comia
cada pedacinho da sua. Com uma mão, abri a porta e com o pé a
empurrei. Deixei a mão ir em direção à fechadura e virei a chave,
assim não teríamos surpresas.
— Lu... Luke. — Ela empurrou meu peito com as mãos. —
Minhas rosas! Ah, não!
O buquê estava espremido entre nós dois, algumas rosas
esmagadas.
— Eu compro outro — disse apressadamente, buscando sua
boca para continuar beijando.
Inclinei-me para um pouco mais perto e senti o cheiro adocicado
da sua pele sedosa. Isso fez crescer em mim um demônio
dominador. Seu cheiro me consumia, me deixava ainda mais
intoxicado, quase um puto enlouquecido.
Ah, ah... Caralho! Ela olhava para meu rosto como se estivesse
com fome de mim, faminta por tudo que eu fazia. De repente, senti-
me completo, como se tudo o que eu precisava fosse ela, somente
ela. Nada além dela.
À medida em que os segundos passavam e os meus braços
continuavam ao redor do seu corpo quente, senti o ar girar em torno
de nós. E quando senti o seu coração bater descompassado contra
o peito, eu percebi que não podia perder aquela garota. Eu precisava
fazer o impossível para não a perder, caso contrário estaria para
sempre perdido.
— Quero fazer sexo com você, garota. Quero deslizar o pau
lentamente dentro de você e depois quero entrar e sair com força,
deixando-a tonta de prazer, saciada do meu pau.
Deus, minha voz estava tão rouca, minha excitação correndo por
cada veia do meu corpo. Uma sensação de plenitude, que era como
se já estivéssemos envolvidos há muito tempo, como se nos
conhecêssemos por toda a vida.
— Luke, eu nunca ficarei saciada de você, sempre vou querer
mais e mais. Me foda, Luke, me foda com força.
Empurrei-a contra a cama. Pietra soltou um grito baixo, surpresa
pelo meu ímpeto voraz. Já estava ligado nos 220v, se não socasse o
pau em sua boceta entraria em curto circuito.
— Porra, você tem muita roupa, e eu também — articulei com
voz crua e rouca, e imediatamente me livrei da minha camisa,
bermuda e cueca. O tênis se foi junto com esta última, quando se
enganchou nela.
— Caralho, Luke! — Pietra se alarmou olhando diretamente para
meu membro gigante e grosso, babando como um cachorrão louco.
— É impressão minha ou essa porra ficou maior desde a última vez
que o vi? — Olhava admirada para ele, com os olhos brilhando,
cheios de tesão.
— Ele cresce na proporção do meu tesão. Eu estou vazando por
todos os poros, garota.
E então eu me ajoelhei no colchão, inclinei-me sobre ela e
comecei a despi-la. Estava com pressa, estava faminto. Com o
tesão me consumindo e as bolas doloridas, meu medo era não
conseguir sustentar meu fogo por muito tempo. Foi fácil arrancar
toda sua roupa, e quando ela ficou completamente nua, fixei os olhos
em tudo aquilo que era meu, só meu.
A Pietra não era um mulherão, não tinha um corpo de fazer os
homens virarem a cabeça. Ela era bem diferente das mulheres que
eu costumava comer. Já trepei com muitos corpos famosos e
anônimos. Modelos magricelas, modelos gostosas, atrizes com
corpos esculturais e de uma beleza facial de ficar boquiaberto.
Mas a Pietra tinha algo que nenhuma das mulheres que eu comi
tinham. Sua beleza não era visível aos olhos, sua beleza era
sensorial.
Agora, filosofei.
Sua beleza vinha do seu olhar, do seu sorriso, do jeito como
gesticulava quando conversava. Do seu jeito de andar, de se vestir,
de me beijar e de fazer amor...
Caralho, eu disse isso?
Fazer amor...
Eu faço amor com ela.
Sim, eu faço.
Olhei para os seus pés, toquei em seus dedos.
— Hoje, eu farei... — Me inclinei e chupei o seu dedão, e ela
engoliu um grito. Segui com a boca por suas pernas grossas, beijei
seus joelhos, entre suas coxas e parei ao ver sua boceta lisinha. —
Farei amor com você... — Meu olhar seguiu o caminho acima e
finalmente encontrei o seu rosto. Ela estava emocionada, as pupilas
dilatadas e a boca entreaberta a entregavam.
— Luke...
— Minha garota é linda e perfeita. E é minha, não é? — Eu sei
que estava parecendo um maldito tarado, eu me conhecia. Já me vi
fodendo através dos espelhos dos quartos da casa VIP. Eu virava um
bicho no cio.
— Sim, eu sou... — sussurrou, fechando os olhos quando
belisquei um dos seus mamilos, puxando-o e retorcendo.
— Você quer meu pau dentro dessa bocetinha meladinha? —
Deslizei o dedo, percorrendo sua barriga até a sua rachadura,
enquanto apertava o pau com a outra mão.
Porra, estava difícil de me manter concentrado, meu cacete
estava latejando entre os dedos. Minhas bolas tão cheias e prontas
para explodir todo o meu tesão. Estava pronto para meter forte,
socar fundo e fazê-la gritar meu nome, enquanto seu corpo se
sacudia em espasmos orgásticos e viciantes.
Sou um filho da mãe egocêntrico.
— Garota, eu passei mais de vinte e quatro horas sem a sua
boceta. Não estou me aguentando, então não vamos ter
preliminares. Vou entrar em você sem dó, com todo o meu tesão —
disse com dureza, com autoridade crua.
— Abra as pernas, quero ver sua xoxota toda arreganhada. —
Pietra ficou rubra. Ela engoliu em seco, eu vi o bolo descendo por
sua garganta. Eu sei, às vezes sou assustador. Mas eu gosto de
foder verbalizando.
Ela fez o que pedi, e apertei a mandíbula ao ver seu grelinho.
Ele estava pingando de desejo por mim. Comecei a esfregar o pau
em toda sua extensão. Meus dedos se melecaram em minha porra e
isso facilitou minha masturbação. Movi mais rápido a mão, sem
afastar os olhos da sua bocetinha.
— Garota, eu vou passar o inferno pra segurar meu gozo. —
Deslizei mais rápido a palma sobre a cabeça do meu pau, meu corpo
inteiro tenso, minha respiração pesada.
— Quer me sentir aqui dentro? — Escorreguei dois dedos
dentro da sua apertada entrada. Pietra engoliu e apertou os lábios,
gemendo baixinho. — E aqui? — Retirei os dedos lambuzados da
sua boceta e os enfiei sem dó em seu cuzinho. Ela arregalou os
olhos e arqueou o corpo, e eu meti os dedos até o final, começando
a entrar e a sair. — Quer ser fodida no cuzinho, garota? Quer? Você
vai morrer e ressuscitar sem perceber. Conhecerá o inferno e o céu
ao mesmo tempo... Rebola esse rabinho nos meus dedos... Isso,
assim... Deliciosa, vou mostrar todos os prazeres que um pau pode
lhe dar, garota.
