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DOM05ABRIL
Domingo
5 de Abril de 2020
Ano 44 • N.º 15951

Kz 45,00
Director: VÍCTOR SILVA
Director-Adjunto: CAETANO JÚNIOR
www.jornaldeangola.co.ao

NÚMERO DE INFECTADOS EM ANGOLA CHEGOU A 10

NESTA EDIÇÃO

VÍCTOR SILVA
Começar, de novo!
Mais dois casos positivos
A PALAVRA DO DIRECTOR • 2

ZULINNI BUMBA
e um paciente recuperado
Dois cidadãos angolanos, que chegaram
a Luanda nos dias 17 e 20, de Portugal,
tornaram-se nos novos casos positivos
de coronavírus no país. No total, são
agora 10 os infectados e uma morte.
Na conferência de imprensa de balanço
da situação da pandemia em Angola,
o secretário de Estado Franco Mufinda Mundo tem quase 1,2 milhões de infectados
falou de mais um recuperado, perfa-
zendo dois, e o acompanhamento de Covid-19 já matou 64 mil pessoas
563 pessoas que tiveram contactos Estados Unidos atingiram os 300 mil casos
com os casos positivos. DESTAQUE • 4 A 7

ARMAS “CALARAM” HÁ 18 ANOS NO DIA DA PAZ

Escritora de literatura JOSÉ COLA | EDIÇÕES NOVEMBRO

infantil destaca
o ambiente
Presidente
FIM-DE-SEMANA • 16
pede disciplina
FUTEBOL
Atletas do Petro orientados
para impedir
a treinar em casa
DESPORTO • 31
contaminação
Numa mensagem por oca-
CADERNO sião dos 18 anos de paz em
Angola, o Presidente da
República apelou a todos
os angolanos e estrangeiros
residentes no país a cum-
prirem todas as recomen-
dações de procedimentos
de prevenção estabelecidas
pelas competentes auto-
ridades administrativas,
sanitárias, policiais e outras,
que têm o objectivo de evi-
tar, ao máximo, o surgi-
mento da contaminação
comunitária e a propaga-
ção da pandemia. “Só a
autodisciplina individual
e colectiva nos salvará, para
podermos voltar à nossa

Dinheiro antes para guerra

vida normal e desfrutar
dos benefícios da paz e da
reconciliação nacional”,
exortaou o Chefe de Estado,
sublinhando a necessidade

serve no combate à pobreza

de as pessoas ficarem em
casa e lavarem as mãos
com sabão, quantas vezes
for possível. POLÍTICA • 10

No dia em que o país comemora 18 anos de paz
definitiva, o Executivo garante que os recursos
financeiros, anteriormente alocados às despesas
relacionadas com a guerra, estão a ser aplicados
para combater a pobreza e em sectores chaves
para o desenvolvimento, como a Educação,
Saúde e Habitação. A ministra de Estado para a
Área Social, Carolina Cerqueira, ressaltou a CHUVAS INTENSAS
aposta no desenvolvimento humano, enquanto NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO
elemento de base da igualdade, justiça e factor
de reconciliação, reconstrução, unidade e coesão
entre os angolanos. POLÍTICA • 10

VIGAS DA PURIFICAÇÃO | EDIÇÕES NOVEMBRO

COMBUSTÍVEL PARA AVIÕES
MOXICO

Redução do preço do Jet

O reerguer dá folga às companhias
da província A baixa dos preços de referência do Jet A1 vem dar
uma folga operacional às companhias aéreas. O

onde nasceu
Ministério das Finanças reduziu, recentemente, em
45,76 por cento, o preço do Jet A1. ECONOMIA • 24
Descarga eléctrica
a paz COVID-19
mata duas pessoas
em Ndalatando
ENTREVISTA • 12 | 13 #FiqueEmCasa SOCIEDADE • 26
2 OPINIÃO Domingo
5 de Abril de 2020

PALAVRA IMAGEM DO DIA

DO DIRECTOR Rua Rainha Ginga, 12-26
Caixa Postal 1312 - Luanda
Redacção: 222 020 174
Telefone geral (PBX): 222 333 344 Contrariamente às exigências legais, muitos cidadãos continuam a ignorar
Fax: 222 336 073
Víctor Silva Telegramas: Proangola
E-mail: ednovembro.dg@nexus.ao
o distanciamento social para inibir a propagação do novo coronavírus e
salvaguardar a saúde pública

Começar, de novo!
DIRECTOR: DR
Víctor Silva
DIRECTOR-ADJUNTO:
Caetano Júnior
DIRECTOR EXECUTIVO:
Guilhermino Alberto
Ontem, 4 de Abril, o país deveria ter vivido a alegria e a animação
EDITOR EXECUTIVO:
próprias da celebração de uma das datas mais importantes do ca- Diogo Paixão
lendário nacional, o dia que assinala o calar definitivo das armas, SUB-EDITOR EXECUTIVO:
Cândido Bessa
abrindo a enorme janela de esperança de realização de outra grande
e maior conquista dos angolanos, a Independência. GRANDE REPÓRTER:
Luísa Rogério
Uma pandemia mundial obrigou a que o país esteja a viver um
período emergencial, de prevenção e combate ao novo coronavírus, EDITORIAS:
POLÍTICA:
que obriga ao isolamento social como uma das medidas profilácticas Bernardino Manje (editor-chefe),
Fonseca Bengui (subeditor),
mais adequadas. Já antes, e por diversas épocas e momentos, o país Santos Vilola, Adelina Inácio,
João Dias, César André, Edna Dala,
viveu em planos de emergência, mas nenhum com a dimensão do Garrido Fragoso

