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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propoe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
ANO XXXVI OUTUBRO 1995
"Guardei a Fé" (2Tm 4.7)

"Em Busca de Sentido. Um Psicólogo no Campo de Concentr


porViktorFrankl

Do Budismo ao Catolicismo

O Eneagrama

"Espiritismo. Dimensdes Ocultas da Realidade?"


por P.A. Gramaglia

"Vocé Pode Curar sua Vida"


por Louise L. Hay
PERGUNTE E RESPONDEREMOS OUTUBRO1995
Publicagáo Mensal NM01

Diretor Responsável SUMARIO


Estéváo Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia
publicada neste periódico "Guarde! a Fé" (2Tm 4.7) 433

Incrivel:
Diretor-Administrador: "Em busca de sentido. Um psicólogo
D. Hildebrando P. Martins OSB no Campo de Concentragáo" 434

Urna japonesa se converte:


Administracáo e distribuigio: Do Budismo ao Catolicismo 444
Edicóes "Lumen Christi"
Rúa Dom Gerardo, 40 - o° andar - sala 501 Que é?
Te!.: (021) 291-7122 O Eneagrama 450
Fax (021) 263-5679
O Portentoso Explicado:
"Espiritismo. Dimensóes ocultas da
Enderego para correspondencia: realidade?" por P.A. Gramaglla 456
Ed. "Lumen Christi" Best-seller:
Caixa Postal 2666 "Vocé pode curar sua vida"
Cep 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ por Louise L. Hay 463

"Ciencia" e "Mística":
E a Ciencia Crista: Que é? 468
ImpressSo e EncademacSo
Em réplica:
A TFP responde 477

W¿
-maroues saraiva- C°M APROVA<?AO ECLESIÁSTICA
GRÁFICOS E EDITORES L toa.
Tels.: 1021) 273-9498 /2733447 NO PRÓXIMO NUMERO:

A Mensagem da Igreja Universal do Reino de Deus. - "A Religiáo de Jesús, o Judeu"


(Geza Vermes). - A Grande Figura de Helen Keller. - "A Vida Humana nao é mais
sagrada" (M. Morí). - Quando Comeca a Vida Humana? -Aborto Provocado: o Nao
da Medicina. - Purgatorio.

(PARA RENOVAQÁO OU NOVA ASSINATURA: R$ 25,00).


(NÚMERO AVULSO R$ 2,50).

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1. Enviar EM CARTA cheque nominal ao Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro, cruzado, ano
tando no verso: "VÁLIDO SOMENTE PARA DEPÓSITO NA CONTA DO FAVORECIDO" e.
onde consta "Cód. da Ag. e o N° da C\C. anotar: 0229 -O2011469-5.

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Sendo novo Asstnante, é favor enviar carta com nome e endereco legíveis.
Sendo renovagáo, anotar no VP nome e endereco em que está recebendo a Revista.
"GUARDEI A FÉ..." (2Tm 4,7>

O Apostólo Sao Paulo escreveu em sna carta-testamentíTijalavíai, ijtw


revelam a grandeza de toda urna vida: "Combatí o bom combate, terminei a
minha carreira, guardei a fé" (2Tm 4,7).
Guardar a fé, para todo cristáo, significa caminhar no claro-escuro ou na
penumbra de urna estrada em que a luz da aurora vai dissipando astrevas da
noite; a sofreguidáo e a ansia da chegada e da plenitude movem o peregrino...
Sao Paulo experimentou isto ao escrever: "A noite está adiantada, e o dia se
aproxima" (Rm 13,12). Todavía, além do incómodo do claro-escuro, o Apostólo
sofreu longo catálogo de dores elencadas em 2Cor 11,23-33: acortes repetidos,
apedrejamento, naufragio, perigos nos mares, ñas cidades, nos desertos, peri-
gos por parte de falsos irmáos, fome e sede, frío e nudez... -Eis o que ser fiel
acarretou para Sao Paulo. Todavía o Apostólo podia dízer: "Transbordo de ale
gría em toda a minha tribulacáo" (2Cor7,4). Pediu ao Senhorque o livrasse de
um cruel aguilháo da carne; ao que Jesús Ihe respondeu: "Basta-te a minha
graca, pois é na fraqueza que a forca manifesta todo o seu poder" (2Cor 12,9).
Donde concluí Sao Paulo: "Eu me comprazo... ñas angustias, pois, quando
sou fraco, entáo é que sou forte" (2Cor 12,7-10).
O testemunho do Apostólo fala hoje a todo cristáo. Guardar a fé nao é fácil
num mundo em que tantas propostas de ordem religiosa, filosófica e moral se
cruzam, sugeríndoque guardara fé é (lear para tras, é ser bitolado... Torna-se
forte a tentacáo de abandonar a fé ou "trocar de té", aderindo a crencas novas,
mais coloridas e sonoras ou mais fantasiosas. Saiba, porém. o fiel católico que
guardar a fé (fides) é ser fiel (fidelis) até o fim; nao há grandeza sem luta
heroica; a maiorfonte de alegría no fim da carreira terrestre consistirá em olhar
para tras e dizercom o Apostólo: "Combatí o bom combate, guardei a fé... Fui
fiel a Jesús Cristo e á sua Santa Igreja, que Ele fundou, como sacramento de
salvacáo, sobre a Rocha, que é Pedro". Alias, a alegría do final de vida pode-se
fazer sentir já ñas etapas do percurso terrestre, como acontecía a Sao Paulo;
com efeito, o manantial de alegría nao está fora, mas dentro do cristáo; consis
te precisamente em compartilhar a Páscoa de Cristo, que é Cruz (para nao
trair...) e Ressurreicáo gloriosa.
Muito a propósito vém as palavras do Cardeal Henrí de Lubac:
"Acontece que essa Igreja santa seja por vezes abandonada por
aqueles que tudo receberam déla... Acontece que Ela seja injuriada por
aqueles que Ela continua a alimentar. Um vento de crítica amarga e
sem inteligencia vem por vezes virar as cabecas... É entáo que, contem
plando a face humilhada de minha Máe, eu hei de amá-la com redobra-
do amor... Saberei mostrar que amo a Igreja em sua forma de serva. E,
enquanto alguns se detém nos tragos que envelhecem o seu semblante,
o amor me fará descobrir nela, com muito mais veracidade, as
virtualidades... que Ihe asseguram urna perpetua juventude".

E.B.

433
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXXVI - N° 401 - Outubro de 1995

Incrível:

"EM BUSCA DE SENTIDO.


UM PSICÓLOGO NO
CAMPO DE CONCENTRAQÁO1

por Viktor E. Frankl

Em síntese: O livro de Viktor E. Frankl relata episodios da vida em


campos de concentragao, nos quais o autor esteve internado na quali-
dade de judeu. O prisioneiro era mais maltratado do que pode ser um
animal irracional - o que tendía a despersoñalizar o ser humano, susci
tando nele apatía e irritabilidade em relagSo a tudo e a todos. A leitura
de tais episodios é de grande proveito como informativo da realidade do
secuto XX. A experiencia serviu a Viktor Frankl para consolidar a sua
Logoterapia: esta afirma que a necessidade mais premente do ser hu
mano é a de descobrir o sentido (logosj da vida ou o por qué e o para
qué viver. A/o campo de concentragao aqueles que tinham um lastro de
interioridade ou urna cosmovisao qué, Ihes indicasse por que viver e so-
frer, aturaram heroicamente a tormenta e conseguiram escapar da mor-
te e da degradagao psíquica; tal foi o caso de Viktor Frankl mesmo e de
outros companheiros, que o autor deixa no anonimato (entre eles deve-
ria estar o Pe. Maximiliano Kolbe). O presente artigo reproduz segmen
tos do livro que contnbuem para por em relevo os tragos típicos da
Logoterapia.

Viktor E. Frankl é psiquiatra judeu de Vierta, quefundou, após Freud


e Adler, urna escola de psicoterapia chamada "Logoterapia". Julga que
o motivo principal pelo qual alguém vive, é o sentido (logos) da vida; é
saber que a vida tem significado ou tem urna razáo de ser, mesmo quan-
do sofredora. Como psiquiatra, Frankl nao aprofunda as modalidades

434
"EM BUSCA DE SENTIDO"

do sentido; cada individuo deve propor para si as razóes que julgue


adequadas; por certo, a motivacáo religiosa, derivada da fé, é de todas
a mais forte e decisiva.

Viktor Frankl foi elaborando suas idéias em campos de concentra


cáo, nos quais viveu durante a segunda guerra mundial (1939-45). Em
cada grupo de 28 prisioneros, 27 sucumbiam aos maus tratos e morri-
am; Viktor Frankl, porém, conseguiu sobreviver e saiu de Auschwitz com
a mente lúcida, capaz de prosseguir sua tarefa de psiquiatra e escrever
livros a respeito de sua experiencia e suas diretrizes logoterapéuticas.

Redigiu cerca de trinta livros, já traduzidos para mais de vinte lín-


guas, incluindo o chinés e o japones.

A obra Trotzdem Ja zum Leben sagen (= Apesar de tudo. dizer


Sim á Vida) já conheceu mais de setenta e tres edicóes em inglés e foi
publicada em dezenove línguas. Em inglés já se venderam quase dois
milhóes de exemplares. Apresentaremos, a seguir, a prímeira Parte desse
livro traduzido para o portugués com o titulo "Em Busca de Sentido. Um
Psicólogo no Campo de Concentracáo"1; sao páginas que referem a
vida em campo de concentracáo descrita do ponto de vista do psicólo
go; as narracóes sao extremamente vivazes, pondo o leitor diante de
quadros de crueldade e também de coragem quase incríveis. A leitura
desses textos fala profundamente ao estudioso e merece ser recomen
dada a quem queira conhecer a realidade da historia dos homens do
século XX.

O autor distingue tres fases em seu relato: 1) a recepcáo no campo


de concentracáo; 2) a vida no campo de concentracáo; 3) após a li-
bertacáo.

1. PRÍMEIRA FASE:
RECEPQÁO NO CAMPO DE CONCENTRAQÁO

A prime ira fase se caracterizava pelo "choque de recepcáo". Os


prisioneros eram transportados durante dias e noites em vagóes ferro
viarios, que levavam um total de 1500 pessoas aproximadamente, acu
muladas urnas sobre as outras, a ponto de nao se poderem sentar to
das.

Quando o comboio de Viktor Frankl chegou em Auschwitz, o seu


vagáo foi invadido por um bando de prisioneiros trajando a roupa listra-
da típica dos reclusos, cabeca raspada, mas muito bem alimentados;
falavam todas as línguas européias e irradiavam jovialidade grotesca.

1 TradugSo de Walter Schlupp e Carlos C. Avetine. Ed. Sinodal (Sao Leopoldo) e Ed. Vozes
(Petrópolis), 1994 (4* edigSo, revista). 140 x 210mm, 136pp.

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"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

Urna vez desembarcados, os prisioneiros eram selecionados: os


que (ivessem aparéncia sadia eram poupados, ao passo que os mais
fracos ou doentes eram logo enviados para um forno crematorio Eis o
que escreve a respeito V. Frankl:

"Manda ram-nos deixar toda a bagagem no vagáo, desembarcar e


formar urna fila de homens e outra de mulheres para desfilar perante
um oficial superior da SS\.. Ei-lo agora á minha frente: alto, esbelto,
elegante, num uniforme perfeito e reluzente... Apota o cotovelo direito
na máo esquerda, e com a mao direita erguida executa um leve aceno
com o indicador, ora para a direita, ora para a esquerda,... com fre-
qüencia muito maior para a direita" (pp.22s).

O sinal para a direita indicava sobrevivencia no trabalho arduo do


campo de concentracáo... Para a esquerda,... forno crematorio.

A seguir, os prisioneiros eram levados para um galpáo, onde os


oficiáis da SS mandavam que jogassem todos os seus pertences (reló-
gios, alimentos enlatados, anéis...) dentro de cobertores. Daí passa-
vam para a ante-sala do banho de "desinfeccáo": eram obrigados a se
despir em dois minutos; em outra sala eram-lhes raspados todos os
pelos da cabeca aos pés e, por último, empurrados para dentro do re
cinto dos chuyeiros, donde saia a agua "desinfetante". Cada prisioneiro
verificava assim que só Ihe restava a existencia nua e crua".

"Os sapatos, com os quais em principio podíamos fícar, foram um


capítulo á parte. Calgados de relativa qualidade acabavam sendo tira
dos da gente, recebendo-se em troca um par que nao servia" (p.25).

"Quem entrasse em suspeita de ter cortado o cano da sua bota,


era obligado a entrar num pequeño quarto contiguo. Pouco depois se
ouviam os estalos do agoite e os berros dos torturados" (pp.25).

Comecava entáo a vida diáriaLque V. Frankl descreve em quadros


emocionantes, dos quais alguns vao apresentados a seguir.

2. SEGUNDA FASE:
ÁVIDA NO CAMPO DE CONCENTRAQÁO

1. Urna das primeiras conseqüéncias da internacáo era a apatía,


que ja tomando conta do prisioneiro:

"Como a maioría dos seus companheiros, o prisioneiro está 'vestido'em


farrapos tais que a seu lado um espantalho tena ares de elegancia. Entre as
barracas, no campo de concentragSo, há somente um lodagal. E quanto mais
se trabalha em sua eliminagSo, tanto mais se entra em contato com a lama. É
justamente o recém-intemado que costuma ser destacado para grupos de tra-
balho nos quais terá que se ocupar com a íimpeza de ladinas, eliminagSo de

'SS = Staatsicherheti, Seguranza do Estado.

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"EM BUSCA DE SENTIDO"

excrementos, etc. Quando estes seo transportados sobre terreno acidentado,


geralmente nSo escapamos de levar uns respingos do líquido abjeto; quatquer
gesto que revele urna tentativa de limpar o rosto, com certeza provocará urna
bordoada do capo, que se irrita com a excessiva sensibilidade do trabalhador.
A mortificacSo dos sentimentos normáis continua avangando. No comego o
prísioneiro desvia o othar ao ser convocado, por exemplo, para assistir aos
exerclcios impostos a algum grupo como punigSo. Porenquanto ele nSo con-
segue suportara cena de pessoas sendo sádicamente torturadas, vendo com-
panheiros subindo e baixando horas a fío na sujeira, ao ritmo ditado a porrete.
Passados alguns dias ou semanas, contudo, elejá reage de forma diferente.
De manh3 cedo, aínda no escuro, está com o grupo de trabalho, pronto para
sair marchando numa das rúas do campo, frente ao portSo de entrada; ouve
gritos, olha e observa como um companheiro seu é esmurrado até cair no
chSo, e isto varias vezes. É levantado e sempre de novo derrubado a socos. O
recluso observador, em pleno segundo estágio de suas reagóes psíquicas,
nao mató tenta ignorara cena. Indiferente ejá insensível, pode ficar observan
do sem se perturbar" (pp.29s).

2. É muito significativo o trecho relativo á fome:


"Face ao estado de extrema subnutrigáo em que se encontravam os
prisioneros, é compreensivel que, entre os instintos primitivos que represen-
tam a 'regressSo' da vida psicológica no campo, o instinto de alimentagño
ocupasse o lugar principal. Observemos os prisioneros de um modo geral
quando estSo juntos no lugar de trabalho, num momento em que neo estSo
sendo tSo rigorosamente vigiados. A primeira coisa de que comegam a talaré
comida, ¡mediatamente alguém comecará por perguntar ao colega que traba-
Iha a seu lado no valo qual o seu prato favorito. Comegam a trocar receitas e
compormenus para o dia em que pretendem convidarse mutuamente para
um reencontró, futuramente, depois de libertos e de volta em casa. Este as-
sunto os fascina tanto que nño conseguem largá-lo antes do convencionado
sinal de aviso, geralmente dissimulado pela mengáo de um número, por exem
plo, alertando os que estSo no valo, da chegada do guarda...

