Você está na página 1de 34

SOCIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA GLOBALIZAÇÃO

A sociologia e a expansão do capitalismo

Sociedades tradicionais e sociedades modernas

Objecto de estudo da sociologia

Sociologia:

• Estuda o comportamento humano

• Estuda os fenómenos que ocorrem quando vários indivíduos se encontram em grupos


e interagem no interior desses grupos.

• Abrange todas as áreas das relações humanas ou todos os aspectos da vida social.

• Interessa a políticos, empresários, gestores, juristas, publicitários, jornalistas,


planeadores mas, também, ao homem comum.

Sociologia:

Ciência que analisa:

• O funcionamento de estruturas macro-sociológicas (o Estado, a classe social ou longos


processos históricos de mudança social)

• O comportamento dos indivíduos num nível micro-sociológico

A sociologia e a expansão do capitalismo

O surgimento da Sociologia está associado:

Às mudanças nas formas de pensamento, que tiveram início com o Iluminismo, que
provocou modificações na forma de conhecer a natureza e a cultura.

À consolidação do capitalismo moderno

Antecedentes:

• Revolução Agrícola

• Revolução Industrial

Consolidação da indústria capitalista:

• Condições materiais

• Condições sociais

Sociedade capitalista:

• Burgueses
• Proletários

• Funcionários do Estado

• Classe média composta de vários estratos.

Capitalistas mais eficazes e ambiciosos:

– Procura de materiais baratos

– Procura de baixos custos de mão-de-obra

– Aumento da produtividade do trabalho

– Novas fontes de energia

– Crescimento dos mercados nacionais

– Os pequenos proprietários rurais e os artesãos independentes quase desaparecem.

– Surgem manifestações de revolta dos trabalhadores

– Revolução Russa (1917)

Mudanças socioeconómicas que atraem o interesse de vários investigadores (séc. XIX):

• A expansão rápida das manufacturas industriais

– Novos sistemas de produção e a produção em larga escala.

• O crescimento da população e dos centros urbanos

• A mudança radical nas formas tradicionais de vida

• A crescente importância da actividade política e burocrática nacional.

• A mudança da concepção de progresso.

Objecto de estudo da sociologia

Origens da Sociologia:

• Émile Durkheim (séc.XIX-XX)

• Max Weber (séc.XIX-XX)

• Karl Marx (séc. XIX)

Na origem das teorias do desenvolvimento…

Pontos comuns entre Durkheim, Weber e Marx:

• Procuram identificar as características básicas das sociedades que promovem ou


inibem o seu desenvolvimento.
• Baseiam-se no pensamento de Darwin que dominava o debate filosófico, científico,
económico e político da época.

As teorias de mudança social do século XIX inspiram os sociólogos do desenvolvimento do séc.


XX e da sociologia do desenvolvimento

A sociologia e a expansão do capitalismo

Primeiras questões sociológicas sobre desenvolvimento

A mudança social pode estar associada a alguns princípios de evolução social:

– Será que as sociedades se desenvolvem através de “estádios”?

– Quais foram estes estádios no passado e quais serão no futuro?

Comparação das sociedades nas suas várias dimensões:

– Padrões económicos

– Sistemas de parentesco

– Religião

… de modo a descobrir até que ponto se desenvolveram.

Na origem das teorias do desenvolvimento…

Émile Durkheim

• Teoria do desenvolvimento da sociedade moderna complexa

• Teoria da ordem social e estabilidade

De que modo as pessoas se organizam em grupos estáveis para formar sociedades coesas?

Qual a natureza das relações sociais conforme a sociedade cresce e se torna mais complexa?

Dois tipos de sociedades:

• As tradicionais

• As modernas

Diferentes formas de coesão social

• solidariedade mecânica

• solidariedade orgânica
Max Weber

A emergência da industrialização

Porque é que o capitalismo se tornou dominante apenas nas economias da Europa ocidental?

A organização racional das empresas para estabelecer lucros estáveis e a acumulação de


capital

– A avaliação da eficácia no uso do capital

– Expansão através da redução de custos e realização de investimentos

– Esforço contínuo para superar os competidores

– Uma tentativa para responder às exigências dos consumidores

Ética racional do espírito capitalista

– A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo

A conjugação dos princípios religiosos e o capitalismo levou ao desenvolvimento da sociedade


capitalista moderna no Ocidente.

Pontos comuns em Durkheim e Max Weber:

• distinção entre a sociedade tradicional e moderna...

...baseada no contraste fundamental de ideias e valores

• vêem a era moderna como o nascimento social do indivíduo

Sociedades tradicionais e modernas

Características da sociedade tradicional:

• Domínio do valor da tradição, orientação para o passado e falta de capacidade de


adaptação a novas circunstâncias

• O sistema de parentesco é referência para todas as práticas sociais, através da qual as


relações económicas, políticas e legais são controladas.

• Abordagem emocional, fatalista e supersticiosa

Dicotomia: Tradicional - Moderno

• Dispersão

• Relações baseadas no nascimento e hereditariedade


• Colectivismo

• Particularismo

• Afectividade e emoção na vida social

• Especialização de papéis e relações

• Capacidade de realização, esforço pessoal e mérito

• Individualismo

• Universalismo

Neutralidade, proibição da manifestação de emoções, factos, clima racional na vida social

Durkheim:

Solidariedade mecânica - Solidariedade orgânica

Weber:

Sociedade agrária - sociedade capitalista

Na origem das teorias do desenvolvimento

• As relações económicas limitadas da sociedade tradicional foram substituídas por


relações económicas complexas e inovadoras na modernidade, através de uma
mudança nos valores, atitudes e normas das pessoas.

• O desenvolvimento depende da substituição de valores tradicionais e primitivos por


valores modernos.

Modernidade e desenvolvimento

A modernidade como uma forma de progresso

• Ideia de desenvolvimento baseia-se na noção iluminista de progresso humano que


assenta em valores de:

– Racionalidade

– Secularização

– Eficiência
Origem das teorias da modernização

Modernidade

O que é que caracteriza uma sociedade moderna?

“modos de vida social, instituições, organização e mentalidades surgidas após a época feudal,
na Europa, mas que se afirma de uma forma definitiva no séc. XX…” (Giddens)

Características da modernidade

Área económica

• Industrialismo: utilização das máquinas na produção...

• Capitalismo: mercado...