— Luke... sim... sim... Eu quero... Oh, Deus! Isso é bom...
Porra! Eu sou um maldito devasso. A garota tímida estava
desabrochando.
Ela gemeu, ia gozar. Tirei a mão do pau e finalmente me inclinei
para cima dela. Por alguns segundos, ficamos em silêncio, mas
nosso tesão exalava, deixando o quarto com cheiro de boceta e pau.
Fodi seu cuzinho com mais força. Ela gemeu alto e eu rosnei. Eu
queria tirar a virgindade dali também.
— Eu fui o primeiro aqui. — Toquei sua boceta com a outra mão.
— Serei o primeiro aqui também. — Movi os dedos dentro dela,
sentindo as pregas roçarem neles. — Serei o primeiro e o último,
garota.
Encarei o seu rosto e disse, exigente. Ela apenas assentiu com
o olhar, estava ébria demais para falar qualquer coisa, seu corpo
estava trêmulo e sua respiração ofegante.
— Eu quero essa boceta comendo meu pau e devorando cada
pedacinho dele. — Deslizei dois dedos dentro da sua boceta
novamente e a fodi nos dois lugares. Pietra não conseguiu segurar o
grito, ela puxou o ar e lutou contra o desconhecido. Mas o prazer
veio com força, seus dedos apertaram o lençol da cama.
— Luke, me foda logo. Eu vou gozar, seu sacana...
Seus olhos encontraram os meus e eu sorri, vitorioso.
Inclinei a cabeça e a beijei com fome. Por alguns minutos eu
suguei sua língua. Rosnei sem controle, pois estava também na
borda e se vacilasse gozaria em suas coxas. Retirei os dedos de
dentro dela. Pietra reclamou com o olhar. Eu sei, eu também não
queria isso, mas meu pau estava a ponto de explodir, então o deixei
entre suas coxas.
— Aperte-o, deixo-o sentir o calor da sua boceta. — Ela
obedeceu como uma boa garota. Minha mão seguiu pelo seu corpo
até sua nuca, enquanto minha boca começava a chupar seus seios,
alternando de um para o outro, enlouquecendo-a.
— Foda-me, Luke.
— Quer isso mesmo?
— Quero.
— Deixe seus pés nos meus ombros. — Olhei para ela,
exigente. Não estava pedindo, estava mandando.
Ajudei-a a colocar suas pernas em meus ombros. Esta posição
fez meu pau escorregar para a entrada do seu ânus. Pietra percebeu
minha intenção.
— Luke, eu não sei...
— Shh! Relaxe, não será hoje. Só quero que sinta o quanto será
gostoso.
Deixei meu pau fazer seu caminho, a cabeça da glande
encontrou as pregas virgens e logo tentou invadir o território
imaculado, ele se encaixou na entrada e eu empurrei, a cabeça
entrou. Pietra gemeu, seu corpo se arqueou com a espera da
invasão. Não me movi por um segundo, pois estava sentindo a
pressão do aperto, eu sei que sou pauzudo e sei o quanto será
dolorido.
— Está gostoso, sente a invasão, sente como ele a enche?
Porra, Pietra, não vejo a hora de comer seu cuzinho, de enfiar meu
pau aqui dentro até o final, de enchê-lo com minha porra. Caralho, é
bom demais.
— Luke, eu quero, estou pronta.
Ela tentou forçar, mas eu vi a dor nos seus olhos. Não, ela não
estava pronta, se fosse outra mulher eu já teria entrado com força
nela, quando ela percebesse eu já estaria a fodendo. Mas é a Pietra,
a minha garota, eu quero dar prazer, eu quero que seja especial.
Beijei sua boca. Depois sua testa molhada de suor.
— Hoje não — Puxei meu pau e o levei para a entrada apertada
da sua boceta, em um impulso profundo e duro, empurrei tudo nela.
Seu corpo se arqueou involuntariamente num movimento
repentino, por causa penetração poderosa. Seus seios foram
empurrados para cima, seus mamilos duros na mira da minha boca.
A dor estava lá, afiada, eu vi em seu rosto, no aperto dos seus
lábios, na tensão do seu corpo. A porra do meu pau escroto estava
enchendo-a, esticando-a. Gemi, fechei meus olhos, gotas de suor
saindo da minha testa, escorrendo por meu corpo, pingando nela.
Minhas bolas estavam pressionadas contra sua bunda e esta
sensação só pioraram as coisas, pois o animal fodido que morava
dentro de mim queria possuir tudo, queria sentir cada buraquinho do
seu corpo.
— Porra, caralho! Sua boceta está me comendo, garota. Você
gosta de comer o Luke, gosta? Porque meu pau adora sentir o seu
aperto, ficar todo enfiado nessa xoxotinha apertadinha.
Comecei a puxar para fora e brutalmente empurrei de volta para
dentro. Senti meu pau se perdendo dentro dela, ele pulsava
juntamente com as paredes da sua boceta. Pietra se prendeu a mim,
suas unhas encontraram a carne das minhas costas.
— Gostosa, minha garota gostosa... — Fixei meus olhos nos
dela enquanto socava forte, e a cada estocada o corpo dela
respondia, eu via através das pupilas dos seus olhos que o prazer
estava vindo.
Meus movimentos se tornaram mais ferozes, mais determinados.
Mantive meus olhos abertos, focados nela. Ela ofegava, lutava contra
o prazer, tentando prolongá-lo.
— Quer mais forte, quer que meta com mais força, quer ficar
ardidinha de tanto pau?
Empurrei profundamente, tão profundo que a cama balançou.
Saí e entrei com mais força. Ela sacudiu, gritou, fincou as unhas em
minha pele, eu urrei. Puxei-a para mim, agarrei um punhado de
cabelos da sua nuca, puxei forte, inclinando sua cabeça para trás.
— Tome pau, garota, tome com força, essa boceta é minha,
coma meu pau com vontade.
Observava como seu corpo reagia à invasão do meu pau, em
como sua boceta o aceitava todo dentro dela. Bati forte meu quadril
de encontro ao seu corpo. Deitei-a novamente e segurei suas pernas
no alto. E empurrei, empurrei...
O eco dos nossos corpos se batendo tomou conta do quarto.
— Luke... — Ela gritou, olhou desesperada para mim, ela queria
gozar.
— Goze, goze, meu amor. — Entrei com mais força novamente,
sentindo todo o aperto do seu orgasmo em torno da minha ereção.
— Porra, caralho... — Saí de dentro dela apressadamente e
jorrei minha porra em sua barriga. Eu havia esquecido da porra do
preservativo. Quase ferrava tudo. — Perdão, amor... vacilei.
