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PROJETO CONEXÕES DE SABERES REDAÇÃO

CURSINHO PRÉ-VESTIBULAR GRATUITO Profª Fátima


1. ORIENTAÇÕES SOBRE A REDAÇÃO Comunicação oral e escrita
As propostas solicitam uma dissertação Um aspecto a ser bem esclarecido a quem procura
argumentativa, ou seja, um texto em que você exponha seu melhorar seu desempenho em redação é a diferença existente
ponto de vista a respeito de determinado tema, fundamentando entre a comunicação oral e a escrita.
sua opinião com argumentos, dados e exemplos que alicercem A língua escrita só surgiu depois de falada e constitui
racionalmente suas idéias. uma tentativa de reproduzi-la. Entretanto, ela não é capaz de
Para isso, deverá recorrer à leitura dos textos representar adequadamente as inúmeras variações de sentido
apresentados na coletânea, aos seus conhecimentos e às decorrentes das variações de entonação ou as informações
reflexões feitas ao longo de sua formação. Esses são os suplementares que um simples gesto produz ao acompanhar as
subsídios necessários para a produção da redação: os valiosos palavras. E, não raro, a comunicação entre duas pessoas pode
instrumentos de trabalho de que você dispõe. realizar-se apenas por um olhar significativo ou um meneio de
A coletânea apresenta um conjunto de referências e cabeça, aspectos dificilmente reproduzidos de modo adequado
informações, além de diferentes pontos de vista a respeito de pela língua escrita.
um assunto. Por meio de sua análise e interpretação, abrem-se Em vista dessas diferenças de recursos entre a língua
algumas perspectivas de abordagem do tema proposto. oral e a escrita, não devemos pensar em escrever como se fala,
Há, portanto, um exercício fundamental implícito no pois se trata de dois tipos de comunicação bem distintos. Uma
desenvolvimento desse tipo de redação: a leitura, a análise e a coisa é falar com uma pessoa que está em nossa frente e que,
interpretação dos textos da coletânea para estabelecer com um simples gesto ou olhar, nos informa que está
relações lógicas entre as afirmações ali contidas e o ponto de entendendo tudo; outra bem diferente é escrever, tentando por
vista que você irá defender. no papel o que seríamos capazes de falar.
Depois de interpretar e relacionar os fragmentos Devemos, assim, tomar consciência de que a língua
existe ainda a questão de como aproveitá-los: quais elementos escrita tem suas dificuldades próprias, exigindo treino
escolher para incorporar à sua dissertação e de que modo usá- constante, concentrações e o domínio de um vocabulário
los como subsídios para seu texto. relativamente extenso. Elaborar um texto e bem escrito é
Você talvez ache esse trabalho complexo demais, sempre o resultado de várias tentativas e do esforço em torná-
mas, na verdade, a dificuldade aqui é apenas relativa. Imagine- lo cada vez melhor – seja trocando uma palavra por outra, seja
se participando de um debate em que algumas pessoas já reformulando períodos, etc.
tivessem exposto seu ponto de vista a respeito da questão Portanto, não se esqueça: um texto escrito sempre
discutida. Ao tomar a palavra, você certamente deveria fazer pode ser melhorado e não deve tomar como modelo a língua
referência a alguma fala anterior. Na defesa de seus oral.
argumentos, seria necessário discordar ou apoiar os outros
pontos de vista. O ato de escrever
No caso da coletânea oferecida, é preciso escolher Nossa atitude diante da redação não deve ser encarada
elementos e fazer algum uso deles. Para isso, você tem várias como o preenchimento de um formalismo, ditado por normas
possibilidades. Veja algumas: oriundas das universidades.
• Use um ponto de vista ou argumento presente em Assim, o ato de escrever não deve ser visto
algum dos textos como referência e concorde ou discorde dele meramente como uma tarefa escolar. Ele é muito mais do que
(s), justificando suas razões. isso. Escrever é uma aventura. Uma aventura gostosa que nos
• Aproveite um fato-exemplo fornecido pela coletânea faz descobrir que também somos capazes de criar, de
para discutir e analisar o tema proposto e dizer o que pensa a emocionar outras pessoas através das palavras.
respeito.
• Desenvolva seu texto a partir de uma informação ou Dificuldades para redigir
dado estatístico fornecido. Muitas vezes, você fica surpreso com as dificuldades
O exame pretende, de um lado, verificar como você que encontra para redigir. Isso poderá trazer-lhe alguns
articula suas idéias por escrito; e, por outro, avaliar sua problemas se, por causa dessas dificuldades, você se julgar
capacidade de ler, de entender e de relacionar elementos “incapaz” de desenvolver qualquer trabalho escrito.
fornecidos. Psicologicamente, a impressão vai-se acentuando e poderá
Assim, é fundamental assumir claramente uma chegar um momento em que realmente você não conseguirá
posição diante do tema, apresentar um ponto de vista e escrever.
defendê-lo com argumentação sólida, que aproveite tanto seu Parece, muitas vezes, que as palavras estão presas e
acervo pessoal como os elementos oferecidos pela coletânea. que não querem sair. Como você mesmo diz: parece que a
cabeça está “cheia de idéias” mas, quando se trata de colocá-
las no papel, “não vai”. É isso mesmo. Já os poetas disseram o
Como trabalhar a coletânea mesmo que você.

