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DOIS IRMÃOS
MILTON HATOUM
Dados Biográficos Cooperación. Em seguida passa a viver em Paris
onde fez sua pós-graduação Na Universidade
Nasceu em Manaus, AM, em 19/081952. de Paris III. Retorna à Manaus, onde passa a
Professor, tradutor, contista e romancista lecionar literatura francesa e brasileira. Em
colecionador de prêmios literários. Até o fins da década de 1990 volta à São Paulo para
momento todos os seus livros são premiados: concluir seu doutormento em Teoria Literária
Relato de um certo Oriente (1990); Dois irmãos na USP, onde se encontra establecido.
(2000); e Cinzas do norte (2005) receberam o Disponível em <http://www.tirodeletra.com.br/
Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, biografia/MiltonHatoum.htm>.
como melhores romances do ano, sendo que
o último recebeu também o Prêmio Portugal
Telecom Literatura. São livros que já venderam Obras
mais de 200 mil exemplares e foram traduzidos
em oito paises. Sobre o livro mais recente: »» Relato de um Certo Oriente (romance).
Órfãos do Eldorado (2008) ainda não temos São Paulo: Cia. das Letras, 1990.
noticia de premiação, mas já foi eleito pelo »» Dois Irmãos (romance). São Paulo: Cia.
publico, vendendo mais de 10 mil exemplares das Letras, 2000.
logo após o lançamento. Em suas obras, o »» Cinzas do Norte, 2005
autor costuma falar de lares desestruturados »» Orfãos do Eldorado. São Paulo: Cia. das
com uma leve tendência política. Em Cinzas Letras, 2008
do norte, por exemplo, seu romance mais
abertamente político, inicia-se no mesmo O romance tem, como centro do enredo,
registro desencantado que termina Dois irmãos. a história de dois irmãos gêmeos - Yaqub e
É um romance com uma linguagem seca e Omar, o Caçula - e suas relações com a mãe,
objetiva, que conta uma das possíveis estórias o pai e a irmã. Na mesma casa, localizada em
de uma geração que sonhou um mundo mais bairro portuário de Manaus, moram Domingas,
justo apenas para encontrá-lo em cinzas na sua a empregada da família, e seu filho Nael, um
maturidade. Quanto ao estilo, é conhecido por menino cuja infância é moldada pela condição
misturar experiência e lembranças pessoais de filho da empregada. Na tentativa de buscar
com o contexto sócio-cultural da Amazônia e a identidade de seu pai entre os homens da
do Oriente. Sobre o primeiro livro, assim ele casa, Nael narra os acontecimentos que lá se
explica: “No Relato de um certo Oriente há um passam, testemunhando vingança, paixão e
tom de confissão, é um texto de memória sem relações arriscadas. É por meio de seu ponto
ser memorialístico, sem ser auto-biográfico; há, de vista que o leitor entra em contato com
como é natural, elementos de minha vida e da Halim, o pai, sempre à espera da decisão mais
vida familiar. Porque minha intenção, do ponto acertada diante dos abismos familiares; com a
de vista da escritura, é ligar a história pessoal desmedida dedicação da esposa Zana ao filho
à história familiar: este é o meu projeto. Num preferido Omar; com o trauma de Yaqub, o filho
certo momento de nossa vida, nossa história é que, adolescente, foi separado da família; com
também a história de nossa família e a de nosso a relação amorosa entre Rânia e seus irmãos;
país (com todas as limitações e delimitações com a vida simples e cheia de renúncias da
que essa história suscite). Descendente de mãe Domingas.
imigrantes libaneses, o autor já morou em A história se inicia com a volta de Yaqub,
diversas cidades, além de Manaus, sua fonte que, por ordem do pai, fora enviado, com treze
de inspiração. Aos 15 anos muda-se para anos, ao sul do Líbano um ano antes da 2ª
Brasília, onde concluiu os estudos secundários, Guerra, no intuito de aliviar os atritos entre os
e depois para São Paulo, onde se fez Arquiteto irmãos. Considerado frágil e demasiadamente
pela USP. Em 1980 mudou-se para a Espanha problemático, Omar fica no Brasil, solidificando-
como bolsista do Instituto Iberoamericano de se, assim, a superproteção iniciada na infância.
MUITAS VOZES
FERREIRA GULLAR
Dados do autor à clandestinidade e ao exílio contribuíram
para que Ferreira Gullar reconsiderasse
José Ribamar Ferreira Gullar (São Luís MA suas posições, buscando na poesia uma
1930) forma de expressar suas mudanças e seu
Publicou seu primeiro livro de poesia, aprofundamento de visão de realidade.
