Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Mariamanuelabaptista PDF
Mariamanuelabaptista PDF
Nota:
Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor, para que possa auxiliar ao estudo dos colegas. O autor não pode de forma
alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não pretende substituir o estudo dos manuais adoptados para a
disciplina em questão.
A Universidade Aberta não tem quaisquer responsabilidades no conteúdo, criação e distribuição deste documento, não sendo possível imputar-lhe
quaisquer responsabilidades.
Copyright: O conteúdo deste documento é propriedade do seu autor, não podendo ser publicado e distribuído fora do site da Associação Académica da
Universidade Aberta sem o seu consentimento prévio, expresso por escrito.
Teoria das Relações Internacionais (41067)
2
Teoria das Relações Internacionais (41067)
A razão pela qual as R.I. assumiram esta importância reside na internacionalização dos
problemas que é característica do nosso tempo.
Para além de razões científicas e académicas, há ainda as necessidades práticas que tornam
necessário e indispensável a autonomia e importância do estudo das R.I.:
Diplomacia – precisa de basear-se no estudo científico das R.I.
Arte da guerra – exige o conhecimento actualizado do levantamento das R.I. para decidir da
oportunidade de recorrer a esse meio. O bipolarismo alterou o conceito segundo o qual a guerra
era a continuação da política por outros meios e agora a política é frequentemente a conitnuação
da guerra por outros processos.
Ex: a Guerra da Coreia entre 1950 – 1953.
Public Relations – exige o estudo aturado das R.I. em áreas da vida privada (vão do desporto e
da cultura à economia da procura e da oferta globais)
Desenvolvimento económico – exige o estudo autónomo das R.I.
3
Teoria das Relações Internacionais (41067)
3. A COMUNIDADE INTERNACIONAL
• O significado do conceito de analogia doméstica
Comparação entre os dois factos sociais relevantes – o poder político soberano e a pluralidade de
poderes políticos soberanos. No centro da analogia doméstica está a utilização do conceito de
estado de natureza.
Uma sociedade pode eventualmente transformar-se numa comunidade. O prof. Adriano Moreira
tem-se dedicado a desenvolver esta proposição. É assim que o processo político contemporâneo
é interpretado por ele como encerrando a potencialidade da transformação da sociedade
internacional em comunidade. Esta potencialidade pode ser avançada por um conjunto de
alterações políticas que ultrapassam o quadro tradicional do relacionamento entre Estados
osberanos e que pelo contrário encaminham para a consideração do género humano como uma
só comunidade mundial. É o caso da simultaneidade da informação, mundialização dos teatros
estratégicos e o desenvolvimento dos mercados transnacionais. Assim, e tendo em conta as
interdependências crescentes, o processo político global parece indicar no sentido do abandono
progressivo do modelo de sociedade internacional, ou doutro modo, parece que o
4
Teoria das Relações Internacionais (41067)
4. R. I. E POLÍTICA INTERNACIONAL
• As questões de método em Relações Internacionais
São as questões ontológicas e epistemológicas. É através delas que se processa a identificação
dos fenómenos e da realidade relevantes e se avança a forma de produzir conhecimento sobre
eles:
- Método da enumeração de temas: descrição da organização mundial em Estados, conflitos
correntes, acções adoptadas por cada poder político, entre outros)
- Levantamento da realidade relevante: questão do objectivismo e do subjectivismo uma vez
que o autor sublinha que os problemas das R.I. competem com a concepção da verdade de
cada uma das sociedades, reclamando cada uma, uma objectividade que não reconhece à
outra. O dilema do objectivismo vs subjectivismo que ao acolher, observar e avaliar os factos
relevantes à investigação, não pode abster-se da sua circunstância pessoal, ou seja, não é
possível eliminar a relação pessoal do observador com os factos – rejeição da epistemologia
positivista.
- Método de Raymond Aron: persperctiva orientadora que consiste em compatibilizar o método
comparativo histórico clássico e o método estatístico, porque afinal é o objecto que determina
o método. Verifica-se uma vez mais que o objecto determina pois o método.
