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Atlas de Tecnicas de Bloqueios Regionais-3 PDF
Atlas de Tecnicas de Bloqueios Regionais-3 PDF
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O Nervo Trigêmeo
LM Cangiani, TSA
Anatomia
O trigêmeo é o nervo craniano mais calibroso (Fig. 1), A grande raiz sensitiva do nervo trigêmeo após formar
tem origem aparente na superfície central da ponte, pró- o gânglio trigeminal, divide-se em três ramos principais:
ximo de sua borda superior, por uma raiz sensitiva maior Nervo Oftálmico, Maxilar e Mandibular (Fig. 2).
e uma raiz motora menor, esta última localiza-se mediai e
anteriormente àquela. As fibras de raiz sensitiva se origi- O Nervo Oftálmico é exclusivamente sensitivo e o me-
nam das células do gânglio trigeminal, também chamado nor ramo do trigêmeo. Corre pela parede lateral do seio
de seminular ou de Gasser. O gânglio trigeminal ocupa o cavernoso até a fissura orbital superior. Pouco antes de
recesso (cavo trigeminal) da dura-máter que cobre a im- penetrar na órbita, divide-se em três nervos: frontal,
pressão trigeminal próximo ao ápice da parte petrosa do nasociliar e lacrimal
osso temporal. Ele está situado intracranialmente na fos-
sa cerebral média. As fibras da raiz motora provém do
núcleo motor do nervo trigêmeo. O trigêmeo é o nervo O nervo nasociliar de tamanho intermediário entre o
sensitivo da face, da maior parte do couro cabeludo, dos frontal e o lacrimal, após passar a fenda orbitária supe-
dentes, das cavidades oral, nasal e orbitária. É também, o rior cruza o nervo óptico buscando a parede mediai da ór-
nervo motor dos músculos da mastigação. bita e divide-se nos ramos: etmoidal superior, etmoidal
anterior, infratroclear e ciliares longos. O nervo nasoci-
liar é sensitivo e inerva a cavidade nasal anterior, parte
dos seios nasais e dos olhos. O nervo etmoidal posterior
penetra no forame etmoidal posterior para dar inervação
aos seios esfenoidal e etmoidal. Este nervo encontra-se na
parede interna da órbita, antes de penetrar no forame et-
moidal posterior. O nervo etmoidal anterior também está
situado na parede interna da órbita, passa através do
forame etmoidal anterior, penetra na cavidade craniana
e, após correr sobre a superfície da lâmina cribiforme do
osso etmóide, desce para a cavidade nasal, situando-se
em um sulco da superfície interna do osso nasal.
Fornece dois ramos nasais internos: um ramo medial
para a mucosa da parte anterior do septo nasal e um
ramo lateral para a parte anterior da parede lateral da
cavidade nasal, que emerge, finalmente, com o nome de
nervo nasal externo, a nível da borda inferior do osso
nasal, indo inervar a pele da parte da asa e vestíbulo do
nariz.
Considerações Anatômicas
O nervo oftálmico é o menor dos três ramos do
trigêmeo e se divide imediatamente antes de penetrar na
órbita dando origem aos nervos frontal, lacrimal e
nasociliar.
O nervo frontal é a maior divisão do nervo oftálmico e
entra na órbita, juntamente com os dois outros ramos,
pela fissura orbitária superior. Prossegue então, anterior-
mente, pelo teto da órbita, entre o cone muscular e o
periósteo, acima do elevador da pálpebra. Divide-se
um pouco antes do ápice da cavidade orbitária em um
pequeno ramo, o nervo supratroclear e no seu principal
ramo, o nervo supraorbitário (Fig. 6).
O nervo supratroclear corre para frente, medialmente
ao nervo supraorbitário, abandonando a órbita no seu
ângulo súpero-interno, entre a tróclea e o músculo oblí-
quo superior e o forame supraorbitário. Curva-se então,
para cima, entre o músculo orbicular e o osso frontal,
dividindo-se em ramos que se espalham pela parte mediai
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e inferior da fronte. Na margem da órbita, emite filamen-
tos para a pele e conjuntiva da pálpebra superior. Forma
ainda um arco anastomótico com um ramo do nervo
infratroclear a nível da região lateral e superior do
nariz. O nervo supraorbitário divide-se antes da borda da
órbita em dois ramos: o mediai e o lateral. O ramo lateral
é maior e sai da cavidade orbitária pelo forame ou
incisura supraorbitária, envia ramos para a pálpebra
superior, seguindo trajeto ascendente junto com a artéria
supraorbitária. Os dois ramos do nervo supraorbitário
distribuem-se pela região frontal (exceto a parte central e
inferior) e couro cabeludo, chegando quase à sutura
lambdóide, além do plano coronário. Fornecem ainda
inervação à mucosa do seio frontal e pericrânio.
Área de Analgesia
A área anestesiada pelo bloqueio dos nervos supraor-
bitário e supratroclear encontra-se ilustrada na figura 7.
A região suprida pelo nervo supratroclear engloba a
parte mediai da pálpebra superior, incluindo a conjunti-
Fig. 7 - Área de analgesia do bloqueio va tarsal e um pequeno triângulo na porção central e infe-
dos nervos supraorbitário e rior da testa.
supratroclear bilateral. A área do nervo supraorbitário é bem mais extensa,
Técnica do Bloqueio
O nervo supratroclear pode ser bloqueado
introduzindo-se uma agulha fina (25x6 ou 13x4,5) por
debaixo da borda da órbita, a nível do seu ângulo súpero-
interno, parando-se imediatamente acima da tróclea do
músculo oblíquo superior. Injeta-se neste ponto 1 a 1,5
ml de solução anestésica com vasoconstritor. E
recomendada a compressão digital do local para melhor
dispersão da solução anestésica (Figs. 8 e 9).
Para bloqueio do nervo supraorbitário toma-se como
ponto de referência o forame do mesmo nome, que pode
ser facilmente palpado na borda superior da órbita, a 2,5
cm da linha média, sobre um plano vertical que passa pela
pupila, estando o paciente olhando para frente.
Introduz-se nesse ponto uma agulha fina, e sem
necessidade de se obter parestesias, injeta-se 1 a 1,5 ml
de solução. A compressão digital da região permite o
bloqueio do seu ramo mediai sem nova infiltração
(Figs. 10, 11 e 12).
Os ramos dos dois nervos podem também ser
bloqueados por uma infiltração do campo pelo
subcutâneo seguindo um plano horizontal
imediatamente acima da sobrancelha e da raiz do nariz.
Utiliza-se nesse caso 3 a 6 ml da solução anestésica com
vasoconstritor.
Indicações
Incluem procedimentos cirúrgicos na área de analgesia
desses nervos, como suturas de ferimentos, retirada de
tumores ou outras lesões. O bloqueio direto dos troncos
nervosos é vantajoso sobre a infiltração do ferimento ou
lesão, por ser menos doloroso, exigir menor quantidade
de anestésico local e evitar o entumecimento dos tecidos
no local a ser manipulado.
O bloqueio é útil também no diagnóstico de localiza-
ção de "zonas de disparo" no campo de distribuição do
nervo trigêmeo, nos casos de nevralgia.
Contra-Indicações
Pela situação superficial desses nervos nos pontos de
bloqueio e pela mínima quantidade de anestésico local re-
querida, as contra-indicações são muito poucas, incluin-
do os casos de infecção ou lesões nos locais de punção.
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Bloqueio do
Nervo Infraorbitário
L. San'tAna, TSA
Considerações Anatômicas
O nervo infraorbitário é o ramo terminal do nervo ma- ramo nasal externo do nervo etmoidal anterior.
xilar. Passa a ter esse nome quando o nervo maxilar pene- 3. Ramo para o lábio superior que vai inervar a porção
tra na cavidade orbitária através da fissura orbital infe- anterior da pele da face, a pele do lábio superior, a
rior. Imediatamente após a sua saída pelo forame mucosa da boca e a glândulas labiais. Junta-se com
infraorbitário ele se divide em três ramos (Fig. 13). ramos do nervo facial e com eles forma o plexo
1. Ramo para a pálpebra inferior que vai inervar a infraorbitário.
conjuntiva e a pele da pálpebra inferior, e se junta com Após a sua saída da fissura infraorbitária, aproxima-
os nervos facial e zigomaticofacial perto do ângulo damente a 2 cm, antes do forame infraorbitário, o nervo
lateral do olho. infraorbitário emite o nervo alveolar superior anterior.
2. Ramo nasal lateral que vai inervar a pele do lado do Este nervo passa imediatamente por dentro da parede an-
nariz e a parte móvel do septo nasal, juntando-se com o terior do antro de Highmore e contribui com os nervos
alveolares superiores mediano e posterior, para a
formação do plexo alveolar superior. O nervo alveolar
superior anterior é sensitivo para os dentes frontais
(incisivos e caninos). Para o seu bloqueio a solução
anestésica deve ser depositada dentro do canal
infraorbitário.
O forame infraorbitário está situado 0,5 a 1 cm abaixo
da margem inferior da órbita, na parte superior da fossa
canina. Quando um dedo é colocado ao longo da mar-
gem inferior da órbita e abaixo dela, a depressão canina é
sentida. O forame infraorbitário está situado nesta de-
pressão imediatamente abaixo da margem orbitária (Fig.
14).
O forame infraorbitário, a chanfradura
supraorbitária (algumas vezes é um forame) e o forame
mentoniano estão situados em uma linha, a
aproximadamente 2,5 cm da linha média da face. O
terceiro pode ser localizado se a posição dos outros
dois é conhecida.
O forame infraorbitário permite a passagem de uma
agulha por dentro do canal infraorbitário. Este canal está
direcionado 45 graus para cima e para trás e 20 a 25 graus
Fig. 13 - Nervo Infraorbitário. externamente. Varia em 1 a 1,5 cm de comprimento. Ele
se comunica com a cavidade orbitária da qual é separado
pelo periósteo ou por uma fina membrana óssea. Ele con-
tinua para trás pela ranhura infraorbitária que forma
uma depressão no assoalho da órbita onde se situa o ner-
vo maxilar.
Se a agulha for introduzida mais que 1 cm dentro do
canal infraorbitário, ela passa a cavidade orbitária, e se
for mais ainda, pode penetrar e ferir estruturas vitais.
Técnicas do Bloqueio
Via Extraoral: A parte superior da fossa canina é loca-
lizada acima do forame infraorbitário pela colocação do
dedo indicador esquerdo na fossa. A agulha é introduzi-
da em um ponto da face, localizado 0,5 -1 cm lateralmente
Fig. 14 - Palpação do forame infraorbitário.
à porção média da asa do nariz (Fig. 14). Assim que a
agulha passa pelo forame infraorbitário, ela é dirigida pa-
ra cima, para trás e lateralmente no plano axial do dedo
indicador. Logo que é feito o contato com a maxila,
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imediatamente abaixo do forame, a mão é abaixada
ligeiramente e a agulha introduzida através do forame
por dentro do canal infraorbitário em uma distância
inferior a 1 cm e aí a solução anestésica deve ser
depositada. A agulha não deve penetrar totalmente no
canal infraorbitário e recomenda-se aspirar a seringa
antes da injeção.
Se o forame infraorbitário não for facilmente localiza-
do, é conveniente injetar pequenas doses nas proximida-
des do forame, de modo que o contato com o osso seja
indolor, e facilitar as tentativas de penetrar o canal.
A injeção a nível do forame é suficiente para se obter
anestesia para operações sobre o lábio superior, mas a so-
lução deve ser depositada no canal infraorbitário para
procedimentos que envolvam estruturas inervadas pelo
nervo alveolar superior anterior, principalmente os den-
tes anteriores e a maxila.
Via Oral: O forame infraorbital é localizado como des-
crito acima. O lábio superior é levantado pelo polegar e o
indicador da mesma mão é colocado sobre o forame in-
fraorbitário. Uma agulha 25x4 é introduzida através da
mucosa oral ao nível do ápice do primeiro dente
bicúspide. Ela é direcionada para cima, para trás e para
fora ao longo da maxila, em direção ao dedo que está
palpando.
Quando a via oral é empregada, o local da punção está
muito próximo da superfície da maxila, de modo que a
agulha não deve ser inclinada em um ângulo que permita
sua passagem por dentro do canal infraorbitário. Isto im-
pede a entrada no canal na maioria dos casos.
Área de Analgesia
A área de analgesia da pele está representada na figura
17. A analgesia das estruturas profundas corresponde à
anatomia descrita.
Fig. 17- Área de analgesia do bloqueio
do nervo infraorbitário bilateral.
Indicações Fig. 18 - Área de analgesia do bloqueio dos nervos
Intervenções cirúrgicas nos lugares de distribuição do
nervo infraorbitário, para diagnóstico diferencial em ca-
sos de neuralgia para localizar as zonas de gatilho do ner-
vo trigêmeo. Extrações complicadas dos dentes incisivos
ou caninos, assim como, extirpações de cistos radiculares
ou granulomas dentários.
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Bloqueio do
Nervo MA Ferreira, TSA
Nasociliar Considerações Anatômicas
O nervo oftálmico é o ramo superior e menor do triân-
gulo, inteiramente sensitivo e da origem a três ramos:
frontal, nasociliar e lacrimal.
O nervo nasociliar, de tamanho intermediário entre o
frontal e o lacrimal, após passar a fenda orbitária supe-
rior, cruza o nervo óptico buscando a parede mediai da
órbita. Por sua vez, dirige-se nos ramos etmoidal poste-
rior, etmoidal anterior, infratroclear e ciliares longos
(Fig. 19).
O nervo etmoidal posterior encontra-se na parede in-
terna da órbita antes de penetrar no forame etmoidal pos-
terior, donde se dirige aos seios esfenoidal e etmoidal
posteriores.
O nervo etmoidal anterior situa-se na parede interna da
órbita, passa através do forame ou canal etmoidal ante-
rior, penetra na cavidade craniana e após correr sobre a
superfície superior da lâmina cribiforme do osso
etmóide, desce para a cavidade nasal. Fornece dois ramos
internos: um medial para a mucosa da parte anterior do
septo nasal e outro lateral para a parte anterior da parede
lateral da cavidade nasal, que emerge finalmente, com o
nome de nervo nasal externo, ao nível do bordo inferior
do osso nasal.
O nervo infratroclear origina-se do nervo nasociliar
próximo do forame etmoidal anterior, caminha pela pa-
rede medial da órbita e próximo da tróclea recebe um fila-
mento do nervo supratroclear. Sai então da órbita emi-
tindo ramos para o canto interno do olho.
Os nervos ciliares longos são em número de dois ou
três, originando-se do nervo nasociliar quando este cruza
o nervo óptico. Acompanham os nervos ciliares curtos
desde o gânglio ciliar, penetram a esclera, próximo a en-
trada do nervo óptico e seguem adiante entre a esclera e a
coróide. Geralmente contém fibras simpáticas para o di-
latador da pupila.
Área de Analgesia
O nervo nasociliar é inteiramente sensitivo e vai inervar
a cavidade nasal anterior, septo nasal na sua parte fron-
tal, parte dos seios nasais, do olho e do dorso do nariz.
O nervo etmoidal posterior inerva os seios esfenoidal e
etmoidal posteriores.
O nervo etmoidal anterior inerva a pele da parte da asa,
ápice e vestíbulo do nariz.
O nervo infratroclear inerva parte da pele das
pálpebras (canto interno) e da porção lateral do nariz
acima do ângulo mediai do olho, a conjuntiva, saco e
carúncula lacrimais.
Fig. 20 - Área de analgesia do bloqueio do nervo nasociliar
bilateral.
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HH
Técnica Anestésica
Localiza-se um ponto aproximadamente 4 mm acima
do canto interno da órbita e introduz-se uma agulha 2,5 x
6 junto a parede interna da órbita à uma profundidade
aproximada de 2 cm, injetando-se 0,2 a 1 ml de solução
anestésica com vasoconstritor (Fig. 21).
Indicações e Contra-Indicações
Fig. 21 - Bloqueio do nervo nasociliar.
Cirurgias do nariz e septo nasal sempre associado ao
bloqueio do nervo maxilar bilateral, alívio da dor na Contra-indicado quando há infecção na região do blo-
nevralgia do trigêmeo quando este nervo está afetado. queio, mucoceles frontais e dacriocistites.
Bloqueio do
Nervo Mentoniano
ER Nakashima, TSA
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Área de Analgesia
O bloqueio do nervo mentoniano promoverá analgesia
dos tecidos moles do mento, pele e mucosa do lábio infe-
rior, mucosa gengival do lado correspondente, respeitan-
do a linha media da face. Manipulações na região media-
na do mento, lábio inferior ou mucosa gengival, exigem o
bloqueio bilateral, pois alguns filamentos de um lado
atravessam a linha média, inervando o seu limite (Fig.
23).
Técnica Intraoral
Solicita-se ao paciente manter os dentes cerrados.
Através do vestíbulo oral, palpa-se o forame mentoniano
localizado na linha vertical que separa os dois pré-
molares inferiores à meia distância entre as margens infe-
rior e superior da mandíbula. Eventualmente pode ser
sentido o pulso da artéria mentoniana que emerge junto
com o nervo.
Após anestesia tópica, introduz-se uma agulha calibre
6, aspira-se para evitar injeção intra-arterial, injetando-se
solução anestésica nas cercanias do forame mentoniano.
Fig. 23 - Área de analgesia do bloqueio do nervo Deve-se evitar penetrar o forame com a agulha, pois pode
mentoniano bilateral. levar a transtornos da sensibilidade por lesão nervosa.
Fig. 24 - Bloqueio do nervo mentoniano. Técnica intraoral. Realiza-se uma leve massagem na região para melhor dis-
tribuição da solução anestésica (Fig. 24).