• Concentração da força de trabalho em fábricas e empresas

• Crescimento económico acelerado

• Inovações tecnológicas em todas as esferas da vida social

• Abertura de mercados livres

• Papel importante dos empresários e gestores da indústria na liderança da produção


económica.

Área social

• Situação face à propriedade e ao mercado como determinantes principais do estatuto


social (substituindo a idade, a etnicidade, o género, a religião e outros factores
tradicionais)

• Largos sectores da população são proletarizados e pauperizados, enquanto um


pequeno grupo concentra cada vez mais poder e recursos económicos

• Desenvolvimento da “classe média”, com actividades no comércio, administração,


transportes, educação, ciência e outros serviços

• Sociedades muito mais urbanizadas

• Separação do tempo-espaço: calendário, relógio... (onde e quando)

Área política

• Sistemas políticos mais desenvolvidos e intensivos

• As sociedades industrializadas foram os primeiros Estados-nação

• Crescimento do papel do Estado, que adquire novas funções na regulação e


coordenação da produção, do mercado, da saúde...
• O Estado tem o monopólio da violência.

• Importância das normas jurídicas na articulação entre cidadão e Estado

• Desenvolvimento de organizações racionais e burocráticas (Weber), como as da


Administração Central, em todas as áreas da vida social.

• Desenvolvimento da cidadania, permitindo que amplas camadas da população


adquiram direitos políticos e cívicos

Área da cultura

• Secularização e diminuição das crenças mágicas e religiosas

• Papel central da ciência como fonte de conhecimento e a sua utilização no


desenvolvimento tecnológico e na produção em larga escala

• Organização: monitorização reflexiva.

• Desenvolvimento do sistema de ensino e alargamento da educação a amplas camadas


da população até níveis elevados

• Desenvolvimento da cultura de massas e oferta de produtos culturais no mercado.

Área da vida quotidiana

• Extensão do domínio do trabalho e a sua separação da vida familiar

• “Privatização” e anonimato da vida familiar, afastando-a do controlo do meio social


mais próximo, como é habitual nas pequenas comunidades – separação entre público
e privado

• Separação entre o tempo de trabalho e de lazer

• Parte da vida quotidiana é dedicada ao consumo de bens, não na perspectiva do valor


de uso nem da sua utilidade material, mas pelo valor simbólico que lhe está associado.

Ao nível do indivíduo

– Liberdade individual

– Desejo de sucesso

– Inovação

– Empreendedorismo

O sistema moderno criou um novo modelo de moralidade e de normas.

– regras sociais menos rígidas

– indivíduo tem mais liberdade de acção


Contexto Histórico, Económico e Social

A noção iluminista de progresso humano integra a ideia de desenvolvimento como o estádio


mais recente do processo contínuo de expansão interna e externa.

A expansão interna refere-se ao desenvolvimento do Estado-nação capitalista moderno, ou


seja:

• ao crescimento económico

• à industrialização

• às melhorias na administração

• aos governos fundados na competência e no consentimento popular e não no direito


divino

A expansão externa refere-se:

• à colonização europeia do resto do mundo

• e à consequente difusão dos valores, das instituições e das tecnologias ocidentais.

A modernidade reclamou o direito a uma missão civilizadora universal que justifica a


colonização, através ...:

• ...do apoio económico

• ...do apoio militar

• ... e do poder ideológico.

“No caso da expansão ocidental, os intrusos justificaram as suas actividades, julgando-se


destinados a ‘civilizar’ os povos ‘pagãos’ com quem entraram em contacto” (Giddens, 1997:72)

Antes da 2ª Guerra Mundial

• A maior parte dos países pobres era uma colónia

• Reduzida preocupação com os problemas económicos e sociais das economias em


desenvolvimento

– Os problemas não eram bem conhecidos

– Atenção sobre a depressão e o subemprego dos países mais desenvolvidos

• Depois de 1945 – Surgimento da noção de desenvolvimento

• Contexto socioeconómico da época:

• • Fim da 2ª Guerra Mundial

• • A maior parte dos países europeus iniciam processos de descolonização


• • A competição entre os sistemas capitalista e comunista (guerra fria)

• • A emergência do bloco de nações não alinhadas — o terceiro mundo.

Sociedades do “primeiro mundo”

• Do séc. XVIII até à actualidade

• Baseadas na produção industrial

• Pequena parte da população trabalha na agricultura

• Maioria da população vive nas cidades

• Importante papel da livre iniciativa

• Importantes desigualdades de classe, mas menos fortes do que nos Estados


tradicionais

• Formam Estados-nação ou comunidades políticas distintas

Sociedades do “segundo mundo”

• Do início do séc. XX, após a Revolução Russa de 1917, até 1991, com o abandono do
comunismo pela União Soviética.

• Baseadas na produção industrial

• Pequena parte da população trabalha na agricultura

• Maioria da população vive nas cidades

• Sistema económico planificado centralizadamente

• Importantes desigualdades de classe

• Objectivo dos governos marxistas é a criação de um sistema social sem classes

• Formam Estados-nação ou comunidades políticas distintas

Sociedades do “terceiro mundo”

• Do séc. XVIII, como colónias, até à actualidade

• Baseadas na produção agrícola

• Maioria da população trabalha na agricultura, vive em zonas rurais e usa métodos de


produção tradicionais

• Parte da produção agrícola é vendida nos mercados internacionais

• Alguns países têm sistemas de livre iniciativa e outros têm uma economia planificada

• Formam Estados-nação ou comunidades políticas distintas


• O “terceiro mundo” para designar as sociedades menos desenvolvidas.

• Rótulo pouco satisfatório porque faz pensar que as sociedades estão muito separadas
dos países industrializados, são “um mundo à parte”.

O “primeiro mundo” proporcionava um modelo de desenvolvimento assente numa


interpretação da sua própria experiência.

Neste contexto a economia do desenvolvimento defendia:

• O crescimento económico assente no investimento estatal, na urbanização, na


abundância de mão-de-obra barata e na iniciativa privada.

• As nações emergentes criam instituições (económicas e políticas) que visam a


integração numa economia mundial dominada pelas grandes empresas ocidentais.

• A estrutura institucional internacional apoia esta estratégia através da criação do


Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

O “segundo mundo” oferecia um modelo alternativo:

• Uma economia dirigida pelo Estado: o Estado como a força dominante do crescimento
económico e agindo em nome do “povo”.

