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O Filho Que o CEO Nao Conhecia - Renata R. Correa
O Filho Que o CEO Nao Conhecia - Renata R. Correa
Renata R. Corrêa.
O destino, às vezes, une pessoas improváveis de formas jamais
imaginadas. Foi assim que há quase sete anos, Raoni e Flávia se
encontraram em um bar e, sem sequer revelarem seus nomes verdadeiros,
atraídos um pelo outro, entregaram-se ao desejo em uma noite quente
inesquecível.
Ele é um jovem milionário, CEO da editora Histórias & Livros, uma
das maiores do Brasil. Nasceu em um lar violento e, ainda criança, teve a
vida marcada por uma tragédia. Cresceu desacreditando no amor e, apesar
de não se envolver sentimentalmente, gosta de encontros casuais.
Ela é uma jovem escritora de romances quentes em ascensão e mãe
solo. Filha de um pastor muito rígido, tornou-se uma adolescente rebelde e
ao dormir com um desconhecido, aos dezoito anos, acabou grávida, foi
expulsa de casa e teve que se virar sozinha.
Quando se forma na faculdade de Letras e é contratada para trabalhar
numa famosa editora de livros, tem uma grande surpresa: reencontra o
homem que mudou sua vida para sempre. Além de ficar sabendo que ele é o
dono da companhia, descobre que Raoni não deseja ter filhos. Apesar do
seu receio, precisa contar a verdade, mas como ele reagirá à notícia de que
já é pai de um garotinho de seis anos? O que o futuro reservará para os três?
Conteúdo adulto.
Alertas de gatilhos: Violência doméstica, rigor religioso e leucemia.
Raoni
Assim que terminei o Ensino Médio, com a boa nota que tirei no
ENEM, passei direto para a faculdade de Letras da USP. Fiquei tão feliz,
que só queria comemorar. Contudo a ideia de festa para minha família era
muito diferente do que eu pensava.
Papai me fez uma homenagem após o culto; Laura e mamãe
prepararam uma festinha com balões, refrigerante, bolo e docinhos. Achei
tudo muito fofo, mas eu queria mesmo era ir para a night, beber uns
drinques chiques e me acabar numa pista de dança. Quem sabe beijar um
cara gato e terminar nua em seus braços, sendo muito bem comida.
Quando Betânia, que também conseguira uma vaga na faculdade, para
estudar Economia da UNESP, ligou me chamando para comemorar, nem
hesitei. Morávamos no Tatuapé e sempre que saímos, era para ir a algum
lugar ali no bairro mesmo, ou no máximo nas proximidades. Mas naquela
noite, ela me disse que descolara, com um conhecido, convites para um bar
dançante muito VIP recém-inaugurado na Vila Madalena. Fiquei
empolgadíssima, mas um pouco preocupada, pois achava que não teria nada
apropriado para usar num lugar assim.
— Amiga, também não tenho nenhum vestido à altura, mas acho que
os da minha mãe vão nos servir. Eu pego escondido pra gente, só teremos
de ter cuidado para não sujarem, nem ficarem com o cheiro dos nossos
perfumes, pois será difícil lavá-los depois sem que ela veja.
— Pode deixar. Ah, nem acredito nisso, estou muito empolgada!
— Eu também. Tenho certeza de que será uma noite inesquecível.
Daqui a pouco levarei um vestido aí pra você.
— Está bem, fico te esperando. Beijos!
Cerca de uma hora depois minha amiga apareceu para me visitar.
Fomos para o meu quarto e quando ela tirou da bolsa o vestido que me
emprestaria, fiquei de queixo caído. Ele era lindo, preto brilhante, de uma
malha grossa.
— Experimenta, vai! — Ela o me entregou.
Ao vesti-lo, mal conseguia acreditar que era eu na imagem refletida
no espelho. Estava um pouco acima do que deveria ser meu peso ideal, mas
o corte perfeito da roupa disfarçou as gordurinhas e valorizou muito minhas
curvas. Ele tinha um elegante decote canoa na frente e nas costas, e o
comprimento ia até a altura dos joelhos. Era um vestido que não mostrava
quase nada, sua sensualidade estava no corte justo, que incrivelmente
disfarçava a barriga, deixando a cintura mais fina e a bunda mais arrebitada.
— Uau! — Você ficou muito gata, Flavinha. Estava certa quando
pensei que o preto valorizaria sua pele branquinha e o cabelo loiro. Está
maravilhosa!
— Nossa, Bê, nem tenho como te agradecer o suficiente. Acho que
nunca usei nada tão lindo.
— Boba. Não tem nada a agradecer, só cuide bem dele, ok?
— Pode deixar! De que cor é o que vai usar?
— Azul royal, de um tecido brilhante parecido com esse. Também é
justo, mas ao invés do decote canoa, ele tem as costas abertas.
— Uhul! Aposto que ficou uma gata também. Vamos arrasar hoje!
— Vamos mesmo, amiga! Hoje a noite é todinha nossa! — Sorrimos
com cumplicidade e combinamos os detalhes para a nossa aventura.
Já estávamos com dezoito anos, mas ainda não tínhamos carro, nem
carteira de habilitação e continuávamos precisando sair escondidas. Assim
como eu, ela tinha uma chave do portão de casa e escapava pela janela do
quarto para não chamar atenção. Pediria um táxi logo que saísse e passaria
para me buscar, pegando-me na esquina.
Tudo saiu como o planejado e quando chegamos ao local, fiquei
impressionada com a sofisticação da decoração em tons de preto, prata e
vermelho. Encaminhamo-nos para o bar e pedimos dois drinques Sex on the
Beach. Praticamente viramos as bebidas, pedimos outras e seguimos para a
pista de dança.
Eu fiquei de olho em um rapaz em uma mesa a alguns metros dali.
Ele bebia champanhe e estava acompanhado de outros dois homens mais
velhos. Mesmo sentado, dava para ver que era alto e forte. Muito bonito e
charmoso, tinha cabelos e olhos castanhos, rosto quadrado e sorriso sedutor.
Ele parecia os personagens que eu inventava para as minhas histórias.
Ainda não tinha conhecido um cara tão perfeito na vida real.
— Que gato, amiga! — Betânia comentou ao perceber para onde eu
olhava.
— Muito! Pena que ainda não me notou.
— Calma, nós mal chegamos. A noite ainda é uma criança e tudo
pode acontecer.
— Se ele não me vir o olhando, quando levantar para ir ao banheiro,
darei um jeito de abordá-lo.
— Boa ideia, Flavinha! Também arrumei um gatinho para paquerar.
Está à sua direita.
— Ele está vindo até nós, Bê.
Assim que o rapaz se aproximou e começou a conversar conosco,
nitidamente interessado em Betânia, percebi que meu paquera levantou.
Virei o resto da minha bebida, pedi licença e caminhei na direção daquele
deus grego.
Sem saber muito bem o que fazer, acabei optando por um “esbarrão”.
Pelo menos nos romances aquele tipo de tática funcionava.
— Nossa, me desculpa — pedi, descarada, quando nossos corpos se
chocaram.
— Imagina, eu que peço desculpas. Ele parou à minha frente e me
olhou de cima a baixo. Seu escrutínio me aqueceu de súbito. O homem
exalava sex appeal. Umedeci os lábios, imaginando como seria provar os
dele e ser envolvida pelos braços fortes.
Ele falou que eu era linda e perguntou meu nome. Não queria ser a
Flávia aquela noite. Desejava ser outra mulher, como as mocinhas dos meus
livros, mais ousada, dona de si. Pensei em dizer que me chamava Júlia,
Sabrina ou Bianca, mas acabei me decidindo por algo mais clássico e falei
que meu nome era Julieta. Ficou nítido que ele não acreditou, mas não
pareceu se importar muito.
Quando pediu para ser o meu Romeu naquela noite, tirei coragem
nem sei de onde e propus sexo casual para o cara que eu acabara de
conhecer. Quando ele parou para avisar os caras com quem estava que iria
embora, aproveitei para falar com Betânia também. Minha amiga disse que
esticaria a noite com o boy que arrumou. Então nos despedimos com um
abraço, desejando boa sorte uma à outra.
Romeu me levou para um motel lá perto e me mostrou como era ser
bem fodida. Foi tão gostoso e perfeito que tive a certeza de que era
totalmente possível protagonizar todas as cenas que já tinha lido nos livros
eróticos e que me inspirava a escrever as dos meus próprios romances.
Depois daquela noite memorável, todos os meus mocinhos passariam a ser
inspirados em “Romeu”. Só não imaginava que ele marcaria minha vida de
uma forma muito mais importante.
Raoni
Nos quase sete anos seguintes, a Histórias & Livros se tornou uma
das maiores editoras do Brasil. Quando fiz trinta e dois, vovó, que já estava
com oitenta, aposentou-se dos negócios. Apesar de eu ter comprado uma
excelente cobertura no Itaim, passava mais tempo em sua mansão no
Morumbi do que na minha própria residência. Afinal, estava idosa e eu me
preocupava muito com ela, mesmo que soubesse que nunca estava sozinha,
já que há alguns anos contratara uma governanta, dona Mariana, que além
de cuidar dos funcionários da mansão, morava lá e lhe fazia companhia.
Apesar do sucesso profissional, eu levava uma vida reservada e não
gostava de sair nas mídias. Poucas pessoas conheciam o rosto do CEO da
companhia.
Nunca tive um namoro sério e enquanto Tales, meu melhor amigo e
advogado da empresa, dois anos mais novo que eu, começava a falar em
casamento e família, aquilo nem passava pela minha cabeça.
As recordações do meu passado sombrio jamais me abandonaram.
Volta e meia ainda tinha pesadelos com discussões que presenciei e com a
noite em que mamãe morreu. Toda aquela tragédia quebrou algo dentro de
mim. Decidi que nunca me casaria ou teria filhos. Inclusive estava
pensando em fazer vasectomia, para evitar uma gravidez acidental, já que
adorava sexo sem compromisso e mesmo que sempre usasse preservativo,
tinha consciência de que sua eficácia como método contraceptivo não era
100%.
— Posso entrar? — Jonas, o funcionário do departamento de
avaliação de originais, dispensando a apresentação da secretária, bateu de
leve na porta, interrompendo meu devaneio, e a abriu.
— Claro, entre e sente-se. — Sorri, simpático.
Ele estava com cinquenta anos e trabalhava na Histórias & Livros
desde que eu era um garotinho.
— Raoni, já faz um tempo que queria ter falado com você a respeito
desse assunto, mas sempre tem alguma coisa mais urgente e acabo deixando
pra depois.
— Algum problema, Jô?
— Não exatamente. — Ele ocupou a cadeira à frente da minha mesa.
