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RESUMO
O artigo versa sobre a paz como uma virtude moral, sendo que as virtudes são a nossa
essência como seres humanos. São os elementos do nosso espírito. O conteúdo do nosso
carácter. Cultivá-las é parte central da nossa evolução como pessoa.
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Para o autor da Paz Perpétua, “não há, pois, objectivamente (na teoria), nenhum conflito
entre a moral e a política. Em contrapartida, há e pode haver sempre esse conflito
porque serve de pedra para afiar a virtude, cujo verdadeiro valor não consiste tanto, no
caso presente, em se opor com firme propósito aos males e sacrifícios que se devem
aceitar, mas em olhar de frente o princípio mau que habita em nós mesmos e vencer a
sua astúcia, princípio muito mais perigoso, enganador e traidor, capaz porém de
raciocinar com subtileza e de aduzir a debilidade da natureza humana como justificação
de toda transgressão” (KANT, 1995:163).
Kant considera que os princípios do direito têm realidade objectiva, isto é, podem levar-
se a cabo e, consequentemente, com eles lidar também o povo os Estados uns em
relação aos outros, seja qual for a objecção que a política empírica possa levantar.
Considera ainda que a verdadeira política não pode, pois, dar um passo sem antes ter
rendido preito à moral e, embora a política seja por si uma arte difícil, não constitui arte
contrária à sua união com a moral, pois esta corta o nó que aquela não consegue desatar,
quando entre si surgem discrepâncias. O direito dos homens deve considerar-se sagrado,
por maiores que sejam os sacrifícios que ele custa ao poder predominante; aqui não se
pode realizar uma divisão em duas partes e inventar coisa intermediária (entre direito e
utilidade) de um direito pragmaticamente condicionado, mas toda a política deve dobrar
os seus joelhos diante do direito, podendo, no entanto, esperar alcançar, embora
lentamente, um estádio em que ele brilhará com firmeza.
Deste modo, Kant convoca os Estados a “saírem do estado sem leis e ingressar numa
liga de povos, onde cada Estado, inclusive o mais pequeno, poderia aguardar a sua
segurança e o seu direito, não do seu próprio poder ou da própria decisão jurídica, mas
apenas dessa federação de nações, de uma potência unificada e da decisão segundo as
leis da vontade unida” (Kant, 2006:98).
Kant propõe a criação de um Estado Universal de povos, a cujo poder devem sujeitar-se
livremente todos os Estados para obedecer as suas leis, sugerindo para tanto, a criação
de um Estado jurídico de federação, segundo o direito das gentes em comum.
Kant defende uma federação com a função de simplesmente manter e garantir a paz de
um Estado para si mesmo e, ao mesmo tempo, para os outros Estados federados. Ele
afirma que esta federação não pode tornar-se um Estado mundial e reafirma o princípio
da igualdade dos Estados, bem como a autodeterminação dos povos. A criação da ONU,
por exemplo, foi inspirada no federalismo internacional kantiano.
Habermas, contudo, entende contraditório pretender que exista uma federação de
Estados e que estes mantenham a sua soberania. A defesa de Habermas de um poder
executivo mundial que interfira nos governos nacionais (2002:166) é claramente
intervencionista e demonstra a dificuldade desse pensador em operar com os dados
básicos do poder na sociedade internacional. Enquanto Kant conclui que um governo
mundial geraria pelo menos a tirania mundial, Habermas prefere imaginar uma
protecção global dos direitos.
Segundo Arendt (1993:69), a “paz duradoura só pode ser obtida pelo acordo entre as
nações”. Acredita ainda que as pessoas podem resolver os conflitos por meio da palavra,
isto é, do diálogo intersubjectivo. Para tal, é necessário um espaço, que ela chama de
público, em que as pessoas ou nações se encontram em igualdade para falar, ouvir,
persuadir ou ser persuadido.
Por muitos anos, presumiu-se que a democracia não era um sistema governamental
adequado para aquelas sociedades divididas do pós-guerra. Acreditava-se que as
políticas de igualdade de competição, de liberdade de decisão, e outras implementadas
pelo sistema democrático eram ideais demasiadamente difíceis de serem alcançadas
pelas sociedades emergentes de conflitos (SISK, 2004:98). De facto, o processo de
democratização tende a sofrer reveses no curto prazo, apresentando resultados
completamente opostos aos pretendidos. Este fenómeno decorre da dificuldade em se
distribuir recursos do poder entre os grupos de interesse da sociedade.
O receio aos riscos do processo de democratização deveria ser superado com o maior
envolvimento da sociedade plural, imputando aos diversos grupos de interesse (e não
somente às elites) a capacidade de manifestar as suas propostas políticas através de um
sistema institucionalizado. Larry Diamond (1995:46) sintetizou esta perspectiva em
quatro pontos fundamentais ao sucesso da transição democrática: o reconhecimento das
identidades plurais; a protecção legal dos direitos dos grupos minoritários; a devolução
da capacidade de poder às várias localidades e regiões; a implementação de instituições
políticas que promovam barganha e legitimação do poder central. Neste sentido, a
construção de um sistema democrático deveria viabilizar a participação igualitária dos
diversos grupos sociais através da qualificação dos seus meios procedimentais de
decisão. A implementação destes programas provocaria uma redistribuição das forças
políticas, criando, assim, um contra-balanceamento à influência das elites, e maior
eficácia das instituições na transição política.
Conclusão
Referencia Bibliográficas
Character Strengths and Virtues: A Handbook and Classification. Martin Seligman,
Christopher Peterson, 1st Edition.
Dicionário de Filosofia, Nicola Abbagnano. Martins Fontes, São Paulo, 2007.
Ética a Nicômaco, Aristóteles. Ed. Martin Claret.
Licenciado em Ensino de Filosofia, professor de Filosofia na Escola Secundária
Armando Emílio Guebuza, no distrito de Catandica, Manica.
Mestre em Educação em Ensino de Filosofia, docente na Universidade Pedagógica,
delegação da Beira. Área de pesquisa: Filosofia da Interculturalidade (Epistemologia
dos saberes locais e Filosofia política)..
Toward perpetual peace. An philosophical project. (tr.: Mary Gregor). Em: KANT.
Practical philosophy. (org. Mary Gregor). Cambridge: Cambridge U.P., 1996.
[idem].