Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/258498681
Punção de Líquor
CITATIONS READS
0 22,262
4 authors:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Felipe von Glehn on 20 May 2014.
Sumário
Introdução
Punção Lombar
Indicações
Contra-indicações
Complicações
Cefaléia pós-punção
Acidente de punção
Punção seca
Dor irradiada para membros inferiores
Técnica
Vias de acesso alternativo
Punção cisternal
Punção cervical lateral
Síndromes liquóricas
Recomendações
Bibliografia
Seção II – Sistema Neurológico
Capítulo 10
PUNÇÃO DE LÍQUOR
Carlos Otávio Brandão
Lidiane Soares Campos
Felipe von Glehn
Tânia Aparecida Marchiori de Oliveira Cardoso
Introdução
O líquor (Líquido Cefalorraquiano- LCR) é um fluído oligocelular, límpido e
incolor que preenche os ventrículos cerebrais e o espaço subaracnóideo,
circundando o encéfalo e a medula espinhal. Devido à proximidade do sistema
nervoso, o estudo liquórico reflete o processo patológico que ocorre em diversos
distúrbios neurológicos. O exame consiste principalmente na observação da
composição físico-química, citológica, microbiológica e imunológica do LCR. As
modificações detectadas na sua composição, fluxo e pressão auxiliam no
diagnóstico e tratamento das patologias do sistema nervoso.
A via de acesso ao LCR preconizada pela Academia Brasileira de Neurologia
é a punção lombar (PL), que foi descrita por Quincke, em 1891. Atualmente, a PL é
considerada um ato médico de rotina para anestesia, diagnóstico, pesquisa ou
tratamento de doenças que acometem o sistema nervoso central (SNC) e raízes
nervosas. A compreensão dos aspectos anatômicos é fundamental para o sucesso
e a segurança do procedimento.
Este capítulo tem por objetivo discorrer sobre aspectos relacionados à técnica
da punção lombar, suas indicações, contraindicações, complicações e as principais
síndromes liquóricas, especialmente em unidades de terapia intensiva (UTI).
Punção Lombar
Indicações
A punção lombar em UTI tem como principal objetivo examinar o líquor e sua
hidrodinâmica, especialmente anormalidades na pressão liquórica e bloqueio
subaracnóideo espinhal. O estudo liquórico é essencial para o diagnóstico
diferencial e acompanhamento de diversas síndromes neurológicas: síndromes
infecciosas agudas (meningites, encefalites, mielites, radiculites) e crônicas (HIV,
sífilis, cisticercose, criptococose, tuberculose); síndromes neoplásicas
(carcinomatose meníngea, leucemias, linfomas); síndromes paraneoplásicas;
síndromes vasculares (hemorragia subaracnóidea); síndromes inflamatórias do SNC
(vasculites, sarcoidose); síndromes do pseudotumor (hipertensão intracraniana
idiopática); doenças autoimunes do SNC (esclerose múltipla, neuromielite óptica);
doenças autoimunes do SNP (polirradiculoneurites) e doenças neurodegenerativas
(doença de Alzheimer, doenças priônicas).
A punção terapêutica é muito utilizada para drenagem do LCR em alguns
quadros de hidrocefalia (hipertensão intracraniana idiopática e hidrocefalia de
pressão normal) e para introdução de determinadas drogas, como: álcool e fenol
(tratamento de dor e espasticidade); quimioterápicos (tratamento das leucemias,
linfomas e outras neoplasias); antibióticos e antifúngicos (algumas formas de
meningites e ventriculites).
Contra-indicações
Complicações
Cefaléia pós-punção
Cefaléia é o efeito adverso mais frequente da punção lombar (15- 30% dos
pacientes). Caracteriza-se por dor occipital que aparece até cinco dias após a
punção e, quando mais intensa, pode ser acompanhada por vertigens, rigidez de
nuca, zumbido, hipoacusia transitória, borramento da visão, fotofobia, náuseas e
vômitos. Ela aparece quando o paciente fica de pé ou levanta a cabeça e tende a
melhorar em até 30 minutos após decúbito. A duração pode variar com de 1-2
horas, resolução espontânea dentro de uma semana, ou ser incapacitante até duas
semanas. Estatura elevada, sexo feminino, pacientes jovens entre 15 e 40 anos,
maior calibre da agulha (menor que 20G), agulha traumática (tipo Quincke),
pacientes muito magros, número de punções ou história de cefaléia prévia são
fatores descritos como associados ao aparecimento ou piora da cefaléia pós-
punção.