— É que precisamos de pelo menos mais um funcionário no setor de
avaliação de originais. A equipe não está dando conta do trabalho. Acho,
inclusive, que seria interessante contratarmos alguém com experiência
como revisor, porque daí poderá nos socorrer de vez em quando nessa área
também.
— Tem razão, a quantidade de obras que estão sendo submetidas para
avaliação, tanto por intermédio de agentes, quanto vindas dos próprios
autores, não para de aumentar. Isso sem contar que tenho te pedido com
mais frequência para ficar de olho nos novos talentos que estão se
destacando na autopublicação.
— Sim, sim. Com tanta coisa pra ler, eu e minha equipe estamos
muito sobrecarregados.
— Vamos contratar mais uma pessoa, então. Poderia pedir ao Aloísio
pra anunciar a vaga nas nossas redes sociais? Peça que coloque como pré-
requisitos formação em Estudos Literários, Letras ou Jornalismo e
especialização em Revisão Textual.
— Perfeito, pode deixar! Farei isso agora mesmo. Muito obrigado!
Ele se despediu e saiu da sala.
Aloísio era o chefe do setor de Publicidade e Propaganda da editora.
Já estava trabalhando conosco há vinte anos. Quando entrou para a
Histórias & Livros, não demorou para que ele e Jonas começassem a
namorar. O relacionamento deu muito certo e um ano depois foram morar
juntos. Mesmo vendo como a relação dos dois era harmoniosa, ainda
achava que dividir a vida com alguém, de forma romântica, não era para
mim.
Camila ficou tão empolgada quanto eu, quando contei que tinha
conseguido a vaga. Davi, que já estava com seis anos, às vezes se
comportava como um verdadeiro rapazinho e também fez questão de
demonstrar sua alegria e entusiasmo.
— Que máximo, parabéns, mamãe! — Ele se aproximou com os
bracinhos estendidos para me dar um abraço. Abaixei-me para receber seu
carinho. — Um dia me leva até lá? Acho que deve ser bem legal trabalhar
em um lugar cheio de livros pra todos os lados.
— Obrigada, meu lindo. Se me permitirem, te levo, sim. Mas sem
querer ser desmancha-prazeres, acho que uma editora não é bem como está
imaginando.
— O que é desmancha-fazeres?
— Desmancha-prazeres, amor. É quando alguém fala ou faz algo que
meio que acaba com a alegria do outro, entende?
— Hum... acho que sim. Tipo quando eu estou animado vendo um
desenho e você diz que é hora de ir pra cama, não é?
Eu e Camila não conseguimos conter o riso, diante daquele rostinho
lindo e fofo que demonstrava toda a frustração com a situação relatada.
— Isso mesmo. Mas sabe que a mamãe sempre fala para o seu bem,
não é? Criança tem que dormir cedo, pra descansar e poder crescer.
— Será que eu vou ficar alto? Como era meu pai? Você nunca fala
dele.
— Seu pai é bem alto e muito bonito. Você se parece muito com ele.
O cabelo castanho, os traços do rosto. Só seus olhos azuis é que puxaram
aos meus. — Sentei e o coloquei no meu colo. Mesmo tantos anos depois,
era impossível esquecer como era Romeu, pois sua semelhança com Davi
me fazia lembrar dele todos os dias.
— Não sabe mesmo onde ele está? Gostaria tanto de conhecê-lo...
— Infelizmente não. Queria que as coisas tivessem sido diferentes.
Sinto tanto, meu filho... — Beijei o topo da sua cabecinha.
— Ele não morreu, né?
— Eu nunca mais o vi, nem soube nada sobre ele, mas imagino que
esteja vivo.
Eu não tinha contado para meu filho em que situação o havia
concebido, mas ele sabia que eu e o seu pai não nos vimos mais, que nos
afastamos antes de eu descobrir que estava grávida e que, portanto, ele não
tinha conhecimento da sua existência.
— Todas as noites eu peço a Deus para dar um jeitinho de fazer você
e papai se acharem. Para Ele nada é impossível, não é mesmo?
— Tem toda razão, meu amor. Para Deus nada é impossível.
Não gostava de ficar iludindo Davi, já que encontrar o pai seria como
achar uma agulha no palheiro, mas também não era justo tirar sua
esperança. Afinal, o que seria de nós sem ela?
— Você parece mais feliz hoje, mamãe. Está até mais bonita — meu
filho comentou ao me ver e me dar um forte abraço.
— Obrigada, meu amor. Tem uma coisa muito boa que pode
acontecer em breve.
— Vai ganhar um presente?
— Digamos que é praticamente isso. Talvez a editora Histórias &
Livros publique um romance meu, não é demais?
— Que irado!
— Irado mesmo! Ainda não estou nem acreditando. Vamos embora
rapidinho, porque quando a mamãe chegar em casa, ainda tem que enviar o
arquivo do livro para o chefe dela.
— Então vamos no modo turbo!
Ri do jeito empolgado dele e entramos no carro. O trânsito quase me
enlouqueceu e acabei demorando mais do que previa. Mal chegamos em
casa, liguei meu computador e enviei o e-mail para Jonas.
— Boa sorte, mamãe! — Davi, que não desgrudou de mim desde que
chegamos, falou ao me ver fechar os olhos e fazer uma prece em silêncio.
— Obrigada, meu amor! — Abri as pálpebras, beijei sua testa e o
chamei para fazermos um lanche.
Antes que eu tivesse a chance de abrir a boca, Davi contou para
Camila a novidade.
— Que maravilha, amiga! Merece demais as coisas boas que estão
acontecendo. Vai dar certo, você vai ver. Na sua noite de autógrafos serei a
primeira da fila — falou, exagerada, e me abraçou. — Que tal uma pizza
para comemorarmos? Vou pedir pra gente!
— Oba! Pede de samorela com presunto! — Davi se manifestou,
eufórico.
— É muçarela, meu bem — eu o corrigi e nós três rimos.
Enquanto aguardamos a entrega, tomamos banho.
Foi difícil trabalhar naquela tarde. Estava eufórica pelo fato de que
teria um romance publicado pela Histórias & Livros e porque precisava
encontrar uma forma de contar ao Raoni sobre a paternidade do Davi.
Quando o expediente terminou, fui direto para a escolinha. Mais uma
vez meu pequeno me recebeu com um abraço de urso.
— Lembra que a mamãe disse que poderia ter um livro publicado
pela editora que está trabalhando?
— Claro! Eu até orei pro Papai do Céu para que desse tudo certo.
— Pois suas preces foram atendidas, filho! Hoje me disseram que vão
publicar meu romance!
— Sério? — ele arregalou os olhinhos, animado.
— Seríssimo!
— Uhul! Que irado, mãe, parabéns! Você vai ficar famosa e aparecer
na TV?
— Quem sabe, meu amor?
— Aposto que vai e quer saber? Acho que será assim que o papai irá
te ver e vamos descobrir onde ele está.
— Oh, meu amor... — Engoli em seco ao ouvir aquilo.
Eu quis dizer que já o tinha encontrado, mas não poderia falar aquilo
assim de qualquer maneira, muito menos sem antes saber qual seria a
reação do Raoni. E se ele não quisesse assumir a paternidade? Era melhor
Davi achar que o pai estava perdido por aí, do que o rejeitou.
— Que tal comprarmos um bolo bem gostoso e um potão de sorvete
pra comemorarmos?
— Ótima ideia! Sorvete é minha comida favorita!
— Ah, menino, sorvete nem é de fato comida — exagerei ao
pronunciar a última palavra —, é só uma sobremesa gelada cheia de açúcar
e gordura. Ficaria mais feliz se me dissesse que ama arroz com brócolis e
carne.
— Brócolis, eca! — Ele fez cara de nojo e eu ri.
— Ainda vou te convencer a gostar do que é saudável, mas agora
merecemos mesmo nos empanturrarmos de besteiras! Partiu padaria e bora
comemorar!
— Demorô!
Davi esfregou as mãozinhas, empolgado. Coloquei sua mochila no
carro e o ajudei a se acomodar no assento infantil, no banco traseiro, e a
afivelar o cinto de segurança.
Seguimos cantarolando, alegres, até a padaria.
Aquele foi um delicioso fim de tarde.
Quando meu filho dormiu, contei para Camila sobre Raoni ser o meu
Romeu.
— Meu Deus, amiga! E ele não te reconheceu?
— Não. Ficou me olhando desconfiado, dizendo que tinha a
impressão de já ter me visto antes, mas não lembrou de onde.
— Você vai contar a verdade a ele?
— Preciso, né? Ele tem o direito de saber que tem um filho e Davi
merece conhecer o pai. Só não sei como farei isso. Raoni parece um cara
bacana, mas não faço ideia de como reagirá a notícia da paternidade.
Provavelmente, vai achar que estou louca, ou querendo seu dinheiro.
Depois deve exigir um teste de DNA e só de pensar nessas possiblidades,
eu já sinto uma pontada no estômago.
— Calma, Flavinha, não sofra por antecedência. Tenho certeza de que
encontrará uma forma de abordar o assunto e fazer a revelação, sem que ele
pense que é uma lunática ou oportunista. E quanto ao exame de DNA,
normal que ele exija essa comprovação, né? Fique tranquila. Dará tudo
certo.
— Que Deus te ouça! Davi desejou tanto encontrar o pai, não merece
ser rejeitado.
— Não será. Confie no Senhor que ele te mostrará o caminho e guiará
suas decisões.
— Obrigada, amiga. Te amo demais, sabia?
— Também te amo!
Demos um abraço carinhoso.
Ao deitar, revirei na cama de um lado para o outro, pensando no que
fazer. Aquele fora um dia bem surreal e eu ainda não tinha certeza se não
estava apenas sonhando. Quando o cansaço cobrou seu preço, deixei o sono
me dominar e adormeci.
Raoni
Na quarta, assim que cheguei à editora, fui falar com o senhor Jonas.
Expliquei a situação e quase supliquei ao pedir que ele me deixasse levar
meu filho comigo no dia seguinte, prometendo que ele seria bem-
comportado e não incomodaria ninguém.
— Claro, querida, pode trazê-lo, sim. Vou providenciar uma mesa
pequena para ele e pedir que coloquem ao lado da sua e também livros e
revistinhas de colorir. Quando ele se entediar, pode assistir TV na sala de
descanso e até tirar um cochilo. Raoni ficava muito por aqui quando era
garoto e alguns funcionários, vez ou outra, também precisaram trazer os
filhos, então fique tranquila.
— O senhor Raoni gosta de crianças? — perguntei, aproveitando para
descobrir um pouco mais sobre o pai do Davi.
— Ele gosta e leva o maior jeito com elas, é uma pena que não deseje
ter filhos.