Descansei suas pernas no colchão e me inclinei sobre ela. Meu
corpo ainda estava sob o impacto do orgasmo, e o dela também. Ela
estava linda demais, com cara de mulher bem fodida, muito satisfeita
com o pau do seu homem.
— Pietra, eu preciso levá-la ao ginecologista, não quero usar
camisinha com você. — Sustentei o corpo com os braços, mantendo
o peso do corpo longe do dela, e a fitei com amor. — Nunca fodi
sem camisinha, essa foi a primeira vez. Confesso que foi sem querer,
meu tesão foi maior do que a prevenção, mas... caralho! É a porra
mais gostosa do mundo. Sentir sua boceta nua deslizando em meu
pau é loucamente alucinante.
— Eu também gostei, é mais confortável. Não se preocupe,
depois eu passo na farmácia e compro um anticoncepcional...
— Nem pensar — cortei sua fala. Imagina se eu deixaria a Pietra
comprar um remédio sem antes passar no médico. — Vamos hoje
mesmo, eu tenho uma reunião no escritório à tarde e você e a
Marion irão comigo. Na volta passamos no médico. — Mordi seu
lábio inferior e me levantei. Ela já ia contestar. — Calada, quem
manda sou eu. Já está decidido. — Sorri. — Agora banho, garota.
Puxei-a pela mão e a trouxe para perto de mim. Antes de ela se
afastar, eu a beijei vorazmente, como se fosse nosso último beijo.
— Você me deixa tonta, Luke.
— Acho que você precisa é de comida. Depois de uma foda
dessa, esse corpinho precisa de energia. — Bati na sua bunda. —
Banho, antes que eu mude de ideia e resolva comer o seu rabinho
redondo e empinado. Olha como você me deixa. — Indiquei o meu
pau, envergado e duro, apontando para meu umbigo.
— Jesus! Isso não é de Deus, você é um tarado.
— Corra, garota, ou vou te enrabar... — Joguei o lençol em sua
direção e fiz menção de ir atrás dela. Pietra se enrolou e saiu
correndo.
Ela abriu a porta e eu a fechei imediatamente. Estava nu, de
cacete armado, não queria correr o risco de ser pego de surpresa.
Marion ainda dormia, mas a qualquer instante poderia entrar no
quarto da Pietra. Me limpei, vesti minha roupa e fui para a cozinha,
Pietra precisava comer algo nutritivo.
O cheiro da manteiga fritando os ovos abriu meu apetite. Eu
também estava com fome. Joguei o queijo e o presunto em cubos
dentro da frigideira, mexendo devagar. Acrescentei uma pitada de
sal, pimenta, orégano e duas gotinhas de mostarda. Puxei o ar,
sentindo o cheiro gostoso dos ovos...
— Cadê meu papai? — Olhei por cima do ombro e encontrei
uma menininha com as tranças desfeitas agarrada à sua boneca, que
agora era sua preferida, e com uma carinha triste me encarando.
— Bom dia, Estrelinha! — Desliguei o fogo e fui em sua direção.
Ela não parecia muito receptiva. Estava amuada e com os
olhinhos caídos.
— Cadê a Pipi?
— No banho.
— Cadê meu papai? Ele não está no quarto dele... — Esfregou
um olhinho, depois me encarou. — Ele foi embora? Ele deixou a
Marion?
Peguei-a no colo e a levei para a mesa. Deixei-a sentada nela e
puxei uma cadeira para mim. Sentei com ela bem na minha frente.
— Você dormiu bem? — Eu não sabia bem o que dizer, então
procurei mudar de assunto.
— Não enrola a Marion, Luke. Cadê meu papai?
Fui surpreendido. Sorri. Pensei e engoli a saliva.
Era melhor contar a verdade.
— Seu papai foi buscar a sua mamãe, não é legal?
— Não sei... — Ela baixou os olhinhos enquanto murmurava.
— Por que não sabe? Não está feliz por ter sua mamãe de
volta? — inquiri.
— Ela esquece a Marion, ela grita com a Marion. Diz que a
Marion não é a filha dela, diz que a Marion é chorona e muito chata.
Não quero essa mamãe, ela deixa a Marion triste, muito triste.
Deus! Eu a puxei e apertei seu corpinho com carinho, enquanto
alisava seu cabelo. Se eu pudesse, retirava toda aquela tristeza do
seu coraçãozinho.
Segurei seu rostinho e fiz com que ela me encarasse.
— Meu anjinho, a sua mamãe está dodói. É por isso que ela às
vezes se esquece de você, da Pipi e do seu papai.
— E por que a Pipi não me esqueceu quando ficou dodói? Eu
quando fico dodói não esqueço ninguém. Eu acho que a minha
mamãe não gosta mais da Marion.
Engoli minha emoção, era muito sofrimento para um tiquinho de
gente. Eu queria colocá-la em uma redoma de vidro e protegê-la.
— Estrelinha, o dodói da sua mamãe é diferente do seu dodói e
do dodói da Pipi. Cada pessoa tem um dodói diferente. O dodói da
sua mamãe faz com que ela esqueça as coisas... — Ela apertou os
olhinhos, estava tentando entender. — Quando você fica dodói toma
um remedinho para sarar, não é? — Ela assentiu. — A Pipi tomou
remedinho e sarou, não foi?
— Foi. — Piscou os olhinhos, acho que já estava começando a
entender.
— Então, sua mamãe vai tomar remedinho para não esquecer
mais as coisas.
— Ela vai ficar boa? Não vai mais esquecer a Marion?
Pensei por alguns segundos. Não podia enganá-la, mas não
podia ser cruel, ela era muito pequena para entender um problema
tão extenso quanto a doença da mãe.
— Isso eu não posso garantir, Estrelinha... — Baixou a
cabecinha, suspirou. Ela ia começar a chorar. Segurei o seu queixo e
os seus olhinhos nublados me fitaram outra vez. — Sua mamãe está
muito doentinha, ela vai precisar de muitos cuidados e remédios, mas
você pode ajudar a sua mamãe a não esquecer nem de você, nem
da Pipi e nem do seu papai.
— Como? Como posso ajudar?
— Quando você olha uma foto, você lembra imediatamente de
onde e quando ela foi tirada, não lembra?
— Sim, a Pipi adora tirar fotos, temos uma porção. Eu tenho
fotos de quando ainda estava na barriga da mamãe.
— Então, você pode fazer um álbum com fotos dos seus
momentos com a sua mamãe, desde o dia em que estava na barriga
dela até mais recentemente. Quando ela chegar, peça para a Pipi
tirar fotos de vocês duas. Todos os dias você tira uma foto e guarda,
assim quando ela esquecer, você mostra as fotos para ela e aí ela
se lembrará que você é a filhinha dela. O que acha?
