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CAPÍTULO 10

Críticas a Hume

Aires Almeida | Desidério Murcho


Crítica ao princípio da cópia
O que diz o princípio da cópia? Que todas as ideias são cópias das impressões.
Se houver algum contraexemplo (um caso de uma ideia da qual não tenhamos a impressão
correspondente), então essa ideia não tem origem em impressão alguma e, portanto, o
princípio da cópia cai por terra.
Mas existe um tal contraexemplo? Surpreendentemente, o próprio Hume apresenta o caso
do tom de azul em falta.

Falta ali algum tom de azul entre o que está antes e o que está depois do ponto de
interrogação? Muitas pessoas dirão que falta. Mas é preciso já termos visto (tido a
impressão visual) esse tom de azul para sabermos que está em falta? Muitos dirão que não,
o que significa que podemos ter a ideia desse tom de azul sem nunca o termos visto antes.
Logo, é falso que todas as ideias são cópias das impressões.
O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
Crítica ao princípio da bifurcação
O que diz o princípio da bifurcação? Que o conhecimento proposicional ou é de relações de
ideias (conceptual) ou é de questões de facto (factual).
Se houver contraexemplos (por exemplo, casos em que o conhecimento é simultaneamente
conceptual e factual), então o princípio da bifurcação não passa de um falso dilema e cai por
terra.
Mas haverá casos desses? Há quem considere que sim.
Por exemplo, há quem defenda que o facto de um dado objeto ser ou não ser arte depende
do modo como se define o conceito de arte. Nesse caso, a questão factual e a questão
conceptual são inseparáveis, ao contrário do que estabelece o princípio da bifurcação
defendido por Hume.
Outro exemplo: quando é que alguém está, de facto, a cometer um crime? Há que defenda
que isso não pode ser separado do modo como se concebe a noção de crime. Por exemplo,
fazer um aborto no Texas é, de facto, um crime, mas não na Califórnia. O conceito de crime
em vigor no Texas aplica-se ao aborto, ao contrário do estabelecido na lei da Califórnia.
O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
Crítica à noção de causalidade
O que diz Hume sobre a nossa noção de causalidade? Diz nós chamamos
erradamente causalidade à mera conjunção constante, apesar de se tratar de
coisas diferentes.
Mas será que nós costumamos mesmo entender desse modo a noção de
causalidade?
O filósofo Thomas Reid dá alguns exemplos para mostrar que Hume está
enganado. Por exemplo, se as pessoas pensassem que causalidade é o mesmo
que conjunção constante, então pensaríamos também que a noite é a causa
do dia, e o dia é a causa da noite, pois não observamos ocorrências que
estejam tão constantemente conjugadas como estas. De facto, o dia segue-se
constantemente à noite, e a noite constantemente ao dia. Contudo, as
pessoas não consideram que a noite e o dia sejam causa e efeito um do outro.
Logo, as pessoas não confundem causalidade com conjunção constante, isto
é, não entendem a noção de causalidade como Hume diz que entendem.

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Crítica à posição de Hume sobre a indução
Qual é a posição de Hume sobre a indução? Hume diz que a indução não tem justificação
lógica, ou seja, que não pode ser justificada por raciocínio nenhum.
Contudo, precisamos da indução para ampliarmos o nosso conhecimento, nomeadamente
sobre questões de facto. Ora, se a indução não tem justificação racional, isso equivale a
dizer que todas as nossas crenças sobre questões de facto são irracionais?
Hume diria que não, argumentando que, apesar de a indução não ter justificação lógica, ela
tem uma justificação naturalista, proporcionada por um instinto ou capacidade psicológica
que tem dado boas provas de ser digna de confiança: o hábito.
Todavia, os críticos argumentam que Hume está a substituir a lógica (a racionalidade) pelo
instinto natural, o que continuam a considerar uma forma de irracionalidade, defendendo
estes que o conhecimento científico não pode basear-se no instinto, por muito eficaz que
seja, mas na razão.

O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano


a seguir...
Comparar as perspetivas de Hume e Descartes.

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