• Uma economia que extraía as mais-valias agrícolas para financiar a rápida acumulação
de capital e a industrialização.

• Emergência de uma nova classe trabalhadora livre de lealdades locais e tribais.

TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO

Principais escolas de pensamento sobre desenvolvimento e mudança:

• Teorias da modernização (a partir das décadas de 50 e 60)

• Teorias do subdesenvolvimento (a partir da década de 70)

Teoria da modernização

1950-60

Arthur Lewis e Rostow

• Procuram as condições socioeconómicas que conduziam à modernização

• Retomam as noções de tradição vs. modernidade

– Distinguem o sector tradicional e o sector moderno capitalista


– Concepção de desenvolvimento económico como um processo de
modernização

• Procuram construir um modelo que possa ser usado como medida do estádio de
desenvolvimento de qualquer sociedade

– Modelo adequado aos países em desenvolvimento com oferta abundante de


trabalho no sector tradicional

Arthur Lewis e Rostow

• Crescimento do rendimento per capita como medida central de crescimento

• A taxa de poupanças surge como a determinante central para a taxa de investimento e


para a taxa de crescimento.

• Os capitalistas e os empreendedores são importantes forças motrizes do crescimento


económico, essenciais em particular para iniciar o processo.

W. Arthur Lewis

Modelo de desenvolvimento com dois sectores, com mão-de-obra ilimitada e salários baixos:

Numa economia fechada:

• O sector de subsistência

– Basea-se no trabalho familiar

– Não utiliza capital reprodutível

– Tem baixa produtividade da mão-de-obra

• O sector capitalista

– Emprega assalariados a baixo preço

– O capital é acumulado e investido

– Remunera os capitalistas pelo uso do capital

W. Arthur Lewis

Numa economia aberta:

O comércio entre países industrializados e os países em desenvolvimento não promovia o


crescimento nos países em desenvolvimento:

– O aumento da produtividade do trabalho (em resultado da transferência para


o sector capitalista) beneficia os consumidores nos países industrializados sob
a forma de produtos mais baratos.
– Salienta que se se pretender maximizar a taxa de crescimento capitalista, a
população operária dos países em vias de desenvolvimento não pode contar
com melhorias nos seus níveis de vida a curto e médio prazo.

W. Rostow, 1960

Etapas do crescimento económico

• Sociedade tradicional

• Pré-condições para o arranque

• Arranque (take-off)

• Maturidade

• Idade de consumo de massa

• Procura identificar variáveis estratégicas e criticas que funcionem como condições


suficientes para a mudança e transição para um novo estádio qualitativo.

• Teoria unilinear, universal e irreversível.

• As circunstâncias naturais e económicas determinam se a mudança de estádio se


verifica mais cedo ou mais tarde.

• As condições políticas e culturais também são referidas.

Pré-condições para o take-off (mudanças que quebraram a estrutura tradicional):

– Forte aumento da taxa de investimento

– Emergência de sectores particulares que poderão funcionar como mecanismos


de agregação do crescimento económico

– Estabelecimento de estruturas políticas, sociais e institucionais, tornando


possível utilizar o potencial no sector moderno.

Os cinco estádios de crescimento de Rostow assentavam nos seguintes princípios:

uma ética de trabalho e de poupança

associada a uma economia de laissez-faire e a mercados livres.

Procuraram identificar os agentes do crescimento económico

• Duas forças fundamentais de desenvolvimento segundo estes teóricos:

– O empreendedorismo combinado com a acumulação de capital sustentada

– e o investimento.
– Para as teorias da modernização, “o desenvolvimento era uma questão de
insinuar as orientações — valores e normas — ‘certas’” junto das culturas do
mundo não ocidental, de modo a permitir que essas populações viessem a
participar nas modernas instituições económicas e políticas, criadoras de
riqueza, do Ocidente desenvolvido.

Objectivos das teorias da modernização:

• Manifesto anti-comunista

• Difusão do industrialismo competitivo

• Difusão da ética empresarial industrialista como a força motora do desenvolvimento

Políticas defendidas no âmbito destas teorias:

• Encorajamento do comércio internacional e investimento estrangeiro no Terceiro


Mundo e gradualmente reduzir os programas de ajuda

• Encorajar o desenvolvimento das atitudes “modernas” e a ambição empresarial para


criar um meio cultural apropriado no qual as instituições económicas modernas
possam crescer

• Promover o desenvolvimento no Sul, dado que é um mercado crucial para os produtos


manufacturados no Norte.

• Tenta combinar o capitalismo do mercado livre com a intervenção responsável do


governo a nível nacional e internacional para compensar qualquer desequilíbrio que
possa ocorrer na economia mundial.

Consequências da modernização:

• alterações no comportamento demográfico (o declínio da fecundidade)

• alterações na cultura política (a emergência da democracia)

• alterações nos padrões sociais (desigualdade reduzida através da disseminação da


nova riqueza criada)

Teoria económica neoclássica

Décadas de 80 e 90

Na abordagem mais radical, o papel do Estado deveria estar limitado:

• às funções de garantir infra-estruturas (como estradas e equipamentos educativos)

• e de assegurar a ordem (no sentido de prevenir a agitação popular e de garantir a


regulação financeira)

• a regulação da actividade económica deveria ser deixada inteiramente aos mercados


Criticas

• Rostow ignorou o contexto dos países em desenvolvimento ou o sistema económico


internacional

Outros autores

• A modernização é principalmente um processo cultural, que envolve a adopção de


valores e atitudes que suportam a ambição, inovação e racionalidade empresariais e
a orientação para a realização de objectivos em oposição ao estilo de vida e valores
das sociedades tradicionais.

As sociedades estão em diferentes estádios de desenvolvimento de acordo com o nível de


adopção de comportamentos associados aos valores modernos:

• A base da recompensa é a realização, o que se consegue atingir e realizar

• Neste sentido, as sociedades são pobres pela ausência de valores modernos.

O desenvolvimento do Terceiro Mundo depende:

• Da difusão das ideias e valores do Ocidente

• E da difusão da lógica da industrialização que afastará os obstáculos culturais do


tradicionalismo e tornará estes países “modernos”, o que também significa
ocidentalizados.

Conclusão

• Modernização é principalmente um processo cultural, que envolve a adopção de


valores e atitudes que suportam a ambição, inovação e racionalidade empresariais e
a orientação para a realização de objectivos em oposição ao estilo de vida e valores
das sociedades tradicionais.