que vigora actualmente, mesmo que se possa fazer uma analogia aos OPINIÃO:
anos em que vigorou o recolher obrigatório. Ambrósio Clemente (editor-chefe),
Faustino Henrique (subeditor)
Sendo o confinamento, a permanência em casa, uma das principais
SOCIEDADE:
armas, a par de outras ligadas à higiene pessoal e colectiva, para se Nhuca Júnior (editor),
prevenir a disseminação da doença, é natural, pois, que as comemorações Alberto Pegado (editor),
José Meireles (editor),
do Dia da Paz tivessem passado um pouco à margem desta causa que Rodrigues Cambala, André da Costa,
Kilssia Ferreira, Manuela Gomes,
põe em perigo todos os caboucos já solidificados na construção da Augusto Cuteta, Alexa Sonhi
e Edna Mussalo
Nação, nos marcos modernos da democracia e do primado da lei. REGIÕES:
Sérgio Chivaca (editor-chefe),
Não festejar com a dimensão que a efeméride exige está longe de Béu Pombal (subeditor),
significar que ela tenha caído no esquecimento e perdido a importância Filipe Eduardo
ECONOMIA:
inegável que possui na História do país. Antes pelo contrário! O facto Cristóvão Neto (editor-chefe),
Ana Paulo, Kátia Ramos, Madalena
leva à reflexão colectiva sobre os ganhos da paz e a necessidade de José, Natacha Roberto
e Victorino Joaquim
a preservar como condição básica para se atingir a prosperidade e
MUNDO:
abandonar o estágio de subdesenvolvimento. Que choca com o po- Bernardino Fançony (editor-chefe),
António Canepa (Subeditor)
tencial de riqueza identificado e por identificar com que os nossos
solo, subsolo, rios e mar foram bafejados. DESPORTO: REVISTA DA SEMANA
Amândio Clemente (editor-chefe),
Anaximandro Magalhães (subeditor),
Desde o parto da Independência, e durante décadas, Angola viveu
em conflitos político-militares que foram adiando a concretização
António Cristóvão, Honorato Silva,
Armindo Pereira, Teresa Luís e Sábado, 28 de Março Covid-19, como álcool-gel e luvas, informou o Ins-
António de Brito
plena do país sonhado e possível, que garantisse a harmonia e a fe- CULTURA:
Dois dos infectados com coronavírus em Angola tituto Nacional de Defesa do Consumidor (INA-
licidade para todos, sem distinção. Por isso, a conquista da paz António Bequengue (editor-chefe),
Francisco Pedro (subeditor),
acabam por falecer em Luanda, anuncia a mi- DEC), garantindo “responsabilização criminal”.
destapou um oceano de esperança e de oportunidades que tardam, Amilda dos Santos, Manuel Albano,
Mário Cohen e Roque Silva
nistra da Saúde, Sílvia Lutucuta. Trata-se de O Tribunal Militar de Cabinda condena cinco
contudo, a ser sentidas pela maioria dos angolanos, atirada ao GENTE E FIM-DE-SEMANA: um cidadão de 59 anos de idade, residente re- efectivos das Forças Armadas Angolanas (FAA)
António Cruz (editor-chefe),
descaso e à sorte por força da inversão de valores que nos são (ou Isaquiel Cori (editor) gularmente em Portugal e de um jovem tam- afectos à Região Militar de Cabinda, por su-
Edna Cauxeiro (subeditora),
eram) idiossincráticos e que foram substituídos por alguns dos co- Ferraz Neto (subeditor) bém angolano de 37 anos. posta tentativa de extorsão de um saco de
e Pereira Diniz
nhecidos pecados capitais, que uma minoria conseguiu impor em A Polícia Nacional, de forma coordenada com peixe de aproximadamente dois quilos a uma
EDIÇÕES ESPECIAIS:
beneficio próprio e quase como padrão de vida institucionalizado. Adalberto Ceita, André dos Anjos, os serviços de saúde, fixa equipas nas principais cidadã na via pública.
A gula insaciável acentuou as distorções sociais e relegou preo- Domingos dos Santos
e Leonel Kassana entradas e saídas da Centralidade Orizonte, no
cupações e prioridades básicas para um plano inferior à luxúria dos
FOTOGRAFIA:
Cuito, e no condomínio Wazediwa, afecto às Quarta-feira, 1 de Abril
seus egos inflamados, que não se cansa(va)m de massajar intra e Kindala Manuel (editor-chefe), Forças Armadas Angolanas (FAA), com o propó- O Presidente da República, João Lourenço, fe-
José Cola (editor),
além-fronteiras, onde havia sempre uma multidão de aduladores Dombele Bernardo, Domingos sito de dar corpo ao Decreto Presidencial e de- licita através da sua página do Twitter, sete
Cadência, Eduardo Pedro, João Gomes,
prontos a prestar todos os serviços que a soberba, construída com Maria Augusta, Miqueias Machangongo, limitar a circulação dos citadinos na via pública. jovens angolanos residentes na China, por terem
os dinheiros descaminhados dos cofres públicos, permitia. Mota Ambrósio, Paulo Mulaza, Santos
Pedro; Contreiras Pipa; Vigas da partilhado com os concidadãos, a sua experiên-
Uma praxe que se foi refinando ao longo de anos, na esteira da Purificação; Agostinho Narciso
Domingo, 29 de Março cia de superação ao Covid-19.
suposta criação de uma burguesia nacional na base da acumulação
primitiva de capital e que, na prática, resultou num saque generalizado CORRESPONDENTES PROVINCIAIS: O número de cidadãos em quarentena insti- O secretário de Estado para a Saúde Pública,
Adão Diogo (Lunda-Sul),
ao erário e à construção de impérios supostamente privados, mas Alberto Coelho (Cabinda), tucional na província do Cunene aumenta de Franco Mufinda, anuncia em conferência de
Vladimir Prata (Namibe),
com dinheiros de todos. Isidoro Natalício (Cuanza-Norte), 75 para 234 pacientes, revela em Ondjiva, a imprensa no Centro Aníbal de Melo, o registo
Jaime Azulay (Benguela),
O novo ciclo político, inaugurado em Setembro de 2017, permitiu Jesus Silva (Lobito), governadora provincial, Gerdina Didalelwa, de mais um caso positivo por Covid- 19. Trata-
Estanislau Costa (Huíla),
resgatar a esperança que andava arredia das famílias, pelos maus João Mavinga (Zaire), durante a reunião com os membros da Comis- se de um cidadão sul-africano, residente em
Joaquim Aguiar (Lunda-Norte),
exemplos de ostentação insultuosa que se sucediam ante a sua cada Silvino Paulo (Uíge), são Provincial Multissectorial. Angola, proveniente de Pretória.
Lourenço Manuel (Cuando Cubango),
vez mais difícil sobrevivência quotidiana. Luís Pedro (Cuanza-Sul), A ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, Uma delegação multissectorial composta
Noé Jamba (Bengo),
Por isso, foi declarado o combate à corrupção e à impunidade Quinito Kanhamei (Cunene), fez sair um Decreto Executivo, através do qual pelos secretários de Estado do Interior e do Co-
Samuel António (Moxico),
como uma das prioridades políticas, para que os poucos recursos en- João Constantino (Bié), define as províncias do país onde podem ser mércio, funcionários seniores dos Ministérios
José Chaves (Andulo),
contrados nos cofres fossem destinados à correcção das assimetrias Fernando Cunha (Huambo), fixadas casas de jogos de fortuna e azar, tam- das Relações Exteriores, da Saúde e dos Trans-
Francisco Curinhingana (Malanje)
então criadas. Combate que se mantém actual quando confrontamos bém conhecidos por casinos. portes encabeçada pela ministra de Estado
a dura realidade do dia-a-dia das famílias e das empresas, sem a PAGINAÇÃO E ARTE: O ex-seleccionador nacional sénior mascu- para a Área Social, Carolina Cerqueira, realiza
Salvador Escórcio (editor), Soares Neto,
garantia da maior parte dos serviços mínimos em áreas tão sensíveis Eugénia Víctor, Adilson Santos, Augusta lino, o norte-americano William Voigt, pro- uma visita de trabalho à província do Cunene.
Lucéu, Tomás Cruz, Noé Pungue, Bruno
como a Educação, a Saúde, o saneamento básico, o abastecimento de Bernardo, Luquemba Pedro, Evaristo cessa a Federação Angolana de Basquetebol
Sacupalica, João Augusto, Josefa Abreu,
água e de emergia, a habitação e a mobilidade, entre tantos outros. Maria Messele, Alberto Bumba, Inês (FAB) junto do Tribunal Arbitral do Desporto. Quinta-feira, 2 de Abril
Conhecedoras desta realidade, as autoridades decidiram pela Quingando, Margarida Zilungo, Maria da
Silva, Saldanha Pedro, Raúl Geremias, A Procuradoria-Geral da República (PGR) põe
medida extrema de decretação do Estado de Emergência, para que António Quipuna, Henrique Faztudo
Segunda-feira, 30 de Março em liberdade os cidadãos que se encontram
o contágio da Covid-19 não atinja os números que se conhecem CARTOON E ILUSTRAÇÃO:
Armando Pululo e Casemiro Pedro O Ministério dos Recursos Minerais e Petróleos em prisão preventiva, com crimes de baixo grau
noutras paragens.
(Mirempet) adia, para data a indicar, o anúncio de perigosidade social, numa acção enquadrada
Porque o país não tem um sistema de saúde digno desse nome e
tem enormes carências infra-estruturais, além de económicas e fi-
COPY DESK: do vencedor do concurso para a construção nas medidas para impedir a propagação do co-
Rui Ramos, Arlindo Soares,
nanceiras, que tornam o surgimento de qualquer epidemia num au- Esperança Vieira Dias da Refinaria do Soyo, no quadro da prevenção ronavírus (Covid-19).
têntico perigo para a segurança nacional, como é agora o caso do contra a pandemia do Covid-19. O padre Tomás Kapingala está entre as vítimas
novo coronavírus. O Jornal de Angola
utiliza os serviços da ANGOP, AFP,
A UNITA, maior partido da oposição, apre- mortais do Covid-19 em França. O missionário
Com o reacender da esperança, têm reemergido valores abando- Reuters, EFE e Prensa Latina senta à Assembleia Nacional, o relatório de da congregação dos Salentinos esteve inter-
nados e que passam pela solidariedade, testada no período de seca PUBLICIDADE: contas referente ao exercício económico de nado desde o dia 23, em Paris, onde estava ra-