— Legal! Luke... — Ela sorriu e tocou no meu queixo.
— Oi.
— Eu amo você.
Quase choro. Ela falou com tanta naturalidade, com tanto amor
nos seus lindos olhinhos, que quase gritei de felicidade.
— Eu também amo você, pequena Estrela. — Beijei sua testa,
demorando os lábios um pouquinho lá. Ela alisou meu rosto com seus
pequenos dedos. Eu me afastei. — Está com fome?
— Sim! — Levantou os bracinhos, gritando de felicidade. As
crianças esqueciam facilmente os momentos de tristeza.
— Eu também estou. — Olhei por cima do ombro da Marion e vi
minha linda garota recostada na parede, de braços cruzados no
peito.
Cabelos molhados, short branco soltinho, blusinha estampada de
mangas curtas se ajustando no corpo e nos pés um tênis All Star
branco. Ela estava perfeitamente linda. Lembrei do primeiro dia em
que a vi olhando para mim, me comendo com seus olhos lindos.
— Até onde a senhorita escutou nossa conversa? — perguntei
curioso, eu não queria que ela pensasse que eu estava me metendo
em um assunto tão delicado.
— Ouvi tudo. — Pietra veio até nós e beijou o alto da cabecinha
da Marion, que sorriu para a irmã. — Vamos comer a delícia que o
Luke fez para nós. — Apertou as bochechas da Marion.
— Vamos! — Marion respondeu com alegria.
— Desculpa, Pietra. Não queria me intrometer, mas...
— Obrigada! — Ela pôs dois dedos em meus lábios e depois me
beijou. — Eu não teria explicado melhor. Aliás, eu nem saberia por
onde começar, você explicou com a linguagem dela, isso foi perfeito.
— Sua mão alisou meu rosto e os seus olhos me avaliaram com
carinho. — Você será um pai maravilhoso, sabia?
— Epa! Não precisa exagerar, de namorado a pai há um longo
caminho a percorrer. Não que eu não queira, mas você primeiro tem
que ir para a faculdade...
— Calma ai, garanhão! — Ela me interrompeu novamente. —
Não disse que você seria pai de um filho meu, nem sei se quero ser
mãe...
— Pois trate de querer, porque eu quero uns três, só para
começar.
Pietra levou as mãos aos quadris e me olhou com uma careta.
— Vou fingir que não escutei isso. — Foi até o armário e pegou
a louça. Fui ajudá-la.
Pietra pôs os ovos mexidos no pratinho da Marion, leite em um
copo e suco de pêssego no outro. Depois colocou bastante ovos em
um prato.
— Para mim, isso tudo? — apontei para o exagerado prato.
— Para nós dois. — Ela piscou um olho.
Eu peguei dois garfos, duas xícaras, pão, suco e uma fatia de
mamão que eu havia descascado para Pietra.
— Vai comer, sim — afirmei quando ela olhou com desdém para
o mamão.
Comemos no mesmo prato, ela sentada em meu colo com a
bunda roçando meu pau. Ele crescendo e cutucando seu rabo
redondo. Porra, ela percebeu e começou a se mover.
— Não me provoque, garota. Se não pode brincar, não desça
para o play, entendeu? — Belisquei com força sua bunda. Ela soltou
um grito e eu levei um tapa mo braço.
Após meia hora, estávamos indo em direção ao ancoradouro.
Marion soltando gritos de felicidade por estar na moto, ela adorava o
vento no rosto. Deixei minha moto e fomos para a lancha. Tomei um
banho, vesti uma calça jeans e uma camisa social azul. Dobrei as
mangas e calcei um sapatênis marrom. Não precisava de muita
produção, eu só iria ao escritório resolver dois assuntos, depois
levaria a Pietra ao médico e depois levaria as duas para almoçar e
passear.
Seguimos para o carro, pois pegaríamos a próxima balsa.
Olhei para as duas garotas agarradas a mim e me senti o cara
mais sortudo do mundo.
É, Luke, nem tudo está perdido, você tem a chance de ser
importante para alguém.
Capítulo 17
Eu não gostava daquele cara. Não que ele tenha feito, ou dito
algo contra mim, eu simplesmente não gostava do jeito que ele
olhava para a minha garota. Qualquer um que olhasse demais para
ela era, sem dúvida alguma, meu inimigo mortal.
E eu queria arrancar a cabeça dele.
— Bem, Luke, há quanto tempo você e a Pietra estão juntos?
O babaca estava pedindo para apanhar.
Parei e me virei para encará-lo. Estávamos prestes a atravessar
a rua, meu carro estava do outro lado, estacionado.
— Não sei o que essa pergunta tem de relevante para o
problema da Pietra. — Eu avaliei seu maldito rosto enquanto soltava
o verbo.
— Deixe que eu me preocupo com o que tem ou não de
relevante, só responda à pergunta. Será melhor para a Pietra,
concorda?
Deixei escapar uma respiração pesada. Esse babaca estava
jogando com a própria sorte.
— Escute aqui, Alberto não-sei-lá-das-quantas, você já ouviu
algumas pessoas falarem sobre mim, então já sabe que eu não sou
muito amigável. Portanto, acho melhor você ser direto e parar de
jogar.
— Alberto Simões, esse é meu sobrenome. E eu não estou
jogando, estou fazendo o meu trabalho. Acredite em mim, outro em
meu lugar não tentaria ajudar a sua namorada, por isso, desarme-se
ou continue bancando o estúpido.
Minha paciência foi para o espaço. Agarrei o cretino pelo
colarinho e trouxe o seu focinho para junto do rosto.
— Quer ver o estúpido ou o diabo, senhor Alberto Simões? Da
próxima vez, não olhe para minha garota do jeito que olhou, ou verá o
diabo em pessoa, entendeu?
Ele pegou em minhas mãos e, num movimento rápido,
desprendeu-se dos meus dedos. Deu um passo para trás, ajeitou a
camisa e me encarou.
—Da próxima vez não serei eu a vir vê-la. Eu fui o primeiro, mas
virão outros, e creia, eles só farão o trabalho deles, que é perguntar,
anotar e transcrever as respostas para o responsável pelo processo.
E eu lhe garanto que se forem as mesmas respostas que tive, a sua
namorada terá pouquíssimas chances de conseguir a guarda
definitiva da irmã.
Ele se virou e atravessou a rua, seguindo a passos rápidos em
direção a um automóvel branco, um pouco à frente do meu.
— Ei, não vai me entrevistar? — Será que eu estraguei a porra
toda?
— Não preciso, você já me deu as respostas que buscava. —
Abriu a porta do carro, e antes que ele entrasse, eu o alcancei e o
segurei pelo braço.
— Será que podemos começar tudo de novo? Não por mim, mas
pela Pietra.
Ele fechou a porta e se encostou no carro.
