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Tipos de falhas

Os materiais metálicos, especialmente as ligas estruturais de


engenharia, são altamente complexas. A figura 31 mostra várias características
microestruturais, onde nem todas necessitam estar presentes em uma material
particular; e também, os dois principais tipos de fratura (transgranular e
intergranular). Um aspecto muito importante é que quase todos os metais são
policristalinos, isto é, consistem de um agregado de grãos, onde cada qual
apresenta uma orientação cristalina particular. Com exceção tem-se os
materiais monocristalinos utilizados em palhetas de turbinas (resistentes ao
fenômeno de fluência).

Figura 31- Representação esquemática das características


microestruturais de materiais metálicos.

A fratura dúctil é caracterizada pela ocorrência de uma apreciável


deformação plástica antes e durante a propagação da trinca. Portanto, a
superfície de fratura apresenta normalmente uma quantidade considerável de
deformação. A fratura frágil em metais é caracterizada pela rápida propagação
da trinca, com praticamente nenhuma deformação macroscópica e muito pouca
microdeformação. A fratura frágil deve ser evitada a todo custo, pois ela ocorre
sem nenhuma advertência e normalmente provoca consequências
catastróficas.
O desenvolvimento de microestruturas em um material metálico pode ser
muito influenciado pela presença e natureza de partículas de segunda-fase.
Uma situação comum está relacionada com o trincamento de partículas no
processo de deformação de um material. A resistência ao trincamento aumenta
se as partículas estão bem ligadas a matriz. Partículas esféricas e partículas
pequenas ( r  1 μm) são mais resistentes ao trincamento. Uma grande fonte
de microtrincas é a presença de uma fase frágil em contornos de grão, como
cementita em aços baixo carbono.
Materiais metálicos muitos dúcteis, particularmente os que tem estrutura
CFC, como ouro e chumbo, podem ter a sua seção reduzida praticamente a um
ponto (100% estricção) até que se rompam.

Figura 32- Representação esquemática de superfícies de fratura para


materiais completamente dúcteis(a), dúcteis (b) e totalmente frágeis (c).

A fratura dúctil ocorre por (a) nucleação, crescimento e coalescimento de


vazios, (b) redução continua da seção transversal do material até um ponto, ou
(c) cisalhamento a longo de um plano de máximo cisalhamento. A fratura dúctil
por nucleação crescimento de vazios usualmente inicia em partículas de
segunda-fase. Se as partículas são distribuídas no interior dos grãos, a fratura
será transgranular (ou transcristalina). Se os vazios são localizados
preferencialmente em contornos de grão, a fratura ocorrerá intergranulamente
(ou intercrístalina). A aparência da fratura dúctil, em resoluções com maior
aumento é de uma superfície chamada de dimples. A ruptura em que ocorre o
empescoçamento total é muito rara, pois os metais contém sítios de
inicialização de vazios. Entretanto, metais altamente puros, tais como cobre,
níquel, ouro, e outros materiais muito dúcteis, falham com alta redução de área;
portanto, apresentam alto valor de estricção.
Fratura frágil é caracterizada por propagação de uma ou mais trincas
através da estrutura. Materiais que apresentam comportamento totalmente
elástico, como os cerâmicos, falham por fratura frágil. No entanto, metais e
alguns polímeros sofrem deformação plástica, portanto irreversível, nos
vertíces (pontas) das trincas, o que afeta a etapa de propagação. Para metais e
cerâmicas, dois modos de propagação de trincas são observados: fratura
transgranular (ou clivagem) e fratura intergranular. Por razões de minimização
de energia, uma trinca tenderá a se propagar através de um caminho que
ofereça menor resistência. Se este caminho for através de contornos de grãos,
a fratura será intergranular.
Geralmente, uma trinca tende a se propagar ao longo de planos
cristalográficos específicos, como é o caso da fratura frágil dos aços. Através
de observações microscópicas, com grande aumento, é possível verificar que
uma fratura frágil transgranular é caracterizada por ser clara, brilhante, com
facetas planas, que tem o tamanho dos grãos. Em aços, a fratura frágil
apresenta a aparência típica de ser brilhante, enquanto que a fratura dúctil tem
um aspecto acinzentado, pois normalmente, a superfície é oxidada em razão
da maior capacidade de absorção de energia antes de se romper.

Principais tipos de fratura Monoatomica

A seguir serão apresentados os principais tipos de fraturas que ocorrem


monotômicamente (em apenas um carregamento) nos materiais metálicos.
Metais são caracterizados pela alta mobilidade de discordâncias,
especialmente os que apresentam “baixos” valores de dureza, quando
geralmente apresentam fratura dúctil.
A nucleação de uma trinca em um cristal perfeito envolve,
essencialmente, a ruptura de ligações interatômicas. A tensão coesiva teórica é
a necessária pra que isto ocorra. Este valor é muito maior que em relação a um
material real, pois o mesmo apresenta uma série de descontinuidades
(defeitos) superficiais além de internos em sua estrutura Figura 31. Estes
pontos agem como pontos nucleantes de trincas, através de deformação
plástica localizada, o que antecede o processo de fratura. Em termos da ordem
de grandeza, para um material comum a tensão necessária para promover a

fratura é da ordem de E em relação a um cristal ideal; onde, E- módulo de


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elasticidade (Young) do material. Quando se têm os monocristais, chamados de
whiskers, praticamente isentos de defeitos, a tensão necessária para promover
a ruptura é da ordem da tensão coesiva teórica do material.
Os mecânismos de nucleação de trincas variam de acordo com o tipo de
material: frágil, semifrágil ou dúctil. O comportamento das discordâncias na
região de nucleação de trincas tem um importante efeito na fragilidade de um
material. Em materiais altamente frágeis as discordâncias praticamente são
imóveis; em materiais semifrágeis as discordâncias apresentam certa
mobilidade, mas em um número restrito de planos de deslizamento; no entanto
em materiais dúcteis existe nenhuma restrição na movimentação de
discordâncias, a não ser aquela inerente da estrutura cristalina do material. A
tabela apresenta vários materiais de acordo com o critério relacionado com a
mobilidade de discordâncias.
Tabela 2-Materiais com diferentes graus de fragilidade
Tipo Principais Fatores Materiais
Frágil Ruptura de ligações Estrutura do tipo: diamante ZnS,
silicatos, alumina, mica,
carbonetos, nitretos
Semifrágil Ruptura de ligações e Estruturas do tipo: cristais iônicos
mobilidade de (NaCl), metais (Zn, Mg, etc.),
discordâncias maioria dos metais CCC,
polímeros vítreos
Dúctil Mobilidade de Metais CFC (Al, Cu, Au, Ag, Pt, Pb,
discordâncias etc), polímeros não-vítreos, alguns
metais CCC.

Qualquer heterogeneidade em um material que possa produzir um


concentrador de tensão pode nuclear trincas. Por exemplo, superficialmente
podem surgir intrusões, extrusões, pites, etc., agindo como concentradores de
tensão onde pode ocorrer deformação plástica localizada; internamente no
material podem existir vazios, bolhas, partículas de segunda-fase, etc.
Portanto, em função das condições mais favoráveis, a nucleação de trincas
ocorrerá a partir das descontinuidades.
Em materiais semifrágeis, há uma tendência inicial de ocorrer o
mecanismo de deslizamento e posteriormente fratura em planos
cristalográficos bem definidos. Isto é, existe certa dificuldade (inflexibilidade) no
processo de deformação plástica, onde é iniciado o trincamento no material,
por não ser capaz de acomodar deformação plástica localizada, com alívio de
tensão.
Vários modelos baseiam-se na idéia de nucleação de trinca em um sítio
de obstrução. Por exemplo, a interseção de uma banda de deslizamento com
um contorno de grão, ou com outra banda de deslizamento, e etc. Poderá ser
um local de obstrução.

Fratura Dúctil

Em materiais dúcteis o papel da deformação plástica é muito importante.


A característica importante é a mobilidade de discordâncias. As discordâncias
podem mover-se em um grande número de sistemas de deslizamento e
mesmo através de um plano para outro (deslizamento-cruzado).
Considere a deformação de um metal dúctil, por exemplo, cristal de
cobre, sob carregamento em tração uniaxial. O cristal sofre deformação
plástica por deslizamento. Não ocorrendo nucleação de trincas, o cristal
deforma plasticamente, de maneira uniforme, até o ponto de instabilidade
(corresponderá ao valor de carga máxima aplicada), chamado de estricção
(empescoçamento). A partir daí, a deformação é concentrada na região de
instabilidade plástica até a ruptura do cristal. No caso de um Corpo-de-prova
cilíndrico, um cristal macio de um metal como o cobre puro (livre de partículas,
inclusões, etc.) a seção de fratura reduzirá em um ponto. Entretanto, se, em um
material dúctil, existem elementos microestruturais tais como partículas de
segunda-fase, interfaces externas, etc., as microcavidades podem ser
nucleadas em regiões de alta concentração de tensão, de maneira similar ao
que é encontrado para materiais semifrágeis, exceto pelo fato que materiais
dúcteis apresentam grande plasticidade, onde as trincas geralmente não são
propagadas a partir destas cavidades, pois as regiões entre as cavidades
comportam-se como pequenas amostras ensaiadas que se alongam e são
fraturadas por instabilidade plástica.
A figura 33 ilustra esquematicamente o comportamento de um metal
dúctil sob carregamento uniaxial em tração. Ao longo do ensaio, no ponto de
carregamento máximo, atinge-se a instabilidade, onde não ocorre mais o
endurecimento por deformação, pois ocorre deformação localizada (diminuição
de seção do corpo-de-prova), desenvolvendo-se o empescoçamento do Corpo-
de-prova. Caracteriza-se assim, a estricção do material.
Para materiais de alta pureza, tem-se uma grande porcentagem de
estricção, pois os mesmo deformam-se acentuadamente a 100% de redução
de área. Nesta condição, o material deforma-se muito, em função da “facilidade
do movimento de discordâncias em sua estrutura. No entanto, materiais que
contém impurezas, falham com menores percentagens de deformação. Ocorre
nucleação de microcavidades entre inclusões, partículas de segunda-fase e
matriz do material; além de crescimento de vazios (geralmente através da
coalescência de microvazios) que vão formar uma falha macroscópica que irá
preceder a fratura do material.