• As sociedades estão em diferentes estádios de desenvolvimento de acordo com o nível


de adopção de comportamentos associados aos valores modernos.

• A base da recompensa é a realização, o que se consegue atingir e realizar

• Neste sentido, as sociedades são pobres pela ausência de valores modernos.

Origens das teorias do subdesenvolvimento

A expansão colonialista teve como objectivos:

• Procurar formas de redução dos custos de produção, através da descoberta de fontes


de matéria-prima e de mão-de-obra barata noutras partes do mundo
• Procurar novos mercados para investimento (quando a capacidade de produção
aumentava mais e excedia a procura nos mercados internos)

Imperialismo (J.A. Hobson, início do séc. XX)

– A vontade de conquistar ou subjugar os povos

– O colonialismo:

• Entendido como uma forma de imperialismo

• Contribuiu muito para o desenvolvimento económico dos países


ocidentais e empobreceu muito o resto do mundo

Neoimperialismo:

As grandes empresas têm um papel crucial nestas formas de desenvolvimento :

– iniciaram a exploração de regiões não industrializadas

– estabeleceram com os países mais pobres relações comerciais que lhes eram
muito favoráveis

...e os governos apoiaram.

Teoria da dependência

• Abordagem relacionada com as teorias do neo-imperialismo

– o subdesenvolvimento era um processo deliberadamente urdido pelo


capitalismo ocidental para perpetuar a exploração das economias do Terceiro
Mundo (economia política marxista).

• A sociedade global evoluiu de um modo desigual: o centro principal do mundo


industrializado (EUA, Europa, Japão) detém um papel dominante, sendo os países do
TM dependentes desse núcleo

• Resposta critica às teorias da modernização

As origens e a natureza da dependência variam:

– com o grau de colonização de um dado país

– e com a potência colonizadora.

Nestes países não se desenvolve a produção fabril moderna devido:

– à forte presença de formas tradicionais de agricultura

– A dependência implica a venda dos produtos agrícolas do Terceiro Mundo aos


países do mundo desenvolvido.
– Instala-se a estagnação e os países tornam-se dependentes dos mais
industrializados na compra de produtos manufacturados.

– Os países do terceiro mundo continuavam num estado de


subdesenvolvimento dependente porque os seus recursos e excedentes de
capital eram continuamente absorvidos pelos Estados metropolitanos dos
países capitalistas desenvolvidos do primeiro mundo.

– à produção de culturas comerciais para exportação.

Andre Gunder Frank

“o desenvolvimento do subdesenvolvimento”

“o desenvolvimento e o subdesenvolvimento são duas faces da mesma


moeda”.

• Os países ricos formam o centro metropolitano ao qual estão agregados os países


satélites do terceiro mundo, com as suas economias dependentes e cada vez mais
empobrecidas.

Andre Gunder Frank

As sociedades periféricas tornaram-se parte integrante do sistema capitalista


mundial.

Pertencem todas a uma estrutura piramidal com metrópoles e satélites que


estabelecem relações comerciais e formam redes:

• base da pirâmide: os trabalhadores agrícolas e os pequenos agricultores das áreas


rurais (satélites) ligados por relações comerciais aos grandes proprietários de terra e
aos centros locais de acumulação de capital (metrópoles locais)

• Estes, por sua vez, são satélites das elites económicas regionais e dos centros de
extracção de mais valias...

• ... a estrutura cresce até chegar às classes dominantes e aos centros mundiais do
capitalismo nos EUA: topo da pirâmide.

A melhor estratégia de desenvolvimento: cortar as ligações com o mercado


mundial.

A. Giddens

• não concorda com A.Frank quando este afirma que a prosperidade dos mais fortes é
um produto da exploração dos países pobres.

• Esta prosperidade deve-se fundamentalmente ao processo de crescimento industrial


interno.
• Além disso alguns novos países tiveram processos de industrialização rápida e
crescimento económico.

Celso Furtado

História do desenvolvimento industrial europeu no século XVIII:

• Desenvolvimento condicionado sempre:

– pela geração de excedente

– e pela forma desigual de apropriação do mesmo

– Desenvolvimento que levou à ocupação de terras desabitadas e de regiões de


natureza pré-capitalista noutros continentes.

• Esse processo deu origem a estruturas dualistas:

– uma parte tendia a organizar-se à base da maximização do lucro e da adopção


de formas modernas de consumo,

– a outra parte conservava as formas pré-capitalistas de produção.

Este tipo de estrutura socioeconómica dualista está na origem do fenómeno


do subdesenvolvimento contemporâneo.

Celso Furtado (Teoria e política do desenvolvimento económico, 1987)

– Analisa os fundamentos económicos e políticos do desenvolvimento

– Noções fundamentais: subdesenvolvimento, centro e periferia

– Reflecte sobre a possibilidade de um desenvolvimento justo e igualitário

Identifica as insuficiências do desenvolvimento (aspectos económico e


político):

Desenvolvimento tem como base a apropriação desigual do excedente...

– ... o que, consequentemente, implicará numa divisão entre aqueles que


concentram as riquezas e aqueles que dependem destas,

– ... envolvendo desde o seu início a necessidade de uma relação desigual de


poder político-económico.

– ... e resulta no crescimento das desigualdades sociais e numa relação de


dependência entre países.

A estrutura socioeconómica dualista permanece devido:

• à desigualdade nas relações de trocas entre os países


• à formação de grupos de interesse nos países pré-capitalistas cujos
objectivos seriam compatíveis com os interesses dos países de
capitalismo avançado

Assim, o subdesenvolvimento é um processo autónomo e não uma etapa

Crítica ao desenvolvimento na relação entre países:

• produzindo relações assimétricas que resultam numa subordinação dos países pré-
capitalistas aos países de capitalismo avançado.

Condições para um desenvolvimento justo e igualitário:

• Propõe a afirmação da classe dos camponeses e dos trabalhadores industriais e o


estabelecimento de um Estado socialista

• Propõe estratégias de substituição de importações, com vista a aumentar a autonomia


económica e política nacional

Criticas à teoria da dependência (década de 70)

• Propostas políticas e económicas de cariz marxista.

• Os países da América Latina que tinham enveredado pela via da substituição de


importações não tinham tido muito sucesso.

