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1 – DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA ATIVIDADE COGNOSCITIVA

1.2 – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS


TEORIAS EXPLICATIVAS DO CONHECIMENTO
FORMAS DE JUSTIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO

CONHECIMENTO A PRIORI

• S sabe que P a priori se, e só se, sabe que P pelo


pensamento apenas.

CONHECIMENTO A POSTERIORI

• S sabe que P a posteriori se, e só se, sabe que P através da


experiência / sentidos.
FORMAS DE JUSTIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO

• Posso saber a priori que um objeto totalmente azul não é


vermelho.

– O conceito de azul, de vermelho e de cor teve de ser adquirido


pela experiência, vendo cores.

– Apesar de adquirirmos o conceito de azul e de vermelho pela


experiência, não precisamos de recorrer à experiência
imediata para saber que um objeto todo azul não pode ser
vermelho.

• Os conceitos de azul, vermelho e cor são os conceitos


necessários ou os pré-requisitos para o conhecimento
proposicional de que um objeto totalmente azul não é
vermelho.
• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO
CONHECIMENTO

• Será que sabemos o que julgamos saber?

• Sem justificação não há conhecimento, mas é possível


conhecer algo?
• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO
CONHECIMENTO

• CETICISMO

– é uma posição epistemológica segundo a qual o


conhecimento não é possível.

• Pirro de Élis, Sexto Empírico, Montaigne


• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO
CONHECIMENTO

• Por mais fortes que sejam as nossas crenças e por melhores


que nos pareçam as suas justificações, estas serão sempre
insuficientes.

• Como crenças insuficientemente justificadas não são


conhecimento, nunca chegamos verdadeiramente a conhecer
o que quer que seja.

• O modo mais comum de justificar as nossas crenças consiste


em apelar a outras crenças, em inferir umas crenças de outras.

– Mas é precisamente por isso que a justificação não


funciona.
• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO

• REGRESSÃO INFINITA
– é um processo que não tem fim. Uma explicação dá origem a uma
regressão infinita se explicarmos A em termos de B, mas B exige uma
explicação em termos de C, e C outra explicação em termos de D, e
assim por diante, sem que se chegue a compreender A.

• Ex. Crença 1 – Estou em França; Crença 2 – Estou em Paris; Crença 3


– Estou a ver a Torre Eiffel; Crença 4 – Estou a ver o rio Sena e é
exatamente como vi nas fotografias …

– A crença 1 só está justificada quando se justificar a crença 4, na


medida em que a crença 4 suporta a crença 3, a crença 3
suporta a crença 2 e a crença 2 suporta, por sua vez a crença 1.
O problema em vez de ficar resolvido, vai recuando
sucessivamente.

• Dá-se uma regressão infinita sempre que se inicia um processo de recuo que
não tem fim.
• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO
CONHECIMENTO

• O ARGUMENTO CÉTICO DA REGRESSÃO INFINITA:

– Toda a justificação se infere de outras crenças.


– Se toda a justificação se infere de outras crenças, então dá-
se uma regressão infinita.
– Se há uma regressão infinita, então as nossas crenças não
estão justificadas.
– Logo, as nossas crenças não estão justificadas.
• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO
CONHECIMENTO

• Se a justificação das nossas crenças é inferida sempre a partir


de outras crenças, então nunca nos podemos dar por
satisfeitos.

• As justificações que damos precisam elas mesmas de ser


justificadas e, assim, o processo de justificação continua
infinitamente.

• Se há conhecimento, as nossas crenças estão


justificadas.
• As nossas crenças não estão justificadas.
• Logo, não há conhecimento.
• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO
CONHECIMENTO

• FUNDACIONISMO OU FUNDACIONALISMO

• Os fundacionistas consideram que o argumento da regressão


infinita da justificação tem uma premissa falsa:

– toda a justificação se infere de outras


crenças.
• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO
CONHECIMENTO

• Segundo o fundacionismo há dois tipos de crenças:

– CRENÇAS BÁSICAS ou fundacionais

• são crenças que não são justificadas por outras crenças,


são de tal modo evidentes que não dependem de outras
crenças, estão auto-justificadas (justificam-se a si mesmas).

– CRENÇAS NÃO BÁSICAS ou não fundacionais

• são crenças que são justificadas por outras crenças, são


inferidas de outras crenças.
• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO
CONHECIMENTO

• A tese central do fundacionismo é que nem todas as crenças são


suportadas por outras crenças.

– Há crenças básicas que não carecem de qualquer outra


crença que as suporte e estas crenças são o suporte ou
justificação de todas as outras crenças.

– Na perspectiva dos fundacionistas refuta-se o ceticismo


encontrando as bases sólidas ou os fundamentos do
conhecimento e mostrando que estas bases não são, nem
precisam de ser, justificadas por outras crenças.

– Uma vez encontradas essas bases, bloqueia-se a regressão


de que os céticos falam.
• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO
CONHECIMENTO

• A crença de S em P está justificada se, e só se,


– essa crença é uma crença básica ou fundacional
» ou
– se apoia em crenças básicas ou fundacionais.

• Uma boa maneira de compreender como os fundacionistas


encaram o conhecimento é compará-lo com um edifício.

