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PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE

AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE
Marck de Souza Torres

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Olá!
Você está na unidade Avaliação da personalidade. Conheça aqui os elementos que compõem o conceito de

personalidade, baseado nos modelos de compreensão da personalidade, tais como a teoria dos traços, a teoria

cognitiva da personalidade e a teoria motivacional.

Aprenda os conceitos-chaves, como as características inatas (temperamento), ambientais e sociais que explicam

o conceito da personalidade; como avaliar traços de personalidade; como a cognição influencia na constituição

da personalidade e a pirâmide motivacional de Maslow. Além dessas características, conheça as diferenças

conceituais entre traços, caráter, temperamento e a estrutura das principais concepções de personalidade.

Bons Estudos!

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1 Elementos da personalidade
Ao lidar com pessoas, você deve ter feito alguns questionamentos, por exemplo: Por que as pessoas agem de tal

forma diante de determinado evento da vida? Por que algumas pessoas parecem não se abalar emocionalmente

em situações adversas? Como posso saber quem sou de “verdade”?

Essas perguntas demonstram o interesse sobre a personalidade e a sua principal expressão que é o

comportamento. A psicologia, então, buscar descrever os principais elementos para explicar os efeitos da

personalidade no comportamento humano, demonstrando a existência de múltiplos modelos explicativos.

Vamos, então, conhecer esses modelos.

Sabe-se que desde o nascimento todos os seres humanos passam por etapas do desenvolvimento que

influenciam de forma direta a construção da personalidade. Para a sua formação, temos elementos genéticos

herdados (denominado temperamento), temos elementos ambientais/contextuais que influenciam de modo

direito. Portanto, para explicar o conceito de personalidade, é necessária a junção de várias ciências, como

filosofia, psicologia, sociologia, antropologia e medicina (VOLPI, 2004).

Para compreender a personalidade, você precisa saber que não existe uma única explicação, além de aceitar que

os diferentes modelos não excluem um ao outro, muitos são complementares. Durante seus estudos, você talvez

se interesse por algum conceito ou teoria por afinidade, respeite esse interesse e aprofunde o conhecimento.

Conhecer bem o modelo escolhido fará diferença na hora que você for opinar sobre algo relacionado às

características de personalidade.

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1.1 Breve história do conceito de personalidade

A história da psicologia da personalidade remonta à Grécia Antiga. De fato, os filósofos desde o século IV tentam

definir exatamente o que é que nos torna quem somos. Em 370 a.C., Hipócrates propôs dois pilares do

temperamento: quente/frio e úmido/seco, resultando em quatro humores ou combinações dessas qualidades. A

combinação quente e seca foi referida como bile amarela, fria e seca como bile preta, quente e úmido era

sangue e frio e úmido era catarro. Embora grande parte do trabalho que surgisse dessa teoria dos Quatro

Humores fosse de natureza medicinal, também se supunha que a personalidade de um paciente pudesse ser

influenciada por desequilíbrios humorais.

Essa maneira categórica de pensar sobre a personalidade permeava o pensamento antigo sobre o assunto. Platão

propôs quatro agrupamentos (artístico, sensível, intuitivo, raciocínio) e Aristóteles hipotetizou quatro fatores

(icônicos, ou seja, artísticos; písticos, ou seja, senso comum; noético, ou seja, intuição; e dianoético, ou seja,

lógica) contribuíram para a ordem social da sociedade.

Assim, pode-se definir a personalidade como a forma de se apresentar no mundo, com traços e características,

adaptando-se ao logo do ciclo da vida, inclusive podendo mudar algumas características quando expostos a uma

intervenção psicológica.

Figura 1 - Mente
Fonte: agsandrew, Shutterstock, 2020.

#PraCegoVer: A imagem mostra a representação de uma mente em 3D.

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Você já deve ter ouvido a palavra temperamento, inclusive utilizou para descrever o comportamento emocional

de uma pessoa. O que talvez você desconheça é a origem desse termo, que advém do latim temperare e significa

equilíbrio. Os primeiros filósofos a utilizarem tal termo foram Empédocles e Hipócrates para designar os

humores e os classificados sanguíneo, fleumático, colérico e melancólico (PASQUALI, 2000).

O que podemos aprender com a teoria do temperamento?


• O temperamento é de origem genética.
• As características são visíveis desde o nascimento e podem ser reconhecidas e readaptadas ao longo da
vida.
• Temperamento humano e animal aproximados.
• O temperamento se relaciona a uma parte da vida das pessoas.
• Apresenta diferentes classificações e se apresenta com estilos pessoais individuais.
As limitações da teoria do temperamento implicaram o avanço sobre a compreensão da personalidade,

particularmente na ampliação do conceito para além de uma perspectiva biológica. Assim, surgiu a teoria dos

traços, que aponta como se designam as diferenças individuais entre as pessoas, indicando a estabilidade da

vida e possibilitando a discussão da influência ambiental/grupo na constituição da personalidade (ROBERTS;

MROCZEK, 2008).

Considera-se como avanço na compreensão das terminologias para descrever a personalidade o caráter, que se

caracteriza por atitudes habituais de uma pessoa e seu padrão de resposta diante de uma determinada situação.