• Impossibilidade de considerar da mesma forma todos os países do Terceiro Mundo

• A rápida industrialização inicial de algumas áreas do terceiro mundo,


orientadas para a exportação, puseram em causa a previsão da dependência
contínua.

• Brasil

• Extremo Oriente

• Coreia do Sul e Taiwan

Teorias do subdesenvolvimento

F.H. Cardoso e Faletto (1979) Desenvolvimento e Dependência na América Latina (Analisa o


processo histórico de desenvolvimento dos países e do capitalismo mundial)

– Tentam quebrar a ideia mecânica e a-histórica de que os países periféricos se


relacionam apenas sob as determinações dos países centrais, por meio das
trocas desiguais no mercado capitalista.

O desenvolvimento na América Latina:

– não pode ser analisado num sentido linear ou por etapas,


– mas na relação de dependência da América Latina com o centro capitalista, ou
seja, no âmbito de uma relação centro-periferia, sem a qual não é possível
entender a questão do subdesenvolvimento.

F.H. Cardoso

Os factores externos têm impactos diferentes, dependendo das condições internas.

Condições internas:

– Estruturas económicas

– Classes sociais

• Potencial da burguesia na defesa dos interesses nacionais

• Classes fracas funcionam como uma extensão do imperialismo

– Distribuição de poder na sociedade

– Papel do Estado

Categoria de dependência

Desenvolvimento dependente ou desenvolvimento na dependência:

– supõe que tal desenvolvimento se dê através de dois tipos de relações:

• entre a estrutura económica e os grupos e classes dos países


periféricos

• e de uma relação destes com os dos países centrais

F.H. Cardoso (1993) propõe uma nova forma de discussão do desenvolvimento:

• Defende a reconstrução da ordem internacional e a construção de sociedades mais


igualitárias, democráticas, autoconfiantes.

– “Novas sociedades, com base não no subdesenvolvimento da periferia e na


estagnação do centro, mas num estilo de desenvolvimento cuja razão de ser é
o cálculo social de custos e benefícios”(F.H.CARDOSO, 1993)

Necessidade de estabelecer uma nova noção de desenvolvimento que:

– não tem por objectivo a acumulação de capital,

– mas a satisfação das necessidades básicas do homem.

Teoria do sistema-mundo

I. Wallerstein (O sistema mundial moderno 1974, 1980, 1990)


• Recusou a noção de "terceiro mundo", argumentando que existia apenas um mundo
articulado por um complexo sistema de trocas económicas: uma economia mundial
ou sistema mundial ou o sistema capitalista mundial.

• A questão central seria o desenvolvimento da própria economia mundial através de


crescentes fluxos de trocas, de investimento, de trabalho, etc.

• No seio desta economia global, alguns países ou grupos podiam ganhar ascendência
através do poderio económico, político ou militar.

A economia mundial é caracterizada pela...

• ... dicotomia entre capital e trabalho

• ... e a acumulação de capital entre agentes em concorrência (nomeadamente os


Estados-nação),

• ... num equilíbrio sempre ameaçado por fricções internas.

Diferenças em relação às outras teorias:

• Wallerstein argumenta que o conceito de desenvolvimento nacional era irrelevante

• Atribui as diferenças de atraso de certas regiões face a outras, à própria natureza do


sistema mundial.

• Os países menos desenvolvidos não conseguiriam alcançar a autonomia (tal como era
sugerido pela teoria da dependência)

• Pelo contrário, pois viam-se obrigados a inserirem-se nas cadeias da economia global
para evitar a marginalização

Wallerstein, O sistema mundial moderno (1990)

Três referências teóricas fundamentais:

Karl Marx:

• predominância dos factores económicos sobre os políticos e ideológicos na história


mundial,

• a dicotomia entre capital e trabalho,

• a concepção do desenvolvimento da economia mundial segundo fases históricas como


o feudalismo ou capitalismo,

• a acumulação de capital.
A Escola dos Annales (Fernand Braudel):

• o desenvolvimento e implicações políticas das redes económicas europeias dos séculos


XV-XIX.

A sua própria experiência enquanto estudioso da África pós-colonial e das várias teorias
relativas às "sociedades em desenvolvimento“.

Origem do sistema mundial moderno: Europa e América do séc. XVI

A partir do séc. XVI desenvolveu-se um sistema mundial:

• Um conjunto de ligações económicas e políticas que se estenderam a todo o globo

• Sistema baseado na expansão de uma economia capitalista mundial.

• Uma ligeira superioridade de acumulação de capital no Reino Unido e França, devido a


circunstâncias políticas internas no final do feudalismo, desencadeou um processo de
expansão que culminou no sistema global de trocas económicas actualmente
existente.

No séc. XIX, praticamente todos os territórios do planeta haviam sido incorporados na


economia mundial capitalista.

O sistema mundial capitalista é muito heterogéneo em termos culturais, políticos e


económicos, abarcando grandes diferenças de desenvolvimento civilizacional, acumulação
de capital e poder político.

• Análise do mundo como um sistema social global, sem se preocupar com as


desigualdades globais.

• Há um único conjunto de processos de desenvolvimento; as sociedades industriais e os


países do terceiro mundo são partes diferentes desse conjunto.

• Divisão do trabalho entre as regiões.

Constituição da economia capitalista mundial:

• Centro

• Semiperiferia

• Periferia

• Área externa

Constituição da economia capitalista mundial:

Centro:

– a área de grande desenvolvimento tecnológico que produz produtos


complexos
– os estados onde surgiram primeiro os empreendimentos económicos
modernos e que passaram por processos de industrialização.

– Áreas com novas manufacturas e métodos avançados de produção agrícola

– Formas centralizadas de governação

– 1º GB, Holanda e França. Mais tarde Noroeste da Europa, por ex. Alemanha.

Constituição da economia capitalista mundial:

Semiperiferia:

• uma região de desenvolvimento intermédio que funciona como um centro para a


periferia e uma periferia para o centro.

• Ligadas por laços de dependência comercial aos estados do centro, mas relativamente
estagnadas economicamente

• Sul da Europa, à volta do Mediterrâneo

• Em finais do séc. XX incluiria regiões como a Europa de leste, o Brasil ou a China.

Constituição da economia capitalista mundial:

Periferia:

• a área que fornece matérias-primas, produtos agrícolas e força de trabalho barata para
o centro.