 Ler, interpretar e analisar os fragmentos. “Gastei uma hora pensando um verso


 Identificar a possível contribuição de cada que a pena não quer escrever.
fragmento, reconhecendo sua função (fornecer dados, No entanto ele está cá dentro
exemplos, uma situação histórica etc.) No texto que você irá Inquieto, vivo.
produzir. Ele está cá dentro
 Estabelecer as relações existentes entre esses E não quer sair ”.
fragmentos (semelhança, diferença, complementaridade, causa (Drummond de Andrade)
e conseqüência).
 Finalmente, escolher os textos da coletânea que Como você vê, escrever consiste num trabalho nem
você pode aproveitar em sua redação e como eles serão fácil e fluente, mesmo pra os grandes poetas.
utilizados. Note ainda o que diz um famoso lingüista brasileiro a
respeito: “... tantos estudantes psiquicamente normais, que
falam bem, e até com exuberância e eloqüência no intercâmbio
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de todos os dias, são desoladores quando se lhes põe um lápis 2. DESCRIÇÃO, NARRAÇÃO E DISSERTAÇÃO
ou uma caneta na mão”. (Mattoso Câmara)
DESCRIÇÃO
Escrever bem
Não existe uma fórmula que desenvolva a habilidade Descrever é traduzir em palavras, minuciosamente, um
de escrever. È preciso, antes de tudo, muito esforço. Além determinado objeto e requer alguns fatores básicos, tais como:
disso, existem caminhos que podem conduzir ao ato de percepção, análise, classificação.
escrever. Entre eles, destacam-se:
Exemplo:
Leitura “Era uma moça de dezessete anos, delgada sem magreza,
O texto nasce do texto. Quem lê adquire vocabulário e estatura um pouco acima de mediana, talhe elegante e atitudes
estruturas frásicas que usará na produção dos seus próprios modestas. A face, de um moreno-pêssego, tinha a mesma
textos. Além disso, a leitura, principalmente de obras de imperceptível penugem da fruta de que tirava a cor; naquela
ficção, desenvolve o potencial criador da imaginação humana. ocasião tingiam-se uns longes cor-de-rosa, a princípio mais
Quem lê acabará escrevendo bem. A leitura traz o progresso da rubros, natural efeito do abalo”.
escrita. (Machado de Assis – Helena)

Conhecimento gramatical NARRAÇÃO


É impossível avaliar positivamente um texto onde
faltam acentos, sinais de pontuação e onde há erros de grafia, Caracteriza-se, essencialmente, pela dinâmica, pela ação;
termos de gíria, impropriedade vocabular, etc. apresenta uma seqüência de fatos reais ou imaginários, que se
Por isso, convém fazer um rascunho, onde se pode desenvolvem em determinado tempo e lugar.
escrever a vontade, reproduzindo as idéias livremente. Depois,
passa-se o texto a limpo, tomando o cuidado de fazer as Exemplo:
correções, para que a linguagem fique clara, gramaticalmente “O Cacique estava indo de trem para a cidade para
correta, envolvente. Não se deve esquecer também dos assinar um Tratado de Paz com o branco. Lá ele e o seu
parágrafos. ajudante-de-ordens do lado. De repente, o Cacique vira-se para
o ajudante-de-ordens e diz”:
A organização do texto - Ajudante Pomba Roxa, Cacique Touro Sentado tem
Um planejamento, um projeto que anteceda o ato de sede. Busca água.
escrever propriamente dito é de suma importância, pois faz Pomba Roxa pegou o copo, foi ao toalete do vagão,
com que quem escreve organize as idéias e, assim, possa voltou com o copo cheio d’água. Cacique bebeu.
redigir com mais segurança e desembaraço. Mais meia hora, olha o Cacique de novo:
- Ter sede.
A originalidade Pomba Roxa levanta, vai ao reservado, volta com o
A boa redação deve apresentar idéias originais, copo cheio.
diferentes, criativas. Convém evitar aqueles chavões, os Meia hora depois, mais sede. Pomba Roxa vai lá,
clichês, e usar a própria linguagem. Isso você conseguirá se volta com a água.
pensar, refletir. Não comece a escreve logo que o professor lhe Lá pela sétima vez, Pomba Roxa volta do toalete com
der o tema da redação. o copo vazio.
- Que aconteceu? – perguntou Touro Sentado. – Água
Fluência acabou?
Escrever é um ato natural; não tenha medo de - Não – respondeu Pomba Roxa – tem branco sentado
escrever; faça-o com naturalidade, deixando o texto fluir. no poço!”
Lembre-se de que depois você poderá corrigir eventuais erros. (Ziraldo)