Entre as possíveis teorias para a cefaléia pós-punção estão o
extravasamento de líquor através de orifício dural, criado pela punção lombar, com
uma redução de volume do compartimento liquórico e consequente queda do
encéfalo sobre a fossa posterior, tracionando as estruturas da convexidade cerebral,
como os seios venosos. A diminuição do volume liquórico seria compensada por
uma vasodilatação venosa, sendo a dor desencadeada pela distensão vascular. A
dor de cabeça não parece ser dependente da quantidade de LCR retirada, exceto
se retirados mais do que 30 ml, e pode ocorrer em pacientes puncionados sem
retirada de LCR.
Esta situação adversa normalmente é resolvida com a orientação de repouso
absoluto no leito, com a cabeça tão baixa quanto, ou mais baixa do que o restante
do corpo, por alguns dias. Analgésicos e sedativos convencionais podem ser
necessários e a ingestão de líquidos deve ser recomendada. Nos casos mais
graves, que não respondem ao repouso, o tamponamento sanguíneo epidural
(injeções epidurais do próprio sangue do paciente) pode ser necessário para
interromper o vazamento do LCR. A melhora da cefaléia começa dentro de poucas
horas e ela, geralmente, desaparece em 48 horas (tratamento eficaz em 80-95%
dos pacientes).
Acidente de Punção
Punção Seca
Passo 2: Posicionamento
A agulha deve ser bem afilada e ter um bisel curto com um estilete (mandril)
bem ajustado. Após alguns minutos da introdução do anestésico local, a agulha
deve ser inserida na pele inferiormente no espaço intervertebral determinado pela
palpação do processo espinhoso. A inserção deve ser feita na linha média em
direção à cicatriz umbilical, perpendicular ao plano das costas e paralela ao plano
horizontal do leito, ou em algumas ocasiões, levemente inclinada no sentido
cefálico. A agulha pode também ser inserida, como alternativa, 1-2 cm lateral à linha
média e avançada com um ligeiro ângulo em direção à linha média. O bisel (a parte
cortante da agulha) deve ser mantido paralelo às fibras durais (voltado para cima na
posição de decúbito ou para os lados na posição sentada). A dura-máter é
composta por fibras dispostas longitudinalmente, desta forma, a agulha deve ser
inserida separando suas fibras ao invés de cortá-las, diminuindo os riscos de
vazamento de líquor (fístula) e, consequente, cefaléia pós-punção.
Após a penetração da pele, a agulha deve ser realinhada e aprofundada lenta
e cuidadosamente com as duas mãos. O percurso, até chegar ao espaço
subaracnóideo, inclui pele, tecido subcutâneo, ligamento supraespinhal, ligamento
interespinhoso, ligamento amarelo, espaço epidural (gordura), dura-máter,
aracnoide e, finalmente, entra no espaço subaracnóideo. Nos adultos, a agulha
pode percorrer cerca de 5-6 cm até chegar ao espaço, dependendo da espessura
dos músculos lombares e tecido subcutâneo. Não é recomendado modificar o curso
da agulha durante a penetração; se houver obstáculo, a agulha deve ser recuada
até o tecido subcutâneo e reintroduzida com um ângulo levemente diferente. Ao
passar pelo ligamento amarelo, a agulha alcança o espaço epidural e o examinador
tem a sensação de queda abrupta da resistência podendo sentir um leve estalo ou
clique. Neste momento, o mandril deve ser retirado para verificar se a agulha está
no espaço subaracnóideo. Se nenhum fluído for obtido, o mandril deve ser
reposicionado e ajustado novamente na agulha. A partir daí, deve-se avançar
lentamente, retirando o estilete da agulha a cada 2 mm para verificar a saída de
líquor. É bastante comum sentir outro clique quando a agulha penetra através da
dura. Neste instante, o mandril deve ser retirado novamente, e, caso não ocorra
drenagem do fluído, a posição da agulha deve ser reajustada levemente ou rodada
cerca de 90º, pois sua ponta pode estar obstruída por uma raiz nervosa ou um filme
de tecido aracnóideo.
Em caso de insucesso (punção seca ou resistência óssea), a agulha deve ser
recuada até próximo à pele e redirecionada, com revisão dos pontos anatômicos
antes da reintrodução. A agulha não deve ser introduzida tão profundamente, pelo
risco de traumatismo do disco intervertebral ou dos plexos venosos extradurais.