• Até há dois séculos era no leste da Europa

• Os países do terceiro mundo são actualmente uma periferia do sistema mundial.

Área externa:

• Áreas não abrangidas pelas ligações comerciais estabelecidas pelos países do centro

• Numa primeira fase, a maior parte da Ásia e da África que com o colonialismo são
incorporadas na economia mundial.

Constituição da economia capitalista mundial:

A troca económica entre periferia e centro é desigual:

• A periferia tem de vender barato os seus produtos enquanto compra caro os produtos
do centro.

• Como os países do centro dominam o terceiro mundo conseguem organizar o


comércio mundial de forma a favorecer os seus interesses.
• Exploram os recursos das sociedades menos desenvolvidas para os seus próprios fins.

• Essa situação tende a reproduzir-se de forma automática, quase determinista, embora


seja também dinâmica e mude historicamente.

• Regiões centrais e periféricas podem coexistir em espaços muito próximos.

Consequências da expansão do sistema mundial:

– mercadorização dos recursos naturais, da terra, do trabalho humano, das


relações sociais

– são gradualmente espoliados do seu valor "intrínseco" e transformadas em


mercadorias cujo valor de troca é determinado no mercado

– Influência sobre o movimento anti-globalização

• Abordagem que antecipa as actuais teorias da globalização.

• Críticas ao trabalho de Wallerstein

– Neoliberais

– Reflexo dos interesses económicos

– O enfoque para as tendências ao nível global torna-a pouco útil para


compreender as características e resistências locais ou as políticas nacionais

Pontos comuns das teorias:

• Desequilíbrio da riqueza e dos recursos entre o 1º e o 3º Mundo tem origem no


colonialismo

• As relações de dependência desse período mantiveram-se e acentuaram-se.

Fraqueza comum a todas as teorias:

• Concentram-se quase exclusivamente nos factores económicos do desenvolvimento


do sistema mundial.

• Excluem interesses políticos, o impacto da guerra, os factores culturais...

... todos tiveram uma importante influência na construção da interdependência global.

Crise da teoria do desenvolvimento

Final da década de 80

Importantes transformações geopolíticas, económicas, tecnológicas e culturais que levam a


questionar a noção de desenvolvimento:

Geopolíticas:
– O fim da guerra fria e o colapso da União Soviética

– O fim do segundo mundo e do sistema global bipolar, contribuindo para


desacreditar a ideia de um mundo dualista

– Na ausência do segundo mundo, o terceiro mundo perdeu o significado


político

– Surgiu o conceito de Norte-Sul

• Mas há crescentes disparidades no Sul

• E as ligações Sul-Sul na economia, na política e na cultura são cada vez


mais significativas

Económicas: o capitalismo vitorioso surgia como modelo económico incontestado

– A mudança parcial para uma economia de mercado na China

– A emergência dos “tigres asiáticos”: Hong Kong, Singapura, Coreia do Sul,


Taiwan.

– E as tendências para a industrialização em algumas partes da América Latina e


do Próximo Oriente (Síria, Líbano, Israel, Palestina e Iraque).

– A estrutura e os mecanismos de controlo dos mercados mundiais alteraram-se


rapidamente.

• A União Europeia integra novos países

• Surgem grupos económicos regionais

• Mercosul - Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e Venezuela


em 2006

• Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA-North


American Free Trade Agreement) - Canadá, México e EUA

Tecnológicas e culturais:

• A tecnologia militar veio desequilibrar as relações de poder a nível mundial a favor dos
Estados Unidos e dos seus aliados.

• As armas de destruição maciça ameaçam provocar a destruição global.

• Revolução das tecnologias da informação

– aceleram as tendências para a globalização económica e cultural

– os novos meios de comunicação permitiram uma difusão cada vez mais rápida
de valores culturais assentes numa sociedade de consumo americana
idealizada.
Fim da modernidade caracterizado pelos seguintes aspectos:

• Não existem novos territórios para colonizar ou para integrar na economia mundial;

• A actividade humana tem consequências ambientais globais;

• O “milagre asiático” e os discursos sobre os méritos da cultura asiática permitiram


questionar a supremacia do paradigma de desenvolvimento ocidental.

• Consciência de que o processo contínuo de expansão que caracterizou a modernidade


é inviável.

– A globalização e a reestruturação industrial levaram um largo número de


pessoas à marginalização, à pobreza e à exclusão social, tanto nos antigos
países industriais como no resto do mundo, minando a suposta dicotomia
entre economias desenvolvidas e subdesenvolvidas.

• A economia e os sistemas de comunicação estão organizados a um nível global;

• Fragilidade da autonomia dos estados-nação

• A reflexividade global está a desenvolver-se:

– um crescente número de pessoas (particularmente aqueles que habitam em


cidades globais e com profissões pos-industriais) tem o globo como referencial
das suas crenças e acções (e não a comunidade local ou o estado-nação).

– As novas formas de resistência de grupos que recusam a universalidade dos


valores ocidentais têm vindo a tornar-se cada vez mais significativas.

As noções-chave das teorias do desenvolvimento tornam-se problemáticas.

Desenvolvido

Subdesenvolvido

Modernização

Dependência

A crise social e política afecta as regiões e a maioria dos países do mundo, ainda que de
diferentes modos.

Grandes disparidades:

• As divisões de classe

• A separação rural-urbano

• A desigualdade sexual

• As diferenças étnicas e religiosas


O princípio do crescimento quantitativo (baseado, por exemplo, num indicador como o PIB per
capita) tem que ser substituído pelo princípio do crescimento qualitativo (ou seja, ambiente
sustentável e vivências mais ricas).

Desenvolvimento alternativo

E.F.Schumacher (1973, Small is beautiful)

A economia convencional e a tecnologia desapropriada não estavam a contribuir para o bem


do planeta e dos países em desenvolvimento.

Em vez de impor a modernidade aos países em desenvolvimento, é necessária uma


abordagem ao desenvolvimento de pequena dimensão, mais à escala humana e usando
tecnologias sustentáveis.