no Sul do país, reforçada na quadra natalícia e renovada nesta época (+244) 937 550 262 2019, em cumprimento do estipulado na Lei dicado, depois de ter acusado positivo ao teste
(+244) 949 770 006
em que Angola e o mundo estão numa guerra ante um inimigo e-mail: sobre Financiamento dos Partidos Políticos. do Covid-19.
invisível. Os gestos de solidariedade multiplicam-se, individual e co- publicidade@jornaldeangola.com O Comando Provincial da Polícia Nacional (PN)
lectivamente, porque na hora do socorro não deve haver barreiras em Benguela detém, preventivamente, 180 ci- Sexta-feira, 3 de Abril
de qualquer espécie, nem se deve exigir responsabilidades apenas dadãos por incumprimento das restrições do O ministro de Estado e chefe da Casa de Segu-
a quem governa. Aliás, a ocasião é propícia para que alguns que con- Estado de Emergência em vigor no país. rança do Presidente da República, na qualidade
seguiram enriquecer contra a corrente da maioria, possam mostrar de coordenador da Comissão Intersectorial de
o seu lado humanista que se acredita haver ainda entre os homens Terça-feira, 31 de Março Gestão das Medidas contra a Expansão do
e devolver parte do que foi retirado do erário ou acumulado licitamente PROPRIEDADE
Edições Novembro, E.P. O presidente do Tribunal Supremo e do Conselho Covid-19, Pedro Sebastião, garante em Luanda,
e ajudar na prevenção desta pandemia. Superior da Magistratura Judicial, Joel Leonardo, que o Executivo tem montada toda a linha lo-
Neste momento, não há certezas. Tudo é incerto ante um inimigo abre formalmente o Ano Judicial 2020 através gística para assegurar as situações actuais e pe-
invisível que pode roubar a nossa identidade, razão mais do que SEDE:
Rua Rainha Ginga, 12-26 de uma nota oficial, devido à pandemia do ríodos menos bons que possa vir a surgir em
suficiente para se repensar o país, desde os seus alicerces, e corrigir, Caixa Postal 1312 - Luanda
Redacção: 222 020 174 Covid-19, que afecta o país e o mundo. função do impacto da pandemia.
efectivamente, o que está mal e ensaiar novas vias que possam Telefone geral (PBX): 222 333 344
levar mais rápido a recuperar o tempo perdido e não repetir os Fax: 222 336 073 O ministro do Interior, Eugénio César Labori- No âmbito do plano de contingência de com-
Telegramas: Proangola
erros que foram sendo cometidos até hoje. Com base no diálogo, e-mail: ednovembro.dg@nexus.ao nho, efectua uma visita de trabalho às comar- bate ao Covid-19, o ministro da Energia e
na inclusão e participação, de facto e efectiva, de todos os repre- cas sediadas em Luanda, nomeadamente, a de Águas, João Baptista Borges, visita os pontos
sentantes da sociedade. CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Luanda, ao Sambizanga, Hospital Prisão, Ran- de abastecimento de camiões-cisterna, vulgo
Hoje, mais do que nunca, impõe-se um pacto político e social Víctor Silva (presidente) gel e a de Viana, para se inteirar das medidas girafas no Calumbo, Kikuxi e Dona Xepa.
ADMINISTRADORES EXECUTIVOS
que possa transformar-se numa causa nacional na qual todos os an- Caetano Pedro da Conceição Júnior de segurança que estão a ser implementadas A ministra da Saúde revela, em Luanda, que
José Alberto Domingos
golanos se revejam e se engajem, porque, por mais optimistas que Rui André Marques Upalavela nos estabelecimentos penitenciários, com um grupo de 500 pessoas, que tiveram contac-
Luena Kassonde Ross Guinapo
se possa ser, ninguém está em condições de prever como será o dia vista a salvaguardar a vida dos reclusos. tos com os oito casos positivos registados no
ADMINISTRADORES NÃO EXECUTIVOS
seguinte a esta crise sanitária que se veio somar à económica e fi- Filomeno Jorge Manaças Dois farmacêuticos foram detidos em Luanda por país, está a ser acompanhado pelas equipas de
Mateus Francisco João dos Santos Júnior
nanceira que já vinha se evidenciando de forma acentuada. duplicação de preços de produtos de protecção ao vigilância epidemiológica.
OPINIÃO Domingo
5 de Abril de 2020
Covid-19, Governo e Constituição
O Estado de Emergência decretado há uma semana
pelo Presidente João Lourenço por virtude do co-
ronavírus, veio colocar a nu e à nossa reflexão, uma
série de questões vitais para o funcionamento da
sociedade. Como estrelas a saírem dos seus escon-
derijos diurnos, mostraram-se e iluminaram o fir-
mamento das nossas ideias. Repetidas vezes, me-
receram no decurso do mandato presidencial, vários
reparos de cidadãos que, como ele e os seus con-
selheiros,acompanham com atenção a vida do país.
A teimosia incomodativa das posições de um
grupo restrito deindivíduos, manteve-se firme a
enfrentar a sombra do dedo acusador de quem
não gosta de ouvir verdades. Vão dizendo de sua
justiça e desde então,sobre o que entendem não
estar bem, no quadro da pretensão de se corrigir
o que andava e anda mal. Tal como o azeite, que
é leve, vieram agora ao de cima, as gorduras
diagnosticadas que clamam por urgente dieta.
Menos ministros (ainda são muitos), menos carros
novos, menos viagens (e menos primeiras classes),
menos subsídios, etc., etc. e tal.Por um emagre-
cimento real, por outra desenvoltura nos movi-
mentos da governança.
Se acaso tivessem existido, diluíam-se agora as
dúvidas (ou certezas) que confundiram o meu juízo
desde 2010, no período prodigioso da mais auspi-
ciosa década do engenheiro-estratega,em que se
aprovou a Constituição da República de Angola
(CRA), por eliminação da antiga Lei Constitucional.
Recordo bem o tempo e a trabalheira da Comissão
Constitucional criada pela Assembleia Nacional,
em meses tornados anos de difícil diálogo com os
partidos políticos, igrejas e franjas da sociedade
civil, todos acolherem as melhores ideias para a
Lei Fundamental. Próximos da unanimidade (até
Vicente Pinto de Andrade ousou anunciar a sua can-
didatura à Presidência da República), sobravam,
se bem me lembro, apenas três quesitos para dis-
cussão:a bandeira, o hino e os símbolos nacionais
. Tão perto estávamos nós de conseguir uma Cons-
tituição normal, digna, quando se deu o impensável.
Em 2004, já o acordo parecia consolidado, não
se sabe por que carga de água, deu-se uma vira-
gem, igual à que o bico costuma fazer ao prego
e, nessa época de coragem rara,surgiu nova fór-
mula que, em desenho de poder absoluto para
uma só pessoa, foi veementemente contestada
por muitos cidadãos patriotas. Infelizmente, foi
impossível contrariar ideias fixas. As do chefe,
que incentivou e se orgulhou da criação duma
Constituição atípica, segundo as suas próprias
palavras, e as dos constitucionalistas angolanos,
artífices seguros e fortemente estribados no
contexto. Uma equipa apoiada técnica e poli-
ticamente nasopiniões de mestres portugueses
principescamente remunerados,com eco ga-
rantido nos pronunciamentos dos arautos de
voz forte duma comunicação pública institu-
cionalizada e submissa. Satisfizeram a exigência
do poderoso chefe, e no melhor estilo do clien-
telismo, talharam à medida da personagem, um
fato alinhavado e cosido por exímios oficiais de
corte e costura, que não pediam meças ao estilista
francês Pierre Cardin. Cedo se reconheceu que o
CITAÇÕES
“18 anos de paz!
Num momento
em que temos
uma nova
‘guerra’ para
fato ficava apertado, que tolhia os movimentos
da Nação, que nos deixava praticamente amar-
vencer, a ‘guerra’
rados! Mas o fato completo, de três peças, calça, contra a Covid-19,
casaco e colete, serviu às mil maravilhas, o ele- todos somos
gante manequim. Claro, tudo isto é dito agora, soldados ao
numa conjuntura diferente, em que as ideias su- serviço da Pátria.
gerem mais do que as palavras. E, para bom en- Se cada um ficar
tendedor, meia palavra basta. É o mágico sentido na sua trincheira
simbólico ou figurado das palavras a prevalecer. (casa), Angola
Vem aí mais uma remodelação do Governo. Vai vence esta
levantar a velha celeuma da CRA. E o que vem sendo ‘guerra’ e celebra
adiado, vai acontecer mesmo, preconiza-se nos
bastidores da política. Convenhamos, há fortes ra-
uma nova Paz”
zões para se introduzirem alterações na CRA.Espero Adão de Almeida,
Ministro da Administração
que não surjam no limite do amanhã! Na minha do Território, reagindo sobre a
opinião e no plano conciso da governação, antes Paz nas redes sociais
do mais, é sempre mau a constante mudança de
ministros. Tivessem apostado à primeira e não “Das organizações
fossem escolhidos certos titulares, evitar-se-iam internacionais,
alguns dissabores e experiências falhadas,nem recebemos valores
dadas segundas chances a figuras conotadas com em dinheiro que
o passado obscuro. Depois, é preciso diminuir estão em contas
ainda mais o número dos ministérios bem como bancárias
das estruturas que são seus apêndices. Justificando,
não haverá, por acaso, gente e máquinaa mais no
devidamente
controladas, quer
sector social? Os tradicionais ministérios, como a
pela Comissão
Educação, a Saúde, a Cultura, a Juventude e Des-
portos, a Promoção da Mulher, a Comunicação Intersectorial quer
Social, etc., etc., não deveriam sujeitar-se a um pelo Ministério
outro estreitamento, reduzindo serviços e aumen- das Finanças que
tando capacidades? É que, vista a questão com ob- tem contas
jectividade, não podemos esquecer que funciona abertas onde
junto do Presidente da República a sua Secretaria
para os Assuntos Sociais. Com a sua organização.E