Clareza DISSERTAÇÃO
A clareza reflete um pensamento objetivo. Ela evita
que as pessoas expressem idéias ambíguas, que podem gerar É um trabalho reflexivo que consiste, basicamente, em
confusão ao receptor. Por isso, devemos usar palavras simples, organizar as idéias numa determinada linha de raciocínio.
porém corretas, e frases curtas, porém bem estruturadas. A Destarte, dissertação é o gênero de composição literária
correção e a releitura do texto fazem com que a clareza esteja pelo qual explanamos, com análise e argumentação, um
mais presente. problema, uma idéia, um fato.

Concisão Exemplo e estrutura da redação:


A concisão torna o texto mais uniforme e, por isso,
mais claro para os receptadores. Ela evita que o escritor caia na A grande produção de armas nucleares, com seu incrível
prolixidade, isto é, na expressão de vários pensamentos ao potencial destrutivo, criou uma situação ímpar na história da
mesmo tempo, sem que as idéias fiquem bem objetivas. Para humanidade: pela primeira vez, os homens têm nas mãos o
isso, devemos ir direto ao assunto, sem meias voltas e frases poder de extinguir totalmente a sua própria raça da face do
supérfluas. planeta.
A capacidade de destruição de novas armas é tão grande
Letra que, se fossem usadas num conflito mundial, as conseqüências
A preocupação com aspectos estéticos e de organização de apenas algumas explosões seriam tão extensas que haveria
como linhas plenas, por exemplo, é relevante. Mas, um fator forte possibilidade de se chegar ao aniquilamento total da
crucial é a legibilidade, e logo, a letra caprichada demonstra, espécie humana. Não haveria como sobreviver a um conflito
sobretudo, zelo com o que se escreve. Capriche. dessa natureza, pois todas as regiões seriam rapidamente
atingidas pelos efeitos mortíferos das explosões.
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Só resta, pois, ao homem uma saída: mudar essa situação Charge [Do fr.charge.]: desenho humorístico, com ou sem
desistindo da corrida armamentista e desviando para fins legenda ou balão, geralmente veiculado pela imprensa e tendo
pacíficos os imensos recursos econômicos envolvidos nessa por tema algum acontecimento atual, que critica, por meio de
empreitada suicida. Ou os homens aprendem a conviver em caricatura, uma ou mais personagens envolvidas.
paz, em escala mundial, ou simplesmente não haverá mais Caricatura: desenho de pessoa ou de fato que, pelas
convivência de espécie alguma, daqui a algum tempo. deformações obtidas por um traço cheio de exageros, se
apresenta como forma de expressão grotesca ou cômica.
(Texto adaptado do artigo “Paz e corrida armamentista”. O Adaptado de Dicionário eletrônico Houaiss da Língua
Correio da Unesco, março 1983, ano2, n. 3, p.6) (Douglas Portuguesa.
Tufano)
Considerando as definições, pode-se concluir que a
Agora observe a função dos parágrafos na charge é um tipo de texto cuja leitura depende inteiramente de
estruturação do texto. o leitor conhecer o contexto a que ela se refere. Sem tal
conhecimento, seu sentido se perde por completo.
Introdução (apresentação do tema) Dessa conclusão, podemos extrair a primeira “dica”
importante para a leitura das charges: devemos, de imediato,
O desenvolvimento científico levou o homem a produzir identificar o contexto a que elas fazem Referência. Vamos ver
bombas tão poderosas que pela primeira vez na história existe um exemplo:
a possibilidade de destruição de toda a humanidade numa
guerra mundial.