5
Teoria das Relações Internacionais (41067)
• Perspectiva marxista
De Marx, não existe propriamente uma perspectiva das R.I. mas fornece os elementos
fundamentais para uma teoria dessas relações: todas as sociedades de classes engendram a
guerra - as guerras são conflitos entre as classes dirigentes que utilizam as massas como
instrumentos, pelo que é da futura sociedade sem classes que virá a solidariedade entre os
povos, sendo a vitória final do proletariado, o facto do qual decorrerá a paz entre as nações.
Daqui resultou a posição dos estudiosos soviéticos no sentido de que a ciência ocidental é
apenas um capítulo da propaganda dos Estados capitalistas sem qualquer valor científico. Por
seu lado, o sovietismo ergueu a base da sua teoria das R.I., a doutrina leninista do imperialismo.
Para Lenine, a expansão das soberanias e interesses dos países capitalistas por todo o mundo,
era a última fase do capitalismo. O sistema estava condenado aos conflitos internos das
potências, determinados pela concorrência relativamente aos mercados, às fontes das matérias-
primas, à mão-de-obra barata. A guerra mundial seria inevitável. A construção de uma teoria das
R.I. a partir da concepção dita científica marxista, revelou-se incoerente quanto às doutrinas
desenvolvidas. Trata-se sim de um realismo marxista, que pretendeu juntar num só conceito, o
interesse nacional e o internacionalismo proletário subordinando o internacionalismo proletário ao
interesse nacional. Aquilo que assumiram como moral de responsabilidade comunista era a razão
de Estado para o Ocidente. A teoria da razão de Estado, encontra-se nos livros I e II da República
de Platão e a questão que envolve é a de saber se para defender aquilo que se chama de
interesse público, “a mentira real” é justo. É rejeitada a defesa amoral da posição suprema do
detentor do poder mas a posição é diferente quando se trata da defesa do Estado. A
clandestinidade no Estado é inspirada pela supremacia da razão de Estado.
Ex: o Relatório de Kruchtchev denunciando os crimes e erros de Estaline para manter a ditadura
sobre o partido e a deste sobre o Estado, é uma demonstração de que a razão de Estado foi a
matriz da perspectiva política do sovietismo. O que a razão de Estado acrescenta à perspectiva
realista é que esta é um ponto de vista metodológico e aquela é para além disso, um princípio de
acção.
• Perspectiva europeia
Tem esta designação porque foi na Europa que nasceram todos os problemas que se viriam a
constituir com o nome de R.I. Talvez o voluntarismo seja a matriz europeia que radica na
autonomia da vontade política, e a definição dos objectivos e dos métodos de acção, ficando a
variedade de comportamentos dependente do tipo de actividade do homem ou grupo de homens
a quem pertence o exercício do poder.
6
Teoria das Relações Internacionais (41067)
A doutrina dos heróis a referência dos tempos históricos à mudança das lideranças ou chefias
políticas, são expressões dessa perspectiva que recorre às leis do comportamento individual ou à
dua tipologia para encontrar algum ponto de apoio para as previsões.
O voluntarismo continua a ser o princípio dos governos personalizados, não institucionalizados ou
democráticos, que são mais numerosos do que as constituições admitem.
O marxismo produziu o culto da personalidade, a ditadura de um homem (secretário-geral) sobre
o partido e do partido sobre o país.
Progressivamente o valor institucional da Nação veio marcar a perspectiva europeia, assente na
convicção da excelência do Estado nacional. A razão de Estado evidencia aquilo que parece mais
característico da perspectiva europeia, ou seja, a tentativa de compatibilizar a tradição
personalista e a tradição maquiavélica. O compromisso ou alternância entre moral de convicção e
a moral de responsabilidade, a proclamação de grandes municípios e valores absolutos e ao
mesmo tempo o uso da força como argumento supremo independente da justiça dos interesses.
A criatividade na origem do processo político internacional e a novidade sem precedentes nos
efeitos procurados ou produzidos parecem sempre admitidas na perspectiva europeia. É uma
ambivalência entre idealismo e realismo.