Um Pouco Acima do Chão, em 1949. Recebeu Publicado em 1976, Poema Sujo, ´discursivo e
prêmio, em 1950, pelo poema Galo, no quase um poema clássico´, segundo Ziraldo, é
concurso literário do Jornal das Letras, do Rio um livro de 103 páginas em que Ferreira Gullar
de Janeiro. No ano seguinte mudou-se para o exprime a totalidade de suas experiências
Rio de Janeiro e passou a colaborar na imprensa no plano da vida e da literatura, por meio de
carioca com poemas e críticas de arte. Publicou versos assimétricos e dissonantes, carregados
A Luta Corporal (1954) e Poemas (1958). de paixão corporal. Na Vertigem do Dia, o
Entre 1955 e 1959 participou da primeira reiterado questionamento sobre a poesia,
fase do movimento da Poesia Concreta. Em as preocupações com os grandes temas do
1959 rompeu com o Concretismo e publicou homem e da América Latina, as recordações
o Manifesto Neoconcreto no Jornal do Brasil. da infância, a dor, a tristeza, a solidão e a
A partir de 1961 participou do movimento de solidariedade para com os menos favorecidos
cultura popular, integrando o CPC e a UNE. Foi são os temas explorados por poemas curtos e
preso, em 1968, e seguiu para o exílio político herméticos em sua maioria.”
BRAIT, Beth [1981]. Ferreira Gullar: a poesia como
na Europa em 1971. Em 1975 foi publicado
forma de indagação e conhecimento do mundo. In:
Dentro da Noite Veloz; seguiram-se Poema Gullar, Ferreira. Ferreira Gullar. p.101.
Sujo (1976), Antologia Poética (1977). Em 1977
recebeu o Prêmio Jabuti de Personalidade “O pós-modernismo de 45 raiado de veios
Literária do Ano. Nos anos de 1980 publicou existenciais, a poesia concreta e neoconcreta, a
Na Vertigem do Dia (1980), Toda Poesia (1980), experiência popular-nacionalista do CPC, o texto
Crime na Flora ou Ordem e Progresso (1986), de ira e protesto ante o conluio de imperialismo
Barulhos (1987); na década de 1990 saíram e ditadura, a renovada sondagem na memória
Formigueiro (1991) e Muitas Vozes (1999), pessoal e coletiva... são todos momentos de uma
com o qual ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia dialética da cultura brasileira de que Ferreira
em 2000. Inicialmente adepto do Concretismo, Gullar tem participado como ator de primeira
Ferreira Gullar posteriormente optou por uma grandeza. À luz dessa leitura, contextual, a
poesia mais discursiva, em que os versos ora consciência que ditou o Poema Sujo não é
incorporam elementos da literatura de cordel, exatamente a mesma que inventou A Luta
como em João Boa-Morte, Cabra Marcado para Corporal, assim como a maturidade do escritor
Morrer (1962), ora se voltam para as tensões e cidadão pós-64 superou os seus horizontes
sociais e políticas do homem brasileiro, como ideológicos dos anos cinquenta. Não se trata
em Dentro da Noite Veloz (1975) e Na Vertigem de evolução na ordem dos acertos estéticos
do Dia (1980). (estes não dependem, mecanicamente, da
posição política do poeta); trata-se de um ver
mais concretamente a História, um julgar mais
Características do autor criticamente o próprio lugar de poeta na trama
da sociedade, um refletir mais dramaticamente
“A passagem brusca da linguagem precisa a condição do homem brasileiro e do homem
e requintada das vanguardas para a expressão latino-americano sem medusar-se no fetiche
apoiada na linguagem simples dos cantadores, abstrato, no fundo egótico, do ´homem´ em
seguida de uma visão ingênua a respeito geral.”
das questões estéticas e sociais e somada BOSI, Alfredo [1983]. Roteiro do poeta. In: Gullar,
às derrotas da esquerda na América Latina, Ferreira. Os melhores poemas. 3.ed. p.8-9.
Maranhão à mesa do jantar sob uma luz de corporal e Poema sujo tratassem de questões
febre entre irmãos completamente diferentes, têm uma coisa em
e pais dentro de um enigma? comum que é a fúria. Ela está presente em
mas que importa um nome todos os meus livros anteriores. Mas, neste,
debaixo deste teto de telhas encardidas está amainada. É um livro mais reflexivo, em
vigas à mostra entre que a temática da morte está muito presente,
cadeiras e mesa entre uma cristaleira e um não como medo, mas como reflexão”, comenta.
armário diante de Muitas vozes pode ser lido como a obra de
garfos e facas e pratos louça que se maturidade de um autor que desde muito cedo
quebraram já despontou como uma voz singular na poesia
um prato de louça ordinária não dura tanto brasileira. Nascido no Maranhão em 10 de
e as facas se perdem e os garfos setembro de 1930 como José Ribamar Ferreira,
se perdem pela vida caem já sob o pseudônimo de Ferreira Gullar, o
pelas falhas do assoalho e vão conviver poeta lançou seu primeiro livro, Roçzeiral, aos
com ratos 19 anos. Tinha apenas 24 quando publicou
e baratas ou enferrujam no quintal A luta corporal, uma obra radical que abriu
esquecido entre os pés de erva cidreira caminho para a poesia concreta no país. “No
e as grossas orelhas de hortelã começo, havia a busca por uma linguagem que
quanta coisa se perde transcendesse o discurso lógico, que fosse além
nesta vida. da própria poesia como era feita até então, e
que terminou por implodir a linguagem. Como
Após seu retorno ao país em 1977, Ferreira consequência dessa implosão, veio a poesia
Gullar tornou-se o poeta emblemático da concreta”, reflete hoje o poeta.
redemocratização brasileira, voltando a ter Cinco anos mais tarde, Ferreira Gullar
forte atuação na área cultural. Escreveu para romperia com o movimento para criar outro,
a tevê, militou na crítica de arte e debateu a o neoconcretismo, esboçado no ensaio Teoria
situação da poesia. Em seus últimos livros, a do não-objeto e que culminou com o famoso
temática da passagem do tempo e a da morte poema enterrado no chão.