Nos últimos tempos, a alimentagéo diaria consistía numa sopa bastante


aguada, distribuida urna vez durante o dia, e na minúscula ragSo de pSojá
mencionada'. Além disso, havia o assim chamado extra, que podiam ser vinte
gramas de margarina, ou urna rodela de lingüíga de má qualidade, ou um peda-
cinho de queijo, ou mel artífícial, ou urna colherde geléia, etc., alternando a
cada día. Em termos das calorías, esta alimentagéo era absolutamente insu
ficiente, ainda mais considerando o pesado trabalho físico, a exposigño a
temperaturas abaixo de zero, com agasalho extremamente precario.

Pior ainda era a situagSo dos doentes que estavam sendo 'poupados',
que podiam ficar deitados na barraca e nSo precisavam deixar o campo para o
trabalho extemo. Urna vez consumidos os últimos vestigios de gordura no
teddo subcutáneo, ficávamos parecendo esqueletos vestidos de pele dos quais
pendiam alguns trapos. Dali para frente podíamos observar como o corpo pas-

1 300 gramas por dia (N.d.R.)

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

sava a devorarse a simesmo. O organismo consumía sua própria proteína, a


musculatura ia defínhando. Agora o corpo também neo apresentava mais re
sistencia. Morria um atrás do outro na comunidade formada por nosso barra-
cSo. Cada qual podía calcular com bastante precisSo quem seria o próximo e
quando seria sua própria vez. Afínal, o grande número de casos observadosjá
permitía conhecerbem os síntomas, baseados nos quais se podía prever com
boa margem de seguranga o tempo de vida que ainda restava para alguém.
'Este n3o vai muito longe', ou 'esse vai ser o próximo'- era o que segredáva-
mos um ao outro. A noite, quando matávamos os piolhos antes de nos deitar,
víamos o nosso corpo nu, e cada qual fícava pensando consigo mesmo: Na
realidade esse corpo ai, o meu corpo, já nSo passa de um cadáver. O que
éramos aínda? Urna partícula de urna grande massa de carne humana; urna
massa cercada de árame farpado, comprimida em algumas cabanas de chSo
batido; urna massa da qual diariamente apodrecia um certo percentualporter
fícado sem vida...

Quem nSo passou por isto difícilmente poderá imaginar o desgaste inte
rior causado pelos conflitos da forqa de vontade que se desenrolam na pessoa
do faminto. NSo é fácil imaginar o que significa estar no valo, empunhando a
picareta, e fícarsempre atento, á espera da sirene indicar nove e meia ou dez
horas, ou da pausa de meia-hora, ao meio-dia, com a distribuigáo da "meren-
da" (na época em que ainda havia merenda). Ficávamos perguntando repetida
mente as horas ao capataz, caso n§o fosse pessoa intratável, ou mesmo a
passantes civis. Apalpávamos carinhosamente um pequeño pedago de p3o
no bolso da capa, com os dedos desprovidos de luvas e entorpecidos de trio,
quebrávamos um pedacinho que levávamos á boca para entño, num último
esforgo da vontade, fazé-lo voltar ao bolso. É que nesta manhS havíamos
jurado agüentaraté ao meio-dia" (pp. 36-38).

3. Quando um condenado era destinado a seguir num transporte


para um forno crematorio ou urna cámara de gas, era chamado "mucul-
mano" pelos colegas, que ainda o olhavam com curiosidade para ver se
podiam aproveitar algum dos seus pertences.

No campo de concentracáo ninguém possuía documentos; todos


eram conhecidos únicamente pelo seu número, de modo que nao se
sabia quem era médico, quem era jornalista, quem era operario; em
conseqüéncia cada qual podía alegar a identidade que quisesse:

"Há muito já nao possuíam seus documentos, e cada um se dava por


feliz quando podía considerar propiamente seu nada mais que este seu orga
nismo ainda a respirar, apesar de tudo. O resto, o que ainda pendía sobre a
esquálida pele desses semi-esqueletos em farrapos, só interessava aos que
fícavampara tras. Com olho clínico e indisfargada curiosidade, eram vistoria-
dos os 'mugulmanos' destacados para o transporte, a fím de verificarse seus
sapatos e suas capas nño estavam ainda em estado um pouco melhorque os
próprios. Afínal de coritas, o seu destino estava selado. Entretanto, para aque
les que podiam fícare tinham relativas condigóes de trabalhar, valia tudo que

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"EM BUSCA DE SENTIDO"

servisse para aumentar a sua chance de sobrevivencia. Sentimentais é aue


nSoeram..."(p.S6)... v

"A pessoa no campo de concentragSo se sentía somente como partícula


de urna massa enorme, e sua existencia se reduz ao nivel de existencia num
rebanho. Sem poderpensar nem querer, aspessoas aliora sao tocadas para
cá, ora para lá, ora sSo ajuntadas, ora dispersas, como rebanho de ovelhas. Á
tua direita e á tua esquerda, á frente e atrás espreita pequeña, porém armada,
requintada e sádica matilha que nño para de te tocar para frente ou para tras,
aos berros, pontapés e coronhadas. Sentiamo-nos feito ovelhas num reba
nho, que somente sabem, pensam e querem urna coisa: escapar aos ataques
dos caes e, num momento de paz, poder comer um pouco. Como ovelhas que
procuram temerosamente enriarse para o meio do rebanho amontoado, cada
um de nos tentava postarse no centro da fíleira de cinco homens e, se possí-
vel, também no meio de todo o grupo, para assim ter as melhores chances de
escapar aos golpes dos guardas que marchavam ao lado da coluna, á sua
frente e na retaguarda. EssaposigSo no meio apresentava aínda urna vanta-
gem nada desprezlvel, ou seja, a da protegSo contra o vento" (p. 53).

4. O senso religioso era vivo entre os encarcerados:

"O interesse religioso dos prisioneros, na medida em que surgía, era o


mais ardente que se possa imaginar. NSto era sem um certo abalo que os
prisioneiros recém-chegados se surpreendiam pela vitalidade e profundidade
do sentimento religioso. O mais impressionante neste sentido devem ter sido
as preces e cultos improvisados, no canto de algum barracSo ou num vagSo
de gado escuro e fechado, no qual éramos trazídos de volta após o trabalho
em urna obra mais distante, cansados, famintos e passando frío em nossos
trapos molhados" (pp. 40s).

5. Além da obsessáo por comida e da apatía que, em geral, toma-


vam conta de todos, os prisioneiros eram sujeitos a freqüentes exolo-
soes de irrita9áo: K

"A irritabilidade além da apatía, representa urna das mais eminentes


características da psique do prisioneiro. Entre as causas fisiológicas estSo
em prímeiro lugar a fome e a falta de sonó. Como qualquer um sabe, mesmo
na vida normal ambos os fatores tomam a pessoa apática e irrítadiga. No
campo de concentragSo, o sonó insuficiente se deve em parte aos insetos
parásitas a proliferar livremente na mais inconceblvel falta de higiene, e á
inimaginável concentragSo de pessoas nos barracóes" (p. 63).

Embora aínda haja muitos quadros importantes a extrair do livro de


V. Frankl, passemos á

3. TERCEIRA FASE: APÓS A LIBERTAgÁO

Quando foram postos em liberdade, os prisioneíros já nao sabiam


o que é fazer uso desta prerrogativa. De modo geral, tinham os seus
sentimentos aniquilados, tal era a apatía que os havia dominado:

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

"Á noitinha, quando voltam a se reunir os companheiros em seu velho


barracSo, um chega para o outro e Ihe pergunta ás escondidas: 'Diga-me urna
coisa - vocé chegou a fícar contente hoje ?' O outro responde: 'Para ser franco,
nSol'Efica envergonhado. porque nao sabe que com todos é assim. Literal
mente, desaprendemos o sentimento de alegría. Será necessário aprender de
novo a alegrarse.

Sob o ponto de vista psicológico, pode-se chamar de verdadeira


despersonalizagSo aquilo que os companheiros libertos experimentaram. Tudo
parece irreal e improvável. Tudo parece apenas um sonho. Aínda nño se con-
segue acreditá-lo. Foram demais, muito demais as vezes em que o sonho nos
iludiu nesses últimos anos. Quantas vezes sonhamos que vina este día em
que nos poderiamos movimentarlivremente? Quantas vezes sonhamos estar
chegando em casa para abracara esposa, saudaros amigos, sentar com eles
á mesa e comegar a contar tudo aquilo que se passou durante estes anos?
Quantas vezes antecipamos em sonhos esse dia de reencontros - e agora,
realmente tena chegado este momento? Sempre havia tres silvos estridentes
feríndo o ouvido, dando o comando de 'levantar1, arrancando a gente do sonho,
da liberdade, e como mero sonho se revelava pela enésima vez. E agora deve-
rlamos acreditar, de urna hora para a outra? Agora essa liberdade sería reali-
dade verdadeira?" (p. 85).

Ao chegarem á casa, duas decepcóes podiam aínda afetar os prí-


sioneiros libertos:

- a ¡ndiferenca dos familiares:

"Ao voltarpara casa, ele constata que muitos nSo reagem de outra forma
do que simplesmente encolhendo os ombros ou dando de si frases baratas.
Em vista disso, neo raro, ele é tomado de amargura, surgindo dentro de si a
pergunta de para que tería sofrído tudo aquilo. NSo ouvindo outra coisa a nSo
ser as costumeiras evasivas: 'Nos nSo sabíamos de nada', ou'... nos também
sofremos...', ele fíca se perguntando se isto é realmente tudo que os outros
Ihe conseguem dizer..." (p. 87).

- a ausencia ou o desaparecimento dos entes queridos:

"Ai daquele para quem nSo existe mais a razáo das suas torgas no cam
po de concentragSo - o ente querido. Ai daquele que experimenta na realidade
aquele momento que sonhou mil vezes, e o momento vem diferente, comple
tamente diferente do que fora imaginado. A pessoa pega o bonde, vai até
aqueta casa que por anos a fío imaginava diante de si e aperta a campainha -
bem assim como tanto desejara em seus mil sonhos... Mas quem abre a
porta nao é a pessoa que deveria abri-la - ela jamáis voltará a Ihe abrir a
porta..." (p.88).

4. REFLEXÁO FINAL

Viktor Frankl analisou as reacóes psicológicas dos encarcerados

440
"EM BUSCA DE SENTIDO"

em campo de concentracáo para poder penetrar melhor na realidade


do ser humano. Na base das experiencias entáo efetuadas, ele conce-
beu a sua Logoterapia, que o próprio Frankl expóe na segunda Parte
da obra em foco.

Qual sería a tese básica da Logoterapia?

V. Frankl se distancia dos dois grandes psicólogos vienenses que


o precederam: 1) Sigmundo Freud (t 1939), apregoando que o eros é o
impulso fundamental do ser humano, impulso que o leva a procurar em
tudo o prazer e a fugir do des-prazer; 2) Alfred Adler (t 1937), que
julgava ser a ansia de poder o primeiro propulsor dos sentimentos e da
atividade do ser humano. - V. Frankl póe de lado estas duas teses e
afirma que a necessidade de descobrir o sentido da vida é a necessida-
de básica e primordial de toda pessoa. Cita, por isto, mais de urna vez,
a sentenca de Frederico Níetzsche: "Quem tem por que viver, suporta
quase qualquer como".

Sim; saber por que vivemos desperta as energías do individuo e


leva-o a aturar e superar os mais graves desafios, como alias aconte-
ceu com o próprio V. Frankl, que veio a ser urna excecáo no campo de
concentracáo, conseguindo escapar com vida e lucidez de mente as
terríveis ameacas de morte que sobre ele pesaram.

O autor cita fatos que corroboram tal sentenca:

Certa vez um prisioneiro sonhou que em 30/03/1945 sería liberta


do do campo de concentracáo. Acreditou no que dizia ter sido inspirado
por urna voz do além. Enquanto aínda estava distante da prevista data,
era vigoroso, mas, á medida que o tempo passava, a "profecía" parecía
ilusoria. "Deu-se entáo o seguinte: em 29/03 aquele companheiro foi
atacado de febre alta. Em 30/03... caiu em pleno delirio e finalmente
entrou em coma... No dia 31/03 ele estava morto. Falecera de tifo
exantemático... A sua profunda decepcáo pelo nao cumplimento da li
bertario pontualmente esperada reduziu drásticamente a capacidade
imunológica do seu organismo contra a infeccáo de tifo exantemático já
latente" (pp. 74s).

"Na semana entre o Natal de 1944 e o Ano Novo de 1945 inompeu urna
mortandadejamáis vista anteríonnente no nosso campo de concentragSo... A
causa dessa mortandade em massa devia ser procurada exclusivamente no
falo de que a maioria dos prisioneiros se entregou á habitual e ingenua espe-
ranca de estarde votta em casa para o Natal. Como, porém, as noticias dos

441
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

¡ornáis fossetn tudo menos animadoras, ao se aproximar aqueta data, os re


clusos foram tomados de desánimo e decepgño gerais, cuja perígosa influen
cia sobre a capacidade de resistencia dos prisioneiros se manifestou justa
mente naquela mortandade em massa" (p. 75).

Quem perdía toda esperanza de Iiberta9áo, entregava-se simples-


mente á morte:

"Qüem nSo consegue mais acreditar no futuro - seu futuro-está perdido


no campo de concentragño. Com o futuro, talpessoa perde o apoio espiritual,
sucumbe interiormente e decaí física e psíquicamente. Geralmente isto acon
tece de forma até bastante repentina, numa especie de crise, cujos síntomas
o recluso relativamente experiente conhece muito bem. Cada um de nos temía
aquele momento em que se manifestava pela primeira vez essa crise - nSo
em si próprio, pois entáo já teria sido indiferente, e sim em seus amigos.
Geralmente essa crise se confígurava da seguinte maneira: a pessoa em ques-
t&o certo dia fícava simplesmente deitada em seu barracSo, e ninguém conse
guía persuadi-la a botara roupa, irao lavatorio ou mesmo a se apresentarna
formatura de chamada. Nada mais surtía efeito, nada Ihe metía medo, nem
súplicas, nem ameagas, nem golpes, tudo em vSo. O sujeito simplesmente
fícava deitado, nao se mexia, e quando urna doenga provocava essa crise, a
pessoa se negava inclusive a ser transportada para o ambulatorio ou tomar
qualquer medida em prol de si mesma. Ela entrega os pontos! Fica deitada até
ñas próprias fezes e urina, pois nada mais Ihe interessa" (p. 74).

Considerando o terrível achatamento físico e psíquico dos interna


dos em concentracáo, V. Frankl pergunta: será necessário que toda
pessoa, urna vez encarcerada, sucumba ás influencias negativas do
campo? Será que nao pode reagir de outro modo ás condicóes de vida
reinantes no campo de concentracáo?

Responde afirmando que mesmo ñas piores situacóes do campo


de concentracáo havia pessoas que reagiam "fora do esquema". Havia
suficientes exemplos, muitos deles heroicos, que demonstraram ser
possível superar a apatía e reprimir a irritacáo. "Quem dos que passa-
ram pelo campo de concentra9áo, nao saberia falar daquelas figuras
humanas que caminhavam pela área de formatura dos prisioneiros ou
de barracáo em barracáo, dando aquí urna palavra de carinho, entre
gando até a última lasca de pao?" (p.66)1.

O autor explica que essa resistencia ao "achatamento" do campo


se devia a um lastro de interíoridade ou a um cultivo de valores espirítu-

1 Entro esses, devia estar o Pe. Maximiliano Kolbe.

442
"EM BUSCA DE SENTIDO" 11

ais realizado antes e no decorrer da internado carcerária. V. Frankl é


muito sobrio ao referir-se a esse lastro; chama-o simplesmente "liberda-
de", "decisáo interior"... Nao quer explicar melhor o que ele assim en-
tende para nao sair da área da psicología. Todavía a fé tem algo mais a
dizer: a consciéncia de que Deus é providente e leva em conta a fidelí-
dade dos seus fiéis, é que fortalece a pessoa sofredora; nao bastam
sonhos e "profecías" subjetivas para animar alguém; somente o apoio
no Transcendental pode consolidar a personalidade ameacada.

