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WISC-IV

Interpretação dos índices


Síntese e conclusão
WISC-IV – Interpretação

O que a escala mede?

Distintas funções cognitivas que, em conjunto, refletem a capacidade


global do indivíduo (nunca um subteste vai ser usado isoladamente
para avaliar a inteligência de um sujeito).

Cada índice e cada subteste tem um construto primário (o que é


comum entre os subtestes) e um secundário (que também pode
impactar o desempenho).

Para uma boa validade de construto, devemos usar pelo menos dois
subtestes para cada índice.
WISC-IV – Interpretação

A importância do como a criança desempenha uma tarefa é tão ou mais


importante que o escore obtido.

Devemos tentar entender o desempenho nos itens incluindo os tipos de


erros (pode nos fornecer informações clínicas valiosas).

Padrão de comportamento deve ser observado em múltiplos contextos


(durante todos os subtestes) - final dos slides.

Descrever as estratégias utilizadas na execução das tarefas (em cada


subteste).

O examinador deve saber o que cada subteste avalia (e como) e o que


eles têm em comum e suas diferenças.
WISC-IV – Interpretação
Importante relatar se houve ou não discrepâncias (facilidades ou
dificuldades) em tarefas específicas – avaliar o perfil do paciente
(comparação entre os índices e subtestes do próprio avaliando).
WISC-IV – Interpretação - índices

ICV = habilidades verbais e semânticas. Definição de conceitos,


capacidade de categorização e conceitualização.

IOP = habilidades visuocontrutivas e visuoespaciais – trabalhar com


imagens mentais e visuais.

IMO = habilidades mnemônicas memória operacional (ou de


trabalho) – habilidade de manipular informações mentalmente e
trabalhar com essas informações.

IVP = velocidade para processar informações – tempo gasto para se


processar informações nas atividades que são requeridas.
WISC-IV – ICV
Semelhanças + Vocabulário + Compreensão (Informação e
Raciocínio com Palavras)

Tarefas que avaliam habilidades verbais por meio de raciocínio,


compreensão e formação de conceitos.

Constructos secundários envolvidos:

Conhecimento verbal previamente adquirido. Memória de longo prazo /


expressão oral.

Maior carga de inteligência cristalizada – não é sinônimo de desempenho


escolar, representa os tipos de capacidades exigidas na solução da
maioria dos complexos problemas cotidianos (com base nas experiências
e conhecimentos existentes). Relevância de aspectos culturais e
educacionais, embora não seja sinônimo de desempenho escolar.
WISC-IV – ICV
Linguagem
Receptiva – capacidade de compreender a palavra falada.

Expressiva – capacidade de se expressar (verbalmente ou não).

VC e CP > SM, IN e RP - melhor linguagem expressiva (por isso é


importante um registro cuidadoso das respostas da criança).

Formulação de hipóteses:
- SM, CO e RP exigem maior nível de raciocínio do que VC e IN
- SM e RP > VC e IN : déficit no conhecimento cristalizado
(recuperação das informações adquiridas anteriormente)
- VC e IN > SM e RP : conhecimento apropriado para a idade está ok,
mas com dificuldade em categorização de ordem superior de conceitos
verbais abstratos.
WISC-IV – ICV
Memória e processos de aprendizagem

Conhecimentos gerais:

- Compreensão – aprendizagem informal de vida (dia-a-dia)


- Informação – por meio da escolarização (formal)

Conhecimento /acesso lexical (conhecimento de palavras requerido para


expressão verbal – o quanto adquiriu e consegue acessar o vocabulário):

- Raciocínio com palavras e Vocabulário


WISC-IV – IOP

Cubos + Rac Matricial + Conceitos Figurativos (Completar Figuras)

Tarefas que avaliam raciocínio fluido por meio da organização


visuoespacial – resolução de problemas não ensinados na escola.

Constructos secundários envolvidos:

habilidade espacial e integração motora visual.