– já presentes no Poema sujo – adquiriram Uma nova virada aconteceria no início dos
predominância e significativa pungência. anos 60. Fiel ao clima da época, Ferreira Gullar
voltou-se para a cultura popular, impregnando-
se da linguagem do cordel. Da época, datam
Obras principais: João Boa-Morte e Quem matou Aparecida,
A luta corporal (1954); além das peças Se correr o bicho pega, se ficar
Dentro da noite veloz (1975); o bicho come, com Oduvaldo Vianna Filho e Dr.
Poema sujo (1975); Getúlio, com Dias Gomes. Presidente do CPC da
Na vertigem do dia (1980); Une quando aconteceu o golpe militar, Ferreira
Barulhos (1987); Gullar se exilou na Argentina em 1971.
Muitas vozes (1999). “Abandonei o neoconcretismo porque
considerei que essa experiência estava
esgotada. Isso coincidiu com uma virada
Característica da obra da política brasileira, com a posse de João
Goulart. Empolguei-me pela possibilidade
Sobre: Muitas Vozes de transformação social e minha poesia
Por: Cristiane Costa acompanhou isso”, recorda Gullar. Segundo
o poeta, essa reconciliação com a linguagem
Muitas vozes ao gênero que o consagrou coloquial foi fundamental para definir novos
como um dos mais importantes autores rumos para sua obra. “Minha poesia de hoje
brasileiros. Presente do poeta para seus leitores é desdobramento disso. Costumo dizer que
e admiradores meses antes de completar 70 a poesia nasce da prosa. O que existe é a
anos, Muitas vozes revela uma mudança de linguagem de todos. Uso e abuso dela, até da
tom na obra de Gullar. “Mesmo que A luta palavra chula. Nunca busquei o poema puro.
naquela casa silenciosa - lá, parece que morava suficiente, quando já há mais fogo que carvão...
apenas um casal idoso...
GULLAR - Em “Nasce o poema” (Barulhos,
WEYDSON - Eles lhe, viam? 1987), eu cheguei à conclusão que havia carvão
demais. Então eu pensei: se eu puser mais
GULLAR - Não.. Tinha um corredor muito prosa aqui, o avião bate no chão, não há mais
vazio... Eu ficava sentado tio chão frio, olhando como... E durante um certo tempo eu parei.
aquele corredor, aquele piso, o silêncio, o
vazio... Então, de repente, me veio a lembrança WEYDSON - Como- resposta a esse
de tudo isso, e isso gerou o poema... Eu pensava mergulho, “Ao Rés da Fala” seria um recuo?
que ia escrever só um poema, mas o primeiro
desencadeou outros, e assim foi uma série de GULLAR - Não, eles avançam, e são quase
poemas que envolvem a quitanda do meu pai.. prosa. Porque neles não há a alquimia evidente
que há normalmente em minha poesia, onde
WEYDSON - E daí o açúcar... a palavra se choca com outra palavra.. Não
há a palavra inesperada nesses poemas. _Há
GULLAR-É.. Na quitanda do meu pai, quase somente descrição, como no poema
abaixo das prateleiras de mercadorias, havia “Fotografia de Mallarmé”.
uns depósitos com tampas, onde tinha feijão,
arroz--, açúcar, farinha... Eu lembro que cabia WEYDSON - Eu discordaria apenas quanto
bastante, açúcar naquele depósito. Quando se à ausência da surpresa, da palavra inesperada,
levantava aquela tampa, vinha aquele cheiro uma vez que o primeiro poema do livro
cálido... E até hoje, mesmo em casa, quando eu (“Ouvindo apenas”) é extremamente elaborado,
abro um recipiente de açúcar, me vem aquela visceralmente sofisticado...
sensação, o cheiro cálido. Então, tio poema, o
silêncio é o açúcar, é comparado ao açúcar, e GULLAR - Quando eu digo que esses poemas
está cheio de vozes. de tumulto. de alarido, da são prosa e que há neles um processo diferente,
luz da manhã.. Esses são os veios de que eu falo. não é a alquimia’ Ali há uma superação do
discurso diferente do que eu fazia em outros
WEYDSON - A segunda parte do livro poemas. Na verdade, eles dão o tom do livro.
“Muitas Vozes”, você intitulou “Ao Rés da Fala”. Eu estou de acordo com você quando diz que
O que há nesse título? os primeiros poemas são muito elaborados,
mas, por exemplo, o primeiro poema é bem
GULLAR - Ali está a saída de um impasse. anterior aos outros.