Em conseqüéncía pode-se dizer que o livro de V. Frankl é excelen


te por informar a respeito do grau de barbaridade a que pode chegar o
homem, mesmo no século XX; é valioso também porque mostra que a
pressáo esmagadora do campo pode encontrar nobre resistencia, como
foi a de V. Frankl mesmo e a de Maximiliano Kolbe. Todavía o livro preci
sa de ser complementado por urna análise religiosa dos fatos. A resis
tencia dos heróis devia ter um fundamento, um "porqué" e um "para
qué", e este havia de ser, em última análise, o fator religioso, ao qual
alias V. Frankl alude sobriamente (ver pp.40s.85s.88).

MISSA AFRO. CARTA PUBLICADA NO "O GLOBO" 27/8/95

A propósito do rito de Missa exibido pela televisáo há poucos dias, a


bem da verdade convém esclarecer que se tratava de um ensaio infeliz de
inculturagáo, que de modo nenhum gozava da aprovagáo do Papa Joáo Paulo
II, ao contrario do que fo declarado. Tratava-se, antes, de urna iniciativa local,
cujos mentores visavam a utilizar símbolos da cultura africana para exprimir a
féea Uturgia católicas; acontece, porém, que o espetáculo daí resultante nao
atingiu a sua finalidade, que era elevar as mentes a Deus em atitude de ora-
gao; lembrou muito mais os festejos folclóricos do nosso povo, associados a
Carnaval e a cultos nao cristáos. A inculturagáo tem em vista aproveitar ex-
pressóes da cultura africana, asiática e indígena para transmitir as verdades
do Evangetho; estas sao destinadas a todos os povos e devem ser apresenta
das aos destinatarios de tal maneira que as possam compreender e viver, sem
que percam a sua identidade africana, asiática ou indígena. Esta tarefa de
inculturagáo é delicada e difícil, como se pode depreender da iniciativa mal
sucedida de que nos deu noticia a televisáo. — Importa frisar que o espetáculo
assim apresentado nao representa os rumos oficiáis da Igreja Católica. Quan-
to á escrava Anastácia, é notorio que ela nunca existiu; o seu rosto recorberto
de máscara se deve á fusao de duas gravuras que representavam rostos mas
culinos! A biografía respectiva se deve ao Sr. Yolando Guerra, falecido em
1983, que, com a melhor das intengóes, reuniu documentos diversos dos quais
resultou a estória da escrava Anastácia.

Pe. Estéváo Tavares Bettencourt, O.S.B.

443
Urna japonesa se converte

DO BUDISMO AO CATOLICISMO

Em síntese: Eis o relato da conversáo de urna jovem budista ao


Catolicismo. A transigáo n§o foi fácil, pois o Budismo e o Chintoísmo,
para os japoneses, fazem parte da identidade japonesa, ao passo que
o Cristianismo tem a aparéncia de urna religiáo européia. Aos poucos,
porém, Michaela Motóse percebeu que, abracando o Cristianismo, ela
nao traía o budismo, pois esta religiáo a preparara para acolher em
plenitude a Paiavra de Deus encamada em Jesús Cristo. Passo a passo
ela foi deixando de ocultar ao mundo a sua identidade crista, para ten
tar harmonizar entre si a nacionalidade japonesa eafé católica. Afínalo
que importa, diz ela, nao é ser japonesa ou ser européia; é ser ela
mesma vivendo a sua vocagáo crista de Franciscana Missionária de
María.

O. anuncio do Evangelho aos povos da Asia e da África encontrou


tradicóes culturáis e religiosas muito antigás, que oferecem resistencia
á pregacio da Boa-Nova. Esta parece ocidental, européia, de modo
que afeta o próprio senso nacionalista ou patriótico de varios povos.
Todavía nao é este o primeiro desafio que o Evangelho sofre; nos pri-
meiros séculos ele enfrentou o poderío do Imperio Romano pagáo per
seguidor, ao qual conseguiu falar por causa do fulgor da verdade de
Jesús Cristo. Tertuliano (t 220 aproximadamente), jurista latino conver
tido, chegou a exclamar "Ó alma humana, naturalmente crista!". O Cris
tianismo corresponde aos anseios mais profundos da alma humana,
anunciando-lhe que Deus é o Primeiro Amor de maneira gratuita e
irreversível, ama o homem e acompanha-o para dar-lhe a plenitude da
vida. A experiencia, portante, ensina que nao é inútil tentar apregoar a
Boa-Nova; ela tem em seu favor a forca da Vitoria de Cristo, pois nao é
mera mensagem de um filósofo; é um sacramental ou a mensagem de
Deus a todos os homens.

Em nossos días há significativos casos de pessoas que, atraídas


pela grandeza da mensagem crista, vencem preconceitos culturáis e
dizem um Sim total a Jesús Cristo; testemunham assim quanto o ser

444
DO BUDISMO AO CATOLICISMO 13

humano é sequioso da verdade religiosa ou de conhecer o auténtico


sentido da vida. Segue-se o auto-relato da conversáo de urna jovem -
Michaela Motóse -japonesa, que, a partir do budismo, encontrou Jesús
Cristo'.

"INTRODUQÁO

Sao Paulo disse: "O que sou, eu o sou pela grapa de Deus1. Creio
que foi o maravilhoso amor de meu país que me levou ao caminho do
encontró com Jesús Cristo. Através do amor e da educacáo budista que
me deram, recebi tal graca.

Sou crista desde os vinte anos de idade. Alguns anos depois tor-
nei-me Religiosa na Congregacáo das Franciscanas Missionárias de
Maria. Fui enviada ao Marrocos em missáo e, depois, á Franca. Atual-
mente trabalho na cooperacáo missionária.

Pediram-me que eu Ihes comunique a minha experiencia: a passa-


gem do budismo para o Cristianismo e o que para mim o budismo repre
senta hoje. Nao me sinto digna de estar aqui, mas respondo com simpli-
cidade e alegría.

O CONTEXTO RELIGIOSO JAPONÉS

O Japáo constituí urna sociedade de consumo por excelencia. Atu-


almente é pioneiro do progresso tecnológico. Além disto, a civilizacáo
japonesa se enraiza numa tradicáo de dois mil anos, em que caminham
lado a lado o chintoísmo e o budismo.

O Cristianismo foi introduzido em 1549 por Sao Francisco Xavier


no momento em que o país se unificava. Pouco depois, um dos mais
poderosos senhores feudais receou que a atividade missionária acar-
retasse urna invasáo estrangeira. Em conseqüéncia, comecou a perse
guiros cristáos e a expulsar do país todos os missionários estrangeiros.
Depois disto, o Japáo fechou suas portas para o resto do mundo duran
te tres séculos.

Ao contrario, o chintoísmo e o budismo puderam desenvolver-se


livremente, servindo para corroborar a unidade do país.

' O fexfo que se segué, 6 traduzido do relato francés intitulado Le Chemin d'Emalls au
Japón e publicado pelo periódico Le Christ au Monde, janeiro-fevereiro 1995, pp.26-30.

445
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

O chintoísmo e o budismo se irmanam na vida da sociedade do


Japáo; por exemplo, a cerimónia do casamento e a apresentacáo da
enanca recem-nascida ocorrem no templo chintoísta; mas os funerais
sao sempre celebrados no templo budista.

No decorrer dos séculos este cerimonial se arraigou táo bem na


vida cotidiana que ele se tornou urna forma de cultura mais do que urna
expressáo religiosa.

Em 1865 missionários franceses evangelizaram de novo o Japáo


Em nossos dias há 0,35% (430.000) de católicos sobre um total de
123.000.000 de habitantes.

INFANCIA BUDISTA

Nasci numa familia budista praticante, e fui educada para tomar


me esposa de um bonzo'. Em casa, como em quase todas as familias
japonesas, tínhamos dois altares: o do chintoísmo e o do budismo.

Seguindo o exemplo de meus pais e de minha avó, desde pequeña


eu costumava rezar diante do altar de Buda. Um dia minha avó me per-
guntou: "Que pedes diante do altar?1 Surpreendida por esta pergunta
inesperada, respondi-lhe: 'Nada!1. Ela me disse: 'Está bem. Para agra
dar a Buda, é suficiente que fiques diante dele sem pedir coisa alguma1.

Conservei este hábito de rezar adquirido na minha infancia. Creio


que esta sementé de oracáo da minha infancia continua a se desenvol
ver atualmente: estar diante de Deus, com as máos vazias, e numa ati-
tude de recolhimento.

Desde a idade de quinze anos procurei um sentido para a minha


vida e para toda a aventura humana. Mas ninguém respondeu de ma-
neira satisfatóría as minhas perguntas. Após os estudos de segundo
grau, passei no exame vestibular para a Universidade. Isto mudou com
pletamente a minha vida. Lá via pela primeira vez a Cruz, urna cápela e
Religiosas. Antes das aulas, elas comecavam com urna oracáo, dizen-
do: "Em nome do Pai e do Filho e do Espirito Santo*. Ainda que dito em
japonés, eu nada compreendia de tudo o que elas diziam.

1 O bonzo é como que urna sacerdote budista. (N. d. R.).

446
DO BUDISMO AO CATOLICISMO 15

Mais: a Cruz de Cristo me abalou; o semblante de Buda com o seu


sorriso suave, misericordioso, sempre sereno, seduzia-me porque me
suscitava paz interior. O importante para uma japonesa é viver em har
monía consigo mesma, com a natureza e ter o gosto das coisas belas;
isto é um meio de entrar em contato com o Divido.

Um día, durante uma aula de Religiáo, uma Irma leu esta passagem
da Biblia: 'Jesús morreu na Cruz em favor de todos os povos' (Ef 2) e
esta outra: 'Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida' (Jo 14,6). Ouvindo
estes textos, fiquei profundamente tocada. Coloquei para mim a ques-
táo: 'Será que Ele morreu realmente em favor dos africanos, dos asiáti
cos e também por mim?'.

Por conseguinte, Jesús se apresenta como aquele que abre o ca


minho. Este caminho nao é outro senáo Ele mesmo. Isto nao me era
claro e eu desejava saber mais sobre o Evangelho, de modo que come-
cei a estudá-lo com um missionário. Um dia descobri que Deus é Amor e
que somos todos amados por Deus. Até entao eu seguirá a voz da mi-
nha consciéncia, levando vida moralmente honesta; mas isto nao era
suficiente para mim.

Creio que a pessoa, muitas vezes sem o saber, aspira ao encontró


com Deus, que nos criou por amor. Quería tornar-me filha de Deus pelo
Batismo. Mas, ao mesmo tempo, eu nao desejava violar a harmonía da
familia, pois em meu íntimo eu sentia como que uma ruptura. Todavía
aos poucos se concretizava a grande aventura que seria a minha ade-
sáo á religiáo 'européia'.

O CRISTIANISMO: RELIGIÁO EUROPÉIA?

O Cristianismo incontestavelmente marcou a cultura ocidental. As-


sim, por exemplo, a arquitetura das igrejas francesas encarna o Cristia
nismo. Até o parque de Versalhes, com as suas plataformas artificiáis,
com as suas alamedas bem tragadas, tem uma simetría que lembra o
Infinito. Os japoneses nutrem uma atitude de espirito e uma disposicáo
de alma que decorrem da mentalidade budista, chintoísta e confucionista;
toda a vida japonesa é um culto á harmonía e á beleza; tenhamos em
vista a mobilidade das nuvens, os reflexos da lúa sobre as aguas, as
flores das cerejeiras... ou aínda a arquitetura dos templos e das pontes,
que está sempre em harmonía com a natureza do ambiente. Por isto na
minha alma havia um sentimento de intimidade com a natureza e de
resignacáo confiante na ordem do universo.

447
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

No relato do Génesis sobre a criado lé-se: "O Senhor Deus tomou


o homem e o estabeleceu no jardim do Éden para que o cultivasse e
guardasse* (Gn 2,5). Qual é a fun9áo do homem frente á natureza?
Toca-lhe a tarefa de aperfeicoar a criado; o homem é o gerente do
mundo com plenos poderes: Adáo, o homem, ¡sto é, todo homem assu-
me a criacáo para continuá-la. A Biblia é muito clara; o mundo foi dado
ao homem para que ele tome o mundo habitável.

O japonés nao tem o ideal de transformar a natureza para subordína


la as suas necessidades; mas ele aceita a ordem existente no universo
e procura adaptar-se a ela.

Contudo Jesús mais e mais me atraía.

Após um conselho de familia, o bonzo me disse: 'Se julgas que tal é


o teu caminho, nao te posso dizer Nio'. Assim aos vinte anos recebi o
Batismo. Em conseqüéncia, tive que seguir minha vida: experimentar
urna certa dilaceracáo para aceitar algo que me era totalmente estra-
nho. Eu sentía urna ruptura dos lacos que me uniam aos meus familia
res e amigos e eu tinha vergonha face aos meus antepassados. Naque-
la época, eu vivía escondida e nao ousava dizer que me tomara católi
ca.

A Igreja no Japáo nasceu e cresceu gracas á Igreja da Europa, que


é urna sementé convertida em árvore. Esta árvore foi transplantada para
o Japáo. A Igreja no Japáo por muito tempo se apresentou com um sem
blante estrangeiro.

Em meio á paisagem japonesa, a arquitetura crista guarda seu es


tilo europeu. Este compreende gestos e práticas pouco usuais no meu
país: oracao de joelhos, genuflexáo, etc.

Embora a Liturgia fosse celebrada em língua japonesa, eu tinha a


impressáo de estar trajando urna veste que nao fora talhada segundo
as minhas medidas.

Todavía no meu íntimo eu compreendia aos poucos que o Senhor


me chamava á Vida Religiosa. Um dia encontrei um missionário francés
e fiquei impressionada pelo modo de viver dos missionários de Jesús
Cristo, pela sua humildade, sua simplicidade e principalmente pela sua
caridade. Eles dáo a vida pelos japoneses sem esperar algo em retor
no.

No Evangelho de Sao Joáo se lé: 'Nao há maior amor do que dar a


vida...1. Se eu nao tivesse encontrado missionários, a minha caminhada
teria sido bem diferente da que é hoje. Apesar de muitas dificuldades,
tomei a decisáo de entrar na Vida Religiosa, de tudo deixar para seguir
o Cristo e, a seu exemplo, doar-me totalmente a Deus e aos outros.

448
DO BUDISMO AO CATOLICISMO 17

CONCILIAR OUAS IDENTIDADES

Cada vez mais freqüentemente coloco-me a pergunta: Como pos-


so conciliar o Evangelho e duas identidades: a de auténtica japonesa e
a de católica batizada? No Japáo, após o meu Batismo viví a vida crista
em meio a outras crencas religiosas, aceitando simplesmente nao ser
planamente japonesa; era feliz na Vida Religiosa. Há alguns anos, vi-
vendo na Franca, descobri que eu nao devia descuidar de harmonizar
com a cultura japonesa o que atualmente experimento como católica.
Nasci no Japáo, de país japoneses. Minha identidade tem raizes na cultura
japonesa, e eu passei do budismo ao Catolicismo.

Tornar-me crista nao foi nem propriamente a rejeicao da minha re-


ligiáo nem passagem de urna religiáo a outra, mas o cumprimento de
todas as rninhas aspiracóes mediante a acolhida da Palavra de Deus
que se revela em Jesús Cristo.

Hoje agradeco por ter sido educada no budismo, onde encontrei as


sementes da Palavra de Deus, que me tornaram capaz de a acolher um
dia em plenitude encarnada em Jesús Cristo; nao tenho o sentimento
de ter traído a religiáo que me foi transmitida desde o berco.

O misterio de Cristo se desvenda progressivamente e eu me torno


pouco a pouco mais 'crista'. Como Religiosa missionária na Franca, o
que me importa nao é tornar-me francesa nem ficar japonesa. É sim
plesmente ser eu mesma e viver a minha vocacáo crista de Franciscana
Missionária de María".

Sem comentarios...