• Perspectiva neutralista
Surge com o fim da 2ª Guerra Mundial e o programa descolonizador da paz, sobretudo inspirado
pelos EUA. A Carta da ONU deu expressão jurídica a esta orientação, organizando a
administração dos territórios não autónomos e a responsabilidade das potências administrantes
que os deveriam encaminhar para um modelo político democrático e para a autodeterminação.
• Perspectiva internacionalista
É também plural e corresponde a mais de uma opção. O que une todas é a convicção de que a
actividade política internacional deve ser examinada relativamente a uma condição humana
universal, e não em relação com os limites ocidentais que decorrem das fronteiras geográficas,
da história ou das constituições e regimes políticos.
A concepção medieval de uma lei natural esteve associada a uma visão internacionalista da
condição humana.
Ex: República Cristão corresponde a essa atitude, tal como o conceito de povo de Deus – é o
internacionalismo das fronteiras políticas.
Os Projectistas da Paz foram adeptos da perspectiva internacionalista, procurando a salvaguarda
de um interesse real e superior ao das unidades políticas, que era a paz dos povos.
Uma lei é universal quando se dirige apenas à razão, não fazendo distinção entre seres racionais,
mas apenas entre o bem e o mal. Relativamente às R.I. tinha como objectivo a abolição das
jurisdições estaduais e a adopção de um corpo de leis aceites por todos, de aplicação vigiada por
um congresso das potências. Finalmente, a evolução do fenómeno da solidariedade e
interdependência de todos os Estados e outros agentes da cena internacional, conduziu a um
internacionalismo que se tornou progressivamente importante depois da fundação da ONU.
Trata-se de:
- considerar a paz como um bem indivisível da Humanidade que o Conselho de Segurança
deveria preservar
- definir um verdadeiro património comum da Humanidade (mar alto, Antártida, corpos celestes)
• Perspectiva da Santa Sé
Não é possível separar a história actual da intervenção da Igreja Católica em todos os domínios.
Pode-se caracterizar a perspectiva da Santa Sé a partir da total perda de poder temporal sobre os
seus estados italianos, em consequência da unificação italiana. A nova definição internacional da
Santa Sé vai basear-se não em qualquer poder político, mas sim e apenas na autoridade, isto é,
uma proeminência institucional reconhecida que permite influenciar as condutas e as decisões.
Os princípios fundamentais são:
a) primazia da pessoa humana
b) organização política transitória, instrumental e contingente
c) ideia de Humanidade, do povo inteiro sem qualquer tipo de distinções étnicas ou culturais
d) dualidade do poder político e do poder religioso (distinção entre direito público e direito
privado)
7
Teoria das Relações Internacionais (41067)
• Perestroika
A conjuntura mundial foi dominada, sobretudo, no que respeita à dissolução do bipolarismo, pela
nova linha definida por Mikhail Gorbatchov, no seu livro “Perestroika”. A Perestroika, deve, em
primeiro lugar, ser analisada como uma técnica inspirada pelos interesses permanentes da
URSS, e não como o marco de uma nova fase que muitos historiadores consideram. É a
manutenção do conceito de “terceira guerra mundial em curso”, assim chamado por Richard
Nixon, e em que avulta a estratégia indirecta, a qual se salda, no seu ponto de vista, por
sucessivas perdas ocidentais que surge a mensagem de Mikhail Gorbatchov.
Uns procuram inseri-la na estratégia indirecta desmobilizadora do Ocidente. Outro entenderam-na
como fixando um ponto de reflexão, imposto pela variável do medo e suas causas, e o início da
abertura dos caminhos à revolução cultural que possibilite a readaptação dos instrumentos
políticos do mundo angustiado que o pós-guerra produziu.
O anúncio, em Washington, pelas superpotências para um acordo de desarmamento evidencia
que esta acto não podia limitar-se a um dos intervenientes. Há que procurar tentar compreender
o processo de mudança de ambos.