E.F.Schumacher (1973, Small is beautiful)

Preocupações principais:

– Procurar uma abordagem mais holística para a forma como vivemos e nos
governamos

– Capacidade de fazer escolhas económicas e tecnológicas interessantes a longo


prazo para as nossas comunidades

Identifica os erros cometidos relacionados com os seguintes aspectos:

– A dimensão das empresas industriais é demasiado grande

– Os indivíduos não têm controlo sobre a produção

– O sistema de produção causa danos ambientais e sociais

Proposta alternativa ao capitalismo e à industrialização baseada na produção em massa

A alternativa passa por:

– Uma significativa “desindustrialização” das economias de produção em massa

– A introdução de sistemas tecnológicos de pequena escala nos países do


Terceiro Mundo.

– Surgimento de algumas alternativas de escala global ou a globalização


alternativa.

Temas centrais nesta abordagem:

– Reforço da política de descentralização

– Desenvolvimento local e reforço do poder local

– Desenvolvimento endógeno
– Diversidade cultural

– Agências sociais

– Movimentos sociais

– ONGs.

Uma “economia em que as pessoas importem” (“Economics as if people matterred”)

Esta abordagem deu origem ao aumento das ONG nos anos 80 e à profissionlização das
ONGs.

• Efeitos positivos

– Reforçar a sociedade civil e a sua participação

• Efeitos negativos

– Sendo apolítica pode dar origem à despolitização e predominínio da


importância da gestão

– A “dependência alternativa” do doador de apoios, do decisor das agendas, ou


seja, dos países com maiores contributos.

– A excessiva importância das ONGs provoca a erosão e diminuição das


capacidades do estado

– Ignora frequentemente as contradições dentro da sociedade civil

Mas... o desenvolvimento alternativo costumava ser:

• Forte nas criticas e fraco nas alternativas

• O impacto da globalização e a liberalização torna utópica a defesa de economias locais


auto-suficientes

• Os sectores de produção em pequena escala dos países em desenvolvimento


entraram em colapso face às economias de escala da China.

• A agricultura em pequena escala está ameaçada pelas importações fortemente


subsidiadas do Norte

Desenvolvimento humano

Conceito que surge no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em 1990.

A capacidade dos humanos escolherem as vidas que querem, como o objectivo último do
progresso social.

“O desenvolvimento humano é o processo que permite alargar as oportunidades de escolha


dos indivíduos — não apenas as escolhas entre diferentes detergentes, canais de televisão ou
modelos de automóveis, mas as escolhas que são criadas pela expansão das capacidades e
possibilidades humanas — o que as pessoas fazem e podem fazer das suas vidas”

(Paul Streeten, PNUD, 1999:16)

O progresso significa dar às pessoas mais meios, mais fortes motivações e garantias
institucionais mais alargadas, permitindo-lhes fazer uso do seu potencial pessoal e desenvolver
a criatividade humana.

A teoria do desenvolvimento humano integra três dimensões distintas mas que se relacionam
entre si:

– Desenvolvimento socioeconómico

– Valores em mudança

– Democracia

Três dimensões que trabalham juntas para aumentar a escolha humana, do seguinte modo:

• O desenvolvimento económico contribui para:

– A urbanização

– A mobilidade social

– E a diferenciação ocupacional

– Aumenta a complexidade social e multiplicam-se as transacções sociais entre


seres humanos.

• Assim, a tendência é para emancipar as pessoas:

– das ligações aos clientelismos

– e substituir as relações baseadas na autoridade vertical por relações de


negociação.

Consequências do desenvolvimento socioeconómico:

• os indivíduos ganham autonomia (os recursos tornam-se cada vez mais


individualizados)

• as pessoas têm maiores recursos físicos e intelectuais porque aumentam:

• os rendimentos

• as competências

• os níveis de informação

• os apoios do Estado Providência


– Aumentar os recursos individuais...

– ... permite às pessoas ir além da visão estreita da obtenção de meios de


sobrevivência

– ... levando-as a dar mais importância à expressão das próprias ideias ou


sentimentos (self-expression) e à escolha humana.

Três componentes do desenvolvimento humano:

– Recursos individuais

– Valores de auto-expressão (expressão das próprias ideias ou sentimentos)

– Direitos efectivos

Estas componentes representam:

– os meios

– os motivos

– e as regras

O desenvolvimento humano é formatado por duas ligações fundamentais:

– A ligação meios-motivos ou a ligação dos recursos individuais com os valores


da auto-expressão

– A ligação motivos-regras ou a ligação dos valores de auto-expressão aos


direitos efectivos

A democracia:

• representa a componente institucional da escolha humana

• dá uma estrutura legal que garante os direitos individuais fundamentais na vida


privada e pública de uma sociedade

• dá direitos efectivos para a escolha humana e por isso representa a sua componente
das regras.

Actualmente há alargamento a novos temas:

• às questões do género

• direitos políticos

• preocupações ambientais

• desenvolvimento participativo

• segurança humana
• equidade

O progresso e os problemas ambientais

– Evolução tecnológica

– Crescimento económico

– A ameaça da explosão demográfica

Antecedentes

Expansão das preocupações políticas e das iniciativas ecológicas:

• Inglaterra: séc. XVIII; séc. XIX; depois da 2ª Guerra Mundial

• 1945 – Natural Reserves Investigation Committee

• 1949 – Nature Conservancy (agência governamental)

EUA:

• 1872 - parques naturais

• 1910 – proposta de comité para a protecção da natureza

Cooperação internacional ao nível da ecologia:

• 1948 - International Union for the Conservation of the Nature (IUCN)

• Nos anos que se seguiram à 2ª Guerra Mundial:

• Um crescimento económico como se o ambiente não existisse…

• Economistas e políticos dos países desenvolvidos consideravam o crescimento


económico, baseado na tecnologia e orientado pelo consumo, como o caminho
obrigatório para se atingir um futuro de prosperidade para todos.

• No final dos anos 1960 torna-se claro que nem sempre a tecnologia e o crescimento
económico eram compatíveis.

• 1968 – UNESCO promove a Conferência Internacional da Biosfera

• Nos anos que se seguiram à 2ª Guerra Mundial:

• Um crescimento económico como se o ambiente não existisse…

• Economistas e políticos dos países desenvolvidos consideravam o crescimento


económico, baseado na tecnologia e orientado pelo consumo, como o caminho
obrigatório para se atingir um futuro de prosperidade para todos.

• No final dos anos 1960 torna-se claro que nem sempre a tecnologia e o crescimento
económico eram compatíveis.
• 1968 – UNESCO promove a Conferência Internacional da Biosfera

Década de 60: Abordagem científica dos problemas ambientais

• 1ª A doutrina do desenvolvimento económico e social deveria dar um lugar maior aos


problemas do meio natural e do meio ambiente humano.