Quando eu terminei de escrever o último
poema de “Barulhos” (I 9 8 7), eu percebi WEYDSON - A organização do livro, à
que havia nele muitos elementos prosaicos. exceção dos “Poemas Resgatados’, atende a
Na minha visão, o poema é o lugar onde a uma ordem cronológica?
prosa se transforma em poesia, é o lugar da
metamorfose, onde o processo se dá. O poema GULLAR - Quase sempre eu adoto essa
não é uma coisa estática, terminada, ele é algo ordem cronológica porque acho que a minha
em processo. A leitura desencadeia o processo poesia é uma reflexão.
que está latente ali. Ao lê-lo, o leitor transforma
a palavra em poesia. Naturalmente, o meu WEYDSON - Vejo que há poemas em
poema nunca é um poema puro, mas nele a “Muitas Vozes” cujos temas já aparecem em
prosa vira poesia, e portanto para haver poesia livros anteriores a “Barulhos”.
tem que haver a transformação. A gente sabe
que o carvão dá o fogo, mas para haver o fogo GULLAR - É verdade Mas eu prefiro não
tem que existir o carvão. Assim, no poema interferir nisso; ninguém controla o processo
sempre haverá fogo e carvão. da lida. Mas há uma lógica interna nesses
poemas. Aí estão indagações e respostas que se
WEYDSON - E cabe ao poeta realizar sucedem progressivamente. Isso não quer dizer
a mistura , e determinar quando o fogo é que eu desenvolva um processo filosófico, mas
são perguntas e respostas que vão ocorrendo alterar essa ordem, eu posso estar violentando
durante a vida, por alguma razão que eu não um processo mais profundo de reflexão que
sei mas que sei que existe. Eu acredito que o está tio poema.
meu trabalho com a poesia é a lúcido, exigente,
do artesão, mas o que faz o poema nascer, os WEYDSON - Mas eu percebo no_ livro, ao
elementos convocados para fazê-lo, isso eu lado de poemas que podem ser resultados
deixo que venham como vier. Como se eu fosse desses processos, outros que parecem
um metalúrgico que trabalha com qualquer revelações instantâneas, como o poema “Tato”.
metal, que não fica exigindo prata ou ouro. Com
o metal que ele acha que dá, ele faz. GULLAR - É mais ou menos o mesmo
processo... Eu sentei ali (apontando), passei a
WEYDSON - Como seria esse processo, mão na cabeça, e de repente toquei meu osso.
dando como exemplo um dos poemas de Aí eu pensei: -puxa, sou eu, eu existo, e em vez
“Muitas Vozes”? de dizer como Descartes “penso, logo existo,”, é
o, contrario , “toco, logo existo” (risos). Em vez
GULLAR - Por exemplo: o poema “Um de me afirmar pelo pensamento, eu me afirmo
Instante “. Num domingo à tarde, nessa sala pelo tato. Então eu existo aqui, e se isso vai
vazia, o sol, o silêncio e a claridade, eu sentei acabar, se não houve antes, se é efêmero, não
aqui (apontando uma cadeira) e de repente interessa, eu estou aqui concretamente. Agora,
senti que estava pleno, leve, não tinha passado, por que eventualmente alguém passa a mão na
não tinha futuro, sem culpas, sem remorsos, cabeça e não pensa isso? Por que outros poetas,
sem preocupações - era um instante, dois que fizeram o mesmo gesto, não escreveram
segundos que estão neste poema (pegando o esse poema, e eu é que escrevi? Porque eu
livro e lendo o poema): tenho um tipo de reflexão que faz com que esse
ato gere uma resposta determinada. Talvez por
Aqui me tenho isso as pessoas estejam dizendo que esse livro
como não me conheço nem me quis é um livro maduro, por e estão vendo que é
sem começo um livro decorrente de uma reflexão que que
nem fim vai sendo feita apesar de mim, uma reflexão
subjacente, que termina provocando os
aqui me tenho poemas em face disso, quer dizer, de pequenos
sem mim acontecimentos que se refletem nesse modo
de ver o mundo. Essa é a razão por que esse
nada lembro “tato me faz escrever o poema e o mesmo tato
nem sei experimentado por outros poetas não os faz
escrever ou faz com que escrevam outro, ou
à luz presente ainda que nem dêem importância a isso...
sou apenas um bicho
transparente WEYDSON – Em ‘Muitas Vozes’, há
reminiscências de infància, lembranças de
Mas você ainda pode perguntar por que pessoas que passaram por sua vida e não
eu fiz o poema, e aí eu vou formular aqui, pela estão mais aqui, e há os “Poemas Resgatados”,
primeira vez a sua gênese: ele é o resultado da aqueles que estavam nas gavetas. Depois do
reflexão de alguém que pensa sobre o passado, livro impresso, você ainda teve a sensação
nos problemas da memória, nas coisas que de que faltava algum poema, de que faltava
acabaram, e que ao mesmo tempo são um alguém?
peso sobre sua vida. Então, o momento em que
nada disso pesa, é um momento de liberdade GULLAR - Eu custei a entregar o livro ao
e plenitude. De repente eu compreendo que editor. A Maria Amélia, minha querida amiga
estar sem mim é uma liberdade total. Por isso (diretora editorial da José Olympio), me cobrou
eu digo que é. um processo de pensamento que muito o livro depois que leu uma entrevista em
não é consciente mas que está sendo feito, e o que eu dizia que o livro estava terminado. Mas
poema nasce disso. Por isso eu penso que ao eu fiquei ainda quatro meses lendo os poemas,
largava, voltava, foi assim até nascer outro WEYDSON - Então esse poema tem quase
poema, que eu ainda incluí no livro, quando 30 anos...
só então eu o dei por encerrado.