Como exemplo, temos a forma do comportamento (timidez, agressividade, honestidade) e as atitudes físicas

(posturas, modo de movimentar o corpo). Por fim, o caráter é designado pelos atos comportamentais da pessoa

na sociedade (REICH, 1995).

Outros dois fatores influenciam na personalidade de uma pessoa, como podemos ver a seguir:

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Figura 2 - Descrição dos fatores básicos da personalidade
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.

#PraCegoVer: A imagem mostra um esquema com duas colunas descrevendo os fatores básico da

personalidade. Do lado direito os fatores ambientais, que descreve o contexto onde a pessoa vive, e do lado

esquerdo fatores hereditários, que descreve os conteúdos genéticos.

A definição do conceito de personalidade não é algo fácil, tendo em vista a multiplicidade de teorias e pesquisa

sobre a leitura da psicologia da personalidade. Contudo, a seguir estudaremos ferramentas para avaliação da

personalidade que podem clarear o tema.

Assista aí

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/adf9a51c07c886204b0a74b18c6ef39f

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1.2 Ferramentas para avaliação da personalidade

A personalidade é constituída por aspectos genéticos, afetivos, cognitivos e motivacionais que podem ser

compartilhados, porém cada pessoa vivencia isso de forma particular. Percebe-se que com o desenvolvimento

das pessoas ocorre a maturação, tornando características consideradas inadequadas, possíveis de serem

revertidas, e fortalecendo características que são positivas.

Contudo, você deve estar percebendo que devido à complexidade do conceito, avaliar, compreender e estudar a

personalidade pode se tornar impossível. Para facilitar, os profissionais de psicologia desenvolveram métodos e

técnicas com foco na avaliação de diferentes aspectos da personalidade, para tornar minimamente visível essas

características, possibilitando conhecimento e amadurecimento das pessoas.

Em termos de maturidade psicológica, a Alliance of Psychoanalytic Organizations (2006) considerou que alguns

pontos devem ser desenvolvidos, como:

Quadro 1 - Características de maturidade psicológica


Fonte: WELLAUSEN; OLIVEIRA, 2015 (Adaptado).

#PraCegoVer: A imagem mostra um quadro com sete características principais sobre o que esperar de uma

pessoa com personalidade madura.

Após refletir sobre essas características da personalidade, você deve se perguntar como psicólogas(os)

conseguem descrever a personalidade de uma pessoa com segurança e confiabilidade, respeitando os preceitos

científicos. Essa resposta está nos métodos e nas técnicas reconhecidos e validados ao longo de pesquisa e

prática profissional. A seguir conheceremos alguns.

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Figura 3 - Técnicas para avaliar a personalidade
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.

#PraCegoVer: A imagem mostra um organograma em círculo. No centro de cor azul está escrito personalidade;

acima, no círculo vermelho, está escrito entrevista; no círculo à direita, em marrom, está escrito observação; no

círculo central inferior, em amarelo, está escrito testes projetivos; e no círculo à esquerda, em verde, está escrito

testes objetivos.

A entrevista no campo da psicologia é o recurso mais utilizado, porque seu principal objetivo é coletar o maior

número de informações possíveis das pessoas que procuram pelo atendimento psicológico. Caracteriza-se como

uma técnica muito simples, mas se não for bem executada, poderá não conseguir obter o êxito esperado.

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A literatura aponta que existem três tipos de entrevistas, que serão realizadas de acordo com os objetivos da

coleta de dados e contam com a experiência do entrevistador. Temos então os seguintes tipos de entrevista,

segundo Tavares (2007):

Estruturada

Caracterizada por diretividade, com perguntas e respostas bem planejadas, com alto nível de rigor metodológico,

é utilizada para avaliação psicológica e com recurso de pesquisas. O principal foco é coletar as informações

seguindo um protocolo bem planejado.

Semiestruturada

Apresenta flexibilidade, porque apresenta um misto de perguntas abertas e fechadas, contendo qualitativa. O

entrevistar é responsável por fazer fluir a entrevista, com possibilidade de liberdade nas respostas.

Livre

Exige muita experiência do entrevistador, porque as perguntas são feitas de forma espontânea, criativa, sem

roteiro pré-definido. O encontro entre entrevistador e entrevistado e a capacidade de aprofundar ou não as

temáticas propostas vão definir a manutenção desse espírito livre ou a retomada da entrevista como

preconizada pelos modelos anteriores.

Apesar da separação didática exposta acima, por vezes os três tipos podem ser usados de forma complementar.

Ressalta-se que para uma melhor qualidade da coleta de dados utilizando a entrevista como padrão, é preciso

realizar treinamentos, pois a arte de entrevistar é uma habilidade a ser desenvolvida, particularmente

experimentando e avaliando os diferentes tipos de entrevistas, sem esquecer que cada pessoa vai responder a

esse instrumento de modo único e de acordo com suas características de personalidade.

Quantas vezes no cotidiano você observou alguém e ficou atento ao seu comportamento e até opinou sobre

características dessas pessoas? A observação é inerente à condição humana, ou seja, somos seres observadores

e utilizamos os resultados internos dessa prática para tomar decisão sobre o que fazer, para onde ir e como

reagir.