(continuagáo da pág. 455)

que um norte-americano, ex-combatente no Vietnam e atualmente co


merciante naquele país, pode dizer: "Eu fui tremado para conquistar
países com as armas, mas agora vejo que existe urna forma muito mais
eficaz de o fazef (pp.27s). P. Lernoux em 1988 escrevia: "Desde os
balizados coletivos de indios pelos conquistadores espanhóis no secuto
XVI, a América Latina jamáis tinha visto urna conversao religiosa de tal
magnitude" (p.28). Os Bispos da Bolívia, preocupados, pedem que se
faga algo para deter o caos (p. 440). As pp. 372-384, é descrita a estra
tegia religiosa ou o plano AMANHECER, destinado a difundir o protes
tantismo e torná-lo em breve a religiáo da maioria dos latino-americanos
(a palavra AMANHECER traduz DAWN, que provém da expressáo
Discipling A Whole Nation = Convertendo urna Nagao Inteira).

Em suma, o livro é urna fonte de informagóes muito rica; transmite


dados historiográficos e doutrinários de grande utilidade para quem se
interessa pelo singular fenómeno das novas correntes religiosas.
E.B.
Queé?

O ENEAGRAMA
Em síntese: A femática do Eneagrama aprésenla dois aspectos
bem distintos: o psicológico e o "místico". O aspecto psicológico tem o
valor que os psicólogos julguem dever atribuir-lhe. Nao o discutimos
neste artigo.

O aspecto místico é inconsistente; pode ser dissociado do aspecto


científico ou psicológico. O fato de que correntes de pensamento utili-
zaram o símbolo da estrela de nove ponías e desenvolveram suas idéi-
as religiosas em conexao com esta imagem, nao depóe necessariamen-
te contra tal figura e muito menos depoe contra o sistema psicológico
correlativo.

Nova Era, como amalgama de concepgoes diversas e heterogéne


as, pode incluir em seu leque o símbolo do Eneagrama e as idéias
esotéricas ou panteístas que Ihe sao<associadas pelos "místicos". Nes
te caso, o Eneagrama se toma inacertável para o crista'o, na medida em
que possa sugerir ou incutir panteísmo, magia, reencarnagao... Todavía
mesmo entao o aspecto psicológico conserva a validade que os dentis
tas Ihe atribuem.

O Eneagrama é um sistema de psicología que procura fazerque as


pessoas compreendam a si mesmas e compreendam as outras; para
tanto, indica nove (ennéas) tipos (grámmata, em grego) de personali-
dade; num desses tipos cada individuo se enquadra com maior ou me
nor precisáo. Embora seja um produto de pura psicología, o Eneagrama
tem sido associado a concepcóes religiosas e "místicas" que, aos olhos
de alguns observadores, tornam o Eneagrama espurio ou suspeito de
conivenda com a Nova Era.

Examinemos um e outro dos aspectos do Eneagrama, valendo-nos,


para o aspecto psicológico, da obra de Helen Palmer: Eneagrama. Ed.
Paulinas 1993 (citado como HP).

1. QUE DIZEM OS PSICÓLOGOS?

"O Eneagrama é um antigo ensinamento sufí, que descreve nove


tipos diferentes de personalidade e suas inter-relagoes... Esse
ensinamento pode-nos ajudar a identificar nosso próprio tipo e a lidar
com nossos problemas, a compreender nossos colegas de trabalho,
pessoas amadas, familiares e amigos" (HP, p.23).

450
ENEAGRAMA 19

O Eneagrama ensina a encararos hábitos que geralmente sao con


siderados meramente neuróticos, como pontos de acesso em potenci
al, para estados superiores de consciéncia. Supóe-se que o individuo
possa e deva evoluir para graus de personalidade mais perfeita, de
modo que as tendencias neuróticas podem ser vistas como mestres e
bons amigos que levam o individuo á próxima fase do seu desenvolvi-
mento.

A representacáo dos nove tipos de personalidade se faz mediante


uma estrela de nove pontas envolvida dentro de um círculo. Cada ponta
corresponde a um tipo de personalidade: 1) O Perfeccionista: 2) O Dador;
3) O Desempenhador; 4) O Romántico Trágico; 5) O Obsevador; 6) O
Advogado do Diabo; 7) O Epicurista; 8) O Patráo; 9) O Mediador. Ver
figura abaixo.

O ENEAGRAMA DOS TIPOS DE PERSONALIDADE

O MEDIADOR
Nove
Oito
O PATRÁO
Um
O PERFECCIONISTA

Sete
O EPICURISTA
Dois
O DADOR

Seis ^
Tres
OADVOGADO
'O DESEMPENHADOR
DO DIABO

Cinco
Quatro
O OBSERVADOR
O ROMÁNTICO TRÁGICO

451
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

Cada um desses números pode também representar urna paixáo


1) Raíva; 2) Orgulho; 3) Engaño; 4) Inveja; 5) Avareza; 6) Medo; 7)
Gula; 8) Luxuna; 9) Preguica. '
Eis a desenlio de cada tipo de personalidade:

1) O Perfeccionista é crítico de si e dos outros. Sente-se superior


aos demais. Adía as suas decisóes por medo de cometer um erro Usa
muito os verbos dever e precisar.

2) O Dador é empenhado em satisfazer as necessidades alheias.


Tem muitos eu; mostra um eu diferente a cada bom amigo. Procura ser
amado e apreciado, tomando-se até indispensável a outra pessoa. É
agressivamente sedutor.

3) O Oesempenhador é competitivo, obcecado pela imagem do


vencedor. Procura ser estimado por causa dos servicos que presta; pode
parecer mais produtivo do que de fato é. Sujeito a trabalhar em excesso
e, por isto, sofrer do coracáo, de pressáo alta. É impaciente com aque
les que querem trabalhar em ritmo mais lento.

4) O Romántico Trágico é atraído pelo inacessível; o ideal nunca


é o aqui e agora. Trágico, triste, sensível, concentrado na perda de um
amigo ou num amor ausente.

5) O Observador mantém distancia em relacáo aos outros. De-


fende a sua privacidade, e evita envolver-se. Sente-se esgotado por
compromissos e pelas necessidades alheias. É desligado de pessoas,
sentimentos e coisas.

6) O Advogado do Diabo é medroso, atormentado pela dúvida.


Receia tomar iniciativas, porque isto pode levar a disputas. Identifica-se
com os injusticados; é antiautoritário.

7) O Epicurísta é o diletante, amante volúvel, superficial, aventu-


reiro; gosta de comer bem. É pouco dado a compromissos, pois prefere
manter as opcóes em aberto. Geralmente alegre, estimula o ambiente.
Inicia empreendimentos, mas nao costuma acompanhá-los até o fim.

8) O Patráo é extremamente protetor. Toma a defesa de si mesmo


e dos amigos combativos; assume o controle; nao receia brigar. Tem
suas manifestacóes de raiva e de forca, mas respeita oponentes que
resistam e lutem.

9) O Mediador é excessivamente ambivalente. Considera todos


os pontos de vista. Substituí os próprios desejos pelos desejos alheios
e deixa objetivos concretos para atender a atividades nao essenciais.
Conhece as necessidades alheias melhor do que as próprias. Tende ao
devaneio.

452
ENEAGRAMA 21

Até aquí fala a psicología, sem tocar em filosofía ou religiáo. O


Eneagrama, na medida em que é esta classificacáo, fica no plano das
ciencias experimentáis; há de ser discutido entre psicólogos. Acontece,
porém, que se Ihe atribuem conotacóes de ordem "mística", que o tor-
nam controvertido em ámbito mais ampio, ou seja, em ambientes filosó-
fico-religiosos. Examinemos, poís, o aspecto "místico" do Eneagrama.

2. A "MÍSTICA" DO ENEAGRAMA

A ¡magem da Estrela de nove pontas, que representam os nove


tipos de personalidade, era utilizada pelos muculmanos sufistas, que
professam concepcóes esotéricas. - E que é o sufismo?

O sufismo (do árabe suf, paño de lá, túnica, que os primeiros sufistas
usavam por ascese) é urna correóte de espiritualidade muculmana que
no século X comecou a se opor ao racionalismo e ao formalismo jurídico
de alguns mestres. Teve origem na Pérsia, onde sofreu a influencia das
escolas filosóficas e religiosas que durante séculos antes do Isla ali se
confrontaram, tais como o neoplatonismo, o hinduísmo, o Cristianismo e
o maniqueísmo. O sufismo assim construido procura cultivar o amor a
Deus e a contemplacáo até o éxtase mediante a ascese e a purificacáo
do coracáo. Tal escola de espiritualidade nao deixa de ter seus aspec
tos esotéricos e fantasiosos, que Ihe valeram suspeitas e desconfianca
da parte de outras correntes. A Sra. Dorothy Ranaghan, por exemplo,
afirma que "o sufismo contemporáneo se tornou um misto de panteísmo,
magia e racionalismo, com crenca em telepatía, televiagens, premonicáo,
transmigracáo de almas e negacáo de um Deus pessoal" (texto citado
por Ralph Rath, Nova Era, um Perigo para os Católicos. Ed. Louva a
Deus, Rio de Janeiro, pp. 174s).

Há também quem diga que o Eneagrama corresponde á Arvore da


Vida da Cabala; cf. HP, p.31.

O que o Ocidente sabe de esotérico sobre o Eneagrama, se deve a


George Ivanovtch Gurdjieff, ocultista americano, que viveu na Rússia
de 1877 a 1947. Segundo dizem, Gurdjieff teve grande influencia sobre
o movimento dito New Age (Nova Era). Observa Dorothy Ranaghan:
"Os escritos de Gurdjieff sao cheios de descricóes de influencias plane
tarias, corpos astrais, clarividencia, experiencias telepáticas e explica
res do verdadeiro significado de interesses ocultos como kindalini e
Taró". Para Gurdjieff, o Eneagrama tem poderes secretos nao particu
larmente aliados á tipología da personalidade. "O Eneagrama é um símbo-

453
22 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

lo universal", acreditava Gurdjieff. 'Todo conhecimento pode ser incluí-


do no Eneagrama e, com a ajuda dele, ser interpretado" (textos trans
critos da citada obra de Ralph Rath, pp.174s).

As concepcóes filosófico-religiosas que vém assim associadas ao


Eneagrama, sao devidas a premissas pessoais e subjetivas. Derívam-
se, em grande parte, da "mística dos números" ou do hábito de atribuir
valor qualitativo a certos números - coisa arbitraria, visto que os núme
ros como tais sao qualitativamente neutros. Eis como Helen Palmer em
estilo relativamente sobrio, propóe esse "misticismo" dos números:'

"A estrela de nove pontas mapeia a relagao entre duas leis funda
mentáis do misticismo: a lei do Tres (trindade), que identifica as tres
torgas presentes no inicio de um evento, e a lei do Sete (oitava), que
governa as fases de implementagáo desse evento, a medida que se
desenrola no mundo físico.

A lei do Tres é representada pelo triángulo interno do Eneagrama.


O triángulo transmite a idéia da necessidade de tres torgas para a cria-
gáo, em vez das duas visíveis: causa e efeito. Este conceito está preser
vado na trindade crista do Pai, do Filho e do Espirito Santo, e ñas tres
torgas divinas da criagáo no hinduísmo, as chamadas Brahma, Vishnu e
Shiva. Estas tres torgas também poderiam ser chamadas criativa,
destrutiva e presen/adora, ou ainda, ativa, receptiva e reconciliadora.
Gurdjieff, urna fonte básica do sistema do Eneagrama, as chamava sim-
plesmente torga Um, forga Dois e forga Tres, e fói sua a observagao de
que a humanidade era cega para essa terceira forga" (ob. cu., p.59).

O raciocinio nos diz que 1) o simbolismo dos números é algo de


arbitrario; o número 13, para uns, é de mau agouro, ao passo que, para
outros, é alvissareiro ou de bons presagios'; e 2) dado que o simbolis
mo se fundamente em alguma semelhanca, nenhum número, como tam
bém nenhuma figura geométrica, emite energía criadora ou destruido
ra. Em conseqüéncia, nao há por que temer a presenca de símbolos,
diagramas e gráficos; como tais, nada podem fazer; está claro, porém,
que, se alguém se deixa sugestionar por pretensa eficacia desses si-
nais, está sujeito a se prejudicar, porque está condicionado para se
sentir débil, perseguido, condenado... O símbolo, porém, como tal nao
possui virtude nem benéfica nem maléfica.

1 Cf. PR 27/1960, pp.91-99 e Curso sobre Ocultismo da Escola "Mater Ecdesiae'. Módulo 20.
Para citar um caso apenas, mencionamos o dos Estados Unidos da América: o número 13 era
aS de bom agouro, porque inidalmente eram treze os Estados que constituían! a uniio norte
americana; além <Ssto. o lema da uniSo consta de treze letras (o pluribus unum); a águia
norte-americana está revestida de treze penas em cada asa; Jorge Washington hasteou o
estandarte republicano com urna salva de treze tiros. E pluribus unum = de muitos faz-se
um só.

454
ENEAGRAMA 23

Estes dados permitem passar a urna

3. CONCLUSÁO

A temática do Eneagrama apresenta dois aspectos bem distintos:


o psicológico e o "místico". O aspecto psicológico tem o valor que os
psicólogos julguem dever atribuir-lhe. Nao o discutimos aqui.

O aspecto "místico" é inconsistente; pode ser dissociado do aspec


to científico ou psicológico. O fato de que correntes de pensamento
utilizaram o símbolo da estrela de nove pontas e desenvolveram suas
idéias religiosas em conexáoiíbm essa imagem nao depóe necessaria-
mente contra tal figura e muito menos depóe contra o sistema psicológi
co correlativo.

Nova Era, como amalgama de concepcóes diversas e heterogéne


as, pode incluir em seu leque o símbolo do Eneagrama e as idéias
esotéricas ou panteístas que Ihe sao associadas. Neste caso, o
Eneagrama se torna inaceitável para o cristáo, na medida em que pos-
sa sugerir ou incluir panteísmo, magia, reencarnacáo... Todavía mesmo
entáo o aspecto psicológico conserva a validade que os psicólogos Ihe
atribuem.

O FENÓMENO DAS SEITAS...

O Fenómeno das Seitas Fundaméntatelas, por Florencio Galindo


CM. - Ed. Vozes, Petrópolis 1955, 205 x 135 mm, 533pp.

O autor é um sacerdote colombiano, que se dedicou durante mais


de dez anos ao estudo do avango das seitas nos países latino-america
nos. Escreve a respeito do protestantismo proveniente dos Estados Uni
dos e seus derivados locáis, que tém caráter fundamentalista, ou seja,
rejeitam o estudo científico da Biblia para fixar-se no sentido estrítamen-
te literal da mesma. O Pe. Galindo considera a historia e as característi
cas desse fundamentalismo, que em grande parte se identifica com as
correntes protestantes pentecostais. Merecem relevo as dimensdes da
propagagao dessas correntes como sao postas em evidencia ñas pp.
25-31 do livro: assim o Bispo D. Boaventura Kloppenburg julga que a
passagem de católicos para as seitas atualmente na América Latina é
quantitativamente superior a que se deu na Europa Central do secuto
XVI por ocasiáo da reforma luterana. A Guatemala é o país onde os
protestantes tém aplicado sua estrategia com mais afinco, de tal modo
(continua na pág. 449)

455
O Portentoso explicado:

"ESPIRITISMO. DIMENSÓES
OCULTAS DA REALIDADE?"

por Pier Angelo Gramaglia

Em sintese: O livro de P. A. Gramaglia estuda os fenómenos


mediúnicos ocorrentes no espiritismo, propondo a explicagáo psicológi
ca que as ciencias contemporáneas oferecem. Após expor as concep-
góes antigás segundo as quais tais fenómenos eram causados pelo
demonio ou por espíritos desencamados, o autor mostra que o recurso
ao além é desnecessário, quando se trata de elucidar os portentos do
espiritismo. O presente artigo póe em relevo alguns tópicos salientes da
obra, como sao o culto dos OVNIS, as alucinacóes e a psicopatologia
do espiritismo.

Em nossos dias os fenómenos mediúnicos tém chamado a atencáo


do público com intensidade crescente, interpelando muitos espectado
res mediante portentos, á primeira vista, inexplicáveis pela ciencia.