GULLAR. - É...(pensando)...ele é de 70.
WEYDSON - E a ideia dos “Poemas Mas entre os “Poemas Resgatados” há poemas
Resgatados”? Como foi tirá-los da gaveta? ainda anteriores, quer dizer ..(em dúvida) ...
pode haver alguns para frente... São poemas
GULLAR - Eu já te contei essa história- Em que foram apenas anotados.. Por exemplo:
1970, um pouco antes de ir para o exílio, eu quando eu trabalhava na sucursal do Estadão
escrevi um poema sobre a minha casa em São (Jornal Estado de São Paulo) aqui no Rio, eu
Luís do Maranhão. Lá, naquela casa de assoalho ficava sozinho lá no meu canto, anotava certas
de tábua corri ia um espaço de quase meio coisas, mas não dava tempo, os caras vinham,
metro entre as tábuas e o chão. Às vezes caía “ô Gullar, escreve esse texto aqui! “, e tal coisa...
dinheiro por entre as fendas, eu tirava uma Então interrompia aquilo e eu fui tendo na
tábua e entrava ali para buscar minha moeda minha gaveta um monte dessas anotações.
que estava lá embaixo. Havia um cheiro forte, Quando eu saí do Jornal, peguei tudo, pus
de décadas, de todo aquele pó, um pó preto que dentro de uma pasta e trouxe para casa. E essa
parecia pólvora . O poema era sobre isso, sobre coisa ficou aí, guardada em outra gaveta.
a casa, essas coisas. Bem, ele estava escrito,
mas eu ainda não sabia se estava pronto. A WEYDSON - E como você achou?
verdade é que eu tive de sair de casa correndo
quando começou a minha vida clandestina, GULLAR - É uma coisa estranha... Eu sou
e não voltei mais. Quando eu já estava em um organizado dispersivo - organizo tudo
Moscow, eu lembrei do poema, procurei entre mas depois não acho: tá guardado em algum
as coisas que tinha levado e terminei pensando: lugar, onde eu não sei. De repente eu fico
perdi o poema. Foi aí que eu decidi reescrevê- achando, coisas “guardadas” que estavam “
lo, e já em 1975 ele foi publicado no meu livro perdidas “. Foi assim que eu encontrei esses
“Dentro da Noite Veloz”. O poema se chama “A poemas. Quando eu comecei a ler, pensei: eu
casa “, e foi então traduzido em várias línguas, poderia dar uma forma definitiva a isso. Então
despertando interesse em muita gente, como trabalhei os poemas. Os “Poemas Resgatados”
nos meus tradutores nos Estados Unidos, não estão como foram escritos, entretanto,
na Alemanha, na Espanha, na Argentina, na eu os trabalhei com o espírito com que foram
Holanda.. Alguns anos depois, de volta do escritos. Eu tentei me reintegrar naquele
exílio, eu abri uma pasta de manuscritos que ambiente e retomar os temas, as coisas..
encontrei e lá estava o poema original, que
agora está em “Muitas Vozes”. WEYDSON - Haverá lançamentos fora do
Rio de Janeiro? (O lançamento oficial no Rio
WEYDSON - Como ele se chama agora? ocorreu em 12 de julho de 1999).
GULLAR - “Sob os pés da família “. Mas GULLAR - Eu pretendo fazer o lançamento
então, quando eu li o poema que achei, era lá em São Luís do Maranhão. Eu estou devendo
outro poema O tema era o mesmo, mas o que essa ida à minha mãe, a meus irmãos, pois eu
eu tinha escrito era outra coisa. Eu estava certo disse que iria no ano passado e não pude, tive
que tinha reconstituído tudo, e de repente era que cancelar. Você sabe que tem um poema
outro poema. Evidente que alguns pedaços são aqui (pegando o livro ‘Muitas Vozes”) que foi
idênticos ou parecidos, mas é outro poema. escrito lá em São Luís?
Isso me provocou uma reflexão: se eu não
tivesse perdido esse poema eu não teria escrito WEYDSON - Nos “Poemas Resgatados”?
o outro. Quer dizer, a possibilidade de um
mesmo tema gerar poemas diferentes. Porque GULLAR - Não, nos novos. Eu escrevi tia
a gente tem a suposição de que o poema que a última vez que estive lá, há uns três anos.
gente escreve é a única forma possível do que Chama-se “Volta a São Luís “. É um poema
se quer dizer, mas está provado que não é... do exílio ao contrário. Porque o Gonçalves
no calor da tarde
durou dois segundos?