Porém, você não sabia que podia utilizar esse recurso para avaliar características de personalidade e garantir

rigor metodológico. À medida que as situações mudam, a resposta comportamental se altera, constituindo-se

como estratégia de aprofundamento para compreender a vida.

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A depender do tipo de observação do comportamento e do contexto, por exemplo clínico (para fins diagnóstico

laboratorial ou pesquisa experimental) ou ambiente naturalístico (mundo real), podem ser de estruturadas de

duas maneiras: sistemática ou assistemática (FERREIRA; MOUSQUER, 2004).

Caracteriza-se por planejamento e protocolos bem estruturados e controlados, pois devem


Observação
apresentar rigoroso formato de registro e codificação, muito utilizada em pesquisa e em
sistemática
ambientes naturalísticos.

Observação Possibilita criatividade na estratégia, além de respeitar o advir das situações, sem

assistemática estrutura rígida, o registro vai ganhando forma à medida que o processo ocorre.

Observar as pessoas, seja de forma sistemática ou assistemática, nos permite conhecê-las melhor, descrevendo

pormenorizadamente suas características e avaliando com fidedignidade para não dar margens ao senso comum.

Treine observar os comportamentos e você conseguirá tomar decisões mais acertadas sobre como reagir com as

pessoas em diferentes relações. Vamos conhecer agora os instrumentos com maior confiabilidade nos resultados

apurados.

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1.3 Testes psicológicos

Na psicologia existe um campo denominado Avaliação Psicológica, que se caracteriza prioritariamente pelo uso

de testes psicológicos. Todos já passaram por alguma avaliação em algum momento da vida. Se você, por

exemplo, tirou a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) provavelmente se submeteu a esse processo, e ali sua

personalidade foi avaliada, mas o resultado final foi apenas um pequeno recorte de quem você é, porque o foco

era sua aptidão para dirigir.

No Brasil, o uso dos testes psicológicos é regulado pelo Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (Satepsi),

órgão ligado ao Conselho Federal de Psicologia (CFP), desde 2015 existem 16 testes psicológicos para avaliação

da personalidade. Veremos a seguir alguns dos mais utilizados para esse tipo de avaliação.

• Inventário Fatorial de Personalidade (IFP-II)

É baseado na teoria das motivações de Murray e oferece uma estimativa de 13 necessidades psicológicas

básicas: assistência, intracepção, afago, autonomia, deferência, afiliação, dominância, desempenho,

exibição, agressão, ordem, persistência e mudança. O IFP-II também oferece informações sobre três

outros fatores de ordem superior: necessidades afetivas, necessidades de organização e necessidades de

controle e oposição (LEME et al., 2013).

• Escala de Personalidade de Comrey (CPS)

É um teste baseado na teoria dos traços e fatores. Por meio desse teste, o psicólogo tem uma estimativa

de oito traços da personalidade: confiança versus atitude defensiva, ordem versus falta de compulsão,

conformidade social versus rebeldia, atividade versus falta de energia, estabilidade versus instabilidade

emocional, extroversão versus introversão, masculinidade versus feminilidade e empatia (altruísmo)

versus egocentrismo. A CPS oferece também duas medidas de validade das respostas do examinando:

Escala de Validade e Escala de Tendenciosidade nas Respostas (COSTA, 2009).

• Inventário de Personalidade Neo Revisado (NEO-PI-R)

A versão original do Neuroticism Extraversion Openness Personality Inventory Revised 14 consta de 240

itens/afirmativas de autorresposta que devem ser pontuados em uma escala Likert de cinco pontos, a

qual vai de “discordo totalmente” até “concordo totalmente”. Versões da NEO foram validadas para o

português de Portugal e do Brasil (FLORES-MENDONZA, 2007).

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Existem muitos testes que avaliam objetivamente a personalidade, recomenda-se consultar o site da SATEPSI

para conhecer outras escalas, baterias e inventários.

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1.4 Técnicas projetivas e expressivas

As técnicas projetivas, ao contrário dos testes objetivos, propõem uma avaliação mais compreensiva da

personalidade, apresentando material desestruturado, com foco na significação dos avaliandos diante da prova,

além de as respostas poderem possuir múltiplos significados, sendo necessário treinamento e experiência clínica

do avaliador para uma confiança nos resultados, para futura tomada de decisão. No SATEPSI estão disponíveis

11 técnicas projetivas para avaliação dinâmica/compreensiva da personalidade. A seguir conheceremos algumas:

• Pirâmides Coloridas de Pfister

O indivíduo deve selecionar as cores de sua preferência e organizá-las em uma estrutura de pirâmide. O

modo de colocação, a forma de execução, o aspecto formal das pirâmides e a quantidade de cores

utilizadas, entre outras variáveis, são codificadas e quantificadas de modo a oferecer um entendimento

da dinâmica emocional do examinando (VILLEMOR-AMARAL, 2014).

