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O método

Experimental
Referências
Cap 02 – O método experimental

Breakwell, G. M., Hammond, S., Fife-Schaw, C., &


Smith, J. A. (2014). Métodos de Pesquisa em
Psicologia (3rd edição). Grupo A.

MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios


básicos de análise do comportamento. 2. Ed.
“Os psicólogos tentam responder perguntas sobre comportamentos, pensamentos e sentimentos usando o
método científico. O método científico é um conceito abstrato que se refere às maneiras como as
perguntas são feitas e à lógica e métodos usados para obter respostas. Duas características importantes do
método científico são o uso de uma abordagem empírica e a atitude cética que os cientistas adotam ante
explicações para o comportamento e processos mentais.”
Metas da pesquisa experimental
1) A primeira é́ fornecer uma descrição do comportamento humano e de seus processos
psicológicos subjacentes.

2) A segunda é fornecer uma explicação para esse comportamento (hipóteses).


A EXPERIMENTAÇÃO E O MÉTODO
CIENTÍFICO
Contexto:
◦ Meados século XIX: A psicologia era vista como “a ciência da mente”;
◦ Introspecção como instrumento de acesso a psiquê;
◦ Gustav Fechner (1801-18087) e o estudo psicofísico – “Psicologia objetiva”;
◦ Ivan Pavlov (1849 – 1936), e o estudo do reflexo;
◦ Darwin (1859): Publicação de “A origem das espécies”;
A EXPERIMENTAÇÃO E O MÉTODO
CIENTÍFICO
Contexto:
◦ Final século 19, Wundt em Leipzing, Psicologia Experimental; (1879)
◦ Thorndike (1898): A lei do efeito;
◦ Watson (1913), O manifesto behaviorista:
“O que nós precisamos fazer é começar a trabalhar sobre a psicologia, fazendo
o comportamento, não a consciência, o ponto objetivo de nosso ataque.” (Watson,
1913).

“Acredito que podemos compor um a psicologia, defini-la como Pillsbury, e jamais


renunciar a nossa definição: nunca usar os termos consciência, estados mentais, mente,
conteúdo, verificável introspectivamente, imagens e coisas parecidas” (Watson, 1913,
p. 166)
A EXPERIMENTAÇÃO E O MÉTODO
CIENTÍFICO
Como chegar na “verdade”?

“De um modo geral, fazemos muitos dos nossos juízos corriqueiros usando a intuição. Isso geralmente
significa que agimos com base no que “parece certo” ou no que “parece razoável”.

Ex: Fruto proibido; viés de confirmação; viés dos grandes números..


Realismo x Pragmatismo
“Se uma árvore cai no interior da selva, mas não tem ninguém pra ouvi-la cair, a queda dessa
árvore emite barulho?”

Realismo: as coisas são pra além de mim, a um mundo real fora do sujeito.

Pragmatismo: porque estamos discutindo isso? Qual a consequência prática desta discussão?
Livre Arbítrio x Determinismo
A EXPERIMENTAÇÃO E O MÉTODO
CIENTÍFICO
 É possível estudar “fenômenos humanos” no laboratório?

 “O método que utiliza experimentos para investigar as causas do comportamento humano supõe a
aceitação de uma estrutura determinista e atomista, por meio da qual o comportamento e suas causas
são observados como sendo objetivamente especificáveis e divisíveis em unidades discretas”.