Figura 33- Representação esquemática de curvas tensão x deformação de


ensaios de tração para materiais puros e materiais empregados usualmente em
Engenharia.

Para o desenvolvimento da fratura dúctil, comumente, são observados


os seguintes estágios:

 Formação de uma superfície livre através de uma inclusão ou partícula


de segunda-fase, ou por decoesão interfacial ou por trincamento da
partícula;
 Crescimento de vazios adjacentes ao redor da partícula através de
deformação plástica e tensão hidrostática;
 Coalescência entre vazios adjacentes.

Em sólidos cristalinos, as trincas podem ser nucleadas através de um


empilhamento de discordâncias em algum tipo de barreira. Estas trincas são
chamadas de ZenerStroh. As altas tensões desenvolvidas na frente da região
de empilhamento de discordâncias são aliviadas através de nucleação de
trincas. Fato ilustrado na Figura 34. No entanto, isto ocorrerá somente em
casos onde não existe alivio de tensões por movimentação de discordâncias no
outro lado da barreira. Dependendo da geometria do deslizamento nas duas
partes e na cinética de movimentação e multiplicação de discordâncias, poderá
ocorrer alguma combinação dos dois mecanismos.
Em materiais em que as partículas de segunda-fase e inclusões são
muito ligadas a matriz, a nucleação de vazios é freqüentemente a etapa critica.
A fratura ocorre assim que o vazio é formado. Quando a nucleação do vazio
ocorre facilmente às propriedades de fratura são controladas por crescimento e
coalescimento de vazios. O crescimento de vazios atinge um tamanho crítico,
onde ocorre a instabilidade plástica localizada entre os mesmos, resultando na
falha do material.
Portanto, o comportamento de um material dúctil ocorre com apreciável
deformação plástica, através de um lento rompimento com considerável gasto
de energia.

Figura 34 – Representação esquemática de empilhamento de discordância em


uma barreira promovendo a formação de uma microtrinca.

Tabela 3- Características da fratura dúctil

Aspectos  Zona fibrosa: inicio e propagação estável da trinca;


macroscópicos  Zona de cisalhamento a 45°: formada em
consequência do alívio de triaxilidade de tensões.
 Grande mobilidade de discordâncias- flexibilidade de
deslizamento.
 Criação de microcavidades, a partir da quebra de
Aspectos inclusões ou decoesão interfacial da partícula-
microscópicos matriz;
 Quando a capacidade para encruamento é exaurida,
o empescoçamento inicia-se as tensões triaxiais
resultantes causam a extensão lateral das
microcavidades, ocorrendo o coalescimento e
formação de uma trinca central.
Fractografia  Superfície com cavidades hemisféricas ou
parabólicas, conhecidas como dimples.
 Tipos de ruptura normal, por cisalhamento ou
rasgamento;
 Fratura tipo “taça cone” ou “copo-cone”
 Fratura “aresta de faca”

Nucleação e crescimento de vazios

Forma-se um vazio ao redor de uma partícula de segunda-fase ou


inclusão quando a partir de uma determinada tensão ocorre ruptura interfacial
entre ligações e a matriz. Existem vários modelos para explicar o mecanismo
de nucleação de vazios, onde alguns consideram a teoria do continuo enquanto
outros consideram os efeitos de interações entre discordância-partícula.
A figura 34 ilustra esquematicamente o crescimento e a coalescência de
microcavidades. Se a fração volumetrica inicial de vazios é baixa (<10%), cada
vazio pode crescer independentemente. Posteriormente, os vazios se
interagem promovendo o coalescimento.
Muitos materiais contêm uma distribuição bimodal ou trimodal de
partículas. Por exemplo, uma liga de alumínio endurecida por precipitação pode
conter partículas relativamente grandes, juntas com precipitados de segunda-
fase finalmente dispersas dispersóides para refinamentos de grãos.
Vazios formam muito mais facilmente nas inclusões, mas as partículas
pequenas podem contribuir em certos casos. Distribuição de partículas
bimodais podem gerar as chamadas superfícies cisalhantes.
Dependendo de como é aplicado o carregamento os mecanismos de
coalescimento podem ser por: ruptura normal(esforço trativo); ruptura por
cisalhamento; ruptura por rasgamento. As figuras 35 apresentam estes
diferentes modos de aplicação de cargas.
Figura 34 – Representação esquemática de nucleação, crescimento e
coalescência de vazios em metais dúcteis.
Figura 34- Representação esquemática de nucleação, crescimento e
coalescência de vazios em metais dúcteis.

Figura 35- Representação esquemática de mecanismos de coalescimento de


microcavidades (ruptura normal, ruptura por cisalhamento e ruptura por
rasgamento).
Crescimento de trinca em um material dúctil

Quando uma trinca cresce, em um material, por coalescimento de


microcavidades, a trinca exibe um efeito de tunelamento, onde ela cresce mais
rápido no centro do material, devido ao estado triaxial de tensão desenvolvido
nesta região. Esta variação de tensão pode produzir a zona cisalhante, onde o
crescimento da trinca próximo à superfície ocorre com um ângulo em torno de
45° em relação ao eixo de carregamento.
A figura 36 ilustra esquematicamente as etapas de iniciação,
crescimento e coalescência de microcavidades nos vértices de uma trinca pré-
existente. Quando uma estrutura trincada é carregada, o estado de tensão e
deformação no vértice da trinca torna-se suficiente para nuclear vazios. Os
vazios crescem quando ocorre o embotamento da trinca, e eventualmente eles
são unidos a uma trinca principal. Com a continuidade deste processo, tem- se
o crescimento da trinca.

Figura 36 - Representação esquemática do mecanismo de crescimento


de trinca para uma fratura dúctil.

Na realidade, em função do estabelecimento do estado plano de


deformação no centro do corpo de prova, o crescimento de trinca parece ser
relativamente plano, mas observando através de maiores aumentos nota-se
uma estrutura complexa. Para uma trinca sujeita ao estado plano de
deformações, com o carregamento segundo o modo I, a deformação plástica
ocorre a 45° do plano da trinca, como ilustrado na figura 37. Localmente, este
ângulo é preferido para o coalescimento de microcavidades, mas o
constrangimento global requer que a propagação da trinca permaneça no plano
original. Com isto, a trinca cresce com um formato em zig-zag.
Figura 37 – Representação esquemática do modelo de crescimento de
trinca em zig-zag (45°) para um material dúctil.

Na pratica os materiais geralmente contém uma grande quantidade de


fases dispersas. Estas podem ser de partículas muito pequenas (1 a 20nm) tais
como carbonetos de elementos de liga, partículas de tamanho intermediário (50
a 500nm) tais como compostos de elementos de liga(carbonetos, nitretos,
carbonitretos) em aços ou em partículas dispersas tais como Al 2O3(alumina) em
alumínio e ThO2 em níquel. Partículas precipitadas obtidas por tratamentos
térmicos apropriados também formam parte deste tipo de classe e, também,
inclusões de grande tamanho (da ordem de milímetros) como os óxidos e
sulfetos.
Se partículas de uma segunda-fase são frágeis e a matriz dúctil, elas
não serão capazes de acomodar a grande deformação plástica da matriz, e,
consequentemente estas partículas serão fragilizadas no inicio da deformação
plástica. Quando a interface partícula/matriz for muito fraca, a separação
interfacial ocorrerá. Em ambos os casos microcavidades são nucleadas a partir
destes sítios, Isto é ilustrado nas figuras 38,39. Geralmente, os vazios são
nucleados a partir de pouca percentagem de deformação plástica, enquanto
que a separação final pode ocorrer em torno de 25%. As microcavidades
crescem com o deslizamento, e o material entre as cavidades pode ser
visualizado como uma pequena parte do material sob esforço trativo. O
material entre os vazios sofre estricção em uma escala microscópica, onde os
vazios são unidos, promovendo o fenômeno do coalescimento. No entanto,
esta deformação (estricção) microscópica não contribui significativamente para
a deformação total do material. Este mecanismo de iniciação, crescimento e
coalescência de microcavidades dá uma superfície de fratura com aparência
característica
.
Figura 38- Representação esquemática da nucleação de cavidades a
partir de uma partícula de segunda fase; (a) ruptura de partículas; (b) decoesão
partícula-matriz.

Figura 39-Modelo de propagação de trinca por ruptura de partículas e


decoesão com a matriz.

Às vezes, devido às tensões triaxiais desiguais, estes vazios são


alongados em uma ou outra direção. A nucleação e crescimento de vazios são
de muita importância na determinação das características de fratura de
materiais dúcteis. Muitos pesquisadores identificaram as partículas de
segunda-fase e inclusões como as principais fontes de vazios. O tamanho,
separação, e as ligações interfaciais destas partículas de segunda-fase. O
tamanho, separação, e as ligações interfaciais destas partículas determinam as
características globais da fratura dúctil e, portanto, a ductilidade do material.
Vazios são nucleados e crescem no interior do material quando a
deformação plástica atinge um nível crítico. Os vazios crescem até serem
coalescidos. Como vazios coalescem, eles se expandem em áreas adjacentes,
devido ao efeito de concentrador de tensão. Quando o centro do material é
separado, esta falha crescerá em direção às extremidades. Desde a mudança
no constrangimento elasto-plástico, o plano de máxima tensão cisalhante é
favorecido (aproximadamente 45° do eixo de tração), e adicional crescimento
ocorrerá ao longo destes planos, onde irão formar os lados da “taça”. A figura
40 mostra a sequência de propagação da fratura dúctil, com a formação de
dimples. Os dimples são produzidos por nucleação de vazios a frente de uma
trinca principal que tem um embotamento nos vértices devido à plasticidade do
material. O vazio na frente da trinca cresce e eventualmente coalesce com a
trinca principal. Novos vazios são nucleados na frente da trinca em
crescimento, e o processo evolui com o tempo.