• Teste de Apercepção Temática Infantil – CAT-A

Esta técnica é constituída por 10 cartões preto e branco com figuras de animais que remetem a

diferentes contextos da vida familiar. As crianças são convidadas a contar histórias sobre os cartões,

como as ações dos animais, e a imaginar o que poderia estar acontecendo naquela situação. O objetivo do

teste é descrever de modo dinâmico as características das crianças em relação ao desenvolvimento

psicossexual, mecanismo de defesa e relacionamento com as figurais parentais e familiares (BELLAK;

ABRAMS, 2010).

• Teste de Apercepção Temática Adulto – TAT

Este instrumento é composto por 31 pranchas, divididas em estímulos para homens e mulheres. A tarefa

principal é contar história sobre as imagens, de forma livre, sem receio. O teste é aplicado a partir dos 12

/13 anos. A correção proporciona ao avaliador a compreensão dos principais conflitos de personalidade,

mecanismos de defesas e características mais profundas da personalidade, indicando ou não a

necessidade de psicoterapia (MURRAY, 2005).

• Rorschach

O teste de Rorschach é constituído por 10 pranchas com borrões de tinta, sendo cinco acromáticas

(preto, branco e cinza) e cinco coloridas, sendo duas em preto e vermelho e três em cores pastel. Seu

objetivo é avaliar a forma como os avaliandos irão estruturar a resposta em relação ao cartão, indicando

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elementos constitutivos (estáveis da personalidade). É considerado um dos testes de personalidade mais

completo do mundo, por seu rigor metodológico e sua confiabilidade nos resultados, porque sua

correção tem dupla possibilidade: oferecer um quadro mais estatístico da personalidade e, em seguida,

uma compreensão mais qualitativa, portanto, dinâmica dessa personalidade (PASIAN, 2010).

Você notou que a psicologia tem muitos instrumentos para auxiliar na avaliação da personalidade, portanto,

fazer julgamentos apressados ou equivocados durante a percepção de algum elemento mais geral da vida das

outras pessoas pode incorrer no preconceito e no estigma social.

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2 Traço como elemento para personalidade
Jonas estava em um restaurante com alguns amigos de longa data, mas um deles – Pedro – disse algo que

realmente perturbou Jonas. Este se levantou, empurrou Pedro e começou uma briga. Laura, uma amiga de Pedro,

interveio na briga, separando os dois. Laura não conhecia Jonas, mas estava convencida de que ele era um

agressivo e impulsivo. Pedro discordou e disse que, na verdade, Jonas era um cara legal. Ressaltou que conhecia

bem Jonas e que provavelmente ele deveria estar em momento ruim da vida. Na sua opinião, Jonas é agressivo e

impulsivo ou está apenas em um momento difícil da vida?

Essa situação requer muita cautela e precisamos fazer algumas perguntas antes de continuar, podemos afirmar

que Jonas é agressivo e impulsivo, apenas por esse momento, sem saber mais nada de sua vida? Jonas, quando

está bêbado, é diferente de quando está sóbrio, como é essa diferença? O fato de Pedro reconhecer que Jonas não

é comumente assim e alertar para uma vivência momentânea difícil, faz alguma diferença?

Quando nos debruçamos sobre essas perguntas, podemos começar a pensar na necessidade de conhecer um

pouco mais sobre Jonas e verificar quão duradouros e estáveis são esses traços apresentados nesse momento em

sua vida cotidiana.

Vamos conhecer um pouco mais sobre a teoria dos traços e como eles explicam nossa personalidade e

influenciam nosso comportamento.

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2.1 Histórico do desenvolvimento da teoria dos traços

Os traços de personalidade são objeto de estudo da psicologia desde a Grécia Antiga, e vários pesquisadores

apresentaram uma infinidade de traços de personalidade. Porém, com a inclusão da análise fatorial (modelos

matemáticos) em conjunto com as teorias psicológicas, na década de 80, foi possível definir a existência de cinco

dimensões dominantes na personalidade, quais sejam: extroversão, amabilidade, conscienciosidade,

neuroticismo e abertura à experiência. Esse agrupamento de traços foi chamado de cinco grandes fatores de

personalidade, em inglês: a teoria do Big Five.

Historicamente, o estudo da teoria dos traços teve início com Allport e Odbert na década de 1930,

complementado por Cattell na década de 1940 e por Christal e Norman na década de 1960, finalizando no início

da década 1980 a teoria como conhecemos atualmente. Essa ampla pesquisa resultou em um sistema de

classificação de traços, como modelo alternativo e baseado em evidências para a psicologia da personalidade.

Como apontam McCrae e Costa (1997), as primeiras duas dimensões encontradas foram o neuroticismo e a

extroversão. Após essa descoberta, veio o traço de abertura à experiência e somente com a criação do

Inventário dos Cinco Fatores da Personalidade o NEO-PI começou o uso dos grandes cinco fatores. Vamos

conhecer esses cinco grandes fatores:

Quadro 2 - Descrição dos cinco grandes fatores da personalidade


Fonte: MCCRAE, 2009 (Adaptado).

#PraCegoVer: A imagem mostra um quadro descrevendo os cinco fatores da personalidade, que são:

neuroticismo; extroversão; conscienciosidade e abertura à experiência.