Ao contrário do disposto na Carta da ONU, o acordo tinha disposições secretas.
8
Teoria das Relações Internacionais (41067)
9
Teoria das Relações Internacionais (41067)
6. TEORIA DO PODER
• A natureza do Poder Internacional
Considera-se reprovável o poder que se afasta da pré-definição jurídica e do respeito pelos
direitos do Homem, aproximando-se dos modelos clássicos do Estado degenerado, o
despotismo, a oligarquia, a demagogia ou a mais abrangente, o totalitarismo.
O conceito operacional de poder central parece ser o de Kant, sustentando que todo o ser
humano deve ser tratado como um fim em si mesmo, e nunca como um meio, sendo este o valor
fundamental que a razão obriga a respeitar.
O conceito operacional de poder é fundamental para a racionalização e teorização das R. I. Para
Max Weber, o poder é sempre a capacidade de obrigar. Para Walter Jones, o poder é a
capacidade de um agente das R.I. para usar recursos e valores materiais e imateriais de maneira
a influenciar a produção de eventos internacionais em seu proveito. Desta definição resulta que o
poder é instrumental, destinado à realização de objectivos. O poder é um valor em si próprio e
não é uma coisa mensurável em termos quantitativos; o poder é sempre uma relação.
Finlandização: relação entre Estados, equivalente à que se verifica entre URSS e Finlândia em
que este último não tinha poder para conceber e prosseguir políticas que contrariassem os
objectivos da URSS. Porém, o Principado do Mónaco tem menos poder quantitatitvo e qualitativo
que a Finlândia e nunca foi subordinado às políticas da URSS, porque a sua situação geográfica
altera os termos da relação. Já relativamente a França, este Principado não dispõe da mesma
situação.
Nem toda a relação entre poderes pode ser medida, por exemplo, em termos de armamento. Não
há coincidência entre poder e força. O poder está sempre em exercício na vida internacional. O
seu método normal e contínuo é o da persuasão que se traduz em concretizar a influência em
resultados pelo exercício da razão (que envolve a oferta contínua de vantagens => estímulo e
desvantagens => sanções). O uso da força é uma subida aos extremos do uso do poder. Sendo o
poder uma relação, a superioridade de um agente internacional sobre outro, pode não ser
uniforme, sendo que a posição é relativa numa situação poderá ser inversa noutro tipo de conflito
de interesses.
Em suma, o poder procura, em regra, o consentimento obtido pela razoabilidade e só
excepcionalmente é que se recorre à coacção que pode ser finalmente militar.
Qualificação do poder
As várias qualificações do poder podem ser conforme:
- sede em exercício
- componente utilizada
- método ou forma escolhida para o seu uso
A importância do poder e das suas formas na vida política, leva à corrente de pensamento alemã
Machtpolitik (power politics) que entende que no processo político interno e externo, não existe
outro factor envolvido além do poder. Também se chama a esta corrente a Realpolitik ou realismo
político. Ela abastrai-se completamente dos valores ou normativismo anterior e superior ao poder,
contrariamente à perspectiva realista liderada por Morgenthau que não exclui os valores do
10
Teoria das Relações Internacionais (41067)
Política de equilíbrio
Por forma a avaliar a correlação dos poderes em acção na comunidade internacional e
determinar um ponto de equilíbrio que evite o recurso à guerra, os analistas recorrem ao conceito
da balança de poderes. A política de equilíbrio tem como principais objectivos:
- garantir independência e sobrevivência dos Estados
- salvaguardar o sistema em que o Estado se inscreve
- impedir o domínio de qualquer membro do sistema
Assim, muitos teóricos definem a guerra como um instrumento destinado a defender ou restaurar
a balança de poderes. É uma política conservadora dos sistemas. O objectivo da política da
balança de poderes não é eliminar os poderes mas mantê-los em relacionamento pacífico.