Existe em Londres urna Spiritualist Association, que gere urna


clínica onde alguns curandeiros curam com métodos mediúnicos cerca
de 500 pacientes por semana. Tendo como base as estatísticas, sábe
se que em 1961 havia na Alemanha cerca de 35.000 curandeiros; na
Franca eles eram 30.000 associados, mas C. Bonnefou, Science et
Magie, revela que, em 1970, somente em Paris prosperavam 40.000
curandeiros ao lado de 5.000 magos. Nos Estados Unidos, já em 1970
falava-se em urna media de 27 curandeiros para cada 100 médicos.
Segundo La Stampa de 30 de marco de 1982, havería cerca de 70.000
magos na Italia, e na cidade de Turim eles somariam 3.000 sessóes
espiritas a cada noite (La Stampa, 17 de fevereiro de 1972). Publica-
cóes periódicas sobre o culto proliferam em toda parte; cada mago fatu-
ra cerca de um milháo de liras por mes e, quando se fala em quiroman-
tes, astrólogos e feiticeiros, calculou-se em 1981 um volume de negóci-

456
"ESPIRITISMO. D1MENSÓES OCULTAS DA REALIDADE?" 25

os na ordem de 900 milhóes de liras (aproximadamente R$ 500.000,00)


por ano.

Em vista dessa expansáo do maravilhoso, PierGramaglia, formado


em Patrología (Literatura crista antiga) pela Universidade de Roma, re-
solveu estudar com especial interesse a fenomenología mediúnica. Dis
to resultou o livro "Espiritismo. Dimensóes Ocultas da Realidade?"1, em
que o autor mostra como a psicología e as ciencias humanas em geral
explicam tais fenómenos, sem recurso ao além ou á intervengo de es pi
ntos desencarnados.

O livro é ricamente documentado e, por isto, muito útil ao público


interessado. Recomenda-se a sua leitura, pois coloca em relevo o enor
me potencial do psiquismo humano, potencial que o espiritismo denomi
na "capacidade mediúnica", como se o médium fosse intermediario en
tre os espirites desencarnados e os viventes deste mundo. O autor tra
ta até mesmo da dermótica, ou seja, da visáo através da pele: urna
pessoa de olhos fechados pode passar os dedos sobre urna superficie
em que haja um desenlio; ela senté calor especial quando percorre os
contomos da figura, de modo que identifica o objeto desenliado sonrien
te pelo tato, mantendo os olhos fechados.

Ñas páginas seguintes, poremos em evidencia alguns dos tópicos


mais significativos da obra. Todavía duas observares previas se im-
póem:

- proporemos os dados como P. A. Gramaglia os transmite em seu


livro, usando geralmente as palavras deste autor, que nem sempre sao
muito claras; nao temos, porém, como elucidar melhor o texto;

- os fatos a que se refere Gramaglia usando verbos de tempo pre


sente, podem ser eventos do passado que já cessaram; também nao
temos como os controlar. Interessa, porém, saber que tais fatos ocorre-
ram e talvez aínda ocorram.

1. O CULTO DOS OVNI

A crenca na existencia de Objetos Voadores Nao Identificados


(OVNIs) e, conseqüentemente, de seres extra-terrestres inteligentes tem-
se desenvolvido a ponto de suscitar um ritual destinado a evocar os
habitantes de outros planetas e obter deles respostas e receitas, pois
sao tidos como muito numerosos e perspicazes. Há mesmo quem admi
ta, entre esses extra-terrestres, a existencia de seres híbridos resultan-

1 Tradugáo de Pier Luigi Cabra. - Ed. Paulus. Sao Paulo 1995, 374pp..13O x 200mm.

457
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

tes do cruzamento sexual de extra-terrestres com os humanos. Há por-


tanto, sessóes mediúnicas ñas quais o médium diz captar mensagens
desses seres aptas a introduzir no mundo uma nova era marcada por
paz e bonanca. Eis o que Pier Angelo Gramaglia registra:

"Entre as associagdes voltadas ao culto dos OVNIs basta lembrar


algumas, entre as quais se deve destacar antes de mais nada a Giant
RockSpace Convention, guiada por G. Van Tassel. Os fiéis reúnem-se
em lugares tidos como cones particularmente receptivos, dispondo-se a
captar mensagens astrais por via telepática; há também quem caia em
transe, depois de cantar hinos junto com os amigos, até o momento em
que um raio de energía, enviado por algum OVNI, entra em sua mente
Os cultos melhores ocorrem as sextas-feiras, á noite. Naturalmente nao
poucos destes fiéis garantem ter tido contatos pessoais com os extra-
terrestres, alguns dos quais perambulariam incógnitos sobre a Térra
para visitaros que acreditam em sua existencia. Famosa é a experien
cia do ítalo-americano Orfeo Angelucci: na noite de 23 de maio de 1952,
ele teye a sorte de encontrar um homem e uma mulher recém-saídos dé
um disco voador e de, logo a seguir, viajar em um mundo paradisíaco,
ouvindo a música das esferas celestes. Naturalmente, os extraterres-
tres prometeram a ele ajudar a humanidade sofredora, chegando mes-
mo a designá-lo como o novo evangelista de tao nobre missao; Angelucci
até casou com uma extraterrestre de nome Lyra, mas nada nos contou
a respeito da noite de nupcias" (p.212).

Existem outras sociedades, norte-americanas em maioria, voltadas


para o contato com pretensos marcianos. Assim

a) a Understanding Intemational, dirigida por D. W. Fry. Este


médium diz ter encontrado um OVNI no deserto; embarcou nele e fez
agradável viagem até Nova lorque, ida e volta, em apenas meia-hora.
Segundo refere, o extraterrestre Alan revelou-lhe que nos discos voa-
dores sobrevivem os remanescentes da populacáo terrestre
supercivilizada que sobreviveu á destruicáo de uma guerra fatal e a
radiacóes aniquilantes; fugiram para Marte em tres naves espaciáis. Os
seres humanos, segundo esta concepcáo, encontraráo sua bem-
aventuranca final viajando em cómodas naves espaciáis de um planeta
para outro.

b) A Amalgamated Flying Saucer Clubs of América é dirigida


por G. Green. que consegue comunicar-se por telefone com os extra-
terrestres, como dizem; estes aparecem em sua casa, muito perspica-
zes e inteligentes. Transmitem a G. Green projetos para eliminar a po
breza e a poluicáo, para resolver os problemas da automacáo, para
financiar os programas públicos sem novos impostos, para elevar o teto

458
"ESPIRITISMO. OIMENSÓES OCULTAS DA REALIDADE?" 27

da media da idade, para fazer-a felicidade aumentar com a expectativa


de poder viajar por entre as estrelas, num clima de amor e servico fra
ternos.

c) A Aetherius Society comecou em Londres, depois de "revela-


cóes" recebidas por G. King no ano de 1954. Este médium dizia receber
visitas de marcianos, como Aetherius, Jesús Cristo e o chinés Goo-Ling
Transferiu-se para Hollywood (U.S.A.), onde os seus seguidores procu-
ravam montanhas sagradas para entrar em contato com discos voado-
res depois de devotas peregrinacóes. G. King julga que o espaco é
percorrido também por Forcas Malignas e devastadoras (Black
Magicians); por isto promoveu cruzadas de oracóes para neutralizar,
mediante contatos com extraterrestres bons, ameacas que pudessem
comprometer a existencia do planeta Térra. G. King descreve as bata-
Ihas cósmicas entre os Poderes das Trevas e a Aetherius Society,
batalhas semelhantes as historias em quadrínhos de guerras ñas estre
las contra seres estranhos que vagueiam pelo espaco, equipados com
todo um arsenal eletrónico em busca de seres malvados que devem ser
derrotados. King comunica pontualmente aos seus seguidores reuni
dos em oracáo os planos militares para enfrentar as forcas cósmicas do
mal e colaborar com as tres Inteligencias Interplaneterias que vivem sobre
a Térra em corpos humanos.

d) O suíco Billy Meier afirma que desde 1975 já teve mais de urna
centena de encontros com os cosmonautas das Pléiades. Foi-lhe reve
lado, como diz, que existem extraterrestres distribuidos em rígida hie-
rarquia celeste: os extraterrestres inferiores sao poderes negativos que
descem sobre a Térra com os seus discos voadores para que os ho-
mens os adorem como divindades. Os homens melhores, ao morrer,
tornam-se marcianos de luxo, ao passo que os que nao alcancaram o
estágio vibratorio adequado sao reciclados para outros planetas mais
baixos do ponto de vista da evolucáo para ali serem reeducados. No
topo da escala estáo os ultraterrestres, seres de luz; estes ensinam,
como os espíritos de algumas sessóes mediúnicas, que Deus é sim-
plesmente "a forca da criacáo, a presenta criadora do universo" e que
a missáo do homem é desenvolver-se sem cessar, a fim de passar a
integrar a tripulacáo dos melhores discos voadores.

Há também quem reproduza em desenhos os habitantes de Marte.


Assim a Sra. Smear, médium de Bostón, apresenta imagens infantis de
roupas compridas e chapéus de abas largas na cabeca, de acordó com
o padreo norte-americano. Outra vidente produziu escritos e desenhos
marcianos bem como um disco com um canto de amor marciano. Aínda
outra senhora, urna vez por mes, em coincidencia com as fases da Lúa,
diz comunicar-se em estado de transe com o planeta Marte. Acontece,

459
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

porém, que visionarios desse tipo foram parar no manicomio em mais


de um caso.

Na Italia Germana Grosso acredita estar em cotidiano contato tele


pático com os extraterrestres; recolhe-se em meditacáo criando em si o
vazio mental para ouvir melhor as mensagens telepáticas provenientes
de um suposto mestre tibetano a narrar facanhas de etruscos, dos egip
cios e dos atlántidas, sobre a superficie do planeta Júpiter; além disto,
refere ela que existem na Térra, escondidas em bases secretas dentro
de montanhas ou de océanos, sentinelas cósmicas, prontas para inter-
vir quando os homens turbulentos estáo prestes a cometer erras
irreparáveis; Germana viu seres extraterrestres de estatura elevada e
cábelos louros, que andam como desconhecidos pelas rúas das cida-
des, principalmente na Suécia e na Noruega, mas também em Turim
(onde vestem casacos de pele artificial); garante que canarios, faisóes
e golfínhos sao fauna importada de outros planetas; chega mesmo a
desenriar , sob impulso telepático, depois de os considerar durante al-
guns dias, personagens e paisagens astrais. Cf. G. Dembech, Torino,
Cittá Mágica. Settimo Torinese 1981, p. 13.

J. M. Schiff, L'áge cosmiqueaux U.S.A., París 1981, pp.180-187,


garante que a Lúa é urna embarcacáo metálica avahada, sobre a qual
trabalham extraterrestres, que desceram de seus discos voadores, e
muitos milhóes de homens, para lá transportados pelos americanos e
pelos soviéticos a fim de explorar os recursos minerais!

Segundo muitas das mensagens de extraterrestres, os habitantes


da Térra sao selvagens quando comparados com os povos dos demais
planetas, pois aínda se servem de dinheiro como mercadoría de troca;
os seres do além já alcancaram urna economía baseada exclusivamen
te sobre a responsabilidade e a sinceridade ñas relacóes entre produ-
tores e consumidores.

Após referir todos estes casos, Gramaglia julga, com Ernst Bens,
que vém a ser a resposta do inconsciente coletivo (como diría Cari Gustav
Jung) as ameacas e angustias que a humanidade contemporánea vem
sofrendo; as receitas trazidas por marcianos á Térra indicariam a salva-
cáo que nenhum líder da humanidade atual está encontrando; a pers
pectiva de viajar pelo espaco e habitar em outros planetas é urna con
sol acáo para quem senté que a vida na Térra corre serios perigos:

"A idéia de poder viajar em naves astrais satisfaz á necessidade de


ter garantida a possibilidade de sobrevivencia em urna nova arca de
Noé, no caso de urna cada vez mais provável autodestruigáo nuclear"
(P- 219).

460
"ESPIRITISMO. DIMENSÓES OCULTAS DA REALIDADE?" 29

2. ALUCINAQÓES

Alucinacáo é percepcáo produzida de dentro para fora, sem que


algum objeto fora do sujeito provoque tal percepcio. Pode haver aluci-
nacóes da vista, da audicáo, do olfato, do paladar ou mesmo do tato.
Ocorrem mais freqüentemente em pessoas doentes, mas verificam-se
também em pessoas sadias.

É muito interessante, por exemplo, o caso do aviador norte-ameri


cano Charles Lindbergh (1902-1974), o primeiro a atravessar o Atlánti
co num percurso de 24 horas continuas de vóo. Foi vítima, repetidas
vezes, de alucinacóes por causa do profundo cansaco. Enquanto era
vencido pela soñolencia, o subconsciente reagia com chamados auto
máticos, porque adormecer significaría morte certa. Comecou a ver so
bre a fuselagem, atrás dele, figuras humanas como espectros; via-as
sem virar a cabeca, como se todo o seu cránio se tivesse tomado um
grande olho, capaz de olhar para todos os lados; tais figuras, com es-
tranhas vozes, podiam ser interpretadas como espíritos amigos que vi-
nham guiar o vóo e encorajá-lo. Na realidade, porém, eram projecóes
do instinto de autoconservacáo, elaboradas de forma alucinatóría pelo
subconsciente, enquanto o aviador se encontrava em estado dissociado
por excesso de cansaco; cf. p. 35s.

Conta-se também que na primeira metade do século XX houve urna


auténtica epidemia de experiencias paranormais no castelo de Versailles
perto do Trianon (Franca). Dezenas de turistas ingleses caíram em transe
durante a visita ao famoso castelo; tiveram entáo a alucinante sorte de
rever toda a corte de Luís XVI com María Antonieta e seus jardineiros
que lá viveram por volta de 1770; cf. p. 38.

Estes fatos tém seus paralelos na vida contemporánea, quando


certas pessoas dizem ver a imagem de um párente ou amigo(a)
falecido(a)...; parecem ver com tanto realismo que difícilmente acredi-
tam numa explicacáo parapsicología. Em tais casos, o inconsciente fun
ciona projetando ¡magens que Ihe sao sugeridas pelas saudades, pelo
medo, pela expectativa preconcebida... A pessoa, ignorando esse jogo
de forcas psíquicas (que certamenté sao poderosas), julga estar sendo
visitada por um espirito do além; perturba-se e procura responder de
algum modo a tais "visitas" - o que mais aumenta seu estado emocio
nal:.. Atualmente a ciencia explica tais fenómenos de maneira plausível,
de modo que é oportuno dizé-lo ao grande público.

Em relacáo com esta temática está o subtítulo seguinte:

461
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

3. A PSICOPATOLOGIA DO ESPIRITISMO

P. A. Gramaglia colheu na vasta bibliografía respectiva noticias so


bre as conseqüéncias daninhas da pratica espirita. Eis alguns dos tópi
cos apresentados:

Muitos médiuns foram levados ao esgotamento nervoso por ter


abusado dos procedimentos necessários para entrar em transe. Entre
esses procedimentos, está a cisáo da personalidade: o médium julga
que outra pessoa vai falar ou fala por ele; além do seu eu, haveria o eu
do espirito desencarnado a manifestar-se mediante o médium; este pode
crer que está possuído por um ser do além. Ora tal desdobramento ou
duplicacáo ficticia da personalidade nao pode deixar de ter conseqüén
cias daninhas para o médium. Os procedimentos utilizados nessas ses-
soes espiritas para a pretensa comunicacáo com os morios podem abrir
o caminho para o histerismo, para a obnubilacáo (obscurecimento) da
mente, para a aceleracáo de ataques epiléticos e para modalidades
graves de obsessáo (obsessáo que consiste em adotar os traeos típi
cos de pessoas defuntas: vozes, expressóes, escrita...).

Alguns médiuns foram arrestados até a loucura e a morte, precedi


das, as vezes, por impulsos criminosos, por alteracáo da consciéncia ou
da memoria e por manías.

Além dos disturbios mentáis, houve casos de morte repentina,


provocada por falsa revelacáo de acontecimentos trágicos; dando cré
dito a essas pretensas revelacóes, muitos clientes do espiritismo se
deram por vítimas e sofreram as fatais conseqüéncias deste
sugestionamento.