— Mas por quê? — Senti uma pontada no estômago ao ouvir aquela
informação.
— É uma triste história, querida. Não comentamos muito sobre o
assunto por aqui, apesar de não ser nenhum segredo. Enfim, Raoni nasceu
em um lar violento, o pai era alcoólatra e acabou sendo responsável pela
morte da mãe dele. Já preso, se matou. Dona Vilma foi quem o criou. Na
época era ela quem dirigia a editora, por isso ele vivia por aqui e por conta
de toda essa tragédia familiar, diz que nunca terá filhos.
— Nossa... eu não poderia imaginar uma coisa dessas.
— Infelizmente a vida é mais dura para alguns do que para outros,
não é mesmo?
— Sei bem disso. — Esbocei um sorriso, triste por minha própria
história e mais ainda por aquela que acabara de ouvir.
Agradeci ao senhor Jonas por me deixar levar Davi e fui para meu
local de trabalho.
Se Raoni era tão traumatizado com a questão da paternidade, como
reagiria ao saber que tinha um filho? Engoli em seco, sentindo um
desconforto apertando o peito.
Após ver Flávia chegar com o filho na editora, fiquei ainda mais
cismado de que a conhecia de algum lugar. Sem conseguir tirar aquilo da
cabeça, no final do expediente resolvi passar no setor de avaliações dos
originais.
Quando entrei na sala, os outros dois funcionários já tinham ido
embora, Flávia estava compenetrada lendo alguma coisa no computador e o
garotinho parecia completamente fascinado pelo livro que tinha nas mãos.
— Atrapalho? — perguntei, fazendo com que a atenção deles se
voltasse para mim.
— De forma alguma. — Ela me olhou com surpresa, mas sorriu
simpática. — Estava só insistindo mais um pouco na avaliação de um
original, porém esse aqui não vai ter salvação. Começou até bem, só que o
autor acabou se perdendo no meio da história.
— Acontece muito, não é mesmo? — Ela assentiu e então abaixei-me
para ficar na altura da mesa infantil que Davi ocupava. — E você,
rapazinho, o que está lendo aí?
— “O Pequeno Príncipe” — respondeu animado, com os olhinhos
azuis, iguais aos da mãe, arregalados, virando o exemplar de capa dura,
para me mostrar o título.
— Está gostando da leitura?
— Estou. Na verdade, já conheço a história, temos um livro lá em
casa, só que não é tão bonito quanto este.
— É uma das histórias preferidas dele — Flávia se manifestou.
— Pelo visto tem bom gosto. Eu também aprendi a ler bem novo,
antes que a maioria dos meus colegas da escola, e muito cedo me apaixonei
pelos livros. Já escolheu qual vai querer de presente?
Ele negou com a cabecinha, tímido.
— Então leve este exemplar. É uma edição especial, realmente muito
bonita.
— Que demais! Posso aceitar, mamãe? — Ele olhou para ela,
aguardando a aprovação.
Flávia, parecendo emocionada, apenas assentiu.
— Muito obrigado, senhor Raoni! Será meu livro mais bonito e olha
que tenho muitos!
— Isso é ótimo. Seu pai também gosta de ler? Imagino que ele tenha
muito orgulho de você.
— Ah, eu ainda não conheço meu pai. — Fez uma carinha triste.
— Não? — Olhei dele para a mãe, curioso e Flávia fez uma careta.
— Não. Ele e minha mãe se perderam um do outro, papai ainda não
sabe que eu existo. Mas por mais que mamãe diga que encontrá-lo seria
como achar agulha num palheiro, o que na verdade não entendo muito bem,
tenho esperança de que vou conhecê-lo um dia.
Fiquei por um instante sem palavras, ao ouvir o relato do garotinho.
Então Flávia era uma mãe solo? Qual seria a sua história?
Sem querer constrangê-la ainda mais, pois a coitada já estava com
uma expressão de desespero na face ruborizada, apenas balancei a cabeça,
concordado e sorri para ele.
— Bem, senhor Raoni, eu terminei o trabalho por hoje e deu meu
horário, nós já vamos embora. Muito obrigada por permitir que eu trouxesse
Davi comigo e pelo presente que deu a ele.
— Não precisa agradecer. Bom feriado para vocês amanhã e bom fim
de semana!
Despedi-me dos dois e deixei a sala, pensativo, muito curioso para
saber mais sobre a vida da Flávia.
— Uau, adorei a sua casa! — Ela olhou, admirada, ao redor, logo que
entramos. — Mora aqui sozinho?
— Moro. — Resumi a resposta, sem dar detalhes sobre minha vida
pessoal.
— Então você não bebe?
— Não. E você? Acho que éramos as únicas duas pessoas sóbrias
naquele lugar — comentei em tom divertido.
— Também não — respondeu e se aproximou, sedutora. — Não tem
namorada?
— Olha, Letícia, vou ser muito franco contigo. Eu não namoro. Não
tenho o menor interesse em um relacionamento sério, mas te achei linda e
muito atraente. Se quiser só diversão, podemos curtir um pouco juntos. —
Passei a mão em sua cintura fina, estreitando nossa distância. — Mas seria
só sexo, nada mais.
Ela me olhou por um longo instante, parecendo decidir o que faria.
— Acho que posso lidar com isso, afinal, sendo bem honesta também,
faz tempo que não transo, estou excitada só de ouvir sua voz e você tem
cara de quem tem pegada. Eu topo só sexo.
— Perfeito. — Acariciei seu rosto e a beijei com volúpia.
A moça respondeu com a mesma intensidade. Logo estávamos
explorando com as mãos o corpo um do outro, atiçando, arrancando
gemidos.
Quando nossos lábios se desgrudaram, levei-a para o meu quarto,
onde voltamos a nos agarrar. Retirei seu vestido e ela me ajudou a me livrar
de minhas roupas. Nós nos masturbarmos, eu já estava de pau duro, louco
para fodê-la.
Letícia abaixou-se à minha frente e me chupou. Sem deixar que fosse
até o fim, puxei-a para cima e a ajudei a deitar na cama. Foi a minha vez de
prová-la. Quando estava prestes a gozar, afastei-me, sob seus protestos para
colocar o preservativo. Então voltei a me posicionar entre as suas pernas e a
penetrei em uma estocada vigorosa, enterrando-me forte e fundo. Comecei
a entrar e sair devagar. Ela gemia e se contorcia, ensandecida, arranhando as
minhas costas.
Aumentei a velocidade das investidas, alucinado. Quando fechei os
olhos, o rosto que veio em minha mente me assustou. Não era mais a
morena que eu possuía, mas a loira de intrigantes olhos azuis que andava
despertando a minha curiosidade.
Não era certo ficar fantasiando com minha nova funcionária, então
balancei a cabeça, tentando desfazer aquela ilusão absurda. Contudo não
obtive sucesso. Quando atingi o clímax, foi o nome de Flávia que saiu da
minha boca.
— Letícia, gato. Meu nome é Letícia. — Minha acompanhante me
corrigiu, em tom raivoso.
— Desculpa, eu... — Olhei para ela com vergonha e aterrorizado pelo
ocorrido.
— Tudo bem. O sexo foi ótimo, mas preciso ir. — Levantou,
apresada, vestiu suas roupas e saiu.
Querida irmã, nem imagina o quanto fiquei feliz por receber seu e-
mail.
Ao longo desses anos tentei contato com você e mamãe, mas sem
conseguir respostas, acabei desistindo e sinto muito por isso. Estou bem.
Me formei em Letras e fiz uma pós-graduação em Revisão de Textos.
Continuo escrevendo meus romances e estou trabalhando em uma grande
editora. Meu filho é um menino, Davi. Um garoto lindo, inteligente e
amoroso, que enche minha vida de alegria.
Não foi fácil enfrentar a gravidez e a maternidade sem o apoio de
vocês, mas também não fiquei completamente sozinha. Fiz uma grande
amiga durante a faculdade, com quem divido um apartamento até hoje. Ela
me ajudou muito e ainda ajuda.
Estou feliz que tenha se casado e que esteja grávida. Quero que saiba
que nunca culpei você nem mamãe por não terem impedido papai de me
mandar embora. O que poderiam fazer? Se conseguir falar com ela sobre
mim, diga que estou com saudades e que a amo.
Vou te mandar uma foto minha com Davi, me mande também uma sua
grávida. Quero muito te ver, vamos dar um jeito nisso.
Com todo o meu amor e uma saudade imensa,
Flávia.
Foi difícil trabalhar naquele dia, pois cada vez que meu olhar vagava
até o sofá do escritório, eu recordava das cenas protagonizadas com Flávia
sobre ele. Além de linda, batalhadora, inteligente e interessante, a mãe do
meu filho era muito gostosa.
A mãe do meu filho... Afundei as mãos no cabelo, atordoado. Como
aquilo foi acontecer? Como eu podia ser o pai que aquele garotinho de seis
anos tão fofo e esperto sonhava encontrar?
Às vezes planejamos o futuro, o que desejamos ser ou não, sem nos
darmos conta de que, na verdade, não passamos de marionetes nas mãos do
destino. Eu jurava que não teria filhos, estava decidido, jamais imaginaria
que já tinha um.
Por mais que tenha passado a vida toda rejeitando a ideia da
paternidade, por medo de me tornar um pai terrível como o meu foi, após a
revelação de Flávia, algo dentro de mim mudou. Ainda faria o exame de
DNA, mas não duvidava da sua palavra, mesmo porque, como ela mesma
disse, Davi se parecia muito comigo, apenas os olhos eram iguais aos da
mãe.
Eu queria conhecê-lo melhor, protegê-lo a qualquer preço, compensar
de alguma forma os anos que passamos longe um do outro. Estava ansioso
por nosso encontro no sábado. Todos aqueles sentimentos inesperados me
deixaram confuso, feliz, empolgado e com um medo tremendo.
Quando cheguei à mansão, ao final da tarde, ainda continuava
reflexivo.
— Dia difícil, meu amor? — vovó indagou ao me ver entrar. — Está
com uma carinha preocupada.
— Acho que surpreendente seria a palavra mais adequada. — Fui até
ela, que estava no sofá, com um livro nas mãos, e beijei sua testa.
— Quer me contar o que aconteceu? Quem sabe eu possa ajudar de
algum modo. Sente aqui. — Indicou o seu lado e eu me acomodei,
afrouxando o nó da gravata.
— Lembra de eu falar com a senhora da nossa nova contratada para o
setor de avaliação de originais, a Flávia?
— A que é escritora e que vamos publicar um livro dela?
— Isso, a própria.
— O que tem a moça? Está interessado nela? — Um brilho de
empolgação reluziu nas íris esverdeadas de dona Vilma, que não desistia da
ideia de me ver casado um dia.