11
Teoria das Relações Internacionais (41067)
• A racionalização teórica
A Antiguidade Clássica
É possível que tenha sido Tucídedes o primeiro a quem se deve uma meditação teórica sobre as
R.I. a partir da sua experiência da guerra do Peloponeso entre Esparta e Atenas. O seu livro “A
guerra do Peloponeso” é o primeiro ensaio da nova disciplina.
O legado maquiavélico
O maquiavelismo é uma teoria do poder e do relacionamento dos poderes internacionalmente
baseada na observação dos comportamentos. Quando publicou “O Príncipe” em 1527, Maquiavel
fez a primeira análise global da sociedade internacional a partir do conceito de estado de
natureza. Usou a sua própria experiência para traduzir o fenómeno da luta pela aquisição,
manutenção e exercício do poder político. Sustentou a teoria clássica da sociedade internacional
assente sobre o interesse fundamental de cada Estado, a conflituosidade do estado de natureza,
as relações de força, a relação entre diplomacia e estratégia. Era já a perspectiva realista que lhe
servia de referência.
Thomas Hobbes é o continuador de Maquiavel, na medida em que, no “Leviathan”, considera o
estado de natureza caracterizado pelo homo homini lupus (o egoísmo é o mais básico do
comportamento humano). Na vida internacional, não existe também qualquer princípio de
sociabilidade. Antes pelo contrário, é a primazia das 3 causas humanas de discórdia: competição,
desconfiança, glória. Os Estados e os homens combatem-se pelo proveito, para impor o domínio
sobre os outros. É a anarquia maquiavélica que vigora, em que cada Estado intervém até ond eo
poder de constranger permitir.
A comunidade internacional
O legado humanista inspirou os jusnaturalistas dos sécs. XV e XVII. Francisco de Vitoria é o
fundador do direito internacional moderno, preocupado com a definição das regras jurídicas, que
obrigam os Estados e as comunidades antigas e descobertas, apelando novamente ao conceito
de comunidade universal. Defende uma função instrumental do Estado, uma concepção inserida
na indivisa originária e natural da comunidade dos homens. Também o planeta é indivisível.
O séc. XX tem mostrado um interesse crescente pelo tema do governo mundial.
• A racionalização sistémica
A metodologia dos sistemas
A pluralidade de perspectivas identificáveis, resulta numa não-passividade. O método adoptado
pode centrar-se no estudo dos agentes individuais representando as organizações colectivas,
com o Estado e as multinacionais. Esta perspectiva implica a adopção prévia de uma matriz
voluntarista que seria dividida em períodos marcados pelo reinado ou chefia política. Cada época
ou o comportamento de cada entidade colectiva são caracterizadas pela personalidade e
12
Teoria das Relações Internacionais (41067)
comportamento do agente. Há autores que insistem que o realismo não identifica homens mas
sim entidades abstractas (Estado ou multinacional). Esta perspectiva é dominante no jornalismo.
Este método torna-se mais complexo quando é o grupo em vez do agente que assume o
processo político interno e internacional. É necessário analisar não só o comportamento do
representante mas também o comportamento do grupo, pois eles intercondicionam-se pelo que,
recorre-se à sociologia.
Às metodologias individualista e grupal, opõe-se uma metodologia isntrumental. Esta, parte da
convicção de que a vida social exibe duas referências fundamentais – os homens (perpetuam-se
pela reprodução) e as ideias (perpetuam-se pela tradição). Ex: Universidade, Nação ou Igreja
correspondem à perspectiva institucionalista. Assim, a instituição encontrou a sua força vital na
pessoa humana e esta por sua vez, recolheu-se no seio da instituição – doutrina de Hauriou,
Prélot e Renard.
O que a metodologia sistémica traz de novo é um modelo de racionalização de todos estes
factores complexos, ajudando a captar a realidade, descrevê-la e prognosticar os
comportamentos dos agentes e do conjunto.
O conceito sistémico tem de ser aproximado do organicismo segundo o qual certas entidades
sociais, como as instituições, são suficientemente orgânicas para serem compreendidas em
função das leis que regem os organismos vivos. É um ponto de vista apoiado por concepções
políticas conservadoras.