— Luke, você realmente ama aquela moça? — Ele apontou com
a cabeça na direção das escadas que levavam à casa da Pietra.
— Amo e faria qualquer coisa por ela.
— Que bom. Então é melhor pensar na possibilidade de ajudá-la
a não perder a guarda da Marion...
Ele se virou e abriu a porta do carro novamente, mas o impedi.
— O que quer dizer com isso?
— Pense, Luke, qual juiz em sã consciência daria a guarda de
uma menina de quatro anos de idade a uma moça que acabou de
sair da adolescência e que, para piorar, está envolvida com um cara
como você? E antes que queira me bater, não sou eu quem está o
acusando, são as pessoas que eu entrevistei. O seu temperamento
estourado é o menor dos seus problemas.
Eu lhe dei um olhar assassino e ele não me ofereceu resistência,
apenas entrou no carro e fechou a porta.
— Se você gosta realmente dessa garota, saia do caminho dela,
ou a irmãzinha dela acabará em um orfanato. Não é um conselho, é
só um aviso. Passe bem, Luke.
Ele deu a partida no carro e saiu lentamente. Fiquei parado no
meio da via, observando o veículo desaparecer, e só me dei conta
quando escutei uma buzina soando forte e alguém chamando meu
nome.
— Luke, o que há com você? — Fui puxado com força para o
meio-fio. — Caralho! Quer ser atropelado? — Eu só conseguia olhar
para o meu irmão, mas não tinha reação. — Luke! — Joshua me
sacudiu, segurando meus braços.
— Eu tô na merda, cara. — Só consegui dizer isso. Meu mundo
acabara de desabar.
— Venha, acho que você precisa conversar. Vamos até o hotel.
Fui guiado por ele. Mal conseguia guiar meus próprios passos.
Chegamos ao grande hotel Sarajevo. Mesmo a família tendo
mais de uma dúzia de hotéis cinco estrelas espalhados pelo mundo,
este era o orgulho do papai. Ele tinha um imenso amor por este
hotel, talvez porque foi a mamãe que cuidou de cada detalhe. Mas
realmente, ele era muito lindo.
— Sente-se aí. Vou pegar uma bebida, acho que você precisa.
Eu me sentei em uma confortável poltrona junto à imensa janela
de vidro com vista total para a baía. De fato, a visão era de tirar o
fôlego.
— Tome. — Olhei para o copo com o líquido amarelo, fiz uma
cara feia. — Eu sei que você não gosta de uísque, mas tome. Vai
ajudar bastante.
Ele se sentou na poltrona da frente com uma garrafa de água na
mão. Joshua não bebia nada alcoólico desde o dia que sua mulher e
filha faleceram. Ele não bebia e nem dirigia.
— O que foi que você aprontou dessa vez?
Eu mereço essa merda! Mereço que desconfiem de mim,
sempre fiz por merecer toda a minha fama de bad boy arruaceiro e
delinquente.
Joshua me olhava, esperando a resposta.
— Me apaixonei, foi o que eu fiz. E agora estou fodido.
Virei o copo de vez e a bebida queimou dentro de mim, deixando
um rastro de fogo dos infernos. Mas não era o suficiente, mesmo
não gostando daquela porra eu precisava de mais. Levantei e fui até
a mesinha onde estavam as bebidas. Joshua me acompanhou com
os olhos. Fiz uma mistura de tudo o que tinha lá.
— Cara, devagar. Assim você vai parar no hospital — Ele gritou,
e eu só senti sua mão tentando pegar meu copo.
— Porra! Não preciso de babá, eu preciso dessa porra. —
Empurrei sua mão e virei o copo. — Caralho! Que porra é essa? —
Fiz uma careta e um estalo com a boca. Das duas uma: ou eu cairia
duro no tapete felpudo do meu irmão, ou ficaria muito louco.
Bem, nem uma coisa, nem outra. Só consegui ficar um pouco
zonzo, mas nada de aliviar aquela pressão em meu peito.
— Senta aqui, Luke. — Joshua me jogou no sofá outra vez. — É
sobre a guarda da Marion, não é? — Subitamente eu fiquei bom,
ergui a cabeça e o encarei.
— O que aquele idiota do Alberto disse? — O Joshua sabia de
alguma coisa, estava escrito na cara dele.
— Ele não precisou me dizer nada. Não é preciso ser um expert
em assuntos jurídicos, Luke. Só você que não quer enxergar, e acho
que já está na hora de você fazer algo com a sua vida. Se não for
por você, que seja pela Pietra, ou ela perderá a guarda da irmã.
— E o que você quer que eu faça? Eu não posso mudar meu
passado, porra. Mesmo não sendo verdade um terço do que falam
de mim, a merda já está feita.
— É, a merda já está feita, mas você pode mudar seu futuro.
Comece hoje.
— E vai adiantar!?
— Eu não sei, mas já é um bom começo, não acha?
— Eu juro, cara, se eu soubesse que levar a fama de mau no
futuro prejudicaria a pessoa que eu amo, eu teria feito tudo diferente.
— Pois é, agora não adianta chorar o leite derramado. Se vire
com o que restou na xícara e vá à luta. Eu sei que uma má
reputação não se apaga assim, mas você pode fazer tudo diferente
a partir de hoje. Não deve ser difícil para você, afinal, essa sua vida
de bad boy é só uma fachada. Eu sei disso, papai sabe disso e você
sabe também. Acho que chegou a hora de deixar o passado para
trás. Nada do que você fizer trará a mamãe de volta nem redimirá
sua culpa. Mesmo você, no fundo, sabendo que não foi o culpado,
ser um delinquente não acabará com a sua culpa.
— Isso funcionou para você? Esse discurso funcionou para você,
Joshua?
— Não misture as coisas, Luke, a minha história é diferente da
sua. No meu caso, eu fui o culpado, eu matei a minha família... — Eu
vi a dor nos olhos do meu irmão e imediatamente me arrependi de
ter tocado no assunto. — Você era só uma criança, meu irmão, e a
mamãe só queria realizar um desejo seu. Não foi sua culpa, ao
contrário de mim, que era adulto. Eu sabia das consequências em
dirigir após ter bebido e ainda tendo a certeza de estar muito
cansado. Eu dirigi e dormi no volante. Eu bati a porra do carro e
matei minha mulher e minha filha. A justiça pode ter me inocentado,
mas eu... eu não sou inocente.
Eu me levantei e fui até ele. Abracei-o.
— Meu irmão, me perdoe, eu não queria abrir velhas feridas. Eu
sou um estúpido, perdoe-me.
— Não se preocupe, Luke, estou acostumado, essa culpa nunca
me deixará. Não luto mais contra a dor, acho até que ela já faz parte
mim. Eu estou reagindo da minha maneira. E você, vai reagir?
