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Micoses Profundas

É representada por dois grupamentos que se distinguem pela via de penetração. Nas subcutâneas, o trauma
desempenha papel fundamental e a propagação ocorre por contiguidade ou por disseminação linfática,
enquanto nas sistêmicas, é essencialmente por inalação e a propagação ocorre por via linfática ou,
principalmente, por via hematogênica.
Micoses Subcutâneas

Esporotricose

Esporotricose é uma infecção subaguda ou crônica, causada por um fungo dimórfico denominado
Sporothrix schenckii. A doença caracteriza-se por lesões polimórficas da pele e do tecido subcutâneo, com
frequente comprometimento dos linfáticos adjacentes.
É a micose subcutânea de maior prevalência. Ocorria, com maior frequência, entre jardineiros e
empalhadores; portanto, pode ser vista como doença profissional. Nos últimos anos, sobretudo no Rio de
Janeiro, tem sido observado um aumento progressivo, no decorrer dos anos, de casos de Esporotricose em
pessoas que lidam com gatos.

A inoculação no homem ocorre principalmente pela penetração do fungo na derme após traumatismo com
objetos pontiagudos infectados, palha, espinho, madeira, farpa, arame, ferramenta de jardinagem, flores ou,
raramente, por mordida ou arranhadura de determinados animais.

O período de incubação é de 3 dias a 12 semanas (em torno de 3 semanas), surgindo, na área traumatizada,
lesão que costuma ser bloqueada pelo sistema imunológico, permanecendo localizada ou invadindo os
linfáticos regionais. Quando a resistência é alta, não há o desenvolvimento da doença.
Clinicamente, pode ter várias apresentações. A mais comum é a cutaneolinfática, seguida pelas formas
cutânea localizada (20%), disseminada (cutânea ou sistêmica) e extracutânea (mucosa, óssea, ocular,
articular, visceral).
A forma cutaneolinfática é a mais comum (cerca de 70% dos casos); a lesão inicial (cancro de inoculação) pode
ser pápula, nódulo/goma que ulcera, surgindo então novos nódulos/gomas ao longo de um ou até mesmo
mais de um trajeto linfático até a cadeia ganglionar regional (cordão linfangítico centrípeto); pode ocorrer
adenopatia regional discreta.

A Leishmaniose é um diagnóstico diferencial, no qual se observa úlcera grande e linfangite pequena, ao


contrário da esporotricose em que há úlcera pequena e linfangite grande.

O diagnóstico pode ser feito por cultura, exame histopatológico, imunofluorescência direta e teste de
aglutinação. O teste de cultura apresenta-se na forma miceliana.

Iodeto de potássio KI (2 a 4 g diários) é eficaz e barato para tratamento; a solução saturada KI é uma boa
maneira de administração. O itraconazol é empregado também com grande eficácia; contudo, é bem mais
dispendioso, além de apresentar grande número de interações medicamentosas, sendo igualmente indicado
nos casos de intolerância ao iodeto. A terbnafina i 250 mg/dia é uma opção eficaz, segura e apresenta taxa de
cura maior ou igual ao itraconazol 100 mg/dia.

Cromomicose

É uma infecção fúngica, crônica, polimórfica, da pele e do tecido celular subcutâneo, causada por várias
espécies de fungos demáceos (que produzem pigmento escuro), cujas formas parasitárias são denominadas
corpos escleróticos, acastanhados ou fumagoides.
A penetração do fungo ocorre por traumatismo, sendo, por isso, mais frequente nos membros inferiores.
Cerca de 1 a 2 meses após o trauma, surge, inicialmente, pápula e, mais raramente, nódulo. Posteriormente, as
lesões tornam-se vegetantes, com aspecto condilomatoso e/ou verrucoso e de crescimento contínuo, o que
pode levar à impotência funcional da região afetada após anos.
O diagnóstico é feito por exame direto, cultura, exame histopatológico e provas imunológicas.

Uma das características dessa doença é a difícil resposta aos diversos tratamentos existentes e, inclusive, com
suscetibilidade diferenciada em função do agente. Eletrocoagulação de lesões pequenas e iniciais; remoção
cirúrgica de lesões vegetantes; termoterapia local; itraconazol; anfotericina; nitrogênio líquido.

Micetomas
Síndrome clinicopatológica, caracterizada por aumento de volume de determinada região, à custa de gomas
em várias fases evolutivas, por cujas fístulas é eliminado material necrótico exsudativo, com grãos; tem
evolução crônica. Trata-se de um termo impreciso, pois, na realidade, seus agentes etiológicos não são
exclusivamente cogumelos, sendo também bactérias.
É uma doença crônica, cujo aspecto clínico é exteriorizado por aumento de volume de determinada área à
custa de nódulos e gomas que se intercomunicam por trajetos fistulosos; estes terminam em pequenas
lesões ulceradas com bordas minadas, eliminando um material espesso esbranquiçado e com grãos visíveis a
olho nu; são, pois, processos circunscritos com localização, dependendo da etiologia podal, cervicofacial,
abdominal e torácica.
A assimetria é a regra; o acometimento do membro inferior é mais comum que o superior (8:1);
preferencialmente, o processo localiza-se no pé (dorsal ou ventral); a progressão é lenta, podendo afetar
toda a perna e, até mesmo, todo o membro inferior depois de muitos anos de evolução.