estão depositados
estes valores”
que existe também o peso institucional de uma mi-
nistra de Estado para os Assuntos Sociais. A pergunta Pedro Sebastião,
tem total cabimento. Não será gente a mais?Mas,a Ministro de Estado e chefe da
Casa de Segurança do
verdade é que, embora insuficiente, já se deu um Presidente da República
passo importante em direcção à mudança. Que es-
pero, não volte atrás quando o petróleo subir. “Se der para
Existem outras questões comprometidas com continuar com o
a Constituição, como o certo tom de abuso campeonato está
contido na designação Executivo, principalmente bem, mas se não
quando aplicado à sua função governamental. der é justo que
Advém de tal facto a ideia satírica de que em vez seja entregue o
de governar o Executivo executa. Quanto aos de-
partamentos ministeriais que substituíram os
título ao Petro,
ministérios, fica claro que a figura do ministro uma vez que
sai diminuída na sua autoridade e prestígio, se fomos líderes da
for tratado como chefe de departamento minis- primeira volta e,
terial que a actual nomenclatura sugere. Ora, neste momento,
ministro é sempre ministro e nunca chefe de de- estamos a liderar.
partamento. Não admira que sejamtratados por Temos mais golos
alguns secretários do PR sem o respeito que me- a favor, menos
rece um ministro. Os secretários do Presidente contra e no último
não deveriam ser apenas assessores com staff clássico
mais reduzido? Desde logo, não devem nem po-
dem exercer poder que não lhes está consignado
vencemos por
por lei e, portanto,é errado pensar-se estar acima duas bolas sem
dos ministros, como alguns pensam que estão. resposta. Por isso,
Assim, torna-se uma exigência, a diminuição prá- se o campeonato
tica dos seus excessivos poderes. Mas o momento parar, é mais
é para tarefas de vida e de morte, de pensarmos lógico que o Petro
como sair das amarras do coronavírus. O futuro seja o campeão”
fica para depois, se não puder ser para já. disse”
DR
Toni Cosano,
Treinador do Petro Atlético de
Luanda
“Em plena
pandemia mortal
e sem fronteiras,
os Estados Unidos
devem tomar
medidas para
oferecer a ajuda que
pudermos às nações
mais afectadas pelo
novo coronavírus,
incluindo o Irão”
Joe Biden,
Candidato às eleições primárias
democratas norte-americanas
3
PERSPECTIVA
João Dono |*
A.C. e d.C.: Covid-19
- uma nova oportunidade para África
A Covid-19 fez-nos voltar às nossas origens, às nossas casas, aos
nossos bairros, às nossas províncias e aos nossos países. Voltámos
à essência humana e origem de tudo – uma casa, um lar e uma
família orando em tempos difíceis. Para alguns, ao filme Sozinho
em Casa, para outros ao Adão e Eva no paraíso.
Não há dúvidas de que a Covid-19 mudou o nosso dia-a-dia
e muitos dos nossos hábitos. Ao contrário do Estado de Emer-
gência que será temporário, as mudanças que o vírus trouxe ao
mundo vieram para ficar e depois do dia D que tanto esperamos
– o fim do vírus em todo o mundo - virá o dia Zero, um recomeço
para a humanidade e surgimento de novos hábitos, novas
crenças, novos valores e novas ordens sociais, económicas, ju-
rídicas e religiosas.
A Covid-19 começou por ser apenas um vírus do chinês. A
Europa ficou a “dormir à sombra da bananeira”, afinal isso era
coisa dos chineses. Em pouco tempo passou a ser um vírus do
mundo, tivemos que nos isolar nas nossas casas, nas nossas pro-
víncias, nos nossos países e no nosso continente. Passou a ser
coisa séria e o terror espalhou-sepelo mundo. Todos passamos a
ser suspeitos, sem direito a pre-
sunção da inocência, quarente-
A Covid-19 trouxe-nos na obrigatória para quem esteve
o tempo e a oportunidade em qualquer situação ou país
de risco. O vírus leva a peito o
para criarmos princípio da igualdade, não dis-
uma nova África. tingue raça, cor, condição social,
financeira, religião ou idade.
A par das medidas Qualquer vacilo, lá vem ele. Ficar
preventivas, vamos longe dele – em casa – é a melhor
opção. Ele que morra sozinho
preparar-nos para os na rua, numa esquina qualquer,
novos desafios e fazer mas longe das nossas casas.
O mundo parou, o dia passou
de África, novamente, a ter mais de 24h, o tempo dei-
o Berço da Humanidade, xou de existir. Tudo o que existe
no seu verdadeiro sentido somos nós, a nossa casa, a nos-
sa família e um vírus à espreita.
físico e espiritual Não é ficção, é a pura realidade.
A primeira lição a tirar da
Covid-19 é que o planeta, como
o conhecíamos até 2019, deixou de existir. Quem ainda pensa e
age como agia em 2019, com as mesmas crenças, já não pertence
a este mundo, mesmo que fisicamente ainda esteja por cá.
Esta é sem dúvida a Terceira Guerra Mundial, contra um
inimigo invisível e devastador. Não sabemos quem ordenou o
ataque, apenas sabemos que ataca todos os que encontrar
pelo caminho. Para lutar contra ele, só as FAS(Forças Armadas
da Saúde). Para os países, como os africanos, que nunca valo-
rizaram os profissionais da Saúde, é momento de ganhar cons-
ciência de que é preciso ter um novo exército no país – o dos
profissionais da Saúde. Estes têm deixado as famílias em casa
e, sem medo, enfrentam diariamente este inimigo público. São
os soldados da linha-da-frente da Terceira Guerra Mundial.
Depois desta fase, é preciso não termos a memória curta e lem-
brarmo-nos de que o mundo não terá mais guerras com tiros e
explosões. Um estatuto para as FAS e a sua consagração e pro-
tecção constitucional é um imperativo universal.
Depois da Covid-19, o mundo vai ressurgir, haverá um antes
e um depois, para sempre, dividindo o mundo em a.C. e d.C.
(antes e depois do Covid-19). Neste reiniciar, voltamos ao princípio
da caminhada e temos uma nova oportunidade de fazer diferente.
Os políticos e os gestores devem ter esta consciência e adaptar-
se às novas realidades que surgirão depois da Covid-19. Serão
necessárias medidas legislativas para legitimar a nova ordem
social, económica e jurídica.
O pior erro que poderemos cometer será ignorar que tudo
voltou à normalidade e a vida pode continuar como se nada
tivesse acontecido. Pelo contrário, será necessário expandir a
consciência, ter noção que este universo é uma ínfima parte do
que existe e incentivar a necessidade de harmonizar o corpo, a
mente e o espírito. Os ensinamentos da física quântica devem
ser levados a sério e introduzidos nos currículos escolares. Não
podemos continuar a iludirmo-nos e a iludir os outros de que
apenas existe esta realidade física que vemos.
A alteração dos planos curriculares, de modo a preparar as
nossas crianças e jovens para os novos tempos, será crucial
para o desenvolvimento das nações. Neste ponto,África tem
oportunidade de dar um salto quantitativo. Quando tudo pára,
é a altura perfeita para preparar o reinício e dar a volta ao
jogo. A Covid-19 trouxe-nos o tempo e a oportunidade pára
criarmos uma nova África. A par das medidas preventivas,
vamos preparar-nos para os novos desafios e fazer de África,
novamente, o Berço da Humanidade, no seu verdadeiro sentido
físico e espiritual.
Consultor Jurídico e Docente Universitário
4 DESTAQUE
CIDADÃOS REGRESSARAM NOS DIAS 17 E 20 DE MARÇO
País com dois novos casos positivos
e um recuperado nas últimas horas
Com estes dois novos casos, aumenta para dez o número de pessoas infectadas por Covid-19
no país, sendo seis activos, dois recuperados e dois óbitos. Todos os casos são importados
Manuela Gomes
e Xavier António
Mais dois novos casos posi-
tivos de Covid-19 e um
recuperado foram regista-
dos, nas últimas 24 horas,
no país, anunciou ontem,
em Luanda, o secretário de
Estado para a Saúde Pública,
Franco Mufinda.
Com estes dois novos
casos, acrescentou, aumen-
tam para dez o número de
pessoas infectadas por
Covid-19, sendo seis activos,
dois recuperados e dois óbi-
tos. Franco Mufinda, que
falava em conferência de
imprensa, explicou que os
dois cidadãos, residentes em
Angola, regressaram ao país
nos dias 17 e 20 de Março,
provenientes de Portugal.
“Os dois são angolanos.
Um está no centro da Barra
do Kwanza e o outro na Clí-
nica Girassol”, explicou,
acrescentando que os dois
apresentam um quadro clí-
nico assintomático.
Nesta altura, 1.919 pessoas
estão em quarentena, dos
quais 858 em quarentena
institucional. O Centro Inte-
grado de Segurança Pública
(CISP) registou, até ontem,
163 chamadas telefónicas,
cinco alertas de casos sus-
peitos, já investigados, 19
denúncias de violação da
quarentena domiciliar.
Franco Mufinda anun-
ciou que o país conta com
mais 92 equipas para res-
posta rápida ao surgimento
de casos suspeitos de Covid-
19. “São técnicos de vigi-
lância epidemiológica,
laboratoriais, médicos clí-
nicos e INEMA”, disse.
Mercados informais
A Polícia Nacional encer-
rou, nas últimas 24 horas,
34 mercados informais,
com destaque para o das
Pedrinhas, Kikolo e Salinas,
por falta de espaço e con-
dições de higienização das
mãos, assim como 48 esta-
belecimentos comerciais,
SUPOSTAMENTE TERÁ VINDO DA ÁFRICA DO SUL
Cidadão com sintomas internado
no Hospital Municipal do Kuimba
Jaquelino Figueiredo |
Mbanza Congo
Um cidadão nacional, de
25 anos, está em isolamento
no município do Kuimba,
suspeito de Covid-19, reve-
lou ao Jornal de Angola o
director do Gabinete Pro-
no âmbito das medidas de
prevenção e Controlo da
Covid-19.
A informação foi avan-
çada ontem, em Luanda,
em conferencia de
imprensa, pelo porta-voz
dos Órgãos de Defesa e
Segurança da Comissão
Interministerial para Res-
posta à Covid-19, subco-