– O que sustenta o edifício são os alicerces e são eles que


determinam a estrutura do edifício. Ora, os alicerces do
conhecimento são as nossas crenças básicas.
• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO
CONHECIMENTO

• Há dois tipos de fundacionismo:

– Fundacionismo cartesiano

• René Descartes (1596-1650)

– as crenças básicas são fornecidas pela Razão.

– Fundacionismo clássico

• Locke (1632-1704); Berkeley (1685 – 1753); David Hume


(1711 – 1776)

– as crenças básicas são fornecidas pela experiência.


• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO
CONHECIMENTO

• Quanto ao problema do fundamento do conhecimento,


verificou-se ao longo da história da filosofia, mas
essencialmente a partir do séc. XVII, uma oposição entre
duas correntes:

– o racionalismo.

– o empirismo.
• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO
CONHECIMENTO

• Racionalismo:
– é a corrente filosófica que atribui um valor superior à
razão, defendendo que os nossos conhecimentos
verdadeiros procedem dela.

• Seduzidos pelo rigor e clareza da matemática, os


racionalistas acreditavam que o conhecimento da realidade
poderia constituir-se de forma puramente racional e dedutiva
a partir de certos princípios ou ideias.

• Tais princípios têm de ser claros e distintos (evidentes) e por


isso não têm a sua origem nos sentidos (confusos e incertos).
• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO
CONHECIMENTO

• Empirismo:

• é a corrente filosófica que considera que a experiência


sensível é o fundamento e o limite dos nossos
conhecimentos.

• O empirismo foi atraído pela importância da experiência.


• O PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO OU POSSIBILIDADE DO
CONHECIMENTO

A oposição entre as duas correntes traduz-se numa diferente


ideia que fazem das capacidades da razão:

O empirismo – sobretudo o seu


representante mais radical,
David Hume – entende que a
O racionalismo entende que a
razão depende dos dados
razão por si só, dotando-se de
empíricos, que todo o
um método apropriado, pode
conhecimento deriva da
conhecer toda a realidade
experiência e só podemos
conhecer o que está ao alcance
dos nossos sentidos.
Discurso do Método (Quarta Parte)
René Descartes
1. Natureza dos fundamentos ou crenças básicas do saber /
conhecimento

– Metafísica

– etimologicamente significa o que está para além da física, da


natureza.
2. Comparação do procedimento do sujeito a nível da ação
moral com o conhecimento da verdade.

Procura da verdade Ação Moral

 Necessidade de rejeitar como  possibilidade de seguir opiniões


falso tudo aquilo em que se possa incertas (as exigências da vida não
imaginar a menor dúvida. podem ficar indefinidamente à
espera da evidência apresentada
“[…] afastando-me de tudo aquilo em que pela inteligência. Pode ser aplicada a
pudesse imaginar a menor dúvida, do mesmo sentença: primeiro viver, depois
modo como o faria em relação a algo que filosofar).
soubesse ser absolutamente falso; e
continuarei sempre neste caminho até ter
encontrado algo de certo […]”
René Descartes, Meditações Metafísicas (Meditação
Segunda), p. 21
PROCURA DA VERDADE
• Descartes procura pôr de lado todas as opiniões que até então aceitara
como válidas.

• Põe em dúvida não só as opiniões que de imediato lhe parecem ser falsas,
mas todas aquelas que não lhe ofereçam a garantia total de certeza.

• Para rejeitar essas opiniões basta-lhe encontrar em qualquer delas o mais


pequeno motivo de dúvida.

• Não é necessário examinar particularmente cada uma delas, uma vez


que ruindo os princípios centrais do conhecimento, se estes se revelarem
falsos, todas as crenças baseadas neles serão falsas, por isso também
ruirão.

• O processo da dúvida não é, contudo, aplicável ao domínio da prática


moral.
MÉTODO CARTESIANO
• O método cartesiano inspira-se no rigor inerente ao procedimento
matemático, em que as demonstrações matemáticas são construções
puramente mentais indubitáveis.

• Para que o homem adquira este método, Descartes preconiza a resolução de


problemas matemáticos como forma de exercitar a razão a pensar bem.

• Com as quatro regras do método Descartes julga ser possível o alcance de


conhecimentos seguros, seja qual for o domínio do real a que respeitem, pois
permitem evitar:

• a precipitação (conhecimentos apressadamente formulados acerca de


qualquer assunto antes de ter atingido a evidência);

• a prevenção (conhecimentos dados como certos desde a infância,


preconcebidamente).
REGRAS DO MÉTODO
René Descartes, Discurso do Método, (Segunda Parte), p. 25

• EVIDÊNCIA
– “não tomar nenhuma coisa por verdadeira sem que a conheça evidentemente
como tal, quer dizer: em evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção,
e não integrar nada mais nos meus juízos do que aquilo que se apresenta tão
nítida e distintamente ao meu espírito, que não tenha ensejo de duvidar dele.”

• ANÁLISE
– “dividir cada uma das dificuldades a examinar em tantas parcelas quantas as
necessárias, e requeridas para melhor as resolver.”

• SÍNTESE
– “conduzir os meus pensamentos por ordem, começando pelos objetos mais
simples e mais adequados ao conhecimento, para me elevar pouco a pouco,
como por degraus, até ao conhecimento dos mais complexos, e supondo
mesmo uma ordem entre aqueles que não se precedem, naturalmente, uns
aos outros.”

