Você está na página 1de 55

Rotavírus e outros vírus causadores de

gastroenterites
ROTEIRO

• Introdução

• Rotavírus

• Adenovírus

• Astrovírus

• Norovírus

• Considerações finais
INTRODUÇÃO
Falta de assistência médica Desidratação
Doença diarreica Desequilíbrio
Tratamento inadequado
eletrolítico

desnutrição
Síndrome:
• Aumento no número de evacuações
óbito
(fezes aquosas ou de pouca consistência)
• Vômito, febre, dor abdominal
INTRODUÇÃO

Doença 1,5 milhão de crianças por ano


diarreica 18% das mortes totais em crianças abaixo de 5 anos
Crianças abaixo de 4 anos: em média 3,2 episódios anuais

Países desenvolvidos: morbidade  1-2,5 casos anuais

Desnutrição
Países em desenvolvimento Acesso à água potável
(6-7 episódios) Saneamento básico inadequado ou ausente

2,5 milhões de óbitos anuais – 21% óbitos abaixo de 5 anos


http://www.who.int
INTRODUÇÃO
Brasil: Monitorização das Doenças Diarreicas Agudas (1994)
INTRODUÇÃO

Ministério da Saúde – Fevereiro/2012


INTRODUÇÃO

Ministério da Saúde – Fevereiro/2012


INTRODUÇÃO

Ministério da Saúde – Fevereiro/2012


INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO

Ministério da Saúde – Fevereiro/2012


INTRODUÇÃO

Ministério da Saúde – Fevereiro/2012


INTRODUÇÃO
DDA

Agentes
etiológicos

vírus bactérias parasitas

Condições socioeconômicas da população

Rotavírus
Adenovírus
Astrovírus
Norovírus
ROTAVÍRUS
Histórico

1973: visualização da partícula viral (microscopia eletrônica)


• Biópsia duodenal: Flewett e colaboradores – Inglaterra
• Fezes de crianças hospitalizadas: Bishop e colaboradores - Austrália

Classificação e morfologia

• Família: Reoviridae
• Gênero: Rotavirus
• Genoma: RNA fita dupla
• Não envelopado
ROTAVÍRUS

Angel, Franco & Greenberg, 2007


Segmento Proteína Localização Função

1 VP1 Core RNA polimerase –RNA dependente


2 VP2 Core Ligação ao RNA viral
3 VP3 Core guanililtransferase
4 VP4* Capsídeo externo Hemaglutinação, proteína de ligação, peptídeo
de fusão, antígeno neutralizante
5 NSP1 Não-estrutural Ligação ao RNA viral

6 VP6 Capsídeo interno Antígeno de subgrupo, transcrição


7 NSP3 Não-estrutural Inibição tradução proteínas celulares, ligação à
terminação 3’ do mRNA viral
8 NSP2 Não-estrutural Ligação ao RNA, helicase, NTPase, formação
do viroplasma
9 VP7 Capsídeo externo Glicoproteína, antígeno neutralizante
10 NSP4 Não-estrutural Morfogênese, regula [Ca2+], enterotoxina
11 NSP5 Não-estrutural Forma viroplasma, interage com NSP6 e VP2
NSP6 Não-estrutural Interage com NSP5, presente no viroplasma
ROTAVÍRUS
® Classificação Geral:
® Sorológica VP6:
® Grupo: A-G ( A, B, C descritos em humanos)
® Subgrupos
®Fenotípica: PAGE
® Segmento 11: NSP5:
® Longo (L)
®Curto (S)
®Supercurto (SS)

Soares et al, 2010


ROTAVÍRUS
® Classificação genômica e sorológica: sorogrupo A
® Sorotipo e ou genótipo: VP4 e VP7
® Genogrupos: hibridização RNA
® Genótipos: NSP4 Gene Classificação
VP4 Sorotipo/Genótipo
P1-P14/P[1]-P[28]
Amostra: P1A[8] Sorotipos-subtipos
P1A, P1B, P2A, P2B, P2C, P5A e P5B

VP7 Sorotipos/Genótipos
G1-G15/G1-G16
NSP4 Genótipo
NSP4-A a NSP4-F
Todos Genogrupos
Wa-like
DS1-like
K9-like
Au1-like
ROTAVÍRUS
Biossíntese viral
Na+ dependente
Células intestinais humanas: 20-24hs pH: 5,5 a 8,0

Adsorção inicial: VP4 + ácido siálico/gangliosídeos

VP7 e VP5 + HSP70 e v3, x2 e 41

tripsina
VP4 VP5 + VP8
Internalização: ???
Endocitose mediada por receptores
Penetração direta através da membrana
ROTAVÍRUS