Você percebeu que a teoria dos traços é recente e constitui uma possibilidade de explicação de quem somos,

inclusive na estabilidade da noção de personalidade. A seguir, vamos aprofundar esse conhecimento.

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2.2. Dimensões dos cinco grandes fatores

A teoria dos traços fornece uma taxonomia parcimoniosa, porém abrangente, de personalidade. Cada dimensão

da personalidade descreve um amplo domínio do funcionamento psicológico composto de um conjunto de

características mais específicas e estreitas. Essa teoria reúne mais de 40 anos de pesquisa sobre o estilo

emocional, interpessoal, experiencial, atitudinal e motivacional de um indivíduo. O trabalho de Costa e McCrae

(1992) forneceu o que talvez seja a operacionalização mais desenvolvida. Os insights fornecidos por esse

trabalho fornecem a base para o desenvolvimento a seguir.

Neuroticismo

O neuroticismo representa diferenças individuais no ajuste e na estabilidade emocional. Indivíduos com alto

nível de neuroticismo tendem a experimentar uma série de emoções negativas, incluindo ansiedade, hostilidade,

depressão, autoconsciência, impulsividade e vulnerabilidade. As pessoas com uma pontuação baixa em

neuroticismo podem ser caracterizadas como autoconfiantes, calmas e até relaxadas.

Extroversão

A extroversão descreve até que ponto as pessoas são assertivas, dominantes, enérgicas, ativas, comunicativas e

entusiasmadas. As pessoas com pontuação alta em extroversão tendem a se tornar alegres, como pessoas e

grandes grupos, e buscam excitação e estímulo. Pessoas com baixa pontuação em extroversão preferem passar

mais tempo sozinhas e são caracterizadas como reservadas, silenciosas e independentes.

Abertura à experiência

É uma dimensão da personalidade que caracteriza alguém que é intelectualmente curioso e tende a conhecer

novas experiências e explorar novas ideias. Alguém que está aberto à abertura pode ser descrito como criativo,

inovador, imaginativo, reflexivo e não tradicional. Alguém com pouca abertura pode ser caracterizado como

convencional, estreito em interesses e não analítico. A abertura está positivamente correlacionada com a

inteligência, especialmente em aspectos relacionados à criatividade.

Amabilidade

Avalia a orientação interpessoal. Indivíduos com muita simpatia podem ser caracterizados como confiantes,

doadores, atenciosos, altruístas e ingênuos. O ponto alto da concordância representa alguém que tem valores

cooperativos e preferência por relacionamentos interpessoais positivos. Alguém no final da dimensão pode ser

caracterizado como manipulador, egocêntrico, desconfiado e cruel. Embora a concordância possa levar a pessoa

a ser digna de confiança e possa ajudar a formar relacionamentos positivos e cooperativos de trabalho, altos

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níveis de concordância podem inibir a disposição de alguém para conduzir barganhas, cuidar do próprio

interesse e influenciar ou manipular os outros, sua própria vantagem.

Conscienciosidade

Indica o grau de organização, persistência, trabalho árduo e motivação de um indivíduo na busca do

cumprimento da meta. Alguns pesquisadores viram esse construto como um indicador de vontade ou capacidade

de trabalhar duro. Indica personalidade mais consistente do desempenho no trabalho em todos os tipos de

trabalho e ocupações. Muitos estudiosos consideram a conscienciosidade uma ampla dimensão da

personalidade, composta de duas facetas principais: motivação e confiabilidade na realização.

Para compreender a teoria, convido você a fazer um exercício pessoal. Pegue uma caneta e anote de acordo com

os cinco grandes fatores, utilizando notas de 0 a 5 (sendo 0 inexistência e 5 muito parecido comigo), veremos sua

maturidade de traços de personalidade. Ao final, some as notas, se você estiver próximo a 25 pontos, apresenta

alto nível de traços de personalidade; se você ficou próximo a 12 pontos, está na média dos traços, precisando

amadurecer; agora, se ficou abaixo dos 12 pontos, você precisa buscar ajudar profissional para melhorar suas

características.

Assista aí

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3 Elementos cognitivos da personalidade
A trajetória das pessoas é marcada por inúmeros acontecimentos, incluídos eventos aleatórios, sem

planejamento e que mudam o destino da vida das pessoas. João era um jovem pós-graduado e teve um encontro

casual que alterou sua vida. Em um final de semana, ele, que era um estudante compromissado, resolveu

terminar a leitura mais cedo e sair um pouco. João marcou com um amigo de ir ao boliche. Ao lado dos rapazes

havia duas moças jogando. Durante as jogadas ocorreram interações e os grupos resolveram se unir. Desse

encontro João acabou se casando com uma das moças e tiveram duas filhas.

Você deve estar se questionando sobre o sentido dessa pequena história, a maioria de nós não se importa muito

com encontros casuais e não se questiona sobre como experiências não planejadas podem alterar de modo

significativo nossas vidas. Por esse motivo, iremos agora conhecer a teoria que foi desenvolvida pelo jovem João,

que na verdade se chama Albert Bandura e que fundamenta sobre a teoria social cognitiva e suas influências na

personalidade.