Muitos espiritas usaram amplamente o recurso ao copo ou á


mesinha mediúnica (que se movem respondendo as interrogacóes dos
consulentes) a fim de conhecer os cávalos que deveriam vencer ñas
corridas ou os números sorteados da lotería. No caso de previsóes er
radas, os médiuns (ou "os espíritos" propulsores do copo ou da mesa)
sempre se saíram muito bem, alegando, como desculpa, a interferencia
de circunstancias imprevisíveis, que modificam seus prognósticos.

Em suma, o livro oferece muitos outros resultados das pesquisas


da psicología moderna, que dissipam a crenca em intervencóes do além
nos fenómenos ditos "mediúnicos". É o que toma recomendável e valio
sa a obra em foco.

462
Best-seller:

"VOCE PODE CURARIHJA VIDA"

por Louise L. Hay

Em síntese: Louise L Hay propóe um conceito psicossomático de


doengas e desgragas. Julga que a cura das mesmas está em rejeitar
todo pensamento pessimista e cultivar o amor do individuo a si mesmo.
Expóe suas idéias dentro dos parámetros da doutrina do panteísmo, da
reencarnagáo e do holismo (inspirado pela corrente da Nova Era).'

A autora nao se engaña quando afirma a origem psíquica de muí-


tas molestias humanas, mas exagera. Mais: o reconhecimento das pró-
prías faltas, numa perspectiva crista, é salutar e nao mórbido (como
pensa Louise Hay), desde que colocado sob a luz da Redengao ofere-
cida por Jesús Cristo. A autora diz terse beneficiado das sessóes da
Igreja da Ciencia Crista; dai a exposigáo do que seja esta corrente de
pensamento no seguinte artigo deste fascículo.

A Sra. Louise L Hay publicou famoso livro intitulado "Vocé pode


curarsua Vida"1, queja ultrapassou 41 edicóes e procura ensinar"como
despertar idéias positivas, superar doencas e viver plenamente" (subtí
tulo do livro). A contracapa do volume observa: "Um sucesso de um
milháo de exemplares da maior pensadora americana da Nova Era",
"um livro indispensável para todos os que desejam alcancar um modo
de vida mais pleno, consciente e equilibrado".

A seguir, examinaremos as linhas-mestras da obra e Ihes tecere


mos alguns comentarios.

1. A MENSAGEM DO LIVRO

1. A autora julga que as doencas físicas e mentáis resultam de más

1 Editora Best-seller, SSo Paulo, sem dala de pubticagSo no Brasil. O original inglés dala de
1984 e foi traduzido para o portugués por Evelyn Kay Massaro

463
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

disposicóes do nosso psíquico. Quem culpa a si mesmo, quem nao se


estima, provoca molestias de varios tipos, de modo que a cura deve ser
obtida pela execucáo de urna ordem muito simples: "Pego ao cliente que
pegue um espelho pequeño, olhe bem nos olhos, diga seu nome e de-
pois: 'Eu o amo e aceito exatamente como vocé é'" (p.39).

Louise L. Hay comenta:

"O trabalho com o espelho é muito poderoso. Quando enancas,


recebemos a maioria das mensagens negativas de outros, que nos olha-
vam bem no olho, talvez sacudindo um dedo para nos. Hoje, quando a
maioria de nos se olha no espelho, diz algo negativo, quer criticando
sua aparéncia, quer menosprezando alguma atitude. Olhar-se bem no
olho e fazer urna declaragáo positiva sobre si mesmo é, na minha opi-
niáo, o modo mais rápido de se conseguir bons resultados com afirma-
góes" (p.69).

A autora repete muitas vezes a sua tese:

"Precisamos escolher nos libertar do passado e perdoar a todos,


inclusive a nos mesmos. Talvez nao saibamos como perdoar, e talvez
nao queiramos perdoar. Porém, o simples fato de dizermos que estamos
dispostos a perdoar dá inicio ao processo de cura . Para nossa própria
cura, é imperativo que nos nos libertemos do passado e perdoemos a
todos" (p.25).

"Se somos todos 100% responsáveis portudo o que existe em nos


sa vida, nao temos a quem culpar. Seja o que for que esteja acontecen-
do la, é apenas um refíexo dos nossos próprios pensamentos interiores.
Nao estou defendendo o mau comportamento dos outros, mas sao nos-
sas crengas que atraem pessoas que nos tratam assim" (pp.23s).

O pensamento cría as situacóes:

"Todos os eventos que vocé experímentou em sua vida até este


instante, foram criados pelos pensamentos e crengas que manteve no
passado. Eles foram criados pelos pensamentos e palavras que vocé
usou ontem, na semana passada, no mes passado, no ano passado, há
10, 20, 30, 40 anos ou mais, dependendo da sua idade.

Entretanto, esse é o seu passado e ele já acabou; nao pode ser


modificado. O importante neste momento é o que vocé está escolhendo
pensar, acreditar e dizer agora. Esses pensamentos e palavras criarüo
seu futuro. Seu ponto de poder está no presente instante e está for
mando as experiencias de amanhá, da semana que vem, do mes que
vem, do ano que vem etc." (p.21).

¿64
"VOCÉ PODE CURAR SUA VIDA" 33

A própria autora diz ter sofrido de cáncer, que ela conseguiu supe
rar pelo pensamento otimista:

"Procurei um bom nutricionista para me auxiliar na limpeza e


desintoxicagáo de meu corpo, prejudicado por todas as comidas inade
cuadas que eu ingerirá ao longo dos anos. Aprendí que elas se acumu
lan) e criam um corpo cheio de toxinas, tal como os pensamentos inade-
quados se acumulam e criam urna mente intoxicada. Foi-me recomen
dada urna dieta muito rígida, constituida quase só de hortaligas. No
prímeiro mes, fíz lavagens intestinais tres vezes por semana.

NSo fui operada. Como resultado dessa completa limpeza física e


mental, seis meses depois de ter ouvido o diagnóstico conseguí que os
médicos concordassem com o que eujá sabia - eu nao tinha mais nem
sinal de cáncer! A essa altura, eu sabia por experiencia própria que a
doenga pode ser curada, se estamos dispostos a mudar o modo como
pensamos, acreditamos e agimos!" (pp.240s).

2. Louise L Hay professa o panteísmo1: "Eu sou uno com o Poder


que me criou, e esse Poder me deu o poder de criar minhas próprias
circunstancias" (p.16); "O Universo nos apoia totalmente em cada pen
samento que escolhemos ter e acreditar" (p.18).

3. O panteísmo está geralmente associado á tese da reencarna-


cáo, que Louise Hay também professa:

"Cada um de nos decide encamar neste planeta em pontos espe-


cifícos no tempo e no espago. Escolhemos vir para cá com o intuito de
aprender urna ligáo em particular, que nos fará avangar no nosso cami-
nho espiritual, na nossa evolugáo. Escolhemos nosso sexo, cor, país, e
entao procuramos o casal especial que refletirá o padreo que estamos
trazendo conosco para trabalhar durante esta vida. Entao, quando cres-
cemos, geralmente apontamos um dedo acusador para nossos pais e
choramingamos: ' Voces me fizeram isso'. Porém, na verdade, os esco
lhemos porque eles eram períeitos para a tarefa que queríamos execu-
tar nesta existencia" (pp.20s).

4. Louise Hay filiou-se á corrente de pensamento dita "Ciencia Cris


ta", que precisamente propóe a cura de molestias mediante otimismo
religioso (ver artigo seguinte deste fascículo).

1 O panteísmo 6 a doutrina segundo a qual ludo (pan) é a Divindade ((heos): o mundo, o


homem e a Divindade seriam urna só grande reatidade.

465
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

É também apresentada como adepta da Nova Era, que ensina a


cura holística, ou seja, a cura do físico pelo psíquico, já que o ser huma
no é tido como um grande e único todo (holon, em grego).

A medicina holística visa a reequilibrar as energías do organismo


perturbadas pela molestia. Dai o recurso a

exercícios físicos, como ioga, trampolim, natacáo, andar, dancar,


passear de bicicleta, esportes em geral;

nutricáo. dietas, macrobiótica, ervas naturais, vitaminas,


homeopatía;

terapias alternativas: acupuntura, acupressura, reflexologia, tera


pia do colon;

técnicas de relaxamento: respiracáo profunda, sauna, banhos


(imersáo), música;

técnicas psicológicas: vísualizacáo profunda, meditacáo, amor a si


mesmo, psicodrama, terapia de vidas passadas, programacáo
neurolingüística...

Pergunta-se agora:

2. QUE DIZER?

1. Antes do mais, observamos que o principio segundo o qual o


físico depende do psíquico é válido. As doencas sao, muitas vezes,
psicossomáticas, ou seja, derivadas de um estado de ánimo tenso é
passional. Por isto também sao curadas mediante urna psicoterapia ade-
quada. Até mesmo as molestias mais graves podem ser, ao menos em
parte, debeladas por concepcóes mentáis esperanzosas e confiantes.
A neurolingüística explora a influencia do psiquismo sobre o somático,
com bons resultados, tendo conseguido remover obstáculos á saúde e
ao bom desempenho de seus seguidores.

Todavía Louise L. Hay exagera ao afirmar este principio


psicoterapéutico. A esperanca e o amor a si próprio nao conferem po
deres ilimitados. O otimismo de Louise L. Hay se deve ao seu panteísmo:
o ser humano seria um nó da rede do universo, de modo que poderia

466
"VOCÉ PODE CURAR SUA VIDA" 35

exercer atividades divinas se se abrisse devidamente á Divindade, que


flui por essa rede. É de notar, alias, que a autora, embora se diga
frecuentadora da Igreja da Ciencia Crista, nao menciona urna só vez
Cristo, a graca e a redencáo oferecidas pelo Senhor Jesús. O individuo
humano vem a ser o seu próprio salvador mediante o recurso as técni
cas psicológicas e físicas indicadas pelo holismo.

2. Na perspectiva do Cristianismo, o sentir-se pecador nao é um


mal a ser repudiado; é, sim, o reconhecimento da verdade. Sao Joáo
nos diz que quem afirma nao ter pecado, é mentiroso (cf. Uo 1,8; 2,4).
Todavía o reconhecimento sincero das próprias faltas nao deve ser
acabrunhador. S. Agostinho exorta o pecador a conceber a dor do seu
pecado e a alegrar-se por ter concebido o arrependimento; com efeito,
arrepender-se é sinal de que a graca de Deus trabalha no pecador e o
conduz á conversáo. Por isto também S. Ambrosio afirma que "pecar é
comum a todos os homens, mas arrepender-se é próprio dos Santos"
(Apologia de Davi II 5-6). Seria falso amar a si mesmo, esquecendo
que cada qual tem suas falhas e que o reconhecimento sincero do pe
cado nobilita e engrandece o ser humano. Somente a fé em Deus,... em
Deus que ama o homem, embora este seja pecador, pode mostrar o
valor da contri930; esta nao esmaga, porque o Salvador declarou explí
citamente que "nao sao os que tém saúde que precisam de médico; nao
veio chamar justos, mas pecadores" (Mt 9,12s). Sem a fé no Deus da
Revelacáo, torna-se angustiante a recordacáo das próprias faltas, e o
remedio que se Ihe propóe (como faz Louise Hay) é falho.

3. A medicina alternativa proposta pelo holismo é válida na medida


em que a ciencia a a prova, como de fato a tem aprovado. Louise Hay se
prende á nova Era nao somente pelo holismo, mas também, e principal
mente, pelo seu conceito de Deus panteísta (o Universo) e sua tese
reencamacionista.

Quanto á Ciencia Crista, que a autora freqüentou, é escola religio


sa ocidental, derivada do Cristianismo; também ensina a considerar as
doencas como efeitos do psiquismo e da espiritualidade desajustados
no ser humano. Visto que é pouco conhecida entre nos a Ciencia Cris
ta, segue-se no próximo artigo breve apresentacáo da sua mensagem.

467
"Ciencia" e "Mística":

E A CIENCIA CRISTA: QUE É?

Em síntese: A Ciencia Crista tem por fundadora a Sra. Mary Baker


Eddy, nascida nos Estados Unidos em 1821 e íá falecida em 1910.
De constituigao nervosa, a Sra. Mary Baker sofreu de dores na es-
pinha durante grande parte da sua vida. Foi certa vez consultar o Dr.
Phineas Quimby, mesmeriano, que Ihe incutiu a tese de que as curas
físicas se obtém por forgas mentáis ou por infíuxo da mente sobre o
corpo do paciente. A Sra. Mary Baker Eddy deu a tal doutrina um rótulo
cristéo, afirmando que a fé em Cristo e a oragao realizam curas de doen-
gas corporais... A esta afírmacáo básica se associam algumas proposi-
gdes de teología fantasista, que constituem a síntese da chamada "Ci
encia Crista". Esta tem caráter fortemente panteísta; nega a realidade
da doenga e do pecado, de tal modo que o adepto da Ciencia Crista é
exortado a crer que esses males n§o existem e, conseqüentemente, a
libertarse da impressáo que eles causam sobre o sujeifo! - A seita da
Sra. Mary Eddy acrescenta á Biblia o livro da fundadora chamado
"Science and Health" (Ciencia e Saúde), que é mesmo mais valorizado
pelos "dentistas" do que a própria Escritura Sagrada.

Proporemos as origens da Chrístian Science e as principáis dou-


trinas professadas por essa denominacáo.

1. CIENCIA CRISTA: ORIGENS

A fundadora da Chrístian Science é a Sra. Mary Baker, nascida


aos 16 de julho de 1821 em Bow, Estado de New Hampshire (U.S.A.).
Pertencia a familia protestante da denominacáo congregacionalista, que
a educou na fé dessa denominacáo. Era enanca de tempera forte e ca
ráter nervoso. Por volta dos doze anos de idade, alimentava discussóes
com seu pai sobre religiáo - o que a prostrava murtas vezes no leito. Em
certa ocasiáo, depois que os socorros médicos haviam falhado, sua máe
conseguiu restaurar-lhe a saúde mediante calma sugestáo.
Dizia a Sra. Mary Baker que, aos doze anos de idade, ela refutava

468
E A CIENCIA CRISTA: QUE É? 37

os mais velhos da Igreja Congregacionalista em Tilton, N. H. Dizia tam-


bém que seu irmáo Alberto Ihe ensinara hebraico, latim e grego - o que
é sujeito a dúvidas por parte dos biógrafos.

Em 1843, Mary casou-se com o coronel Glover, que morreu de fe-


bre seis meses depois. Após a morte do marido, teve um filho, a quem
nao conseguiu dedicar afeicáo; nao podía suportar o menino perto de si,
embora os familiares insistissem em que Mary exercesse suas fungóes
maternais.

Em 1853 casou-se pela segunda vez com um dentista chamado


Daniel Patterson. Todavía divorciou-se, alegando infidelidade do mari
do.

A Sra. Mary Baker sofría de um mal de espinha, que a afetava nao


só física, mas também mentalmente. Esta molestia a acompanhou du
rante grande parte de sua vida, prejudicando tanto o primeiro como o
segundo matrimonio. Em 1862 resolveu consultar o famoso Dr. Phineas
Quimby em Portland, Estado de Maine, que seguia a escola do Dr. Charles
Poyen, célebre mesmerista1. A Sra. Mary Patterson passou horas a fio
com tal médico; este Ihe dizia nao acreditar em remedios farmacéuticos,
mas admitir a cura de doencas físicas mediante a correcáo dos erros
mentáis correspondentes a tais molestias; a dissipacáo do erro mental e
a posse da verdade redundariam em cura física da paciente. Rejeitando
produtos farmacéuticos, o Dr. Quimby introduziu a cliente em estado de
sonó mesmérico; mediante essa terapia, a Sra. Patterson deu-se final
mente por curada. Discutía com o médico os ensinamentos e métodos
por ele aplicados; acabou felicitando-o pelos resultados obtidos, resul
tados, porém, que a Sra. Patterson atribuía nao ao mesmerismo, mas "á
compreensáo profunda que o Dr. Quimby tinha da verdade trazida por
Cristo".