Técnica Extraoral
Orienta-se o paciente para permanecer com a boca em
repouso, sem esboçar movimento. Traça-se então uma li-
nha vertical através da comissura labial, perpendicular à
margem inferior da mandíbula. O forame mentoniano
localiza-se na linha traçada num ponto à meia distância
entre as margens superior e inferior da mandíbula. Após
assepsia adequada, introduz-se uma agulha calibre 6
através da pele até o osso. Aspira-se o êmbolo da seringa
injetando-se, a seguir, 0,5 a 1 ml de solução anestésica. A
exemplo da técnica intraoral, uma leve massagem, leva à
melhor distribuição do anestésico (Fig. 25 e 26).
Indicações
Intervenções cirúrgicas no lábio inferior, mucosa gen-
gival e pele da região mentoniana.
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Pode ser ainda utilizado como técnica adjuvante em Contra-Indicações
extrações e tratamento dentário dos caninos, incisivos e
primeiros pré-molares inferiores.
Em indivíduos desprovidos de dentes, deve-se, prefe- Neurites pré-existentes e doenças da pele, principal-
rencialmente, utilizar a técnica extraoral que fornece me- mente, as infecções, constituem as principais contra-indi-
lhores pontos de referência. cações da técnica.
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Fig. 32 e33 - Bloqueio do nervo maxilar pela via infrazigomática.
Bloqueio Retrobulbar
LFA Vanetti, TSA
A injeção de anestésico local no espaço retrobulbar bloqueio dos III (óculomotor), IV (troclear) e VI
produz uma série de efeitos pelo bloqueio de diferentes (abducente) pares cranianos, que impedem a
funções em seu trajeto intraorbitário. Entre estes efeitos movimentação do globo.
temos: 3 - Perda temporária da visão pela anestesia do nervo
1 - Analgesia intraocular que ocorre pelo bloqueio das óptico, o que permite ao paciente tolerar os focos de luz
fibras sensitivas que saem do globo ocular, em sua face utilizados durante a cirurgia.
posterior, nos nervos ciliares curtos e longos. 4 - Bloqueio do reflexo óculo-cardíaco, pela inibição
2 - Acinesia dos músculos extrínsecos do olho pelo da via aferente do reflexo, que ocorre através dos nervos
ciliares curtos e longos.
5 - Diminuição da pressão intraocular, que se deve,
provavelmente, à uma constricção das artérias ciliares
posteriores.
Ressalta-se que o bloqueio retrobular nem sempre pro-
duz todos estes efeitos.
Técnica
O bloqueio retrobulbar se inicia pela localização, por
palpação, da borda ínfero-externa da órbita. Neste local,
faz-se um botão intradérmico de anestésico local e solici-
ta-se ao paciente que olhe para cima e medialmente (Fig.
35). Esta manobra eleva o músculo oblíquo inferior, per-
mitindo a passagem da agulha por baixo dele e traciona
anteriormente os músculos reto inferior e reto lateral,
além de estirar a fascia que os une, facilitando a introdu-
ção da agulha dentro do cone retrobulbar. Em seguida,
com uma agulha com 4 cm de comprimento, introduz-se
1 cm, paralelamente ao assoalho da órbita (Fig. 36 - agu-
lha na posição A). Após ultrapassar o equador do globo
ocular, a agulha é direcionada para cima e medialmente,
e, lentamente avançada em mais 2,5 cm ao vértice da ór-
bita (Fig. 36 - agulha na posição B). Desta forma, a ponta
da agulha estará posicionada junto ao gânglio ciliar que
fica dentro do cone, formado pelos músculos extra-ocu-
lares, mais precisamente, lateralmente ao nervo óptico e
medialmente ao músculo reto lateral, a 1 cm do forame
óptico. Neste ponto, após aspiração, para verificar se a
agulha não se encontra no interior de um vaso, injeta-se a
solução anestésica local (Fig. 37, 38 e 39).
Comumente se utiliza anestésico local associado a
vaso constritor em volumes que variam de 1 a 5 ml.
Quando maior o volume da solução, maior a
proptose produzida. Volumes pequenos (1-1,5 ml),
geralmente, produzem boa analgesia, mas o blo-
queio motor é insatisfatório, isto porque os nervos
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Fig. 36- O espaço retrobulbar e sua abordagem: 5 - Gânglio Ciliar 6-
1 - Músculo Oblíquo Inferior Nervo Oftálmico
2 - Músculo Reto Lateral 7 - Nervo Óptico
3 - Nervo Ciliar Longo 8 - Nervo Abducente
4 - Nervo Ciliar Curto
motores dos músculos extrínsecos do olho correm junto à hematoma, obriga adiamento da operação.
face interna destes músculos e, alguns deles podem ficar 2 - Reações tóxicas pela injeção vascular, especialmente
distantes do ponto em que foi depositados a solução da epinefrina, se estiver associada. É rara pela pequena
anestésica. Volumes maiores (4-5 ml) são necessários em quantidade.
algumas cirurgias como as enucleações e as corretivas de 3. - Perfuração do globo ocular. É muito raro, ocor-
descolamentos da retina, porém, nas extrações de catara- rendo com maior facilidade em pacientes com elevado
ta aumentam o risco da insinuação e perda vítrea. Geral- grau de miopia porque o diâmetro ântero-posterior do
mente, nas cirurgias intraoculares, pode-se utilizar, com globo está aumentado e a esclera é mais delgada. A perfu-
segurança, 2 a 3 ml de solução anestésica. Após a injeção, ração ocorre se avançarmos a agulha para cima.
deve-se massagear o globo ocular para facilitar a difusão 4 - Perda da consciência e apnéia. Complicação conse-
da solução, reduzindo a proptose e a pressão intraocular. qüente à injeção de anestésico local na bainha do nervo
Ao se injetar altos volumes (4-5 ml) de solução, retrobul- óptico, permitindo acesso ao líquido cefalorraquidiano.
bar, recomenda-se associar hialuronidase que facilita a 5 - Lesão do nervo óptico pela agulha.
difusão. Entretanto, a associação de hialuronidase, reduz 6 - Neuropatia e atrofia do nervo óptico.
o tempo de duração do efeito. 7 - Reflexo oulocardíaco.
8 - Oclusão da artéria central da retina.
9 - Amaurose bilateral transitória.
Complicações Algumas das complicações citadas ocorrem com maior
incidência quando se emprega agulhas de comprimento
Entre as complicações do bloqueio retrobulbar incluí- superior a 4 cm. Os bloqueios posteriores, isto é, próximo
mos: ao vértice da órbita, embora mais eficiente, oferece maior
1 - Hemorragia retrobulbar como conseqüência de risco de lesão vascular e nervosa, face à pouca mobilidade
punção de vaso intraorbitário. A proptose devido ao destas estruturas no vértice.
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Quando se necessita miose, a dilatação pupilar provo-
cada pelo bloqueio retrobulbar pode ser indesejável. Pa-
ra se obter miose, instile colírio de pilocarpina antes da
operação.
Após a instalação do bloqueio retrobulbar, instila-se
colírio de anestésico local sobre a conjuntiva e córnea.
Para a acinesia das pálpebras, o bloqueio retrobulbar de-
ve ser complementado pela acinesia do músculo orbicular
das pálpebras.
Bloqueio do
Nervo Facial
AA Ferreira, TSA
Quase todas as cirurgias oftálmicas podem ser realiza- facial supre os músculos frontal e os orbiculares das
das, com certo conforto, sob anestesia locorregional. En- pálpebras superior e inferior (Fig. 40).
tretanto, duas condições devem ser preenchidas: a perfeita
acinesia do globo e pálpebras e analgesia do globo. A Técnicas
inervação sensorial-sensitiva do globo ocular é provida
pelos pares cranianos II (visão) e V (primeira e segunda
divisões - oftálmico e maxilar) e a motora pelos pares cra- A acinesia das pálpebras é obtida pelo bloqueio do ra-
nianos III, IV, VI e VIII. mo do nervo facial que supre os músculos orbiculares.
Van Lint (1914) descreveu a técnica de bloqueio mais
distai e que exige maior volume de anestésico e apresenta
Acinesia maior índice de insucessos.
Wright (1920) e Nadbath & Rehman (1960) descreve-
A acinesia do globo ocular se obtém pelo bloqueio re- ram o bloqueio do nervo na emergência do buraco estilo-
trobulbar, a das pálpebras pelo bloqueio do facial (VII mastoídeo. É a técnica mais perigosa, podendo lesar es-
par). O nervo facial deixa o encéfalo pelo buraco estilo- truturas nobres e causar paralisia total do nervo facial.
mastoídeo, dividindo-se em ramo têmporofacial e ramo 0'Brien (1927) descreveu a técnica mais racional e que
cervicofacial que, por sua vez, emitem seis ramos: vem sendo nos últimos tempos adotada universalmente.
auricular posterior, temporal, zigomático superior, Atkinson (1934) apresentou uma técnica pouco utiliza-
zigomático inferior, bucal e cervical. O ramo zigomático da em nosso meio, pelos riscos de atingir vasos
do nervo importantes
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mandíbula, solicitando-se ao paciente que abra e feche a
Como a técnica de 0'Brien é a mais empregada, será a boca (Fig. 41); introduz-se a agulha verticalmente à
descrita. pele, até encontrar a resistência óssea (do côndilo da
mandíbula) aproximadamente a 1 cm de profundidade
Considerações Anatômicas (Fig. 42). Aspira-se a seringa para eliminar a
possibilidade de punção vascular e injeta-se 2 ml da
O nervo facial depois de passar pelo buraco estilomas- solução de anestésico local. À medida que se retira a
toídeo, dirige-se para frente, para o lado e para baixo, an- agulha, lentamente, injeta-se mais 1 ml de solução,
tes de se ramificar. O ramo temporofacial, responsável perfazendo total de 3 ml da solução anestésica.
pelo estímulo motor dos músculos orbiculares, percorre o Enérgica compressão, por 5-10s, com a polpa do
colo do côndilo da mandíbula (estrutura facialmente pal- polegar sobre o local da injeção, propicia curta latência e
pável) e, após curto trajeto, bifurca-se nos troncos zigo- aumenta a possibilidade de êxito do bloqueio.
máticos superior e inferior. 0'Brien propôs como objeti- Geralmente, entre 45s a 2 min, obtêm-se a acinesia dos
vo, o bloqueio do ramo temporofacial (Fig. 40). orbiculares.
Sinais da Acinesia: sua pesquisa leva em consideração
também as pálpebras do olho adelfo, eleva-se e libera-se
Técnica ambas as pálpebras (D e E) simultaneamente. O apareci-
mento de pequena fenda palpebral no olho bloqueado,
A1 -2 cm a frente do tragus, palpa-se o côndilo da menor velocidade do seu fechamento e sulco palpebral
mais evidente são sinais de acinesia do orbicular das
pálpebras.
Técnicas do Bloqueio
O gânglio de Gasser pode ser bloqueado através do fo-
rame redondo pela via transorbital de Hertel, ou mais se-
guramente pela técnica de Labat. Esta técnica utiliza três
pontos de referência: o primeiro ponto é marcado a 3 cm
da comissura labial, lateralmente (Fig. 48), o segundo a 1
cm, anteriormente, a partir do ponto médio do arco zigo-
mático (Fig. 49 e 50) e o terceiro ponto é a pupila, com o
paciente olhando para frente (Fig. 48).
Para a realização do bloqueio, procede-se da seguinte
maneira; (A) o paciente é colocado em decúbito dorsal
olhando para frente; (B) observa-se a reta de intersecção
25
Fig. 49 - Ponto médio do arco zigomático.
Fig. 48 - Pontos de referência Fig. 51 - Bloqueio do gânglio de Gasser.
para o bloqueio do gânglio de Gasser.
Fig. 50 - Pontos de referência
para o bloqueio do gânglio de Gasser.
26
entre as linhas que unem os três pontos de referência cita-
dos (Fig. 51); (Q faz-se um botão intradérmico com
anestésico local no ponto de intersecção, a 3 cm da
comissura labial e introduz-se uma agulha de 10 cm,
calibre 8, ao longo da reta de intersecção (Fig. 52).
Aproximadamente a 5 cm de profundidade, a agulha
tocara o plano ósseo, que é a superfície lisa infratemporal
da asa do esfenóide. Continuando o procedimento,
eleva-se um pouco o canhão da agulha até perder o
contato com a superfície do osso e avança-se a agulha de
1 a 1,5 cm, até que ela penetre no forame oval e o paciente
acuse parestesia no território do nervo mandibular (Fig.
47). A seguir, injeta-se 0,5 a 1 ml de solução anestésica
sem vasoconstritor.
Se for desejável apenas o bloqueio do nervo mandi-
bular, a injeção do anestésico deve ser feita antes da in-
trodução da agulha através do forame oval. Fig. 52 - Bloqueio do gânglio de Gasser.
com curativo oclusivo, pode ocorrer ulcerações da
Indicação córnea.
B) Hematomas poderão surgir, marcando superficial-
O bloqueio anestésico do gânglio de Gasser está indica- mente as regiões geniana e palpebrais.
do para avaliação de uma possível intervenção C) Punção subaracnóidea inadvertida com
neurocirúrgica, para alívio da neuralgia do trigêmeo. gotejamento de líquido cefalorraquidiano contra-indica a
continuação do procedimento. A injeção inadvertida de
solução anestésica no espaço subaracnóideo provocará
Complicações bloqueio da base do crânio e das primeiras raízes
cervicais, podendo ocorrer perda imediata da
A) Em conseqüência da paralisia do ramo oftálmico consciência, parada respiratória e colapso
ocorre a ausência de lágrima. Se o olho não for protegido cardiovascular.
Fig. 54: Sistema Nervoso Autônomo. Distribuição periférica. Fig. 55: Fibras Simpáticas pré e pós-ganglionares. Técnicas de
Fibras pré-ganglionares simpáticas (linha cheia de verde) Fibras Bloqueio:
pós-ganglionares simpáticas (linha interrompida verde) Fibras pré- 1 — Bloqueio dos nervos periféricos. 2 — Bloqueio peridural e ou
ganglionares parassimpáticas (linha cheia preta) Fibras pós- somático paravertebral. 3 — Bloqueio subaracnóideo. 4 — Gânglio
ganglionares parassimpáticas (linha interrompida preta) simpático, paravertebral. 5 — Bloqueio simpático pré-vertebral.
28
Os troncos simpáticos estendem-se ao longo da porção ven-
trolateral da coluna vertebral, desde a 2a. vértebra cervical até o
cóccix. Os gânglios cervicais situam-se ventralmente aos processos
transversos, os torácicos na frente das cabeças das costelas, os
lombares na superfície anterolateral dos corpos vertebrais e o gânglio
sacro medialmente ao forâmen sacro anterior. Nas terminações
cefálicas os dois troncos estendem-se para cima, acompanhando as
carótidas internas. As terminações caudais convergem e terminam em
frente ao cóccix, formando um único gânglio.
Na região cervical ocorre uma condensação de gânglios, for-
mando quatro pares: os superiores, os médios, os intermediários e os
inferiores. Em 80% dos indivíduos o gânglio cervical inferior se une
ao primeiro torácico formando o gânglio estrelado. Abaixo deste
nível, os gânglios paravertebrais estão arranjados de forma
segmentar, sendo 10 a 12 torácicos, 3 a 4 lombares, 4 a 5 sacrais e 1
coccígeo.
A interrupção das vias simpáticas periféricas pode ser realizada:
(1) nos nervos periféricos, (2) no espaço peridural, (3) no espaço
subaracnóideo, (4) no gânglio simpático paravertebral e (5) no
gânglio simpático pré-vertebral. (Fig. 55).
Os bloqueios ganglionares pré-vertebral e paravertebral são
preferíveis nos diagnósticos, prognósticos e nos bloqueios tera-
pêutico com neurolítico, pois bloqueia-se somente as vias simpáticas
periféricas eferentes e aferentes.
As estruturas simpáticas estão contidas por um fáscia, formando
uma região relativamente fechada que facilita a dispersão de
soluções. A extensão do bloqueio depende da quantidade de solução
de anestésico local ou neurolítico empregados. Grandes volumes
bloqueiam extensas áreas de inervação simpática. Pode-se utilizar
três locais: (a) gânglio estrelado, (b) plexo celíaco e (c) gânglio
simpático lombar (L2,) (Fig. 56).
29
O quadro clínico é variado e divide-se em três fases: aguda, é o uso do TENS ou do bloqueio simpático regional intravenoso. 2.
distrófica e crônica. Se após cada bloqueio o alívio da dor é temporário, esgotados todos
A fase aguda caracteriza-se por: os recursos, indica-se a simpatectomia. Prefere-se a simpatectomia
1. Dor em queimação, contínua, de intensidade variável, cirúrgica se o paciente é jovem e em bom estado geral. A
distribuída em território vascular ou nervoso. O paciente apresenta simpatectomia química com neurolítico é preferível nos pacientes
alodinia (reação dolorosa a estímulo não nocivo à pele normal), e idosos em mal estado.
hiperpatia (reação dolorosa a estímulo não nocivo, repetitivo à pele
íntegra). A hiperpatia pode ocorrer com aumento ou diminuição da Causalgia
sensibilidade ao estímulo (hiper e hipoestesia) ou com sensação
desagradável (disestesia); A causalgia é um tipo especial de DSR em que a dor se
2. Pele avermelhada, quente e seca no início, tornando-se desenvolve após lesão evidente de um nervo periférico. O termo foi
cianótica, fria e úmida; criado para definir dor em queimação, hiperatividade simpática e
3. Diminuição dos movimentos, pelo edema localizado, pela dor alterações tróficas, que se desenvolviam em feridos de guerra por
proveniente do espasmo muscular reflexo e de substâncias projétil de arma de fogo. Na II Guerra a incidência de causalgia foi
algogênicas que se formam nos tecidos. de 2,5 a 5% dos casos de lesão de nervos periféricos.