• ENUMERAÇÃO
– “proceder sempre a enumerações tão completas e a revisões tão gerais, que
pudesse estar certo de nada ter omitido.”
3. Função da dúvida no pensamento cartesiano :

Permitir encontrar algo que seja absolutamente indubitável.

• CARACTERÍSTICAS DA DÚVIDA:

– Metódica
• é o método proposto por Descartes para procurar o conhecimento
tão seguro de que nem os céticos possam duvidar. A ideia é
duvidar de tudo o que seja possível duvidar até encontrar algo de
que não possamos duvidar; é um instrumento do conhecimento.

– Hiperbólica
• considera como absolutamente falso o que for minimamente
duvidoso e como sempre enganador aquilo que alguma vez nos
enganar.
CARACTERÍSTICAS DA DÚVIDA CARTESIANA:
– Radical
• Nada foge à dúvida; tudo pode ser posto em dúvida.

– Voluntária
• Nasce de um ato de vontade no sentido de expurgar do entendimento os juízos
falsos.

– Construtiva
• Ambiciona construir um saber rigoroso e atingir verdades filosóficas
fundamentais (crenças básicas). Distingue-se dos céticos pois para estes não é
possível atingir o conhecimento verdadeiro.

– Provisória
• Atingindo a verdade a dúvida desaparece (cessa a regressão infinita dos céticos).

– Metafísica
• Põe em dúvida a existência de dois dos três objetos da metafísica: Deus e o
mundo, e dá novas bases à prova da imortalidade da alma e da sua relação com
o corpo.
4. Níveis de aplicação da dúvida

• CRENÇAS A POSTERIORI
– Os sentidos enganam-nos muitas vezes (ilusões perceptivas e
alucinações):
• duvida das informações dos sentidos sobre as qualidades ou
propriedades dos objetos.
• duvida da crença na existência das realidades físicas ou sensíveis
– Como distinguir o sonho da realidade? - ausência de critério para
distinguir os objetos reais daqueles que nos sonhos se apresentam
com o mesmo grau de vivacidade.

“Sonhei esta noite que era uma borboleta. Como sei eu agora se sou uma pessoa
que julga ter tido aquele sonho, ou se, realmente, sou uma borboleta que está
agora sonhando que é uma pessoa?”
Pensador Chinês
4. Níveis de aplicação da dúvida
• CRENÇAS A PRIORI
– duvida das proposições da matemática:
“Duvidaremos também de todas as outras coisas que outrora nos pareceram
certíssimas, mesmo das demonstrações matemáticas e dos seus princípios,
embora por si mesmos bastante manifestos, porque há homens que se
enganaram sobre essas matérias, mas principalmente porque ouvimos dizer que
Deus, que nos criou, pode fazer tudo o que lhe agrada, e não sabemos ainda se
ele nos quis fazer de tal maneira que sejamos sempre enganados, até sobre as
coisas que pensamos conhecer melhor. Pois, uma vez que permitiu que algumas
vezes nos tivéssemos enganado, como já foi assinalado, por que não poderia
permitir que nos enganássemos sempre?”
René Descartes, Princípios da Filosofia, § 5

• Por vezes cometemos paralogismos (é um erro involuntário ou de


boa-fé, devido à fraqueza do nosso entendimento). Se nos
enganamos algumas vezes, podemos admitir que Deus nos tenha
criado de modo a enganarmo-nos sempre.
4. Níveis de aplicação da dúvida

• CRENÇAS A PRIORI
– duvida das proposições da matemática:

• Génio maligno como experiência mental :

– Coloca a hipótese de um génio maligno que se ocupe a fazer-


nos acreditar em falsas evidências (Descartes chama-lhe
‘génio’ porque o seu poder é idêntico ao de um deus, mas não
é um deus porque revela maldade ao querer enganar-nos).

“Vou supor, por consequência, não o Deus sumamente bom, fonte da verdade,
mas um certo génio maligno ao mesmo tempo extremamente poderoso e
astuto, que pusesse toda a sua indústria em me enganar.”
René Descartes, Meditações Sobre a Filosofia Primeira
5. Primeiro Princípio da Filosofia
• Cogito ergo sum = Penso, logo existo.