As doutrinas e práticas do Dr. Quimby marcaram profundamente o


espirito da Sra. Patterson, que os foi incorporando á síntese que mais
tarde veio a ser chamada "Ciencia Crista". Escreveu posteriormente a
Sra. Mary Patterson:
"Foi depois da morte de Quimby que descobri, em 1866, os Zatos

'Fra/iz Antón Mesmer (t 1815) era um médico alemSo que pretendía ter descoberto no ImS o
remedio para todas as doencas. Todo ser vivo possuiria um fluido magnético misterioso
capaz de passar de um individuo para outro, estabelecendo influencias reciprocas e curas.
Posteriormente os pesquisadores identiñcaram o "magnetismo animal" com o hipnotismo.

469
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

importantes relacionados com o espirito e com a superiorídade deste


sobre a materia, e denominei 'Ciencia Crista' a minha descoberta".

Por certo, a fundadora da Ciencia Crista aprendeu do Dr. Quimby a


eficacia dos poderes da mente sobre a materia e o corpo.

Em 1866, a Sra. Patterson caiu sobre o gelo em Lynn, Massasuchetts.


Sentiu-se entáo "milagrosamente" curada de seus sofrimentos. O episo
dio foi divulgado com o título de "a queda milagrosa de Lynn" e é tido
como o milagre básico da Ciencia Crista. A Sra. Patterson referia que o
Dr. Cushing, após a queda, a achou insensível, sofrendo de varias le-
sóes internas, que provocavam espasmos e sofrimentos internos... "O
Dr. Cushing declarou incurável o meu mal, e disse que eu nao poderia
sobreviver tres días". - Eis, porém, que o próprio Dr. Cushing, ainda vivo
em 1907, foi consultado sobre tal declaracáo, e respondeu nestes ter
mos:

"Nunca fíz semelhante declaragáo. Achei a paciente muño nervosa,


em parte inconsciente, semi-histérica, e queixando-se de forte dor atrás
da cabega e do pescogo. Tratei-a e nao me surpreendi com o seu
restabelecimento. Na ocasiáo ninguém falou de cura milagrosa'1.

Depois de curada "milagrosamente", a Sra. Mary comecou a ensi-


nar os seus métodos de "Ciencia Crista", cobrando trezentos dólares
por sete licóes. Escreveu a mesma: "Fui levada a pedir trezentos dólares
em virtude de estranha Providencia. Deus mostrou-me de múltiplos mo
dos a sabedoria desta decisáo". A fundadora da "Ciencia Crista" morreu
deixando perto de tres milhóes de dólares!

Em 1875, a Sra. Mary publicou o manual de seus conhecimentos


com o título "A Ciencia e a Saúde, com Chave para as Escrituras"
(Science and Health, with Key to the Scriptures). Um ano depois
fundou a primeira Associacáo da Ciencia Crista.

Em 1877, casou-se, pela terceira vez, com o Sr. Asa Gilbert Eddy,
vendedor de máquinas de costura, a quem ela conferiu o título de Dou-
tor, tornando-se assim Mrs. Dr. Eddy.

Embora contasse 56 anos de idade, os documentos de seu casa


mento assinalavam-lhe a idade de 40 anos.

Por mais de trinta anos, a Sra. Eddy ainda trabalhou com extraor
dinaria energía. Em 1882, o falecimento de seu esposo constituiu dura

470
E A CIENCIA CRISTA: QUE É? 39

provacáo para os adeptos da "Ciencia Crista". Com efeito, perguntava-


se por que a própria Sra. Eddy nao o pudera curar... - Na verdade,
quando o marido adoeceu, a Sra. Eddy chamou o Dr. Noyes, um dos
principáis médicos de Bostón. Este diagnosticou enfermidade do cora-
cáo; a Sra. Eddy recusou o diagnóstico, e afirmou estar o seu esposo
envenenado por arsénico mentalmente administrado por espiritos maus
e inimigos! Todavía a autopsia realizada sobre o cadáver do Sr. Asa
Gilbert Eddy acusou disturbio valvular do coracáo e nenhum vestigio de
arsénico. A Sra. Eddy negou também esse resultado da pericia dos mé
dicos.

Aos 2 de dezembro de 1910, com a idade de 89 anos e meio, fale-


ceu a Sra. Mary Baker Eddy, como todos os seres humanos falecem,
apesar da doutrina da fundadora segundo a qual "Deus é Tudo, Oeus é
vida; portante a doenca e a morte nao existem". A Sra. Eddy negava a
realidade da doenca e da morte - tese esta que era fundamental para
todo o sistema da "Ciencia Crista". Como dito, a fundadora deixava tres
milhóes de dólares.

O Reitor do New College (Oxford), H. A. L. Fisher, resumiu nestes


termos a figura da Sra. Eddy:

"Foi urna estudiosa da Biblia, sincera, embora inteiramente aerifica;


foi a muiher de tres maridos, que escreveu um 'best-seller1, e morreu
deixando perto de tres milhóes de dólares" (Out New Religión;.

A Sra. Eddy tinha elevado conceito de sua missáo, a ponto de es-


crever:

"Ninguém pode tomar o lugar da Virgem María, o lugar de Jesús


Cristo, o lugar da autora de 'Ciencia e Saúde', a descubridora da 'Cien
cia Crista' " (Retrospection and Introspection, p.7O)

Exigía de seus adeptos que acreditassem nela como acreditavam


em Jesús Cristo e que aceitassem o seu livro "Ciencia e Saúde" como
urna nova revelacáo paralela á Biblia Sagrada. Nos seus escritos ela se
apresenta como a muiher maravilhosa, chamada a salvar os seus seme-
Ihantes detidos ñas garras da morte.

"Curei a difteria tubercular maligna e ossos cariosos que cediam á


pressao do dedo, salvando-os quando os instrumentos do cirurgiáo se
achavam sobre a mesa prontos para efetuar a amputagáo. Curei em

471
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

urna visita um cáncer que tinha corroído de tal forma a carne do pescogo
que a veiajugular fícava exposta a ponto de sobressair como urna corda"
(New York Sun, 19/12/1898, conforme citagáo de Martín and Klann).

Vejamos agora em síntese

2. A MENSAGEM DA CIENCIA CRISTA

A Sra. Eddy foi mulher de pouca instruyo e urna autodidata, que se


¡nteressou por problemas postas muito além do seu alcance. Em conse-
qüéncia, o seu livro "Ciencia e Saúde" se apresenta confuso, embora
tenha passado por edicóes sucessivas e "melhoradas". O sucesso da
fundadora da "Ciencia Crista" deve-se, em grande parte, ao fato de que
suas afirmacóes confusas e constantemente repetidas deixavam em cer-
tos leitores a impressáo de ser profundas e altamente científicas. O es
tudioso que leia objetivamente tais escritos, verifica neles o gosto pelas
divagacdes ilógicas, de tal modo que se pode resumir em algumas pro
posites o contéudo da mensagem da Sra. Eddy.

1. A Ciencia Crista professa o panteísmo, afirmando que Deus é


Tudo, e é o Bem Onipotente; portanto, tudo o que nao é Deus, deixa
simplesmente de possuir realidade objetiva.

Deus, a Verdade e a Saúde representan! a única realidade:

"Se Deus ou o Bem é real, entáo o mal, a dissemelhanga de Deus é


irreal" (Science and Health, edigáo de 1910, p. 470).

"O mal nao tem realidade. Nao é nem pessoa, nem lugar, nem coi-
sa, mas simplesmente urna crenga, urna ilusao do senso material" (ib. p.
71).

2. Se o mal existe sob múltiplas formas (espirítuais e físicas), cer


cando constantemente o homem, a Sra. Eddy o explicava admitindo a
"Mente Mortal", ou seja, um principio que existe em oposicáo a Deus e
ao Bem. Essa Mente está repleta de erros, devendo ser-lhe atribuido
todo aparente mal. Ao admitir isto, a Sra. Mary Eddy caia em contradicáo
consigo mesma (admitindo algo fora de Deus); mais precisamente, caia
no dualismo maniqueu, atríbuindo o mal a um Principio independente de
Deus e antagónico ao Senhor Deus. Visto que o mal tem por causa a
Mente Mortal, ele deve ser debelado nao por remedios, mas pelo racio
cinio e a fé.

472
E A CIENCIA CRISTA: QUE É? 41

3. O pecado e o sofrimento nao tém existencia física; devem ser


banidos por um processo de "pensar corretamente".

A alma humana é algo de divino; ora o que é divino, nao pode pe


car; logo a alma humana nao pode pecar.

4. A materia nao tem realidade em si mesma ou por si mesma: "Nao


há vida, verdade, inteligencia ou substancia na materia. Tudo é Mente
Infinita". A materia parece ser, mas nao é.

Em conseqüéncia, a obesidade é uma "crenca adiposa". "Nao te


mos auténtica evidencia de que o alimento sustente a vida, mas apenas
uma falsa evidencia disso".

Também a medicina e os remedios nao preservam a saúde do cor-


po. As curas se obtém por via mental, isto é, pela fé e pela oracáo tanto
do enfermo como daqueles que Ihe assistem (principalmente os minis
tros categorízados da Ciencia Crista).

5. A oracáo nao é propriamente um diálogo com Deus: "O mero


hábito de pleitear com a Mente Divina como se pleiteia com um ser hu
mano perpetua a crenca em Deus como humanamente circunscrito"
(Science and Health, p.2).

Por isto a oracáo tem sentido e é eficaz na medida em que ela exer-
ce efeito sobre a mente do orante, fazendo-a atuar mais poderosamente
sobre o corpo:

"As petigóes trazem aos moríais somente os resultados da própria


fé do mortal" (Science and Health, p.11).

"O efeito benéfico da oragao para os doentes é sobre a mente hu


mana,... é uma crenga expulsando outra" (Science and Health, p.12).

Assim a religiáo na Ciencia Crista vem a ser um sistema


psicoterapéutico organizado segundo as linhas gerais de uma socieda-
de religiosa. A intencáo originaría da Sra. Eddy era apenas a de obter
curas mediante a fé e a oracáo (= instrumento psicoterapéutico).

Escreve aínda a Sra. Eddy:

"Dizeis que um tumor é doloroso. Mas isto é impossível, pois a ma


teria sem a mente nao é dolorosa. O tumor simplesmente manifesta, por
meio da infíamagáo e da inchagao, uma crenga na dor, e esta crenga é
chamada tumor. Ora administrai mentalmente ao vosso paciente uma

473
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

alta dose de Verdade, e esta logo curará o tumor" (Science and Health,
p. 153).

6. Ainda segundo a Sra. Eddy, a pobreza é um mal como a doenca;


por isto pode ser curada pelo reto pensar. Em sua primeira edicáo de
Science and Health, a autora dizia que tal livro oferecia oportunidade
para se adquirir uma profissao pela qual se pode acumular uma fortuna!

7. Quanto á morte, é "ilusáo, a mentira da vida na materia; é o irreal


e a inverdade" (Science and Health, ed. de 1910, p.584):

"Aquilo que aos sentidos parece morte, é apenas uma ilusao mor
tal, pois, para o verdadeiro homem e o verdadeiro universo, nao existe
processo mortal" (ib.289).

"Os discípulos acreditavam que Jesús esteva morto enquanto esta-


va oculto na sepultura, ao passo que Ele estava vivo, demonstrando den
tro do estreito túmulo o poder do Espirito para sobrepor-se ao senso
mortal e material" (ib. p.44).

A morte nao pode sobrevir a quem nao creia na realidade déla.

8. Ainda a respeito de Deus, a Sra. Mary Baker Eddy escreveu:

"V/da, Verdade e Amor constituem a Pessoa trina chamada Deus,


ou seja, o Principio triplamente divino, o Amor..., o mesmo em esséncia,
embora multiforme em suas fungóes: Deus, o Pai-Máe; Cristo, a idéia
espiritual de filiagáo; Divina Ciencia ou Santo Consolador" (ib. p.331).

Em sintese, a fundadora da Ciencia Crista negou a SS. Trindade,


como se equivalesse a politeísmo. Concebía Deus como sendo uma só
Pessoa com facetas diferentes: Pai-Máe, Filiacáo e Ciencia Crista! Por
isto também ela modificou a invocacáo inicial da oracáo dominical, mu
dando o "Pai Nosso" em "Pai-Máe, Deus nosso"!

9. No tocante a Jesús Cristo, as idéias de Mary Eddy sao extrema


mente confusas. Em sintese, Jesús terá sido uma idéia de Deus mani
festada em um ser humano dotado do nome "Jesús". A segunda vinda
de Jesús de que falam as Escrituras (cf. At 1,11), é entendida em termos
coerentes:

"A segunda aparigáo de Jesús é inquestionavelmente o advento


espiritual da avangante idéia de Deus na Ciencia Crista" (Retrospection
and Introspection, p.96).

474
E A CIENCIA CRISTA; QUE É?43

CiéndíríIS
uencia Cnsta ífét¡C(í-J
referente a•Kobra
Kvanredentora
Baalen assim exPrime ° Pensamento da
de Cristo:

"Em linguagem velada e com muito palavrório duplo a Ciencia Cris


ta ensma que Jesús foi colocado, em conseqüéncia de urna morte apa
rente, em túmulo ficticio, com corpo irreal, a fim de efetuar urna reden-
gao desnecessária por pecados que jamáis foram urna realidade prati-
cados em corpo imaginario, e que ele salva do mal, que n$o existe, aqueles
S'6, Vía C?mÍ1hñn£°,para um suP°st° inferno, imagmagáo falsa da er
rante Mente Mortal" (O caos das Sertas, p.76).
Eis, sumariamente expostas, algumas das teses que caracterizam a
doutrina e a mensagem da Ciencia Crista. Como se vé, trata-se de pro
posites nem sempre lógicamente concatenadas; nao sao o fruto de
elevado genio teológico e original.

3.CONCLUSÁO

A Ciencia Crista é evidentemente urna corrente religiosa de origem


protestante. Tem o manual da Sra. Eddy em conta superior á própria
Biblia. Nos oficios de culto respectivos, o primeiro leitor lé um trecho de
Science and Health; ao que se segué urna passagem bíblica lida pelo
segundo leitor no intuito de confirmar as teorías da fundadora.

A propagacáo da mensagem e das instituicóes da Ciencia Crista


explica-se por fatores varios:

- a promessa de curas associadas a valores religiosos é algo que


atrai mais e mais o público no mundo inteiro. - É certo que a Ciencia
Crista, propondo o recurso a meios psicológicos para obter curas, pode
realmente lograr éxito em mais de um caso. É inegável a influencia da
mente sobre o corpo; ansiedade, aborrecimentos e depressóes psíqui
cas podem provocar baixa da saúde física e males psicossomáticos; em
tais casos, a restauracáo da paz mental (obtida através de fatores religi
osos) resulta em melhoras da saúde corporal. Todavía nao se creía que
tais curas vém obtidas em conseqüéncia de auténtica interpretacáo do
Evangelho; os valores cristáos, no caso da Ciencia Crista, sao mais oca-
siáo e rótulo do que o ámago da mensagem dessa corrente;

- a promessa de vitória sobre a pobreza também ¡mpressiona o


grande público. Como dito, a Sra. Eddy julgava que também a pobreza
pode ser superada pelo reto pensar;

- a aparéncia de nova revelacáo, imbuida de mística e expressa em


linguagem peculiar, as vezes rebuscada (allness, somethingness...),

475
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

contribuiu para que a Ciencia Crista exercesse certo fascínio sobre oesso-
as pouco criticas ou exigentes. ««Jiepesso

Nao sao necessárias ulteriores pondera9óes para que o leitor com-


preenda que a Ciencia Crista pretende atender a aspiracóes fundamen
táis de todo ser humano (saúde, vida, Vitoria sobre o mal); todavía ofere-
ce aos seus adeptos muito mais urna psicoterapia banal do que urna
auténtica adesáo á mensagem do Evangelho.

CASAMIENTOS NULOS...