 “Dito isso, essas primeiras influências também fizeram com que a metodologia fosse associada a uma
abordagem mecanicista do pensamento e do comportamento humano.” (Breakwell,2019)
Mas o que é um experimento?
 ATIVIDADE I
Pensem em um tipo de experimento e conte-nos como os realizaria.
Mas o que é um experimento?
 Então o professor de vocês cuida de orquídeas.. Todas as seis plantas recebem a mesma quantidade
de água e luz. Na tentativa de avaliar qual melhor fertilizante para suas plantas, constatado pela
condição de saúde das plantas ou floração, o nosso pretenso botânico separa as plantas em 3 grupos:
 Grupo A: duas plantas recebem o fertilizante para floração X;
 Grupo B: duas plantas recebem o fertilizante para floração Y;
 Grupo C: uma planta não recebe qualquer fertilizante;

 Seria este um exemplo de experimento? “Como mencionado brevemente antes, um experimento é


um teste das relações de causa e efeito a partir da coleta de evidência para demonstrar o efeito de
uma variável sobre a outra”.
Grupo experimental, grupo controle e
duplo-cego.
 Grupo experimental: recebe o tratamento/teste da variável independente

Grupo controle: não recebe qualquer tratamento, apenas o placebo.

Duplo-cego: método no qual, tanto os participantes quanto os experimentadores, não sabem


quem faz parte do grupo controle, sem tratamento, ou quem faz parte do grupo experimental,
com tratamento.
Exemplos de Hipóteses
 Hipóteses:
 “São os enunciados formais de predições derivados da evidência obtida a partir de pesquisa e teoria
anteriores, ou simplesmente o resultado de uma intuição”. São tentativas para se explicar um fenômeno.

ATIVIDADE II:
◦ Dentro do seu exemplo anterior de experimento, formule a hipótese trabalhada.
Exemplos de hipóteses
 Analisemos algumas hipóteses e predições:
Assistir a programas de televisão agressivos torna as pessoas mais agressivas.
Os homens acreditam que são melhores motoristas do que as mulheres.
As crianças que são sensíveis à̀ rima na primeira infância fazem melhor progresso na aprendizagem da
leitura do que aquelas que não o são.
As mães que concentram a atenção de seus bebes em objetos são mais propensas a ter crianças cujo
vocabulário inicial contem um grande número de nomes de objetos do que as mães que não o fazem.
Lembrar uma lista de itens é́ mais fácil se a lista é lida duas vezes em vez de uma.

*Falseabilidade da hipótese
Exemplos de hipóteses
Causalidade e Experimentação
 Causalidade ou correlação?

Ex:. Em 1993, os níveis de ausência nas escolas secundárias do Reino Unido


aumentaram e, durante o mesmo período, as notas obtidas nos exames
escolares também aumentaram.
As notas aumentaram devido à ausência dos alunos?
A ausência dos alunos ocasionou um aumento das notas?

“...Durante o mesmo período, houve aumento do aquecimento global, aumento da criminalidade em


Moscou e aumento da longevidade entre hamsters de estimação.”
Causalidade e Experimentação
 Correlação: ocorre quando duas medidas diferentes das mesmas pessoas, situações ou coisas,
variam juntas! Ou seja: quando determinado fator de uma variável tende a ser associado a
determinados escores de outras variáveis.

Ex: indivíduo que pratica atividade física regularmente e a alta taxa de longevidade.

 Causalidade: Os psicólogos entendem a causa de um fenômeno quando são satisfeitas as três condições
necessárias para a inferência causal: covariação, uma relação de ordem temporal e a exclusão de causas
alternativas plausíveis.

Ex: bater a cabeça na porta e sentir dor / ser exposto ao césio radioativo e desenvolver, rapidamente, um câncer.
Causalidade e Experimentação
O método da diferença (Mill, 1984):
Usando esse método, aplica-se um teste duplo (digamos, à mesma pessoa duas vezes, ou a dois grupos de
pessoas). Essas aplicações de teste são idênticas, exceto em um aspecto, e quaisquer diferenças
observadas no desempenho dos participantes pode ser, então, atribuída à diferença de tratamento.

Um caso: Imaginem que João alega estar estressado e ansioso por conta do trabalho. Ao procurar ajuda
médica, recebe uma licença de 15 dias do trabalho. Durante esse período, João relata estar bem mais
tranquilo e sossegado, sem grandes problemas. Findo os 15 dias de licença, o cliente volta a trabalhar e os
sintomas de desconforto voltam a acontecer.
O intrigante Hans!
Variáveis
 Uma variável é qualquer característica que possa variar através das pessoas ou das situações e
que pode ser de diferentes níveis ou tipos.