O tratamento é orientado de acordo com o isolamento dos seus agentes etiológicos, sejam bacterianos ou
fúngicos.
Micoses Sistêmicas

Paracoccidioidomicose

Micose crônica, subaguda ou raramente aguda, produzida pelo Paracoccidioides brasiliensis, com
comprometimento tegumentar e visceral. É doença granulomatosa sistêmica potencialmente letal e
considerada a micose endêmica mais importante da América.
A classificação clínica da paracoccidioidomicose é dividida em 4 grandes grupos: infecção, sem lesões
clínicas; crônica do adulto, resultante da reativação de um foco latente de infecção, podendo ser unifocal
(acometimento de um único órgão) ou multifocal (acometimento de vários órgãos); aguda ou subaguda
juvenil; e cicatricial, que corresponde a pacientes tratados, com cicatrizes. O principal órgão acometido é o
pulmão (80 a 90%). Podem ocorrer lesões nas mucosas oral e nasal, laringe, suprarrenais, pele, SNC,

O diagnóstico baseia-se primordialmente na visualização e no isolamento do fungo por meio do exame


direto; contudo, outros parâmetros devem ser averiguados, tais como, exame histopatológico, provas
imunológicas.

Sulfonamidas são eficazes no tratamento, porém atualmente se usa mais a associação de sulfametoxazol e
trimetoprim.
Coccidioidomicose

Micose sistêmica produzida pelo Coccidioides immitis, fungo dimórfico, em que predomina o quadro
pulmonar, comprometendo, com menor frequência, pele, laringe, ossos, articulação, meninges, dentre outros.
Após a contaminação, 60% dos indivíduos apresentam infecção inaparente (intradermorreação+);
geralmente, os demais apresentam infecção moderada ou levemente grave.

O reservatório é o solo, especialmente em locais secos e com pH alcalino. A infecção é adquirida após
inalação de artroconídios do C. immitis de solo de áreas endêmicas; a transmissão por inoculação (inclusive
em acidente de laboratório) não é comum; transmissão durante a gravidez é rara e, quando ocorre, pode
haver mortalidade neonatal. O período de incubação varia de 1 a 4 semanas.
As manifestações mais comuns são: comprometimento respiratório baixo, febre, sudorese noturna, dor
pleural, dispneia, tosse produtiva, artralgia e anorexia. Eritema nodoso, polimorfo e reações exantemáticas
podem ocorrer em até 20% dos casos. Os achados radiológicos revelam adenomegalia hilar e infiltração
pulmonar com derrame pleural.
O diagnóstico diferencial clássico é a tuberculose, pneumonia, paracoccidioidomicose e neoplasias.
Histoplasmose

Micose sistêmica, de acometimento predominantemente pulmonar, causada pelo Histoplasma capsulatum


(Hc) que tem afinidade pelo sistema fagocitário-mononuclear.
Seus esporos são encontrados em cavernas, sótãos, casas velhas e/ou abandonadas, galinheiros e no solo.
Os reservatórios animais são os morcegos, galinhas e outras aves gregárias. A transmissão ocorre pela
inalação dos esporos em suspensão com a poeira nesses locais. O período de incubação é de 3 a 30 dias.
Existem formas assintomáticas. As sintomáticas incluem a histoplasmose pulmonar primária e crônica e a
histoplasmose localizada ou disseminada. As infecções pulmonares são mais frequentes e, quando o fungo
não é eliminado completamente, ele pode se manter no hospedeiro por meio de infecção "latente': Com a
redução da resposta imune, devido à imunossupressão ou imunodeficiência, pode resultar na reativação
endógena da doença, com possível enfermidade sistêmica.
O diagnóstico é feito pelo exame direto, cultura ou provas imunológicas.

Itraconazol 400 mg/dia VO, por 6 a 24 semanas; anfotericina B 0,5 a 0,7 mg/kg/dia durante 10 semanas;
AmBisome 3 mg/kg/dia durante 12 meses.
Criptococose

É uma infecção sistémica causada pelo Cryptococcus neoformans (Cn); fungo leveduriforme, encapsulado,
patogênico para o homem que geralmente penetra no organismo por via respiratória por inalação de
propágulos, determinando lesões pulmonares, em geral regressivas, e focos secundários de disseminação
hematogênica para pele, ossos, rins, fígado, baço e, principalmente, sistema nervoso central, em que se
apresenta como meningoencefalite subaguda ou crônica. É a causa mais comum de micose sistémica em
pacientes com HIV e outras doenças imunossupressoras.
Lesões cutâneas por disseminação hematogênica são observadas em cerca de 10% dos casos, apresentando-
se como pápulas, aspecto molusco-símile característico, papulonecróticas, celulite ou ulcerações, com
drenagem de pus rico em parasitas. As lesões osteoarticulares ocorrem em cerca de 5%, em vértebras, pélvis,
crânio ou costelas. Os rins e a próstata são acometidos sem manifestações específicas; o isolamento do fungo é
feito na urina nas apresentações disseminadas.
Os espécimes analisados são o líquido cefalorraquidiano (LCR), sedimento de urina, lavado broncoalveolar,
exsudatos de feridas, pus aspirado de nódulos flutuantes e biopsias de lesões suspeitas.
Anfotericina B IV com ou sem 5-fluorocitosina (VO por 2 a 3 semanas é o tratamento de escolha nos
pacientes com AIDS). Segue-se itraconazol ou fluconazol, VO ou IV por 10 semanas, respectivamente. O
critério de cura, 3 culturas negativas (líquor), com intervalo de 15 dias; ainda queda nos títulos sorológicos do
látex, inexistência de lesões encefálicas no TC, normalização na taxa de glicose no líquor.

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