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Contagem do tempo: as semanas

Nesta viagem histórica da contagem do tempo na cultura ocidental, podemos questionar onde entra a música nesta
divagação. Por estranho que pareça, a música vai relacionar-se de duas maneiras: uma no calendário litúrgico que
falaremos noutro programa e outra na designação dos dias da semana. Permitam-me retomar a viagem.

A Astronomia foi uma das disciplinas queridas na antiga Grécia e, por arrasto, também na civilização romana
influenciada após a sua conquista. Para além dos filósofos Platão e Aristóteles de quem falámos, para este nosso
tema é preciso recorrer aos seguidores de um outro muito famoso entre nós pelo seu célebre teorema matemático,
Pitágoras. Ele estudou o som através de uma corda esticada provando que quanto mais curta fosse, mais alto ou fino
era o som produzido. É um dos princípios em que assenta a construção dos instrumentos de corda.

A astronomia deste período colocava a Terra no centro do universo com todos os astros a girarem à sua volta, o sol
incluído. Platão afirmava que os astros no movimento da sua rotação produziam um som que os humanos não
ouviam mas que os influenciava. Nesta linha de pensamento, quanto maior fosse a distância do astro em relação à
Terra, mais grave ou grosso seria o som. Chamavam a este emaranhado sonoro a Harmonia das Esferas.

Dispunham os sons assim produzidos e correspondendo cada um ao seu astro, numa Escala musical descendente, do
mais fino (mais perto da Terra, a Lua) ao mais grosso: Lua Mercúrio Vénus Sol Marte Júpiter Saturno. A escala assim
resultante desta Teoria cósmica foi a de Ré, Dó, Si, Lá, Sol, Fá, Mi, Ré. (Uma escala a que os gregos chamavam o
Modo Dórico).

Os gregos juntavam um bloco de quatro notas seguidas, a que chamavam tetracorde, tendo-o como base principal
para a construção das suas escalas musicais. Para não complicar e porque não pretendo uma sessão de história da
música, voltemos aos astros e à sua correspondência musical. Pegando neste intervalo de quatro, e tomando como
princípio a escala ascendente de RE, o tal modo dórico, vamos ter uma sequência de RE-SOL-DO-FA-SI-MI-LA-RE que
não vale a pena estar a decorar uma vez que o que eu pretendo é fazer coincidir estas notas musicais, assim
resultantes, com os astros que com elas se relacionam na tal teoria da sua correspondência com a distância à Terra. E
a sequência que resulta é Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vénus, Saturno e Sol.

Esta sequência de astros corresponde-se aos dias da semana que o ocidente herdou dos romanos, cujos 7 dias da
semana tinham o nome destes astros, e que vigora ainda em todas as línguas latinas com excepção da portuguesa.
Lembremos só os nomes em espanhol: lunes, martes, miercoles, jueves e viernes: segunda, terça, quarta, quinta e
sexta. O cristianismo, derivado do judaísmo, substituiu o dia de Saturno por Sabath, sábado e o dia do Sol por
Dominica ou seja o dia relativo ao Senhor. No entanto, o inglês, por exemplo, mantém o Saturday e o Sunday,
respectivamente dia de Saturno e dia do Sol.

Exemplificando a 2ª feira nas 4 línguas latinas, que não o português: em espanhol, Lunes; italiano, Lunedi; francês,
Lundi; e romeno, Luni. E então o português?

Em meados do século VI, S. Martinho de Dume, que fundara um mosteiro na vila de Dume, foi elevado a bispo de
Braga. Foi um batalhador por expurgar da prática cristã quaisquer elementos ligados ao paganismo herdado dos
romanos. Uma das suas reformas foi precisamente a alteração do nome dos dias da semana. Na liturgia cristã,
existem os dias considerados feriais, ou seja, dias comuns, ou de trabalho. Assim, e em latim, chamavam-se feria
secunda, feria tertia, etc. Martinho de Dume, adaptou estes dias da liturgia cristã aos dias da semana e conseguiu.
Ainda tentou o mesmo para os nomes dos planetas, mas não foi bem-sucedido. Desta forma, somos o único país de
língua latina com os nomes dos dias da semana diferentes dos demais.

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