Desenvolvimento

O autor expõe os argumentos que apóiam sua


afirmação inicial, explicando que as conseqüências de
explosões de bombas nucleares atingiriam rapidamente todo o
planeta e não apenas certas regiões. Por isso, seria impossível
sobreviver a um conflito dessa natureza.

Conclusão

Com base nesses argumentos, o autor conclui que a paz é


a única forma de garantir a sobrevivência da espécie humana,
pois no caso de uma guerra mundial, hoje em dia,
simplesmente não haveria vencedores.

Observe: Nessa charge de Jean, o contexto é evidentemente: ele vai


1º parágrafo tratar da proposta de aumento do salário mínimo para o
Introdução equivalente a US$ 100. Essa conclusão é sugerida pelo
OPINIÃO primeiro “quadro”, onde aparece um pesquisador entrevistando
na rua. A pergunta que faz revela o contexto da charge: “O que
2º, 3º e 4º parágrafos você acha de um salário mínimo de 100 dólares?”.
Desenvolvimento Em função das dificuldades econômicas do Brasil, as
FATOS discussões sobre o valor do salário mínimo são difíceis e o
governo sempre propõe um valor muito menor do esperam os
5º parágrafo trabalhadores. Em fevereiro de 2000 (quando essa charge foi
Conclusão feita), sugeria-se que a referência a ser adotada seria o
ARGUMENTAÇÃO FINAL equivalente a US$ 100. O governo dizia que não teria
condições de estabelecer esse valor para o mínimo.
QUANDO A IMAGEM È UM TEXTO Como a intenção da charge é criar um efeito cômico, Jean
Lemos para aprender coisas novas, adquirir resolveu “brincar” com essa conhecida situação. Imaginou que
conhecimento. E há algo muito importante associado ao o governo tivesse encomendado uma pesquisa para ouvir a
conhecimento: é ele que nos garante liberdade de raciocínio. opinião do povo sobre o valor especulado para o mínimo.
Se dispormos de informações, se somos capazes de procurá-las Como podemos observar, as três respostas apresentadas são
quando precisamos, estamos livres para analisar os fatos como semelhantes: o “povo” julga que o salário mínimo de US$ 100
julgarmos mais adequado. é insuficiente (“Muito pouco!”, “Não dá pra nada...”,
Textos escritos não são única fonte importante “Miséria!”). O efeito crítico da charge está, nesse caso, na
de informações. Fotografias, desenhos, pinturas e imagens mudança de interpretação das respostas feita pelo pesquisador
também podem ser lidos e interpretados e nos ajudam a no último quadro. Ele telefona para o presidente e diz: “Não se
compreender melhor o mundo em que vivemos. preocupe, presidente! O povo é contra!”
Você já deve ter observado, durante a leitura de Ora, o sentido da fala das pessoas é claríssimo. Todas
jornais e revistas, que há um tipo especial de “texto” cujo acham baixo o valor do salário mínimo proposto pelo governo.
sentido é dado pela criação de uma imagem capaz de, ao Em momento algum disseram que “não querem” receber US$
mesmo tempo, fazer referências a fatos atuais e criticá-los. 100. O que elas esperam é que o valor seja maior. O
Estamos nos referindo a charges. pesquisador usa as respostas, mas inverte seu sentido, como se
Se você for ao dicionário, encontrará a seguinte definição o povo fosse contra esse valor e aceitasse um menor.
para charge:

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ATIVIDADES 4. O pintor Portinari representou em seus quadros muitos
Na charge abaixo, Jean apresenta uma “leitura” crítica de problemas sociais do Brasil em sua época.
uma declaração do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Em
discurso feito no Rio de Janeiro, no quinto mês do seu
primeiro ano de governo, Lula comparou a situação da
economia brasileira a uma bicicleta: “É uma bicicleta daquela
de apartamento que [sic] você faz ginástica e pedala, pedala e
pedala, mas ela continua no mesmo lugar. Precisamos colocar
essa bicicleta para andar, até para vermos outras paisagens.”
Analise atentamente essa imagem para responder às
questões 1, 2 e 3.

O quadro Café faz uma representação exagerada dos pés e


mãos dos trabalhadores. Tal exagero cumpre a função de
sugerir que os trabalhadores:
a) Ganhavam pouco pelos serviços prestados.
b) Usavam muita força física no serviço rural.
c) Plantavam e colhiam para seu próprio benefício.
d) Eram solidários na divisão do trabalho.