Exercícios
uma eternidade?
ela aquele cheiro 01. Sobre Ferreira Gullar é incorreto afirmar:
de casa de negros a) Publicou seu primeiro livro de poesia,
de roupa engomando Um Pouco Acima do Chão, em 1949.
rua do Coqueiro? Publicou A Luta Corporal (1954) e
ela sua saia Poemas (1958).
de chita vermelha? b) Entre 1955 e 1959 participou da
hoje pe uma pantera primeira fase do movimento da Poesia
guardada em perfume Concreta.
c) Em 1959 rompeu com o Concretismo
Nasce o Poeta (parte 10) e publicou o Manifesto Neoconcreto
A coisa e a Fala no Jornal do Brasil. A partir de 1961
a boca não fala participou do movimento de cultura
o ser (que está fora popular, integrando o CPC e a UNE.
de toda linguagem): d) Foi preso, em 1968, e seguiu para o
só o ser diz o ser exílio político na Europa em 1971. Em
a folha diz folha 1975 foi publicado Dentro da Noite
sem nada dizer Veloz; seguiram-se Poema Sujo (1976).
o poema não diz e) Nos anos de 1980 publicou Na Vertigem
o que a coisa é do Dia (1980), Toda Poesia (1980),
mas diz outra coisa Crime na Flora ou Ordem e Progresso
que a coisa quer ser (1986), Barulhos (1987); na década de
pois nada se basta 90 publicou Muitas Vozes (1999), com o
contente de si qual ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia
o poema empresta em 2000. Neste livro o autor retorna
às coisas totalmente à sua fase mais engajada.
sua voz - dialeto -
e o mundo 02. (UEPG - 2009) Sobre o livro “Muitas
no poema Vozes” de Ferreira Gullar, assinale o que
se sonha for correto.
completo 01) No poema “Tato”, a certeza de existir
é confirmada pela ponta dos dedos: o
Meu Pai toque do poeta em seu próprio corpo
Meu pai foi (“mas o tato me dá / a consciente
ao Rio se tratar de realidade / de minha presença no
um câncer (que mundo”).
o mataria) mas 02) Os poemas são repletos de elementos
perdeu os óculos de valor do cotidiano das pequenas
na viagem comunidades.
quando lhe levei
os óculos novos 04) Gullar, que comumente é visto como
comprados na Ótica um “poeta político”, confere o apelo
Fluminense ele social aos poemas em Muitas vozes,
examinou o estojo com dando lugarao discurso público em
o nome da loja dobrou detrimento a questões de ordem
a nota de compra guardou-a privada.
no bolso e falou: 08) Os poemas mostram um diálogo com
quero ver o contemporâneo e o atemporal,
agora qual é o enfatizam uma consciência de
sacana que vai dizer linguagem sobretudo na utilização
que eu nunca estive de rimas, de detalhes sonoros e a
no Rio de Janeiro utilização de poemas em quadra.
16) A morte “em segunda pessoa”, em V. Embora use recursos do fazer poético
Muitas Vozes, será representada concretista, Ferreira Gullar harmoniza
pelos poemas nos quais Gullar trata a ousadia formal com a representação
da morte daqueles que lhe são muito da emoção.
próximos, como “Filhos” e “Visita”.
Assinale a alternativa correta.
03. (UFPR- 2008) Leia o texto com atenção. a) Somente as afirmativas I, IV e V são
verdadeiras.
Ouvindo apenas b) Somente as afirmativas I e III são
verdadeiras.
e gato e passarinho c) Somente as afirmativas II, III e IV são
e gato verdadeiras.
e passarinho (na manhã d) Somente as afirmativas II, III e V são
veloz verdadeiras.
e azul e) Somente as afirmativas II, IV e V são
de ventania e ar verdadeiras.
vores
voando)
Texto para a questão 04
e cão
latindo e gato e passarinho (só Redundâncias
rumores Ferreira Gullar
de cão Ter medo da morte
e gato é coisa dos vivos
e passarinho o morto está livre
ouço de tudo o que é vida
deitado Ter apego ao mundo
é coisa dos vivos
no quarto para o morto não há
às dez da manhã (não houve)
de um novembro raios rios risos
no Brasil) E ninguém vive a morte
quer morto quer vivo
Acerca do poema acima reproduzido, mera noção que existe
considere as seguintes afirmativas: só enquanto existo
I. No plano da linguagem poética, 04. (UEPG - 2009) Analise as proposições e,
pelo menos um dos procedimentos considerando os aspectos do poema e a
empregados pelo autor em Muitas obra em que está inserido, assinale o que
vozes encontra-se exemplificado em for correto.
“Ouvindo apenas”: o texto espacializado 01) Esse poema de Ferreira Gullar, do livro
(a linguagem de base visual). “Muitas Vozes”, reitera a temática
II. O sujeito lírico de “Ouvindo apenas” da obra – a morte – algo simples, no
mantém-se desligado do mundo entanto redundante, como o próprio
objetivo, mostrando-se insensível a título nos aponta.
estímulos físicos. 02) Para o eu-lírico o vivo tem a ideia fixa
III. O emprego de quadras e tercetos da morte; o morto não tem noção do
isométricos associa “Ouvindo apenas” próprio estado em que se encontra,
ao modelo estrutural do soneto. estado de puro nada.
IV. O poema justapõe dois registros 04) Depreende-se no poema que para
da realidade: fora dos parênteses, o morto, em seu estado atual, não
os elementos da realidade são há raios (metonímia: tempestades –
relacionados de forma objetiva; dentro metáfora das tristezas), rios (metáfora
dos parênteses, fica evidenciada a das travessias da vida), e risos (metáfora
atuação do componente subjetivo. das alegrias), só o estado do nada.