Figura 40 – Representação esquemática de uma fratura do tipo “taça-


cone”.
Figura 41- Representação esquemática de etapas que levam a formação de
uma fratura.(a)Taça de cone e (b)fratura dúctil.

.
Fratura frágil

É o tipo de fratura que ocorre sem deformação plástica macroscópica,


sob tensões inferiores às correspondentes ao escoamento generalizado, e com
velocidade de propagação de trinca bem elevada.

Clivagem

A fratura por clivagem pode ser definida quando ocorre rápida


propagação de uma trinca ao longo de um plano cristalográfico particular. A
clivagem pode ser frágil, mas ela pode ser precedida por uma deformação
plástica, que pode ser grande ou não. Os planos de clivagem preferenciais são
aqueles com a mais baixa densidade de empacotamento, onde poucas
ligações são rompidas e o espaçamento entre planos é relativamente grande.
Nos caso dos materiais CCC, a clivagem ocorre na família de planos {100}.

Tabela 4 – características da fratura por clivagem.

Aspectos  Zona radial: inicio e propagação da trinca


macroscópicos  Zona de cisalhamento a 45°
Aspectos  Ruptura de ligações-clivagem, sem deformação, por
microscópios uma separação direta ao longo dos planos
cristalográficos específicos, por um simples
arrancamento de ligações químicas
Fractografia  Facetas de clivagem: numerosos platôs, normalmente
mostrando um alto de grau de perfeição geométrica e
refletividade;
 Marcas de rio: resultantes do crescimento de trincas
simultaneamente em dois ou mais planos
cristalográficos paralelos, juntando-se em forma de
degraus;
 “linguas de clivagem”: formadas quando a trinca
propaga-se, por uma distância relativamente curta, ao
longo de um plano principal de clivagem (interface
macla-matriz);
 Fratura transgranular: a trinca propaga-se pelo interior
de cada grão.
 Fratura intergranular: fratura de baixa energia, com a
trinca percorrendo os contornos de grão do material,
principalmente devido a presença de partículas de
segunda-fase.

O caminho da fratura é transgranular em materiais policristalinos. A


propagação da trinca muda de direção cada vez que ela cruza um contorno de
grão; a trinca procura o plano de clivagem mais favoravelmente orientado em
cada grão. A orientação nominal da trinca por clivagem é perpendicular à
tensão principal máxima.
A clivagem ocorre quando a deformação plástica é restringida no
material. Metais CFC são usualmente não susceptíveis à ocorrência de
clivagem, pois apresentam comportamento dúctil, onde o mecanismo de
deslizamento é operante em praticamente todas as temperaturas. Em baixas
temperaturas, metais CCC falham por clivagem, pois existem uns números
limitados de sistemas de deslizamento. Metais policristalinos com estrutura HC,
que apresentam apenas 3 sistemas de deslizamento por grão, são também
suscetíveis à fratura por clivagem.
A clivagem desenvolve-se por separação direta ao longo de planos
cristalográficos específicos através de rupturas de ligações atômicas. Na figura
42 esquematiza a fratura por clivagem transgranular. O ferro, por exemplo,
sofre clivagem ao longo de seus planos (100). O aspecto resultante é uma
superfície de fratura plana dentro do grão.
Em um material policristalino, os grãos adjacentes apresentam
diferentes orientações. Assim, a clivagem muda de direção nos contornos de
grão para continuar ao longo de determinados planos cristalinos. As facetas de
clivagem vista através de grãos apresentam “alta” refletividade, que dá a
superfície de fratura um aspecto brilhante.
Figura 42- Representação esquemática da propagação de uma clivagem
transgranular.

Às vezes a superfície de fratura por clivagem mostra algumas pequenas


irregularidades; por exemplo, “marcas de rio”. O que acontece é que dentro de
um grão, trincas podem crescer simultaneamente em dois planos
cristalográficos paralelos. Como pode ser visto na Figura 43 (a). As trincas
paralelas podem se juntar, por clivagem secundária ou por cisalhamento,
formando um degrau. Os degraus de clivagem podem ser iniciados pela
passagem em uma discordância em hélice, como mostrado na figura 43 (b).
Em geral, o degrau de clivagem será paralelo a direção de propagação
da trinca e perpendicular ao plano que contém a trinca; com isto tem-se uma
minimização de energia pra formação de degrau, onde é criado um mínimo de
superfície adicional. Um grande número de degraus de clivagem pode se juntar
e formar múltiplos degraus. Por outro lado, degraus de sinais contrários podem
se juntar e desaparecerem. A figura 43(c) mostra o encontro de uma trinca por
clivagem com um contorno de grão. Após o encontro, a trinca deve propagar
em um plano de clivagem que é orientado de maneira diferente. A trinca pode
fazer isto em vários pontos e espalhar em direção a um novo grão.
Sob circunstâncias normais os metais que têm estrutura cristalina CFC
não apresentam clivagem. Nestes metais, uma grande quantidade de
deformação plástica ocorrerá antes que a tensão necessária para ocorrer à
clivagem é atingida. Clivagem é comum em estruturas CCC e HC,
particularmente em ferros e aços baixo-carbono. Tungstênio, molibdênio e
cromo (todos CCC), e zinco, berílio, magnésio (todos HC) são outros exemplos
de metais que sofrem fratura por clivagem.
Metais frágeis são aplicados como estruturas na engenharias. Como
exemplos, tem-se os aços ferramentas, ferros fundidos: cinzento e branco, e
muitos outros metais. Salienta-se que as aplicações destes materiais são
limitadas.
Figura 43 - Representação esquemática de formação de degraus em
clivagem.

Em geral, é característica de metais duros, resistentes e sensíveis ao


entalhe, serem frágeis, embora seja feitas pesquisas no sentido de melhorar o
desempenho destes materiais sem o perigo de ocorrer fratura frágil.
Contrariamente, metais macios usualmente apresentam fratura dúctil. Ferro
fundido cinzento é uma exceção. Este material é frágil, pois contem uma
grande quantidade de grafita (veios) internamente, que agem como
concentradores de tensão e limitam a habilidade do metal deforma-se, para
que o mesmo tenha um comportamento dúctil.

Mecanismo de iniciação da clivagem

Desde que a clivagem envolve o rompimento de ligações, a tensão


localizada deve ser suficientemente superior à resistência teórica coesiva do
material. De acordo com a literatura a resistência teórica de um sólido cristalino
é aproximadamente E / p . Através de análise de elementos finitos, a tensão
máxima obtida na frente de um vértice de uma trinca é de 3 a 4 vezes o limite
de escoamento do material. Para um aço com limite de escoamento de 400
MPa e módulo de elasticidade de 210 GPa, a resistência coesiva deve ser em
torno de 50 vezes maior do que a tensão máxima encontrada na frente do
vértice da trinca. Então uma trinca macroscópica produz uma concentração de
tensão insuficiente para exceder a resistência de ligação.
Assim, para clivagem iniciar, deve haver uma descontinuidade à frente
da trinca macroscópica que é suficiente para exceder a resistência de ligação.
Uma microtrinca aguda é um caminho para fornecer suficiente concentração de
tensão. Cottrel postulou que microtrincas são formadas através de interseções
de planos de deslizamento por meio de interações de discordâncias.
Entretanto, um mecanismo comum para a formação de microtrincas em aços,
envolve inclusão e partículas de segunda-fase.
A figura 44 ilustra o mecanismo de clivagem em aços ferríticos. A trinca
macroscópica fornece uma concentração de tensão e deformação localizada.
Uma partícula de segunda-fase, tal como um carboneto ou inclusão, trinca por
causa da deformação plástica nas vizinhanças da matriz. Para este ponto a
microtrinca pode ser tratada como uma trinca “Griffth”. Se a tensão à frente da
trinca macroscópica é suficiente, a microtrinca propaga-se na matriz ferrítica,
causando falha por clivagem.

Figura 44- Iniciação da clivagem em uma microtrinca que é formada em


uma partícula de segunda-fase à frente de uma trinca macroscópica.

Suscetibilidade à fratura por clivagem é intensificada por qualquer fator


que aumenta o limite de escoamento, tal como “baixas” temperaturas, estado
triaxial de tensões, “altas” taxas de deformação e envelhecimento por
deformação.
Em alguns casos a clivagem é nucleada, mas a fratura total do material
ou da estrutura não ocorre. A figura 45 ilustra 3 exemplos em que a clivagem
não sucedeu. Em 45 (a) tem-se uma microtrinca que parou na interface
partícula/matriz. Desenvolve uma trinca na partícula devido à deformação na
matriz, mas a trinca é incapaz de progredir porque a tensão aplicada é menor
do que a necessária para fraturar. Esta microtrinca não reinicia, pois a
deformação subsquente causa embotamento da trinca. Microtrincas devem
permanecer agudas para que a tensão exceda a resistência coesiva do
material. Se uma microtrinca em uma partícula progride dentro da matriz
ferrítica, ela pode parar no contorno de grão, como mostrado na figura 45(b).
Mesmo se a trinca propagar sucessivamente nas vizinhanças dos grãos, ela
pode ainda parar se há um gradiente de tensão à frente da trinca 45(c).
Figura 45- Iniciação da clivagem em uma microtrinca que é formada em uma
partícula de segunda-fase à frente de uma trinca mascroscópica.