Leia a seguinte propaganda para responder as questões 5 e 6

1.Com base na “leitura” da charge, você deve ter percebido que


Jean faz uma crítica bastante irônica em relação à comparação
feita pelo presidente. Em que consiste essa crítica? Justifique
sua resposta com elementos da imagem apresentada.

2. Muitas manchetes de jornal fazem referência à situação da


economia brasileira. Reproduzimos, abaixo, cinco manchetes
publicadas, em diferentes momentos, pelo jornal Folha de São
Paulo. Considerando sua resposta anterior, qual delas melhor 5. Os textos publicitários, normalmente, valem-se de
“traduz” o sentido da charge feita por Jean? determinadas estratégias para persuadir o interlocutor. O que
a) Lula promete espetáculo de crescimento (Folha de São se pretende divulgar na propaganda acima?
Paulo, 30 de maio de 2003). 6. A partir de quais recursos os autores da propaganda
b) Oferta de crédito não pára de cair no procuravam convencer o leitor a fazer o que querem?
país (Folha de São Paulo, 31 de maio de 2003) Ambigüidade
c) Era Lula começa com economia estagnada (Folha de São Ambigüidade (ambi = dualidade) é a duplicidade de sentidos
Paulo, 30 de maio de 2003). que pode haver em uma palavra, em uma frase ou num texto
d) SP tem desemprego recorde; remédio é ‘surto de inteiro.
crescimento’, diz o governo (Folha de São Paulo, 29 de maio
de 2003). Quando empregada de forma intencional, a
e) Verba de programas sociais pára na Caixa (Folha de São ambigüidade se torna um importante recurso de expressão.
Paulo, 28 de maio de 2003). Quando, porém, é resultado da má organização das idéias, ou
emprego inadequado de certas palavras, ou ainda de
3. Explique qual a relação entre a imagem e o texto que inadequação do texto ao contexto discursivo, ela pode gerar
responde corretamente à questão anterior. problemas para a comunicação.

A ambigüidade como recurso de construção


A ambigüidade é freqüentemente utilizada como
recurso de expressão em textos poéticos, publicitários e
humorísticos, em quadrinhos e anedotas. Textos como esses
fazem uso da ambigüidade como recurso para se comunicar
com o leitor de forma mais direta, descontraída e divertida.

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A ambigüidade como problema de construção Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Imagine que uma pessoa relate por escrito a violência Debaixo dos laranjais!
ocorrida numa partida de futebol da seguinte forma: [...]
(Casimiro de Abreu)
Durante o jogo, Lúcio deu várias caneladas em Fagueira: agradável, amena.
Guilherme. Depois entrou o Marcelo no jogo e ele levou
empurrões e pontapés. Meus oito anos
Oh! Que saudades que eu tenho
Se o leitor do texto não assistiu à partida, terá Da aurora de minha vida
dificuldade para compreender o texto e a intenção De minha infância querida
comunicativa do narrador, pois o texto é ambíguo. Afinal, Que os anos não trazem mais
quem levou empurrões e pontapés? Marcelo, que entrara no Naquele quintal de terra
jogo por último? E, no caso, quem o teria agredido? Ou foi Da Rua de Santo Antonio
Lúcio, que antes agredia Guilherme e, depois da entrada de Debaixo da bananeira
Marcelo, passou a ser agredido por este? Sem nenhum laranjais.
Se o leitor tivesse assistido ao jogo, certamente essa [...]
ambigüidade se dissiparia. E a intenção comunicativa do texto (Oswald de Andrade)
seria outra. Em vez de informar, esse texto provavelmente teria
como finalidade comentar. O 1º texto, de Casimiro de Abreu, foi escrito no século XIX; o
Diferentemente da linguagem oral, que conta com 2º texto de Oswald de Andrade foi escrito no século XX. As
certos recursos para tornar o sentido preciso – os gestos, a semelhanças entre os textos são evidentes, pois o assunto deles
expressão corporal ou facial, a repetição, etc. -, a linguagem é o mesmo e há versos inteiros que se repetem. Portanto, o 2º
escrita conta apenas com as palavras. Por isso, temos de texto cita o 1º, estabelecendo com ele uma relação intertextual.
empregá-las adequadamente se desejarmos clareza e precisão
nos textos que produzimos. Observe, porém, que o 2º texto tem uma visão diferente da
apresentada pelo 1º. No 1º texto, tudo na infância parece ser
ATIVIDADES perfeito, rodeado por “amor”, “sonhos” e “flores”, já no 2º
texto, esses elementos são substituídos por simples “quintal de
1) No trecho que se segue há uma passagem terra”, um espaço concreto e comum, sem idealização. Além
estruturalmente ambígua (isto é, uma passagem que poderia ser disso, com o verso “sem nenhum laranjais”, Oswald de
interpretada de duas maneiras, se ignorássemos o que é Andrade ironiza Casimiro de Abreu, como que dizendo: na
geralmente pressuposto sobre a vida de Kennedy). minha infância também havia bananeiras, mas não havia os
Identifique essa passagem, transcreva-a, aponte as duas tais “laranjais” que o Casimiro cita em seu poema.
interpretações possíveis e explique o que torna ambígua do Observe que Oswald de Andrade, com seu poema, não
ponto de vista estrutural. apenas cita o poema de Casimiro de Abreu. Ele também critica
“E se os russos atacassem agora?, perguntou certa ocasião [...] esse poema, pois considera irreal a visão que Casimiro tem da
Judith Exner, uma das incontáveis amantes de Kennedy, que, infância.
simultaneamente, mantinha um caso com o chefão mafioso Certamente, na opinião de Oswald, infância de verdade, no
Sam Giancana. Brasil, se faz com crianças brincando no quintal de terra,
1) A leitura literal do texto abaixo produz um efeito de embaixo das bananeiras, e não com crianças sonhando
humor. embaixo de laranjais. Esse tipo de intertextualidade existente
entre os dois textos é chamado paródia.
“As videolocadoras de São Paulo estão escondendo suas fitas
de sexo explícito. A decisão atende a uma portaria de Paródia é um tipo de relação intertextual em que um dos
dezembro de 91, do juizado de Menores, que proíbe que as textos cita o outro com o objetivo de fazer-lhe uma critica ou
casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas inverter ou distorcer suas idéias.
pornográficas a menores de 18 anos. A portaria proíbe ainda os
menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios sem a
companhia ou autorização dos pais. Anotações