O organicismo é, por sua vez, uma variante do holismo, ou seja, a suposição de que o Universo
obedece a uma tendência no sentido de sintetizar as unidades em totalidades organizadas. Hegel
chamou-lhe “a transição da quantidades para a qualidade”.
Todavia, a metodologia sistémica decorre directamente da cibernética, que é o estudo do controlo
interno dos sistemas em que as várias operações interactuam reciprocamente e
sistematicamente como acontece nas máquinas que possuem a chamada inteligência artificial. O
termo parece ter sido inventado por Norbert Wiener e Arthur Rosenthal em que os sistemas
podem ser mais ou menos imunes às influências externas ou ambientais, e que é possível
enunciar algumas leis de valor geral sobre o funcionamento dos sistemas:
Feedback- retorno do output do sistema como do input
Input – de natureza positiva ou negativa, exprime os apoios ou exigências recebidos. Podem ser
destrutivos porque aumentam as exigências
Output- estabilizadores do sistema porque reduzem as exigências
Na biologia, o critério foi enunciado por Bertahanffy. Nas ciências sociais, terá sido importada pro
Talcott Parsons e aplicada por David Easton e Karl Deutsch.
No que respeita às R.I., a expressão sistema, também tem mais do que um sentido para além
daquele que lhe corresponde como designação de uma metodologia de aproximação. Existem
assim:
- sistemas internacionais (Tratado de Vestfália, bipolarismo)
Kaplan procura determinar as regras essenciais para o equilíbrio de cada sistema identificado, as
regras de transformação e as estruturas de cada agente.
II) Desarmamento
O desarmamento ganhou progressivo relevo no capítulo da prevenção da guerra à medida que os
meios de a fazer ganhavam em poder de destruição e ameaçaram com a catástrofe geral. A
questão é de saber se a corrida ao armamento pode ser controlada e como.
As 3 principais razões a favor do controlo do armamento e desarmamento são:
1) diminuir a probalidade da guerra
2) diminuir a extensão da destruição em caso de guerra
3) reduzir os custos financeiros da defesa
14
Teoria das Relações Internacionais (41067)
Integração internacional
Processo pelo qual os agentes políticos de várias áreas nacionais procuram transferir as suas
lealdades, expectativas e actividades políticas para um centro novo e mais abrangente, cujas
instituições possuem ou pretendem jurisdição sobre os Estados nacionais preexistentes. Não é
uma organização internacional intermediária entre os Estados mas um novo processo decisório a
cargo de uma instituição superior aos Estados.
Sectores de integração
O sector económico é, por tradição, o que exige prioridades de integração, em que o modelo mais
frequente é o do mercado comum. Trata-se de desenvolver o poder económico usando 2
instrumentos principais:
- eliminação de barreiras alfandegárias entre os Estados membros, permitindo a livre circulação
de mercadorias mais a livre circulação de pessoas e capitais.
- Definição de uma política económica comum
O segundo sector é o social, já que não é possível fazer circular livremente mercadorias, capitais
e pessoas sem encarar a sua diversidade cultural e por vezes incompatível.
Sector político é o que suscita maiores dificuldades a nível do ponto de vista funcionalista e
político e federalista, pois estão em causa valores históricos do patriotismo, lealdade à Pátria, à
Nação e ao Estado e consciência das diferentes identidades nacionais e independência
soberana.
Assim, sustenta-se que a cooperação deva preceder as instituições para que a mudança social
se dê sem conflitos.
I) As tensões da integração
Integração significa não grupos diferentes submetidos à mesma jurisdição devem possuir os
mesmos direitos legais embora possam ter privilégios desiguais em função da sua especificidade
religiosa, linguística e cultural => regra do direito a ser diferente e ser tratado como igaul
(affirmative action).
No lado oposto está o integrismo que subordina tudo à preservação e desenvolvimento das
diferenças o que contraria qualquer internacionalismo ou transnacionalismo.
15
Teoria das Relações Internacionais (41067)
• Mediação da percepção
As percepções da integração
As integrações não são por norma mundiais.