A fase distrófica se inicia entre o 3º e 6º mês após a lesão, caso O desenvolvimento deste tipo de dor incapacitante tem au-
a DSR não tenha sido tratada. Os sinais e sintomas são: mentado com os acidentes de motocicletas, que determinam
1. Acentuação do processo doloroso, principalmente da hi- estiramentos ou arrancamentos do plexo braquial ou retrações e
perpatia; seqüelas de cirurgias em nervos periféricos, venopunção e injeções
2. Unhas quebradiças e diminuição do crescimento dos pelos; musculares lesando diretamente um nervo.
3. Edema acentuado e espessamento das articulações por O ciático está envolvido em 40% dos casos, o mediano em 35%,
proliferação tecidual; o plexo braquial em 13% e o restante envolve os intercostais,
4. Incapacidade funcional pela diminuição dos movimentos e occipital e a cauda eqüina. O ciático e o mediano são os nervos mais
atrofia muscular; acompanhados pelas fibras simpáticas eferentes que se destinam aos
5. Osteoporose. membros inferior e superior, respectivamente. O quadro clínico se
A fase atrófica, estágio final da DSR, ocorre após o 6o. mês e caracteriza por:
caracteriza-se por: 1. Dor em queimação, superficial, contínua, intensa, espontânea,
1. Diminuição da dor em relação as fases anteriores; quase sempre acompanhada de alodinia e hiperpatia, após lesão
2. Diminuição da temperatura cutânea, com palidez e cianose; parcial ou total de um nervo. Na maioria das vezes, a lesão do nervo
3. Alterações tróficas irreversíveis; é parcial e aparece a dor na primeira semana em 80% dos casos; e
4. Aumento ou diminuição da sudorese; localiza-se na mão ou pé, distais a lesão nervosa. Posteriormente
5. Osteoporose acentuada. irradia-se para todo o membro afetado, migrando para outras regiões,
A diminuição da dor nesta fase, faz com que estes pacientes como o membro oposto;
possam não receber a devida atenção, além de apresentarem 2. A dor é agravada pelos movimentos, estresse, estímulos
alterações psicológicas, da ansiedade à depressão psíquica. O uso térmicos, sonoros e luminosos. Por isso, os pacientes se isolam. O
inadequado de analgésicos e/ou tranqüilizantes pode agravar estes frio ou o calor podem agravar, aliviar ou inalterar a sintomatologia,
problemas. mostrando que o desarranjo neuronal é maior que o vascular. O
medo, a angústia, a ansiedade e o isolamento desencadeiam a
Tratamento: Abordagem Principal depressão psíquica, que agrava a dor.
3. Dor que persiste acima de cinco semanas. É o tempo que se
(1) Bloqueio do Simpático: gânglio estrelado (cabeça, tronco estipula para o diagnóstico diferencial com dor proveniente de lesão
e membros superiores) e gânglio simpático lombar a nível de em tecido não nervoso;
L2 (pélvis e membros inferiores). 4. Sinais e sintomas relacionados com a hiperatividade simpá-
Para os bloqueios diagnósticos e terapêuticos usa-se soluções de tica e as alterações tróficas semelhantes a DSR. Não é necessário
anestésico local pouco concentradas em volumes de 5 a 7ml para o tecido distrófico nem lesão nervosa para se caracterizar DSR e
gânglio estrelado e l0 ml para o simpático lombar. Nos casos causalgia. Nas fases precoces pode não ocorrer alterações vaso-
favoráveis haverá alívio imediato e total da dor. Indica-se uma série motoras e sudomotoras. A presença destas alterações indicam
de 5 bloqueios em dias sucessivos ou alternados, obtendo-se uma agravamento.
melhoria gradativa da sintomatologia. 5. Desaparecimento total da dor imediatamente após o bloqueio
simpático. Esta resposta é típica e essencial para o diagnóstico de
(2) Se houver recusa do paciente ou contra-indicações como o causaigia.
uso de anticoagulantes, as alternativas são: estimulação elétrica O prognóstico é variável de acordo com a precocidade do
transcutânea (TENS) ou o bloqueio simpático regional intravenoso, tratamento, persistindo a dor acima de seis meses em 85% e acima de
realizado com a técnica de anestesia regional intravenosa com um ano em 25% dos casos.
guanetidina (l0 mg) ou reserpina (l-2mg) associado a anticoagulante
(heparina 500U) e quantidades variáveis de anestésico local. A Tratamento: Abordagem Principal
desvantagem da técnica é a necessidade do uso de garrote em um
membro comprometido com DSR e a hipotensão arterial ortostática Para fins diagnósticos e prognósticos os bloqueios do simpático
posterior. são eficazes, havendo desaparecimento imediato da dor. O valor
(3) Bloqueio do Ponto Doloroso: Se há pontos dolorosos terapêutico é questionável, 50% apresentam bons resultados com
miofasciais, o bloqueio da zona de gatilho com anestésico local anestésicos locais. Indica-se 3 a 5 bloqueios com anestésico local e
associado ou não a antiinflamatórios é desejável. se a resposta for temporária, preconiza-se simpatectomia cirúrgica
Como medida adjuvante institui-se analgésicos, antidepressivos, ou química. Os resultados cirúrgicos são variáveis (12-97%). O
tranqüilizantes e fisioterapia. Preconiza-se ainda os corticóides, insucesso deve-se a incompleta desaferentação simpática. Um terço
bloqueadores alfa e beta adrenérgicos, anticonvulsivantes e os destes pacientes mostram recorrência da dor, mas, de forma menos
inibidores dos canais de cálcio. intensa, num período de até oito anos.
Como medida adjuvante utilizam-se analgésicos, tranqüili-
Evolução do tratamento: zantes, antidepressivos e anticonvulsivantes.
A dor pós simpatectomia cirúrgica química pode aparecer
1. Se após cada bloqueio da primeira série nota-se evolução abruptamente entre o 10º e 14º dias, podendo regredir esponta-
para cura (diminuição da dor e da hiperpatia), indica-se uma segunda neamente. Ela localiza-se na área de inervação simpática corres-
série até 5 bloqueios. Nestes casos uma boa alternativa pondente a desaferentação com características variáveis; em pontada,
câimbras e em crises. O tratamento inclui analgésicos, anti-
30
depressivos, tranqüilizantes e anticonvulsivantes. A persistência da
sintomatologia leva a indicação de bloqueio peridural ou de gânglios
simpáticos da região.
Herpes zoster
O Herpes zoster é uma neurodermatovirose causada pelo vírus
Varicela zoster, caracterizado por dor unilateral, limitada quase
sempre a um dermátomo inervado por um nervo espinhal ou craniano
e com erupção vesicular. Ele pode ser abordado em duas etapas: Fase
Aguda e Fase Crônica (Neuralgia Pós-Herpética —NPH).
Fase Aguda: A infecção envolve, preferencialmente, os der-
mátomos da região torácica. Quando o trigêmeo é afetado a raiz que
dá origem ao nervo oftálmico, é a mais atingida. A incidência é igual
nos dois sexos (3 a 5:1.000), aumentando com a idade (2/3 dos casos Fig. 60: Paciente 81 anos. Herpes zoster no 5° dia de evolução. Em
acima de 50 anos) e, principalmente, nos indivíduos uso de analgésicos sem alívio da dor. Indicado bloqueio peridural
imunossuprimidos (20:100). seguido de bloqueio das terminações nervosas.
O vírus penetra nas terminações nervosas sensitivas localizadas Fig. 61: Paciente 44 anos. Herpes zoster no 18º. dia de evolução. Em
na pele e se dirigem em direções centrípeta até o gânglio dorsal,
permanecendo em forma latente, até diminuição da resistência geral
do hospedeiro. A ativação do vírus tem sido relacionada com trauma,
doenças malignas (Hodkins, Aids, Leucemia) e terapia
imunossupressiva (esteróides, irradiação, antimetabólitos). Os vírus
multiplicam-se no gânglio espinhal, vão às terminações nervosas,
onde se reproduzem outra vez. Na pele determinam erupções
agrupadas de máculas e pápulas avermelhadas (Fig. 59 e 60), que se
transformam rapidamente em vesículas e pústulas (Fig. 61) que
caracterizam a doença. Se o vírus não atinge as terminações nervosas
da pele, resulta um quadro doloroso segmentar sem erupção.
A dor em queimação segmentar é resultado da inflamação do
gânglio e neurite periférica, resultando disestesia, hiperalgia, alodinia
e hiperpatia. Em alguns pacientes, ocorre dor intensa na fase pré-
vesicular, que aparece na primeira semana, desaparecendo em torno
do trigésimo dia. O envolvimento da raiz dorsal (radiculite) e de
segmentos da medula (mielite) são freqüentes. A inflamação da raiz
anterior resulta em alterações motoras transitórias.
Os sintomas neurológicos da fase aguda cessam com a cura, que
ocorre entre 2 a 3 semanas nas crianças e adultos jovens e, entre 3 a 4
semanas nos idosos. Esta fase pode ser diminuída com agente uso de analgésicos, hipnoanalgésicos e tranqüilizantes, sem alívio da
antiviral. Os corticosteróides e o bloqueio simpático reduzem a dor. Indicado uma série de bloqueios do gânglio estrelado.
incidência de neuralgia pós-herpética.
Tratamento:
1. Bloqueios do Simpático: os bloqueios repetidos apressam a
cura das vesículas, secando-as, independente de tratamento tópico. A
dor é aliviada por um tempo prolongado e reduzem a incidência de
NPH (Fig. 62, 63, 64 e 65). A sua indicação depende da intensidade
da dor e, os bloqueios devem ser feitos em dias subseqüentes ou
alternados até o alívio definitivo da dor e melhora acentuada das
vesículas.
2. Bloqueios de Terminações Nervosas: A infiltração das ter-
minações nervosas das áreas atingidas ou das zonas cutâneas dos
trajetos nervosos produz alívio e melhora das lesões.
31
3. Anestésico Local Venoso: Na impossibilidade de bloqueio
simpático, anestésicos locais podem ser usados por via venosa.
4. Como medida adjuvante, recomenda-se a associação de
analgésicos, tranqüilizantes e antidepressivos.
Fase Crônica: A neuralgia pós-herpética é caracterizada pela
persistência da dor de 4 a 6 semanas após o início da doença e a cura
das lesões cutâneas. A despigmentação e cicatrizes facilitam o
diagnóstico(Fig. 62). É o estágio final resultante de lesões
permanentes das fibras nervosas e de suas bainhas. Ocorre em 10%
dos casos, sendo mais comum nos pacientes acima de 60 anos. É
freqüente quando houver dor intensa e persistente na fase aguda. Os
diabéticos são pré-dispostos a infecção herpética e susceptíveis ao
desenvolvimento da NPH.
O quadro é agravado por paroxismos de dor tipo choque e
déficit sensitivo, podendo estar associado à alodinia e hiper-patia.
Sensações disestésicas de enformigamento, bichos caminhando ou
perfurando a pele, são relatados. Esta seqüência mostra a dificuldade
que envolve o tratamento, que pode regredir em pouco tempo em
Fig. 63: I.° dia após bloqueio. Discreta queixa de dor. Nota-se alguns, persistindo durante meses em outros. Acrescente-se nestes
vesículas secas e evidente disseminação da erupção herpética. pacientes, quase sempre idosos, alterações psicológicas, familiar e
social.
Fig. 64: 4º dia de evolução. Sem queixas de dor ou parestesias
após dois bloqueios pendurais e três bloqueios de terminações Tratamento: Não há tratamento eficaz. Deve-se eleger técnicas
nervosas. pouco agressivas para evitar lesões iatrogênicas.
Fig. 65: 45". dia após 12 bloqueios do gânglio estrelado. Sem queixas 1. Bloqueios do Simpático: Os bloqueios dos gânglios ou
nervos periféricos com anestésico local aliviam temporariamente os
sintomas. Quanto mais precoce a sua administração, melhor o
resultado. Os corticoesteróides no espaço pendurai têm algum valor.
Os neurolíticos são contra-indicados em nervos periféricos, pelo risco
da desaferentação.
2. Estimulação Elétrica Transcutânea: Por ser método não
invasivo, pode ser empregado, embora os resultados sejam pouco
estimulantes.
3. Indica-se anestésico local venoso, quando os bloqueios não
são possíveis.
4. Os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina) em doses mo-
deradas estão indicados. Seus efeitos são notáveis mesmo em
indivíduos não deprimidos. Podem ser usados em associação com
derivados fenotiazínicos e anticonvulsivantes.
Contra-Indicações: Os procedimentos neurocirúrgicos como a
neurectomia periférica, risotomia e cordotomia são contra-indicados.
32
Bloqueio do Gânglio Estrelado
AS Oliveira, TSA & CA Sanchez, TSA
Considerações Anatômicas
O gânglio estrelado é formado pela fusão com-
pleta ou parcial do gânglio simpático cervical inferior
e do primeiro torácico. A fusão completa que ocorre
em 80% dos casos, resulta no gânglio cervicotorácico
de forma estrelar ou fusiforme, com dimensões apro-
ximadas de 2,5 cm de altura por 1 cm de espessura.
A cadeia simpática na porção cervical está limita-
da por uma bainha originada da aponeurose do pesco-
ço, separada das estruturas ósseas por uma fina massa
muscular pré-vertebral e envolta por tecido areolar e
adiposo. O gânglio situa-se entre a região antero-
lateral do corpo da T. vértebra cervical, na base do
processo transverso e o colo da 1a. costela. Sua locali-
zação é anterior e próxima à artéria vertebral, poste-
rior ao conjunto vasculonervoso do pescoço. Mantém
relações com o plexo braquial, nervo laríngeo recor-
rente, artérias subclávia e tireoidiana inferior. O gân-
glio estrelado do lado direito está situado próximo à
cúpula pleural e o do lado esquerdo situa-se 1 a 2
cm acima.
Do gânglio estrelado partem os ramos comuni-
cantes cinzentos para os 1°. e 8º nervos cervicais e
para o 8°. torácico. O gânglio estrelado liga-se aos
demais gânglios cervicais e envia ramos periféricos
pelas artérias correspodentes aos plexos cardíacos, à
cavidade craniana, ao plexo tireoidiano inferior,
plexo subclávio, plexo da mamária interna e, ocasio-
nalmente, para o nervo frênico (Fig. 66).
Fig. 66: 1 — nervo vago. 2 — nervo laríngeo recurrente. 3 —
Técnicas de Bloqueio plexo braquial. 4 — gânglio estrelado. 5 — artéria vertebral. 6
— artéria subclávia.
A técnica anterior ou paratraqueal é a mais sim-
ples e segura. O paciente é colocado em decúbito
dorsal com os braços ao longo do corpo e um pequeno
travesseiro debaixo dos ombros, que permite discreta
extensão da cabeça, que deve ser mantida na linha
média. Esta posição retifica o esôfago e mantém cons-
tantes as relações anatômicas do pescoço, facilitando
a introdução da agulha.
Localiza-se o bordo interno do fascículo esternal
do músculo esternocleidomastoídeo e identifica-se a
cartilagem cricóide. O prolongamento de uma linha
horizontal que passa por ela, indica a posição da apó-
fise transversa da 6ª vértebra cervical e o tubérculo
de Chassaignac a nível do bordo do esternocleido-
mastoídeo. Nos longilíneos, a cartilagem cricóide po-
de estar mais alta, ao nível da 5ª vértebra cervical.
A palpação da apófise transversa nos bordos do ester-
nocleidomastoídeo é facilitada quando rodamos dis-
cretamente a cabeça para o lado oposto. A apófise
transversa da 1a. vértebra cervical pode ser localizada a
1,5 cm abaixo do ponto citado. A Figura 67 ilustra a
identificação deste ponto colocando dois dedos
transversos aproximadamente a 4 cm a partir da junção
esternoclavicular, no bordo do músculo.
A punção pode ser feita a nível da 6a. ou da 1a.
vértebra quando se vai usar anestésico local. Opta-se
pelo ponto mais próximo do gânglio, ao nível da última
vértebra cervical e com controle radiológico, quando se
vai executar a neurólise química.
Recomenda-se ao paciente que mantenha a boca
aberta discretamente, não fale, não tussa nem degluta. A
Figura 68 mostra os dedos indicador e médio palpando
na profundidade o bordo interno do fascí-culo esternal
do esternocleidomastoídeo e a carótida, para serem
afastados lateralmente. Os dedos fixam esta posição
comprimindo e afastando o conjunto musculovascular,
sem palpar a apófise transversa correspondente .
A punção é realizada com agulha 40x7 e seringa de
10 ml, num ponto que dista 1,5 cm da linha média,
perpendicular à pele e os planos subjacentes. A agulha
deve progredir lentamente sem resistência até atingir a
apófise transversa. A distância percorrida é pequena
dependendo da forma do pescoço e da depressão teci-
dual determinada pela palpação profunda. A Figura 69
ilustra os dedos e agulha posicionadas. Após localizar a
superfície óssea, recua-se a agulha 3 a 5 mm, para não se
injetar solução na massa muscular que recobre os ossos
da região, ilustrados na Figura 70. Após aspiração,
injeta-se 1 a 2 ml de solução anesté-sica. Se não houver
sinais de injeção vascular (nesta região surge
imediatamente), injeta-se o restante da solução.
Os limites aponeuróticos da região e os tecidos
areolar e gorduroso que envolvem o gânglio, tornam a
extensão do bloqueio dose dependente. Dois milili-tros
injetados no gânglio estrelado produzem bloqueio das
fibras simpáticas da cabeça, 10 ml são necessários para
bloquear as fibras que inervam os membros superiores,
caixa torácica e órgãos intratorácicos. Quando se usa
neurolíticos, o volume não deve exceder 1,5 ml de álcool
absoluto ou fenol aquoso a 7% injetados lentamente,
após localização comprovada por radiografia e injeção
de anestésico local (1-2 ml).
A efetividade do bloqueio simpático é comprovada
clinicamente pela instalação ipsilateral da síndro-me de
Claude Bernard-Horner caracterizado por: (a) ptose
palpebral, (b) miose e (c) enoftalmia (Fig. 62). Anidrose,
vasodilatação que ocasiona enrubecimento e aumento da
temperatura da pele, congestão da con-juntiva e da
esclerótica e obstrução nasal são facilmente verificados.
Estes sinais e sintomas dão a certeza de que fibras
simpáticas que suprem o crânio e a face foram
bloqueados.