A superfície multifaceta é típica de clivagem em um material


policristalino, cada faceta corresponde a um grão. As “marcas de rios” em cada
faceta são também típicas da fratura por clivagem. Estas marcas são também
assim chamadas por causa das múltiplas linhas que convergem em uma única
linha. Como a fratura ocorre através de grãos, este tipo de fratura é
frequentemente referido como sendo transgranular. Assim, se torna possível
verificar a direção de propagação da fratura através das orientações das
“marcas de rios”.
A figura 46 (a, b) ilustra como as “marcas de rios” são formadas. Como o
processo de propagação e múltiplas trincas consome mais energia do que a
propagação de uma trinca em um plano, há uma tendência de que a trincas
convergem em uma única trinca. Então a direção de propagação de trinca pode
ser inferida através de “marcas de rios”. A figura 47 mostra como a fratura
ocorre por clivagem através dos grãos, este tipo de fratura é frequentemente
referido como transgranular.

(a)
(b)

Figura 46- “Marcas de rios” em superfícies de fratura frágil indicando os pontos


de origem de trincas; (a) Representação esquemática; (b) fratura frágil de um
corpo de prova ensaiado sob impacto.
Figura 47 - Representação esquemática de fratura frágil com “marcas de rio”.

A fratura frágil pode apresentar alguma marcas de linhas radias (ridges),


indicando a origem do processo de fratura. E ainda, existem situações em que
ocorrem aspectos de fratura com características do tipo: marcas em ”V”
(chevron) que apontam em direção a origem da fratura.

Figura 47- Representação esquemática de uma fratura frágil, onde é


possível perceber a origem do trincamento além das marcas em V (chevrons)
que apontam em direção a origem da fratura.

A fratura frágil de metais extremamente duros, com grãos finos,


usualmente apresenta poucas ou nenhuma marca visível na superfície de
fratura. Nestes casos, pode ser muito difícil localizar a origem no trincamento.
A fratura frágil usualmente propaga-se por clivagem e/ou de maneira
intergranular. Em muitos casos é necessário estudar a superfície de fratura
através de um MEV.
A fratura denominada por “quase-clivagem” é um tipo de fratura que é
formada quando a clivagem ocorre em uma escala muito pequena em planos
de clivagem que não são bem definidos. É comum ver este tipo de fratura em
aços temperados e revenidos. Estes aços contêm martensita e partículas de
carbonetos cujo tamanho e distribuição podem levar a uma insuficiente
definição de planos de clivagem em grãos austeniticos. Então, os planos de
clivagem reais são mudados para pequenas facetas não bem definidas. Estas
pequenas facetas podem dar a aparências mais de uma fratura dúctil do que a
clivagem normal, geralmente, as “marcas de rios” não são observadas.

Transição dúctil-frágil

A forma de fratura mais frágil é a fratura por clivagem. A tendência para a


fratura por clivagem aumenta com o aumento da taxa de deformação ou em um
decréscimo na temperatura do material. Isto é mostrado, tipicamente, em aços
que apresentam a transição de fratura dúcti-frágil, figura 48(a,b). A temperatura
de transição dúctil/frágil aumenta com o aumento na taxa de deformação.
Acima da Temperatura de transição dúctil-frágil o aço apresenta fratura dúctil,
enquanto que abaixo ela sofre fratura frágil.

(a) (b)
Figura 48-Representação esquemática do efeito da temperatura na
tenacidade de metais que exibem a transição dúctil- frágil
.
A tenacidade à fratura de um aço ferrítico pode mudar drasticamente
para uma pequena faixa de temperatura figura 49 (a, b). Para baixas
temperaturas, o aço é frágil e falha por clivagem. Para altas temperaturas, o
material é dúctil e falha por coalescimento de microcavidades. A fratura dúctil
inicia para um valor particular de tenacidade, como indicado na linha hachurada
da figura 49(a). A trinca cresce quando a carga é aumentada. Eventualmente o
material falha instantaneamente por colapso plástico ou rasgamento. Na região
de transição dúctil frágil, ambos os mecanismos de fratura podem ocorrer no
mesmo material. Na região de transição inferior, o mecanismo é por clivagem
pura, mas aumentando a tenacidade com a temperatura a clivagem torna-se
mais difícil. Na região superior da transição, a trinca inicia por coalescimento de
microcavidades, mas falha final ocorre por clivagem. Isto porque,
provavelmente, não existem partículas críticas próximas ao vértice da trinca
que poderiam desenvolver a clivagem. Eventualmente, com o crescimento de
trinca e com as partículas, a clivagem ocorre. Pelo fato de que a energia
absorvida (tenacidade à fratura) na região de transição dúctil/frágil é governada
por efeitos estatísticos, em função das heterogeneidades do material, os dados
tendem a ser altamente dispersos.
A figura 50 (a, b) mostram resultados de ensaios de impacto onde nota-
se a mudança no aspecto de fratura em função da temperatura de ensaio.

Figura 49 - A transição dúctil/frágil em aços de “baixa” e “média” resistência


mecânica. O mecanismo muda de clivagem par coalescência de
microcavidades quando a temperatura aumenta.

Figura 50- Ensaios de impacto; energia absorvida versus temperatura;


superfície de fratura.
Fratura intergranular

Em muitos casos, os metais não falham ao longo de contornos de grão.


Metais dúcteis usualmente falham por coalescimento de vazios, formando por
inclusões e partículas de segunda-fase, enquanto que metais frágeis falham
tipicamente por clivagem transgranular. No entanto, sob certas circunstâncias,
trincas podem se formar e propagar ao longo do contorno de grão.
Não existe nenhum mecanismo específico para fratura intergranular. No
entanto, existe uma variedade de situações que podem levar ao trincamento.
 Precipitação de uma fase frágil em contornos de grão;
 Fragilização pelo hidrogênio e por metais líquidos;
 Trincamento induzido por meio corrosivo;
 Corrosão intergranular;
 Cavitação em torno de grãos e trincamento em altas temperaturas.
A fratura intergranular é um modo por fratura de baixa-energia. A trinca
propaga-se nos contornos de grão, como mostrado esquematicamente na
figura 51. Tendo a fratura uma aparência de frágil e refletividade em escala
macroscópica. Em escala microscópica, a trinca pode desviar de uma partícula
e produzir uma microcavidade localmente. Fraturas intergranulares tendem
ocorrer quando os contornos de grãos são mais frágeis do que a rede
cristalina. Isto ocorre, por exemplos, em aços inoxidáveis com o tratamento
térmico de sensitização (aquecimento e resfriamento lento, onde ocorre
precipitação de carbonetos, frágeis, por exemplo, Cr 23C6; o material poderá
também sofrer corrosão intergranular). A segregação de fósforo ou enxofre em
contornos de grãos pode também levar o material a sofrer fratura intergranular.
Em muitos casos, a fratura em alta temperatura através do fenômeno de
fluência tende a ser intergranular.
A figura mostra uma representação esquemática comparando os
mecanismos de fratura dúctil por clivagem e intergranular.

(a) Fratura dúctil (b) Fratura Frágil (c) Fratura


Intergranular

Figura 51- Representação esquemática de mecanismos de fraturas (a) dúctil


(b) Frágil (clivagem) (c) Intergranular.
Fratura por Fadiga

Resulta no desenvolvimento progressivo de uma trinca, sob a influência


de aplicações repetidas de tensões, geralmente inferiores ao limite de
escoamento do material.
Pode-se definir fadiga como sendo um processo de alteração estrutural
progressivo, localizado e permanente que ocorre em um material submetido a
condições que produzem variações de tensões e deformações em um ou mais
pontos do material e que pode culminar em trincas ou fratura completa após
um número suficiente de flutuações ou ciclos.
Sob circunstâncias de carregamento cíclico, é possível a ocorrência de
uma falha em um nível de tensão consideravelmente inferior ao limite de
escoamento em um carregamento estático. A falha por fadiga, quando ocorre é
geralmente catastrófica e traiçoeira podendo ocorrer de forma inesperada.
O comportamento de um material submetido à fadiga é afetado por sua
composição química e por sua microestrutura, como tamanho de grãos,
inclusões e segregações no material, além dos efeitos dos processamentos
térmicos e mecânicos aplicados ao material. Em dimensões microscópicas
tem-se o movimento de discordâncias e os diferentes mecanismos de
multiplicação e interação dessas com outros defeitos cristalinos.
Os Processos de fadiga podem ser dividido em 3 estágios:
 Estágio I – correspondente à nucleação de trincas em descontinuidades
já inicialmente presentes no material, ou durante a clivagem, em
intrusões e extrusões, ao longo de inclusões, em contornos de grãs e de
maclas, etc.
 Estágio II - corresponde ao crescimento da trinca num plano
perpendicular à direção de tensão aplicada.
 Estágio III – Corresponde a fratura brusca final, quando a trinca atinge o
tamanho critico para propagação instável.

Fractografia:

 Macrofractografia: o aspecto mais característico é a presença de


“marcas de praia”, produzidas em consequência de alterações no ciclo
de tensões, seja no seu valor ou na frequência de aplicação, assim
como paradas intermediárias.

 Microfractografias: presença de estrias, cada uma corresponde a um


ciclo de tensão.