missário Waldemar José.
“Neste momento, a nível
do país, estão a funcionar
apenas os mercados muni-
cipais que oferecem melho-
res condições”, referiu.
Por isso, disse, contactos
estão a ser estabelecidos
junto dos administradores
municipais no sentido de
criarem todas as condições
nos mercados informais.
“Apelamos à compreensão
dos cidadãos, quando as
Forças de Defesa e Segu-
rança encerram um mer-
cado está causa o interesse
público e a saúde pública”,
sublinhou.
Waldemar José disse que
entre colocar 30 milhões
de habitantes em risco e,
eventualmente, cinco mil
vendedores num mercado,
vincial da Saúde do Zaire.
João Miguel Paulo expli-
cou que o indivíduo, sem
histórico de viagem ao exte-
rior e residente no muni-
cípio do Kuimba, alega ter
regressado recentemente
da África do Sul e apresenta
sintomas de gripe, tosse e
optaram pela primeira,
encerrando esses locais.
Detenções
Na ocasião, o porta-voz dos
Órgãos de Defesa e Segu-
rança da Comissão Inter-
ministerial para Resposta
à Covid-19 indicou que, a
nível do país, foram detidos,
nas últimas 24 horas, 87
cidadãos, dos quais 37 por
desobediência, desacato e
especulação.
Entre as províncias, des-
taca-se Luanda com 44,
Benguela cinco, Bengo cinco,
Luanda Sul uma, Cunene
duas, Zaire nove, Huambo
10, Cuanza-Sul seis, Cuando
Cubango cinco e duas no
Bié. “Foram apreendidas, a
nível do país, 130 viaturas,
p o r n ã o re s p e i ta re m o
excesso de lotação, das quais
4 4 e m B e ngu e l a , 2 1 n o
Huambo, 20 em Luanda, 24
no Uíge, oito no Bié, cinco
no Bengo, quatro no Moxico,
três no Cuanza-Sul, três na
Lunda-Norte e uma no
Cuando Cubando”, disse.
As Forças de Defesa e
Segurança apreenderam
494 motorizadas, no exer-
dificuldades respiratórias.
Apesar desse quadro clí-
nico, o director do Gabinete
Provincial da Saúde do
Zaire descarta, para já, que
seja um caso confirmado
de Covid-19. “Ele está sob
cuidados médicos. Inicial-
mente, foi-lhe diagnosti-
CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO
cício da actividade de moto-
táxi, sendo 122 em Benguela,
1 1 7 n o Hu a mb o , 5 5 e m
Luanda, 51 no Uige, 47 no
Bié, 41 no Moxico, 17 na
Lunda-Sul, 13 no Bengo, 11
na Lunda-Norte, 10 no
Cuando Cubango. “A nível
do país foram julgados dez
cidadãos sumariamente por
desobediência às orienta-
ções emanadas”, referiu.
Waldemar José realçou
ainda que foi também apren-
dida uma arma de fogo, 31
botijas de gás, cujo comer-
ciante estava a fazer a espe-
culação de preços, 80 caixas
de refrigerantes adulterados,
na província de Benguela,
assim como foram execu-
tadas 53 interdições nas saí-
das e entradas de fronteiras.
Um outro caso, acres-
centou, é referente ao atro-
pelamento de um tenente
das Forças Armadas, ocor-
rido no município de Viana,
em plena barreira policial,
causando graves ferimentos
na zona craniana.
“O mototaxista colocou-
se em fuga, sendo detido
depois e será responsabili-
zado criminalmente nos pró-
cado malária no Hospital
Municipal do Kuimba, onde
foram descobertos 10.330
plasmódios por milímetro
cúbico de sangue e, em fun-
ção deste quadro, colhemos
amostras e enviámos para
Luanda, para serem ana-
lisadas pelo laboratório de
referência”, esclareceu.
João Miguel Paulo acres-
centou que o paciente que
deu entrada inconsciente
na unidade hospitalar apre-
senta, nesta altura, uma
evolução no quadro clínico.
“O cidadão encontra-se
estável, com ligeira dimi-
nuição das dificuldades res-
ximos tempos”, disse.
Apontou igualmente a
detenção, na província da
Lunda-Sul, de três toneladas
de peixe, em mau estado
de conservação, que esta-
vam a ser comercializadas.
Segundo o porta-voz, foi
detido um cidadão, e será
julgado nos próximos dias,
depois de ser orientado a
regressar a casa e não obe-
deceu as ordens, tendo arre-
messado uma pedra ao
agente que se encontrava
em serviço, causando feri-
mentos graves.
Na província da Lunda-
Sul, referiu, cidadãos que
estavam numa roulotte a con-
sumir bebidas alcoólicas,
foram orientados a retornar
à casa, mas em resposta arre-
messaram objectos contun-
dentes aos efectivos das forças
de Defesa e Segurança, cul-
minando com a sua detenção.
“No mercado do Xicingue
no Bié, um grupo de apro-
ximadamente 15 motoquei-
ros insurgiu-se contra as
nossas forças, querendo
desarmá-los, e, em resposta,
houve um disparo que atin-
giu a perna de um deles,
estando a receber tratamento
no hospital local”, disse.
Foram também detidas
duas cidadãs na Centrali-
dade do Mussungue, no
Dundo, na Lunda-Norte,
por terem desrespeitado a
ordem de paragem das for-
ças de segurança.
A Polícia Nacional infor-
mou também a detenção de
um cidadão vietnamita, por
especulação de preços de
mercadoria, falsificando fac-
turas de um supermercado,
para justificar o aumento do
valor dos seus produtos.
“Esperávamos que, neste
período, as nossas celas esti-
vessem mais preenchidas
com aqueles criminosos
tradicionais, mas estamos
a verificar o contrário. A
desobediência civil é que
faz com que muita gente seja
detida e julgada sumaria-
mente”, lamentou.
piratórias, mas continua sob
cuidados médicos”, referiu.
Em função do alarmismo
provo cado p ela s re de s
sociais, o director do Gabi-
nete Provincial da Saúde
do Zaire desmentiu a exis-
tência de um caso confir-
mado da Covid-19.
“São rumores sem fun-
damento que circulam
nas redes sociais. Não é
verdade, é uma mentira.
Se a província não tem
nenhum laboratório para
pesquisa dos doentes com
sintomas da Covid-19, é
difícil confirmarmos estes
casos”, disse.
Domingo
5 de Abril de 2020
Breves
SUSPENSAS
ACTIVIDADES DE
DESMINAGEM NO PAÍS
Todas as actividades de
desminagem em curso no
país estão suspensas, no
âmbito do combate à
expansão da Covid-19,
determinou o presidente
da Comissão Nacional
Inter-sectorial de
Desminagem e Assistência
Humanitária (CNIDAH),
Santana André Pitra
“Petroff”. Numa nota de
imprensa enviada ao Jornal
de Angola, Santana André
Pitra justifica a suspensão
das actividades com o facto
de as tarefas desenvolvidas
no sector da acção contra as
minas serem realizadas por
equipas mais ou menos
numerosas, cujo risco de
contágio pela Covid-19 entre
o pessoal pode ser
considerável.
“Ficam suspensas todas as
actividades de desminagem
em curso no território
nacional levadas a cabo por
todos os operadores”,
determina o presidente da
CNIDAH, que faz uma
excepção aos casos de
emergência e justificáveis.
Enquanto durar a vigência
do estado de excepção,
Santana André Pitra
“Petroff” recomenda a todos
os operadores a estrita
observância das orientações
das autoridades sanitárias
até que a situação volte
à normalidade.
BAI DOA MAIS
DE DEZ MIL MILHÕES
DE KWANZAS
As empresas do Grupo BAI,
designadamente o Banco
Angolano de Investimentos,
SA, a NOSSA Seguros, BAI
Microfinanças, BAI Europa,
BAI Cabo Verde,
disponibilizaram dez mil
milhões, quatrocentos e
trinta e seis milhões de
kwanzas, para apoiar na luta
contra a Covid-19.
Numa nota de imprensa, o
Grupo refere que o valor
será para aquisição de
meios de diagnóstico e de
outros equipamentos e
materiais úteis, nos termos
do Plano Nacional de
Contingência.
Por outro lado, acrescenta a
nota, a Academia BAI vai
alocar recursos para prestar
cerca de mil horas em
acções de formação e
desenvolvimento para os
quadros envolvidos na
campanha de prevenção da
pandemia, disponibilizando
as instalações, a título
gratuito, para o efeito.
Aquela instituição financeira
garante também, através da
sua participada GRINER,
realizar a manutenção das
infraestruturas hospitalares
de apoio à prevenção ou
tratamento da Covid-19 em
Luanda, Saurimo,
Ndalatando e Menongue,
num valor estimado em
cerca de 150 milhões de
kwanzas. “O Grupo BAI
espera, com estas medidas,
estar a contribuir, de forma
positiva, para mitigar o
efeito de contágio da Covid-
19 nas comunidades do
país, conclui a nota.
DESTAQUE Domingo
5 de Abril de 2020
DURANTE O PERÍODO DO ESTADO DE EMERGÊNCIA
Serviços de água e energia sem
restrições na cidade do Dundo
O maior reservatório de água da cidade do Dundo, localizado no bairro
Satxingongo, com uma capacidade de cinco mil metros cúbicos, oferece
garantias para fazer uma distribuição ininterrupta aos principais aglomerados
populacionais do casco urbano e periferia da capital da Lunda-Norte
Armando Sapalo
Os serviços de água e ener-
gia eléctrica na cidade do
Dundo, capital da Lunda-
Norte, e arredores serão
prestados sem interrupções,
durante o período do Estado
de Emergência, garantiram
os responsáveis das empre-
sas públicas de Águas e
Saneamento e de Distribui-
ção de Electricidade.
Em declarações ao Jornal
de Angola, André Camilo e
Felisberto Gomes assegura-
ram que, no âmbito das medi-
das de prevenção e combate
da Covid-19, não haverá cor-
tes por falta de pagamento
do consumo de água potável
e energia eléctrica.
“Tudo está a ser feito
para se evitar, ao máximo,
a paragem desses servi-
ços”, disseram.
O presidente do Conselho
d e Ad m i n i st ração d a
Empresa Pública de Águas
e Saneamento da Lunda-
Norte ( EPASLN), André
Camilo, referiu que, na
cidade do Dundo, estão em
funcionamento dois sistemas
de água , com níveis de pro-
dução suficientes para garan-
tir um abastecimento regular.
“As estações de capta-
ção do Mussungue, com
uma capacidade de pro-
dução de 200 metros cúbi-
cos por hora, e a do
Luachimo, com 560 metros
cúbicos, vão assegurar o
abastecimento regular do
precioso líquido aos mais
de 20 mil habitantes da