• 2ª O homem deve afastar o mito da riqueza inesgotável da natureza e o da sua


capacidade ilimitada de regeneração.

• 3ª Graças à ciência e à técnica, o homem tem a possibilidade de transformar e de


modelar a natureza.

Russo (1969) Pour une meilleure économie de la nature

Em 1972, Clube de Roma, Relatório “Limits of Growth”, no qual era sugerido que se os
padrões económicos da época se mantivessem, o mundo em breve experimentaria uma
catástrofe ecológica.

• O reconhecimento que as actividades dos países industrializados degradam os


ecossistemas.

• Se o modelo de crescimento económico e de desenvolvimento não mudasse, o


futuro do mundo estava posto em questão.

• A percepção de que os limites de tolerância ambiental relativamente à intervenção


humana tinham sido alcançados.

• O progresso e os problemas ambientais: os limites do planeta impõem limites à


exploração dos recursos e levantam o problema do desenvolvimento e do progresso.

Reconhecimento da necessidade de protecção do ambiente.

O novo paradigma ambiental:


Desenvolvimento Sustentável

1983 Constituição da Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento ou Comissão


Brundtland (Nações Unidas).

1987 A Comissão Brundtland publica o Relatório “O Nosso Futuro Comum”: a necessidade de


crescimento económico e de estratégias de desenvolvimento em todos os países, e reconhece
os limites da capacidade dos ecossistemas se regenerarem e absorverem resíduos.

• Desenvolvimento que permite satisfazer as necessidades das gerações presentes sem


comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras.

• Equidade
Factores indispensáveis à continuação do desenvolvimento económico:

• A qualidade do ambiente e a preservação do equilíbrio ecológico.

• Harmonizar os imperativos da economia e da ecologia.

• Não é só combater a contaminação, mas todas as formas de degradação do meio.

Os seres humanos têm direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza
( Princípio 1 da Declaração do Rio, 1992).

Ao contrário da Declaração do Clube de Roma, o Relatório Bruntland:

• Declara que o crescimento económico “zero” pode ser tão prejudicial para o ambiente
como o crescimento económico descontrolado.

• Estabelece o combate contra a pobreza, e pela justiça social e qualidade de vida como
objectivos centrais para se atingir a sustentabilidade em termos ambientais,
económicos e sociais.

• Afirma que a sustentabilidade não é um processo linear, não podendo ser calibrado
por um modelo de desenvolvimento único e universal.

Actualmente considera-se que o conceito de Desenvolvimento Sustentável representa


um salto teórico e conceptual positivo e indiscutível e uma contribuição valiosa para a
análise do crescimento económico e do desenvolvimento:

Reconheceu uma crescente interdependência ecológica entre as diferentes nações.

Introduziu a ideia da solidariedade intergeracional.

Introduziu a ideia de relações fortes e complexas entre o crescimento económico e o ambiente,


chamando a atenção para a necessidade de conciliar os conflitos existentes entre as
dimensões ambientais, económicas e sociais da sustentabilidade.

Nos países desenvolvidos:

• políticas restritivas

• investimentos em tecnologias limpas e reciclagem

Nos países em desenvolvimento:

– fornecedores de matérias primas

– recursos energéticos

– mão de obra barata

– baixos rendimentos médios


A mudança ambiental já não era apenas um problema local, regional ou nacional: o
esgotamento dos recursos e a degradação ambiental eram um problema global.

As preocupações de alguns passam a ser preocupações generalizadas:

• O desgaste dos modelos subordinados às exigências da guerra fria

• Transformações sociais e económicas à escala internacional

• Identificação dos Problemas Globais

Seis ameaças capitais numa perspectiva macro ecológica:

• A destruição da camada de ozono

• A destruição das florestas húmidas tropicais (“fábrica de oxigénio do planeta”)

• A desflorestação na zona temperada pela chuva ácida e os incêndios

• A desertificação acelerada (resultado da desflorestação, da erosão e da sobreutilização


do solo)

• As contaminações humanas da biosfera (das águas, das águas marinhas, da agricultura


productivista, da atmosfera, urbana, acústica, da que deriva da energia)

• A inconsciência ambiental (atitude de abandono, uso pessoal e quotidiano dos


recursos naturais e o consumismo)

Propostas para o desenvolvimento sustentável

• Redução da natalidade

• Energias alternativas

• Eficiência energética

• 3Rs: reduzir, reutilizar; reciclar

• Inclusão dos custos ambientais na formação de preços

• Biotecnologia

• Protecção dos solos

• Biodiversidade

• Equidade
Desenvolvimento Sustentável: criticas

Em contraste com a Teoria da Modernização

o conceito de “...sustainable development emphasizes the diversity of societal paths of


development, depending on their particular cultural or political as well as their ecological
starting points...” (Egon Becker, 1997)

Mas, os mais críticos consideram que o conceito de desenvolvimento sustentável não


consegue fugir à ambiguidade inerente do termo desenvolvimento.

Ou seja continua a ser uma referência a um modelo de sociedade ou à generalização dos


padrões da sociedade construída nos países ocidentais.

Desenvolvimento sustentável

• O direito ao desenvolvimento deverá ser exercido por forma a atender


equitativamente às necessidades, em termos de desenvolvimento e de ambiente, das
gerações actuais e futuras.

• Para se alcançar um desenvolvimento sustentável, a protecção ambiental deve


constituir parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser
considerada separadamente.

• Para se alcançar um desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida mais


elevada para todos os povos, os Estados deverão reduzir e eliminar padrões
insustentáveis de produção e de consumo e promover políticas demográficas
apropriadas.

• Os planos de desenvolvimento económico e social têm por objectivo promover o


crescimento económico, o desenvolvimento harmonioso e integrado de sectores e
regiões, a justa repartição individual e regional do produto nacional, a coordenação da
política económica com as políticas social, educativa e cultural, a defesa do mundo
rural, a preservação do equilíbrio ecológico, a defesa do ambiente e a qualidade de
vida do povo português.

• Devem criar-se os meios adequados para assegurar a integração das políticas de


crescimentos económico e social e de conservação da natureza, tendo como finalidade
o desenvolvimento integrado, harmónico e sustentável.

In http://www.diramb.gov.pt

Você também pode gostar