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3.1 Teoria social cognitiva

Bandura propõe que a personalidade é permeada pela aprendizagem, particularmente pelo conceito de

plasticidade, ou seja, a capacidade que o ser humano tem de flexibilizar suas respostas comportamentais,

cognitivas e emocionais de acordo com o contexto social, possibilitando inúmeras respostas, sem previsibilidade.

Você deve notar que podemos aprender observando outras pessoas, isso se denomina aprendizagem por

modelagem. Essa capacidade possibilita amadurecimento emocional e cognitivo, porque ao observar outros, os

erros nas experiências são diminuídos, além de melhorar respostas comportamentais, ambientais e pessoais na

vivência no mundo real.

Dessa forma, todas as pessoas podem regular suas vidas a partir do momento que você aprende e reflete a partir

das experiências observadas. Sem isso, estaríamos apenas reagindo aos estímulos. Aqui temos a implicação

cognitiva, ao permitir que esse tipo de aprendizagem antecipe resultados de experiências, da criação de novas

ideais ou usar padrões para lidar com o futuro (FEIST; TOMI-ANN, 2015).

Um conceito importante da teoria social cognitiva é a autoeficácia, que se caracteriza pela capacidade de

efetivar comportamentos adequados, com confiança em determinada situação, implicando o aumento do

desempenho e melhorando a performance comportamental. Os comportamentos humanos são regulados por

dois fatores:

Fatores internos, como capacidade de perceber a si mesmo, autojulgamento e mapeamento de sua autorreação.

Fatores externos, os contextos físico e social.

Aprender por modelagem significa utilizar processos cognitivos sofisticados para generalizar comportamento a

partir do comportamento observado. Mas como se dá o aprendizado por modelo? Você já deve ter tido bons e

maus modelos durante sua vida. Se você fizer uma avaliação pormenorizada dos seus comportamentos, notará

que alguns deles foram aprendidos com outras pessoas, inclusive reações emocionais.

Para isso, o modelo de aprendizado precisa de alta performance, ou seja, alguém com alta competência e

habilidades será utilizado como princípio de modelo ao invés do contrário. Outra característica é que só é

possível haver modelagem com pessoas que estão iniciando o treino de habilidade, por exemplo, crianças

aprendem com pessoas mais velhas. Em seguida, quanto maior o valor dado a determinado comportamento,

maior probabilidade de modelagem terá possibilidade de reforço (BANDURA, 1986).

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Quadro 3 - Componentes da modelagem da TSC
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.

#PraCegoVer: A imagem mostra um quadro descritivo dos principais componentes da modelagem da teoria

social cognitiva, que são: atenção;representação; comportamento e motivação.

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3.2 Autoeficácia e personalidade

O que é autoeficácia? Bandura (2001, p. 10) definiu autoeficácia como “crenças das pessoas em sua capacidade

de exercer alguma medida de controle sobre o próprio funcionamento e sobre eventos ambientais”.

A eficácia se caracteriza com a confiança das pessoas sobre a capacidade de realizar alguns comportamentos,

enquanto expectativa de resultados refere-se à expectativa do que as pessoas fazem sobre as possíveis

consequências de tal ação comportamental.

Você não deve considerar autoestima ou autoconfiança como sinônimos de autoeficácia, porque está relacionada

competências, habilidades e avaliação real sobre a forma como produz comportamento, favorecendo treino e

melhora futura. O que implica é que em uma elevada autoeficácia o sujeito se sente responsivo e com garantia

de sucesso, e quando a autoeficácia é baixa a pessoa se sente deprimida ao perceber que não é tão eficiente em

suas tarefas quanto outras pessoas. Vamos ver agora quais componentes contribuem para melhorar a

autoeficácia.

Quadro 4 - Componentes da autoeficácia


Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.

#PraCegoVer: A imagem mostra um quadro com os componentes da autoeficácia, que são experiências

anteriores; modelagem social; persuasão social e estados físicos e emocionais.

Quando as pessoas possuem altos níveis de autoeficácia, são confiantes em relação a seus desempenhos e

possuem bons relacionamentos interpessoais, elas têm melhor capacidade de regular o próprio comportamento

e assim terem melhor qualidade de vida.

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4 Elementos motivacionais da personalidade
Você já se questionou quais são suas motivações para estar lendo este texto? Quais são suas motivações para

estar numa formação acadêmica? A motivação é um conceito que está presente quase na totalidade da nossa

vida e em muitos conselhos cotidianos. Há os que dizem que precisamos ser pessoas motivadas como se ela fosse

uma coisa a ser buscada de fora para dentro. Inclusive cursos de treinamento motivacional vendem a ilusão de

que podem tornar as pessoas motivadas e dispostas para o sucesso.

No entanto, quando pesquisamos sobre a motivação, descobrimos que ela é intrínseca, ou seja, é uma força de

movimento do interno para o externo. E sua melhor explicação tende a ir na busca por compreensão holística do

ser humano, na perspectiva de uma compreensão completa, ao invés de partir em pequenos pedaços e dissecar.