“Serei eu tão dependente do corpo e dos sentidos que não possa existir sem eles?
Mas eu persuadi-me de que não havia nada no mundo, que não havia nenhum
céu, nenhuma terra, nenhuns espíritos, nem nenhuns corpos; não me terei por
isso persuadido de que também eu não existia? De modo algum! Se fui capaz de
pensar e de me persuadir de alguma coisa, existia com certeza. Mas há um
enganador, não sei qual, muito poderoso e muito astuto, que emprega todo o
seu engenho em me enganar. Não há dúvida de que eu existo, se ele me engana;
e que me engane quanto queira, nunca conseguirá que eu seja nada, enquanto
eu pensar que sou alguma coisa. De modo que, após ter pensado muito nisto e
cuidadosamente examinado todas as coisas, deve finalmente concluir-se e
reconhecer como constante que esta proposição – Eu sou, eu existo – é
necessariamente verdadeira, sempre que a pronuncio ou a concebo no meu
espírito.”
René Descartes, Meditações Metafísicas (Meditação Segunda), pp.22-23
6. Características do Cogito
• Firme e certo.
• Ser ou substância pensante (uma substância é o que subsiste em si).
• É uma intuição racional.
• Este princípio cumprirá duas exigências:
– deve ser de tal modo evidente que o pensamento não possa dele
duvidar
– dele dependerá o conhecimento do resto, de modo que nada pode ser
conhecido sem ele, mas não reciprocamente
“Por intuição entendo (...) uma representação que é o ato da inteligência pura e atenta,
representação tão fácil e distinta que não subsiste nenhuma dúvida acerca do que nela
compreendemos; ou então, uma representação inacessível à dúvida (…) que nasce só da luz
da razão, e que, porque é mais simples, é ainda mais certa que a dedução (…). Deste modo,
cada um pode ver por intuição que existe, que pensa, que o triângulo é delimitado apenas por
três linhas, que a esfera é apenas limitada por uma superfície, e outras coisas semelhantes,
que são mais numerosas do que se apercebe a maior parte das pessoas, porque não aplicam o
seu espírito a coisas tão fáceis (…).”
René Descartes, Regras para a Direção do Espírito (Terceira Parte)
OPERAÇÕES DA RAZÃO
• A intuição é a fonte primordial de todo o conhecimento:
– é através dela que se atinge a simplicidade e a clareza dos primeiros
princípios.

• A intuição é uma atividade puramente racional pela qual o homem tem


acesso ao conhecimento primeiro e isento de qualquer dúvida.

Capta a
Intuição Regra da evidência simplicidade do que
é claro e distinto
OPERAÇÕES DA RAZÃO

• Dedução

“Podemos perguntar-nos por que motivo propusemos, para lá da intuição, um outro modo de
conhecimento que consiste na dedução, operação pela qual entendemos tudo o que conclui
necessariamente de outras coisas conhecidas com certeza.
Foi preciso proceder assim, porque muitas coisas são conhecidas com certeza, ainda que não
sejam evidentes, pela razão exclusiva de serem deduzidas a partir de princípios verdadeiros,
conhecidos por um movimento contínuo e sem nenhuma interrupção do pensamento, o qual tem
uma intuição clara de cada coisa em particular. Não é de outro modo que conhecemos o laço que
une o primeiro ao último anel de uma longa cadeia, muito embora uma única e mesma olhadela
seja incapaz de nos fazer captar intuitivamente todos os anéis intermediários que constituem esse
laço. É preciso que os tenhamos percorrido sucessivamente e que guardemos as recordações de que
cada um deles, do primeiro ao último, adere aos que lhe estão mais próximos (…).
Distinguimos (…) a intuição da dedução certa na medida em que nesta se concebe um movimento
ou uma determinada sucessão, enquanto naquela não acontece o mesmo (…).”
René Descartes, Regras para a Direcção do Espírito (Terceira Parte)
OPERAÇÕES DA RAZÃO

Regras da análise,
Resolve problemas
Dedução da síntese e da
complexos
enumeração

• As operações da razão – intuição e dedução – são as únicas vias


intelectuais para obter conhecimentos certos.

• O método garante o bom uso das operações da razão ao fornecer as


regras a que o pensamento se deve sujeitar para vir a atingir
conhecimentos indubitáveis.
7. O dualismo alma / corpo
• A alma é distinta do corpo.

• A alma é mais fácil de conhecer do que o corpo.

• Sem corpo a alma seria o que é.

• Descartes estabelece uma separação radical entre a alma (= espírito) e o


corpo:
– a res cogitans (= substância pensante)

– a res extensa (= substância extensa ou material).


8. Critério de verdade
• Clareza e distinção.

• A clareza e distinção é o critério que nos permite identificar as


crenças verdadeiras, ao distinguir as ideias verdadeiras das ideias
falsas.
Duvida

1ª PROVA – DEUS COMO CAUSA DA IDEIA DE PERFEIÇÃO.


A dúvida é sinal de imperfeição

O saber é uma perfeição maior que a


dúvida

• De onde lhe terá vindo a ideia de perfeição?

A ideia de perfeição só poderia ter vindo de uma natureza


que fosse realmente mais perfeita – Deus.

A causa tem de ser pelo


menos igual ou superior ao Do nada nada pode provir.
efeito.
1ª PROVA – DEUS COMO CAUSA DA IDEIA DE PERFEIÇÃO.
IDEIAS

Inatas

Adventícias

Factícias

“Porém, destas ideias parece-me que umas são inatas, outras adventícias, outras feitas
por mim próprio. Porque, para que eu compreenda o que é «coisa», o que é
«verdade», o que é «pensamento», parece-me que reside na minha própria natureza e
que o não recebo de outra parte. Mas, que eu ouça agora um ruído, que veja o sol, que
sinta o calor das chamas, isto, segundo julguei até agora, procede de certas coisas
situadas fora de mim. E, por último, as sereias, os hipogrifos e seres semelhantes, são
inventados por mim próprio.”
René Descartes, Meditações Sobre a Filosofia Primeira
2ª PROVA – DEUS COMO CAUSA DO MEU PRÓPRIO SER.

• Análise da natureza humana e dos atributos de Deus.

• Reconhecer Deus como substância capaz de criar – doutrina da


participação do ser: todo o ser finito participa do ser infinito.