Quando a finalidade é bloqueio simpático dos
membros superiores, vasodilatação, aumento da tem-
peratura e anidrose devem ser observados. Quando
predomina dor em queimação, observa-se redução ou
desaparecimento imediato da dor e aumento da função
do membro afetado. Outros sinais comprovam a eficácia
dos bloqueios como a prova do reflexo simpático
galvânico, aumento da amplitude das pulsações
observadas num osciloscópio e a termografia. Se estes
sinais não ocorrerem, deve-se repetir o bloqueio.
Complicações
As complicações podem ser divididas em vasculares,
pleuropulmonares e neurológicas.
A complicação neurológica mais comum é o blo-
queio do nervo laríngeo recorrente, que ocorre quando
altos volumes e concentração de anestésico local são
empregados. Esta complicação manifesta-se por
rouquidão passageira e gera certo grau de ansiedade.
Bloqueio incompleto do plexo braquial ocorre na
punção mais lateral quando se injeta a solução sem tocar
a superfície óssea onde se aloja o gânglio. e dificultam os bloqueios subseqüentes. Volumes su-
Raquianestesia e anestesia peridural são complicações periores a 5 ml podem determinar bloqueio das fibras
graves, porém raramente relatadas. cardioaceleradoras, que nos cardiopatas podem de-
Nos atendimentos ambulatoriais, os pacientes de- senvolver bradicardia importante. Aqueles com "tor-
vem ser observados durante, no mínimo, uma hora após sade de pointes" podem desenvolver taquicardia nos
a realização do bloqueio. bloqueios do gânglio estrelado direito, geralmente o lado
não predominante.
A complicação vascular mais importante é a injeção As lesões da pleura e pulmão com pneumotórax são
arterial de solução anestésica local, que pode determinar pouco freqüentes. A possibilidade de bloqueio do
perda da consciência transitória. Hematomas por lesão frênico, de bradicardia e pneumotórax, contra-indicam o
arterial ou venosa deixam a região dolorosa bloqueio bilateral num mesmo tempo.
35
Fig. 71: Plexo celíaco. 1 —
nervo grande esplâncnico. 2 —
nervo pequeno esplâncnico. 3
— nervo mínimo esplâncnico. 4
— primeiro gânglio simpático
lombar. 5 — músculo psoas. 6
— nervo genitofemoral. 7 —
ramos do nervo vago. 8 —
gânglio celíaco. 9 — gânglio
mesentérico. 10 — plexo renal.
11 — plexo aórtico. 12 —
gânglio e plexo mesentérico
inferior. 13 — nervo e artéria
cólica esquerda.
de tranqüilizantes são
por cima da artéria celíaca e por baixo das artérias injetados por via venosa durante o bloqueio. O
renais. Localiza-se na frente da metade inferior da paciente deve permanecer cooperativo e informando
12ª vértebra torácica, da 1ª lombara e, mais raramente, precisamente quanto a dor e outras sensações, que
na frente da parte superior da 2 . lombar. Entre o indicam a posição correta das agulhas após punção.
plexo e a coluna vertebral há o crura do diafragma e Uma veia que permita infusão rápida de líquidos
a aorta. Os gânglios se relacionam com a cava e, deve ser puncionada.
anteriormente, com o peritôneo parietal e o pâncreas. As Figuras 72 e 73 ilustram o paciente colocado
Os pares de gânglios que formam o plexo celíaco em decúbito ventral com um travesseiro sob as espi-
não são simétricos e diferem no tamanho e na posição nhas ilíacas anterosuperiores para retificar a coluna
(Fig. 71). lombar.
Palpa-se os bordos cefálicos das apófises espinho-
Técnica do Bloqueio sas da 12ª vértebra torácica e primeira lombar, que
devem ser marcados. Localiza-se um ponto a cada lado
Medicação pré-anestésica com hipnoanalgésicos do bordo inferior da 12ª costela, eqüidistantes 5 a
não é recomendada. Se necessário pequenas doses 7cm da linha média (medida com régua). A união
36
desses pontos forma um triângulo cuja altura não deve
ultrapassar 2.5cm. As arestas do triângulo indicam a
direção que as agulhas deverão ser introduzidas (Fig.
73), esta dinâmica não deve ser ultrapassada para evitar
punção renal. Esses pontos devem ser evidenciados pela
fluoroscopia ou radiografia quando se indica
neurolíticos.
Infiltra-se a pele e os planos subjacentes na direção
do trajeto a ser percorrido pela agulha com solução
anestésica local em baixa concentração para evitar
bloqueio das raízes nervosas somáticas, que passam
pelos buracos de conjugação. O bloqueio inadvertido
destas fibras é indesejável, especialmente quando se usa
neurolíticos.
A seguir, introduz-se a agulha (200x10 ou 150x10),
lentamente, com ângulo de 45° em relação à pele, em
direção ao vértice do triângulo, no sentido da
profundidade, buscando a parte média do corpo da 1ª
vértebra lombar. Uma vez tocada a superfície óssea,
corrige-se o ângulo da agulha até o máximo de 15° (Fig.
74). Nas punções sucessivas, a agulha deixará de tocar o
corpo vertebral, penetrando facilmente numa região sem
resistência, devido a consistência do tecido. Deve ser
avançada 1 a 2cm, observando-se a agulha, que poderá
oscilar com os batimentos da aorta, nas punções do lado
esquerdo. Caso esta seja perfurada inadvertidamente, a
agulha é recuada até que o sangue deixe de exteriorizar-
se e, reintroduz-se alguns milímetros. Procede-se da
mesma forma, caso a cava seja puncionada do lado
oposto (Fig. 75), o que é menos freqüente.
A distância percorrida entre a pele no ponto de
punção, e a região onde se aloja o plexo celíaco, é de 8 a
l0 cm nos adultos. Essa região é constituída por tecido
areolar frouxo e gorduroso, oferecendo pouca resistência
à injeção de ar ou líquido, sendo o sinal mais simples
para identificação do espaço.
A confirmação de que as agulhas estão posicio-
nadas corretamente é feita pela fluoroscopia e/ou com
auxílio de raios-X (Posição póstero-anterior e lateral)
(Fig. 76, 77). Este procedimento é obrigatório quando o
bloqueio é realizado com neurolítico.
Injetando-se através de cada agulha, pequena
quantidade de contraste (2ml), as radiografias em perfil
nos mostrarão as agulhas localizadas na frente do corpo
vertebral de L1 e o contraste se difundindo pela região
anterior aos corpos de T12, Ll, L2 (Fig. 78 e 79). Se
houver refluxo do contraste em direção aos orifícios de
conjugação, as posições das agulhas devem ser revistas.
Nos bloqueios para patologias não cancerosas, para
bloqueios prognósticos e posterior neurólise, o volume
de solução anestésica deve ser de 15 a 20ml. Quando se
vai realizar a neurólise com álcool a 50% (em solução
de anestésico local de ação prolongada), emprega-se
volume total de 50ml.
Aspira-se as agulhas e injeta-se 1 a 2ml da solução.
Na maioria dos casos o paciente acusa dor em
queimação de grande intensidade e desconforto na
região epigástrica. Repete-se a dose no lado oposto,
37
Fig. 73: As arestas do triângulo indicam a direção das agulhas ao
serem introduzidas.
Fig. 74: Correção do ângulo da agulha, máximo de 15 graus.
39
Bloqueio Simpático Lombar
AS Oliveira, TSA & CA Sanchez, TSA
Considerações Anatômicas
A cadeia simpática lombar apresenta anatomia
variável quanto a sua localização, tamanho, número,
forma dos gânglios e disposição das fibras. Localiza-se
classicamente na face ântero-lateral dos corpos verte-
brais, numa região delimitada posteriormente pela
superfície óssea da coluna vertebral, pelo músculo
psoas com seu revestimento aponeurótico e, ante-
riormente, pela fascia retroperitoneal. Há normal-
mente quatro gânglios que apresentam dimensões
aproximadas de lcm de altura por 0,5cm de espessura.
Estes podem ser isolados ou fundidos e,a freqüente-
mente, se encontram entre o corpo da 2 . e o bordo
inferior da 4ª vértebra lombar (Fig. 81). Podem estar
junto à superfície óssea, aos discos intervertebrais
ou próximos à arcada aponeurótica que dá origem
ao psoas. A mesma variabilidade anatômica existe
quanto às fibras pré, pós e interganglionares, quanto
ao comprimento, número de fibras e sinapses. Geral-
mente, há fibras anastomóticas que unem os dois lados
da cadeia simpática. O gânglio simpático da 2a. vérte-
bra lombar apresenta certa dominância, sendo o pon-
to de sinapse das fibras que se destinam aos membros
inferiores. Enviam ramos diretamente às vísceras da
região e suprem as adrenais, rins e ureteres.
Os dois primeiros e, por vezes, o terceiro nervo
lombar enviam ramos comunicantes brancos aos gân-
glios correspondentes. São fibras longas que acompa-
nham as artérias que percorrem as laterais dos corpos
Fig. 81: Posição mais comum dos gânglios vertebrais, sendo recobertas pela aponeurose do
simpáticos lombares. psoas. O nervo genitofemoral que se origina das raízes
dos segmentos correspondentes a L1 e L2, perfura o
psoas emergindo no abdômen ao nível da 3a. ou 4ª
vértebra lombar (vide Fig. 71).
A cadeia simpática do lado direito localiza-se
atrás da cava e no lado esquerdo a aorta situa-se
anterior e medíalmente, e mantém relações com os
rins e vias excretoras.
Técnica do Bloqueio
O paciente é colocado em decúbito ventral com
a mesa fletida ou com um travesseiro sob o abdômen,
entre as costelas e as espinhas ilíacas, flexionando a
coluna lombar. Esta curvatura facilita a palpação
das apófises espinhosas que devem ser identificadas
e marcadas.
Traça-se uma linha horizontal que tangencia a
parte média do processo espinhoso da vértebra corres-
pondente ao gânglio que se pretende bloquear. A
projeção desta linha corresponde ao espaço que existe
40
entre os dois processos transversos de vértebras subse- Fig. 83: Gânglio simpático e suas relações com aorta, cava, rins
qüentes. Localiza-se um ponto sobre a linha traçada e ilustrando o posicionamento da agulha durante a punção.
que diste 5cm da linha média (Fig. 82). No ponto de
punção, infiltra-se a pele os planos subjacentes com
anestésico local em baixa concentração, buscando o
processo transverso.
Introduz-se agulha (100x10 ou 100x8) com ângulo
de 45 graus em relação ao plano longitudinal na dire-
ção do processo transverso. Dependendo do biotipo,
a distância entre a pele e o processo transverso varia
de 3 a 5cm. Identificado este reparo anatômico, ajus-
ta-se o marcador de borracha na agulha numa distân-
cia de 4 a 5cm a partir da pele, equivalente a distância
a ser percorrida entre o processo transverso e a face
ântero-lateral do corpo vertebral. Retira-se a agulha
até o subcutâneo e redireciona-se; primeiro no sentido
transverso do corpo do paciente, em direção ao corpo
vertebral, diminuindo o ângulo de 90° para 85° (Fig.
83). Segundo, aumentando gradualmente o ângulo
da agulha em relação ao plano longitudinal, até tan-
genciar a parte caudal do processo transverso. Após
a passagem da agulha por baixo do processo trans-
verso, o próximo obstáculo ósseo é o corpo vertebral
(Fig. 84). Obtido o contato, a agulha é afastada uns
milímetros e o seu bisel voltado para fora do corpo
vertebral, para que ao ser reintroduzida, possa desli-
zar pelo periósteo, até que deixe de tocar no corpo
da vértebra. Nesta oportunidade, sente-se a perda de
resistência devido à passagem da agulha pela apo-
neurose do psoas. A confirmação da localização da
ponta da agulha é feita pela injeção de ar ou líquido
sem resistência.
Após a aspiração, injeta-se dose teste de 3ml de
anestésico local em baixas concentrações, mantendo-
se a agulha na posição até a obtenção do bloqueio
simpático. Em poucos minutos nota-se o aumento
da vascularização do membro inferior ipsilateral, ani-
drose e aumento da temperatura cutânea. Quando há
predomínio da dor em queimação, observa-se imediata
redução ou desaparecimento da sintomatologia. Se o
bloqueio for realizado com anestésico local, uma vez
obtido estes sinais e sintomas, pode-se completar a
dose total. Os limites aponeuróticos da região e os
tecidos areolar e gorduroso que envolvem os gân-
glios, tornam a extensão do bloqueio dose depen-
dente. l0ml de solução anestésica injetados próximos
ao gânglio simpático de L2 produzem bloqueio das
fibras simpáticas que se dirigem para os membros
inferiores. Caso haja necessidade de ampliar o núme-
ro de gânglios, deve-se realizar punções em níveis
diferentes.
Quando os neurolíticos estão indicados, é indis-
pensável a confirmação de que as agulhas estejam
corretamente posicionadas através da fluoroscopia ou
radiografias postero-anterior e lateral. Pequena quan-
tidade de contraste (0,5 a lml) evidenciam a ponta
da agulha na face anterolateral do corpo vertebral, a
ocorrência ou não de refluxo pelo psoas e a pene-
tração ou não ação da agulha em estruturas nobres
(Fig. 85). Recomenda-se fenol aquoso a 7% em doses
41
71) ou no sentido posterior, entre a arcada do psoas e o
túnel fibroso ocupado pelo ramo comunicante branco,
em direção às raízes somáticas. Posteriormente, o
paciente deve ficar em repouso sob vigilância por, pelo
menos, uma hora.
Complicações
As complicações funcionais, vasculares, neuroló-
gicas ou devido a punção de vísceras abdominais são
raras, porém graves se ocasionadas por neurolíticos.
A instabilidade cardiovascular pode ocorrer em
pacientes em mal estado clínico. A punção de vasos é
possível e, assume maior gravidade se houver uso
concomitante de anticoagulantes.
Punção direta do espaço subaracnóideo ou através
do forame de conjugação e punção do espaço peridural
são complicações devidas a angulações inferiores a 85°.
Há pequeno risco de lesão da artéria que nutre a medula,
que deixam seqüelas neurológicas graves.
Neuralgia genitofemoral. caracterizada por dor em
queimação, hiperestesia e alodinia, na projeção cutânea
de L1 pode ocorrer quando se ultrapassa as quantidades
recomendadas do neurolítico ou de anestésicos locais.
Pode ocorrer dor pós-simpatectomia química entre
o 10ª e 14ª dia, podendo regredir espontaneamente.
Pode ocorrer lesão renal, se o ponto de punção for
localizado numa distância superior a 7,5cm da linha
Fig. 85: Radiografia da agulha em posição (vide texto). média. A lesão do ureter também é possível,
principalmente, nos níveis da 3ª ou 4ª vértebras lomba-
res, onde os ureteres assumem uma posição antero-
inferiores a 3ml por metâmero. Após a injeção do lateral e próxima aos corpos vertebrais. A lesão pode
neurolítico, coloca-se o paciente em decúbito contra a manifestar-se por hematúria ou por estenose.
lateral ao lado bloqueado por l0min, evitando a
dispersão lateral do agente pela aponeurose do psoas em
direção a emergência do nervo genitofemoral (Fig.
Os Nervos Intercostais
LM Cangiani, TSA
A caixa torácica é inervada por nervos originários Os nervos torácicos originários do gânglio espinhal
dos plexos cervical, braquial e nervos torácicos poste- dividem-se em dois ramos torácicos: posterior e anterior
riores e anteriores. (Fig. 89). Os ramos torácicos posteriores inervam as
O plexo cervical na parte superior da região costal regiões mais próximas a coluna vertebral (Fig. 87). Os
emite seus ramos supraclaviculares, que vêm terminar ramos torácicos anteriores passam a ser denominados
abaixo da clavícula. (Fig. 86 e 87). nervos intercostais a medida que ocupam os espaços
O plexo braquial emite para a região superior do intercostais (Fig. 90). Assim, os nervos intercostais são
tórax os nervos para a parte dos músculos grande constituídos pelos ramos anteriores dos 12 pares dorsais.
peitoral, pequeno peitoral e grande denteado (Fig. 88). Fibras advindas dos gânglios simpáticos levam
inervação simpática aos territó-
42
Fig. 86: Ramos do plexo cervical para a parede torácica:
1 — Nervos supraclaviculares anteriores.
2 — Nervos supraclaviculares médios.
3 — Nervos supraclaviculares posteriores.
43
44
rios inervados pelos nervos intercostais (Fig. 90).
Cada um dos nervos intercostais caminha inicial-
mente entre os músculos intercostais externos e a lâmina
fibrosa que se prolonga desde os corpos vertebrais até os
músculos intercostais internos. Esta parte do trajeto dos
intercostais está contíguo a pleura. A medida que
ultrapassa a linha costo vertebral, os nervos se encaixam
entre os músculos intercostais, distan-ciando-se da
pleura (Fig. 90).
À medida que ganham os arcos costais, os nervos
intercostais juntamente com artérias e veias, ocupam um
sulco existente nas costelas, os canais costais (Fig. 91).
Estes canais são evidentes da primeira a sétima costelas,
e praticamente inexistem nas inferiores onde se
observam um trajeto mais baixo dos nervos intercostais
em relação a borda inferior das costelas. Este fato é
também observado a medida que os nervos vão
alcançando a parte anterior do tórax (Fig. 92).
Ao longo do seu trajeto semicircular, os nervos
intercostais dão numerosos ramos para os músculos
intercostais, supracostais e subcostais, ramos sensitivos
para as costelas, seus periósteos e para a loja parietal da
pleura. Inicialmente dão ramos cutâneos, especialmente
os laterais, localizados na linha axilar anterior e os
anteriores entre as linhas mamilar e paraesternal (Fig.
93).