Desnudamento

Vesícula endocítica:  [Ca2+]

Solubilização VP7 e VP4

Permeabilizarão membranas celulares

Liberação da partícula viral


ROTAVÍRUS
Enzimas virais:
RNA polimerase RNA-dependente (VP1)
Inativada no vírion (TLP)
Ativada por agentes quelantes ou aquecimento
Atividade de VP6 associada à partícula viral
Helicase
Nucleotídeo-fosforilase
Guanililtransferase
Metilase
Core viral
Liberação: canais
Fita de RNA (+) + Fita de RNA parental = molde
Assimétrico e conservativo:
RNA positivo = molde – permanece ligada à fita nascente
ROTAVÍRUS
Patogênese

• Transmissão: fecal-oral
• Países em desenvolvimento: boas condições sanitárias
• Transmissão respiratória
• Sintomas respiratórios
• Isolamento do vírus na secreção traqueal

Período de incubação: 2 a 4 dias


Aquisição do
Células epitélio intestino
vírus
ROTAVÍRUS

Fluxo de
eletrólitos
Absorção, síntese de enzimas, bidirecional
Secreção de íons Cl- através do
digestão
epitélio
ROTAVÍRUS
Rotavírus Células apicais Descamação

Migração células da cripta

Perda da capacidade absortiva + Aumento da atividade secretória


(NSP4)
Proteínas virais  Transtorno homeostase do Ca2+
Aumento da permeabilidade do Ca2+:
desarranjo do citoesqueleto
 expressão dissacaridases
inibição do sistema de co-transporte de Na+ - soluto
Necrose
 Permeabilidade da membrana citoplasmática:
 [Na+] [ K+]
Comprometimento da absorção de NaCl e nutrientes
Perda de fluidos
ROTAVÍRUS
Manifestações clínicas

• Diarreia aguda aquosa: vômito, febre, dor abdominal e desidratação


• Autolimitada (1 semana a 10 dias)
• Eliminação do vírus nas fezes: até 57 dias após infecção
• Complicações: desidratação grave  morte
• Grupo A: extra-intestinais – rins e fígado de crianças imunodeprimidas
• Neonatos: assintomática ou diarreia branda (anticorpos maternos)
• 6 a 24 meses: mais susceptíveis – pico: 12 meses
• Desnutrição – agravo considerável do caso
• Adultos: subclínica
ROTAVÍRUS
Diagnóstico laboratorial

• Detecção do vírus nas fezes


• Microscopia eletrônica
• Imunoeletromicroscopia
• Detecção de antígenos virais
• Enzimaimunoensaios
• Imunofluorescência
• Aglutinação em látex
ROTAVÍRUS
Diagnóstico laboratorial

• Detecção do genoma viral


• PAGE
• RT-PCR
• Hibridização
• Propagação do vírus em cultura de células
• Linhagens celulares MA-104, CaCo-2
• Lenta – sem valor prático para diagnóstico
• Caracterização dos sorotipos/genótipos: Enzimaimunoensaios
• RT-PCR, hibridização, sequenciamento
ROTAVÍRUS
Epidemiologia

• Crianças  pelo menos um episódio de rotavirose até 1 ano (39%


das internações infantis por diarreia)
• Mortalidade global média 611.000

www.laboclinica.com.br
ROTAVÍRUS

• Epidemiologia molecular
• Grupo A
• G1P1A[8], G2P1B[4], G3P1A[8], G4P1A[8]  92%
• Recentemente: G9P1A[8], G9P2A[6]
• Brasil:
• Poucos dados
• Peculiaridades dos sorotipos G e P
• G5, G8, G10, G12 e P3[9]
ROTAVÍRUS
Prevenção e controle

Vacina Prevenção da diarreia grave (desidratação e morte)

• Vacina tetravalente (G1 a G4): RotaShield (1998)  intussuscepção


• Rotarix (G1P1A[8]):
• Brasil (2005)
• via oral – duas doses 2 ou 3 meses e 4 ou 5 meses
• Contra-indicações: imunodeprimidas, doença gastrintestinal
crônica, malformação congênita trato digestivo, história prévia de
invaginação intestinal, uso de drogas imunossupressoras, alergia
ROTAVÍRUS
Prevenção e controle

• RotaTeq:
• Pentavalnete Wc3 (bovino), G1, G2, G3 G5 e P1A[8]
• UK-Recombinante:
• hexavalente (G1, G2, G3, G4, G8 e G9) ou variações
• Licenciada para produção no Brasil

