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Debate Direitos Subjetivos
Debate Direitos Subjetivos
Debate Direitos Subjetivos
a ideia de que o particular tinha interesses fácticos perante a administração mas não
tinha interesses jurídicos, portanto o particular não tem um direito próprio a ir a
tribunal defender-se;
- a teoria do reflexo do direito (corresponde à lógica do Otto Mayer e aos positivistas,
como Kelsen e Merkl): a lei está na base de toda a atuação administrativa e portanto
a administração ao seguir a lei está a proteger os indivíduos. Mas os indivíduos não
têm nenhum direito subjetivo a ser protegidos, são-no por reflexo do cumprimento por
parte da administração do direito objetivo. O particular corresponde a um objeto do
Direito Administrativo.
a teoria subjetivista (defendida por Marcello Caetano, Bonnard e Barthelémy): diz que
os indivíduos têm direitos, mas não são direitos subjetivos que estão nas suas esferas
jurídicas, é apenas o direito a que a lei seja cumprida. Continua a negar a existência de
direitos individuais próprios.
Estas teorias são incompatíveis com um Estado de Direito como hoje o conhecemos. É
inadmissível que não se reconheçam aos indivíduos direitos próprios: A CRP confere aos
particulares Direitos Fundamentais, no seu Título II da Parte I, que vinculam tanto entidades
públicas e entidades privadas, sendo que estes devem ser respeitados e garantidos, Artigo 2.º,
e, no seu Artigo 1.º, vem dizer que a República soberana se baseia na dignidade da pessoa
humana, pelo que esta deve ser garantida pelos poderes públicos. Neste sentido, o Artigo 6.º
do CPA, diz que «nas suas relações com os particulares, a Administração Pública deve reger-se
pelo princípio da igualdade».
É desta forma que são atribuídos aos particulares direitos subjetivos e que lhes é atribuído
um estatuto jurídico que lhes permite deixar de ser objeto de Direito Administrativo,
passando a ser sujeito de Direito e a estabelecer relações jurídicas com a Administração Pública
numa posição de igualdade.
a Administração Pública não pode tão somente intervir de modo a prosseguir aquele
que é o interesse público, mas também não pode somente proteger a esfera dos
particulares. É importante que o legislador, quando aprove normas de Direito
Administrativo, tanto confira competência à Administração Pública para prosseguir o
interesse público, realizando as necessidades coletivas, como o faça de modo a
restringir o menos possível os direitos dos particulares - Artigo 266.º nº1 CRP: «a
Administração Pública visa a prossecução do interesse público, no respeito pelos
direitos e interesses legalmente protegidos pelos cidadãos» e também o Artigo 7.º nº2
CPA: «as decisões da Administração que colidam com direitos subjetivos ou interesses
legalmente protegidos dos particulares só podem afetar essas posições na medida do
necessário e em termos proporcionais aos objetivos a realizar».
se assim não fosse, o interesse público prevaleceria sempre e os direitos dos
particulares acabariam por ser esvaziados. Por exemplo, a saúde, que é um interesse
coletivo. Se a AP atuasse de modo a garantir que todos os cidadãos são saudáveis e
passasse por cima dos direitos subjetivos de cada um, o direito ao livre
desenvolvimento da personalidade seria posto em causa e não se poderia fumar ou
beber, ou provavelmente comprar gomas e batatas fritas.
Sempre que uma norma, seja ela qual for, proteja de forma direta com maior ou menor
conteúdo, com uma dimensão substantiva, procedimental ou processual, seja qual for o
conteúdo em causa, se há uma proteção por parte da norma jurídica, estamos perante
um direito subjetivo.
Considerava-se que nem todas as normas protegiam o particular, como um estrangeiro não
teria direito à proteção noutro país, ou seja, não teria direitos subjetivos fora do país dele. Por
outro lado, dizia-se que o essencial é o poder de reagir.
Com o Estado Social esta doutrina foi reconstruída por Bachof, que a adequou à situação da
atualidade.
2º séc. XX, por Bahof: Considerava que o Estado através da AP devia intervir na vida
económica, social e cultural e que os indivíduos têm direitos a prestações do Estado para
satisfazer os seus próprios interesses. Vem dizer que os direitos são de qualquer cidadão
que esteja num determinado Estado e não só dos cidadãos desse país.