A fratura por fadiga ocorre como resultado de carregamento mecânico


puro, ou também em conjunto com fricção entre superfícies, ação de ambiente
agressivo, ou temperatura elevada. O processo de degradação progressiva dos
materiais pode ser dividido os seguintes termos.
 Produção de dano cíclico inicial, na forma de endurecimento ou
amolecimento do material;
 Criação de microtrincas;
 Coalescimento destas microtrincas, para formar um defeito inicial “fatal”;
 Subsequentes propragação macroscópicas deste defeito;
 Falha final catrastrófica ou instabilidade.
Em termos de engenharia, os primeiros três estágios, envolvendo
deformação cíclica, iniciação e crescimento de microtrincas, são geralmente
classificados conjuntamente como iniciação de uma microtrinca. Isto implica na
formação de um defeito possível de ser detectável.
É importante registrar que o dano de fadiga somente ocorrerá quando
deformações plásticas cíclicas forem geradas. Por outro lado, deve-se sempre
tomar o cuidado com o nível de carregamento, mesmo se as tensões
envolvidas estiverem abaixo do limite de escoamento do material, uma vez que
pontos de concentrações de tensão elevam facilmente as tensões locais,
podendo levar o material a sofrer a deformação plástica.
A fratura por fadiga são geralmente consideradas os tipos mais drásticos
de fratura nos materiais, pois elas geralmente ocorrem em condições normais
de serviço, sem carregamento excessivos, e sob condições normais de
operação. Elas são progressivas, onde iniciam através de pequenas trincas
que crescem sob ação de tensões flutuantes.
A fratura final pode ter características frágeis ou dúcteis, dependendo do
material envolvido e das circunstâncias das tensões e do meio.
A figura 52 mostra uma representação esquemática das etapas de
nucleação (estágio I) e propagação (estágio II) de trincas por fadiga.
Normalmente, estes pontos são pontos concentradores de tensão onde ocorre
deformação plástica localizada. A figura 52 mostra a evolução de uma trinca
por fadiga onde têm-se a zona plástica na ponta da mesma; nota-se também, o
surgimento de estrias em decorrência da zona plástica.
(a) (b)
Figura 52- Representação esquemática na figura (a) mostrando os
estágios: I (nucleação) e II (propagação) de trinca por fadiga em metais
policristalinos. E em (b) trinca por fadiga destacando-se a zona plástica na
ponta de mesma e a geração de estrias na fratura.

Mecanismos de iniciação de trincas - Características microscópicas

Em termos microestruturais, três sítios para iniciação de trincas podem


ser considerados no fenômeno de fadiga: bandas de deslizamento
persistentes, contornos de grãos e inclusões.
O movimento de discordâncias, em plano de deslizamento, promove a
formação de banda de deslizamento persistentes, com o surgimento de
extrusões e intrusões na superfície do material e eventual nucleação e
subsequente propagação de trincas. Em dimensões macroscópicas, tem-se
como variáveis a geometria e a dimensão dos componentes, a presença de
entalhes e as condições de acabamento superficial.
As bandas de deslizamento são formadas por um grande conjunto de
planos de deslizamento, a partir da deformação plástica cíclica localizada, com
uma subestrutura de discordâncias bastante diferente do restante do material.
As bandas de deslizamento persistentes concentram a maior parte da
deformação plástica a qual o material está submetido no regime de deformação
cíclica, de 100 a 1000 vezes maior do que no restante do material.
As bandas são chamadas de “deslizamento persistente” devido a dois
fatores. Primeiro, quando uma seção metalográfica é preparada em um
material fadigado, as bandas de deformação persistem após o ataque químico,
indicando a presença de dano local. Segundo, quando a superfície do material
é removida por polimento e o material é fadigado novamente, novos danos
aparecem nos mesmos lugares. Consequentemente, os danos para iniciação
da trinca não se localizam apenas na superfície externa do material, mas
estendem-se para o interior.
Um dos primeiros modelos propostos para explicar a formação das
bandas de deslizamento persistente foi o proposto por Wood (1958), e está
esquematizado na figura 53. Enquanto a deformação plástica, em decorrência
do carregamento estático superfície, promove uma série de degraus
escalonados de maneira crescente na superfície do material- Figura 53(a) a
irreversibilidade da deformação plástica cíclica leva a uma rugosidade
superficial, com a formação de protuberâncias que afloram e que penetram na
superfície do material 53(b).

Figura 53- Representação esquemática comparando carregamentos:


(a)Estático; (b) cíclico – geração de extrusões e intrusões; PSB= bandas de
deslizamentos persistente (BDP).

Estas irregularidades são chamados de extrusões e de intrusões. As


bandas de deslizamento persistentes são então constituídas por estas
extrusões e intrusões.
A interface entre uma Banda de deslizamento permanente e a matriz é
um plano de descontinuidades, ao longo do qual existem abruptos gradientes
na densidade e distribuição de discordâncias. Deve-se esperar, portanto, que
estas interfaces sejam sítios preferências para nucleação de trincas por fadiga.
Outros sítios importantes para a nucleação de trincas por fadiga são os
contornos de grãos do material. Uma possível fonte seria a interação entre a
banda de deslizamento permanente e o contorno do grão. Neste modelo, um
empilhamento de discordâncias diante do contorno de grão exerce uma força
sobre interface, que é diretamente proporcional ao tamanho de grão. Outra
possibilidade, segundo Kim e Laird (1978) seria que quando os contornos
separam com grande diferença de orientação cristalográfica entre si, e o plano
do contorno de grão na superfície externa faz um ângulo variando de 30 a 90°
com a direção do eixo da tensão aplicada. Nestas condições, a nucleação da
trinca é precedida pela formação de um degrau na interface, cuja altura atinge
1 ou 2µm. Tal irregularidade formada na superfície é um microentalhe bastante
severo que, se orientado para formar um grande ângulo com o eixo de tensão
(tração), constitui um concentrador de tensão bastante severo.
Em ligas comerciais de engenharia, as principais fontes de nucleação de
trinca incluem porosidades, inclusões, concentradores macroscópicos de
tensão, assim como região de não uniformidade microestrutural e química.
O crescimento de trinca por fadiga é fortemente afetado pelas
características microestruturais de deslizamento do material, nível de tensão
aplicada e extensão da zona plástica à frente da trinca. Em metais dúcteis, o
crescimento cíclico da trinca pode ser considerado como um processo de
intensa deformação localizada em bandas de deslizamento próximas à ponta
da trinca, que leva à criação de novas superfícies de trincas por decoesão em
cisalhamento. Quando a trinca e a zona de deformação plástica à frente da
ponta da trinca são confinadas dentro de poucos grãos do material, o
crescimento de trinca ocorre predominantemente por cisalhamento simples, na
direção do sistema de deslizamento primário. A Figura 54 demonstra esta
situação.
Este mecanismo simples de deslizamento leva a um caminho de trinca
característico de zig-zag. Trata-se do estágio I de crescimento de trinca.

Figura 54- Representação esquemática de propagação de trinca por fadiga

Mesmo quando o tamanho da zona plástica à frente da trinca é igual


para duas microestruturas diferentes (com o mesmo tamanho de grão) de uma
liga dúctil, características distintas de deslizamento podem levar a um aspecto
diferente na fratura.
Exemplo disso são as ligas endurecidas por precipitação, com a
microestrutura subenvelhecida e superenvelhecida. No primeiro caso, a
microestrutura consiste de precipitados coerentes e cisalháveis por
discordâncias.
Neste caso, o deslizamento ocorre dentro dos grãos ao longo de um
simples sistema de deslizamento, é o chamado deslizamento planar. Este
deslizamento simples promove um caminho de trinca serrilhado e tortuoso, cujo
tamanho é da ordem do tamanho de grão do material. No segundo caso, por
outro lado, os precipitados são incoerentes com a matriz, sendo envolvidos
pelas discordâncias durante o deslizamento. O modo de deformação resultante
consiste na atuação de mais de um sistema de deslizamento, e a trinca exibe
um perfil mais plano.
À medida que a trinca vai se propagando, a zona plástica à frente da
trinca engloba diversos grãos. O processo de crescimento de trinca evolve
escoamento simultâneo ou alternado ao longo de dois sistemas de
deslizamento. Este mecanismo de deslizamento duplo, denominado de estágio
II, resulta numa propagação planar da trinca (modo I) normal ao eixo de
aplicação da carga. A figura 55 ilustra esse crescimento para uma amostra de
cobre. Em monocristais a transição entre os estágios I e II causa a formação de
estruturas células de discordâncias e a quebra de bandas de deslizamento
persistentes na ponta da trinca.

a) b)

Figura - 55-Representação esquemática de propagação planar de trinca


(a); amostra de cobre(b).

A transição do estágio I para o estágio II do crescimento da trinca é


acompanhada por uma visível mudança no comportamento à fratura, de
fortemente sensível à microestrutura para praticamente insensível À
microestrutura.
O estágio II de crescimento de trinca por fadiga em muitas ligas
metálicas é caracterizado pela formação de estrias de fadiga. Estas estrias,
inicialmente observadas por Zappfe e Worden (1951), consistem de
ondulações na superfície de fratura.
A distância entre duas estrias está relacionada com a velocidade de
propagação da trinca e esta distância varia com a história de carregamento.
Diversos modelos tem sido propostos nas ultimas décadas para explicar a
formação de estrias de fadiga e o crescimento planar de trinca no estágio II.
Destaca-se a conceituação física proposta por Laird(1967), baseada na
idealização de embotamento plástico. Neste modelo, o incremento de extensão
de trinca por ciclo de fadiga ocorre devido ao embotamento plástico da ponta
da trinca. Admitindo-se em deslizamento duplex, a ponta da trinca embota
plasticamente após a aplicação de tensão de tração, conforme mostrado na
figura 56.
Figura 56 – Representação esquemática mostrando as etapas da evolução de
uma trinca por fadiga, com estrias. (a) fechamento; (b) abertura; (c) trinca na
máxima carga- embotamento; (d) fechando; (e) fechada; (f) novamente abrindo.

As estrias são as evidências mais características da fratura por fadiga,


embora nem sempre estão presente nas superfícies de fratura por fadiga, por
uma variedade de razões. Em metais com alta dureza superior a 50HRc
desenvolvem muito pouco ou nenhuma estria pela ausência de ductilidade.
Uma vez atingida a tenacidade do material durante o crescimento de
trinca, passa-se ao estágio III de propagação de trinca por fadiga. Trata-se,
neste caso, de uma transição entre o comportamento de fadiga e a fratura final
por tração do material.