Caso haja drenagem de sangue (acidente de punção), antes de penetrar a
aracnoide, a agulha deve ser substituída e a nova inserção deve ser,
preferencialmente, em outro espaço. Ocasionalmente, pode ocorrer uma dor
lancinante irradiada para uma perna e isto indica que uma das raízes da cauda
equina foi traumatizada. Esta dor normalmente desaparece imediatamente e não é
recomendado modificar a posição da agulha durante o gotejamento.
Após o início do gotejamento do líquor, o mandril deve ser reintroduzido e o
paciente deve ser tranquilizado, relaxando levemente suas pernas e pescoço,
explicando que a punção foi um sucesso e que não haverá mais desconforto, para,
então, finalizar o procedimento (raquimanometria e coleta do líquor).
Síndromes liquóricas
Síndromes infecciosas
Síndromes paraneoplásicas
Síndromes vasculares
O SNC pode ser afetado por lesões inflamatórias em associação ou não com
várias condições sistêmicas como sarcoidose, vasculites e doenças reumatológicas.
Os achados liquóricos são inespecíficos e incluem pleocitose variável, aumento de
proteínas e ocasionalmente síntese intratecal de anticorpos. A definição do
diagnóstico envolve a exclusão de doenças infecciosas do SNC e investigação
detalhada para outras síndromes inflamatórias sistêmicas.
Doenças neurodegenerativas
Bibliografia
1. Amorim JA, Valença MM. Postdural puncture headache is a risk factor for new
postdural headache. Cephalalgia 28: 5-8, 2007.
2. Bakshi R, Mechtler LL, Kamran S. MRI findings in Lumbar Puncture Headache
Syndrome: Abnormal Dura-Meningeal and Dural Venous Sinus Enhancement.
Clinical Imaging 23: 73-6, 1999.
3. Boon JM, Abrahams PH, Meiring JH, Welch T. Lumbar puncture: anatomical
review of a clinical skill. Clin Anat 17: 544-53, 2004.
4. Fishman RA. Cerebrospinal Fluid in diseases of the Nervous System: 2 nd
edition. Philadelphia, W.B. Saunders Company, 1992.
5. Headache Classification Subcommittee of the International Headache Society.
The International Classification of Headache Disorders: 2nd edition.
Cephalalgia 24: 9-160, 2004.
6. Kaube H, Hoskin KL, Goadsby PJ. Activation of the trigeminovascular system
by mechanical distension of the superior sagittal sinus in the cat. Cephalalgia
12: 133-6, 1992.
7. Livramento JA. Coleta de Líquido Cefalorraquidiano, Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido e Aspectos Éticos em Pesquisa. Arq Neuropsiquiatr 60:
681-4, 2002.
8. Michel O, Brusis T. Hearing loss as a sequel of lumbar puncture. Ann Otol
Rhinol Laryngol 101: 390-4, 1992.
9. Mokri B. Headaches caused by decreased intracranial pressure: diagnosis and
management. Curr Op Neurol 16: 319-26, 2003.
10. Puccioni-Sohler M, Machado LR, Canuto R, Takayanagui OM, Almeida SM,
Straus SE, Thorpe KE, Holroyd-Leduc J. How do I perform a lumbar puncture
and analyze the results to diagnose bacterial meningitis? JAMA 25; 296: 2012-
22, 2006.
11. Rossitti SL, Balbo RJ. Lateral cervical puncture for myelography and
cerebrospinal fluid collection: technical note. Arq Neuro Psiquiat 46:397-400,
1988.
12. Vilming ST, Kloster R, Dandvik L. The importance of sex, age, needle size,
height and body mass index in post-lumbar puncture headache. Cephalalgia
21: 738-43, 2001.
13. Vilming ST, Kloster R, Dandvik L. When should an epidural blood patch be
performed in postlumbar puncture headache? A theoretical approach based on
a cohort of 79 patients. Cephalalgia 25: 523-7, 2005.
14. Williams J, Lye DCB, Umapathi T. Diagnostic lumbar puncture: minimizing
complications. Internal Medicine J 38: 587-91, 2008.
15. Wright BL, Lai JT, Sinclair AJ. Cerebrospinal fluid and lumbar puncture: a
practical review. J Neurol: Epub Jan 26 2012, 2012.
16. Yousry I, Forderreuther S, Moriggl B, Holtmannspotter M. Cervical MR Imaging
in Postural Headache: MR Signs and Pathophysiological Implications. Am J
Neuroradiol 22: 1239-50, 2001.