cidade do Dundo”, garantiu.
GRAU DE CUMPRIMENTO
Medidas de prevenção Sensibilização sobre a pandemia
exigem mais rigor chega à povoação do Luinha
Sampaio Júnior | Benguela
As medidas de prevenção e
combate da Covid-19 devem
ser exercidas com maior rigor
na província de Benguela,
defendeu, sexta-feira, o
ministro de Estado e chefe
da Casa Civil do Presidente
da República.
Frederico Cardoso, que
avaliou o grau de cumpri-
mento das medidas preven-
tivas em curso, alertou que é
necessário continuar a apri-
morar as capacidades de inter-
venção para a contenção do
vírus. “O vírus não tem cor,
nem cheiro, não possui ideo-
logia política, é um inimigo
André Camilo frisou ser
crucial manter o abaste-
cimento de água às famílias
para a prevenção e com-
bate da Covid-19. “Estamos
a reforçar as medidas de
prevenção, abastecendo
regularmente a àgua às
populações”, referiu.
O maior reservatório de
água da cidade do Dundo,
localizado no bairro Sat-
xingongo, com uma capa-
cidade de cinco mil metros
cúbicos, oferece garantias
para fazer uma distribuição
ininterrupta aos principais
aglomerados populacionais
do casco urbano e periferia
da capital da Lunda-Norte.
Embora esteja em curso
silencioso. É uma doença
infecciosa que mata”, frisou.
Sublinhou que é importante
ultrapassar “certos tabus”, na
medida em que algumas pes-
soas ainda pensam que a
doença não as pode atingir.
“Este é um vírus que afecta
qualquer um, daí a necessidade
de protegermo-nos”, alertou.
O governador Rui Falcão
deu a conhecer que Benguela
controla 17 casos suspeitos
em quarentena domiciliar e
possui seis pontos de rastreio
para testar os cidadãos.
Apontou dificuldades para
a compra de equipamentos
de biossegurança no mer-
cado local.
BENJAMIN CÂNDIDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
a redução temporária do pes-
soal, André Camilo disse que
foram constituídas equipas
nas áreas de produção, tra-
tamento e distribuição de
água, para se evitar eventuais
embaraços no abastecimento
do precioso líquido.
À semelhança da cidade
do Dundo, acrescentou,
esforços estão a ser envi-
dados para garantir o acesso
a água nos municípios onde
foram construídos sistemas
modernos de abasteci-
mento do líquido.
O presidente do Conselho
d e Ad m i n i st ração d a
Empresa Pública de Águas
e Saneamento da Lunda-
Norte apelou às famílias a
CUANZA-NORTE
Isidoro Natalício | Ndalatando
As medidas de prevenção
contra a Covid-19 foram,
recentemente, transmitidas à
população da povoação do
Luinha, comuna da Canhoca,
no município de Cazengo, pro-
víncia do Cuanza-Norte, por
membros do Governo local.
Distanciamento entre as
pessoas, lavar as mãos com
água e sabão, várias vezes
ao dia, beber regularmente
água, com algumas gotas de
limão, foram as recomen-
dações dos técnicos e aca-
tadas pela população do
L u i n h a , p ovo a ç ã o c o m
grande potencial na na pro-
dução de limão e banhada
racionalizarem o consumo
de água, evitando o des-
perdício. “Famílias devem
também criar reservas de
água, tendo em conta que
podem eventualmente sur-
gir constrangimentos téc-
nicos e operacionais no
funcionamento normal dos
sistemas”, alertou.
Energia sem cobranças
O director do Centro de Dis-
tribuição da Empresa Nacio-
nal de Electricidade (ENDE),
na Lunda-Norte, Felisberto
Gomes, assegurou que,
durante o período do Estado
de Emergência, ficam sus-
pensos os cortes e cobranças
das dívidas aos clientes.
“Todas as medidas coerci-
vas, por falta de pagamento,
estão adiadas, sendo que a
responsabilidade de pagar
o consumo de energia eléc-
trica está ao critério do pró-
prio cliente”, disse.
Felisberto Gomes disse
que, com vista a evitar aglo-
merados de mais de 50 pes-
soas, estão abertas apenas
duas das três agências de
atendimento ao público na
cidade do Dundo. Acres-
centou que os trabalhadores,
com idade superior a 50
anos e que padecem de
doenças crónicas, como a
hipertensão e diabetes,
foram temporariamente
dispensados.
A ENDE tem disponíveis
16 megawatts para a cidade
do Dundo, onde tem regis-
tado 4.141 clientes, no sis-
tema pré-pago, e 16.127
no pós-pago.
pelo rio Luinha.
Apesar do isolamento da
localidade, devido ao estado
avançado de degradação da
via de cerca de 23 quilóme-
tros, da povoação até à Estrada
Nacional 230, e a interrupção
dos comboios do Caminho-
de-Ferro de Luanda (CFL),
aldeões do Luinha revelam
terem alguns conhecimentos
sobre a pandemia que tem
assolado o mundo, desde
finais do ano passado.
“Nos informamos pela
televisão, por via satélite,
adquirida pelo tio Vavá,
comerciante que também
possui cantina e toca
música, para animação da
juventude, sempre que há
PROVÍNCIA DO NAMIBE
Condições satisfazem
Comissão Nacional
João Upale | Moçâmedes
O secretário de Estado do
Interior para o Assegura-
mento Técnico, Salvador
Rodrigues, mostrou-se
satisfeito com as condições
criadas para a prevenção
da Covid-19 na província
do Namibe.
Salvador Rodrigues, que
é também porta-voz da
Comissão Multissectorial
Nacional de prevenção à
pandemia, reconheceu as
condições criadas nos cen-
tros de quarentena insti-
tucional e nos locais para
acomodação dos técnicos
que se deslocam ao Namibe
para prestar ajuda em vários
domínios da saúde.
A Comissão Multissec-
torial Nacional, chefiada
pela ministra de Estado para
Área Social, Carolina Cer-
queira, esteve quarta-feira
no Namibe para constatar
o grau de prontidão da
região para a prevenção e
combate da Covid-19.
Nesta altura, estão em
quarentena domiciliar 12
cidadãos, dos quais dez pro-
venientes de Portugal, e
dois vietnamitas oriundos
do Dubai. A província do
Namibe conta com três uni-
dades hoteleiras para a qua-
rentena institucional. Um
dos hotéis vai servir para
técnicos de saúde que forem
colocados em quarentena.
O director do Gabinete
Provincial da Saúde,
Miguel Ferreira, revelou
que o Namibe recebeu 90
milhões de kwanzas para
aquisição de material de
biossegurança. A Comissão
Multissectorial Nacional
ofere ceu algun s meio s
l o g í s t i c o s p a ra a p o i a r
famílias carentes e crian-
ças de rua.
A Escola 1º de Maio, no
bairro Quatro e Meio, peri-
feria da cidade do Namibe,
combustível para o gera-
dor”, contou, à reportagem
do Jornal de Angola, a aldeã
Maria Sengue.
A par da sensibilização
sobre o coronavírus, a comi-
tiva governamental, enca-
beçada pelo governador da
província, Adriano Mendes
de Carvalho, abordou outras
questões da realidade socioe-
conómica da povoação.
Além do limão, Luinha
produz maracujá, banana,
derivados da mandioca e
carvão, comercializados nas
cidades de Ndalatando e
Luanda, uma rotina inter-
rompida pelo Estado de
Emergência.
O administrador comunal
5
escolhida inicialmente para
quarentena institucional,
vai reforçar o Centro de
Saúde do bairro Forte Santa
Rita, escolhido para o tra-
tamento de possíveis casos
de Covid-19.
A Comissão Multissec-
torial Provincial está a tra-
balhar com voluntários do
Gabinete Provincial da Edu-
cação, na sensibilização
das comunidades da peri-
feria e locais de maior con-
centração populacional.
Técnicos cubanos
Salvador Rodrigues anun-
ciou que a província do
Namibe será uma das pri-
meiras a receber ajuda dos
médicos cubanos que
devem chegar nos próxi-
mos dias ao país, para aju-
dar na prevenção e combate
da Covid-19.
O secretário de Estado
do Interior para o Assegu-
ramento Técnico exortou a
população a cumprir com
o Estado de Emergência,
no sentido de se evitar a
propagação da doença.
“O recolhimento domi-
ciliar visa combater um ini-
migo invisível. Os especialistas
em saúde dizem que esta é a
melhor forma para comba-
termos esse vírus. O nosso
apelo é que os cidadãos
cumpram com essa orien-
tação”, disse.
Salvador Rodrigues pediu
à população no sentido de
ajudar os órgãos de Defesa
e Segurança a fazer cumprir
a lei e exortou os efectivos
a primarem pela pedagogia,
explicando a necessidade
do cumprimento do Estado
de Emergência.
“Por isso, são exigidos
que não saiam armados.
Não há ne ce ssidade de
armas. A população deve
respeitar os órgãos de Defesa
e Segurança, evitando o uso
da força”, referiu.
NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO
Adriano Mendes de Carvalho
da Canhoca, Domingos Joa-
quim, estima que vivam no
Luinha mais de 800 pessoas,
algumas das quais prove-
nientes de Luanda, que ali
se fixaram para a produção
agrícola e caça.
6 DESTAQUE
João Dias
Numa breve entrevista ao
Jornal de Angola sobre o cená-
rio de incerteza provocado
pelo Covid-19 em todo o
mundo e a complexidade
psico-emocionais daí decor-
rente, Abel José da Silva, psi-
cólogo angolano e Phd em
Ciências Pedagógicas, pela
Universidade de Ciências
Pedagógicas “Enrique José
Varona” - Cuba, considera
que a pandemia Covid-19,
pelo modo e rapidez como
se está a expandir, abre uma
“ferida no narcisismo” uni-
versal do ser humano em
pleno Século XXI, por estar
a destapar as suas fragilidades,
ao afectar a saúde pública de
nações e a pôr em colapso
sistemas até então inabaláveis.
Contudo, lembra, de modo
categórico, que sempre
“haverá vida depois do caos”
e que “a tormenta passará”.
Para o docente universi-
tário, é preciso haver, da parte
das pessoas, aceitação da
condição actual e real do
mundo, tomando atitudes
recomendáveis, associadas
à responsabilidade e ao com-
promisso com a própria vida
e a dos outros em tempos que
demandam atitudes positivas.
Na sua visão, as escolhas,
atitudes e responsabilidades
individuais têm reflexos
colectivos e que as etapas
