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MECANISMOS DE PATOGÊNESE E

FATORES DE VIRULÊNCIA BACTERIANA


AULA 04

MICROBIOLOGIA PARA MEDICINA


Módulo de Agressão e Defesa
Profa. Dra. Mirian Ueda Yamaguchi
CESUMAR - 2015
MECANISMOS DE PATOGÊNESE E
FATORES DE VIRULÊNCIA BACTERIANA
• Bi
Bibliografia
Bacteriologia Geral – VERMELHO, A.B.;
BASTOS, M.C.F.; BRANQUINHA, M.H. Ed.
Guanabara Koogan, 2008.

Microbiologia de BROCK – MADIGAN, M.T.;


MARTINKO, J. M.; DUNLAP, P.V.; CLARK, D.P. Ed.
Artmed, 12ª. Edição, 2012
Mecanismos de Patogênese
• A microbiota interage mais positiva, que negativamente
com seu hospedeiro, entretanto as interações microbianas
podem ser prejudiciais, resultando em “doenças”.
• A “patogênese” microbiana é iniciada pela exposição e
adesão dos micro-organismos às células do hospedeiro,
seguido de invasão, colonização e crescimento.
• O crescimento descontrolado do patógeno resulta em
danos ao hospedeiro
• Os patógenos utilizam de diversas estratégias , a fim de
driblar as barreiras naturais, para causar virulência.
Após a exposição a um
patógeno, os eventos da
patogênese são iniciados
pela adesão específica.

Ex. A Nesseria
gonorrhoeae, patógeno
causador da DST
gonorréia, tem uma
proteína de superfície
(Opa) que se liga
especificamente a
proteína do epitélio do
hospedeiro (CD66) (trato
urogenital).
Mecanismos de Patogênese

ADESÃO
• A maioria da infecções microbianas iniciam-se em
rupturas ou ferimentos da pele ou membranas de
mucosas dos tratos respiratório, digestório ou
geniturinário
• Os micro-organismos capazes de iniciar uma infecção
aderem-se às células epiteliais por meio de
interações macromoleculares entre as superfícies das
células do patógeno e do hospedeiro
Mecanismos de Patogênese

Aderência de patógenos a tecidos


animais. (a) MET de uma seção fina
de Vibrio cholerae aderido à borda
em escova de vilosidades intestinais
de coelho. Ausência de cápsula. (b)
Escherichia coli enteropatogênica
aderidas às vilosidades intestinais de
um bezerro, por meio de suas
cápsulas (estas ainda protegem a
bactéria da fagocitose).
Mecanismos de Patogênese

INVASÃO

• O crescimento do patógeno se estabelece a partir da


entrada pelas lesões no tecido ou até no tecido
intacto (se a microbiota normal for modificada ou
eliminada).
• Os patógenos podem colonizar o tecido no local da
invasão ou estabelecer-se em sítios distantes do local
de entrada, por meio do sistema circulatório ou
linfático
Mecanismos de Patogênese

COLONIZAÇÃO E CRESCIMENTO

• O patógeno deve encontrar nutrientes e condições ambientais


apropriadas dentro do hospedeiro (temperatura, pH,
oxigênio).

• Vitaminas, nutrientes solúveis como açúcares, aminoácidos,


ácidos orgânicos, entre outros podem estar limitados em
alguns tecidos, e em outros não:

Ex. Brucelose. Brucella abortus cresce lentamente nos tecidos,


mas facilmente na placenta, rica em eritritol (essencial para a
bactéria). O crescimento intensificado leva ao aborto no gado
bovino (e humanos).
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COLONIZAÇÃO E CRESCIMENTO
• Os “elementos traço” (micronutrientes) podem apresentar-se
em pequenas quantidades e influenciar no crescimento dos
patógenos

• O “Ferro” influencia significativamente o crescimento


microbiano.

• O ferro liga-se fortemente às suas proteínas de transporte (no


hospedeiro), a ferritina e transferrina, de modo que a
dificuldade de acesso ao ferro pode limitar um processo
infeccioso ou se administrar solução de ferro a um hospedeiro
infectado pode-se ter um aumento da virulência de alguns
patógenos.
Mecanismos de Patogênese

COLONIZAÇÃO E CRESCIMENTO

• Outros micro-organismos, vão além: produzem compostos


(Sideróforos) que auxiliam na obtenção de Ferro, são
quelantes de ferro, removendo-o das proteínas de ligação do
hospedeiro.