— Bem, hum-hum... — raspei a garganta e retirei o paletó, pois fiquei
com calor só de lembrar do sexo quente que fizemos. — Eu mentiria se
dissesse que não me sinto atraído por ela.
— Que maravilha ouvir isso!
— Não se anime demais, está bem? Ela é linda, sexy e interessante,
mas não é sobre isso que queria te falar.
— Ah, não? — Franziu o cenho, nitidamente confusa. — O que tem a
moça, então?
— Ela tem um filho de seis anos, chamado Davi. Eu o conheci na
quinta-feira antes do feriado, pois precisou levá-lo para o trabalho, já que
não tinha ninguém para ficar com ele. Jonas comentou que o achou muito
parecido comigo, que vê-lo o fez recordar de quando eu era garoto e vivia
por lá com a senhora.
— Lembro bem dessa época, você estava sempre com um livro nas
mãos. Sorriu, saudosa. — Então o assunto é sobre o menino?
— Vovó, a senhora não vai acreditar, mas hoje pela manhã Flávia
confessou que eu e ela nos conhecemos há quase sete anos. Numa noite em
que saí para comemorar aquele contrato que fechamos com o pessoal do
audiovisual, lembra?
— Sim, sim.
— Naquela noite, eu bebi, coisa que a senhora sabe bem que não
faço, e acabei transando com uma garota de quem eu nem sequer sabia o
nome verdadeiro.
— A desconhecida é a Flávia? — Arregalou os olhos, animada.
— É ela, vó. Desde que a vi na editora, tive a impressão de que nos
conhecíamos, mas não conseguia me recordar de onde.
— Meu Deus! Isso foi há quase sete anos e hoje ela tem um filho de
seis, não vai me dizer que...
— Sim. Hoje Flávia revelou que o garoto é meu filho.
— Glória a Deus, que bênção, muito obrigada, Senhor! — Exagerada,
ela elevou as mãos. — Imagino que você deva estar assustado, querido, mas
estou muito feliz! Sempre me preocupei em partir desse mundo e te deixar
sozinho, agora poderei ir tranquila, pois você terá a sua família. — Já pediu
o exame para confirmar a paternidade?
— Ainda não. Queria ter falado com Tales hoje, para que providencie
tudo o que for necessário, porém fiquei atordoado demais e acabei me
esquecendo. Amanhã cedo falarei com ele.
— Está decidido a assumir a criança, então? — Ela nem conseguia
disfarçar o contentamento.
— Vou, sim, vó. Eu não pensava em ter filhos, mas agora que sei que
já tenho um, não o deixarei desamparado. E não falo só em relação ao que o
dinheiro pode comprar, mas também ao afeto. Prometo que vou me esforçar
para ser o pai que aquele garotinho lindo e esperto merece. Fiquei
encantando quando o conheci, agora estou louco para reencontrá-lo.
— Eu quero conhecê-lo, hein?
— Fique tranquila que vai, sim, conhecer seu bisneto, dona Vilma.
— Isso merece uma comemoração! Vou chamar Mariana e pedir que
providencie um jantar especial pra gente.
— Certo — concordei com um sorriso. — Enquanto isso vou tomar
um banho.
— Vá lá, querido! — Ela acariciou meu rosto.
Levantei, dei outro beijo em sua testa e segui em direção às escadas.
Naquela noite, depois de jantar com vovó e dona Mariana, fui para o
quarto e fiquei revirando na cama. As imagens de Flávia me cavalgando,
com a face afogueada e a respiração ofegante, invadiram minha mente,
deixando-me excitado, só não bati uma pensando nela, porque logo foi o
rostinho de Davi que surgiu, acalmando meu corpo e trazendo um aperto
para meu peito.
“Eu ainda não conheço o meu pai.” Lembrei da sua carinha triste.
“Ele e mamãe se perderam.” “Papai ainda não sabe que eu existo.”
— Eu sei que você existe e te quero, meu filho — falei baixinho,
emocionado. — Em breve saberá disso. Nunca vou deixar nada nem
ninguém te afastar de mim.
Respirei fundo, tentando acalmar o turbilhão de sentimentos.
Desde que acordamos no sábado, Davi não falava em outra coisa que
não fosse o passeio.
— Faltam quantas horas, mamãe?
— Meu amor, você me perguntou isso há dez minutos, precisa
aprender a controlar essa ansiedade.
— Mas é que estou muito empolgado! Adoro aquele parque e gostei
muito do senhor Raoni. Será que ele vai querer ir nos brinquedos comigo?
— Não sei. Descobriremos em breve se ele é corajoso como você, ou
medroso como a mamãe. — Fiz careta e ele sorriu.
— Acho que ele é corajoso!
— Quem é corajoso? — Camila perguntou ao entrar na sala.
— O chefe da mamãe. Eu pelo menos acho que deve ser, né? — Davi
levantou as mãozinhas de um jeito engraçado. — Ele vai nos levar para
passear.
— Estou sabendo e espero que se divirtam bastante.
— Não quer ir com a gente, tia Mila?
— Hoje não posso, meu bem, mas obrigada pelo convite. — Ela fez
um carinho na cabeça dele e piscou para mim.
Quando deu o horário combinado, o interfone tocou.
Atendi e o porteiro avisou que ele nos aguardava lá embaixo.
— Vamos, meu amor? — chamei, Davi.
— Vamos, sim. — Levantou apressado e se encaminhou para a porta.
— Bom passeio pra vocês, amiga. Vai dar tudo certo. — Camila se
despediu de mim com um abraço.
— Obrigada. — Dei um beijo em seu rosto e peguei minha bolsa
sobre a mesinha de centro.
— Tchau, tia Mila! — Davi gritou sem nem olhar para trás.
Descemos de elevador e assim que chegamos à portaria, tive uma
palpitação ao ver Raoni, lindo, em trajes informais, de camiseta branca e
calça jeans, tão diferente de como se vestia para ir trabalhar, parado a nossa
espera.
— Oi! Você veio mesmo! — Davi falou empolgado, aproximando-se
dele.
— Vim, sim. Preparado pra se divertir? — A voz grave e melodiosa
questionou com doçura, aquecendo meu peito.
— Estou preparado e muito animado. Adoro aquele lugar!
— Sua mãe me disse mesmo. — Ele acariciou a cabecinha do filho e
olhou para mim. — Oi, boa tarde! — cumprimentou e mesmo que não o
conhecesse bem, pude notar que estava diferente do seu habitual, não só
pela roupa, parecia nervoso.
— Boa tarde!
— Podemos ir?
Assenti, despedi-me do porteiro e seguimos em direção ao carro
estacionado em frente ao prédio.
— Senhor Raoni, você tem medo de altura? — Davi perguntou ao se
acomodar no banco traseiro.
— Eu não. E adoro adrenalina!
— Adrenalina? O que é isso? — Davi franziu o cenho e eu afivelei
seu cinto. Depois fechei a porta de trás do carro, entrei pela do passageiro
da frente e sentei também.
— Adrenalina é um hormônio, uma substância, liberada pelo nosso
organismo quando passamos por alguma situação de perigo, como quando
fazemos alguma aventura. É ela que deixa nosso coração acelerado e o
corpo todo agitado, sabe?
— Ah, agora entendi. Então eu também gosto de adrenalina! — Seu
jeitinho fofo e empolgado nos fez rir. — Mamãe é medrosa, não gosta de
altura, nem de velocidade, acredita?
— Ah, é mesmo? — Raoni questionou com uma cara engraçada,
olhando do nosso filho para mim. — Sua mãe sempre me pareceu muito
corajosa — falou as palavras sem desfazer nosso contato visual e o brilho
provocante que reluziu em suas íris castanhas fez um calorão me invadir.
Meu rosto esquentou tanto que devo ter corado.
— Vocês dois podem por favor parar de falar de mim? — Tentei soar
divertida.
— Claro. — Raoni estreitou as pálpebras e ainda me analisou por um
instante, antes de se virar para trás e dar uma piscadela para Davi.
Depois se endireitou no banco do motorista, colocou o cinto de
segurança e deu a partida no carro.
Durante o trajeto, Davi não parou de tagarelar um segundo. Não me
recordava de vê-lo tão eufórico.
— Podemos ir na montanha-russa, senhor Raoni? — Davi pediu
assim que chegamos. — Mamãe nunca vai comigo, porque tem medo —
sussurrou a última parte, colocando a mãozinha em frente à boca —, e não
me deixam ir sozinho.
— Eu adoro montanha-russa, vamos sim! — Ele tocou na mão do
pequeno e depois se virou para mim. — Posso levá-lo?
— Pode. Preciso confessar que tenho pavor desse brinquedo — foi
minha vez de sussurrar e os dois riram. — Vão se divertir! Ficarei aqui
esperando.
— Vamos lá, garotão! — Raoni pegou na mãozinha de Davi que disse
um “uhul!” e saiu acompanhando o pai.
Fiquei os observando se afastarem. Era impressionante como se
pareciam e como se deram bem.
Depois da volta na montanha-russa, em que Davi gritou
enlouquecido, Raoni o colocou sentado em seus ombros e caminhou até
mim. Precisei me controlar para não chorar de emoção ao ver a cena.
Mesmo que Davi ainda não soubesse que ele era seu pai, confiava em Raoni
e ninguém poderia negar que havia uma conexão natural imensa entre eles.
— Foi divertido? — perguntei quando os dois pararam à minha
frente.
— Foi muito irado, mãe! Muita adrenalina! Nem acredito que eu
nunca tinha ido antes.
— Que bom que gostou. — Olhei dele para meu chefe, que parecia
outra pessoa.
A versão “homem de família” do todo poderoso CEO estava me
deixando ainda mais fascinada por ele.
— Que tal irmos nos carrinhos de bate-bate agora? — Raoni propôs,
entusiasmado.
— Eu topo! — concordei sem hesitar.
— Eu também! — Davi se manifestou em seguida. — Ah, senhor
Raoni, esse é um dos brinquedos preferidos da mamãe.
— Não precisa me chamar de senhor, querido. — Colocou o pequeno
no chão e bagunçou seu cabelo.
— Está bem. — Ele assentiu com os olhinhos azuis brilhando.
Nós três nos encaminhamos para a área do brinquedo e cada um
ocupou um carro.
Durante os minutos seguintes, eu os persegui enlouquecida, até que
eles resolveram se unir para chocar seus carros ao mesmo tempo contra o
meu. A brincadeira foi muito divertida e quando nosso tempo acabou,
estava com o rosto dolorido de tanto rir.
— Roda gigante? — Raoni questionou, ao nos afastarmos da área
onde estávamos.