A percepção norte-americana
Depois da paz e da quebra da aliança com a URSS, a primeira percepção americana foi a da
necessidade de conter o avanço soviético e, nessa orientação, reconstruir a Europa ocidental
As percepções europeias
A revisão da co-responsabilidade mundial EUA-URSS (conferência de Malta 1989), voltou a
dar a maior actualidade pluralidade das percepções europeias sobre a Ordem Mundial e,
sobretudo, a competição estratégica. Segundo sondagens, a Europa da NATO conserva uma
percepção da conjuntura que a inclina para a manutenção de uma defesa solidária com os
EUA. O ideal da paz pelo direito parece comum aos povos ocidentais, e a articulação com os
americanos reside na contradição de os europeus não suportarem a sua proeminência e
repudiarem a tentativa de colonização cultural, copiando-lhe, no entanto, os modelos de vida;
detestarem a direcção política que os americanos assumiram mas sentido-os próximos como
povo e admirando a sociedade que em muitos aspectos copiaram.
A revisão da logística dos impérios (EUA e URSS), a que procederam os co-responsáveis
pela ordem estratégica finda, tornou mais rico o pluralismo das percepções europeias e mais
complexo o processo em curso.
A percepção terceiro-mundista
Antes da última guerra mundial, os 3 pólos (Europa, EUA, URSS) ainda partilhavam a
supremacia da comunidade internacional que depois da guerra passou a sede do governo do
mundo da Europa para os EUA, ficando a Europa numa posição dependente dos EUA. A
política da descolonização veio dar voz internacional a um conjunto de países que até então
tinham sido «mudos» porque eles por eles falava a potência colonizadora. Forjaram então
uma unidade política com expressão permanente na ONU.
A descoberta do poder funcional (através das matérias-primas, crise do petróleo de 1973),
levou a:
- posição unificada das questões económicas relativamente aos países industrializados
- transformação desta uniformidade de conduta num instrumento de pressão para desenvolver
a pretendida nova ordem económica internacional
16
Teoria das Relações Internacionais (41067)
De qualquer das formas, as referências das percepção de cada poder político tende para a
durabilidade e resistência aos ataques que os adversários desenvolvem através da estratégia
indirecta.
b) O discurso eficaz
A revolução das técnicas de informação veio acrescentar desmesuradamente a importância
das percepções e da imagem projectada por cada um dos intervenientes no processo político.
O discurso eficaz tornou-se central no mundo democrático porque este passou a ter ao seu
dispor vários instrumentos destinados a deformar a imagem da realidade e a percepção
desta, interna e externamente. Isto porque o fenómeno político evoluiu para uma participação
das massas, qualquer que seja o regime.
As crenças, ideologias e utopias são elementos fundamentais no processo de mobilização da
determinação e credibilidade dos apoios sem os quais o poder não consegue realizar os seus
objectivos. Daqui resulta especial atenção às ciências da linguagem, à lógica, à retórica e à
antropologia, entre outras. O domínio das cadeias de informação também cria um fenómeno
de dependência e de hierarquia entre os poderes.
Daí que o capítulo mais importante da Carta é o VII “Acção em caso de Ameaça à Paz, Ruptura
da Paz e Actos de Agressão”.
Embora o Conselho de Segurança esteja legalmente dotado de todos os poderes para intervir, os
mecanismos de formação das decisões introduzidas, paralisaram o Conselho. O principal foi a
regra de que na maioria estivesse o voto dos 5 grandes (EUA, URSS, França, Inglaterra e China).