a) Qual a situação engraçada que essa passagem Transcreva a


passagem que produz efeito de humor. permite imaginar?

b) Reescreva o trecho de forma que impeça tal interpretação.

Intertextualidade e paródia

Intertextualidade é a relação entre dois textos em que um cita


o outro.
Compare estas duas estrofes, de dois poemas:

Meus oito anos


Oh! Que saudade que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Que amor, que sonhos, que flores
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Leia o anúncio abaixo e respondas as questões: 4. Quem não passou pela experiência de estar lendo um
texto e defrontar-se com passagens já lidas em outros? Os
textos conversam entre si em um diálogo constante. Leia os
seguintes textos:

Texto I
Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida
Carlos Drummond de Andrade.

Texto 2
Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim e decretou que eu tava predestinado
A ser errado sim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim.
Chico Buarque.

Texto 3
Quando nasci um anjo esbelto
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Carga muito pesada pra mulher
Esta espécie ainda envergonhada.
Adélia Prado

Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade,


em relação a Carlos Drummond de Andrade, por:
a) Reiteração de imagens.
(Claudia, jul. l998.)b) Oposição de idéias.
1. Observe a figura central do anúncio: a roupa, osc) Falta de criatividade.
cabelos, o meio-sorriso da pessoa fotografada e o cenário ded) Negação dos versos
fundo. Por esse conjunto de elementos, notamos que não see) Ausência de recursos.
trata de um anúncio comum, pois há nele a voz de outro texto
bastante conhecido. Que texto é esse?

2. Fazendo o cruzamento entre a parte verbal e parte


visual do texto, notamos que há entre duas linguagens um
ponto em comum, que as aproxima e amplia o sentido de cada
uma. Qual é ele?

3. Ao lançar mão da polifonia discursiva como meio de


promover seu produto, o anunciante pode correr alguns riscos,
pois o leitor pode não conhecer a obra de Leonardo da Vinci.

a) Levando em conta que o produto é um amaciante de


roupas (portanto algo refinado, que nem todos utilizam) e que
o anúncio foi publicado numa revista de público
predominantemente feminino e de classe média, é provável
que a maior parte dos leitores perceba a polifonia ou não? Por
quê?

b) Quantos leitores não conhecem Da Vinci, eles


poderiam, mesmo assim, ser atingidos pelo apelo do anúncio,
de modo que seu objetivo principal – promover o produto –
fosse alcançado? Por quê?

c) E se nesse caso, o texto como um todo ainda pode ser


considerado coerente?

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