— Tenho medo de altura mesmo, Davi não estava só me implicando
quando contou.
— Eu seguro sua mão — ele falou de um jeito zombeteiro, mas muito
fofo.
— E eu seguro a do outro lado — Davi se uniu ao novo amigo, para
me convencer. — Vamos, mamãe, por favor. Vai ser legal!
— Está bem. Mas se eu tiver um troço lá em cima a culpa é de vocês.
— Não vai desmaiar, né? — Raoni me encarou, preocupado.
— Não. Fique tranquilo, não é algo que costume acontecer com
frequência.
Ele anuiu, ainda me observando com receio.
— Juro. Tenho medo de altura, mas com vocês segurando minhas
mãos, ficarei bem. — Dei uma piscadinha e ele sorriu, por fim.
Davi foi o primeiro a se acomodar no assento do brinquedo. Sentei no
meio e Raoni ao meu lado. Como prometido, eles me deram as mãos.
Apertei ambas com força, não porque estivesse apavorada, mas porque foi
muito emocionante tê-los juntinhos de mim daquele jeito. Passei por tanta
coisa sozinha com Davi, mas naquele instante tive a certeza de que nunca
mais estaríamos desamparados.
Quando a roda começou a girar, fechei os olhos e fiz uma oração a
Deus, agradecendo por aquela chance de reencontrar Raoni, de Davi poder
conviver com o pai.
— Está tudo bem? — a voz grave me perguntou com mansidão,
fazendo-me abrir as pálpebras.
— Sim. Obrigada por estar aqui. — Acariciei sua palma com o
polegar e o fitei com intensidade.
— Estarei sempre ao lado de vocês — sussurrou e beijou minha testa.
— Está com medo, mamãe? — Davi perguntou, quase gritando.
— Não, meu amor. — Virei-me para ele. — Estou me sentindo segura
no meio de vocês.
Ele sorriu satisfeito e voltou sua atenção para o horizonte.
Quando a última volta terminou, descemos e eu propus fazermos um
lanche. Os dois concordaram e seguimos até a praça de alimentação.
Pedimos pizza e enquanto comemos, Davi comentou sobre como
estava gostando do passeio. Depois contou a Raoni quase tudo sobre si: o
desenho preferido, os nomes dos coleguinhas da escola e da professora, o
que mais gostava de fazer, sua comida predileta e falou até do que não
gostava. Raoni parecia encantado e embarcou na conversa com interesse e
naturalidade.
— Queria que meu pai fosse como você! — Davi nos surpreendeu
com sua declaração genuína.
Os dois se olharam com tanto afeto, que não consegui controlar as
lágrimas.
— O que foi, mamãe? Por que está chorando? — Nosso pequeno
questionou com aflição.
Respirei fundo decidindo que aquele era o momento certo, não havia
razão para esperar mais para revelar a verdade.
— Lembra que eu te contei que depois que engravidei de você, acabei
perdendo contato com seu pai e nunca mais tive notícias sobre ele?
— Uhum. O papai morreu, mamãe, é por isso que está chorando? —
ele indagou, com a carinha triste.
— Não, meu amor. — Olhei dele para Raoni, que engoliu em seco e
ficou subitamente sério, nervoso. — Há alguns dias tive uma grande
surpresa — voltei minha atenção para meu filho —, ao reencontrar seu pai
por acaso.
— Jura? Ah, meu Deus! Então vou conhecê-lo? Onde ele está? —
Davi ficou quase histérico com a notícia.
— Eu sou o seu pai — Raoni se pronunciou, antes que eu contasse,
fazendo meu queixo tremer e o coração disparar.
Davi o olhou com incredulidade e desconfiança. Depois me encarou e
voltou a fitar Raoni.
— Ah, isso não tem graça, sabiam? Vocês combinaram essa mentira
só para me deixar feliz, porque gostei de conhecer Raoni aquele dia na
editora e acham que nunca vou encontrar meu pai verdadeiro? — Ele olhou
para nós dois, zangado.
— Não é mentira, querido. Sou mesmo o seu pai. Até aquele dia eu
não sabia. Fazia muito tempo que não via a Flávia e não a reconheci quando
começou a trabalhar na editora. Além do mais, nunca soube que ela teve um
filho meu. Quando sua mãe me contou a verdade, fiquei muito feliz. É uma
pena que tenhamos passado tantos anos sem nos conhecermos, mas se me
permitir, quero fazer parte da sua vida de agora em diante. Prometo tentar
ser o pai que merece. — A voz de Raoni saiu embargada e seus olhos
marejaram.
— Então é sério? Verdade mesmo? — Davi arregalou os olhos,
abismado.
Eu e Raoni sorrimos e concordamos.
— Ah, meu Deus, não estou acreditando nisso! — Davi começou a
chorar, levantou da cadeira e subiu no colo do pai, abraçando-o apertado. —
Estou tão feliz! — disse com a voz trêmula pela emoção.
A cena foi tão tocante que não consegui controlar o pranto. Tudo
estava acontecendo de uma forma muito melhor do que eu poderia esperar.
Reencontrar Raoni daquele jeito, sua reação positiva ao saber da existência
do filho, mesmo que não desejasse ser pai, a conexão dele com Davi, nossa
tarde no parque, a forma como segurou minha mão na roda gigante e disse
que sempre estaria conosco.
Sem conseguir parar de olhá-los, fiz uma prece a Deus agradecendo
por aquele momento e me recordei de duas passagens da Bíblia:
“Ainda que me abandonem pai e mãe, o Senhor me acolherá.” (Salmo
27:10)
“Seja forte e corajoso, porque eu, o seu Senhor, o seu Deus, estarei
com você em qualquer lugar para onde você for!” (Josué 1:9)
Obrigada, meu Pai, por nunca ter nos abandonado, e por permitir
esse reencontro. Para Ti nada é impossível. Passamos por muitos momentos
de tormentas, mas que de agora por diante venham os dias de paz e
alegrias.
Raoni
Davi estava fascinado por Raoni e por mais que tentasse negar para
mim mesma, eu também estava.
Raoni
Dirigi até o local e assim que entramos, enviei uma mensagem para
Flávia, avisando. Ela respondeu de imediato, dizendo que estava tudo bem.
— Vamos lavar as mãos e depois nos servimos, ok?
Ele concordou e caminhamos até a pia. De lá fomos para o local onde
ficavam os refrigeradores. Era uma sorveteria self-service.
— Flocos e o que mais? — questionei ao pegar dois potinhos.
— Ninho com Nutella e Tuti-fruti — respondeu, animado.
— Está bem. Vou querer os mesmos. — Pisquei para ele, que sorriu
satisfeito.
Servi nossos sorvetes e coloquei calda, granulado, confete de
chocolate colorido e canudinho de wafer.
Passei no caixa para pesar os potes e pagar, depois sentamos à uma
mesa em um canto.
— Hmmm, que gostoso! — Davi comentou, após experimentar um
pouquinho de cada sabor.
— Tem razão. Essa combinação ficou mesmo muito boa —
concordei, após provar também. — Sua mãe te contou que amanhã vocês
vão almoçar na casa da minha avó?
— Ela me disse hoje cedo. Como a minha bisa se chama mesmo? E
como ela é? Será que vai gostar de mim?
— O nome dela é Vilma. Tem oitenta anos, baixinha, de cabelo curto
e branco e é a pessoa mais maravilhosa que já conheci. Tenho certeza que
vai gostar de você, nem se preocupe com isso! Ah, lá na casa dela tem uma
piscina enorme, de água quentinha. Leve calção de banho. Você sabe nadar?
— Ainda não aprendi. Mamãe disse que vai me colocar na aula de
natação.
— Vou providenciar boias, para que fique tranquilo, mas posso tentar
te ensinar a nadar, se quiser.
— Quero sim, papai.
Cada vez que eu ouvia aquela palavra, sentia o peito aquecer.
Enquanto tomamos nossos sorvetes, fizemos planos para o dia
seguinte e Davi me contou sobre sua nova paixão, os Pokémons.
— Eu já gostava do desenho que passa na TV, daí meus colegas
ganharam umas cartinhas muito legais e estão me ensinando a jogar. É um
pouco complicado, mas muito divertido.
— Você ainda não tem dessas cartinhas?
— Não. Eu ia pedir para a mamãe, só que não tive coragem, porque o
Pedro, um dos meus melhores amigos, falou que custam muito dinheiro. —
Fez uma careta fofa e continuou a se deliciar com seu sorvete.
— Entendi.
Fiquei emocionado com sua justificativa. Achei linda a consciência
com o preço das coisas e a consideração com a mãe. Ele ainda era muito
pequeno para pensar daquela forma. Flávia fez um trabalho incrível o
criando sozinha até ali. No entanto eles não estavam mais desamparados.
Eu iria ajudá-los financeiramente e adoraria poder mimá-lo um pouco.
— Sabe me dizer onde que seus amigos compraram?
— Foi em papelaria, eu perguntei.
Assenti, pensando em comprar as tais cartinhas. Terminamos nosso
sorvete e eu o levei para casa.
Sem querer deixar Raoni esperando, procurei ser o mais ágil possível
e consegui me arrumar em um tempo recorde.
— Estou pronta. Vamos? — chamei ao aparecer na sala.
— Está ainda mais linda! — Ele me observou de cima a baixo, e seu
olhar libidinoso incendiou meu corpo.
— Bom jantar! Divirtam-se, meninos! — Camila desejou, divertida,
ao se despedir de nós.
— Adorei sua amiga — Raoni comentou quando entramos no
elevador.
— Camila é uma pessoa extraordinária. Nem sei o que teria sido de
mim e Davi sem ela.
— Em poucos minutos de conversa deu mesmo para perceber como é
bacana e ama vocês.
— A recíproca é verdadeira. Ela é a família que eu escolhi.
— Por falar em família, o que achou da dona Vilma? — perguntou
quando as portas de aço se abriram no piso térreo e caminhamos em direção
à saída do prédio.
— Sua avó é uma fofa!
— É mesmo. Sou louco por ela, faço qualquer coisa para vê-la feliz.
Quando ele falou aquilo, logo pensei no que a senhorinha disse sobre
querer vê-lo casado, mas achei melhor não comentar.
— Que cara engraçada é essa? — Observou-me curioso, ao abrir a
porta do carro para mim.
— Nada. Só lembrei de uma coisa à toa.
Ele meneou a cabeça, ainda meio desconfiado, mas não insistiu.
Depois deu a volta no seu automóvel luxuoso para ocupar o banco do
motorista.
— Você prefere ir a um restaurante ou que peçamos alguma coisa
para comer na minha cobertura? — Deu a partida.
— Prefiro ir para a sua cobertura — respondi, ansiando ficar a sós
com ele.