 Variável Independente (VI): é́ aquela que o experimentador manipula ou controla e, como


tal, é́ a variável em cujo efeito o pesquisador está interessado.
(Variáveis como sexo, idade, entre outras, por vezes não podem ser manipuladas dentro do
experimento, contudo, o grupo de estudo pode ser variado.)
Variáveis
 Variável Dependente (VD): é a medida comportamental determinada pelo experimentador; é o
resultado que pode, ou não (dependendo da hipótese), ser predito que dependerá da variável
independente.

 A variável dependente deve não apenas ser mensurável com sensibilidade suficiente para
detectar algum efeito que suporte o teste estatístico, mas, também, deve ser potencialmente
sensível a alterações no nível da variável independente.

Atividade III:
Identifique as Vis e Vds do seu experimento!
Variáveis
Muita pesquisa atual trata de questões relativas a processos mentais que não são diretamente
observáveis, mas em que uma medida é considerada como sintomática de algum processo
subjacente. É esta natureza influente da pesquisa psicológica que a torna tão difícil.

Ex: Agressão, inteligência, felicidade, medo, memória...


 Esses constructos devem então ser ignorados? Considerados Inacessíveis?
Faz-se necessário estabelecer uma medida operacional, estabelecendo-se um enunciado explícito do
modo como o comportamento será quantificado ou categorizado.
Variáveis intervenientes
 Variáveis intervenientes são as variáveis que afetam diretamente as Vds mas que não estão
sobre o controle do experimentador, ocasionando assim uma interferência inconveniente no
estudo.
Ex: ruídos não controláveis, temperatura, vieses do participante, entre outras.
Confiabilidade e Validade
 Confiabilidade: refere-se à consistência ou à estabilidade de qualquer efeito experimental. A
técnica mais comum para estabelecer a confiabilidade é a replicação.

 Validade: refere-se ao fato de um experimento explicar ou não o que por meio dele se pretende
explicar: em outras palavras, a verdade da causalidade que está sendo inferida.
Delineamento
Experimental
Veja uma pesquisa realizada por Klinesmith, Kasser e McAndrew (2006), que testou se sujeitos do sexo
masculino que manuseavam uma arma em um ambiente laboratorial ficavam mais agressivos subsequentemente:

Os pesquisadores disseram aos sujeitos que o experimento investigaria se prestar atenção a detalhes
influencia a sensibilidade ao paladar. Os participantes foram divididos aleatoriamente em duas condições.
Em um grupo, cada sujeito manuseava uma arma e escrevia um conjunto de instruções para montar e
desmontar a arma. Na segunda condição, os participantes escreviam instruções semelhantes, enquanto
interagiam com o jogo Mouse TrapTM. Depois, cada um provava e avaliava uma amostra de água (85g)
com uma gota de molho picante, preparada pelo sujeito anterior. Essa era a parte do “teste de sensibilidade”
do experimento. A seguir, os sujeitos recebiam água e molho picante e deviam preparar a amostra para o
próximo participante. A quantidade de molho picante que acrescentavam servia como medida da
agressividade.
Delineamento
Experimental
Resultado?
De forma condizente com suas previsões, os pesquisadores observaram que os sujeitos que haviam
manuseado a arma adicionaram uma quantidade significativamente maior de molho picante à água (M =
13,61g) do que os sujeitos que interagiram com o jogo (M = 4,23g).

(SHAUGHNESSY; ZECHMEISTER; ZECHMEISTER, p31, 2012).


Avaliação do Método Experimental
“..mas a vida não é assim..”