• A colonização e crescimento pode restringir-se a apenas um


local (ex. furúnculo), ou disseminar-se pelo sangue ou vasos
linfáticos, provocando uma infecção sistêmica, isto é,
crescendo em vários tecidos.
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• Fatores de virulência da Salmonella


Mecanismos de Patogênese

VIRULÊNCIA

• É a capacidade relativa de um patógeno causar doença


por meio da toxicidade e invasividade
• Toxicidade: capacidade de um organismo causar
doença por meio de uma toxina pré-formada, que
inibe ou mata a célula hospedeira
• Invasividade: capacidade de um patógeno crescer
intensamente no tecido do hospedeiro
• A maioria dos patógenos têm sua virulência resultante
da combinação de toxicidade e invasividade
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VIRULÊNCIA

1. As cápsulas e camadas limosas


2. Os compostos de parede celular e envoltório
3. As fímbrias e pili

• São componentes macromoleculares dos micro-organismos


que podem auxiliar o processo de colonização e virulência.
• Muitos patógenos produzem TOXINAS que se somam aos
demais fatores de virulência.
Mecanismos de Patogênese
Mecanismos de Patogênese
Mecanismos de Patogênese

EXOTOXINAS
• São proteínas tóxicas liberadas pela célula do
patógeno que deslocam-se do sítio de infecção e
causam danos em regiões mais afastadas
• Classificam-se como:
• toxinas citolíticas (CT)
• toxinas AB (AB)
• toxinas superantígenos (SA)
Exotoxinas Mecanismos de Patogênese

• Toxinas Citolíticas: promovem danos na membrana


citoplasmática do hospedeiro, promovendo lise e morte
celular (hemolisinas, fosfolipase)
Comparação das hemólises

Streptococcus pneumonie
-hemólise

Streptococcus pyogenes
-hemólise

Staphylococcus epidermidis

-hemólise
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Exotoxinas AB

• Toxinas que inibem a síntese proteica: toxina


diftérica (Corynebacterium diphtheriae) = difteria ou
crupe

• Toxina Botulínica: Clostridium botulinum

• Toxina Tetânica: Clostridium tetani


Exotoxinas AB Mecanismos de Patogênese

• Toxinas Diftérica: que inibem a síntese proteica


(Corynebacterium diphtheriae)
Mecanismos de Patogênese
• Toxina botulínica
Mecanismos de Patogênese
• Toxina tetânica
Mecanismos de Patogênese

Tanto a toxina tetânica quanto a toxina botulínica


bloqueiam a liberação de neurotransmissores
envolvidos no controle muscular, porém os sintomas
provocados no hospedeiro serão bem diferentes:

• Botulismo: morte decorre da insuficiência


respiratória provocada pela paralisia muscular flácida
• Tétano: morte provocada pela contração muscular
constante, quando envolve musculatura respiratória
leva à morte por asfixia
Botulismo: contaminação pela ingestão de toxinas (enlatados, embutidos) ou ingestão
do C. botulinum (ex. mel, crianças)
Tétano: no local da lesão, o C.tetani produz a toxina, que dissemina-se pelo corpo
pelas células nervosas. O C.tetani não invade o corpo do hospedeiro.
Mecanismos de Patogênese

ENTEROTOXINAS
• São um “tipo” de “exotoxinas” cujas atividades afetam o
INTESTINO DELGADO, provocando maciça secreção de
fluídos para o lúmen intestinal, resultando em vômito e
diarréia.
• São produzidas por uma variedade de bactérias:
– S.aureus, C.perfringens e Bacillus cereus = causadores
de intoxicação alimentar (toxinas pré-formadas)
– Vibrio chorerae, Escherichia coli enteropatogênica,
Salmonella enteritidis = patógenos intestinais
Toxina colérica: é uma enterotoxina AB
1. Movimento iônico normal
2. Adesão e colonização das
microvilosidades intestinais, seguida pela
produção e ligação da enterotoxina AB
ao gangliosídeo GM1 das células
hospedeiras. B liga-se a GM1, permitindo
liberar A através da membrana celular
3. A subunidade A ativa a adenil ciclase