– Não sou o autor ou causa de mim mesmo:

» Se o fosse, seria então dotado de todas as perfeições


que estão na ideia de perfeição.
3ª PROVA – ARGUMENTO ONTOLÓGICO DA EXISTÊNCIA DE
DEUS

• A ideia de triângulo é perfeita a nível da sua definição.

• Mas a ideia de Deus é absolutamente perfeita:

– Pelo que a existência não pode ser separada da essência de Deus.

– O ser perfeito existe necessariamente pois, se lhe faltasse existência


já não seria um ser perfeito.

• (Do latim perfectus, que significa totalmente feito, completo,


totalidade do ser).
PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

• A intuição de si e dos seus pensamentos não lhe permite afirmar a


existência de algo que corresponda ao conteúdo do seu pensamento.

• Solipsismo é a doutrina segundo a qual não haveria para o sujeito


pensante outra realidade além da de ele mesmo.

 É centrando-se no seu pensamento que Descartes rompe o seu


isolamento, admitindo a existência de outras realidades além de si
mesmo.
10. Relação existente entre Deus e a realidade exterior

• A realidade exterior depende de Deus e não poderia subsistir um só


momento sem ele.

• Doutrina da providência concebida como criação contínua (filosofia


cristã):

• Vindo do nada, todo o ser criado voltaria ao nada se, a cada


instante temporal, a divindade eterna não estivesse como que a
criá-lo de novo, sustendo-o.

• Ser finito, o homem não poderia nunca subsistir em sua


contingência (aquilo que é, mas poderia não ser; aquilo que não
é, mas poderia ser) essencial, sem a ação continuada de Deus, ser
infinito, necessário (aquilo que é e não pode deixar de ser).
11. Características da matéria
 Corpo contínuo ou espaço indefinidamente extenso em comprimento, largura
e altura.

 Divisível em partes.

 Está em movimento.

 A essência dos corpos é a extensão (comprimento, altura e largura ou


profundidade), a divisibilidade e o movimento.

 Descartes defende um mecanicismo geométrico em que afirma que


a matéria é indefinidamente divisível.

 Descartes pensa que num mundo fechado, um corpo ao mover-se


vai ocupar o lugar daquele que se moveu (= doutrina do movimento
circular ou em turbilhão).
12. Empiristas duvidam da existência de Deus

• Os Empiristas:

– Jamais elevam o espírito além das coisas sensíveis.

– Nada existe no entendimento sem que primeiro tenha estado nos


sentidos.
13. Papel desempenhado por Deus no conhecimento
• É o garante das nossas evidências:

– é o autor das ideias claras e distintas

• Deus como o princípio e garante de toda a verdade.


13. Papel desempenhado por Deus no conhecimento
• É importante provar a perfeição divina porque a admissão de Deus como ser perfeito confere
valor às evidências da nossa Razão, pois a perfeição absoluta de um ser é inconciliável com a
hipótese de permitir que nos enganemos nos assuntos verdadeiramente evidentes
(abandono da hipótese do génio maligno) - Deus, ser perfeito, não nos pode ter criado de tal
ordem que estivéssemos condenados a iludir-nos falsamente quanto às certezas que nos
impõem com toda a clareza e distinção.

• Mesmo os pensamentos ocorridos durante o sono merecem a nossa credibilidade,


desde que o seu conteúdo nos surja de modo evidente.

• A existência de Deus é a certeza em que se fundamentam todas as outras certezas.


Negada essa certeza, rui o sistema cartesiano.
14. A origem do erro
• O erro e toda a imperfeição são deficiências resultantes da nossa finitude - o
erro provém da limitação da nossa inteligência, mas principalmente, da
ilimitação da nossa vontade - teoria voluntarista do juízo:

– O entendimento apenas forma ideias e estas não afirmam nem negam,


por isso a nível do entendimento não há erro.
– É a vontade que associa as ideias umas às outras, formando juízos, e o
erro situa-se ao nível do juízo.
» Quando a vontade formula juízos sobre ideias ou conceitos
confusos e obscuros, o erro introduz-se.

• A vontade humana é uma liberdade que Deus concedeu e é semelhante à


divina, pelo que não está limitada. Por isso, quando formulamos juízos
errados fomos livres de o fazer, foi um ato de escolha voluntária - a nossa
vontade era livre de optar pela suspensão do juízo, evitando, desse modo, o
erro.
15. A Razão como origem do conhecimento
Apenas a razão nos dá a evidência.
Duvido, logo existo.

Reconheço-me imperfeito, mas tenho a ideia de


perfeição.

Sou imperfeito, logo Deus existe, como ser perfeito.

A veracidade divina é a garantia da existência de um


mundo externo.

O saber tem a sua garantia na existência das ideias


claras e distintas.

A alma é realmente distinta do corpo, porque tenho a


ideia clara e distinta desta separação.
CRÍTICAS AO FUNDACIONISMO CARTESIANO
• 1. O CÍRCULO CARTESIANO

– Para saber que as ideias claras e distintas são verdadeiras, tenho


primeiro que saber que Deus existe.

– Mas, para saber que Deus existe, tenho primeiro que ter a ideia clara
e distinta da sua existência.