Casamentos Nulos na Igreja Católica. Nova Dimensao Explí


cita do Atual Código de Direito Canónico (Canon 1095), por José
Barros Motta. - Ed. Forense, Rio de Janeiro 1995, 135 x 205 pp., 122 pp.

O autor é sacerdote desde 1948. Tem-se dedicado ao estudo dos


impedimentos que tomam nulo o sacramento do Matrimonio, sendo um
dos mais freqüentes o que se refere á incapacidade psíquica de assumir
as obrigagóes da vida conjugal. O Pe. Motta quis aprofundar o canon
respectivo (de número 1095) do Código de Direito Canónico, que reza:

"Sao incapazes de contrair matrimonio:

1o) os que nao tém suficiente uso da raz§o;

2o) os que tém grave falta de discricáo dejuízo a respeito dos direi-
tos e obrigagóes essenciais do matrimonio, que se devem mutuamente
dar e receber; e

3o) os que nao sao capazes de assumir as obrigacóes essenciais


do matrimonio, por causa de natureza psíquica".

Como se vé, o assunto é assaz complexo. Na verdade, o sacramen


to do matrimonio é um pacto de uniáo de vida entre o homem e a muiher
para realizar o bem dos contraentes e a geragao e educagéo da prole
segundo a ordem da própria natureza. Como alianga, o casamento é um
ato jurídico para cuja validade sao exigidas diversas condicoes pela leí
natural e a lei positiva. Segundo o Código de Direito Canónico, nao bas
ta a simples ausencia dos doze conhecidos impedimentos dirimentes,
mas é necessário que os nubentes apresentem condicoes psicológicas
capazes de discernir e assumir as obrigacóes essenciais desse pacto.

O livro do Pe. Motta esclarece, além dos doze impedimentos, esse


enfoque psicológico, e ensina a identificar as incapacidades psíquicas.

E.B.

476
Em réplica:

A TFP RESPONDE

A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradigao, Familia e Proprieda-


de enviou á Redagao de PR urna carta que defende a Sociedade agredida
pelo livro de Giulio Folena, do qual deu noticia PR em seu número 398,
dejuiho 1995, pp.316-326. Agradecemos ao Dr. Atila Sinke Guimaráes
a redagao do documento.
Desejosos táo somente de cultuar a verdade, sem a qual nao é
possível servir a Cristo e á sua Santa Igreja, publicamos tal carta ñas
páginas subseqüentes, como nos foi enviada.

Sao Paulo, 26 de julho de 1995.

Revmo. D. Esteváo Bettencourt,

Como membro da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradicáo, Fa


milia e Propríedade, autor de um livro - Servitudo ex caritate - e de
urna colaboracáo - Tres cartas - na obra Refutacao da TFP a urna
investida frustra, ambas versando sobre acusares malévolas á enti-
dade a que pertenco, peco venia a V. Revma. para fazer algumas consi-
deracóes relativas ao artigo Tema candente: Tradicáo, Familia e Pro
príedade estampado em revista Pergunte e responderemos (julho
1995, pp.316-326), publicada sob sua responsabilidade.
Na apresentacáo da materia notam-se dois fundamentos de argu-
mentacáo, que distingo para maior clareza:
O primeiro fundamento é mencionado de passagem quando V.
Revma. afirma que a TFP "faz restricóes ao Concilio Vaticano Mea Igreja
pos-conciliar" (p.316).
O segundo é constituido pelo fato que V. Revma. endossa urna se
rie de acusacdes contidas no livro Escravos do Profeta de autoría do sr.
Giulio Folena. Ao que parece, V. Revma. se tena animado a sair a públi
co por presumível falta de argumentos de nossa entidade. Com efeito,

477
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

declara: "a TFP nao respondeu ás alegacóes de G. Folena, como havia


respondido a ataques anteriores" (p.316).

V. Revma. compromete-se com a materia do livro Lé-se no artiao


em questáo: a

"O livro de G. Folena retrata bem a mentalidade e as práticas bási


cas da TFP" (ibidem).

"Nao é necessário descer a outros pormenores para dar urna idéia


do que seja a TFP. Ainda que alguns tópicos do livro de G. Folena este-
jam ultrapassados ou se ressintam de exageras, pode-se afirmar que tal
obra e o resumo da mesma aqui apresentados reproduzem fielmente o
'espirito' ou a mente da TFP" (p.325).

Com este endosso, V. Revma. toma-se responsável por gravíssimas


acusacóes. A saber:

Atenta contra a honra de um dos mais insignes católicos brasileiros


da atualidade, o ilustre Prof. Plinio Correa de Oliveira, ao compará-lo a
um vil assassino: "Tal documento - afirma V. Revma. - fundamenta a
observacáo de G. Folena segundo a qual PCO poderá ser um novo Jim
Jones, que, abusando de autoridade, provocou a morte de seus segui
dores por auto-envenenamento" (p.322).

Faz urna pesada e caluniosa insinuacáo ao dizer que o Prof. Plinio


Correa de Oliveira "concebeu horror á sexualidade e, indiretamente,
aversáo ao sexo feminino" (p.317).

Falta á mais elementar verdade ao dizer que o Prof. Plinio Correa


de Oliveira "afirmou ser maior do que o profeta Elias ou do que todos os
profetas, quase equiparado ao próprio Deus" (ibidem).

E, mais á frente, ao declarar que a TFP atribui-se "urna missáo su


perior á dos Apostólos" (p.319).

Isso entre outras tantas faltas.

No que concerne ao primeiro e maior fundamento de sua argumen-


tacáo, ou seja, de que a TFP faz restricóes ao Vaticano II e á Igreja pós-
conciliar, posso afiancar-lhe que, para responder a essa afirmacáo gra
tuita, a TFP tem em preparo um farto estudo elucidativo da materia, o
qual dará a público logo que estiverem concluidos os últimos aprestos.

478
ATFPRESPONDE 47

No que diz respeito ao segundo fundamento, gostaria de prestar-


Ihe alguns esclarecimentos para que V. Revma. julgue se deve ou nao
descer dos altos degraus da dignidade sacerdotal e da solenidade mo
nástica para fazer frente comum com o autor do livro Escravos do Profe
ta.

Esta publ ¡cacao veio a luz em setembro de 1987. Em dezembro do


mesmo ano estava pronto o rascunho da refutacáo ás calúnias, difama-
cóes e absurdos contidos naquela obra, bem como um substancioso
comunicado de imprensa sobre a materia. Ambos documentos redigi-
dos, alias, pelo Prof. Plinio Correa de Oliveira. A TFP nao deu a público
tal refutacáo porque notou que o livro do sr. Folena nao tivera repercus-
sáo na opiniáo pública e caía rápidamente no vazio, apesar do grande
esforco publicitario de "O Estado de S. Paulo" em enfunar as velas de
nova campanha contra nossa entidade. Porém, se se tornar necessário,
estou certo de que a réplica da TFP nao tardaría a ser atualizada é
publicada.

O sr. Giulio Folena foi convidado a afastar-se da TFP porque sua


conduta moral tornou-se incompatível com a condicáo de cooperador da
entidade. A saber, no dia 13 de julho de 1964, o jornal "Noticias Popula
res", de Sao Paulo, publicou materia sob o título Hoteleiro autuado
por exploracáo do lenocinio - RUPA limpa a Zona Sul: 500 fora de
circulagáo. Merece atencáo na noticia o seguinte trecho: "Ao final do
expediente o delegado-chefe da RUPA autuou em flagrante Manoel Go
mes Vieira (40 anos, casado), proprietário do hotel Oasis (rúa Néstor
Pestaña, 48). No local a policía encontrou dezesseis casáis em situacáo
irregular, conduzindo-os ao cartório das Rondas Unificadas, sen/indo
como testemunhas do auto de prisáo em flagrante por exploracáo do
lenocinio. Foram as seguintes as pessoas encontradas pela policía no
local: [segué lista de 32 nomes, constando em sexto lugar o de Julio
Folena]".

Ademáis, V. Revma. poderá aquilatar o caráter do autor no qual se


baseia conhecendo a opiniáo de dois conceituados eclesiásticos aos
quais o sr. Folena se dirigiu na Europa, no ano de 1984, buscando so
corro para outros detratores que estavam sendo desmentidos pela obra
Refutacáo da TFP a uma investida frustra. Meses depois das visitas,
publicou ele materia na qual adulterava o teor das entrevistas que teve
com os referidos eclesiásticos.

O conhecido teólogo e filósofo salmanticense Pe. Victorino Rodríguez


declarou ante tabeliáo, a propósito da noticia veiculada pela "Folha da
Manhá" de Campos (14.111.1985):

479
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 401/1995

"Realmente me surpreenderam as falsidades e suposicoes malévo


las em que incorre a noticia... Tenho de desautorizar, pois, algumas con-
clusóes falsas e retificar outros pontos contidos no tópico 'Visita ao te
ólogo da Refutacáo' da materia publicada pelo sr. Folena".

Também o Arcebispo D. Alfonso Stickler, hoje Cardeal, lavrou um


documento no qual se lé:

"Com rela9áo ao encontró a que se refere o sr. Giulio Folena na


'Folha da Manhá' de Campos, de 14 de margo de 1985, devo esclarecer
ter-se tratado de urna conversa de mera cortesía, na qual me limitei a
ouvir o que ele insistía em querer contar-me.

"No decurso da conversa, imediatamente me dei conta da total falta


de confiabilidade e de seriedade do personagem, confirmada pela risí-
vel materia publicitaria na referida 'Folha da Manhá' ".

.. Quero crer que, se esses documentos tivessem chegado a seu co-


nhecimento previamente, V. Revma. tena hesitado muito em se apresen-
tar ao público de bracos dados com o referido sr. Folena. Alias, o menci
onado livro, de inicio a fim, transita odio e deixa ver um singular destem
pero emocional. O que, como é claro, desabona o valor de seu testemu-
nho.

Sao esclarecimentos que fomeco a V. Revma. na esperanca de


que seu artigo nao seja fruto da leitura superficial do citado livro ou de
algum resumo, no qual V. Revma. nao tenha tido o vagar necessário
para discernir os numerosos desaliónos e as graves incorrecóes em que
incide o autor.

Nessa hipótese, parece-me da mais comezinha justica que V. Revma.


retifique sem demora o que publicou de táo grave e calunioso sobre o
Prof. Plinio Correa de Oliveira e a TFP.

É o pedido que Ihe faco, na esperanca de que V. Revma. poupe á


TFP o desagrado de ter de refutar num mesmo ato as acusacoes con
juntas de um filho da venerável Ordem de Sao Bento e de um cidadáo
táo pouco qualificado.

Na perspectiva de facilitar-lhe urna cómoda retratacao, satisfaz-me


poder oferecer-lhe duas obras em que trato de temas que V. Revma.
aborda em seu artigo. Segundo a interpretacáo que V. Revma. assume,
tais temas servem de base para acusacóes que V. Revma. assaca con
tra a TFP, como sendo direta ou indiretamente heterodoxos ou próximos
da heterodoxia. Por comodidade indicarei o seu artigo com a letra A; a

480
A TFP RESPONDE 48a

minha colaborado Tres carias, constante da obra Refutacáo da


TFP a urna investida frustra, vol. I, pp.1 a 389, indicarei por TC; a obra
Servitudo ex caritate, por SC.

Sobre as pretensas manifestacóes de culto ilícito ao Prof. Plinio


Correa de Oliveira que aparecem sob sua responsabilidade (cfr. A, pp.
317, 324s), ver materia tratada em TC, pp. 155 a 224, 277 a 337.

Sobre as pretensas manifestacóes de culto ilícito a Dna. Lucilia


Correa de Oliveira (cfr. A, pp. 317, 323), ver materia tratada em TC, pp.
231 a 277; ver também a colaboracáo do sr. Gustavo Antonio Solimeo,
Um comentario anti-TFP, na mesma obra Refutacáo da TFP a urna
investida frustra, vol I, pp. 391 a 460, na qual está analisado precisa
mente o parecer de D. Antonio de Castro Mayer em que V. Revma. fun
damenta parte de sua critica (cfr. A, p. 323).

Sobre a inerrancia atribuida ao Prof. Plinio Correa de Oliveira (cfr.


A, pp. 319, 323), ver materia tratada em TC, pp. 69 a 127.

Sobre o relacionamento de membros da TFP com o Prof. Plinio


Correa de Oliveira baseado na escravidáo marial (cfr. A, pp. 316,320ss.),
ver materia tratada em SC, mais específicamente pp. 39 a 43,154 a 268.

Peco a atencáo de V. Revma. para o fato de que ambas as obras


contam com a aprovacáo geral do Pe. Victorino Rodríguez. TC reproduz
também pareceres específicos do Pe. Victorino (cfr. TC, pp. 304 a 308) e
do Pe. Arturo Alonso Lobo, OP, ambos sobre o culto a Dna. Lucilia Correa
de Oliveira (cfr. TC, pp. 262 a 268). SC tem, ademáis, dois pareceres
específicos sobre o relacionamento mestre-discipulo como existe na TFP,
um do mesmo Pe. Victorino Rodríguez (cfr. SC, Apéndice 1), outro do Pe.
Arturo Alonso Lobo (cfr. SC, pp. 244 a 255).

Quanto ao grande renome teológico do Revmo. Pe. Victorino


Rodríguez, é ele táo geralmente notorio que nao é a um leitor do quilate
intelectual de V. Revma. que devo entrar em pormenores a tal respeito.

Sendo o que se apresenta para o momento, subscrevo-me respei-


tosamente.

Atila Sinke Gu¡maraes

480a
Em preparado para o próximo ADVENTO:

LECIONÁRIO MONÁSTICO PARA


O OFÍCIO DIVINO
VoL I (ADVENTO E NATAL)

Trata-se de urna obra que vem sendo preparada há varios anos, com a
colaborado de muitos. Compreenderá as leituras bíblicas e patrísticas do
ciclo bianual para o Oficio das Vigilias, conforme o Lecionáno aprovado pela
Santa Sé em 1977 para a Confederacáo Beneditina. Aproveitamos também
as leituras próprias que constam do Lecionário publicado em 1993 pela Aba
día de Solesmes.
Publicamos do Santoral do Advento e Natal apenas as Solenidades, Fes-
tas e Memorias obrigatórias. Compreende naturalmente as leituras patrísticas
tanto do II como do III Noturno (Comentarios aos Evangelhos de domingo).
Para se ter urna idéia da riqueza da obra: a Liturgia das Horas Romana
compreende para o Advento e Natal um total de 59 leituras patrísticas; nosso
LECIONÁRIO MONÁSTICO compreenderá 270 textos. Após cada leitura da
mos o respectivo Responsório.
Fizemos o melhor para que este LECIONÁRIO aprésente boas tradu-
cóes. Se as leituras bíblicas e patrísticas constam já da Liturgia das Horas de
rito romano, aproveitamos os textos oficiáis, com a devida permissáo da CNBB.
Os demais textos bíblicos sao tirados da Biblia de Jerusalém, gracas á per
missáo da Paulus Editora. Procuramos fazer a melhor traducáo possível dos
textos patrísticos próprios. Haverá imperfeicóes, sem dúvida. e gostaríamos
que nos fos sem apontadas para urna eventual reedicáo.
Será um volume de cerca de 600 páginas em papel offset, capa dura,
com gravacáo dourada do título. Todos os textos foram editorados eletronica-
mente noMosteiro R$ 50,00

MOSTEIRO DE SAO BENTO


Rio de Janeiro
EM VÍDEO
R$ 65,00

Urna visita á igreja e ao claustro do Mosteiro de Sao Bento do Rio de


Janeiro, guiada por Dom Marcos Barbosa, OSB, ao som dos sinos, do órgáo e
das vozes de seus monges em canto gregoriano.
Quatrocen tos anos de trabalho e louvor em 20 minutos, frutos da paz e
paciencia beneditinas.
Edicóes "LUMEN CHRISTI"
Dom Gerardo, 40 - 5o andar - Cx Postal: 2.666 Cep 20001-970 - Rio de
Janeiro - RJ - Tel: (021) 291-7122 - Fax: (021) 263-5679.

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