que sucedem ao conheci-
mento de casos positivos em
Angola sejam vistas sem
ansiedade, mas com a res-
ponsabilidade e a calma
requeridas, por entender que
vencer a pandemia não
depende apenas de inter-
venção médica, mas também
de uma atitude positiva de
todos. Nesta luta, sugere, ficar
em casa faz a diferença e é a
melhor terapia.
O professor enfatiza que
uma situação destas provoca
medo e desespero, mas tam-
bém resiliência, que são, em
comum, dimensões ínsitas
à natureza humana. “Isso é
visível na luta global contra
o vírus em todos os cantos
do “planeta azul”. Num con-
texto destes, os medos jus-
tificam-se, pois o ser humano
está a lidar com o “desco-
nhecido”, um “vírus sem
cura”, refere.
Abel da Silva considera
positiva a divulgação de
aspectos relacionados com
o Covid-19, mas não deixa
de mencionar o lado negativo,
que, não raro, generaliza o
pânico. Porém, em tempos
da Covid-19, emerge o ine-
vitável paradoxo de se ter de
informar, apesar de gerar
medo, alertando para a neces-
sidade das pessoas não se
“inebriarem” com crenças
infundadas, irracionais e neu-
róticas, segundo as quais, o
vírus infecta apenas pessoas
com imunidade já fragilizada,
geralmente com histórico
patológico bem definido e
não jovens robustos.
“Esta falsa crença repre-
senta um grande perigo, por
desencadear risco de contágio
e circulação comunitária do
vírus”, avisa.
Face ao cenário, o psicó-
logo sublinha que, em meio
a tudo isso, do ponto de vista
psico-emocional, desenca-
deia-se um consequente qua-
dro de temor e ansiedade
excessiva, motivado, por um
PROFESSOR DOUTOR ABEL DA SILVA
“Haverá vida
depois do caos
e a tormenta
passará”
O Psicólogo afirma que
as escolhas, atitudes e
responsabilidades
individuais têm reflexos
colectivos e que as etapas
que sucedem ao
conhecimento de casos
positivos em Angola
sejam vistas sem
ansiedade, mas com
a calma requerida. O
sucesso desta ingente
operação depende
também da atitude
positiva de todos
contra a pandemia
Há ainda quem pense que,
nestes tempos ensombrados,
o Covid-19 só os outros
atinge, fragiliza e mata. Em
Luanda, a população está
num estado de negação. Nem
toda, mas boa parte. A popu-
lação quer continuar a levar
a vida como se estivesse em
tempos de normalidade,
“atropelando” o Estado de
Emergência e “burlando” a
dimensão emocional de que
está tudo bem.
Não está nada tudo bem.
Viana e Cacuaco são nega-
tivamente exemplar neste
sentido e com ambos quase
toda a periferia, onde os hábi-
tos e a circulação não sofre-
ram restrições. Só visto! Em
toda a extensão da Deolinda
Rodrigues, por exemplo, e
mesmo em tempos de Estado
de Emergência, há frenesim,
lado, pelo choque com o “des-
conhecido” e, por outro, pelo
paradoxo informação/desin-
formação, numa situação em
que cada um informa como
quer, quando e onde quer.
As pessoas, explica, pelo
instinto de sobrevivência,
percepcionam-se numa
situação limite e de desespero
existencial. Por isso, recorda
que o vírus é letal, mas afirma
que o seu grau de letalidade
Estado de Negação
como se as pessoas estives-
sem a fazer compras de Natal.
Pedonais bem cheias; para-
gens de táxi bem cheias. Ban-
cos bem cheios, sempre
liderados pelo BPC. Romaria
para o 30, sempre em grande
aglomerado. Os táxis param
próximo à “Dama Zé” e de
lá dezenas de pessoas, sem
observar o distanciamento
social, seguem para o 30,
num número inadvertida-
mente anormal em tempos
da Covid-19, o inimigo que,
em silêncio, mata centenas
em todo o mundo.
Há negação da letalidade
e do modo como o vírus se
propaga. Tão teimosas
quanto ignorantes, mulheres
dizem arriscar, porque têm
dependerá do comporta-
mento das pessoas, sobre-
tudo, no que se refere à
“desconstrução” de ideias
ilusórias e à adopção de ati-
tudes positivas na prevenção
e contenção de contágios.
Na sua visão, é fundamen-
tal, nesta fase, que as pessoas
tomem consciência dos tem-
pos difíceis em que o mundo
se encontra e que aprendam
a agir rápido e de forma asser-
de levar comida a casa. É
assim nos Congolenses,
Macambira, onde a busca
pelo gás faz esquecer até as
mais elementares regras de
prevenção. A fila é anormal-
mente extensa e o aglome-
rado de clientes sentados,
nas próprias botijas, é anor-
malmente denso. O que se
passa, em todos estes lugares
e avenidas, faz ver a lógica
invertida: primeiro o gás,
comida e seja lá o que for,
depois a prevenção”.
Interessa conseguir o
que se pretende. A doença,
esta, que aguarde. Os arma-
zéns continuam cheios,
mas os bancos também. As
ruas, sempre cheias de car-
ros, numa circulação que
tiva, para que cada um seja
um agente de prevenção.
Abel da Silva lembra que
o confinamento domiciliar
deve ser visto como condição
para prevenção e contenção
do Covid-19, com todas as
consequências psico-emo-
cionais daí decorrentes. Assi-
nala, no entanto, que tudo
isso deve servir para o que
chama de “dessensibilização
psico-emocional”, que passa
CEDIDA
nada mais significa senão
a combinação de teimosia
e ignorância.
Há falta de água nos bair-
ros, gás e comida. Mesmo
num Estado de Emergência,
as desculpas para sair de
casa encontram justificação.
Boas ou más. Encontram.
Há grupos, no interior dos
bairros, a jogarem “não te
irrites”, sempre com cerveja
à mistura. Pior, há relatos de
festas e até casamento com
direito a demoradas sessões
fotográficas, bem à porta,
por exemplo, da Cidade da
C h i n a , V i a Ex p r e s s a . O
ambiente calmo e de obser-
vância ao Estado de Emer-
gê n c i a n a z o n a u r ba n a
contrasta com o movimento
anormal nos bairros.
João Dias
pela assumpção da ideia de
que é possível conter a expan-
são da doença, se cada um
ficar em casa.
“Isso não é fácil se se con-
siderarem as várias necessi-
dades do ser humano. Mas é
preciso não morrer para se
continuar a ter necessidades
para satisfazer amanhã. Adap-
tar-se à nova fórmula de ser,
estar e agir, consignada nas
medidas de prevenção e con-
Domingo
5 de Abril de 2020
tenção da doença, é a chave-
mestra para o sucesso dos
esforços de todos na luta contra
este mal. Adaptar-se é, assim,
característica do ‘animal inte-
ligente’, seguindo a linha de
pensar de Piaget”, nota.
Num cenário como este,
o psicólogo Abel da Silva
receia que venha a abrir-se,
sem precedente, uma quase
“pandemia económica” e
realça que, perante situações
limite e de desespero exis-
tencial, quase tudo perde
sentido e qualquer investi-
mento é sempre feito para
garantir a sobrevivência das
pessoas. A vida, enfatiza,
aparece como o valor dos
valores, aquele sem o qual
qualquer esforço e investi-
mento esvazia-se de sentido.
O drama da morte iminente,
p ro s s e g u e , t o r n a o s e r
humano impotente.
“É preciso evitar paranóias,
nas suas diversas dimensões,
orientando as pessoas a inves-
tir em hábitos mais saudáveis,
nestes tempos de confina-
mento forçado. “Haverá vida
depois deste caos”, assinala.
Resiliência psicológica
Diante da incerteza que a
todos afecta, o psicólogo
Abel da Silva defende, no
âmbito do que considera
“teoria da resiliência psi-
cológica”, a necessidade de
as pessoas adoptarem ati-
tudes positivas, que, em
muitos casos, são determi-
nadas por opiniões e cren-
ças, igualmente, positivas.
“Só quem acredita que o
amanhã pode ser melhor é
capaz de lutar sem se tornar
numa ameaça ao outro. A
vida só tem sentido na justa
relação com o outro. Sendo
o futuro sempre incerto, a
única ‘certeza de fé’ para se
estar vivo e saudável é conter
o vírus, o que pode resultar
da vontade de todos em cer-
rar fileiras contra a pande-
mia. Quem quer viver adopta
atitudes positivas e quem
não quer arranja justificações
e culpados”.
Abel da Silva deixa três
notas, a primeira das quais
passa pela aceitação da con-
dição actual e real do mundo,
tomando atitudes recomen-
dáveis, enquanto chave para
vencer a pandemia.
“Só nos vamos galvanizar,
refazer projectos e sonhos,
se tivermos responsabilidade
e compromisso com a própria
vida e com a dos outros. Ati-
tudes positivas ante à reali-
dade actual pode ser a chave
para a sobrevivência. Diante
do drama actual, as nossas
escolhas, atitudes e respon-
sabilidades individuais têm
reflexos colectivos, podendo
fazer a diferença, pois a terapia
existencial acredita que a
pessoa pode escolher tor-
nar-se a pessoa que deseja
ser”, avalia.
Para o psicólogo, é fun-
damental que as etapas que
sucedem ao conhecimento
de casos positivos em Angola
sejam vistas sem ansiedade,
mas com responsabilidade e
calma requeridas. O sucesso
desta ingente operação não
depende apenas da interven-
ção médica hospitalar, mas
também de uma atitude posi-
tiva de todos contra a pande-
mia. Nesta luta, ficar em casa
pode fazer a diferença e cons-
tituir-se na melhor terapia.
DESTAQUE Domingo
5 de Abril de 2020 7
DR
Num momento em que cerca pela ausência de resposta
de metade da população inicial de Bruxelas. O Pri-
mundial enfrenta algum tipo DE TAIWAN CHEGA UM BOM EXEMPLO meiro-Ministro Giuseppe
“DA MINHA JANELA”
de confinamento, a Orga- Conte respondeu na mesma
Quase nada
nização Mundial da Saúde
chama a atenção para o facto
de haver cada vez mais casos
de pessoas entre os 30 e os
Esperança na Espanha publicação, o La Repubblica,
para pedir “ambição, uni-
dade e coragem” e a emissão
de títulos de dívida europeia,
mudou
50 anos nos cuidados inten-
sivos e a morrer da Covid-
19. Há também mais
e na Itália enquanto Mas quer Von der Leyen
quer os líderes da Alemanha,
Países Baixos, Finlândia e
Rosalina Mateta