— Perfeito, também acho a melhor opção. — Fitou-me com
intensidade, por um breve instante, umedecendo os lábios com a língua,
fazendo pensamentos luxuriosos invadirem minha mente e a pulsação
acelerar.
Seguimos até o Itaim Bibi e quando ele disse que chegamos, fiquei
impressionada com o imponente prédio de fachada moderna, em
revestimento preto e cinza e muito vidro.
Ele colocou o carro na garagem e subimos pelo elevador.
— Seja bem-vinda — disse ao destrancar a porta do apartamento e
apontar o interior.
— Uau! — Olhei ao redor, admirada.
O imóvel era enorme. A sala de pé direito duplo era ampla, com
gigantescas janelas de vidro temperado e cortinas que iam do teto ao chão.
Um sofá de chenile bege, de linhas retas, ficava de frente a duas cadeiras
pretas estilosas e que eu não duvidava que fossem assinadas por algum
designer famoso.
Em uma das paredes havia quadros de pintura abstrata coloridos e em
outra um espelho bem grande.
— Apesar de passar mais tempo na mansão, gosto daqui.
— Seu apartamento é lindo. Combina com você.
— Obrigado. Aceita vinho, água? Apesar de não beber, tenho bebidas
alcóolicas aqui.
— Aceito uma taça de vinho, então.
— Certo. — Ele caminhou até o bar, que ficava em um dos cantos,
abriu uma meia-garrafa de vinho tinto e me serviu. — Espero que seja do
seu agrado. É um Malbec argentino.
Senti o agradável aroma frutado do líquido violáceo, depois o provei.
— Delicioso. Obrigada.
— Fique à vontade. Vou ligar o som, quer ouvir algo em especial?
— Não. Pode colocar uma playlist que goste.
— Está bem. — Ele pegou o celular no bolso da calça e conectou seu
aplicativo de streaming à caixinha de som.
Logo começou a tocar Minefields, canção da Fouzia com participação
do John Legend.
Raoni encomendou a nossa comida, depois pediu licença e subiu as
escadas.
Fui até a janela apreciar a vista. Enquanto bebia o vinho, sentindo o
vento fresco da noite soprar meu rosto, prestei atenção à letra da música e
foi inevitável não pensar em nós.
“Now this might be a mistake
We’re broken in so many ways
But I’ll piece us back together slowly
Maybe I’m just a fool
I still belong with you
Anywhere you, anywhere you are
These minefields that I walk through
What I risk to be close to you
These minefields keeping me from you
What I risk to be close to you”
Não havia nada simples nem convencional em minha relação com ele
e muito menos em nossas histórias particulares de vida. Tínhamos um filho
juntos e isso ainda tornava a situação toda mais delicada. No entanto por
mais que tentasse não pensar nele, não o desejar, era uma luta em vão. Eu o
queria. Não dava para negar aquilo para mim mesma.
Raoni
Flávia tinha algo que mexia comigo de um jeito que eu não conseguia
compreender bem. Estava feliz por recebê-la em minha casa e ansioso pelo
que aconteceria entre nós, já que seu desejo era tão nítido quanto o meu.
Subi as escadas apressado e não me demorei no banho. A vontade era
descer para encontrá-la usando apenas uma calça de moletom, sem nada por
baixo, e sem sapatos, pois tudo que eu mais queria era despi-la e fodê-la
com devassidão. No entanto, apesar do instinto animalesco, resolvi me
aprontar um pouco, já que ela estava toda produzida, linda em seu vestido
vermelho, com um decote provocante no busto.
Coloquei uma camisa branca, deixando os dois primeiros botões
abertos e dobrei as mangas. Escolhi uma calça jeans de lavagem escura e
um sapato marrom. Borrifei um pouco de perfume, ajeitei o cabelo e desci
para encontrá-la.
Quando entrei na sala, Flávia analisava os quadros na parede.
— Demorei? — perguntei, chamando a sua atenção, fazendo-a se
virar para mim.
— Não. Na verdade, foi bem rápido. Está lindo. — Olhou-me de cima
a baixo, umedecendo os lábios com a língua, atiçando minha imaginação e
incendiando meu corpo.
— Obrigado. Gostou das pinturas? — Aproximei-me dela e passei a
mão por sua cintura.
— São lindas. Quem é o artista?
— A artista. Os quadros são da minha mãe.
— Jura? Uau! Ela pintava muito bem. — Analisou as telas de novo e
depois voltou sua atenção para mim, encarando-me com o que acreditei ser
uma mistura de tristeza e pena.
— Não me olhe assim. — Toquei-lhe o rosto, colocando uma mecha
do cabelo loiro e liso atrás da sua orelha. — É por isso que não gosto de
contar sobre o meu passado, pois mais cedo ou mais tarde as pessoas
acabam me tratando com compaixão, piedade e odeio me sentir exposto e
vulnerável. — Meu tom de voz saiu mais sofrido do que eu gostaria.
— Me perdoe, não foi minha intenção — pediu baixinho, sem jeito.
— Vamos abandonar o passado ao menos por hoje. Tivemos uma
tarde tão gostosa e agora que estamos a sós, quero desfrutar da sua
companhia. Você está se tornando meu vício, sabia? — Puxei-a para mim,
acabando com os poucos centímetros que nos separavam, quase colando
nossos lábios.
Flávia ofegou e me fitou com lascívia.
— Estou louco para te beijar e te ter em meus braços, desde a hora em
que te vi de biquíni, à tarde.
— Ah, Raoni, você me enlouquece! Me beije logo, vai. — Sorriu,
maliciosa e colei minha boca à sua com certo desespero.
Nossas mãos afoitas exploraram o corpo um do outro, acariciando,
atiçando.
Quando abri o zíper de seu vestido, o interfone tocou.
— Cacete, justo agora? — reclamei, afastando-me dela. — Deve ser
nossa comida, vou atender e já volto.
Flávia assentiu, com divertimento, e fui até o aparelho. O porteiro
informou que era o rapaz do serviço de delivery. Autorizei sua subida e fui
aguardá-lo à porta.
Após pegar a encomenda, deixei-a sobre a mesa de jantar.
— Está com muita fome? — perguntei ao me reaproximar da mãe do
meu filho.
— Mais de você do que de comida. — A resposta provocante fez meu
pau pulsar.
— Porra, Flávia, você me tira o juízo. — Enlacei-a de novo pela
cintura com uma mão e passei a outra por sua nuca.
Encaramo-nos com uma intensidade absurda, antes de voltarmos a
nos beijar com a mesma volúpia de antes.
Sem desgrudar seus lábios dos meus, desabotoou minha camisa e me
ajudou a retirá-la. Percorreu meu peitoral com as mãos delicadas e ousadas,
depois as costas, arranhando minha pele, provocando-me arrepios bons.
Esfreguei meu quadril no dela, para que pudesse sentir minha ereção
que quase arrebentava a calça.
— Me ajude a tirar o vestido. — Indicou o zíper.
Sem demora, livrei-a da roupa e me afastei um pouco para observá-la,
linda só de lingerie.
— Você é gostosa demais!
— Tenho muitas imperfeições, mas quando me olha assim, com tanto
desejo, eu me sinto linda, sabia?
— Você é linda. — Dei ênfase ao verbo. — E gostosa. — Aproximei-
me de novo e a envolvi em meus braços. — E me deixa louco de tesão —
sussurrei ao seu ouvido. — Vamos para o quarto?
— Falando assim, me convenceria a ir com você para qualquer lugar.
— Cacete, Flávia! Minha mente pervertida já fantasiou com umas mil
situações.
— Tarado! — Mordiscou o meu queixo.
— Venha! — Apertei sua bunda empinada e depois entrelacei nossos
dedos, guiando-a em direção às escadas.
Quando entramos no meu quarto, ela retirou minha calça e a cueca e
despiu-se da calcinha e sutiã. Encarando-me com devassidão, começou a
me masturbar.
— Ah... que mãozinha gostosa! — grunhi com o seu toque. — Afaste
as pernas — ordenei e lambi seu pescoço.
Gemendo, ela me obedeceu.
Coloquei meus dedos em sua boca e ela os chupou. Compreendendo
qual era minha intenção, deixou-os bem molhados.
— Safada... — Mantive meus olhos grudados aos dela e levei a mão
para sua intimidade.
— Ahhh... que delícia — ronronou quando comecei a masturbá-la.
Deixei o polegar sobre o clitóris e a penetrei com o indicador e o dedo
médio. Flávia rebolou, inclinando o quadril em minha direção. Comecei a
fazer movimentos de entrada e saída, cada vez mais rápidos.
Ela também acelerou o que fazia comigo.
Ambos gemíamos, curtindo o prazer proporcionado pelo outro.
— Vamos pra cama, eu quero seu pau dentro de mim.
— E quem é o tarado agora? — impliquei, mordiscando seu ombro.
— Cale a boca e me coma! — Puxou-me e deitou no colchão.
Busquei um preservativo na mesinha de cabeceira, vesti-o e a penetrei
com vigor, fazendo-a dar um gritinho.
— Te machuquei? — A ideia me deixou apavorado.
— De jeito algum. Só me pegou de surpresa. Está uma delícia, fique
tranquilo.
Anuí e comecei a fodê-la, entrando e saindo devagar no início,
passeando as mãos por seu corpo: seios, barriga, coxas, clitóris, atiçando-a
cada segundo mais. Aos poucos fui aumentando a velocidade e a força das
investidas.
Gemíamos, suávamos e ofegávamos, ensandecidos de prazer.
Algum tempo depois ela mudou de posição, ficando de quatro,
arrebitando a bunda para mim. Penetrei-a de novo, com um pouco mais de
cuidado que da primeira vez, mas logo comecei a estocar com
determinação.
Quando contraiu as paredes internas, chamando por meu nome, ao
atingir o clímax, levou-me junto com ela.
Desabei ao seu lado na cama e fiquei a observando, fascinado. A face
afogueada, o sorriso mole e a feição satisfeita a deixavam ainda mais bela.
Não tinha a menor ideia do que era aquilo que estava se passando
dentro de mim, muito menos conosco, mas simplesmente não queria que
acabasse.
Depois de nos recuperarmos, tomamos banho juntos e descemos para
jantar.
Naquele momento tão difícil, era bom saber que poderia contar com
Flávia. Mesmo após termos discutido, ela estava ali, por mim. A mãe do
meu filho vinha se tornando uma pessoa a cada dia mais especial em minha
vida.
Precisávamos conversar melhor sobre Davi e sobre nós, mas com
tantas coisas acontecendo, teria de ficar para um outro momento.