Na parte média do nervo intercostal sai a perfu- Fig. 94:1 — Ramo cutâneo externo do 3". nervo intercostal. 2
rante lateral, perfurando de dentro para fora os músculos — Nervos intercostobraquiais. 3 — Clavícula. 4 — Artéria
intercostais externos, ramificando-se na pele da região axilar. 5 — Nervo musculocutâneo. 6 — Nervo acessório do
braquial cutâneo interno. 7 — Nervos subescapulares. 8 —
costal. As perfurantes laterais do primeiro e segundo Nervo do músculo grande denteado. 9 — Ramo cutâneo do 4o.
nervos intercostais passam pelo ôco da axila para se nervo intercostal.
distribuir na face interna do braço (Fig. 94). Os ramos
perfurantes anteriores emergem para o te-gumento e
parede anterior do tórax pelo espaço perfurado anterior.
A Fig. 95 mostra esquema das estruturas a nível da
6ª e 7ª. costelas no ângulo em corte transversal.
A disposição das artérias, veia e nervo intercostais
depende da região, variando de costela para costela e na
mesma costela de região para região.
O espaço intercostal pode ser abordado em qual-
quer nível. As melhores condições técnicas obtém-se do
ângulo das costelas para frente. Próximo a linha costo
vertebral, a massa muscular e adiposa dificultam o
acesso ao espaço intercostal.
45
Bloqueio Intercostal na Linha
Axilar Média (Bilam)
LM Cangiani, TSA
Considerações Anatômicas
A linha axilar média fica atrás das perfurantes
laterais dos nervos intercostais que emergem na linha
axilar anterior. A espessura da musculatura é menor
nesta região quando comparadas com as regiões pos-
teriores.
Da 1ª a 7ª costelas, o canal costal é bem acentuado,
o espaço triangular intercostal é maior, ficando um
pouco mais distante da pleura (Fig. 95).
A abordagem do 2º ao 10º nervos intercostais fica
mais fácil nesta região. A abordagem do 1º nervo é
quase impossível por esta via e a dos 11º e 12º nervos
deve ser mais posterior.
Técnica do Bloqueio
O paciente deve ficar em decúbito dorsal fletindo o
membro superior ipsilateral com a mão sob a cabeça
(Fig. 96). Em. paciente do sexo feminino, a mama cai
sobre a linha axilar média, dificultando a abordagem dos
espaços intercostais. Por isso coloca-se uma fita de
esparadrapo ou adesiva que vai da região peri-mamilar
até o ombro do lado oposto, tracionando a mama (Fig.
97).
Inicia-se a abordagem dos espaços intercostais pela
2a. costela. Com o polegar palpa-se a 2a. costela e
mantém-se a compressão (Fig. 98). A seguir, perfura-se
a pele com agulha 25x8 conectada a uma seringa de
20ml contendo solução anestésica com vasocons-tritor
(Fig. 99). Deve-se introduzir a agulha até tocar a costela,
e após, faz-se movimentos com o polegar e a seringa,
colocando-a na borda inferior da costela. Localizada esta
borda, introduz-se a agulha de modo a tangenciá-la.
Muda-se o sentido da agulha avançan-do-a em sentido
craneal para dentro do canal costal (Fig. 100 e 101).
Deve-se tomar cuidado nesta manobra para evitar
perfuração da pleura.
Após a localização do espaço, aspira-se e injeta-se
3ml da solução anestésica. Depois, retira-se a agulha
mantendo-se o polegar na posição. A manutenção do
polegar no local da última punção serve para marcar o
segmento bloqueado, evitando-se saltar uma costela. Em
seguida, desliza-se o polegar até localizar a 3ª costela
(Fig. 102). Repete-se o procedimento para a 3ª costela e
para todos os segmentos que se deseja bloquear (Fig.
103, 104, 105 e 106).
46
Fig. 100: Bloqueio intercostal na linha axilar média (BILAM).
Posição da agulha.
Área de Analgesia
A área de analgesia vai depender do número de
segmentos bloqueados. Para se obter analgesia em
um metâmero é necessário o bloqueio de três
segmentos. A figura 107 mostra a área de analgesia
do 2o. ao 6° nervo intercostal. O quadrante superior
interno não apresenta analgesia uniforme porque re-
cebe fibras do 1o. nervo intercostal, plexos cervical
e braquial. Esta falha pode ser minimizada com infil-
tração das regiões intraclavicular e paraesternal alta.
Indicações, Contra-Indicações e
Complicações
O Bilam está indicado nas pequenas intervenções
sobre a mama como as exereses de nódulos, drenagens
de abscessos, ginecomastias, quadrantectomias, inclu-
são de prótese de silicone e nas mastectomias parcias.
Associado com anestesia geral superficial, pode
ser feito nas mastectomias radicais. Neste caso é ne-
cessário aprofundar a anestesia quando da desinser-
ção dos músculos peitorais e o esvaziamento axilar.
O Bilam está contra-indicado quando houver re-
cusa do paciente, obesidade e adenopatia axilar exu-
berante, pela dificuldade do bloqueio do 2? nervo
intercostal.
Observadas as contra-indicações e a execução
cuidadosa da técnica, o pneumotórax é uma ocorrên-
Fig. 107: Área de analgesia: QSI — Quadrante Superior
cia rara que pode ocorrer.
Interno. QSE — Quadrante Superior Externo. Qll —
Quadrante Inferior Interno. QIE —j Quadrante Inferior
Externo.
48
ber a perda total da resistência. Aspira-se e não haven-
do refluxo de sangue, injeta-se 20ml de solução anes- A síndromê de Claude Bernard-Horner, embora
tésica com vasoconstritor (Fig. 113). rara, pode ocorrer.
Falhas especialmente no quadrante supero-me-
Latência e Analgesia dial da mama ocorrem, e podem ser contornadas com
infiltração subcutânea a nível esternal.
A latência varia de um a dez minutos (média de
6min). Nota-se que a área correspondente a T4 é a Indicações e Contra-Indicações
primeira a apresentar anestesia (menos de um
minuto). Após aproximadamente l0min, a extensão O bloqueio é bem indicado nas pequenas cirur-
da anestesia atinge seis metâmeros (de T3 a T8). gias realizadas na região anterior do tórax, inervada
Complicações pelas raízes de T3 a T8, como nódulos de mama, gine-
comastias, biópsias, drenagens de abscessos etc.
A complicação mais importante é o pneumotórax São contra-indicações absolutas do bloqueio a
(2%). A dor a injeção é outra complicação referida, recusa do paciente, infecção no local e história de
e que pode ser evitada com uma boa sedação do hipersensibílidade a anestésicos locais.
49
Bloqueio “3 em 1”
Manoel Luiz Moreira de Souza
Características Técnica
O plexo lombar se relaciona à parte posterior do músculo Bloqueio dos Nervos Íleoinguinal
psoas e à anterior dos músculos quadrado lombar e ilíaco.
É envolvido por uma bainha conectiva que pode se
e Íleohipogástrico
abordada abaixo do ligamento inguinal, lateralmente aos
vasos fermorais, ponto onde o nervo fermoral entra na
coxa (fig.23.2). Características
Técnica
Características
Anatomia
Técnica
50
mesencéfalo até o IV Ventrículo, posteriormente, auxílio de um introdutor, importante quando se utiliza
através dos forâmes de Luschka e Magendie e, final- agulhas muito finas (4, 5 ou 6) para prevenir saída
mente, vai para o espaço subaracnóideo. A absorção exagerada de LCR. O introdutor pode ser uma agulha de
ocorre nas vilosidades aracnóides, linfáticos perineu-rais grande calibre (40/12) e deve chegar próximo do
e veias do parênquima cerebroespinhal. A Figura 117 ligamento amarelo para facilitar a punção da dura-máter
mostra as características do LCR. (fig. 121).
51
Figura 119: Acesso lateral: a agulha é inserida i,5cm em
oposição à linha mediana e num ângulo de 25 graus com esta
52
Antes da injeção do anestésico, aspira-se LCR para
confirmar o correto posicionamento da agulha. Se
houver sangue, a agulha deve ser reposicionada e
aguarda-se o gotejamento de LCR claro e cristalino (Fig.
122, 123 e 124).
A solução anestésica a ser injetada deve seguir os
padrões pré-estabelecidos se hiper, iso ou hipo-bárica.
C) Da Técnica
Local da injeção
Velocidade da injeção
Indicações
A punção lombar é utilizada em exames neuroló-
gicos para retirada de LCR, injeções de contraste em
mielografias, de ar nas pneumoencefalografias, de
quimioterápicos e para anestesia subaracnóidea.
A raquianestesia subaracnóidea é indicada para
operações nos membros inferiores, região perineal e
abdômen inferior. Proporciona excelente relaxamento
muscular e apresenta muitas vantagens nos pacientes
geriátricos.
Contra-Indicações
As contra-indicações incluem a recusa do paciente,
problemas técnicos de punção (laminectomia prévia),
infecção no local da punção, septicemia e más condições
gerais. Doenças neurológicas podem ser consideradas
contra-indicações relativas.
Complicações
As complicações mais comuns são hipotensão ar-
terial, bradicardia, náuseas e vômitos e cefaléia pós-a-
nestesia.
Menos comuns são a paralisia do nervo abdu-cente,
meningismo, síndrome da cauda eqüina e da artéria
espinhal anterior.
53
Bloqueio Peridural
M Katayama, TSA, JR Nocite, TSA
& JL Vieira, TSA
Considerações sobre o Espaço Peridural
Considerações sobre o Espaço Peridural
O espaço peridural, em uma secção transversa, tem a forma
ovóide (Fig. 126). Na base do crânio, há separação das meninges,
ficando a dura-máter internamente e, o periósteo se continua pela
extensão da coluna. Assim, o espaço peridural tem como limites:
Superior: O fundo de saco formado pelo ligamento amarelo
e ligamento longitudinal posterior com as fibras da dura-máter, a
nível do buraco occi-pital. A dura-máter continua-se no interior
da caixa craniana justaposta ao periósteo dos ossos do crânio.
Inferior: A membrana sacrococcígea.
Externamente: Na face anterior, em toda extensão, tem
como limite o ligamento longitudinal posterior, que é o ligamento
que reveste a face posterior dos corpos vertebrais e os seus
respectivos discos. Na face posterior, encontram-se as superfícies
das lâminas vertebrais e os ligamentos amarelos, que os unem. Os
dois ligamentos amarelos fundem-se na linha média.
Lateralmente, temos os pedículos das vér-tebras e os buracos
paravertebrais, limitando o espaço peridural. (Fig. 125)
Internamente: O espaço peridural é limitado pela dura-
máter que forma o saco durai.
O saco durai é um cone, contido ao longo do canal medular,
constituído por estruturas rígidas com suas concavidades e
Figura 125: Corte transversal onde se identifica: (1) pele; (2) tecido convexidades peculiares (fig. 115). Estas concavidades e
celular subcutâneo, (3) ligamento supraespinhoso, (4) ligamento
interespinhoso, (5) ligamento amarelo, (6) espaço peridural, (7) convexidades têm importância na distribuição das soluções
dura-máter, (8) buraco intervertebral e (9) ligamento longitudinal injetadas de acordo com o posicionamento do paciente.
posterior. A dura-máter constitui o limite interior. O espaço peridural é virtual e preenchido por tecido
gorduroso, conjuntivo frouxo e vasos (artérias, capilares, veias
e linfáticos). Seu continente varia com estes conteúdos e pela
distenção da dura-máter, que depende da pressão exercida pelo
líquido cefalor-raquidiano (LCR).
As veias do espaço peridural são desprovidas de válvulas,
são provenientes do plexo pélvico e desembocam nas veias
ázigos superiores. (Fig. 126).
Por serem vasos de grande capacitância, seu enchimento
ou esvaziamento determina aumento ou diminuição do espaço
peridural. Elas funcionam como "comportas" nas situações em
que há dificuldade de drenagem venosa pela cava inferior
como no final da gravidez, ascite, tumores abdominais que
dificultam a drenagem do sangue proveniente do plexo pélvico
e dos membros inferiores. Nestas situações, estes vasos ficam
Figura 126: O espaço peridural com seu conteúdo gorduroso ingurgitados, e são facilmente puncio-nados, e, ocupando
frouxo e as veias avalvulares. O plexo venoso é mais exuberante maior espaço, diminuem o espaço peridural (Fig. 127).
nas regiões póstero-laterais. As veias se encontram com
enchimento normal. 54
Nas situações de hipovolemia, caquexia ou desi-
dratração, o sangue evita esta via alternativa, e como
conseqüência, aumenta o espaço peridural (Fig. 128)
55
em todos os sentidos, como se faz na região lombar
entre L4-L5 (fig. 134).
Por essa razão, o espaço C7-T1 é o preferido para a
realização de uma punção peridural alta.
A apófise espinhosa de T1 é muito parecida com a
de C7, apresentando discreta inclinação caudal. A
punção do espaço T1 - T2, quanto à introdução da agulha
é praticamente igual a de C7-T1.
As apófises espinhosas de T2 a T4 apresentam uma
inclinação em torno de 40 a 60 graus, que aumenta em
direção caudal. A introdução da agulha para a punção
peridural entre os espaços T2 a T4 deverá obedecer esta
inclinação. As punções nestes níveis são mais difíceis
devido a essas inclinações.
A excessiva inclinação das apófises espinhosas de
T5 a T8, torna quase impossível a punção nesses níveis
através da abordagem mediana. A punção é possível
pela via paramediana. (Fig. 135)
A punção peridural entre T8 e T12 não oferece
dificuldades e, é mais fácil quando o espaço escolhido
está próximo da região lombar, tornando-se mais difícil
à medida que se caminha em sentido cefálico.
A preferência da punção peridural torácica deve ser
entre C7-T1 ou T1-T2. Para cirurgia do abdômen superior,
a punção pode ser entre T9 - T10 ou logo abaixo, no
espaço interespinhoso mais fácil de se palpar. (Fig. 136)
56
Figura 134: Paciente em decúbito lateral com a cabeça fletida
para punção torácica alta (T1,-T2). A região deve estar
demarcada.
Figura 136: A horizontalização das apófises espinhosas das
últimas vértebras torácicas e lombares tornam esta região a
mais adequada para as punções.
57
Figura 137: Paciente em pé: a pressão no espaço peridural
varia com a pressão intrapleural e intrabdominal. Na
inspiração, quanto mais negativa a pressão intrapleural, mais
evidente a pressão subatmosférica na região toracica. Quanto
maior a pressão intrabdominal, menos evidente a pressão
subatmosférica na região lombar. Na expiração a situação se
inverte.
58
Figura 139: Paciente em decúbito lateral com os joelhos fletidos
e tocando o abdômen, queixo junto ao tórax. Na expiração
mantida, diminui a pressão intrabdominal transmitindo maior
pressão subatmosférica na região lombar. Na inspiração
mantida, diminui a pressão intratorácica e maior a pressão
subtamosférica na região torácica.
Figura 140: Agulha no ligamento interespinhoso, com uma Figura 142: paciente em decúbito lateral, sendo puncionado
gota de anestésico na extremidade distai (Gota pendente de na região lombar. A agulha se encontra no ligamento
Gutierrez). supraespinhoso, oferecendo resistência a injeção de ar.
59
Figura 143: A agulha no ligamento supraespinhoso, não permite a entrada de líquido ou ar. Paciente em decubito lateral:
60
pressão seja insuficiente para aspirar uma gota, no
mínimo, há uma perda evidente e incontestável da
resistência à injeção de líquido ou de ar. Este fenômeno
ensejou Doglioti a descrever uma das técnicas mais
aceitas e difundidas de identificação do espaço peridural,
que consiste em introduzir uma agulha acoplada a uma
seringa contendo 5 a 10 ml de solução salina através das
estruturas ligamentosas (Fig. 142). A agulha é
introduzida lentamente e com uma das mãos exerce-se
pressão contínua sobre o êmbolo da seringa. Enquanto a
agulha se encontra no ligamento interespinhoso ou
amarelo, há resistência à introdução do líquido (Fig.
143), mas, se a agulha perfura o ligamento amarelo, há
queda abrupta desta resistência e o líquido flui
facilmente como se estivesse sendo injetado em uma
veia (Fig. 144el45).A aspiração com o êmbolo da
seringa não provoca refluxo do líquido. Figura 146: Paciente em decúbito lateral, agulha sendo
Entretanto, se houver perfuração acidental da dura- introduzida pelo método táctil.
máter haverá dificuldades na identificação do espaço Figura 147: Desenho esquemático da agulha no ligamento
peridural. E a injeção prévia de líquido leva à diluição interespinhoso. A sensação táctil é de resistência a passagem do
da solução anestésica. Assim, foi proposto substituir o bisel.
líquido por ar.
A injeção de água destilada provoca dor. Perfurar a
dura-máter e depois recuar a agulha ou utilizar dis-
positivos diversos são procedimentos já descritos, porém
não ganharam adeptos pela sua complexidade e risco.
O método táctil, com imediata verificação da perda
da resistência à injeção de ar, vem sendo popularizado.
Sente-se o contato com o ligamento amarelo e sua
perfuração e, logo em seguida, injetam-se 5ml de ar. Se
o ar fluir facilmente, o bisel da agulha se encontra no
espaço peridural. Este método é melhor sucedido quando
se usa agulha com bisel pouco cortante. (Fig. 146, 147,
148, 149)
Há alguns métodos para se certificar de que o bisel
se encontra no espaço peridural.
Moore recomenda utilizar uma seringa de 5ml com
lml de solução anestésica e 4ml de ar. Injeta-se e aspira-
se. O conteúdo da aspiração, sendo inferior à metade da Figura 148: Paciente em decúbito lateral, a agulha ultrapassou o
solução injetada, significa que o bisel da agulha se ligamento amarelo. O fato é confirmado com a injeção sem
encontra no local devido. (Fig. 150 e 151) resistência de ar ou líquido.
Bustos recomenda a mesma técnica acima com
uma diferença. Após injeção da solução-ar, retira-se a
seringa rapidamente. A injeção reverte bruscamente a
pressão no espaço peridural de subatmosférica para
positiva, o que expulsa o líquido. Entretanto, como o
líquido é mais pesado que o ar e seu deslocamento é
mais lento, o ar sai e a pressão no espaço peridural
retorna a subatmosférica, ensejando a aspiração do
líquido que estava sendo pressionado para fora.