4. Interrompendo o influxo normal do sódio

5. Provocando perda maciça de H20 para o


interior do lúmen, resultando em
diarréia profusa
Mecanismos de Patogênese

ENDOTOXINAS
• São “lipopolissacarídeos tóxicos” produzidos por diversas
bactérias Gram negativas, que fazem parte da camada
externa de seu envoltório celular.
• Diferente das exotoxinas que são secretadas por células
vivas, as “endotoxinas” são liberadas quando as células
sofrem lise.
• As endotoxinas (Salmonella, Escherichia, Shigella, dentre
outras) provocam efeitos como: febre, diarréia, vômito,
diminuição dos leucócitos e plaquetas, inflamação
generalizada.
• As endotoxinas apresentam menos toxicidade que as
exotoxinas, raramente são fatais.
Mecanismos de Patogênese
SUPERANTÍGENOS

São EXOTOXINAS que não


interagem diretamente com
as células do hospedeiro,
em vez disto, subvertem o
sistema imune, causando
extenso dano ao tecido do
hospedeiro. Ex:
• Síndrome do Choque Tóxico
= Staphylococcus aureus
• Escarlatina = Streptococcus
pyogenes
Mecanismos de Patogênese

BIOFILME
• O crescimento dos micro-organismos pode ser planctônico
(células flutuantes) ou como biofilme (sobre uma superfície)

• A ADESÃO é a principal estratégia empregada pela bactéria


para se fixar nas células e tecidos do hospedeiro. Além das
fímbrias e pili, a formação de BIOFILME pode estar presente e
relacionado à patogênese dos mesmos

• BIOFILME é a associação de uma comunidade de células


(bactérias ou fungos) e uma superfície (mucosa, dispositivos
plásticos, catéter, próteses, dente), cercada por uma matriz
extracelular (complexo de material extracelular, cuja
composição inclui: carboidratos, proteínas, glicose e
hexoaminas entre outras)
Mecanismos de Patogênese

• Os BIOFILMES, complexos ecossistemas microbianos, podem


ser formados por populações desenvolvidas a partir de uma
única, ou de múltiplas espécies, podendo ser encontrados em
uma variedade de superfícies bióticas e/ou abióticas.

• A razão pelo qual os micro-organismos aderem às superfícies é


a adsorção de nutrientes e a adesão, que permite que o micro-
organismo permaneça num habitat favorável.

• A formação de Biofilme protege a bactéria de antibióticos e das


condições adversas do ambiente (pH, temperatura, poluente)

• A quantidade de antibiótico para eliminar bactérias contidas


numa formação de Biofilme chega a ser centenas de vezes
maior que aquela necessária para eliminá-lo quando em estado
livre
Etapas da formação do BIOFILME
Biofilme e o Quorum sensing

• Quorum sensing (QS) (sensoriamento populacional) é


um sistema regulatório que monitora o nível
populacional e controla a expressão gênica, com base
na densidade celular
• O QS permite às células monitorar seu ambiente
quanto ao número de células do seu tipo (espécie)
• O QS é dependente do compartilhamento de
pequenas moléculas específicas, denominadas
autoindutores (AI), quando estas atingem níveis
suficientes, genes específicos são ativados
• Atualmente está bem definido que este
“sensoriamento populacional” é realizado por meio
de pequenas moléculas, denominadas autoindutores
(AI).
• Os autoindutores podem ser de diferentes naturezas
químicas: em organismos Gram negativos, via de
regra, os autoindutores são do tipo N-acil
homosserina lactonas (AHL), que correspondem a
pequenas moléculas que se difundem livremente
para dentro e para fora das células.
Biofilme e o Quorum sensing

Uma bactéria Gram negativa capaz de realizar quorum sensing expressa AHL
sintase (acil-homosserina lactona sintase) em níveis basais. Essa enzima
sintetiza o AHL específico da célula. Quando células de uma mesma espécie
atingem uma determinada densidade, a concentração de AHL é aumentada
suficientemente, permitindo sua ligação à proteína ativadora, que ativa a
transcição de genes quorum específicos
Biofilme e o Quorum sensing

Exemplo
• Uma bactéria patogênica que secreta uma toxina
pode ser ineficaz quando isolada. A produção de
toxina por uma única célula isolada seria um gasto de
recurso
• No entanto, se houver uma população significativa
de células presentes, a expressão coordenada da
toxina poderá iniciar a doença com sucesso

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