Ele se afastou de mim, suas mãos espalmaram meus ombros e
os seus olhos se fixaram nos meus. O silêncio se fez presente por
alguns segundos e eu respirei fundo.
— Eu amo aquela garota, amo muito.
— Luke, preste atenção, não brinque com o coração da Pietra.
Apesar de ela ser muito jovem, ela tem uma grande
responsabilidade, e se você resolver ficar com ela, lembre-se que
não virá sozinha. Você ficará com o pacote completo, a Pietra e a
Marion, e não será fácil assumir uma família completa. Por isso
pense bastante antes de mergulhar de cara nessa relação.
— Eu quero, quero a porra toda. As minhas garotas serão muito
amadas, trabalharei para que isso aconteça.
— É assim que se fala, então. Antes que você saia por aí,
gritando aos quatros cantos do mundo que assumirá a Pietra,
primeiro faça por merecê-la. O juiz não quer saber o que você
pretende fazer, ele só verá o seu passado. Então trate de trabalhar
no seu futuro, pois o seu presente ainda é duvidoso.
O Joshua tinha razão, eu não podia ignorar as merdas que eu
fiz. Quem quer que seja que vá julgar o processo da Pietra também
não, eles sempre me julgariam um delinquente, um traficante dos
ricos e famosos, mesmo que não houvesse prova alguma contra
mim. Contudo, eu podia, sim, provar que não era mais um moleque e
que estava disposto a ser um homem responsável e pronto para
assumir uma família. Eu só precisava me livrar do meu passado, e
isso levava tempo, pelo menos algumas semanas.
— Então eu preciso começar já. Acho que já sei até por onde.
Dará um pouco de trabalho e tempo, mas assim que conseguir fazer
o que estou pensando, conto para a Pietra.
— Se precisar de ajuda, é só pedir.
Eu me levantei, puxei meu irmão para um abraço. Ultimamente
tínhamos nos abraçado mais e eu gostava disso. Eu e o Joshua
erámos muito ligados, ele era meu protetor quando criança.
Tínhamos onze anos de diferença de idade e nossa relação foi
cortada quando a mamãe morreu.
— Eu sei disso. — Ele me beijou no rosto. — Não precisa
exagerar. Sem beijo, tá?
Ele sorriu. Um riso tímido, mas um riso.
Voltei para o ancoradouro de mototáxi, tinha algumas coisas
para fazer antes de ir para a casa da Pietra, e se tudo desse certo,
em mais ou menos um mês eu estaria em um outro ramo de negócio.
Desta vez seria um negócio limpo, sem festas particulares.
Tudo pela minha garota.
Uma semana se passou após as visitas dos assistentes sociais.
O Alberto me disse que outros viriam. Conheci uma senhora
chamada Linda, ela veio um dia depois que o Alberto veio. Confesso
que não gostei dela. A mulher sequer olhava para mim, apenas
escrevia naquele tablet e analisava cada centímetro da casa. Olhou
até dentro da máquina de lavar e perguntou por que não havia redes
de proteção nas janelas. Eu respondi que não havia necessidade,
pois Marion era uma menina muito inteligente e nunca se pendurava
nas janelas. Ela não gostou muito da resposta, por isso o Luke já
mandou colocar redes em todos os lugares que oferecessem perigo
para a Marion, inclusive na sua casa e na do seu pai também. Se o
problema era falta de segurança, ele não existia mais.
Entretanto, a minha maior preocupação foram as perguntas que
ela fez sobre o Luke. Era como se ela só estivesse confirmando o
que já sabia sobre ele. Eu sabia que algo não estava certo com
aquelas perguntas, mas o Alberto já havia me prevenido, eu só
pensei que os próximos assistentes pegariam mais leve. O terceiro
foi um homem com um pouco mais de quarenta anos. Esse me deu
medo, pois ficou conversando com a Marion sozinho e depois me
pediu para ver os brinquedos dela. Não sei o que isso tinha a ver
com o processo, mas em todo caso eu o deixei vê-los. Após toda
inspeção na casa, ele fez uma pergunta que me deixou confusa,
perguntou se o Luke estava morando comigo. O Luke estava
dormindo aqui, mas não morava comigo, ele só estava me dando
apoio até o processo da guarda acabar, depois ele voltaria para a
casa dele. Então, eu respondi que não.
O que não era mentira. No entanto, o homem me olhou
desconfiado. E eu não sei se foi por maldade ou por querer me
alertar. Antes de ir embora, ele avisou que eu teria uma última
inspeção com a chefe dele. Seria ela quem faria o relatório final para
ser entregue ao responsável pelo processo. Então, assim que ele foi
embora eu liguei para o advogado que estava me ajudando e o que
ele me disse me assustou.
Ser a namorada do Luke não favorecia a minha situação, pois os
antecedentes dele não o qualificavam como boa companhia para a
Marion. Exigi que ele fosse direto e ele foi. Segundo ele, Luke ser o
meu namorado poderia, sim, ser o motivo para que eu não ficasse
com a guarda da Marion.
Então eu fiz a pergunta que não queria calar.
Se eu me afastasse do Luke, teria mais chances de obter a
guarda da Marion?
E escutei a resposta mais terrível, a resposta que eu já sabia,
mas não queria aceitar.
Sim, se eu me afastasse do Luke, se cortasse relações com ele,
pelo menos eu teria a guarda provisório até que saísse a decisão
final, o que não levaria muito tempo, só alguns meses.
Por isso, antes que o último inspetor viesse, tomei uma decisão.
Não foi fácil, mas era preciso. Eu não queria ter que escolher, mas
era o que faria.
Amadurecer doía.
Capítulo 20
Um mês sem ver e sem falar com a minha garota. Durante esse
tempo andei ocupando a mente. Mergulhei de cabeça no trabalho,
em meus planos. Por um lado, foi até bom ela pedir para que eu me
afastasse por completo, assim eu não teria distrações, poderia fazer
tudo o que tinha planejado. Sem motivos para voltar para Corais, eu
passava mais tempo em Salvador. Só coloquei os pés aqui no último
show que demos. Foi a minha despedida, o Marco ficou surpreso
quando eu lhe disse que não estava mais no ramo do entretenimento,
e finalmente pude lhe contar meus planos, pois eles não estavam
mais só no papel, já estavam se realizando.
Retornei para a faculdade de administração e consegui minha
licença para trabalhar no ramo do turismo sustentável, que incluía o
turismo de aventura, um subproduto do ecoturismo. Com isso, já
comprei mais duas lanchas, contratei marinheiros e seis
mergulhadores, além dos guias que eram da região. E o principal,
esta semana começará a construção da pousada Passaredo. Os
engenheiros e arquiteto que contratei já estavam finalizando a planta
que uniria a casa onde aconteciam as festas VIPs e a casa em que
eu morava, além de vários bangalôs construídos em pontos
estratégicos. Dinheiro não era problema, felizmente eu tinha
guardado a herança da minha mãe e mais da metade do dinheiro que
ganhei durante todo esse tempo que andei metido no negócio do
entretenimento.
