Você está na página 1de 3

Lucas Spricigo

Psicologia Organizacional e do Trabalho II


FICHAMENTO - A mediação emocional na constituição de um grupo
comunitário: 1.3 - Sobre o Processo Grupal
“O grupo usualmente é entendido como um conjunto de pessoas que
interagem entre si e compartilha normas e objetivos em comum (Martins, 2003, p.
202), visão tradicionalmente ligada à teoria de K. Lewin (Lane, 1984, p. 78). Porém
deve-se atentar que na vida cotidiana estão presentes diversas formas de
interações e relacionamentos entre as pessoas que se chama de grupos, usa-
se esse mesmo termo para a família, amigos, a igreja e tantos outros,porém
adverte Martin-Baró (1983, p. 190) que o uso do termo “grupo”
indiscriminadamente para realidades tão distintas serve de filtro ideológico pois
assimila de forma unilateral e distorcida a diversidade da natureza e sentido
dos diversos grupos que existem em cada circunstância histórica e que tem
um significado social real.” (pág 19).
“A primeira suposição é que devemos entender o homem como
estamos lidando como um homem alienado, ou seja, suas representações e sua
consciência de si e do outro são sempre, ao menos num primeiro momento,
fundamentalmente desencontradas das determinações concretas que a
produziram. Ele sempre possui dois tipos de vivência: a subjetiva e a
objetiva.” (pág 20).
“Na análise dos grupos devemos considerar essas duas vivências e as
contradições que se expressam nas ações, pensamentos e sentimentos dos
indivíduos gerados por esse contraste. Em segundo lugar, devemos
considerar que todo grupo existe dentro de uma instituição, seja a família,
universidade, ONG e o Estado. Isso tem implicações importantes em sua análise,
pois toda instituição tem regras, interesses de pessoas e grupos distintos
(sejam explícitos ou não), determinantes históricos, sociais e políticos.” (pág
21).
“Segundo Martin-Baró (1983, p.206) um grupo poderia ser definido como
estrutura de vínculos e relações entre pessoas que canaliza em cada
circunstância suas necessidades individuais e ou os interesses coletivos.Isso
significa que um grupo é antes de qualquer coisa uma estrutura social, uma
realidade total e não pode ser reduzida a soma dos indivíduos, pois estão
sujeitos a ideologia e a representação como instituição na sociedade, por
exemplo, uma família é mais que pais e filhos, onde estão presentes as relações
que são influenciadas pela forma de constituição familiar dominante, enquanto
representação social, e isso determina em algum nível as relações e vínculos
entre si” (pág 21).
“Martin-Baró (1983, p.208) define como parâmetros válidos para se
analisar um grupo são: (1) a identidade do grupo, isto é, a definição do que
o caracteriza como tal frente a outros grupos; (2) o poder de que dispõe o
grupo em sua relação com os demais grupos mais a significação social do
que produz essa atividade grupal.” (pág 22).
“Em um grupo há uma definição de suas partes, isto é, uma
regulamentação das relações entre os membros do grupo através da
distribuição de tarefas, cargos formais ou não (são os papéis atribuídos pelo
grupo) e atribuições de responsabilidades eações.No interior de um grupo, a
divisão de papéis e a estratificação não é resultado somente de uma dinâmica
autônoma, de forças que emergem originalmente através da interação de seus
membros, mas o grupo é um lugar social onde se atualiza e se solidificam
as forças existentes em uma sociedade através dos papéis
desempenhados, pois estes são os determinantes básicos tanto da estratificação
social quanto da identidade do próprio indivíduo.” (pág 23).
“Quando os membros de um grupo se diferenciam conforme alguma
característica de status externa, essa diferença de status determina a
hierarquia de poder e prestígio no interior do grupo, tanto se essa
característica se relaciona com a atividade do grupo ou não.” (pág 24).
“A consciência de pertencer a um grupo pode ser verificada quando o
indivíduo toma esse grupo como uma referência importante na constituição de sua
própria identidade ou tem um papel importante em sua vida. Esse
envolvimento pode ser intenso ou crucial ou também pode ser muito
superficial ou circunstancial.” (pág 25).
“A referência grupal terá para as pessoas um caráter normativo ou
instrumental, positivo ou negativo, da qual seus membros desejam libertar-se ou
não, na medida da sua identificação como o grupo, isto é, da sua aceitação
do grupo e o quanto assumirem os objetivos grupais como algo de si mesmas. A
identidade grupal tem duas faces: uma face fora em uma face de dentro, ou seja, a
face de fora é dada pela relação do grupo com outros grupo se pessoas, numa
relação de espelho, isto é, frente aos que os outros grupos lhe dão, lhe
exigem, lhe atribuem e esperam dele, enquanto a face de dentro é definida
pela consciência que os membros têm do próprio grupo e do que o grupo
representa para elas.” (pág 26).
“Outro aspecto que define a identidade de um grupo é o que ele
produz, ou seja, sua tarefa específica, seu produto, é tudo que o grupo
consegue produzir coletivamente, seja material ou simbólico.” (pág 27).
“O movimento grupal evolui a partir das transformações nos
relacionamentos interpessoais, e requerem que os indivíduos avancem a
consciência de si e do social. O movimento de consciência relaciona-se com a
qualidade das relações sociais vivenciadas no movimento de constituição do
indivíduo. O grupo é uma totalização em processo. Há momentos no grupo
que se interrelacionam e o levam da condição de não grupo para a condição
de grupo.” (pág 28).
“Há muita competição interna no grupo e o outro é visto como uma
ameaça.Nesse momento o outro assume a condição de “coisa”. Os
sentimentos e sensações mais presentes são: o sentimento de solidão e
desconfiança. Porém, nesse momento ocorre uma implicação significativa que
pode gerar um avanço para o grupo, nesse momento percebe-se um início
da percepção das necessidades pessoais, há conflito entre os interesses
pessoais e a sobrevivência do indivíduo e do grupo.(Reboredo, 1995, 39).” (pág 29).
“O momento de Fraternidade-Terror começa a esboçar-se quando grupo
entra na fase de Organização, mas seu germe está no Juramento, onde o
temor pela dispersão é constante. Nesse momento há ações mais duras para
controlar as possibilidades de fuga, desvio e não participação.” (pág 30).
“A Institucionalização significa a separação dos membros do grupo. A
diversidade de tarefas impõe a cisão e a especialização dos indivíduos,
possibilitando a formação de subgrupos e aumentando as possibilidades de
dispersão. Há uma perda da mobilidade grupal,um aumento do autoritarismo e a
cristalização das relações, que leva a cristalização de papéis e a ameaça da
burocratização do grupo. É a morte do grupo.” (pág 30).
Um grupo não é apenas um conglomerado de pessoas, mas uma união de
relações, sendo elas importantes individualmente a cada membro, que enxerga por
si só uma estruturação diferente de como aquele grupo se compõe e se porta diante
dele mesmo.

Você também pode gostar