Maior carga de inteligência fluida – habilidade de desempenhar


operações mentais como manipulação de símbolos abstratos: operações
que um indivíduo usa frente à novas tarefas que não podem ser
executadas de forma automática.
WISC-IV – IOP

Organização visuoespacial

- Capacidade de organizar informação visual em padrões de significado


e compreender como essas informações podem mudar caso sejam
rotacionadas ou movimentadas no espaço.
- Tarefas de identificação de detalhes relevantes, perspectiva, ângulo,
tamanho, julgamento de distância e transposição de figuras.
WISC-IV – IOP

Formulação de hipóteses:

Os déficits são mais visuoespaciais (imageamento de objetos,


direita/esquerda, padrões visuais) ou de raciocínio fluido (lógica e
formação e entendimento de conceitos - abstração)?

- CB e CF: avaliam mais habilidades visuoespaciais.


- RM e CN avaliam mais o raciocínio fluido.

Comparação útil quando o avaliador levanta a hipótese de que a criança


possui uma deficiência visuoespacial que interfere em seu IOP.
WISC-IV – IOP

Formulação de hipóteses:

- RM e CN: podem ser comparados com a combinação entre SM e RP


(no qual é avaliado o raciocínio fluido verbal). Será que o contexto ou
o meio prejudica o desempenho do sujeito?

- SM e RP < RM e CN: pode sugerir que os requisitos para se


processar estímulos verbais, semânticos ou linguísticos interferem na
capacidade da criança para expressar as habilidades de raciocínio no
domínio verbal.
WISC-IV – IMO

Dígitos + Seq N e Letras + (Aritmética)

Tarefas que avaliam memória de trabalho (operacional) e de curto prazo


com estímulos verbais.

Constructos secundários envolvidos:

Atenção, controle mental e raciocínio fluido.

Apesar de se ter o nome ‘memória’ no índice, ele não é uma avaliação


abrangente da memória – há muitos outros tipos de memória (inclusive
baterias de testes neuropsicológicos próprios para memória).
WISC-IV – IMO

Formulação de hipóteses:

Investigar as habilidades numéricas ou a memória operacional


AR < DG e SNL: pode ser dificuldades no raciocínio matemático.

Quanto a criança vai melhor em atividades com sentido


AR > DG e SNL: pode ser devido à validade ecológica – crianças
engajam mais no que faz mais sentido.

Investigar a Memória operacional


DG, SNL e AR baixos: problemas com memória operacional.
WISC-IV – IMO

Prejuízos no IMO podem acarretar em dificuldades:

- Para seguir instruções de tarefas;


- Para manter informações em mente por tempo suficiente para usá-las
em seguida;
- Com cálculos mentais;
- Fazer duas tarefas simultâneas;
- Conectar a informação de um parágrafo com o outro – geralmente não
entende o que lê.
- Em organizar as informações em uma ordem temporal coerente
(construção hierárquica com começo, meio e fim).

Podem ser taxadas de crianças “preguiçosas” pois ao pedir várias tarefas,


ela não faz uma delas.
WISC-IV – IVP

Códigos + Procurar Símbolos + (Cancelamento)

Tarefas que avaliam rastreamento visual simples (acurácia vs velocidade)

Constructos secundários envolvidos:

Atenção, memória de curto prazo, discriminação visual e coordenação


visual motora.

Requer integração rápida de múltiplas habilidades cognitivas.

Ser rápido libera os recursos cognitivos – IVP não é um fator


independente que contribui para a inteligência – é ligado aos outros
componentes (IMO principalmente).
WISC-IV – IVP

Formulação de hipóteses:

Rastreamento visual rápido


Códigos e Cancelamento > Procurar Símbolos
*PS não requer rastreamento

Tomada de decisão e discriminação visual


Cancelamento e Procurar Símbolos > Códigos
*CD não tem tanta tomada de decisão

Habilidades grafomotoras
Códigos > Cancelamento e Procurar Símbolos
*CD tem maior demanda de habilidade motora

Importância da atenção seletiva e atenção sustentada em todos eles.


WISC-IV – IVP

Prejuízos no IVP podem acarretar em:

- Lentidão para realizar operações aritméticas básicas.