Macrofactografia de falhas por fadiga

Uma trinca por fadiga propaga-se macroscopicamente numa direção


normal à direção de aplicação da carga. Em geral, tem-se um aspecto liso na
fratura, não apresentando sinais de deformação plástica, o que se assemelha a
uma fratura frágil. A fratura por fadiga possui, entretanto certas características
que a distinguem da fratura frágil.
Uma vez iniciada a trinca de fadiga, a sua propagação consiste de um
processo não uniforme, alternando-se com zonas de crescimento rápido e
zonas de crescimento lento. Este modo de propagação descontínuo origina o
aparecimento, na superfície de fratura, de marcas, designadas como marcas
de praia. As marcas de praia se formam quando se verificam variações da
velocidade de propagação, paradas ou acelerações, por efeito de alterações na
tensão aplicada, motivada por fatores externos e internos.
Uma trinca pode iniciar-se em diversos pontos de um mesmo
componente, propagando-se no mesmo plano ou em planos paralelos, que
poderão ligar-se entre si, formando degraus. A formação destes degraus dá
origem a outra característica macroscópica das superfícies de fratura por
fadiga, chamada de catracas.
Assim, as catracas são marcas radiais, que se formam na superfície de
fratura por fadiga quando se têm diversos pontos de iniciação de trincas,
situados em planos diferentes. As marcas de praias são geralmente elípticas
que se formam na superfície de fratura por fadiga quando existem períodos de
mudança na tensão média ou então por período de corrosão diferenciada.
A trinca de fadiga principal pode ser acompanhada de trinca secundária,
ou ramificação da trinca principal, seguindo uma direção normal à superfície de
fratura.
Quando a trinca de fadiga atingir dimensões critica, para a tenacidade à
fratura do material e tensão aplicada, origina-se o colapso instável do
componente por fratura dúctil ou frágil. Normalmente, a fase final de fratura
apresenta-se com um aspecto mais rugoso e irregular, que a distingue da
fratura por fadiga.
A magnitude e o modo de aplicação da carga cíclica, assim como o
número de possíveis locais para iniciação de trinca, influenciam a morfologia da
fratura e a sua orientação, sendo que uma análise pós-fratura pode ajudar a
determinar o tipo de solicitação presente, quando este não é conhecido. Na
figura 57 apresentam situações de baixas e altas tensões nominais aplicadas,
corpos de prova com e sem entalhes em diferentes níveis de carregamento
(tração-tração; tração-compressão,flexão uni e bidirencional; torção). Em
situações onde o nível de carregamento é alto, as regiões de marcas de praia
são menores, implicando numa zona de ruptura final (etapa de propagação
instável da trinca maior). E, também, o efeito de concentrador de tensão na
nucleação de trincas; nota-se que quando ocorre a condição de “alta” tensão
nominal e severo concentrador de tensão surgem mais onde as trincas são
nucleadas. É possível verificar que quando o carregamento é em flexão
bidirecional ocorre nucleação de trincas nos dois lados do corpo de prova,
através de duas zonas de marcas de praia.
Figura 57- Representação esquemática do efeito do tipo de solicitação no
aspecto de fratura por fadiga em corpos de prova cilíndricos sem entalhe e com
entalhe.

As “marcas de praia” são características típicas em muitas fraturas por


fadiga, onde sua presença é uma maneira positiva para identificação deste tipo
de fratura. O termo é usado para descrever as marcas macroscópicas que são
características de interrupções nos períodos de propagação ( estágio II ) das
fraturas por fadiga em metais relativamente dúcteis.
As “marcas de praia” são formadas normalmente de duas formas:

 Por deformação plástica microscópica na ponta da trinca por fadiga


durante um período de parada ou quando a tensão cíclica não é alta
suficiente para fazer a trinca por fadiga evoluir;
 Por diferença de tempo de ataque corrosivo na etapa de propagação de
trinca por fadiga. A área próxima a origem do trincamento fica exposta
mais tempo em relação às outras regiões durante a propagação da
trinca. Em alguns metais e meios corrosivos os produtos de corrosão
apresentam diferentes tonalidades de cor desde o início até a região não
corroída próxima a ruptura final (estágio III). Este contraste de cor,
frequentemente ajuda na determinação da localização da origem do
processo de fadiga.
A direção de propagação de uma trinca por fadiga num corpo-de-prova
solicitado uniaxialmente depende do estado de tensão atuante, isto é, da
extensão relativa de condições de estado plano de deformação ou de tensão.
Se prevalecer um estado plano de deformação (baixas tensões aplicadas ou
trincas de pequenos comprimento, dando lugar à formação na ponta da trinca
de uma zona plástica de pequena dimensão, quando comparada com a
espessura da peça), a superfície de fratura é plana orientada a 90° em relação
à superfície lateral do corpo de prova. Quando, por outro lado, a trinca aumenta
e, consequentemente aumenta o tamanho da zona plástica na ponta da trinca,
verifica-se uma transição do crescimento da trinca, que passa de uma
superfície plana a 90° para um plano inclinado a 45° . Quando prevalecerem
condições de estado plano de tensão, a trinca de fadiga propaga-se num plano
a 45° em relação à superfície lateral do material. A figura 58 esquematiza a
propagação da trinca.

Figura 58- Representação esquemática da propagação de trinca em


função do estado de tensão material; no detalhe é feita uma comparação com
um corpo de prova real.

Uma vez que a iniciação da fratura por fadiga não requer altas tensões,
normalmente há pouca ou nenhuma deformação no material que fraturou por
fadiga. Se a tensão máxima não exceder o limite de escoamento do material,
pode ocorrer praticamente nenhuma deformação plástica, embora a região da
ruptura final poderá ter alguma deformação macroscópica. A figura 58 mostra
uma representação esquemática da evolução de uma trinca e um material
ensaiado sob fadiga. Nota-se que à medida que o estado de tensão muda de
deformação plana (triaxial de tensão) para tensão plana (triaxial de
deformação), o aspecto da fratura muda de plano (onde a zona plástica é
restringida devido ao estado triaxial de tensão) para rompimento em torno de
45°, onde a zona plástica fica mais pronunciada.
Quando um material está sob carregamento cíclico e em um meio
corrosivo, ele estará sujeito ao fenômeno de corrosão-fadiga. Considerando
que a fadiga é a causa de 90% das fraturas nos materiais, e, ainda com a ação
corrosiva de um determinado meio, a vida do componente será certamente
abreviada.

Fratura em ambientes agressivos


A corrosão sob tensão resulta do desenvolvimento progressivo de uma
trinca em materiais suscetíveis (normalmente, os que apresentam alta
resistência à corrosão generalizada como, por exemplo, aços inoxidáveis, ligas
de alumínio etc). A partir da combinação de tensão (aplicada ou residual) e
meio corrosivo específico, além do tempo para que os fenômenos ocorrem.

Tensão Material
(Tração) Susceptível
CST

Meio corrosivo

Figura 59- Três condições simultâneas requeridas para ocorrer CST,


além do tempo.

A suscetibilidade a corrosão sob tensão não é uma propriedade de um


material da mesma forma como são as propriedades mecânicas, mas pode ser
um indicativo importante no fator de determinação e aplicabilidade de materiais
metálicos. Portanto a avaliação de corrosão sob tensão é mais complexa do
que a simples performance de uma série de ensaios de propriedades
mecânicas.
É um fenômeno que produz um tipo de fratura frágil que se desenvolve
sob tensões de tração relativamente baixas quando uma liga é exposta em um
determinado meio corrosivo.
Meios característicos são frenquentemente associados a sistemas de
ligas específicos. Estes meios podem não ter efeito sobre outros tipos de ligas.
Por exemplo, aços inoxidáveis em soluções aquosas contendo cloretos a
quente fragilizam-se facilmente, porém não existe o mesmo efeito nos aços ao
carbono, em ligas de alumínio, ou outras ligas não ferrosas. Assim, nem todos
os meios causam fragilização em qualquer tipo de liga, mas novas
combinações de sistemas de liga/meio que sofrem Corrosão sob tensão estão
sendo descobertas de forma regular. Então, muito pesquisadores têm a opinião
de que um meio específico não é a única exigência para ocorrer corrosão sob
tensão.
A corrosão sob tensão está normalmente associada com tensão de
tração estáticas. Entretanto em alguns casos, variações de longo tempo no
sistema de carregamento são conhecidas por acelerar o ataque da corrosão
sob tensão. Está incerto se tais efeitos devem ser atribuídos a corrosão sob
tensão ou a corrosão sob fadiga.
O processo de corrosão sob tensão é frequentemente discutido em
termos de iniciação (etapas de incubação e nucleação) e propagação de
trincas, onde este modelo é ilustrado na figura 60.
Duas reações de corrosão com base eletroquímica, anódica e catódica,
dominam o processo de corrosão sob tensão em conjunto com tensões
mecânicas de tração. A composição química do meio, incluindo pH e presença
de hidrogênio que afeta a reação catódica, a composição e condições
metalúrgicas dos metais, determinam qual das duas reações parciais é
dominante.
 A corrosão sob tensão por processo anódico (corrosão por caminhos
ativo-preferenciais) envolve a dissolução do metal durante o início e
propagação de trincas.
 A corrosão sob tensão por processo catódico (fragilização pelo
hidrogênio) envolve a deposição de hidrogênio em sítios catódicos na
superfície do metal ou nas laterais de uma trinca e sua subsequente
absorção para dentro da rede metálica.
A figura 60 mostra as influências relativas de forças impulsoras no
processo de corrosão sob tensão, através de aspectos eletroquímicos e
mecânicos. Há uma mudança no procedimento de corrosão sob tensão, onde o
papel da tensão inicia-se de forma desprezível, e então, começa um domínio
de avanço subcrítico de trincamento. A ação do meio deve estar sempre
envolvida, embora ela possa dominar somente no início. A preexistência de
uma descontinuidade mecânica ou a trinca no metal tensionado altera o estágio
de iniciação. Na figura 60, A representa a etapa de fragilização do filme de
óxido/hidróxido; B corresponde a formação de pites de corrosão e/ou trincas,
onde se tem concentração de tensão e, por conseguinte a nucleação da
corrosão sob tensão; C representa o período de propagação de trinca por
corrosão sob tensão em 2 ou 3 estágios, com mudanças dependendo do fator
de intensidade de tensão. A figura 60 mostra representações esquemáticas do
fenômeno de corrosão sob tensão, onde tem-se um detalhe de um possível
mecanismo de evolução de trinca por corrosão sob tensão.
A corrosão sob tensão pode gerar trincas transgranulares ou
intergranulares, mas macroscopicamente estas são sempre normais ao sentido
das tensões aplicadas. As fraturas transgranulares são sempre menos comuns
que as intergranulares, mas ambas podem existir no mesmo sistema ou na
mesma região falhada, dependendo das condições existentes.
A fratura intergranular desenvolve-se em função de alguma
heterogeneidade nos contornos de grão da liga. Por exemplo., segregação de
enxofre e fósforo nos contornos de grão é a provável causa da corrosão sob
tensão intergranular nos aços de baixa liga.
Figura 60- Influência de fatores mecânicos e eletroquímicos na corrosão sob
tensão.