Tratamento

• Não há tratamento antiviral específico


• Reposição hidroeletrolítica
ADENOVÍRUS
Histórico

1953/1954 : isolamento e caracterização Infecções respiratórias agudas


Adenoides humanas  adenovírus (1956)

1962: Adenovírus sorotipo 12  tumores em roedores  primeira


descrição da associação entre patógeno viral humano e oncogênese 
intenso estudo viral  biotecnologia

1973: criança com gastroenterite  fezes: cepaTak

1979 a 1983: isolamento de cepas antigenicamente associadas à


cepaTak
2013: Adenovírus entéricos  importante doença diarreica infantil
ADENOVÍRUS
Classificação e Morfologia

Aviadenovirus
Família: Mastadenovirus 6 espécies, 51 sorotipos
Adenoviridae Atadenovirus
Siadenovírus

Espécie Tropismo Sorotipos


A TGI 12, 18, 31
B TGU, pulmões 3, 7, 11, 14, 16,21, 34, 35, 50
C TR 1, 2, 5, 6
D Conjuntiva, 8-10, 13, 15, 17, 19, 20, 22-31, 32, 33, 36-39,
TGI 42-49, 51
E TR, conjuntiva 4
F TGI 40, 41
Proteína Localização Função
II Monômero hexon Estrutural
III Base do penton Penetração
IIIa Ligada à base do penton Penetração, montagem
IV Fibra Ligação ao receptor celular, hemaglutinação

V Core: DNA e base do penton Histona-like, empacotamento (?)

VI Peptídeo do hexon Estabilização capsídeo e core, participação


rompimento membrana do endossoma

VII core Histona-like


VIII Peptídeo do hexon Estabilização do capsídeo e do core,
montagem da partícula (?)
IX Peptídeo do hexon Estabilização do capsídeo e do core,
montagem da partícula (?)
TP Genoma Replicação do DNA viral
µ core Ligação ao DNA viral
p23 core Protease
Santos, Romanos & Wigg, 2008
ADENOVÍRUS
Biossíntese viral
Coxsackievirus B and Adenovirus Receptor
* Espécie B – receptores CD46

+ histonas celulares

http://arthritis-research.com/content/4/Suppl%203/S215/figure/F1?highres=y
ADENOVÍRUS
Adenovírus
Biossíntese viral

30 horas  100.00. novas partículas virais

5 unidades de transcrição inicial (E1A, E1B, E2, E3, E4)


Genoma 3 unidades de transcrição inicial tardia (IX, IVa2 e E2 tardio)
1 unidade de transcrição tardia  mRNA L1 a L5

Inicial imediata
Inicial
Inicial
Biossíntese
Tardia
ADENOVÍRUS
Adenovírus
Biossíntese viral

Núcleo celular

RNA polimerase II celular Transcrição genes iniciais

~30 mRNA splicing

Ativação da transcrição (E1A)


Replicação do genoma viral (DNA polimerase, precursor de proteína
terminal)
Indução da fase S celular (EA1 e E4)
Proteção contra defesas antivirais da célula hospedeira (E1B, E3)
ADENOVÍRUS
Adenovírus
Biossíntese viral

RNA polimerase II celular

Transcrição genes tardios ~18mRNA Montagem do vírion

1 ou 2 genes VA (virus associated) Transcritos mas não traduzidos

Inibição da síntese do interferon


Replicação:

Proteína terminal – sequencia iniciadora para a síntese do DNA viral


DNA-binding protein (DBP)
DNA-polimerase
ADENOVÍRUS
Adenovírus
Linha temporal

Replicação e transcrição genes tardios

mRNA  citoplasma  tradução e montagem inicial partícula viral

Capsômero pré-formado  núcleo  genoma

Lise celular – liberação do vírus


ADENOVÍRUS
Adenovírus
Manifestações clínicas

Adenovírus  manifestações clínicas variadas

Sorotipos 40, 41, 50 (B), 51 (D), 31 (?) - gastroenterites

Espécie F: mais comuns

Incubação: 8 dias

Doença autolimitada

Sintomas menos graves (desidratação)


ADENOVÍRUS
Adenovírus
Diagnóstico laboratorial

• Isolamento viral: linhagens celulares diversas (A549, HeLa, Hep-2)