- Dificuldade para terminar tarefa simples no prazo.
- Muitas vezes chega a resposta certa, mas demora mais tempo.
- Por vezes, pode realizar a tarefa no tempo desejado, mas comete
muitos erros ou omissões.
- Lentidão em tarefas de rotina, pouca adesão a aprendizagens novas.
WISC-IV – IVP
Intervenções possíveis:

- Conceder ao aluno mais tempo para: a) responder oralmente as


perguntas feitas na classe, b) tomar decisões quando forem oferecidas
atividades para escolha, c) concluir as tarefas na classe.
- Não exigir que o aluno trabalhe sob pressão de tempo.
- Reduzir a quantidade de tarefas, favorecendo produções de qualidade.
- Quando a cópia for necessária, não exigir velocidade.
- Permitir um tempo extra para que o aluno revise para verificar
precisão.
- Fornecer tempo adicional para o aluno concluir tarefas de classe de
uma forma que não traga atenção negativa a ele ou ela.
- Reduzir a extensão e prática das tarefas que têm um componente por
escrito, solicitando menos repetições de cada conceito
- Fornecer impressões com o conteúdo trabalhado em sala em vez de
exigir que o aluno copie da lousa em um período limitado.
Integrando informações

Como os índices funcionam juntos: um modelo dinâmico de


processamento cognitivo, no qual cada índice influencia o outro.

- Alta velocidade de processamento para informações rotineiras


conserva o espaço de memória operacional para o raciocínio mais
avançado.
- Por outro lado, dificuldades no IVP podem sobrecarregar as estruturas
de memória operacional (reduzindo a compreensão e aprendizagem).
- Vocabulário mais avançado (extenso) também conserva o espaço da
memória operacional ao realizar raciocínio envolvendo construtos
verbais.
- Memória operacional é necessária para um raciocínio fluido mais
avançado.
Síntese e conclusão

Objetivo é reunir e condensar as informações geradas ao longo do


relatório, tanto dos aspectos cognitivos quanto comportamentais.

Com a síntese, pretende-se elencar as premissas e evidências que


justifiquem a conclusão (a conclusão precisa ser logicamente sustentada
pelas premissas).

A conclusão deve necessariamente se pautar na história clínica, na


avaliação e observação do comportamento – deve propor uma conduta.

Ao final do relatório deve ficar claro o perfil cognitivo do sujeito.


Síntese e conclusão

O princípio básico que direciona qualquer avaliação é o teste de


hipóteses (Halpern, 2003):

1. Quando não há relação entre as premissas e a conclusão, a hipótese


é refutada.
2. Quando existem poucas premissas fracas e que não sustentam a
conclusão, a hipótese é refutada.
3. Quando várias premissas fracas sustentam uma conclusão, a
hipótese é confirmada.
4. Quando uma premissa sólida sustenta a conclusão, a hipótese é
confirmada.

As premissas são fatos encontrados na história clínica, comportamentos


observados, relatos/exames complementares e desempenho nos testes.
Síntese e conclusão

Nunca concluir (ou diagnosticar) com o foco apenas em um aspecto e,


muito menos, baseado apenas em um teste.

Avaliação deve ser vista como um processo amplo, global e


contextualizado na vida do sujeito.

No relatório, a conclusão deve ser tratada como hipótese diagnóstica


(exemplo: a clínica, juntamente com a história e seu desempenho, é
compatível com a hipótese diagnóstica...”).
Conduta sugerida

Um bom relatório deve ter uma seção de conduta sugerida. É necessário


orientar o paciente e a família (seção devolutiva com uma orientação
sobre o problema que trouxe o sujeito).

O diagnóstico pelo diagnóstico não tem função nenhuma! Aliás é uma


grande crítica! Ele deve servir para direcionar a intervenção.

As condutas sugeridas podem ser o encaminhamento (ou continuidade)


às diversas áreas (psicológica, médica, fonoaudióloga, psicopedagógica,
terapia ocupacional, etc). É ético listar todas as intervenções possíveis
para o paciente, mas deixar claro que há prioridades.

Pode-se até sugerir bibliografias para o público geral (cartilhas, sites,


livros) ou mesmo literatura científica (artigos e livros-texto).
Para refletir

Enquanto as qualidades psicométricas (validade,


confiabilidade, padronização e normas) do WISC-IV
são ‘garantidas’ pela editora e nos dão confiança para
usar os escores como descrições numéricas da
inteligência, a relevância clínica dos escores deve ser
determinada pel@ psicólog@ que examina os escores
dentro de um contexto.
WISC-IV – ICV
Semelhanças

Comportamentos a observar:

- Se há beneficio de feedback (quando dado).

- Extensão da resposta verbal.