Figueiredo descreveu a técnica da solução anesté-
sica com uma bolha de ar. Se no movimento da injeção
esta bolha não sofrer nenhuma deformação, com certeza,
o bisel da agulha se encontra corretamente posicionado
(Fig. 152 e 153).
Outro método para confirmação do posicionamento
do bisel da agulha no espaço peridural é a passagem
livre de um cateter quando se realiza peridural contínua.
Se o bisel da agulha se encontrar no ligamento total ou
parcialmente, o cateter não progre-
61
62
63
dirá. A introdução do cateter sem dificuldades, é sinal de ação mais prolongado.
confirmativo do posicionamento correto do bisel da A passagem pelos buracos paravertebrais é mais
agulha de Tuhoy. (Fig. 154) acentuada nas crianças e nos jovens do que nos idosos.
Recentemente tem sido recomendado "doses-tes-tes"
que também servem para confirmar o posicionamento da
agulha, e para prevenir injeções inadvertidas na veia ou Área de Analgesia
no espaço subaracnóideo. A distribuição segmentar da analgesia é influen-
A injeção de solução anestésíca contendo epine- ciada por diversos, fatores:
frina (1:200.000) é suficiente para produzir efeitos
simpaticomiméticos caso seja injetado na veia. Pequenas
quantidades injetadas no espaço subaracnóideo A) Do Paciente:
provocam anestesia quase que imediata. 1. Idade: a dose de anestésico por segmento a ser
bloqueado aumenta desde o nascimento e durante o
período de crescimento até os 18 anos. A partir desta
Destino da Droga idade, a dose diminui progressivamente.
2. Arteriosclerose: há diminuição da dose de
A droga injetada no espaço peridural tem como anestésico por segmento a ser bloqueado em indivíduos
destino os possíveis locais de ação: troncos nervosos arterioscleróticos. Isto se deve à menor velocidade de
paravertebrais, gânglios das raízes dorsais, raízes espi- absorção do anestésico, mantendo maior quantidade de
nhais dorsais e ventrais e medula espinhal. Após injeção droga disponível.
no espaço peridural, as concentrações do anestésico local 3. Altura: a altura é relevante nos casos extremos.
nas porções subaracnóidea e extradural das raízes 4. Posição: a gravidade facilita a distribuição seg
nervosas são praticamente as mesmas. mentar em direção caudal e dificulta em sentido cra-
As granulações da aracnóide fazem protusão, nial, porém é de pequena importância clínica.
através da dura-máter, para o interior do espaço peri-
dural, na região dos manguitos das raízes nervosas, junto B) Da Solução Anestésíca
aos gânglios das raízes dorsais. Estas protusões parecem
constituir a via preferencial de passagem do anestésico Volume e/ou concentração da solução anestésíca: o
local do espaço peridural para o líquido volume da solução tem pouca importância, sendo mais
cefalorraquidiano. importante a massa da droga, ou seja, o produto volume
Os anestésicos ainda podem se fixar nos tecidos, x concentração.
passar pelos buracos paravertebrais e serem absorvidos
pelos capilares sangüíneos e linfáticos.
A fixação nos tecidos depende de sua natureza
química. Os anestésicos com radicais butila (tetra-caína
e bupivacaína) fixam-se mais em relação à lido-caína, e,
como conseqüência, obtém-se um tempo
Figura 153: Injeção do líquido com uma bolha de ar. A bolha
deforma-se, oferecendo resistência, quando o bisel da agulha se
encontra parcialmente no espaço peridural. Decúbito lateral:
64
C) Da Técnica: cranial ocorre mais facilmente do que em sentido sa -
cral, pela pressão subatmosférica intratorácica e re-
1. Local de Injeção: o espaço peridural é estreito sistência oferecida pelo estreitamento do espaço pe -
entre o foramen magno e C5. Daí, há aumento gradativo ridural na junção lombosacra.
nas suas dimensões até L2-L3, quando ele volta a se 2. Velocidade de Injeção: há dúvidas quanto à
estreitar.Pequenos volumes de solução anestésica (3- importância da velocidade de injeção no nível da anes-
5ml) injetados no espaço peridural médio-torácico tesia. A injeção rápida está associada a maior descon-
(relativamente estreito) propocionam bloqueio forto para o paciente.
segmentar amplo. No espaço lombar há ne-cessidade de A anestesia peridural pode ser demarcada na
volumes maiores(10-20ml) para obtenção de bloqueio superfície através dos dermátomos (fig. 155, 156 e
satisfatório. A distribuição no sentido 157).
65
Figura 155: Mapa da projeção na pele da inervação dos nervos
vertebrais. Vista frontal.
66
Figura 156: Mapa de projeção na pele da in ervação dos nervos
vertebrais. Vista posterior.
67
Figura 157: Mapa da projeção na pele da inervação dos nervos vertebrais. Vista lateral.
68
Bloqueio Peridural Sacro
CA Silva Jr, TSA & MJ Conceição, TSA
Considerações Anatômicas é facilmente palpável e a membrana sacrococcígea,
formada pela fusão dos ligamentos longitudinal poste-
O hiato sacro é uma abertura triangular, determi- rior e o amarelo, não está calcificada. A difusão longi-
nado pela apófise espinhosa da quinta vértebra sacra tudinal dos anestésicos em direção cefálica é mais fácil
limitado por duas proeminências os cornos sacros. Estes porque a gordura do espaço sacral é do tipo gelatinoso e
cornos sacros são pontos para orientação e identificação esponjoso, com textura frouxa e bem reticulada,
contrastando com a do adulto, mais compacta e inter-
do hiato.
calada por septos fibrosos.
O hiato sacro permite o acesso ao canal sacro, que
abriga as raízes da cauda eqüina e saco durai. O saco Técnica do Bloqueio
durai termina em S1-S1 ou S3 na criança (Fig. 116). A
distância entre o hiato sacro e o saco durai no recém- O paciente pode ser colocado em decúbito ven-tral
nascido é de lcm. Posteriormente, o canal sacro é ou lateral. Em decúbito ventral, um coxim sob a região
limitado pelo periósteo e a fusão das apófises espinhosas pélvica facilita a exposição do hiato sacro, que é uma
das quatro vértebras sacras. Anteriormente estão os depressão na linha média entre os dois cornos sacros
corpos vertebrais recobertos pelo periósteo (Fig. 158). (Fig. 159). Em decúbito lateral, os joelhos devem ser
As variações anatômicas são numerosas, consti- fletidos e aproximados do tórax.
tuindo um obstáculo ao bloqueio sacral. As dimensões e As duas espinhas ilíacas póstero-superiores e os
a posição do hiato sacro podem variar conforme as cornos sacros são os pontos de referência para a identi-
anomalias no processo de fusão das vértebras sa-crais. A ficação do hiato sacro (Fig. 160).
espinha bífida é uma anomalia freqüente. A largura e a A punção deve ser feita com agulha de bisel curto
profundidade do canal sacro no sentido antero-posterior (30x8 ou 25x7) descartável (Fig. 161).
é muito variável (desde 2mm até lcm ou mais). Como A agulha é introduzida num ângulo de 70º com a
conseqüência, o volume do canal sacro varia de 12 a pele. Em seguida pode ser inclinada a 45° para penetrar
65ml. no canal sacro (Fig. 162). A introdução dentro do canal
Nos adultos o acesso ao hiato sacro é problemático, sacro é facultativa. Uma perda de resistência identifica
o que não ocorre nas crianças. Nestas, o hiato que a membrana foi atravessada, o que é evidenciado
pela injeção fácil de 2ml de ar.
Figura 158: O corte mostra a membrana eoccígea 1. por onde a agulha deve penetrar o espaço peridural sacro.
69
Figura 159: Paciente em decúbito
ventral com coxim sob a pelve após
infiltração de anestésico local.
70
Figura 162: A agulha é
introduzida numa posição de
70º(1) é em seguida inclinada a
45° (2) para penetrar o canal
sacro e uma perda de resistência
indentifica que a membrana foi
atravessada. Não é necessário
introduzir a agulha após se
encontrar na posição (1) desde
que se tenha sentido o romper da
membrana sacrococcígea.
A agulha não deve ser demasiadamente crianças sua indicação se extende às hernioplastias.
introduzida principalmente em crianças, para evitar Tem sido indicada em analgesia pós-operatória e tera-
perfuração do saco durai. pêutica.
Após aspiração, recomenda-se injetar uma dose
teste com a solução anestésica escolhida (l-2ml). A
seguir, o volume restante da solução anestésica é inje- Contra-Indicações
tado lentamente. Esta injeção não deve oferecer resis-
tência (Fig. 163). Recusa do paciente, defeitos da coluna vertebral,
O uso de agulhas de calibre muito pequeno difi- infecção no local da punção, coagulopatias e uso de
culta a percepção da perda de resistência e aumenta anticoagulantes, nas hipovolemias e doenças neuro-
a possibilidade de injeções intraósseas. Agulhas mais lógicas.
calibrosas podem ser utilizadas na técnica contínua,
para possibilitar a passagem de cateter. Complicações
A punção do saco durai e as injeções inadvertidas
Indicações intraósseas, intrapélvicas ou vasculares, com absorção
dos anestésicos locais são as mais temidas compli-
Cirurgias no períneo, ginecológicas, urológicas, cações. Hipotensão arterial, convulsões, disritmias e
de membros inferiores e intervenções obstétricas. Em parada cardiorrespiratória podem ocorrer.
71
2. Presença de tumoração no local da punção
3. Recusa do paciente.
Complicações
1. Punção da artéria vertebral, dos espaços peridural
e subaracnóideo são evitáveis com uso de agulhas
curtas.
2. Lesão de nervos componentes do plexo braquial
que tem sua incidência diminuída quando se evitam
parestesias.
3. Hematoma, complicação rara.
Fig. 181: Palpação do bordo posterior do Fig. 184: Linha imaginária que parte da cartilagem cricóide e
esternocleidomastoideo e do escaleno anterior. local de injeção na técnica perivascular interescalênico.
80
Bloqueio do Plexo Braquial pela Via
Perivascular Subclávia [Winnie]
Pontos de Referência
1. Cartilagem cricóide, que se encontra na altura do
tubérculo carotídeo de C6 ou de Chassaignac
2. Borda lateral do feixe clavicular do esternocleido-
mastoideo
3. Escalenos anterior e médio
4. Jugular externa
5. Fenda interescalênica
6. Artéria subclávia
81
Bloqueio do Plexo Cervical
JL Vieira, TSA
72
Fig. 166: Área de inervação do plexo cervical.
Fig. 167: Divisão do nervo espinhal: [1] medula espinhal, [2] Fig. 168: Inserção dos músculos escalenos e localização dos
raiz nervosa ventral, [3] artéria vertebral, [4] ramo ventral do vasos subclávios: [1] músculo escaleno médio, [2] músculo
nervo espinhal, [5] ramo dorsal do nervo espinhal, [6] raiz escaleno anterior, [3] primeira costela, [4] artéria subclávia e
nervosa dorsal e [7] dura-máter. [5] veia subclávia.
73
Fig. 169: Anatomia do plexo cervical: [1] Nervo occipital menor, [2] Nervo auricular magno, [3] Músculo escaleno médio, [4]
Músculo escaleno anterior, [5] Nervo frênico, [6] Artéria subclávia, [7] Veia subclávia, [8] Primeira costela, [9] Alça cervical, [10]
Nervo transverso do pescoço, [11] Músculo omo-hioideo e[12] Nervo hipoglosso.
74
Fig. 170: [1] Clavícula, [2] Músculo omo-hioideo, [3] Músculo escaleno anterior, [4] Músculo escaleno médio, [5] Aponeurose
interescalênica (espaço inierescalênico) e [6] Músculo esternocleidomastoideo.
75
Cobrindo o espaço interescalênico em sua parte
superior, encontra-se o esternocleidomastoideo, que tem
sua extremidade superior inserida no processo de
mastóide, de onde dirige-se obliquamente para baixo e
para a linha média, cruzando o lado do pescoço. Em sua
extremidade inferior, apresenta-se com duas porções:
mediai ou esternal, que se insere na superfície anterior
do manúbrio esternal, e a porção lateral ou clavicular,
que se insere no terço interno da clavícula.
Cruzando o espaço interescalênico em sua porção
inferior, encontra-se o músculo omo-hióideo que, vindo
do omoplata, dirige-se ao osso hióide, passando por
baixo do esternocleidomastoideo (Fig. 170 e 171).
Outras estruturas ainda se encontram cobrindo o
espaço interescalênico como a veia jugular externa
(importante ponto de referência), o músculo platisma do
pescoço (imperceptível ao tato, quando relaxado), tecido
subcutâneo e pele.
Técnica do Bloqueio
Referências:
1 — Cartilagem tireóide,
2 — Bordo posterior do esternocleidomastoideo,
3 — Fenda interescalênica,
4 — Extremidade lateral do processo transverso
de C4.
Procedimento
1 — Paciente em decúbito dorsal com a cabeça
elevada e virada para o lado oposto ao do bloqueio para
Fig. 172: A linha preta corresponde ao bordo superior da tornar saliente a borda posterior do ramo clavicular do
cartilagem tireóide e indica a altura do processo transverso
deCf esternocleidomastoideo.
2 — Enquanto este músculo permanece saliente,
palpa-se o mesmo posteriormente com o indicador, a
nível da borda superior da cartilagem tireóide na altura
de C4.
3 — Correm-se os dedos lateralmente, toca-se o
escaleno anterior, imediatamente abaixo do ester-
nocleidomastoideo e, em seguida, a fenda interesca-
lênica. Procura-se palpar a extremidade do processo
transverso de C4. (Fig. 172 e 173).
4 — A este nível, ou na altura de C3, na pele, faz-se
um botão anestésico e introduz-se uma agulha curta
(25x7) perpendicular à pele em todos os planos até tocar
o processo transverso de C4. A agulha, tocando a
extremidade do processo transverso de C4, se encontra
no espaço interescalênico, dentro do man-guito
musculoaponeurótico, que envolve o plexo cer-vical.
5 — Retrocede-se a agulha 2mm, aspira-se para
assegurar que não se encontra na luz de vaso e injeta-se
15 a 20 ml de solução anestésica local. A extensão do
bloqueio anestésico depende do volume da solução
76
e do paciente. Após a injeção ocorre entumecimento do
espaço interescalênico a nível cervical, confirmando a
correção da punção (Fig. 174).
Para se obter bloqueio efetivo e seletivo do plexo
cervical, faz-se compressão digital logo abaixo da agu-
lha durante a injeção e, a seguir, coloca-se o paciente em
céfalo-declive, fazendo-se uma leve ordenha em sentido
cefálico. Não há necessidade de se pesquisar parestesias.
Nesse procedimento ocorre sempre o bloqueio do
nervo frênico (C3, C4 e C5), diminuindo a contração do
diafragma do lado correspondente, que é compensada
com aumento da atividade intercostal.
Pode ocorrer bloqueio do simpático cervical o que
determina a síndrome de Claude Bernard-Hor-ner.
Pontos de Referência
1. Cartilagem cricóide
2. Tubérculo carotídeo de C6 ou de Chassaignac
3. Bordo posterior do esternocleidomastoideo
4. Escalenos anterior e médio
cutâneo interno (Cs T1,), [2] área inervada pelo plexo braquial.
5. Fenda interescalênica
6. Jugular externa
78
Procedimento
O paciente é colocado em decúbito dorsal com a
cabeça levemente voltada para o lado oposto ao do
bloqueio para facilitar a palpação dos escalenos. Palpa-
se a cricóide e, desse ponto, traça-se uma linha
imaginária em continuação lateral e em direção ao
tubérculo carotídeo de C6. Ou então utiliza-se o ponto
onde esta linha imaginária cruza a jugular externa e a
fenda interescalênica na altura do tubérculo de
Chassaignac. Solicita-se ao paciente que eleve ligeira-
mente a cabeça para salientar o bordo posterior do
esternocleidomastoideo (Fig. 179 e 180).
Palpa-se esse músculo a nível da linha imaginária
com o indicador e o médio e, desliza-se os dedos
lateralmente sobre o escaleno anterior. A seguir, palpa-
se a fenda interescalênica entre os escalenos anterior e
médio (Fig. 181 e 182).
Neste ponto da fenda, na altura de C6 e, evitando-se
a jugular externa, faz-se um botão anestésico. Com o
indicador e o médio na fenda interescalênica e separados
pelo botão anestésico, introduz-se uma agulha (30x8) de
bisel curto e rombo, perpendicular a todos os planos. A
introdução da agulha deve ser lenta para que se perceba
o "clique" de perfuração da fascia interescalênica. Não
há necessidade de provocar parestesias.
Esta manobra evita lesões de nervos do plexo
braquial, da artéria vertebral e punções dos espaços
peridural e subaracnóideo. O clique assegura que a Fig. 177: [1] Músculo escaleno médio, [2] Músculo escaleno
anterior, [3] Plexo braquial dentro do seu envoltório
agulha está no espaço perineural interescalênico. Após musculoaponeurótico, [4] Clavícula, [5] Veia subclávia e [6]
aspiração, injeta-se a solução anestésica desejada (20-30 Artéria subclávia.
ml no adulto, de acordo com o seu porte e extensão
desejada do bloqueio) (figs. 183 e 184).
Se o volume da solução for grande, pode ocorrer
bloqueio concomitante do plexo cervical e do frênico
(C3, C4 e C5). Por difusão, pode ocorrer bloqueio do
simpático cervical, determinando a síndrome de Claude
Bernard-Horner.
Em adultos, volumes inferiores a 20 ml de solução
anestésica podem ser insuficientes, podendo ocorrer
falha na área inervada pelo nervo ulnar (C7 C8 e T1)
Indicações
1. Procedimentos cirúrgicos sobre o ombro e membro
superior.