Vários fatores afetam a corrosão sob tensão, como estrutura cristalina,


anisotropia, tamanho e forma de grão, densidade e geometria de
discordâncias, limite de escoamento, composição, energia de falha de
empilhamento, ordenamento e composição de fases. Efeitos de elementos de
liga no sistema de deslizamento planar são fatores importantes na corrosão
sob tensão. Deslizamento planar ocorre em ligas contendo fases ordenadas, ou
ligas que exibem ordenamento de curto ou longo alcance. As consequencias do
deslizamento planar na corrosão sob tensão tem sido explicadas pelo modelo
de dissolução por deslizamento. Neste modelo, o filme passivo é rompido por
degraus emergentes de planos de deslizamento. Em meios com alta
concentração de cloretos, evidência foi apresentada tal que a corrosão
preferencial ocorreu ao longo de planos de alta densidade de discordâncias
criados pelo deslizamento planar.
Figura (c) Evolução do mecanismo.
Há evidências de que as soluções dentro das trincas tornam-se
acidificadas provavelmente pelas reações de hidrolise similares às que ocorrem
nos pites. Durante a corrosão livre com nenhum potencial eletroquímico
imposto (sem polarização), ocorrem reações de redução catódica para
compensar as reações de dissolução anódica dentro da trinca. A presença de
hidrogênio na trinca e a características de trincas transgranulares com fratura
frágil por clivagem, tem propiciado sugestões de que o hidrogênio causa
corrosão sob tensão.
Aspectos fractográficos da corrosão sob tensão:
 Macroscopicamente:a fratura é sempre frágil, mesmo em materiais com
comportamento dúctil (ex: aços inoxidaveis austeniticos).
 Normalmente, a fratura caracteriza-se por duas zonas: a primeira
resultante do desenvolvimento de trincas por corrosão sob tensão e a
segunda resultante da ruptura brusca;
 Geralmente a fratura ocorre em um plano perpendicular à tensão
aplicada.
 Microscopicamente: fratura transgranular ou intergranular; presença de
facetas de clivagem;
 Dependendo do nível de tensão aplicado ao material pode ocorrer o
surgimento de ramificações de trincas.

Fratura por hidrogênio

Vários metais e ligas podem apresentar perdas em suas propriedades


mecânicas, quando submetidos à presença de hidrogênio, resultando em uma
menor energia necessária à fratura. A ocorrência de fragilização pelo
hidrogênio não é exclusivamente nos aços de alta resistência mecânica, tendo
sido verificada e analisada também em materiais metálicos de baixa
resistência, como aços de baixo teor de carbono, algumas ligas de alumínio.
A penetrabilidade do hidrogênio no ferro e o efeito do mesmo nas
propriedades mecânicas do aço foram descobertas há mais de um século. Em
1939, Zaoofle e Sims, foram os autores da primeira teoria sobre fratura por
hidrogênio.
Os importantes efeitos do hidrogênio no comportamento mecânico de
metais/ligas são os que induzem alguma forma de trincamento ou perda
crítica da tenacidade do material. Quando ocorre uma supersaturação de rede
com hidrogênio, o excesso que não é gasto deve ser acomodado pela
interação com várias imperfeições estruturais ou pela recombinação do
hidrogênio atômico dissolvido formando o hidrogênio molecular nos sítios
internos disponíveis. O resultado destas reações é a formação de
descontinuidades internas.
A fratura por hidrogênio é um tipo de fratura frágil causada pela
penetração e difusão do hidrogênio atômico na estrutura da liga. O hidrogênio
pode estar presente no processo de redução da água ou através de um ácido,
em soluções neutras e ácidas respectivamente, como:
H 2 O  e   H  OH 
H   e  H
Onde e- significa elétron.
Por causa do seu pequeno tamanho, o hidrogênio atômico pode entrar
na rede e produzir fratura por hidrogênio. Sabe-se também, que a fratura por
hidrogênio é frequentemente menos crítica sob condições de temperaturas
mais elevadas de serviço, onde o hidrogênio apresenta maior mobilidade.
As trincas formadas por hidrogênio podem ser transgranulares ou
intergranulares e usualmente têm formas agudas com menor incidência de
ramificações e morfologia semelhante à clivagem nas superfícies de fratura.
Vários mecanismos têm sido propostos para explicar o fenômeno de fratura por
hidrogênio, incluindo pressão interna de hidrogênio molecular, adsorção
superficial, decoesão e aumento do fluxo plástico. Nenhum destes mecanismos
tem sido amplamente aceito pra explicar o fenômeno de fratura por hidrogênio,
incluindo a pressão interna de hidrogênio molecular, adsorção superficial,
decoesão e aumento do fluxo plásticos, Nenhum destes mecanismos tem sido
amplamente aceito para explicar a fratura por hidrogênio ou para correlacionar
com dados experimentais. Entretanto, a teoria da pressão é geralmente aceita
em concordância com o fenômeno de empolamento. A figura 61 mostra um
modelo de mecanismo de fratura por hidrogênio.
A fratura por hidrogênio é similar ao fenômeno de corrosão sob tensão
visto que a fratura frágil também ocorre em um sistema sujeito a um meio
corrosivo sob tensão trativa. Entretanto, a polarização catódica inicia ou
intensifica a fratura por hidrogênio, mas suprime ou para a corrosão sob
tensão.
Trinca por corrosão sob tensão são geralmente ramificadas, ao passo
que em fratura por hidrogênio e corrosão-fadiga não são ramificadas ou
apresentam-se levemente ramificadas, Além das trincas por fratura por
hidrogênio não serem ramificadas, estas são “altamente frágeis” e crescem
rapidamente. Já as trincas por corrosão sob tensão, crescem sob taxas
menores. Trincas por fratura por hidrogênio são frequentemente
transgranulares ao invés de intergranulares, em contraste com as trincas por
corrosão sob tensão, em que as trincas intergranulares são predominantes.
Qualquer solução corrosiva poderá produzir fratura por hidrogênio em
uma liga suscetível, se o hidrogênio for liberado na superfície. Por outro lado, a
corrosão sob tensão requer um meio específico ou usualmente espécies
diferentes dissolvidas para cada liga. A fratura por hidrogênio tem sido
observada mais frequentemente em metais puros do que a corrosão sob
tensão; as ligas são usualmente mais susceptíveis. A fratura por hidrogênio é
suprimida através da polarização anódica em contraste com a corrosão sob
tensão, que é frequentemente intensificada. Entretanto, corrosão sob tensão
pode ser suprimida também, se o potencial eletroquímico é movido fora da
zona onde ocorre fragilização.

Figura 61- Representação esquemática de uma possível modelo de


mecanismo de fragilização pelo hidrogênio.

Uma outra representação esquemática de diferentes caminhos de


propagação de trincas por hidrogênio, como a função do nível de intensidade
de tensão (K) é apresentado na figura 62. Onde em (a) para “alto” nível de K
ocorre coalescimento de microcavidades, em (b) é para níveis intermediários
de K, onde gera fratura transgranular, por mecanismos de “quase-clivagem”, e
em (c) para baixos níveis de K induz a fratura intergranular.
Figura 62- Representação esquemática de diferentes formas de
propagação de trincas por fragilização pelo hidrogênio como função do nível de
intensidade de tensão (K): (a) altos níveis de K; (b) níveis intermediários de K;
(c) baixos níveis de K.
A figura 61 mostra uma representação esquemática de como o
fenômeno de corrosão-fadiga pode ocorrer seja por dissolução anódica em
sistemas de deslizamento ou por fragilização pelo hidrogênio em meios
aquosos.

Figura 61- Representação esquemática da fragilização por dissolução


anódica em sistemas de deslizamento (a) e por hidrogênio em meios aquosos
(b). (1) Difusão no líquido; (2)Descarga e redução; (3) Recombinação pelo
hidrogênio adsorvido; (4) Difusão na superfície pelo átomo absorvido; (5)
Absorção pelo hidrogênio do metal; (6) Difusão de hidrogênio absorvido.
Tanto a corrosão sob tensão quanto a fratura por hidrogênio são
usualmente maximizadas na temperatura ambiente ou próximo a ela; já os
tempos de fratura para corrosão sob tensão são geralmente menores em
temperaturas maiores.
Ambas, corrosão sob tensão e fratura por hidrogênio da taxa de
deformação, a fragilização praticamente desaparece, pois ambos corrosão sob
tensão e fratura por hidrogênio são processos dependentes do tempo. Para
baixas taxas de deformação, o hidrogênio mantém os efeitos fragilizantes. Em
principio, a corrosão sob tensão deve ser suprimida para taxas de deformação
muito baixas devido ao fenômeno de repassivação do filme rompido.
Entretanto, alguns sistemas agressivos ainda mostram corrosão sob tensão,
mesmo para taxas de deformações muito baixas.
Tanto a corrosão sob tensão quanto a fratura por hidrogênio são
usualmente maximizadas na temperatura ambiente ou próximo a ela; já, os
tempos de fratura para corrosão sob tensão são geralmente menores em
ambientes maiores.
Ambas, corrosão sob tensão e fratura por hidrogênio, são dependentes
da taxa de deformação, a fragilização praticamente desaparece, pois ambos
corrosão sob tensão e fratura por hidrogênio mantém os efeitos fragilizantes.
Em principio, a corrosão sob tensão deve ser suprimida para taxas de
deformação muito baixas devido ao fenômeno de repassivação do filme
rompido. Entretanto alguns sistemas agressivos ainda mostram corrosão sob
tensão, mesmo para taxas de deformação muito baixas.