- Reação à frustração – “não sei” ou insistir que os pares-palavras não


são iguais. Menosprezar “isso é bobinho” “isso é absurdo”

- Perda da meta: começa a falar o que há de diferente, e não o que há de


semelhante.
WISC-IV – ICV
Vocabulário

Comportamentos a observar:

- Dificuldade em expressar as palavras ou o seu raciocínio

- Fenômeno “estava na ponta da língua”

- Prejuízo auditivo mais aparente neste subteste – palavras não são


apresentadas num contexto

- Expressão verbal

- Pessoas que falam “treco”, “coisa”, “negócio”.


WISC-IV – ICV
Compreensão

Comportamentos a observar:

- Respostas verbais muito longas.

- Fenômeno “ponta da língua” ou problemas de articulação

- Desatenção – para itens verbais longos.

- Necessidade recorrente de inquéritos – qualidade da 1ª resposta (há


crianças que se incomodam com o inquérito).

- Reação ao inquérito

- Erros: dificuldade verbal ou julgamento social fraco?


WISC-IV – ICV

Informação

Comportamentos a observar:

- Padrão de respostas – erra itens fáceis e acerta difíceis (lacunas de


aprendizado?)

- Respostas exageradamente longas

- Conteúdo dos itens respondidos incorretamente – erros específicos em


uma área (ex: informação numérica, história, geografia...)
WISC-IV – ICV

Raciocínio com palavras

Comportamentos a observar:

- Reação à frustração / insegurança ao responder.

- Solicitar repetição de forma frequente (anotar no protocolo quantas


vezes pediu).
WISC-IV – IOP
Cubos

Comportamentos a observar:

- Estratégias de resolução de problemas ao manipular os cubos.

- Nível de planejamento envolvido (tentativa e erro / impulsividade).

- Forma de construção dos cubos (começa pelo meio e depois se perde).

- Coordenação motora aparente.

- Persistência / Reação à frustração

- Virar o corpo ou virar o livro de estímulos

- Violar o estímulo (desatenção)


WISC-IV – IOP

Conceitos Figurativos

Comportamentos a observar:

- Reação à frustração – “não sei” ou insistir que os estímulos não


combinam.

- Se a criança estuda os estímulos antes da resposta.

- Se há verbalização durante a resolução do problema.


WISC-IV – IOP

Raciocínio Matricial

Comportamentos a observar:

- Nível de planejamento envolvido

- Desistência em itens mais difíceis

- Demora muito?
WISC-IV – IOP

Completar Figuras

Comportamentos a observar:

- Verbalizações como “não está faltando nada”

- Apontar o que falta ao invés de verbalizar

- Respostas imprecisas vs muito elaboradas


WISC-IV – IMO

Dígitos e Sequência de números e letras

Comportamentos a observar:

- Se a criança se beneficia de estratégia (memória operacional verbal


e/ou visual)
- Qualidade do erro – falha no reordenamento (dificuldade em
sequenciar) ou esquecimento (intrusão)
- Fatores que influenciam o desempenho: desatenção, prejuízo auditivo
e ansiedade.
- Persistência / reação à frustração.
- Padrão de fracasso na primeira tentativa e acerto na segunda –
aprendizado ou aquecimento.
WISC-IV – IMO

Aritmética

Comportamentos a observar:

- Sinais de ansiedade (pessoas muito preocupadas com o desempenho).

- Crenças “não consigo fazer cálculos de cabeça”.

- Preocupação com o cronômetro “quanto tempo demorei?”

- Sinais de distração ou concentração fraca.

- Solicitar repetição de forma frequente.


WISC-IV – IVP

Código e Procurar Símbolos

Comportamentos a observar:

- Mãos tremulas ou pressionar o lápis.

- Movimento dos olhos.

- Rapidez e descuido na resposta aos itens

- Sinais de cansaço, desinteresse ou desatenção conforme o progresso


da tarefa

- Quando se dão as omissões?


WISC-IV – IVP
Cancelamento

Comportamentos a observar:

- Mãos tremulas ou pressionar o lápis.

- Atenção e concentração ao longo da tarefa.

- Rapidez e descuido na resposta aos itens

- Efeito dos estímulos distratores no desempenho da criança

- Sinais de cansaço, desinteresse ou desatenção conforme o progresso


da tarefa

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