O grande representante dessa teoria foi Abraham Maslow que defendia a tese da motivação das pessoas que

buscam a satisfação de uma necessidade em seguida de outra até finalizar todas as buscas e chegar num estado

de autorrealização pessoal, que significa mais disposição para crescimento e maturidade emocional (MCLEOD,

2007).

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4.1 Motivação e personalidade

Segundo Maslow e Lewis (1987), as necessidades humanas podem ser apresentadas como uma hierarquia de

cinco grupos de necessidades, a saber: fisiológicas, de segurança, de amor e pertença, de estima e de

autoatualização. As quatro primeiras necessidades são referidas como necessidades de déficit ou deficiência

(necessidades D) e a necessidade de autorrealização é referida como necessidades de crescimento ou de

necessidade (necessidades B).

Em outras palavras, quando uma necessidade de ordem inferior é atendida em certa medida, surge a

necessidade adjacente na hierarquia. A deficiência, portanto, motiva o comportamento. Por outro lado, o

envolvimento com as necessidades de crescimento alimenta o desejo de se tornar um indivíduo mais

autorrealizado. A satisfação adequada de uma necessidade resulta no surgimento de uma necessidade de

ordem superior, culminando na busca pela autorrealização. De maneira inversa, as necessidades de ordem

superior não surgem quando as necessidades básicas de um indivíduo não foram adequadamente satisfeitas.

Figura 4 - Pirâmide de necessidades de Maslow


Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.

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#PraCegoVer: A imagem mostra uma pirâmide colorida que descreve as necessidades conforme teorizou

Maslow. Na base, as necessidades fisiológicas; a seguir, a necessidade de segurança; depois, a necessidade de

amor; em seguida, necessidade de estima e, no topo, a realização pessoal.

Como você pode perceber, a hierarquia de necessidades de Maslow é mais frequentemente exibida no formato

de pirâmide. Os níveis mais baixos da pirâmide são compostos das necessidades mais básicas, enquanto às

necessidades mais complexas estão localizadas no topo da pirâmide. As necessidades na parte inferior da

pirâmide são requisitos físicos básicos, incluindo a necessidade de comida, água, sono e calor. Uma vez que

essas necessidades de nível inferior são atendidas, as pessoas podem passar para o próximo nível de

necessidades, que é segurança e proteção.

À medida que as pessoas progridem na pirâmide, as necessidades se tornam cada vez mais psicológicas e

sociais. Logo, a necessidade de amor, amizade e intimidade se torna importante. Mais adiante na pirâmide, a

necessidade de estima pessoal e sentimentos de realização têm prioridade. Maslow enfatizou a importância da

autorrealização, que é um processo de crescimento e desenvolvimento como pessoa para atingir o potencial

individual.

Maslow acreditava que essas necessidades são semelhantes aos instintos e desempenham um papel importante

na motivação do comportamento. Necessidades fisiológicas, de segurança, sociais e de estima são necessidades

de deficiência, o que significa que elas surgem devido à privação. A satisfação dessas necessidades de nível

inferior é importante para evitar sentimentos ou consequências desagradáveis.

Ele denominou o nível mais alto da pirâmide como necessidades de crescimento (ou necessidades). As

necessidades de crescimento não decorrem da falta de algo, mas do desejo de crescer como pessoa. Vamos

conhecer detalhadamente os cinco níveis diferentes na hierarquia de necessidades de Maslow (CAO et al., 2013):

• Necessidades fisiológicas

Inclui as necessidades mais básicas, que são vitais para a sobrevivência, como a necessidade de água, ar,

comida e sono. Maslow acreditava que essas necessidades são as mais básicas e instintivas da hierarquia,

porque todas as necessidades se tornam secundárias até que essas necessidades fisiológicas sejam

atendidas.

• Necessidades de segurança

Inclui necessidades de proteção. As necessidades de segurança são importantes para a sobrevivência,

mas não são tão exigentes quanto as necessidades fisiológicas. Exemplos de necessidades de segurança

incluem o desejo de emprego estável, assistência médica, bairros seguros e abrigo do meio ambiente.

- 25 -
• Necessidades sociais

Inclui necessidades de pertencimento, amor e carinho. Maslow descreveu essas necessidades como

menos básicas do que as necessidades fisiológicas e de segurança. Relacionamentos como amizades,

apegos românticos e famílias ajudam a atender essa necessidade de companhia e aceitação, assim como

o envolvimento em grupos sociais, comunitários ou religiosos.

• Necessidades de estima

Depois de satisfeitas as três primeiras necessidades, as necessidades de estima tornam-se cada vez mais

importantes. Isso inclui a necessidade de coisas que reflitam sobre autoestima, valor pessoal,

reconhecimento social e realização.

• Necessidades de autorrealização

Este é o nível mais alto da hierarquia de necessidades de Maslow. As pessoas autorrealizadoras são

autoconscientes, preocupadas com o crescimento pessoal, menos preocupadas com as opiniões dos

outros e interessadas em realizar seu potencial.