08) A repetição sonora da consoante “R” 16) A morte se situa na obra com o
(nono verso: “raios rios risos”), sem a significado de libertação.
pausa forçada das vírgulas, sugere a
passagem veloz das imagens da vida 06. Sobre as características literárias de
– imagens condenadas ao nada. Ferreira Gullar, marque a opção incorreta.
16) Os poemas que compõem “Muitas a) Seus versos ora incorporam elementos
Vozes” condensam toda experiência da literatura de cordel, como em João
do poeta, acumulada ao longo de Boa-Morte, Cabra Marcado para
quase sete décadas, em alguns, a Morrer (1962), ora se voltam para as
morte ganha significados diferentes. tensões sociais e políticas do homem
brasileiro, como em Dentro da Noite
Veloz (1975) e Na Vertigem do Dia
Texto para a questão 05 (1980).
b) O pós-modernismo de 45 raiado de
Aprendizado veios existenciais, a poesia concreta
Quando jovem escrevi e neoconcreta, a experiência popular-
num poema ‘começo nacionalista do CPC, o texto de ira e
a esperar a morte’ protesto ante o conluio de imperialismo
e a morte era então e ditadura, a renovada sondagem na
um facho memória pessoal e coletiva... são todos
a arder vertiginoso, os dias momentos de uma dialética da cultura
um heroico consumir-se brasileira de que Ferreira Gullar tem
através de participado como ator de primeira
esquinas e vaginas grandeza.
agora porém c) Ajudou a fundar o grupo Opinião e
depois de escreve com Oduvaldo Viana Filho a
tudo peça Se correr o bicho pega, se ficar o
sei que bicho come. Com Dias Gomes escreve
apenas a peça Dr. Getúlio, sua vida e sua glória.
morro d) com o Poema sujo, 1975, que Ferreira
GULLAR, Ferreira. Muitas Vozes (Adaptado). Gullar encontra a solução dos impasses
políticos e estéticos que impediam-no
05. (UEPG - 2009) Com relação ao poema, de realizar uma poesia de primeira
assinale o que for correto. grandeza. Politicamente, ele rompe
01) A constatação da certeza da morte com o comprometimento explícito das
implica um desejo de morte, um fato obras da década de 1960, preferindo
desolador. embutir a questão social nas ações e
02) Em tom de desespero, o poeta então lembranças que o poema evoca.
constata: “sei que / apenas / morro”. e) Após seu retorno ao país em 1977,
04) O poema nos chama indiretamente Ferreira Gullar tornou-se o poeta pouco
a atenção para dois elementos: valorizado dentro da redemocratização
a memória e a velhice, questões brasileira, não voltando a ter forte
importantes para a construção dessa atuação na área cultural.
ótica relativamente conformada.
08) O poeta compara suas duas posturas
em face do objeto a morte que, se
na juventude era percebido como
algo heroico, um “facho / a arder
vertiginoso”, um “consumir-se / através
de / esquinas e vaginas”, agora, após
toda uma vida, é visto com serenidade,
com a sabedoria de quem há tempos
– desde então – convive com esta
reflexão e sabe que sua proximidade
é real.
O GUARANI
JOSÉ DE ALENCAR
Dados biográficos Foi o escritor que facilitou a nacionalização
da literatura no Brasil e consolidou o romance
José de Alencar nasceu em 1° de maio de brasileiro.
1829, em Mecejana, CE, e faleceu dia 12 de No ano de 1876, Alencar vendeu tudo o
dezembro de 1877, no Rio de Janeiro, RJ. que tinha e viajou para a Europa com Georgina
Era filho de José Martiniano de Alencar e seus filhos, buscando tratamento para sua
e Ana Josefina de Alencar. Desde a infância tuberculose.
José apreciava a leitura, a vida sertaneja e Em 1877, Alencar morreu no Rio de
a natureza, sob a influência do sentimento janeiro, vítima da tuberculose.
nativista que o pai revolucionário lhe passava.
Em companhia dos pais, viajou do Ceará à
Bahia, entre os anos de 1837-38. Seguiram para Principais obras
o Rio de Janeiro e nessa frequentou o Colégio
de Instrução Elementar. I Romances urbanos:
Foi para São Paulo em 1844, onde cursou »» Cinco minutos (1857);
Direito. Voltou para o Rio de Janeiro, período »» A viuvinha (1860);
em que exerceu sua profissão e colaborou no »» Lucíola (1862);
Correio Mercantil, além de escrever para o »» Diva (1864);
Jornal do Comércio. »» A pata da gazela (1870);
Foi eleito Deputado Federal pelo Ceará e »» Sonhos d’ouro (1872);
Ministro da Justiça, porém não conseguiu ser »» Senhora (1875);
Senador, sua maior ambição. Por não alcançar »» Encarnação (1893, póstumo).
seu objetivo, abandonou a política e dedicou-
se somente à literatura. II Romances históricos e/ou indianistas:
Em 1856, publicou Cartas sobre a »» O Guarani (1857);
Confederação dos Tamoios, nesse mesmo ano »» Iracema (1865);
lançou seu primeiro romance, Cinco Minutos. »» As minas de prata (1865);
Publicou, em forma de folhetins, O »» Alfarrábios (1873);
Guarani, no ano de 1857; essa obra lhe rendeu »» Ubirajara (1874);
popularidade. »» Guerra dos mascates (1873).