• Identificação pós isolamento:
• Imunofluorescência
• Testes imunoenzimáticos
• Teste de neutralização
• Detecção de antígenos virais
• Testes imunoenzimáticos
• Imunofluorescência
• Genotipagem
• RFLP
• PCR
ADENOVÍRUS
Adenovírus
Epidemiologia
• Importante agente etiológico de doença diarréica aguda em todo
mundo (1,1 a 12%)
• Brasil: poucos dados (incidência entre 4 e 6%)

Prevenção e controle
• Ausência de vacinação
• Medidas sanitárias e de higiene
pessoal

Tratamento

• Não há tratamento antiviral


específico
• Terapia de reposição hídrica
ASTROVÍRUS
Histórico

• 1975 – surto de diarreia e vômito em uma maternidade inglesa


• Estrutura peculiar

Classificação e morfologia

Família: Astroviridae

Avastrovirus
Gênero 8 Sorotipos humanos:
Mamastrovirus HastV-1 a HastV-8

Imunomicroscopia
Imunofluorescência
Astrovírus

Genoma RNA fita simples, polaridade positiva, linear

Tradução citoplasmática Semelhante à mRNA

Proteínas virais no núcleo da célula (?)


Poliproteína
Precursora

3 polipeptídeos

Palombo et al, 2012


ASTROVÍRUS
Patogênese

• Transmissão:
• fecal-oral, contato pessoa a pessoa
• População afetada:
• Principalmente crianças abaixo de dois anos
• Infecções:
• Assintomáticas (2%): excreção viral
• Patogênese: (?)
• Vilosidades intestinais
• Poucas anormalidades morfológicas
• Baixa resposta inflamatória
• Mecanismos de indução da diarreia: (?)
• destruição do epitélio intestinal
• modulação de canais iônicos (mal absorção)
• Alteração da permeabilidade seletiva do epitélio intestinal
ASTROVÍRUS
Manifestações clínicas
1 a 4 dias Sintomas
Contato com o vírus (diarreia aquosa – 4 dias)

Diagnóstico laboratorial

Excreção de grande quantidade nas fezes ME – pode ser difícil

Isolamento em diferentes culturas de células

Testes imunoenzimáticos

RT-PCR
ASTROVÍRUS
Epidemiologia

• Amplamente distribuídos na natureza


• Humanos: diarreia aguda ou persistente (4 a 10% dos casos em crianças)
• Pico de incidência: inverno (regiões temperadas) e estações chuvosas
(países tropicais)
• Estudos epidemiológicos: ME  sorologia  RT-PCR
• Genótipo 1
• Brasil: 1, 2 a 5 e 8

Tratamento, prevenção e controle

• Interrupção da transmissão
• Terapia sintomática – se necessária
NOROVÍRUS
Histórico

Década de 20 Gastroenterite epidêmica não-bacteriana

Agente etiológico???

Diferentes surtos – Norwalk, Ohio, EUA

Voluntários sadios – preparado filtrado - doença


Vírus pequenos, arredondado,
não-cultiváveis - calicivírus
Década de 90: clonagem e caracterização vírus Norwalk
NOROVÍRUS
Classificação e morfologia

Norovirus
• Família: Caliciviridae
Sapovirus

• Ausência de sistema biológico de propagação

• Sequenciamento completo genoma:


• Cinco genogrupos (GI a GV)
• GI, GII GIV humanos
• 164 sequencias completas de aminoácidos proteína do capsídeo:
• clusters (17)
NOROVÍRUS
Biossíntese viral
• RNA fita simples, linear, polaridade positiva

Patogênese
• Voluntários:
• Incubação:16 a 36 horas
• Duração: 24 a 48 horas
• Fase aguda: anormalidades mucosa intestinal (alargamento vilosidades)
• Decréscimo da atividade enzimática intestinal
• Calicivirus: transmissão pessoa a pessoa, água e alimentos contaminado
NOROVÍRUS
Manifestações clínicas

Doença branda: náusea, vômito, diarreia e dor abdominal

Diagnóstico laboratorial

Clonagem e sequenciamento – soro hiperimune - imunoensaios


RT-PCR

Epidemiologia

Grandes surtos epidêmicos em diferentes países

Predomínio: GII
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Doença diarreica aguda: causa de elevada morbidade e mortalidade no
mundo
• Países em desenvolvimento:
• condições precárias de saneamento básico, desnutrição
• Agravamento do quadro
• Principal agente viral: Rotavírus
• Adenovírus, Astrovírus, Norovírus
• Não há tratamento antiviral específico
• Reposição hidroeletrolítica
• Vacinação: Rotavírus
• Precaução: medidas sanitárias e de higiene

Você também pode gostar