2. Redução de luxação escápulo-umeral.
3. Alívio da dor do membro superior (bursites agudas e
crônicas, dor escapular por tendinites calcificadas e
fibrosites).
4. Bloqueio do simpático para o membro superior
quando o bloqueio do gânglio estrelado estiver
contra-indicado.
79
Isto provoca uma "parestesia de pressão", que constitui
prova de que a agulha está posicionada corretamente no
espaço perivascular.
Caso o paciente refira dor lancinante ou muito
intensa, conclui-se que a agulha encontra-se dentro do
nervo e não se deve injetar a solução antes de trocá-la de
posição.
A seguir, injetam-se lentamente 8 a 10 ml de
solução anestésica. A injeção lenta não produz des-
conforto ao paciente e, o restante pode ser injetado
como se desejar, até o total de 20 a 30 ml dependendo
do paciente.
Esta técnica apresenta como grande vantagem o
Fig. 188: Palpação da primeira costela entre os escalenos. A uso de pequeno volume de solução anestésica local sem
extremidade inferior da jugular externa quase sempre está falhas nos territórios inervados pelo ulnar e mus-
indicando onde palpar a primeira costela entre os escalenos. culocutâneo.
Como desvantagens apresenta a necessidade de
buscar parestesias e a possibilidade de causar pneumo-
tórax.
Indicações
Procedimentos sobre o membro superior como
1. Reduções de fraturas,
2. Alívio de dor,
3. Bloqueio simpático quanto estiver contra-indicado o
bloqueio do gânglio estrelado,
4. Cirurgias
Complicações
1. Lesões dos nervos do plexo braquial devido a ne-
cessidade de parestesias,
2. Punção da artéria subclávia e formação de hema-
tomas,
3. Pneumotórax.
82
Procedimento
O paciente é colocado em decúbito dorsal com
um pequeno travesseiro ou coxim debaixo da parte
alta do tórax para tornar a clavícula mais acessível
à palpação, com a cabeça voltada levemente para o
lado oposto ao do bloqueio. Ele será instruído a
relaxar completamente o ombro e o braço, procu-
rando tocar a mão no joelho do mesmo lado.
Pede-se que levante levemente a cabeça susten-
tando-a, a fim de indentificar os feixes clavicular e
esternal do esternocleidomastoideo. Com o indica-
dor, palpa-se a borda externa do feixe clavicular desse
músculo. Desliza-se o indicador lateralmente, palpan-
do-se o escaleno anterior até a fenda interescalênica,
localizada entre os escalenos anterior e médio.
Com o indicador na fenda interescalênica, deslo- Fig. 191: Linha imaginária na parte interna do braço,
ca-se o mesmo dedo para baixo até encontrar a primei- perpendicular á artéria axilar, onde se faz o bloqueio dos nervos
intercostobraquial e acessório do braquial cutâneo interno.
ra costela, que é fundamental para evitar-se pneumo-
tórax. Confere-se esta posição comprimindo a artéria
subclávia junto à inserção posterior do escaleno ante-
rior; a confirmação se dá pelo desaparecimento do
pulso radial ipsilateral (Fig. 188).
Desloca-se o indicador para trás da artéria subclá-
via, comprimindo-se a pele e os tecidos subjacentes
contra a primeira costela entre os escalenos; intro-
duz-se uma agulha 30x8 com bisel curto, imediata-
mente atrás da jugular externa, entre os escalenos e
orientada para tocar a primeira costela que está
sendo palpada pelo indicador. Retira-se o indicador
somente quando a agulha tocar a primeira costela.
Recua-se a agulha 2 mm, aspira-se nos quatro
quadrantes e injetam-se 20 a 30 ml de solução anesté-
sica de acordo com as necessidades de cada paciente
(Fig. 189 e 190). Fig. 192: Bloqueio dos nervos intercostobraquial e acessório do
Quando se utiliza a primeira costela como refe- braquial cutâneo interno, na parte interna do braço.
rência, evita-se pneumotórax por perfuração da cúpu-
la pleural e pulmonar, que é a mais temível compli-
cação das técnicas sublcávia e supraclaviculares.
É desnecessária a pesquisa de parestesias o que
evita lesões dos nervos do plexo. Neste nível não há
necessidade desta pesquisa, porque os troncos do
plexo se situam um acima do outro. A palpação com-
pressiva digital sobre a primeira costela durante a
punção permite afastar os troncos nervosos do trajeto
da agulha, sem que esta saia do manguito que envolve
o plexo, ficando nesse trajeto tão somente a pele,
tecido subjacentes superficiais, a fascia anterior do
manguito e a primeira costela.
Esta técnica é muito parecida com aquela original
de Kuhlenkampff com a diferença de que Kuhlen-
kampff desconhecia o tubo musculoaponeurótico que
envolve o plexo cervical e braquial e não palpava a
primeira costela. Quando a agulha tocava a primeira
costela ele até recomendava não injetar a solução
anestésica.
83
1. Cirúrgico, Bloqueio Complementar
2. Redução de fraturas,
3. Alívio de dor, e Quando se requer torniquete para isquemia do
4. Bloqueio simpático quando o bloqueio do gânglio membro superior, os nervos intercostobraquial e aces-
estrelado estiver contra-indicado. sório do braquial cutâneo interno não são anestesiados,
O bloqueio bilateral pode ser feito, pela impossi- por serem ramos de T1 e T2. Para anestesiar estes nervos,
bilidade de produzir pneumotórax. traça-se uma linha imaginária na parte interna do braço,
desde a inserção do deltóide até o bordo posterior do
praço, perpendicular à artéria axilar (Fig. 191). Palpa-se
a artéria axilar e, nesse ponto, faz-se na pele um botão
anestésico. Introduz-se uma agulha 40x8 no tecido
Contra-Indicações subcutâneo até a borda posterior do braço e vai-se
injetando solução anesté-sica à medida que se retira a
Presença de infecção ou tumoração no local da agulha, formando um hemi-bracelete (Fig. 192).
punção e recusa do paciente.
Identificação do Espaço
Perivascular Axilar
O melhor ponto de referência para identificação do
espalo perivascular é a artéria axilar. É identificável pela
palpaçáo no sulco, formado pelas bordas póstero-medial
do bíceps (porão longa) e antero-me-dial do tríceps, a
partir da região médio-superior do braço. Na altura da
região axilar, a artéria situa-se entre o tríceps e o
coracobraquial. Identificado o trajeto da artéria, procura-
se marcar o ponto mais proxi-mal, onde sua palpaçáo for
possível.
86
Fig. 199a: Compartimentalização do espaço perivascular, deli-
mitando os elementos do plexo vasculonervoso: Nervos [1]
mediano, [2] radial e [3] ulnar.
87
perpendicular (Fig. 207b). A profundidade da pene-
tração da agulha depende do paciente, embora, geral-
mente não ultrapasse a 2 cm.
Dentre os indícios de correto posicionalmento da
agulha dentro da bainha perivascular, incluem-se:
a. ocorrência de parestesias no trajeto sensitivo de
um dos nervos do membro superior, por estimu-
lação mecânica com a agulha;
b. ocorrência de parestesias no trajeto sensitivo de
um ou mais nervos do membro superior por ele-
troestimulação;
c. perfuração acidental da artéria. Recomenda-se
a mobilização da agulha (retirando-se até a cessa
ção de fluxo sangüíneo com reintrodução em ân
Fig. 203: A figura mostra o membro superior em abdução de 90a. gulo mais tangencial ou transfíxando-se a artéria)
e continuação, com uso de dose teste;
d. pulsar da agulha, dada a proximidade da artéria
axilar.
88
Fig. 206: O trajeto da artéria axilar e o seu ponto palpável mais Fig. 207a: A agulha é introduzida tangencialmente, em direção ao
proximal são identificados e marcados. ponto palpável mais proximal da artéria axilar.
turas musculares são mais proximais. Quase todo o
movimento da mão, excetuando-se a abdução-adução
dos dedos pelos interósseos depende de músculos do
antebraço. Isto faz com que a disposição das fibras
motoras fique mais periférica ao nervo do que as
sensitivas, tornando-se mais rapidamente acessíveis às
drogas depositadas em sua periferia. Assim, a seqüência
cronológica de instalação do bloqueio do membro
superior inicia-se com sensações subjetivas de
dificuldade motora evoluindo rapidamente para
dificuldade real e relaxamento muscular.
A dificuldade de extensão do antebraço sobre o
braço indica boa evolução para o bloqueio do radial; o
relaxamento da supinação ou flexão dorsal do punho,
para o mediano e a adução-abdução dos dedos, para o
ulnar. Só não tem sido encontrado boa correlação entre
Fig. 207b: Áreas de probabilidade de posicionamento correto
bloqueio motor precoce do musculocu-tâneo (flexão do comparando-se a introdução [1] perpendicular e [2] tangencial
antebraço — bíceps) com seu efetivo bloqueio sensitivo. da agulha.
90
Bloqueio do Mediano
Aborda-se o nervo medialmente à artéria umeral,
na prega do cotovelo. A introdução da agulha é feita
a este nível e a melhor identificação é por parestesia.
Com 5 a 10 ml de solução promove-se o bloqueio
da face palmar da mão, região tenar (Fig. 210).
2 — No túnel carpeano, ao nível do punho. A
abordagem é feita entre os tendões do palmar longo
e do flexor dos dedos. A identificação é por parestesia.
5 a 10 ml de solução de anestésico local promovem
o mesmo bloqueio acima descrito (Fig. 211).
Bloqueio do Radial
O nervo radial pode ser alcançado ao nível do
cotovelo ou ao punho:
1 — No cotovelo, seus ramos sensitivos já estão
dissociados. Um deles passa profundamente à altura
da prega do cotovelo, 1,5 a 2 cm da borda lateral
do tendão do bíceps. A agulha deve ser introduzida
perpendicularmente à pele em direção ao côndilo late
ral do úmero. Se houver parestesia neste direciona
mento, para-se a agulha e injetam-se 5 a 10 ml de
solução. Se a parestesia não é obtida, injeta-se o mes
mo volume em leque, com movimentos de aprofunda
mento e superficialização da agulha (Fig. 210). Este
bloqueio promove analgesia de toda a região dorsal Fig. 212: Bloqueio do nervo cutâneo posterior do antebraço
da mão. (ramo do radial) em infiltração subcutânea, na face posterior do
Para obtenção de bloqueio sensitivo de face cotovelo, partindo do côndilo lateral e contornando o olecrâneo.
posterior do antebraço, é necessário outro acesso, a
infiltração subcutânea semicircular, dois centímetros
abaixo do olecrâneo, em direção látero-medial, na face
posterior do antebraço.
2 — Ao nível do punho: na região da tabaqueira
anatômica, à altura da cabeça do primeiro metacar-
piano, os ramos sensitivos terminais do nervo radial
se superficializam e podem ser atingidos com uma
infiltração subcutânea, que deve se extender desde Fig. 213: Barra subcutânea ao nível da tabaqueira anatômica,
o tendão do extensor curto do polegar até próximo para bloqueio dos ramos sensitivos terminais do radial: [1]
a extremidade inferior da ulna (meio da face posterior Nervo radial.
do punho). (Fig. 213).
Bloqueio do Radial, Mediano
Ulnar ao nível do Punho
YMM Castiglia, TSA
Bloqueio do Nervo Radial dades do polegar com o mínimo, fletindo o punho contra
Considerações Anatômicas uma resistência. O tendão é o mais proeminente do
punho, dirigindo-se a eminência tenar (Fig. 217). A
No terço distai do antebraço, o nervo radial (C5 C6 Figura 215 e 216 mostra o seu território de distribuição.
C7 C8 T,) torna-se superficial e pode ser palpado ao
cruzar, no bordo externo, os músculos abdutor longo e o Técnica de Bloqueio
extensor curto do polegar. Ele divide-se em quatro, às
vezes, cinco ramos colaterais dorsais dos dedos, que A abordagem do nervo se faz em um ponto do
podem ser palpados ao nível da taba-queira anatômica bordo radial do tendão do músculo pequeno palmar,
(fig. 214). O nervo radial na mão é sensitivo. As figuras aproximadamente 2 cm proximal à linha mais distai do
215 e 216 mostram seu território de distribuição. punho. Insere-se aí uma agulha e procura-se pares-tesias
com movimento em leque, injetado-se 5 ml de solução
Técnica de Bloqueio anestésica. Quando não se obtém pares-tesia,
recomenda-se aumentar o volume para 8 a 10 ml de
A injeção subcutânea de 5 ml de solução anesté- solução Fig. 211).
sica em hemipulseira no dorso do punho, bloqueia os
ramos do nervo desde a apófise estilóide da ulna até Bloqueio do Nervo Ulnar
imediatamente antes da artéria radial (Fig. 213).
Considerações Anatômicas
Bloqueio do Nervo Mediano Ao nível do punho, o nervo ulnar (C6 C7 C8 T1)
Considerações Anatômicas acha-se entre a artéria ulnar, palpada lateralmente ao
nervo, e o tendão do músculo flexor ulnar do carpo. Este
O nervo mediano (C5 C6 C7 C8 T1) corre na face tendão é visulizado pedindo-se ao paciente que una as
anterior do antebraço e torna-se superficial ao nível do extremidades do polegar e mínimo, fletindo o punho
punho, podendo ser palpado no bordo radial do tendão contra uma resistência (Fig. 217). A 5 cm do carpo, o
do músculo pequeno palmar. Visualiza-se este tendão, nervo ulnar se divide e emite um ramo cutâneo dorsal
pedindo ao paciente que una as extremi- sensitivo e um ramo palmar
92
Fig. 215: Território de distribuição dos nervos [1] ulnar [2]
mediano e [3] radial na região dorsal da mão.
Técnica de Bloqueio
Palpa-se a artéria ulnar e introduz-se uma agulha
entre esta e o tendão do músculo flexor ulnar do carpo
(Fig. 211). Procura-se parestesias, injetando-se
4 ml de solução anestésica. Quando não se obtém
parestesias, aumenta-se o volume da solução anestésica.
Para bloquear o ramo cutâneo dorsal, injetam-se
Fig. 216: Território de distribuição dos nervos [1] ulnar, [2]
5 ml de solução anestésica no subcutâneo do dorso do
mediano. [3] radial e [4] cutâneo externo do antebraço na região punho, desde o tendão do músculo flexor ulnar do carpo
palmar. até o término da porção ulnar do punho.
93
Bloqueio do Plexo
Hipogástrico Superior
Cândido Amaral Sanchez,
Amaury Sanchez de Oliveira
Radiografias de perfil darão a exata noção da
Considerações Anatômicas profundidade do bisel, evidenciando a dispersão do
contraste no local desejado.
O plexo hipogástrico superior é uma estrutura A infiltração da pele e demais tecidos é feita com
retroperitoneal localizada na face pré-vertebral da 5ª pequenas doses de anestésicos local em baixas
vértebra lombar e da 1ª sacra, ao nível do promontório, concentrações. O bloqueio deve ser realizado, no
próximo dos vasos ilíacos. Este plexo, continuidade da mínimo, com auxílio da fluoroscopia. A introdução
porção periférica do sistema nervoso autônomo, cujos da agulha do bloqueio (150 x 10) deve ser
troncos se estendem desde a 2ª vértebra torácica até o cuidadosa, em ângulo aproximado de 45º em relação
cóccix, é constituído predominantemente por fibras pós- à pele, direcionada para o vértice do triângulo. Como
ganglionares, Estas fibras suprem a metade esquerda do a espinha ilíaca posterosuperior às vezes dificulta a
colon transverso, descendente e reto, útero e anexos, introdução da agulha, o triângulo, nestes casos, deve
bexiga, uretra, testículos e próstata. ser redesenhado com sua base no interespaço L3-L4.
O processo transverso da 5ª vértebra lombar,
Técnicas do Bloqueio geralmente alargado, por vezes impede a progressão
da agulha que, em tais situações, deve ser retirada
O paciente é colocado em decúbito ventral com coxim para planos superficiais e reintroduzida em sentido
sob as espinhas ilíacas anterosuperiores para retificar a discretamente caudal ou cefálico. A agulha deve ser
coluna lombar. Sedação discreta com pequenas doses de direcionada para a face anterior do corpo vertebral de
tranqüilizantes venosos é desejável. L5 ou S1 onde se localiza o plexo hipogástrico
Após identificação do interespaço L4 e L5, um triângulo superior caso não se consiga o objetivo, várias
é desenhado para servir de referência. A base do tentativas devem ser feitas desviando-se os sentidos
triângulo é uma linha conectando dois pontos localizados de orientação do bisel. Discreta sensação de perda de
de 5 a 7 cm da linha média, a cada lado do interespaço e resistência é sentida, quando se atinge o espaço
seu vértice, o processo espinhoso da vértebra subjacente retroperitoneal. Pequenas doses (2 a 3 ml) de
(fig.16.1). contraste injetados pela agulha e radiografia ou
radioscopia confirmam a exata localização. As
punções devem ser realizadas de forma bilateral,
obedecendo-se a mesma técnica, embora se consiga
bons resultados com uma agulha (fig.16.3).
Nos casos de patologias nas situações em que se deseja
um prognóstico para futuras neurolises, empregam-se Avaliação do Bloqueio
soluções anestésicas locais de longa duração em volumes
de 20 ml. Para neurolise, as drogas recomendadas são o O alívio da sintomatologia dolorosa ocorre nas
álcool absoluto 10 ml de cada lado ou solução de fenol primeiras 24 h após o bloqueio, sendo a redução da
aquosa 10 6 a 8 ml. Antes do emprego do agente queixa de queimação perineal (envolvimento do
neurolítico deve-se injetar soluções de anestésico local, simpático) o mais evidente. Redução do consumo
promovendo alívio da sintomatologia dolorosa, oral de drogas (opióides ou não opióides) é bastante
evidenciando-se a exata localização das agulhas. A significativa. Nos casos em que não ocorra o alívio
tomografia computadorizada é outro recurso que pode ser esperado, existe a indicação de se repetir o bloqueio.
usado neste bloqueio.