• Círculo vicioso ou dialelo é uma dupla petição de princípio que


consiste em provar uma questão por outra que não foi ainda
demonstrada, provando, por sua vez, esta pela primeira.
CRÍTICAS AO FUNDACIONISMO CARTESIANO

• 2. DA IDEIA DE PERFEIÇÃO SEGUE-SE QUE EXISTE UM SER PERFEITO?

– A demonstração da existência de Deus pode ser um resultado da


manipulação da sua mente pelo génio maligno – o génio maligno
pode estar a enganá-lo quando pensa que a ideia de perfeição só
pode ter sido causada por um ser perfeito.

– Por que é que a ideia de perfeição tem que ser causada por um ser
perfeito? Tal ideia não pode, pura e simplesmente, ser inventada por
nós?

• Há uma transição indevida do plano lógico (pensamento)


para o plano ontológico (realidade).
CONSEQUÊNCIAS

• Se Descartes não consegue demonstrar satisfatoriamente a existência de


Deus, então nada de sólido pode construir sobre o cogito.

• Descartes falhou, não encontrou os fundamentos sólidos do


conhecimento – as crenças básicas.
FUNDACIONISMO CLÁSSICO DE
DAVID HUME (1711 – 1776)
• FUNDACIONISMO CLÁSSICO DE DAVID HUME

• O fundacionismo clássico assenta no empirismo, isto


é, o conhecimento do mundo assenta na informação
fornecida pelos cinco sentidos, pelo que as crenças
básicas são a posteriori.

• O espírito humano está por natureza vazio: é uma


tábua rasa, uma folha de papel em branco onde a
experiência escreve.

• O modelo do conhecimento é a ciência natural, em


que as observações e as experimentações são cruciais.
• ELEMENTOS DO CONHECIMENTO

• O conteúdo do conhecimento divide-se em duas espécies de


estados de consciência ou de perceções da mente:

• impressões

• Ideias ou pensamentos
PERCEÇÕES são o conteúdo da mente, o que existe na mente

IMPRESSÕES e IDEIAS são os elementos básicos que


a mente utiliza nas suas operações
O que distingue as ideias das impressões
são os seus diferentes graus de força e
de vivacidade (não é de
natureza)
• ELEMENTOS DO CONHECIMENTO

• a) Impressões:

– Todo o conhecimento começa com a experiência.

– As impressões sensíveis ou dados sensíveis são as unidades


básicas do conhecimento.

– As impressões sensíveis além de serem os atos originários do


nosso conhecimento, correspondem aos dados da experiência
presente ou atual (paixões, emoções e sensações).

– As impressões são todas as sensações externas (sentidos) e os


sentimentos (paixões, emoções, desejos) que se manifestam
com mais força e vigor na mente.
• ELEMENTOS DO CONHECIMENTO

• b) Ideias ou pensamentos:
– As ideias são as representações ou imagens debilitadas,
enfraquecidas das impressões no pensamento, são uma cópia
enfraquecida da impressão original.

• São como que marcas deixadas pelas impressões, uma vez


estas desaparecidas.

– Todas as ideias derivam de impressões sensíveis.

• A toda e qualquer ideia tem de corresponder uma impressão


porque as ideias são imagens das impressões sensíveis.

– Do que não há impressão sensível não há


conhecimento.
» Ex. Um homem cego não pode formar nenhuma
noção de cores, e um surdo de sons.
• ELEMENTOS DO CONHECIMENTO

• b) Ideias ou pensamentos:

– As ideias são imagens enfraquecidas das impressões quando


pensamos e raciocinamos.

• As impressões precedem as ideias que lhes correspondem.

• Não há ideias inatas, isto é, ideias que precedam as


impressões correspondentes, como pensavam os
racionalistas. Todas as ideias têm origem empírica, são
cópias ou imagens das impressões sensíveis, o que significa
que derivam da experiência.

– Só existem as ideias que o nosso entendimento formou


a partir da experiência ou das impressões sensíveis.
• ELEMENTOS DO CONHECIMENTO

IMPRESSÕES

imagens ou sentimentos que derivam imediatamente da


realidade

todas as perceções mais vivas (ouvir, tocar, ver, amar, odiar,


desejar ou querer)

são fortes e sensíveis

não admitem ambiguidade.

iluminam as ideias que lhes correspondem (tornam as ideias


precisas, verdadeiras, isto é, se podemos indicar a impressão
correspondente, estamos perante uma ideia verdadeira)
• ELEMENTOS DO CONHECIMENTO
PERCEÇÕES

IMPRESSÕES
SIMPLES (indecomponíveis
porque não admitem distinção ou
separação)

COMPLEXAS (podem ser distinguidas


partes)

IDEIAS
SIMPLES (indecomponíveis porque
não admitem distinção ou separação)

COMPLEXAS (podem ser


distinguidas partes)
• ELEMENTOS DO CONHECIMENTO

• As ideias simples são derivadas de impressões simples, que lhes


correspondem e que elas representam exatamente. As ideias
simples podem-se considerar cópia da impressão simples.

– As ideias simples são derivadas das impressões simples e


representam-nas exatamente.

• As impressões simples precedem sempre as ideias


correspondentes e nunca aparecem na ordem contrária.

– As ideias, ao apresentarem-se, não produzem as impressões


que lhe correspondem, e não percebemos nenhuma cor, ou
sentimos nenhuma sensação, meramente por pensar nelas.