Corrosão intergranular

Os aços inoxidáveis convencionais são ligas Fe-C-Cr, com teores de


cromo no mínimo aproximadamente de 11% (peso). Estas liga desenvolvem
uma película protetora de Cr2O3, geralmente de 30 a 80 Angstrons de
espessura. No entanto, quando estes materiais são submetidos a
procedimentos de aquecimento e resfriamento lento ocorre o fenômeno de
sensitização. Aços inoxidáveis austeníticos são resfriados lentamente entre
aproximadamente 940°C e 540°C podem torna-se sensíveis à corrosão
intergranular, provocada pelas diferenças físicas e químicas que se
desenvolvem entre as regiões de contorno de grão e a matriz. Estas diferenças
são consequências da precipitação de carbonetos, geralmente ricos de cromo-
do tipo Cr23C6 ou (Cr,Fe)23C6 em contornos de grão, do empobrecimento em
elementos de liga na matriz e da segregação de impurezas também na região
dos contornos.
Existem muitos modelos que procuram explicar como o processo de
sensitização permite o desenvolvimento do ataque intergranular. Os mais
importantes são: a teoria do empobrecimento da matriz em teor de cromo, o
modelo de carbonetos nobres e o modelo da segregação de solutos nos
contornos de grão. O mais amplamente aceito é o empobrecimento localizado
na matriz em cromo, proposto por Straus (1930) e por Bain et al. (1933), que
explica várias observações experimentais já suficientemente provadas e cuja
aceitação é ampla. Este modelo sugere que durante tratamentos térmicos no
intervalo de temperatura crítico acontece a precipitação de carbonetos de
cromo nos contornos de grão. Para o crescimento destes precipitados sempre
existe carbono disponível devido a difusividade alta deste elemento na
austenita. Como o cromo se difunde muito mais lentamente que o carbono ele
é drenado de regiões vizinhas aos carbonetos, tornando-as empobrecidas
neste elemento até o ponto de o teor ficar menor que aproximadamente 11% e
acontecer a perda da proteção contra a corrosão.
Nos aços inoxidáveis produzidos comercialmente o substrato metálico é
na verdade bastante complexo. A figura 62 apresenta esquematicamente a
região onde ocorre escassez de cromo em função da precipitação de
carbonetos e, por consequência a corrosão intergranular.
. Quando ocorrer precipitação de carbonetos ou carbonitretos o material
ficará suscetível ao ataque intergranular nas vizinhanças do contornos de grão.
Para evitar a precipitação destes carbonetos podem ser aplicadas três
medidas: (a) resfriamento brusco para evitar a difusão de cromo e, por
conseguinte a precipitação: (b) minimização do teor de carbono na liga;
geralmente abaixo de 0,03% (peso) – quantidade insuficiente de carbono para
formação de precipitados; (c) adição de elementos de liga que possuem maior
afinidade ao carbono do que o cromo; são eles: nióbio (mais usado) e/ou
titânio. Esta última medida é muito utilizada, onde geralmente geram-se
precipitados de carbonetos de nióbio e/ou titânio, deixando o cromo na liga
para desenvolver o óxido de cromo dando-lhe o caráter de inoxiblidade.
Outras fases também podem aparecer; por exemplo, fases  (sigma)
ou  (Chi), ricas de cromo. No entanto, como a geração destas fases
demanda, geralmente, muito tempo (centenas de horas), normalmente elas não
ocorrem durante a soldagem.

(a)
(b)
Figura 62 - Representação da precipitação de carbonetos de cromo em
contornos de grãos (a,b).
Fratura por desgate
O fenômeno de desgaste pode ser definido como a degradação não
proposital de um material resultante do uso ou da interação com o meio. Por
exemplo, um processo onde ocorre a remoção de partículas metálicas em
função de movimento relativo entre dois materiais em contato.
As superfícies sólidas são geralmente constituídas de irregularidades
(rugosidades) onde praticamente não se apresentam perfeitamente planas.
Observam-se irregularidades de diferentes formas em termos macro e
microscópicos.
O processo de geração de descontinuidades superficiais em decorrências de
desgaste de componentes estruturais pode induzir deformações elásticas e
plásticas localizadas em agentes concentradores de tensão e, por conseguinte,
nucleação de trincas e fratura do material. A Tabela 4 classificam-se os
diferentes tipos de desgaste como:

Tabela 4 – Classificação dos diferentes de desgaste

a) Desgaste por aderência  Desgaste brando ou com oxidação


 Desgaste severo ou metálico
b)Desgaste abrasivo  Abrasão sob “baixas” tensões
 Abrasão sob “altas” tensões
 Abrasão sob sulcamento
c)Desgaste erosivo  Erosão por colisão
 Erosão por cavitação
d) Desgaste por vibração

A figura 63 mostra uma representação esquemática de desgastes por


cavitação, erosão e vibração (freetting).

Figura 63- Representação esquemática de desgastes por erosão,


cavitação e vibração.

Desgaste por aderência


Geralmente este tipo de desgaste ocorre quando há escorregamento
relativo de duas superfícies metálicas, sem a introdução intencional de agentes
abrasivos.
Considerando que duas superfícies metálicas posuem asperezas
(rugosidades), os processos de aderência implicam na interação entre as
mesmas. Ocorrendo o contato e, por conseguinte, a colisão destas regiões,
elas podem se soldar formando uma união entre as partes. Com isto, poderá
ocorrer a fratura de uma das asperezas, resultando em transferência de
material de uma das superfícies para a outra. A figura 64 mostra uma
representação esquemática deste mecanismo.

Figura 64 - Representação esquemática da evolução do atrito em;


superfície gerando partículas; (a) coalescência; (b) deformação-ruptura; (c)
desprendimento de partículas.

Aplicando-se carregamentos baixos às superfícies, normalmente forma-


se uma camada de óxido, em função do aquecimento causado pelo atrito.
Normalmente, objetiva-se este tipo de procedimento, pois a camada de óxido
formada dificulta a formação do processo de união entre as asperezas,
resultando em baixas taxas de desgaste. Este tipo de desgaste é denominado
desgaste brando ou desgaste com oxidação. Assim, normalmente procura-se
desenvolver projetos onde as partes móveis sob contatos estejam sujeitas ao
desgaste com oxidação. No entanto, quando a carga aplicada às superfícies
em contato é alta, desenvolvem-se ligações entre as asperezas, resultando em
taxas de desgaste extremamente elevadas.
Poderá ocorrer empenamento das superfícies caso o tamanho das
partes que se desprendem durante o desgaste for maior que as tolerâncias
entre as superfícies.

Desgaste abrasivo

A ação cortante de abrasivos sob cargas que não são suficiente para
vencer a resistência destes abrasivos ao esmagamento é desenvolvida quando
são aplicadas baixas tensões. Isto resulta em arranhamento da superfície
metálica onde poderá ser crítico quando o componente estrutural for solicitado
sob carregamento cíclico, desenvolvendo-se a deformação plástica localizada
com possível nucleação de trincas e posteriormente fratura por fadiga. No caso
da abrasão for sob altas tensões ocorre esmagamento ou moagem do
abrasivo. O desgaste é causado por tensões compressivas localizadas no
ponto de contato com o abrasivo, ocorrendo possivelmente deformação
plástica e fadiga de constituintes dúcteis e a ruptura de constituintes duros do
material.
A figura 65 mostra este tipo de representação esquemática de dois tipos
de forças aplicadas em partículas presentes em superfícies de materiais.

Figura 65 – Representação esquemática de partícula de metais


removidos presentes em nas superfícies dos materiais.

Quando ocorre um tipo especial de abrasão sob altas tensões gerando


sulcos ou estrias na superfície de desgaste tem-se o fenômeno de abrasão por
sulcamento. Estes sulcos podem resultar de um escorregamento seguido de
impacto, nos quais as altas tensões são transmitidas através de grandes
corpos abrasivos.
É muito importante considerar que materiais sujeitos à abrasão devem
apresentar alta dureza superficial. Mas também alta tenacidade internamente
para que apresentem “alta” capacidade de absorção de energia sob impacto,
evitando a fragilização.

Desgaste erosivo

O fenômeno de erosão por colisão é atribuído para o caso quando o


desgaste de uma superfície metálica ocorre pela ação cortante de partículas
em movimento carregadas por um fluído. Normalmente, a resistência a este
tipo de desgaste varia com o ângulo de colisão ou de incidência de partículas
cortantes sobre a superfície de desgaste.
Quando um sistemas apresenta fluxo turbulento de algum tipo de fluido é
possível ocorrer erosão por cavitação; este fenômeno é comum em válvulas e
bombas usadas na movimentação de fluidos. As bolsas de ar criadas pela
turbulência explodem junto à superfície metálica e as ondas de choque
resultantes arrancam partículas da superfície. Isto geralmente ocorre em
bombas de “altas” velocidades e de válvulas sujeitas a grandes variações de
pressão.
Ocorrendo turbulência no fluído, normalmente, o meio é oxigenado, o
que poderá resultar em um maior ataque corrosivo da estrutura dependendo do
material empregado.

Desgaste por vibração

Quando são desenvolvidas vibrações de pequenas amplitudes em


elementos mecânicos de ligação, como por exemplo, juntas rebitadas ou
parafusadas, tem-se o desgaste por vibração (freetting). O que ocorre é uma
combinação de oxidação e desgaste abrasivo. A vibração de duas superfícies
metálicas produz fragmentos metálicos, que se oxidam e se transformam em
partículas abrasivas. Por conseguinte, o desgaste ocorrerá tanto por aderência
como por abrasão, sendo as partículas geradas transformadas continuamente
em óxidos abrasivos.

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