Desloca a condição de norma vinculativa para as vinculações legais, considerando que
existe um direito subjetivo na medida dessas vinculações jurídicas, ou seja, o conteúdo
do direito é igual ao conteúdo do dever a que a entidade pública está obrigada. Bachof
procede ao alargamento do direito subjetivo a todos os casos em que uma qualquer
vinculação jurídica proteja simultaneamente interesses públicos e privados. Bachof
entende que nos modernos Estados de Direito existe uma presunção a favor do direito
subjetivo, isto porque face à ordem constitucional todas as vinculações que resultam de
normas e conferem situações de vantagem objetiva e intencionalmente concedidas aos
particulares transformaram-se em direitos subjetivos.
Chama também a atenção para as formas jurídicas dos direitos - os direitos subjetivos
não são todos iguais. Uns são absolutos, outros são relativos, outros têm conteúdo
amplo, outros têm conteúdo restrito. É preciso olhar para o poder atribuído à
administração para se perceber qual o direito que está em causa.
Num Estado Democrático e de Direito se deve presumir que uma qualquer norma que
refira um particular direta ou indiretamente, que essa norma existe para o proteger e cria
um direito.
Quanto à ideia da reação, Bachof diz que não é uma condição da existência de um direito
porque o direito a reagir é um direito de que gozam todos os direitos, logo é uma
consequência de haver um direito e não uma condição de existência de um direito – a
CRP no artigo 268º nº4 estabelece que qualquer pessoa que tem uma posição de
vantagem pode ir a tribunal defendê-la.
Esta teoria falha em não reconhecer que a lesão que existe por parte da Administração
contraria um direito que está na lei. Ou seja, antes de existir a lesão já existe um direito
que o cidadão tem e que é reconhecido legalmente e lhe permite agir de forma a evitar
a lesão. O próprio ordenamento jurídico também tutela os direitos subjetivos de modo
a evitar a sua lesão - o Código Penal proíbe e sanciona quem tentar matar outrem; o
direito à vida existe desde que nascemos/somos concebidos e não só quando
efetivamente nos tentam fazer mal.
Outra falha, é a falta de coesão entre os defensores desta teoria em relação a quando
nasce efetivamente o direito – no momento da lesão (Rui Medeiros) ou só mesmo na
ida a tribunal (Mário Aroso Almeida)?
Se se considerar que o direito só nasce na ida do particular a tribunal, tenho uma
questão. E se não for o particular a reagir e a ir a tribunal? Se for outra pessoa por ele?
O que é que esta teoria diz sobre isto? Por exemplo, os jovens que foram ao Tribunal
Europeu dos Direitos Humanos acusar vários países de não implementar medidas
suficientes para combater as alterações climáticas. Estão a lutar pelo direito ao
ambiente que entendem que está a ser continuamente lesado, só a eles é reconhecido
o direito ao ambiente porque só eles é que foram a tribunal reagir, embora tenham ido
por todos nós? O objetivo deles não é demonstrar que os Estados estão a lesar o
direito ao ambiente deles os 6 especificamente mas sim o de todas as pessoas em
geral. Porque se o tribunal der razão a estas pessoas e obrigar os Estados a atuar de
forma diferente, então está implicitamente a reconhecer a existência de direitos
subjetivos em relação a outras pessoas que não estas 6 que foram a tribunal. Se não é
o particular a reagir e sim outras pessoas a reagir por ele, o particular já não tem um
direito subjetivo? Ou o direito subjetivo nasce a partir do momento em que qualquer
pessoa reaja, mesmo que seja uma reação sobre os direitos subjetivos de outra
pessoa?
O direito de reagir é diferente do direito subjetivo violado, são dois direitos diferentes.
É precisamente por haver direitos subjetivos a priori que o cidadão tem também o
direito de reação quando os seus direitos subjetivos são postos em causa.
Confunde a relação jurídica material, a relação jurídica procedimental e a relação
jurídica processual, quando na realidade são 3 relações diferentes.
Vantagem: conceção unitária dos direitos subjetivos, coloca todos os direitos no
mesmo plano, superando as diferenciações que existiam no quadro do direito trinitário
ou binário.
Vantagem: tem por detrás a ideia de que a reação à violação do direito é essencial.
Sem essa possibilidade de reação pode haver muitos direitos na teoria mas na prática
deixam de ser eficazes e de ter relevância jurídica, por isso concordamos em que para
se ter direitos subjetivos realmente eficazes, é preciso haver o direito a reagir quando
são lesados – isto está consagrado no artigo 268º nº4 e 5 CRP.
Mas analisando as normas deste artigo 268º, está lá escrito que os cidadãos têm tutela
jurisdicional efetiva dos seus direitos ou interesses legalmente protegidos, ou seja, a
própria CRP reconhece que existem direitos que podem ser lesados, e não que só
depois de se reagir é que o direito se cria.