. “Uma das dificuldades comuns do método experimental é que o ideal é sempre


humanamente impossível, como no caso em que requereria muito tempo ou em casos em
que certos grupos, situações e variáveis literalmente não existem. Às vezes não é possível
satisfazer os critérios formalmente exigidos pelos modelos experimentais discutidos aqui, e
é necessário recorrer a métodos quasi-experimentais ou simplesmente adotar metodologias
alternativas”.
O modelo quasi-experimental
 Imaginem um estudo onde, por algum motivo, as variáveis não possam ser adequadamente
isoladas. Nestes casos, você até observa uma correlação, mas não pode precisar a existência de
uma determinação causal entre essas variáveis.
Pré-experimentos;

Quasi-experimentos;
Pré-Experimentos
Os pré́-experimentos são concebidos mais apropriadamente como estudos realizados apenas
para ter uma ideia inicial do que está ocorrendo em uma situação particular antes de conduzir
uma investigação mais rigorosa.
Pré-Experimentos
“Certa vez participei de um curso de leitura rápida em uma tentativa de aumentar a velocidade
com a qual pudesse ler e compreender trabalhos escritos. A universidade estava contente em
fornecer esse treinamento, pois ajudaria seu corpo docente a obter melhor desempenho, e isso,
por sua vez, ajudaria a universidade a ser mais eficiente. Um especialista foi contratado para
ministrar o curso. Devido à atual preocupação política com avaliar tudo, o especialista sentiu-se
obrigado a conduzir um experimento para ver se o treinamento havia realmente funcionado.
Antes de o treinamento ter inicio, foi-nos dado um relato para ler e fomos convidados a
cronometrar nossa leitura e a responder algumas questões factuais acerca do conteúdo do relato.
Tendo feito isso, o treinamento prosseguiu e, ao fim do dia, fomos novamente testados a fim de
avaliar nossa leitura. Para que os tempos e os escores do teste fossem logo comparáveis, lemos o
mesmo texto e respondemos às mesmas questões”. (Breakwell, 2014, p.103)
Aspectos estranhos que comprometem a
validade interna.
 História: o indivíduo é ingênuo ou já fez o experimento antes? A sua história de vida
influencia na pesquisa?
 Maturação: como a passagem do tempo influencia na variável dependente?

 Instrumentação: alterar o método de avalição/medição ou, quando em observações subjetiva,


o julgamento do avaliador se modificar ao longo do teste.
Regressão estatística: tendência, no reteste, dos participantes atingirem scores médios em
relação a primeira testagem.
 Seleção: os grupos de teste e controle são “iguais”?

Mortalidade Experimental: abandono do teste.


Aspectos estranhos que comprometem a
validade externa.
 Configuração: sujeitos sabem que fazem parte do estudo?

Múltiplos tratamentos: como saber qual realmente “fez efeito”?

Pré-testes
Quasi-experimentos
Muitos dos problemas discutidos em relação aos pré́-experimentos reduzem o grau de certeza que
o pesquisador pode ter quanto ao “tratamento” ter realmente causado as diferenças observadas na
variável dependente que lhe interessa (isto é, a validade interna do estudo). Por causa disso, é
raro ver pré́-experimentos em periódicos acadêmicos de grande prestigio. Entretanto, muitas das
questões de pesquisa que gostaríamos de responder simplesmente não podem ser respondidas
recorrendo-se a experimentos verdadeiros. Isso geralmente ocorre ou porque não podemos – por
razões praticas – alocar os participantes aleatoriamente em situações de tratamento, ou porque
não seria ético fazê-lo (por exemplo, se isso implica negar tratamento a alguém que precisa dele).
Alguns experimentos...
 A prisão de Stanford:
https://www.youtube.com/watch?v=bSYAfIh1JD0

 A experiência de Milgram:
https://www.youtube.com/watch?v=yamoMFFKB4I

 O pequeno Albert:
https://www.youtube.com/watch?v=wO0rHEom91I

https://www.youtube.com/watch?v=h_XoXmnV-WM

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