Nasce assim o direito de veto de cada uma das grandes potências. Independentemente da haver
um conflito de interesses entre as grandes potências, nas iniciativas em que necessitariam estar
de acordo divergiram quanto a:
- comando supremo
- grau de preparação das tropas
- se cada Estado deve fornecer contingentes iguais ou consoante a capacidade de cada Estado
17
Teoria das Relações Internacionais (41067)
- se as tropas podem estacionar fora do território dos Estados de origem, em tempo de paz
- o direito de passagem de tropas
Daqui resulta a inoperância do Conselho. Assim, em vez de Decisões do Conselho, a oNU faz
Recomendações da Assembleia. Contudo, a ONU tem actuado, enviando forças de paz,
observadores ou comissões de investigação. A intervenção mais conhecida é a das Forças de
Paz (capacetes azuis). O avanço da ONU relativamente à Sociedade das Nações é que,
juridicamente pode agir perante uma ameaça à paz, não precisando de esperar pela consumação
da agressão. A acçãod a oNU estende-se a muitos outros grupos, através das suas organizações
especializadas: OIT, OMS, FMI, UNESCO.
A ONU é um lugar onde todos os Estados se podem encontrar com todos. Tem desenvolvido o
direito internacional, realizado inúmeras convenções de codificação (direito marítimo, direito
diplomático, direito dos trabalhos, etc) Tem feito progredir a ideologia ocidental dos direitos dos
Homens e a sua efectivação. Assumiu e desenvolveu o programa de descolonização.
• A descolonização
A colonização implica a imposição de um poder superior, alienígena sobre um povo e seu
território com o sistema cultural diferente, geralmente de etnia diferente. A relação que se
estabelece além do domínio político pelo colonizador, implica que este leve eventualmente o
capital e a técnica e exija a terra e o trabalho dos nativos. Este processo de expansão prende-se
com o interesse do colonizador em procurar novos espaços, matérias-primas, novos mercados ou
apoios estratégicos => colonialismo de espaço vital. As relações entre colonizador e colonizado
podem assumir vários modelos:
- genocídio
- transferência de populações
- coexistência
- integração física e sincretismo
- miscigenação cultural
Para que o fenómeno da colonização não seja simples brutalidade de aquisição de espaço vital, é
necessário uma ética superior reguladora. Assim nasce a política colonial dos Papas. Portugal
invocou sempre o dever missionário. A colonização moderna, que surgiu da Conferência de
Berlim iria invocar uma justificação diferente da evangelização: o dever de civilizar. O triunfo na
competição internacional, o fardo do homem branco. O facto da Carta da ONU falar na condução
dos povos para a capacidade da independência foi entendida no sentido em que todos os povos
estavam em condições de se autodeterminarem e que toda a relação de dependência colonial
devia ser extinta. A política de descolonização, inscrita na Carta da ONU, teve a definição que foi
imposta pelos vencedores da guerra.
A rivalidade existe assim não só ao nível estratégico e militar mas também ao nível económico e
ideológico. Adriano Moreira refere que, em negociações externas aos quadros da ONU, EUA e
URSS desenvolveram uma política de co-responsabilidade pelos negócios mundiais, em especial
pela segurança. Porém, apesar desta política de co-responsabilidade ser promovida em nome da
segurança mundial, o que é facto é que ela não correspondeu a uma verdadeira segurança
colectiva, uma vez que ela foi um instrumento de realização de interesses específicos e não do
colectivo da sociedade internacional. Esta política evitou, de facto, o confronto directo entre as 2
superpotências mas à custa da promoção de guerras paralelas e da protecção a regimes
ditatoriais que agravaram o sofrimento generalizado das populações do terceiro mundo. O
conceito de paz internacional se bem que com benefícios atribuídos à NATO e ao Pacto da
Varsóvia mantiveram a paz durante 50 anos, o que é certo é que ela foi mantida apenas
relativamente ao confronto directo, porque no confronto indirecto usando entrepostas entidades,
ela não existe.
20
Teoria das Relações Internacionais (41067)
O autor estabelece assim o tipo de relação entre os conceitos “ordem” e “justiça”. Enquanto
que a perspectiva realista considera os dois conceitos incompatíveis, Adriano Moreira enuncia
claramente que, qualquer que seja a forma que venha a assumir a nova ordem internacional,
ela só pode recolher legitimidade da realização de princípios de justiça à escala global.
Mais, o autor sugere que a ordem e a paz internacional são impensáveis sem a eliminação
das injustiças do sistema económico internacional.
21