• As impressões são as causas das ideias e não as ideias


das impressões.
• ELEMENTOS DO CONHECIMENTO

• Embora entre impressões complexas e ideias complexas haja grande


semelhança, não pode afirmar-se que as últimas sejam cópia das
primeiras.

• As ideias complexas ou compostas, mesmo as que parecem


afastadas das impressões, decompõem-se em ideias simples,
derivadas de sensações ou sentimentos.

• As ideias simples organizam-se em ideias complexas, segundo


princípios de associação:

• semelhança

• contiguidade no tempo e no espaço

• relação de causa e efeito


• MODOS OU TIPOS DE CONHECIMENTO

MODOS OU TIPOS DE CONHECIMENTO

QUESTÕES DE FACTO OU
RELAÇÃO DE IDEIAS OU
CONHECIMENTO DE FACTOS
CONHECIMENTO DE IDEIAS
(matters of fact)
• MODOS OU TIPOS DECONHECIMENTO

• a) Questões de facto (matters of fact):

– São proposições cujo valor de verdade tem de ser testado


pela experiência, para ver se são verdadeiras ou falsas.

• Ex. A árvore em frente à minha janela mede 3 metros.

– A sua verdade só pode ser determinada a


posteriori.

• Implica um confronto das proposições com a experiência.

– As relações entre factos são fundadas na experiência e


contingentes (o contrário é possível, não implicando
contradição).
• MODOS OU TIPOS DE CONHECIMENTO

• b) Relação de ideias ou conhecimento de ideias:

• As relações de ideias são proposições cuja verdade pode ser


conhecida pela simples inspeção lógica do seu conteúdo.

– Ex. Um metro mede 100 centímetros.

• Proposições deste tipo podem descobrir-se pela


simples operação do pensamento.

– Estes conhecimentos consistem em analisar o


significado dos elementos de uma proposição, em
estabelecer relações entre as ideias que ela
contém.
• MODOS OU TIPOS DE CONHECIMENTO

• b) Relação de ideias ou conhecimento de ideias:

• Embora todas as ideias tenham o seu fundamento nas


impressões, podemos conhecer sem necessidade de recorrer
às impressões, isto é, ao confronto com a experiência.

• As relações entre relações de ideias são necessárias, o seu


contrário implica contradição, embora nada digam acerca do
que existe.

– Os conhecimentos da lógica e da matemática são


conhecimentos tautológicos porque não dão novas
informações uma vez que o predicado diz,
implicitamente, o mesmo que o sujeito.
EXPERIÊNCIA (produz)

PERCEÇÕES ou conhecimento

Elementos Tipos

IMPRESSÕES IDEIASN Relação de Questões de


ã ideias facto
o É Ex.
Sensações C é Cu Ex. Ciências
, Paixões, S associam-
O F Matemáti experime
Emoções E se Npor:u Aum ca e ntais
M T mU na Lógica como a
E S
I a Ads Física
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• QUESTÕES DE FACTO E A RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

• O nosso conhecimento de factos restringe-se às impressões


atuais e às recordações das impressões passadas.

• Uma vez que não dispomos de impressões relativas ao que


acontecerá no futuro, também não possuímos o
conhecimento dos factos futuros.

• As certezas acerca do que acontecerá no futuro têm por


base uma inferência causal – raciocínio indutivo e relação
de causa-efeito.
• QUESTÕES DE FACTO E A RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

• A relação de causa-efeito é geralmente entendida como


sendo uma conexão necessária:

• determinado efeito produz-se necessariamente a partir de


uma determinada causa;

• sem a causa não se daria o efeito e sempre foi assim e


sempre assim será – o futuro será sempre como o passado
(uniformidade da natureza)
• QUESTÕES DE FACTO E A RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

• Não dispomos de qualquer impressão relativa à ideia de


conexão necessária entre os fenómenos.

• A única coisa que percecionamos foi que entre dois


fenómenos se verificou, no passado, uma sucessão constante
(um deles ocorreu sempre a seguir ao outro – precedência e
contiguidade espácio-temporal).

– Isto não nos pode levar a concluir que entre os factos


haja uma conexão necessária – a relação de causa-efeito
é uma ligação entre fenómenos que se sucedem
temporalmente, de forma regular e constante, mas não
constitui uma relação necessária.
QUESTÕES DE FACTO E A RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

• A relação de causalidade baseia-se unicamente na expetativa e


no hábito ou costume, como inferência a partir da experiência.

• O conhecimento acerca dos factos futuros não é rigoroso:

– É uma crença (suposição ou probabilidade).

• A certeza acerca de conhecimentos futuros tem um fundamento


psicológico – o hábito ou costume.

– É o hábito de ver um facto acontecer que nos leva à crença de


que sempre assim sucederá.
QUESTÕES DE FACTO E A RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

Quando lanço um pedaço de madeira seca numa lareira, o meu


espírito é imediatamente levado a conceber que ele vai
aumentar as chamas, não que as vai extinguir. Esta transição de
pensamento da causa para o efeito não procede da razão […]. E
como parte inicialmente de um objeto presente aos sentidos,
ela torna a ideia ou conceção da chama mais forte e viva do
que o faria qualquer devaneio solto e flutuante da imaginação.
David Hume, «Investigação sobre o Entendimento Humano».