Enquanto tomamos o café da manhã na lanchonete do hospital, fiquei
a observando. Ela era linda, encantadora e atraente. Encarar seus olhos
azuis era como admirar o mar e ser tragado pelas ondas.
Depois que Flávia foi embora, voltei para o quarto de vovó e passei o
dia todo no hospital. Antes do almoço o médico apareceu para examiná-la.
— Alguma novidade, doutor? — perguntei apreensivo.
— Ainda não. Verifiquei no site do laboratório e anteciparam a
previsão de entrega, o exame deve sair amanhã, daí esclareceremos o
diagnóstico e poderemos decidir a conduta. O onco hematologista da equipe
já está ciente do caso.
— Certo.
— E como a senhora está, dona Vilma? — Virou-se para vovó. —
Estou te achando com a carinha melhor hoje.
— A fraqueza continua e já estou ansiosa para saber logo o que tenho
e para poder ir para casa.
— Vou te examinar, ok?
Ela assentiu e ele se aproximou da cama.
Assim que terminou a avaliação, o médico se despediu, informando
que voltaria no dia seguinte e qualquer coisa que precisássemos era só
chamar a enfermagem.
De novo vovó preferiu que dona Mariana passasse a noite com ela.
Ao chegar ao prédio em que ela morava, ainda tentei ligar mais uma
vez, mas Flávia não me atendeu. Chequei o WhatsApp, mas ela ainda não
tinha visualizado minha mensagem.
Pedi para o porteiro interfonar em seu apartamento, mas ele me disse
que não estavam atendendo, que achava que não tinha ninguém em casa.
Agradeci e voltei para meu carro.
Talvez não seja nada disso que estou pensando e daqui a pouco ela
vai me retornar. Tentei me convencer e fui para a mansão, fazer as malas.
Cerca de uma hora depois voltei ao hospital e foi a vez de dona
Mariana ir até à mansão cuidar de sua bagagem e da de vovó.
— Tem mais alguma coisa te preocupando, filho, além do meu
tratamento? — Vovó me analisou com atenção. Ela me conhecia melhor que
ninguém.
— Briguei com a Flávia quando fui pedir para levar o Davi para os
Estados Unidos e agora não estou conseguindo falar com ela. Estou com
medo de que tenha feito uma bobagem.
— Que tipo de bobagem? — Estreitou as pálpebras.
— Sei lá. Pode ser só loucura da minha cabeça, mas estou com medo
de que ela tenha fugido com nosso filho.
— Ela não faria uma coisa dessas sem motivo. O que você disse a ela,
Raoni? — Dona Vilma não conseguiu disfarçar o tom acusatório.
— Talvez eu tenha dito que se ela não me deixasse levar Davi, eu
brigaria pela guarda dele na justiça... — Fiz careta, dando-me conta de que
era responsável pelo que estava acontecendo.
— Você o quê? — Vovó arregalou os olhos, perplexa.
— Não falei seriamente, foi da boca pra fora, porque estava com
raiva.
— Raoni, querido, coloque-se no lugar dela. Qualquer boa mãe ficaria
apavorada com a ideia de ter um filho tirado de seu convívio e Flávia
passou por uns maus bocados para ter e criar Davi sozinha, não me
espantaria se ela tivesse mesmo fugido com ele.
— Que merda eu fui fazer, vó? — Esfreguei o rosto, atordoado. —
Ela não me atende, nem viu a mensagem que mandei.
— Converse com Jonas e peça para ele tentar falar com ela. Quem
sabe ela o atenda?
— Boa ideia, vozinha. Farei isso agora.
Liguei para Jonas, expliquei a situação e pedi para ele tentar contactá-
la. Ele me prometeu que não desistira até ter um retorno, uma notícia sobre
seu paradeiro.
— Pronto, falei com ele, agora é aguardar. Ela não pode ter feito uma
loucura dessas... — Respirei fundo e exalei pesado. — E como a senhora
está?
— Com medo, mas ao mesmo tempo esperançosa. Não queria
atrapalhar sua vida, mas será muito bom ter você comigo lá nos Estados
Unidos, durante o tratamento.
— Nem sei como achou que eu permitiria que fosse apenas com dona
Mariana. Que tipo de neto eu seria se tivesse coragem de fazer uma coisa
dessas?
— Você é o melhor neto do mundo, meu amor. Se sua mãe fosse viva,
estaria orgulhosa em ver o homem que se tornou. Bom, determinado,
cuidadoso comigo, carinhoso.
— A senhora é que só enxerga minhas partes boas.
— Gostaria que se visse como te vejo. — Sorriu-me com doçura e eu
sorri também.
Ao decidir fugir com meu filho, não pensei muito nas consequências.
Movida pelo medo de perdê-lo, simplesmente agi.
Quando chegamos a Osasco e parei em frente ao endereço que Laura
me passou, conferi o celular e vi que tinham chamadas não atendidas de
Raoni, recado dele na caixa postal e mensagens de texto. Ignorei tudo, sem
ler ou ouvir nada e desci do carro com Davi, pegando nossa bagagem no
porta-malas.
— Quem mora aqui, mamãe? — Observou o muro alto da residência
e depois me encarou, curioso.
— Sua tia. — Arregalei os olhos.
— A tia Mila? — Estreitou as pálpebras, parecendo não compreender
a informação.
— Não, meu amor. A tia Laura, irmã da mamãe. Você ainda não a
conhece.
— Eu nem sabia que você tinha uma irmã... Isso é verdade mesmo?
— Sim. Desculpa nunca ter te falado sobre ela. Passamos muitos anos
separadas, sem termos contato uma com a outra.
— Como aconteceu com o papai? — Ele, muito esperto, logo fez uma
correlação com as histórias.
— Mais ou menos. Ela me disse que está ansiosa para conhecê-lo —
desconversei. — Vamos avisar que chegamos?
— Vamos! — Mal falou e saiu em disparada em direção ao portão.
Como não alcançou o interfone, precisou me aguardar. — Anda logo, mãe!
— Apressou-me, empolgado.
Assim que interfonei, Laura atendeu e pouco depois apareceu para
nos receber.
— Que bom ter vocês aqui! — comentou com um sorriso enorme e os
olhos marejados.
Ela estava diferente, ainda era uma menina na última vez que nos
vimos, transformou-se em uma bela mulher e a gravidez a deixou
iluminada.
— Que saudades senti de você, irmã! — Aproximei-me para a
abraçar e sem conseguir conter a emoção, chorei como uma garotinha.
— Eu também de você, muita. — Beijou meu rosto e se afastou para
me observar melhor. — Adorei seu corte de cabelo! — Fungou e enxugou o
rosto com as mãos. — E esse garotinho lindo, é meu sobrinho? —
questionou, voltando sua atenção para Davi.
— É mesmo minha tia? Irmã da mamãe? — Ele ainda parecia
incrédulo.
— Sim, meu bem. Sou a sua tia Laura. É um prazer conhecer você,
Davi. — Ela se inclinou para beijar a testa dele.
— Vocês se parecem. — Ele olhou dela para mim e voltou a encará-
la. — Estou muito feliz. Primeiro encontrei o papai, depois descobri que
tinha uma bisavó e agora fico sabendo que tenho uma tia, isso é irado,
demais!
— Vamos entrar. Preparei um lanche pra vocês, imagino que estejam
com fome. — Laura afagou a cabecinha dele.
— Eu estou mesmo, tia Laura. Minha barriga está até roncando.
Nós duas rimos do jeitinho fofo e exagerado dele.
— Tem um bebê aí dentro? — Ele apontou para a barriga da minha
irmã, a gravidez já estava bem evidente.
— Tem, sim, querido. Daqui uns meses seu priminho vai nascer.
— Uau, que máximo!
— Venham! — ela chamou, sorridente e a acompanhamos.
A casa de Laura era uma construção antiga, que claramente havia
passado por uma boa reforma. Era espaçosa e as paredes em um tom
amarelo bem clarinho davam um ar aconchegante.
— Arrumei o quarto de visitas pra vocês, é uma suíte. — Ela nos
levou até lá. — Deixem suas coisas aí e lavem as mãos para irmos lanchar.
Concordamos e fizemos o que ela sugeriu, depois a acompanhamos
até a cozinha ampla.
Estávamos terminando de comer quando Geovane, o marido da minha
irmã, chegou. Laura fez as apresentações e o rapaz, que era jovem e bonito,
tratou-nos com simpatia. Quando ele pediu licença, dizendo que iria tomar
banho, resolvi fazer o mesmo. Já estava tarde e Davi começava a dar sinais
de cansaço.
Após o banho, coloquei meu pequeno para dormir e saí do quarto à
procura da minha irmã.
— Davi dormiu? — ela perguntou quando apareci na sala.
— Sim. Estava exausto.
— Fico imaginando como será minha rotina depois que Lucas nascer.
— Com certeza sua vida irá virar de ponta-cabeça, mas as coisas vão
se ajeitando com o tempo.
— Você foi uma guerreira por ter conseguido criar Davi sozinha.
— Camila me ajudou muito, nem sei o que teria sido da gente sem o
apoio dela. Passei por muitas dificuldades, não vou deixar que Raoni, que
mal entrou na vida do Davi, tire-o de mim.
— Estou preocupada com essa situação toda, irmã. Pelo que já me
disse, além de ter reconhecido a paternidade do filho, ele é rico e poderoso.
Você ter fugido pode se tornar um grande problema, caso ele resolva
acionar a justiça.
— Ele tentou me ligar e me mandou mensagens.
— Responda-o, Flávia, pelo menos para dar alguma satisfação.
— Ainda nem li o que ele me escreveu...
— Pois leia agora — falou séria. Até parecia que era ela a irmã mais
velha.
— Está bem. — Olhei para o celular que está em minha mão, respirei
fundo e abri o WhatsApp.
Havia três mensagens de Raoni enviadas em horários diferentes. Em
todas ele dizia a mesma coisa, que precisávamos conversar melhor, que
estávamos de cabeça quente quando brigamos.
— Não vai respondê-lo? — Laura questionou diante a minha inércia.
— Por enquanto não. Como me disse que viajaria em breve, vou
aguardar ele partir para os Estados Unidos, assim me sentirei mais segura.
— Antes de dormir, reflita melhor sobre o que houve e faça uma
oração a Deus pedindo discernimento para tomar decisões certas. Te amo
demais e acho que já sofreu muito nesta vida, não quero que se envolva em
problemas por conta de atitudes precipitadas.
— Prometo pensar direitinho. Agora vou me deitar também. Tudo o
que aconteceu me deixou esgotada. Muito obrigada por ter nos recebido. É
muito bom ter você por perto outra vez.
— Nunca mais quero me afastar de você. Conte comigo para o que
precisar.