- 26 -
4.2 Nível avançado de maturidade emocional

O que exatamente é a autorrealização? Localizado no pico da hierarquia de Maslow (1987), ele descreveu essa

necessidade de alto nível da seguinte maneira:

O que um homem pode ser, ele deve ser. Essa necessidade podemos chamar de autorrealização, pois

refere-se à tendência de ele se tornar realizado no que ele é potencialmente. Essa tendência pode ser

expressa como o desejo de tornar-se cada vez mais o que somos, tornar-nos tudo o que somos

capazes de se tornar.

Embora a teoria seja geralmente retratada como uma hierarquia bastante rígida, Maslow (1987) observou que a

ordem em que essas necessidades são atendidas nem sempre segue esse padrão de progressão. Por exemplo, ele

observa que, para alguns indivíduos, a necessidade de autoestima é mais importante que a necessidade de amor.

Para outros, a necessidade de a realização criativa pode substituir até as necessidades mais básicas.

Além de descrever o que se entende por autorrealização em sua teoria, Maslow (1987) também identificou

algumas das principais características das pessoas autorrealizadas:

Aceitação e realismo
Pessoas autorrealizadas têm percepções realistas de si mesmos, dos outros e do mundo ao seu redor.
Centralização de problemas
Indivíduos autorrealizados estão preocupados em resolver problemas fora de si mesmos, incluindo ajudar os

outros e encontrar soluções para problemas no mundo externo. Essas pessoas são frequentemente motivadas por

um senso de responsabilidade pessoal e ética.


Espontaneidade
As pessoas autorrealizadas são espontâneas em seus pensamentos e comportamento externo. Enquanto elas

podem estar em conformidade com as regras e sociais expectativas, elas também tendem a ser abertas e não

convencionais.
Autonomia e solidão
Outra característica das pessoas autorrealizadas é a necessidade de independência e privacidade. Esses

indivíduos precisam de tempo para se concentrar no desenvolvimento de seu próprio potencial individual.
Continuidade da apreciação
Pessoas autorrealizadas tendem a ver o mundo com um sentimento contínuo de apreciação e admiração. Até

experiências simples continuam sendo uma fonte de inspiração e prazer.


Experiências de pico

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Indivíduos que são autorrealizados geralmente têm o que Maslow denominou de experiências de pico ou

momentos de intensa alegria, admiração e êxtase. Após essas experiências, as pessoas se sentem inspiradas,

fortalecidas, renovadas ou transformadas.

Maslow acreditava que a única razão pela qual as pessoas não se moveriam bem na direção da autorrealização é

por causa de obstáculos colocados em seu caminho pela sociedade. Ele afirmava que a educação é um desses

obstáculos e recomendava algumas maneiras pelas quais a educação poderia mudar suas táticas habituais para

auxiliar no crescimento das pessoas. Aqui estão listados os dez pontos que educadores devem abordar, segundo

Maslow (1987):
• Ensinar as pessoas a serem autênticas, conscientes de si mesmas e a ouvir suas vozes de sentimento
interior.
• Ensinar as pessoas a transcender seu condicionamento cultural e tornar-se cidadãos e cidadãs
comprometidas com as mudanças sociais.
• Ajudar as pessoas a descobrir sua vocação na vida, seu chamado, seu destino. Isso é especialmente
focado em encontrar a carreira certa e o parceiro certo.
• Ensinar as pessoas que a vida é preciosa, que há alegria a ser experimentada na vida e se as pessoas
estão abertas a ver o bem e a alegria em todos os tipos de situações, vale a pena viver a vida.
• Aceitar a pessoa como ela é e ajudá-la a aprender sobre suas características interior. A partir do
conhecimento real de aptidões e limitações, podemos saber o que construir e que potenciais realmente
existem.
• Ver que as necessidades básicas das pessoas são satisfeitas. Isso inclui segurança, pertencimento e
necessidades de estima.
• Refrescar a consciência, ensinando a pessoa a apreciar a beleza e outras coisas boas da natureza e da
vida.
• Ensinar às pessoas que os controles são bons e o abandono completo é ruim. Levar ao autocontrole para
melhorar a qualidade de vida em todas as áreas.
• Ensinar as pessoas a transcender os problemas insignificantes e a lidar com os graves problemas na
vida. Isso inclui os problemas de injustiça, dor, sofrimento e morte.
• Ensinar as pessoas a fazer boas escolhas. Elas devem ter prática em fazer boas escolhas.

Fique de olho
Como vimos, a personalidade é um conceito complexo, com diferentes formas de explicar
temperamento, traço, cognição e motivação. Mas fique atento para o fato de que apesar dessa
divisão, quando lidamos com alguém ou precisamos avaliar uma pessoa para uma tomada de
decisão e encaminhamento, todos esses elementos podem se misturar. Por isso, para evitar
contratempos, utilize um instrumento confiável para avaliar a personalidade.

Percebe-se que para Maslow as pessoas têm potencial de desenvolver-se positivamente e alcançar o sucesso.

Você sente que está no caminho da autorrealização? Sente que pode chegar ao topo da sua satisfação pessoal?

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Assista aí

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é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• conhecer a definição de personalidade;
• aprender quais os principais instrumentos para avaliar a personalidade;
• identificar os cinco grandes traços de personalidade;
• avaliar a autoeficácia e suas principais características;
• distinguir as principais motivações da personalidade.

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