• A relação entre a madeira seca (considerada causa) e o atear das


chamas na lareira (considerado efeito) não pode ser logicamente
deduzida (não é necessária), mas procede unicamente da
experiência anterior repetida, que gera a expetativa.
QUESTÕES DE FACTO E A RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

• O hábito é um guia imprescindível na vida prática, mas


não constitui um princípio racional.

– Não podemos deixar de acreditar na ideia de


regularidade constante dos fenómenos porque, sem
essa crença, a vida seria impraticável.

» A ficção de uma relação causal é útil não só para


a nossa vida quotidiana como é nela, também,
que se baseiam as ciências naturais ou
experimentais.
CONSEQUÊNCIAS DO EMPIRISMO DE DAVID HUME

• PROBLEMA DA EXISTÊNCIA DO MUNDO EXTERIOR


• FENOMENISMO

• As perceções dos sentidos são produzidas por objetos externos


semelhantes a elas?

– As perceções constituem a única realidade acerca da qual


dispomos de alguma certeza, e as únicas inferências válidas
são aquelas que podemos produzir baseadas na relação de
causa-efeito entre as perceções.

– Afirmar a existência de uma realidade que seja a causa das


nossas perceções e que seja distinta delas e exterior a elas é
algo desprovido de sentido, pois não temos experiência ou
impressão de tal realidade.
CONSEQUÊNCIAS DO EMPIRISMO DE DAVID HUME

• PROBLEMA DA EXISTÊNCIA DO MUNDO EXTERIOR


• FENOMENISMO

– Não há forma de saber se as impressões e ideias na nossa


mente correspondem a alguma realidade fora de nós.

• Não podemos conhecer a existência do mundo externo,


mas podemos acreditar que existe: trata-se de uma
crença que não é racionalmente justificável.
CONSEQUÊNCIAS DO EMPIRISMO DE DAVID HUME

• CETICISMO MODERADO/MITIDADO

• Como a realidade a que temos acesso se reduz às perceções, a


crença na existência de algo para lá dos fenómenos carece de
fundamento.

• A capacidade cognitiva do entendimento humano limita-se


ao âmbito do provável.
ANÁLISE COMPARATIVA DAS TEORIAS DE DESCARTES E DE HUME

ORIGEM DO CONHECIMENTO

DESCARTES HUME

A Razão é a fonte do Todo o conhecimento


conhecimento procede da experiência
verdadeiro - e todas as ideias têm
Racionalismo origem empírica –
Empirismo
ANÁLISE COMPARATIVA DAS TEORIAS DE DESCARTES E DE HUME

OPERAÇÕES DA MENTE E IDEIAS

DESCARTES HUME

Operações As operações da mente


fundamentais da mente baseiam-se nos
são a intuição e a princípios de associação
dedução e as ideias de ideias: semelhança,
podem ser inatas (fonte contiguidade no tempo
do verdadeiro e no espaço e
conhecimento), causalidade. Todas as
adventícias e factícias. ideias derivam das
impressões.
ANÁLISE COMPARATIVA DAS TEORIAS DE DESCARTES E DE HUME

POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO

DESCARTES HUME

Ceticismo moderado: a
Dogmatismo: realidade a que temos
depositava inteira acesso reduz-se ao
confiança na Razão. âmbito das perceções. A
Partiu de um ceticismo capacidade cognitiva do
metódico entendimento humano
limita-se ao âmbito do
provável.
ANÁLISE COMPARATIVA DAS TEORIAS DE DESCARTES E DE HUME

PERSPETIVAS METAFÍSICAS

DESCARTES HUME
Podemos ter
Não temos Não se pode
ideias claras
impressões afirmar a
e distintas
Deus é o do eu existência de
dos atributos
fundamento pensante, qualquer
essenciais
do ser e do de uma fundamento
das três
conheciment realidade metafísico
substâncias:
o. exterior para o
pensante,
nem de conheciment
extensa e
Deus. o.
divina.
Ver

SÍNTESE E COMPARAÇÃO ENTRE


DESCARTES E HUME

Doc. Word
Exames:

• 2014 – 1ª fase, Grupo IV, 1 (1.1, 1.2).


• 2014 – 2ª fase, Grupo IV, 1 (1.1, 1.2).
• 2013 – 1ª fase, Grupo I, 6, 8; Grupo IV, 1.
• 2013 – 2ª fase, Grupo I, 6, 7; Grupo IV, 1.
• 2013 – Teste intermédio – 11º ano – Grupo I, 8, 9; Grupo IV, 1, 2.
• 2012 – 1ª fase, Grupo IV, 1 (1.1, 1.2).
• 2012 – 2ª fase, Grupo IV, 1 (1.1, 1.2), 2.
• 2012 – Época especial, Grupo IV, 1 (1.1, 1.2).
• 2012 – Teste intermédio – 11º ano – Grupo III, 2 (2.1, 2.2).
• 2007 – 1ª fase, Grupo I, 10.
• 2006 – 1ª fase, Grupo I, 8,9; Grupo III, 2, 3.
• 2006 – 2ª fase, Grupo I, 9; Grupo III, 1 (1.1, 1.2, 1.3), 2.

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