Mesmo assim o Marco não colocou muita fé quando eu lhe
contei, até eu lhe dizer que havia vendido a lista de todos os clientes
e contatos para o nosso principal concorrente.
Ele perguntou se estava desempregado. Dei a ele duas opções:
trabalhar com o nosso concorrente ganhando quase o dobro do que
ganhava comigo, ou continuar ao meu lado, ganhando bem menos,
mas com a vantagem de não se preocupar em acabar preso, já que
o nosso concorrente não seguia regra alguma. As festas eram feitas
em uma pousada de luxo em Porto Seguro. Eles não faziam shows,
só eventos para convidados vips, mas os convidados podiam fazer o
que bem entendessem. E agora, com o aumento de prováveis
clientes, é claro que a polícia ficaria de olho.
Marco não pensou duas vezes, aceitou a minha oferta.
Ele ficará responsável pela parte turística, pois é um biólogo e
excelente mergulhador profissional. Para minha surpresa, ele me
pediu para que contratasse a Luana como recepcionista. Marco é
esperto, encontrou uma maneira de ficar perto da namorada, só não
sabia quando ele criaria coragem para enfrentar o pai da moça.
Agora se tudo der certo largarei minha vida de futilidades no
passado e para isso precisarei do apoio do meu irmão. Andei
pensando e tive uma ideia maravilhosa, só esperava que ele
aceitasse a minha proposta. É por isso que agora estava em sua
sala, tomando um chá de cadeira e esperando que terminasse uma
reunião para enfim termos uma conversa.
— Desculpe, Luke, estes dias parecem uma eternidade, é tanta
coisa para resolver. Preciso encontrar alguém para ficar no meu
lugar e preciso resolver os assuntos da inauguração do novo hotel.
Tenho que fiscalizar os últimos acertos da decoração, verificar a lista
dos novos contratados e fornecedores... Como vê, só de me ouvir
falar você já ficou cansado. Então, você veio conversar sobre a
Pietra, não foi? Sobre a ida dela para Salvador e a mudança do juiz,
o Marins. Nosso advogado já deve ter lhe contado.
Pisquei e balancei a cabeça para ordenar todas as informações.
Eu vim falar de um assunto e agora tinha mais dois para colocar
na lista.
— Espere! — Levantei da cadeira. Escovei os cabelos com os
dedos e cocei o maxilar. — A Pietra foi embora? Quando foi isso e
por que ela não me contou? E que história é essa de mudança de
juiz? Não será mais a Thereza? Quem é agora?
Ele me olhou surpreso.
— Eu pensei que a Pietra havia lhe falado. Já faz uns quinze dias
que ela foi embora, voltou para a antiga casa. Eu a ajudei com a
mudança, inclusive arrumei um emprego para ela. — Joshua saiu de
trás da mesa e veio até mim. Segurou meus ombros e me encarou.
— Se ela não contou é porque tinha motivos. Ela precisava ficar
longe de você para não fazer besteira, entende? Pietra não estava
conseguindo segurar a saudade, não a culpe...
— Entendo. Na nossa última conversa eu percebi, por isso
estava evitando vir para a ilha. Para mim também estava ficando
difícil. Eu só fiquei surpreso com a novidade. — Surpreso e triste por
saber que minha garota preferiu ir embora por não estar suportando
a dor da separação. — E que história é essa da mudança do juiz?
— Pois é. Lembra do Osvaldo, aquele velhaco que o papai
venceu em um processo milionário? No qual ele era irmão do homem
que estava processando o papai?
— Um metido a gás com água? Sim, eu me lembro, ele disse
que o papai comprou o juiz para ganhar a causa, foi o maior reboliço
na mídia.
— Eu desconfio que ele descobriu sobre você e a Pietra e agora
quer se vingar. Esse indivíduo não vale a bosta que caga e ele vai
terminar encontrando algum jeito de fazer a Pietra perder a guarda
da Marion.
— O sobrenome desse juiz é “Pacheco”?
— É.
Peguei meu celular e comecei a navegar na internet até
encontrar o que procurava.
— Esse é o juiz. — Mostrei uma foto de um homem alto, magro
e de cabelos grisalhos. Ao lado dele estavam a esposa, duas filhas e
o filho mais velho com a respectiva esposa e as duas filhas
pequenas. Eles estavam comemorando a posse do filho na Câmara
dos deputados federais. E eu o conhecia.
Eduardo Pacheco, meu cliente assíduo, duas vezes ao mês ele
fazia reserva e sempre vinha acompanhado de um ou dois rapazes
diferentes.
O juiz orgulhoso não iria querer que a mídia soubesse que o filho
macho, casado, pai e deputado, era na verdade um viado covarde
que não tinha coragem de assumir sua verdadeira sexualidade.
E eu tinha a prova de toda aquela safadeza.
Sorri satisfeito.
— Não se preocupe, a Pietra já ganhou a guarda da Marion, e
eu lhe garanto que amanhã, ou no mais tardar em dois dias, ela já
ficará sabendo disto. — Estava ne sentindo vivo novamente. — Mas,
mudando de assunto, vamos ao meu real motivo para ter vindo aqui
lhe procurar.
Ele me olhou como se não me conhecesse. Estava
completamente boquiaberto.
— Luke, o que você fez agora? — Joshua sempre esperava o
pior de mim, mas hoje ele teria uma surpresa.
— Bastantes coisas, e vá por mim, elas são bem interessantes.
A primeira delas é que não estou mais no ramo da diversão, sem
shows e sem festas VIPs. A segunda é... — Peguei os papéis em
minha pasta e os apresentei ao Joshua. — Meu futuro está todo aí.
Sou um novo empreendedor e preciso da sua ajuda. Para falar a
verdade, não é bem uma ajuda e sim uma sociedade.
Não sei se ele prestou atenção em minhas palavras, pois seus
olhos estavam atentos aos papéis em suas mãos. Fiquei calado,
observando-o. Ele estava concentrado na leitura.
— Luke, isso aqui é verdade mesmo? — Fixou os olhos em meu
rosto e não pude decifrar as emoções em seus olhos.
— É, e as obras começam amanhã. Os engenheiros e o
arquiteto já estão em Passaredo, as máquinas e a mão de obra já
estão a todo vapor. Aquilo lá está um inferno, eu até me mudei para
um pequeno apartamento no mesmo prédio do Marco.
Joshua se levantou, colocou as mãos nos quadris e me encarou
sério.
— O papai sabe disso?
— Ainda não, mas saberá. Eu quis conversar com você primeiro,
pois se aceitar a minha proposta, papai não ficará com um pé atrás.