Complicações
As possibilidades de punção do espaço peridural e/ou
do subaracnóideo, lesão de estruturas viscerais como
rins, ureteres e bexigas são raras, desde que a técnica
seja seguida de forma adequada.
Hematomas retroperitoneais podem ocorrer devido a
lesão dos vasos ilíacos que se situam na proximidade
do plexo. Dependendo das condições clínicas dos
pacientes, a toxicidade do fenol, quando usado em
altas concentrações, pode acarretar lesões hepáticas
importantes.
Veias varicosas rompem-se com facilidade, dando lugar Posteriormente, usa-se a faixa elástica para expulsar a
a hematomas. A veia safena interna pode ser útil, mas, maior parte do sangue restante no sistema vascular;
com garroteamento no terço médio ou inferior da perna, realizam-se movimento helicoidais com pressão
freqüentemente, ela se torna inadequada, por não permitir moderada e sobrepõe-se, parcialmente, cada volta da
a difusão correta da solução anestésica pelo sistema faixa elástica sobre a anterior, desde as extremidades
venoso da região pela inexistência de conexões venosas distais dos dedos, que devem estar estendidos e
suficientes. A punção venosa em membro inferior pode unidos, até o ponto em que a circulação arterial deve
ser difícil pela vasoconstrição causada pelo frio ou tensão ser interrompida (fig.29.6) e (fig.29.7).
emocional. Se a sedação não produzir resultado, a
vasodilatação pode ser conseguida com aquecimento da
região ou hipertermia reativa (fig.29.4).
A rigor, o primeiro garroteamento pode ser instalado
em qualquer região, desde a raiz até em antebraço ou
perna (fig.29.7), sem que isto aumente o risco de
ingurgitamento venoso ou sangramento per-
operatório. Com garroteamento em antebraço,
anestesias regionais bilaterais de punho e mão podem
ser feitas com doses relativamente pequenas de
anestésicos locais. Anestesias regionais intravenosas
de pés também podem ser feitas bilaterais (fig.29.9).
Complicações
As complicações são raras e de pouca gravidade.
A dor no local da constrição pode ser uma das
conseqüências pós-operatórias do garroteamento.
Flebites parecem não ter ligações com o anestésico, mas
com outras drogas injetada.
a experiência clínica mostrará a conduta a ser
adotada.
O tempo de garroteamento deve ser o mais curto
possível para minimizar seus riscos. Arbitrariamente
aceitam-se isquemias de até 60 e 90 min para os
membros inferiores respectivamente. Quando o
garroteamento for feito em antebraço ou perna, esses
tempos podem ser aumentados, porque os nervos
estão aí melhor protegidos pela presença de dois
ossos. O tempo de garroteamento sofre maiores
limitação nos crianças, gestantes, nos idosos,
diabéticos e naquele em mal estado geral. Esgotando
o tempo segurança, pode-se continuar mediante a
reinstalação de isquemia por um novo período, após o
Após a injeção da solução anestésica, deve-se aguardar restabelecimento da circulação do membro por 5-10
de 2-4 min, inflar o compartimento distal do manguito min, e a administração de metade da dose inicial do
pneumático e, depois, desinsuflar o proximal. Isto tem anestésico local.
por finalidade estabelecer o segundo garroteamento em O desgarroteamento deve ser feito após o
zona previamente tornada total ou parcialmente encerramento do ato cirúrgico, mas não antes de
anestesiada. Quando forem usadas faixas elásticas, decorridos 15 ou 20 min, contados da administração
instala-se o segundo logo abaixo do primeiro. (fig.29.9) e do anestésico, para permitir maior fixação da droga
(fig.29.10). Em qualquer situação, a eficiência da nos tecidos. Durante a hipertermia que se instala ao
interrupção circulatória deve ser novamente verificada. desgarroteamento (fig.29.4) o fluxo sangüíneo
Em algumas condições cirúrgicas, a realização de um regional aumenta 2-10 vezes em relação ao de
segundo dessangramento pode ser útil, antes da inflação repouso, o que amplia a possibilidade de
do segundo torniquete, como forma de torna o campo sangramento. Isto impõe curativo compressivo antes
cirúrgico mais exangue e forçar de tornar o campo da liberação do torniquete.
cirúrgico mais exangue e forçar a penetração do O desgarroteamento deve ser completo e rápido, de
anestésico nos tecidos profundos e por baixo do modo a liberar a circulação arterial e venosa para que
manguito distal. não haja ingurgitamento venoso distal. Para evitar
O segundo garroteamento deve ser evitado no terço escape brusco de altas doses de anestésico para a
médio do braço, pela vulnerabilidade do nervo radial a circulação geral, ele pode ser feito de maneira
este nível, no terço inferior da coxa, pelo maior perigo de intermitente. Esta técnica só tem valor na redução dos
compressão do nervo ciático e, terço superior da perna níveis sangüíneos se os períodos de deflação/inflação
onde o nervo ciático poplíteo externo pode ser facilmente forem curtos. Assim, desgarroteamento por 10-15s e
comprimido de encontro à cabeça fíbula. Por outro lado, novamente garroteado arterial seja realmente
o garroteamento deve ser instituído no antebraço ou nos bloqueada.
dois terço inferiores da perna, sempre que possível, desde
que isto permite redução da dose de neuromusculares. A Tempo de Latência. Falhas. Duração da
instalação de torniquete em antebraço, comprimindo Anestesia.
certas regiões carnosas e tendinosas da musculatura
regional, pode dificultar certas intervenções sobre a O tempo de latência médio para anestesia completa é
região palmar por determinar a “mão em garra”. de 5-10 min (fig.29.16); o tempo é menor quando o
É aconselhável utilizar em adultos pressões de 200-300 dessangramento é eficiente, mais longo quando
mm Hg (26.6-40 kPa) para os membros e 300-500 mm pesquisado nas porções distais dos membros e varia
Hg (40-46.5 kPa) para os inferiores. Ou para o primeiro um pouco com o anestésico empregado. Falhas totais
garroteamento, pressões de 70-100 mm Hg (9.3-13.3 são excepcionais, as parciais são mais comuns nas
kPa) e, para o segundo, 50 a 70 mm Hg (6.6-9.3 kPa) extremidades dos dedos e na face posterior do
acima da pressão sistólica do paciente. A escolha cotovelo. Muitas vezes, dependem de má indicação
depende da idade, do estado geral, do desenvolvimento do método ou de erros técnicos. A duração da
do tecido muscular e adiposo e da região anatômica anestesia está ligada ai tempo de garroteamento, pois
utilizada. Pressões muito elevadas são desnecessárias, os anestésicos locais atualmente em uso não são
desconfortáveis e perigosas. Quando se utiliza faixa, só biotransformados "in loco".
Complicações
As complicações são raras e de pouca gravidade.
A dor no local da constrição pode ser uma das
conseqüências pós-operatórias do garroteamento.
Flebites parecem não ter ligações com o anestésico,
mas com outras drogas injetada. Sangramento
operatório não ocorre ou é desprezível.
Metahemoglobinemia clínica não existe.
As complicações mais sérias decorrem da isquemia
do membro ou das ações tóxicas sistêmicas de
anestésicos locais.
Lesões neuromusculares podem advir por: (1) pressão
excessiva sobre nervos periféricos (lesão mecânica),
(2) pressão de garroteamento insuficiente,
conduzindo a congestão passiva e a infiltração
Indicações e Contra-Indicações hemorrágica de nervos, (3) tempo prolongado de
aplicação e (4) desrespeito à região anatômica. A
A anestesia regional intravenosa é indicada para a sintomatologia inclui fenômenos sensitivos e
cirurgia de quaisquer tipos, inclusive ósseas, para motores.
intervenções de antebraço, mão, terço inferior da perna e No membro superior, nervo radial é o mais
pé. comumente afetado: são envolvidos os músculos por
As contra-indicações absolutas incluem recusa do ele suprido e a queda da mão ocorre, acompanhada
paciente, falta de condições para reanimação por zonas de sensibilidade alterada. No membro
cardiorrespiratória, presença de arteriopatia avançada e inferior, o nervo poplíteo externo é o mais atingido.
história de hipersensibilidade ao anestésico local. Os demais são raramente lesados por estarem melhor
Constituem contra-indicações relativas as lacerações de protegidos. As paralisias conseqüentes à isquemia são
tecidos moles, fraturas e luxações, miastenia gravis, transitórias e de curta duração; excepcionalmente são
grandes abscessos e moléstias neurológicas periféricas. definitivas. O tratamento é fundamentalmente
fisioterápico, raramente cirúrgico.
A liberação do anestésico na corrente circulatória
implica na possibilidade de desencadeamento de
reações tóxicas relacionadas às concentrações
sangüíneas e teciduais máximas alcançadas pela
droga, à velocidade com que estas são atingidas e ao
tempo pelo qual concentrações plasmáticas elevadas
são mantidas.
Anestesia de Membro Inferior
José Luiz Gomes do Amaral,
Rita de Cássia Rodrigues
Considerações Anatômicas
A inervação do membro inferior se faz através dos plexos lombar e
sacral.
O plexo lombar é formado pelas 1ª, 2ª, 3ª e parte da 4ª raízes
lombares e é considerado pré ou pós fixado, conforme as raízes
caudais correspondam a L3 ou L5 , respectivamente. Ele dispõe-se
anteriormente aos processos transversos lombares, dentro do
músculo psoas. A raiz L1, que em 50dos casos recebe contribuição
de T12 separa-se em divisão superior e inferior. A divisão superior
dá origem aos nervos ileo-hipogástrico e íleo-inguinal. A divisão
inferior une-se a um ramo de L2 e forma o nervo gênito femoral. O
restante de L2 , L3 e a contribuição de L4 separam-se em divisões
dorsal e ventral, Estas divisões formam nervo cutâneo lateral da
coxa, o femoral, o obturatório e, ocasionalmente, o acessório do
obturador.
Além dessas ramificações há ramos destinados aos músculos grande
e pequeno psoas, ilíaco e quadrado lombar. Dentre as diversas
ramificações do plexo lombar, os nervos cutâneos lateral da coxa,
femoral e obturatório respondem pela inervação da face anterior da Técnica:
coxa e perna.
O plexo sacral é formado pelas raízes de L5, S1, S2, S3 e algumas O paciente é posicionado em decúbito lateral, a coxa do membro
fibras de L4 e S4. Ele inerva diversos músculos da região glútea, as a ser anestesiado em posição superior e em semiflexão. O
faces posterior da coxa e póstero-lateral da perna e o pé. Sua anestesiologista se coloca em frente às nádegas do paciente.
principal ramificação é o nervo ciático, o maior do corpo humano. Após infiltração do ponto de punção com anestésico local, com
agulha apropriada (100x7), em direção perpendicular, é
introduzida até que sejam referidas parestesias nas áreas
Bloqueio do Nervo Ciático inervadas pelo ciático. A progressão da agulha é interrompida e
intercalada por repetidas aspirações e a solução anestésica com
O nervo ciático (L4, L5, S1, S2, S3) que na sua origem tem cerca de
ou sem vasoconstritor 15-20 ml, é injetada (fig.30.2).
1 cm de largura, deixa a pelve através do forâmen ciático magno,
abaixo do músculo piriforme e penetra na região glútea, em posição
discretamente medial ao ponto médio entre a tuberosidade isquiática
e o grande trocanter do fêmur. Então, ele desce verticalmente na
linha média da face posterior da coxa, até o oco poplíteo. A este
nível, ocorre a sua divisão em nervos tibial posterior e fibular
comum.
Abordagem Posterior
Referências Anatômicas (fig.30.1): A espinha ilíaca póstero-superior
e o grande trocanter do fêmur são os pontos de referência mais
utilizados. Inicialmente é traçada uma reta entre estes dois pontos e,
a partir do ponto médio desta linha, em sentido caudal, é dirigida
uma outra perpendicular a ela, com 4 ou 5 cm de comprimentos. É
este o ponto que assinala o local da punção. O nervo ciático emerge
do forâmen ciático a uma profundidade que varia de 5 a 10 cm da
pele, conforme o volume das nádegas.
Abordagem Anterior
Referências Anatômicas (fig.30.3): Na profundidade dos músculos,
no terço proximal da coxa, o ciático passa posterior e medialmente
ao fêmur. Sua projeção na face anterior da coxa se faz através de
referências tomadas a partir da espinha ilíaca ântero-superior,
tubérculo púbico e grande trocanter do fêmur.
Três linhas são traçadas; a primeira unindo a espinha ilíaca ântero-
superior ao tubérculo púbico, a segunda, paralela a primeira a partir
do grande trocanter do fêmur e a terceira, perpendicular as outras
duas, entre o terço medial e médio da primeira. A intersecção da
segunda com a terceira linhas determina o local da punção.
Indicações:
O bloqueio do ciático permite a realização de procedimentos
superficiais na face posterior da coxa, perna e região plantar.
Habitualmente ele é associado a anestesia dos nervos femoral,
obturatório e cutâneo lateral da coxa. Esta associação produz
anestesia do membro inferior, a partir do terço proximal da
coxa.
Contra-Indicações:
Este bloqueio deve ser evitado em pacientes com alterações na
coagulação sangüínea pela proximidade de estruturas vasculares,
Técnica: As infecções no local da punção e recusa do paciente constituem
outras contra-indicações.
Agulha apropriada (100x7) é introduzida perpendicularmente a pele,
passa medialmente o plano do fêmur e tenta provocar parestesias na
área inervada pelo ciático. Após aspiração, solução anestésica com
Complicações:
ou sem vasoconstritor, 15-20 ml, é injetada (fig.30.4) e (fig.30.5).
Hematomas, traumatismo direto do nervo pela agulha, injeção
intraneural de anestésico e infecção são as possíveis
complicações locais decorrentes, Têm sido descritas reações
tóxicas sistêmicas pela injeção vascular ou absorção maciça de
anestésicos locais.
A técnica cuidadosamente aplicada, com delicadeza, injeções
lentas intercaladas de repetidas aspirações, minimizam a
freqüência e a gravidade das complicações.
Bloqueio do Nervo Femoral
O nervo femoral (L2, L3, L4) supre os músculos e a pele da face
anterior da coxa e, através de seu ramo mais longo, o nervo safeno,
as faces mediais do joelho, perna, tornozelo e pé. Ele emerge da
pelve lateralmente à artéria femoral, abaixo do ligamento ingüinal.
O nervo penetra na coxa sob o ligamento inguinal cerca de 2 cm
lateral à artéria femoral. Aqui o trajeto do nervo é relativamente
superficial, 1 a 3 cm da pele (fig.30.6).
Indicações:
Cirurgias da face anterior da coxa e joelho.
Este bloqueio é freqüentemente associado à anestesia do cutâneo
lateral, obturatório e ciático, permitindo intervenções no
membro inferior, distais ao terço proximal da coxa.
Contra-Indicações:
São raras e decorrentes de injeção vascular.
Técnica:
O paciente é posicionado em decúbito dorsal horizontal com o
membro a ser bloqueado em discreta abdução (fig.30.10), (fig.30.11)
e (fig.30.12)
Indicações:
O bloqueio do nervo obturatório é realizado concomitante ao
dos nervos femoral, ciático e cutâneo lateral, permitindo
intervenções cirúrgicas no membro inferior.
Contra-Indicações:
Alterações da hemostasia e infecção no local da injeção.
Complicações:
Os decorrentes da injeção vascular de anestésico local.
Técnica:
A agulha 30x6 atravessa o ligamento inguinal a 2 cm da espinha
ilíaca ântero-superior e perfura fascia lata. Nesta área infiltra-se
a solução anestésica com ou sem vasoconstritor, 10 ml.
(fig.30.13).
Indicações:
Raramente tem indicação para bloqueio isolado. Associado ao
bloqueio dos nervos femoral, obturatório e ciático, possibilita
procedimentos cirúrgicos distais ao terço proximal da coxa.
Contra-Indicações:
Infecções localizadas no local da punção.
Complicações:
Face a superficialidade do segmento a ser bloqueado e a ausência de
estruturas vasculares importantes, a anestesia do nervo cutâneo
lateral da coxa carece de inconvenientes significativos.
Complicações:
Nesta técnica evita-se provocar parestesias. O maior risco
constitui a lesão mecânica do nervo, que deve a todo custo, ser
evitado.
Técnica:
A introdução da agulha (30x6) se faz perpendicular a pele, até o
periósteo da fíbula, buscando a proximidade, mas evitando o contato
direto com o nervo fibular comum (fig.30.15). Volumes de até 5 ml
de solução anestésica sem vasoconstritor são o suficiente.
Contra-Indicações:
Infecções no local da punção e alterações da hemostasia.
Complicações:
Raras e coincidentes com as injeções vasculares de anestésico
local.
Técnica:
A agulha 30x6 é introduzida perpendicularmente a pele, entre o
maléolo medial e o tendão de Achiles, até encontrar o periósteo da
face posterior da tíbia. Nesta região são provocadas parestesias nas
áreas correspondentes à inervação tibial posterior, às faces medial e
plantar do pé. Alcançando este objetivo, e injetada a solução
anestésica sem vasoconstritor, em volumes de 5 a 10 ml. As
aspirações repetidas minimizam o risco de injeção vascular
(fig.30.19).
Técnica:
A agulha 30x6 é introduzida perpendicularmente a pele, entre o
maléolo lateral e o tendão de Achiles, até o periósteo da face
posterior da tíbia. Neste trajeto busca-se provocar parestesias na face
lateral do pé e uma vez obtida, injeta-se a solução anestésica sempre
sem vasoconstritor, em volumes inferiores a 10 ml (fig.30.20).
Indicações:
Procedimentos na face lateral do pé.
Quase sempre é associado ao bloqueio do nervo fibular comum (para
o dorso do pé) e tibial posterior (insensibilidade da região plantar).
Contra Indicações:
Diáteses hemorrágicas e infecção na área a ser puncionada.
Complicações:
Face a pequena massa de anestésico requerido pelo bloqueio,
praticamente não é de se esperar nenhuma complicação importante.