Escreveu romances indianistas, urbanos,
regionais, históricos, obras teatrais, poesias, III Romances regionalistas:
crônicas, romances-poemas de natureza »» O gaúcho (1870);
lendária e escritos políticos. »» O tronco do ipê (1871);
José de Alencar explorou em suas obras o »» Til (1872);
movimento indianista. »» O sertanejo (1875).
Em 1866, Machado de Assis elogiou
fervorosamente a obra Iracema, de forma que
o autor sentiu-se enobrecido. Resumo do Enredo
A admiração de Machado de Assis por José
de Alencar era tanta que escolheu-o como Como observa o próprio Alencar, nas
patrono de sua Cadeira na Academia Brasileira
de Letras. “notas do autor”, o título dado ao livro – “o
José de Alencar se preocupou em retratar guarani” – “significa o indígena brasileiro”.
sua terra e seu povo de tal forma que muitas Peri, pois, protagonista da história, seria não
obras suas relatam mitos, lendas, tradições, só o representante da grande nação tupi-
festas religiosas, usos e costumes observados guarani (da tribo dos goitacás), como também
por ele, com o objetivo de dar a feição do Brasil o símbolo do aborígine brasileiro em geral.
aos seus textos.
I. a figura do protagonista, o índio Peri, Qual das afirmações seguintes não encontra
que é um típico herói romântico, tanto correspondência na cena final do romance
pela sua força física como pelo seu O Guarani, anteriormente transcrita?
caráter; a) “Extinto pelo dilúvio (a tempestade) o
II. o amor do índio Peri por Cecília, uma passado dos dois jovens (Peri e Cecília),
moça branca, sendo que esse amor superam-se as relações de vassalagem
segue o modelo medieval do amor
cortês; que havia entre ambos, bem como
III. o fato de o livro ser ambientado na se superam as diferenças raciais e
época da colonização do Brasil pelos culturais.”
portugueses, dada a predileção dos b) No final do romance, o amor de Peri por
românticos por narrativas históricas; Cecília permanece vassalo, fraterno,
IV. o final do livro marca o retorno a um platônico.
passado mítico, pois Peri e Cecília c) A bela união amorosa entre Peri e
simbolicamente regressam à época Cecília, sugerida por Alencar, simboliza
do dilúvio. a origem da raça brasileira.
d) A rica adjetivação, a comparação, a
Então, estão corretas: metáfora e a prosopopéia são traços
a) I e II. estilísticos da prosa alencariana,
b) I, II e III. presentes no texto.
c) I, II e IV. e) O heroísmo do índio Peri salvando
d) I, III e IV. Cecília reflete, no romance, a teoria do
e) todas. “bom selvagem”.
03. (FUVEST) Assim, o amor se transformava 05. Em O Guarani, o autor procura valorizar as
tão completamente nessas organizações*, origens do povo brasileiro e transformar
que apresentava três sentimentos bem certos personagens em heróis, com traços
distintos: um era uma loucura, o outro uma do caráter do “bom selvagem”: pureza,
paixão, o último uma valentia e brio. Essa tendência é típica do:
religião. a) romance urbano
............ desejava; ............. amava; .............. b) poemas épicos
adorava c) romance regionalista
(*organizações = personalidades) d) poemas históricos
e) romance indianista
Neste excerto de O Guarani, o narrador
caracteriza os diferentes tipos de amor 06. Em O guarani, três homens deixam-se
que três personagens masculinas cativar pela jovem Ceci. Sobre essas
sentem por Ceci. Mantida a sequência, relações sentimentais, assinale a única
os trechos pontilhados serão preenchidos alternativa correta.
corretamente com os nomes de: a) Loredano dedica a Ceci uma paixão
a) Álvaro / Peri / D. Diogo profunda, que o impele a praticar ações
b) Loredano / Álvaro / Peri recrimináveis em nome do sonho de
c) Loredano / Peri / D. Diogo enriquecer e tornar-se digno de casar-
d) Álvaro / D. Diogo / Peri se com a filha de D. Mariz.
e) Loredano / D. Diogo / Peri b) O amor sensual que Álvaro secretamente
alimenta por Ceci opõe-se à castidade
04. (CEAP-AP) “O hálito ardente de Peri dos sentimentos de Peri pela moça.
bafejou-lhe a face. Fez-se no semblante c) Peri, fiel protetor de Ceci, sente ciúmes
da virgem um ninho de castos rubores e de Loredano e Álvaro e, por isso, tenta
lânguidos sorrisos: os lábios abriram como impedir que eles se aproximem de .sua
as asas purpúreas de um beijo soltando o senhora.. Sendo assim, percebe-se que
vôo. A palmeira arrastada pela torrente
impetuosa fugia... o amor de Peri por Ceci não era tão
E sumiu-se no horizonte.” desinteressado quanto parecia.