Eu estava nervoso, mas não deixei que Joshua percebesse. Se
ele aceitasse, eu ganharia credibilidade no mercado e tudo ficaria
mais fácil.
— Qual é a proposta?
Ele voltou a sentar.
— Unir o hotel e a pousada. Alguns turistas vêm para cá porque
querem conhecer a beleza natural da ilha e das pequenas ilhotas,
mas o hotel não tem infraestrutura para fazer o turismo ecológico.
Os shows que eu trazia para cá favoreciam bastante o turismo e
agora com fim dos eventos eu tenho certeza que as reservas cairão
absurdamente, mas se trabalharmos juntos vamos ganhar muito mais
hóspedes e consequentemente poderemos oferecer mais empregos
para os nativos. O que acha?
Ele estava pensativo. Foi até a grande janela de vidro, enfiou as
mãos no bolso da calça e ficou imóvel olhando fixamente para a bela
vista. Comecei a ficar nervoso.
— O que você quer na verdade é fazer da sua futura pousada
um anexo do hotel, uma opção para os turistas que querem ficar
mais perto da natureza nativa, não é?
— Sim. Eu não havia pensado nisso, mas vendo por esse ângulo
é isso mesmo. Não é uma excelente ideia?
— É, mas eu tenho uma contraproposta.
Fodeu. Ele não ficou tão empolgado quanto eu, e se o Joshua
não ficou, imaginei como o papai ficaria. Mesmo assim não
desanimei, iria demorar um pouco para as coisas acontecerem sem
o apoio do Joshua, mas eu seria um concorrente bem pentelho.
Contudo, não custava nada escutar o que ele tinha a me oferecer.
Inspirei.
— Pode falar.
Ele se virou, veio até mim e se encostou na mesa, cruzando as
pernas nos calcanhares. Continuou com as mãos nos bolsos
olhando-me seriamente.
— Em vez de sermos sócios, você fica em meu lugar
administrando os hotéis de Salvador, inclusive este.
Ele tinha ficado louco.
— Joshua, eu não tenho experiência no ramo da hotelaria, entre
administrar uma pousada e vários hotéis há uma grande diferença.
Você endoidou? O papai nunca permitirá uma sandice dessas.
— Deixe que do papai cuido eu. E você tem experiência sim, o
que fazia antes não era muito diferente. Sim, é mais trabalhoso, mas
é quase a mesma coisa. — Ele descruzou as pernas e cruzou os
braços na frente do peito, mas continuou me encarando. — Você
organizava e cuidava de eventos no mundo todo, não só aqui na ilha.
Tudo passava por suas mãos: contratação de pessoal qualificado,
músicos, máquinas, localização, licença, montagem do palco,
iluminação, gráfica e alimentação da mão de obra. Luke, é igualzinho,
só muda que tudo está concentrado em um só lugar, concorda?
Pensando assim, ele tinha razão. Era um trabalhão do caralho,
mas eu adorava fazer tudo aquilo e, confesso, sentirei saudade da
zorra toda.
— E então, aceita ser o novo administrador dos hotéis Sarajevo?
Luke, em algumas semanas viajarei para Gramado. O nosso hotel
será inaugurado daqui a três ou quatro meses, eu preciso estar
presente para os últimos ajustes e... — Ele sentou na outra cadeira
ao meu lado. — Não pretendo voltar para Corais, já escolhi até a
cidade para morar. É uma cidade tranquila e com uma vantagem, lá
não tenho recordações da Victória, e fica a menos de quinze minutos
de Gramado. Já andei sondando casas para alugar ou até mesmo
comprar. Se você aceitar, ficarei mais tranquilo, pois os hotéis de
Salvador ficarão nas mãos de um Sarajevo e não de um estranho.
Mas não se preocupe, você só será responsável direto por este
hotel, os três demais têm gerentes contratados. Você só precisa
inspecioná-los a cada quinze dias e antes de ir eu lhe passarei todos
os detalhes. Então, aceita ou não?
Era um grande passo a ser dado. Uma mudança radical em
minha vida. Só bastaria uma palavra para que eu deixasse o Luke
bad boy para trás e começasse do zero. Eu sei que as feridas
sarariam, mas as cicatrizes ficariam. Isso não era problema, eu
queria mudar, precisava mudar.
Mas será que estava pronto para isso?
Se queria realmente uma mudança de vida, um recomeço, era
daqui que eu teria que partir. A Pietra e a Marion mereciam o meu
melhor, e eu queria o melhor.
Então, por que não tentar?
Fiquei de pé. O Joshua também. Ficamos frente a frente e olhei
seriamente para ele.
— Quando começo?
— Agora. Está pronto mesmo?
— Não, mas ficarei.
Estendi a mão. Ele a pegou.
— É assim que se fala. — Ele me puxou e me abraçou, dando
tapinhas em minhas costas. Depois se afastou e me avaliou dos pés
à cabeça. — Primeiro, você precisa mudar essa roupa e todo o seu
guarda-roupa. Tem que ficar mais formal, esqueça suas roupas
despojadas, deixe-as para usá-las em seu momento de lazer.
Espelhe-se em mim, irmãozinho, só charme e sofisticação. — Ajeitou
o paletó e a gravata, mostrando o corte impecável do seu terno. —
Vamos até o meu quarto, acho que vestimos o mesmo número.
— Caralho, Joshua, eu não sei se quero usar terno e gravata.
Isso não vai combinar comigo, olhe para mim...
Mostrei minhas tatuagens e piercings.
— Acho que o terno e as tatuagens combinam perfeitamente, dá
um ar selvagem. Só acho que não combina muito com alguns
piercings, tipo de nariz, lábios e língua, mas com os outros fica até
estiloso.
Ele piscou um olho e me empurrou para o elevador.
— Sei não, essa porra vai ficar esquisita.
— Um conselho, irmão, dome sua língua. Palavrões têm seus
momentos, certo? Depois eu mando por mensagem o endereço onde
faço meus ternos. Eles criarão modelos de acordo com a sua
personalidade.
É, o Joshua tinha razão. Se eu pretendia mudar, teria que mudar
quase tudo. Eu disse quase tudo, pois sempre serei o Luke
desbocado e linha dura.
Vestido em um terno cinza escuro, camisa branca, sem gravata
e de tênis – não ia usar aquele sapato social de jeito nenhum –
fomos ao encontro dos meus futuros fornecedores.
No caminho, eu liguei para o Marco e o promovi a gerente do
anexo do Hotel, ou futura pousada Sarajevo. Ele gritou de felicidade
e começou a exploração, fazendo uma lista de exigências. Prometi
que depois sentaríamos para conversar.
À noite, eu e o Joshua iríamos para casa do papai. Será a nossa
primeira reunião em família desde que a mamãe morreu.
Capítulo 22