Abracei-a e fiz um carinho em sua barriga. Depois desejamos boa-
noite uma para outra e fui para o quarto de visitas.
Dois dias depois recebi um e-mail de Jonas. Meu chefe, que tinha
tentado me ligar várias vezes desde que sumi da editora, mostrou-se
preocupado, perguntou se estava tudo bem e se precisávamos de alguma
coisa. Ainda disse que soube da discussão que tive com Raoni e que se
aquela era a razão da minha fuga, que eu retornasse logo ou ao menos desse
notícias. Contou que ele viajaria na manhã seguinte para os Estados Unidos
com a avó e estava arrasado com o que aconteceu e mais ainda pelo fato de
que passaria seis meses sem ver o filho.
Fiquei tentada a responder, mas como faltava pouco para Raoni viajar,
achei mais seguro deixar para depois.
Na tarde do outro dia recebi um e-mail de Tales dizendo que minha
atitude estava passando dos limites e que se eu não retornasse logo, além de
perder o emprego e o contrato de publicação do meu livro, eu seria
acionada na justiça por ter fugido com Davi sem dar satisfações para o pai.
Com medo das consequências dos meus atos, respondi dizendo que
estava em Osasco, na casa da minha irmã, e que na segunda-feira estaria de
volta à editora. Mandei também uma mensagem para Raoni. Como ela não
foi entregue, supus que ele ainda estivesse no voo.
Fiquei chateado por não levar Davi comigo na viagem e mais ainda
por não ter conseguido me despedir dele, nem sequer saber onde estava.
Flávia tinha passado dos limites ao desaparecer com nosso filho daquele
jeito.
— Não conseguiram localizá-los? — vovó questionou, após ter sido
acomodada no avião que faria o transporte aeromédico. Com um cateter de
oxigênio no nariz e um soro correndo devagar na sua veia, ela ainda estava
monitorada por aparelhos que mediam seus batimentos cardíacos,
oxigenação e pressão arterial, além de acompanhada por um médico e dois
enfermeiros.
— Infelizmente não.
— Sinto muito, querido.
— Não se preocupe com isso, vozinha. Ela não vai poder ficar
desaparecida para sempre e nosso foco agora é a recuperação da sua saúde.
— Estou esperançosa. — Esboçou um sorriso.
— Eu também. Vai dar tudo certo e logo estaremos de volta.
Quando o avião decolou, dona Mariana que estava caladinha, fechou
os olhos e agarrou os braços da poltrona.
— Ela está morrendo de medo — vovó cochichou, observando para
onde eu olhava. — Disse que nunca tinha andado em um avião pequeno e
que não gosta nem de pensar em quanta gente famosa morreu em desastres
aéreos em jatinhos particulares.
— Quando piloto e copiloto são experientes e as aeronaves passam
pelas devidas manutenções, as pequenas são até mais seguras — o jovem
médico, que ouvia nossa conversa, comentou com divertimento. — Dona
Vilma, estaremos aqui ao seu lado o tempo todo, vigilantes — mudou de
assunto, falando com um ar mais sério. — Qualquer coisa diferente que
sentir, por favor nos avise.
— Está bem. Posso tirar um cochilo?
— Pode sim, claro. Durma tranquila. — Ele sorriu, simpático.
Vovó fechou os olhos e aproveitei para fazer uma oração silenciosa a
Deus, pedindo que cuidasse dela e permitisse que ficasse curada. Um pouco
depois a ouvi ressonar.
Li e reli a mensagem várias vezes. Por mais que desejasse estar perto
do meu filho e continuasse achando errado Flávia ter fugido com ele, eu
conseguia compreendê-la. Eu o tinha conhecido há pouco tempo e já era
capaz de qualquer coisa para protegê-lo.
Antes de respondê-la, li as mensagens de Tales e Jonas. Os dois me
disseram que haviam conseguido falar com Flávia e que ela estaria de volta
à editora na segunda-feira.
Fiquei encarando o celular por alguns instantes, pensando no que
escrever. Estava cansado de brigas e a última coisa que queria era que ela
me interpretasse mal.
Respirei fundo e comecei a digitar.
Oi, Flávia! A viagem foi tranquila. Vovó está bem, dentro do
possível. Ficou internada no hospital onde fará o tratamento. As
explicações do médico nos deixaram bastante animados. Estou confiante
de que ela ficará curada. Quanto a nossa discussão e ao fato de ter fugido
com Davi, eu mentiria se dissesse que não senti raiva de você, mas te
entendo. Talvez no seu lugar tivesse feito o mesmo. Mas quero que saiba
que eu jamais faria qualquer coisa para te prejudicar. Gosto de você,
talvez mais do que deveria. Só queria ter a chance de ficar mais perto do
nosso filho, de passar esse tempo aqui com ele. Você nem me deixou falar
direito aquele dia, mas não queria trazer só o Davi, meu plano era que
vocês dois viessem conosco. Precisamos conversar melhor, quando puder,
me ligue.
Quando Flávia e Davi acordaram, saí com eles para darmos uma volta
pela cidade. Passamos de fora de pontos turísticos como o Liberty Bell, o
famoso sino que era usado para chamar os políticos para reuniões e os
cidadãos para ouvirem as notícias a serem lidas. De frente a ele mostrei
onde ficava o Independence Hall, um prédio do século XVIII importante
para a história norte-americana, onde foram escritas a Declaração da
Independência e a Constituição dos Estados Unidos.
Ainda passamos de fora do City Hall, o edifício da prefeitura da
Filadélfia, considerado o maior e um dos mais bonitos prédios municipais
dos Estados Unidos.
Depois os levei até o Reading Terminal Market, um dos maiores e
mais antigos mercados públicos dos Estados Unidos. Com cerca de cem
restaurantes e lojas onde os produtos locais tinham destaque, mas também
eram vendidos os mais variados tipos de comida de todas as partes do
mundo.
Pedimos três sanduíches Philly Cheese Stake, o mais famoso da
Filadélfia, e como estava frio, ainda tomamos chocolate quente depois.
— Papai, essa cidade é muito legal! — Davi comentou, com a
boquinha toda suja de chocolate. — Adorei os prédios, parecem até
castelos.
— É mesmo, meu amor. E ainda tem muita coisa bacana para vocês
conhecerem! Muitas construções parecem castelos porque a Filadélfia é
uma cidade antiga. Foi a primeira capital dos Estados Unidos.
— Acho que faltei a essa aula de história. Eu não sabia disso. —
Flávia arregalou os olhos de forma divertida.
— Confesso que eu também não me recordava, me contaram quando
chegamos aqui. — Pisquei para ela, que sorriu com doçura. — Amanhã vou
levar vocês ao zoológico.
— Que máximo! Será que é tão legal quanto o de São Paulo? — Davi
era a empolgação em pessoa.
— Acho que sim, filho! Ainda não estive lá, mas dei uma olhada pela
internet e achei bem bacana. É o mais antigo dos Estados Unidos e no site
dizia que tem mais de dois mil animais, sendo trezentas e quarenta espécies
diferentes, como leões, tigres, crocodilos, ursos, macacos, flamingos, deixe
eu lembrar quais mais... Ah, onças, girafas, hipopótamos, rinocerontes,
leopardos, e outros que já não recordo.
— Uau, que irado! Vou adorar ir até lá. Com certeza.
Seu jeitinho entusiasmado era a coisa mais fofa do mundo.
— Vamos embora? — perguntei para os dois.
— Vamos sim. A bisa disse que quer assistir a um filme comigo hoje,
na TV, e que dona Mariana fará uma pipoca bem gostosa pra gente — Davi
respondeu, surpreendendo-me.
— Que horas vocês combinaram isso? — perguntei, franzindo o
cenho.
— Quando acordei e você e mamãe estavam conversando. A bisa
disse que vocês sairão para jantar e nós vamos nos divertir em casa.
— Ah é? — Flávia olhou do filho para mim, confusa.
— Bem, sendo assim, vou aproveitar para fazer o convite para sua
mãe, então. — Ajeitei o gorro dele e fiz um carinho em seu rosto, iluminado
de felicidade.
— Chama logo, aposto que ela vai aceitar — Davi cochichou daquele
seu jeito nada discreto, fazendo-nos sorrir.
— Quer sair pra jantar comigo, senhorita Castilho?
— Será uma honra, senhor Campelo!
Davi nos olhou com satisfação, depois nós três levantamos e fomos
embora.
Flávia
Beijos,
Renata.
Sempre e em primeiro lugar, agradeço a Deus o dom da escrita e por
me permitir realizar meus sonhos.
Ao meu marido pelo apoio, incentivo, compreensão e por ter me dado
uma família linda.
Aos meus leitores queridos do meu grupo do WhatsApp, vocês são
demais! Obrigada por se empolgarem tanto quanto eu com minhas
histórias! Espero tê-los sempre perto de mim.
E a todos os meus leitores, os que me leem há muito tempo e os que
estão chegando agora, vocês fazem tudo isso ter sentido!
Agradeço às minhas queridas amigas escritoras pelo companheirismo
nessa jornada, por escutarem meus desabafos, por me apoiarem, celebrarem
comigo minhas conquistas e sempre me ensinarem algo, em especial a Edna
Nunes, Beatriz Cortes, Cris Barbosa, Nathany Teixeira e Christhine King.
Um muito obrigada aos meus parceiros de blogs e Instagrams, o
apoio de vocês é fundamental!
Ainda agradeço a Vanessa Pavan, Vavah, minha assessora literária por
todo o suporte que me dá e por não me deixar desanimar diante às
dificuldades e a Mari Vieira, pela revisão desse texto e pela empolgação
com a história.
Não poderia deixar de agradecer ao meu agente Felipe Colbert, por
cuidar tão bem da minha carreira. É uma honra fazer parte do seu time de
autores agenciados!
Pisciana, dramática e chocólatra assumida. Renata dos Reis Corrêa
nasceu em 04 de março de 1981, em Guimarânia, interior de Minas Gerais,
e há mais de vinte anos mora em Uberlândia com o marido e os dois filhos,
um casal de gêmeos.
É médica oftalmologista por formação, leitora voraz e uma
apaixonada pela escrita. Começou a escrever ainda adolescente, mas só em
2014 entrou de vez para o mundo literário, ao criar seu primeiro romance,
história que começou como parte de um tratamento para síndrome de
Burnout que teve na época. Romântica incorrigível, procura sempre passar
uma mensagem de esperança com seus textos, destacando o poder da figura
feminina. Já publicou 28 títulos, dentre livros digitais e impressos, que vão
desde o drama, passando pelo romance romântico, até a literatura erótica.
Só na Amazon suas histórias somam milhões de leituras.
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Contra todas as probabilidades – romance
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Nos laços do amor – romance
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