Da minha janela, cujo

autoridades a apelar para o Áustria mantêm-se contra. campo de visão é limitado,
uso de máscaras fora de casa.

Alemanha
No dia em que a chanceler
Angela Merkel regressou
ao seu gabinete, após um
período de quarentena
devido ao contacto com um
m é d i c o i n fe c tad o c o m
Covid-19, o Governo anun-
ciou que quem não cumprir
a distância social de 1,5
metros incorre numa multa.
Cabe a cada um dos gover-
nos estaduais definir o valor
da multa. Em Berlim, a mão
é mais pesada (até 500
euros) do que, por exemplo,
na Baviera. No estado com
mais casos, os cidadãos
incumpridores podem ter
de pagar 150 euros.
As medidas tomadas
pelas autoridades alemãs
para retardar a propagação
do coronavírus começam a
surtir efeito, afirmou o pre-
sidente do Instituto Robert
Koch, Lothar Wieler.
“Estamos a ver que a pro-
pagação do vírus está a ficar
mais lenta... está a funcio-
nar.” No entanto, destacou
a necessidade de manter as
restrições sociais. Wieler
disse que cada pessoa que
tinha sido infectada com o
vírus estava agora a infectar
apenas outra, em média,
quando anteriormente esse
número tinha chegado a sete.
Numa nota menos opti-
mista, Wieler reconheceu
que o número de infectados
(cerca de 90 mil) e de mortos
(acima de 1200) é superior
ao indicado pelas autorida-
des de saúde. “Presumo que
teremos mais mortes do que
as registadas oficialmente.”
Austrália
Com 10 por cento do total
de infectados oriundos de
n av i o s d e c r u z e i r o , o
Governo de Scott Morrison
não está disponível para que
uma dúzia daqueles meios
de transporte turístico apor-
tem e cerca de 15 mil tripu-
lantes pisem terra firme. Já
fora alvo de críticas há um
mês, porque deixou desem-
barcar, em Sydney, 2700
passageiros do Ruby Prin-
cess, quando uma das medi-
das de contenção em vigor
nos EUA sobem casos
como na Austrália Meridional
(Adelaide) ou no Território
do Norte (Darwin).
Brasil
Uma petição assinada pelos
candidatos derrotados mais
votados (Fernando Haddad
e Ciro Gomes) a pedir a renún-
cia do Presidente, por ser um
“problema de saúde
pública”, manifestações de
desagrado pelo país fora -
os chamados panelaços -
durante os discursos de Jair
Bolsonaro, que até quarta-
feira persistia em chamar
ao novo coronavírus de
“gripezinha” e “resfriado-
zinho” e mostrava-se con-
tra as medidas tomadas
pelos governadores e autar-
cas, em linha com o Minis-
tério da Saúde e a OMS.
Nesse dia, a sua alocução
foi mais diplomática ao dizer
que a Covid-19 é “o maior
desafio desta geração”. Uma
moderação do discurso
ocorrida na sequência de
uma conversa com o homó-
logo norte-americano,
Donald Trump.
“Trocámos informações
sobre um problema que é
mundial”, reconheceu. O
líder brasileiro mantém a
prioridade na economia e é
favorável a uma flexibiliza-
ção das medidas sanitárias.
Até agora, o Brasil tem
menos infectados do que
TESTES PROSSEGUEM
Passada a barreira
oficial do milhão
de infectados e
perto dos 60 mil
mortos em termos
globais, os Estados
Unidos são o país
com o maior
crescimento
Portugal, apesar de ter 21 ximos dias novidades a esse
vezes mais população. respeito por parte do Centro
de Controlo de Doenças.
Espanha No entanto, a coorde-
A Espanha tinha na sexta- nadora da equipa da Casa
feira 117 710 casos confir- Branca para o coronavírus,
mados e 10 935 mortes por Deborah Birx, não se mos-
coronavírus e na quinta e trou muito entusiasmada,
sexta-feira o número de tendo dito que a lavagem
mortos bateu o lúgubre de mãos e a distância social
recorde de mais de 900. são as melhores preven-
Além disso é o segundo país ções: “Os olhos não estão
com o maior número de na máscara. Se se toca nas
novos infectados diários, a coisas e nos olhos, está-se
seguir aos EUA. Mas nem a expor igualmente.”
tudo são más notícias. Após O país que lidera em
quase três semanas de con- número de casos (mais de
finamento e de um surto um quarto de milhão) e cujos
especialmente grave em indicadores estão longe do
Madrid, o país está prestes a famoso achatamento da curva
atingir um dos primeiros é também notícia em relação
objectivos das autoridades às máscaras, mas por desvio
de saúde: que a chamada taxa de carregamentos. Ou, como
R0 atinja o valor 1, ou seja, disse o ministro do Interior
que uma pessoa infectada da cidade-estado de Berlim,
não transmita o vírus a mais Andreas Geisel, tratou-se de
do que uma pessoa. Neste u m a c t o d e “ p i ra t a r i a
momento o valor é de 1,05, moderna”, em referência à
quando no início da pandemia encomenda produzida na
era de oito. As autoridades China por uma empresa dos
aconselham agora os cidadãos EUA que tinha como destino
a usar máscara. a Polícia da capital alemã.
Paris também se queixou de
Estados Unidos situação semelhante.
Depois de o mayor de Nova
Iorque, Bill de Blasio, ter Itália
aconselhado os cidadãos a O país com mais mortos
usarem máscaras ou lenços registados, quase 15 mil,
fora de casa, a Administra- recebeu na quinta-feira um
ção Trump pondera uma pedido de desculpas da pre-
recomendação semelhante, sidente da Comissão Euro-
tendo previsto para os pró- peia, Ursula von der Leyen,
No terreno, continua a
registar-se mais de 700 mor-
tes por dia, deixando os ser-
vi ç o s f u n e rá r i o s s e m
resposta em Milão e Bér-
gamo. Ainda assim, o res-
ponsável pela saúde da região
mais afectada, a Lombardia,
Giulio Gallera, mostra-se
optimista: “Os nossos hos-
pitais começam a respirar.”
Singapura
Considerado um modelo na
resposta ao surto do novo
coronavírus, com um ras-
treamento dos casos e taxas
de testes recorde por habi-
tante, no início do mês pas-
sado a cidade-estado tinha
pouco mais de cem infecções.
O aumento para mil casos é
explicado pelo regresso de
habitantes do Reino Unido
e dos EUA e levou as auto-
ridades a encerrarem os locais
de diversão nocturna e proi-
birem ajuntamentos com
mais de dez pessoas.
Suécia
O país nórdico é um caso à
parte: as escolas primárias
permanecem abertas, assim
como os restaurantes e os
ginásios. “Cada um é res-
ponsável pelo seu próprio
bem-estar, pelos seus vizi-
nhos e pela sua própria
comunidade local. Isto aplica-
se numa situação normal e
aplica-se numa situação de
crise”, resumiu a ministra
dos Negócios Estrangeiros,
Anne Linde, que refutou as
acusações de descuido.
Os próximos dias dirão se
a estratégia é para manter.
No espaço de uma semana,
o número de infectados dupli-
cou e é agora superior a 6 mil
e o de mortos mais do que
triplicou (passou os 350).
Taiwan
Na ilha Formosa há pela pri-
meira vez uma Presidente.
Chama-se Tsai Ing-Wen e
cumpre desde Janeiro o
segundo mandato. Como
vice-presidente tem Chen
Chien-Jen, nada menos que
um herói nacional. É um epi-
demiologista que, em 2003,
perante o surto da SARS, foi
nomeado ministro da Saúde
e tomou medidas rigorosas
vejo o rapaz lavador de
carros, o papão da área,
já no batente. São quase
7h da amanhã, quarta-
feira, 1 de Abril. Numa
parada, estão quatro indi-
víduos. Um deles é habi-
tué, do género dono da
boca. Conversam tão jun-
tinhos, como se quisessem
fazer segredo, mais
ouvem-se-lhes as vozes.
O “dono da boca” tem uma
cerveja na mão. Não sei
se acordou sóbrio, mas já
dá para ver como vai estar
no fim do dia.
Alheios à conversa do
grupo, estão dois homens
apressados. Passam muito
próximo um do outro, mas
vão para caminhos dife-
rentes. Pelo que portam
e como estão vestidos,
parecem operários, ao
menos trabalham.
Não tarda muito, apa-
rece o “cartador” de água.
Rodeia-se de dezena de
bidões amarelos, começa
a enchê-los para, pos-
teriormente, distribui-
los pelos seus clientes,
moradores nos dois pré-
dios que limitam o meu
ângulo de visão.
Aparecem mais pes-
soas, para, individual-
mente, acarretar água,
tirada de um tanque sub-
terrâneo, que, tal como
nascente, nunca seca.
Ainda bem, pois tem aju-
dado bastante.
Às 8 horas, aparece a
tia “das couves”. Chegou
cedo para vender o que
vem restando. Na verdade,
ela vende hortícolas diver-
sas, mas é o preço das cou-
ve s t ro n c h u d a s q u e
denuncia o quão careira
é. Acabou de montar a
banca, já se sentou à
espera de clientes, tal como
sempre o fez.
Ao lado do lugar da
quitandeira situa-se a
parada, composta pelo
grupo de homens de que
vos falei. jogam às Damas,
num enorme tabuleiro,
entre conversas e cervejas.
É assim todos os dias.
Na rua, vejo poucas
crianças. Nem já se ouvem
os gritos delas. O barulho

Medicamento bloqueia efeitos da doença

era precisamente a proibição
do serviço dos cruzeiros.
Para este fim-de-semana
estava prevista uma ope-
ração de assistência médica
por helicóptero em oito
navios, para verificarem os
membros da tripulação.
Face ao aviso das autori-
dades, alguns navios inver-
teram o rumo e outros irão
fazê-lo após reabasteci-
mento. No entanto, os capi-
tães de outros alertam para
a crise humana a bordo e
recusam-se a partir.
Na Austrália, que conta
5300 casos e 28 mortes, cada
estado adoptou medidas, das
mais estritas em vigor em
Nova Gales do Sul (Sydney)
às mais descomprimidas
I n v e st i ga d o r e s d e u m
estudo internacional iden-
tificaram um fármaco, em
fase clínica de testes, que
bloqueia os efeitos da doença
causada pelo novo corona-
vírus (SARS-CoV-2) na etapa
inicial de infecção.
Os investigadores do Ins-
tituto de Bioengenharia da
Catalunha, em Espanha, do
Instituto Karolinska, na Sué-
cia, do Instituto de Biotec-
nologia Molecular da
Academia de Ciências da
Áustria e do Instituto de Ciên-
cias da Vida da Universidade
de British Columbia, no
Canadá, identificaram o fár-
maco, que está em fase clínica
de testes, utilizando rins
minúsculos gerados a partir
de células estaminais huma-
nas, num laboratório de Bar-
celona, com recurso a
técnicas de bioengenharia.
Os investigadores conse-
guiram decifrar como o SARS-
CoV-2 interage e infecta as
células humanas do rim e,
a partir daí, começaram a
testar o potencial do fármaco,
segundo um artigo publicado
na revista científica Cell.
Estudos recentes demons-
traram que, para infectar uma
célula, os coronavírus utilizam
uma proteína, denominada
S, que se une a um receptor
das células humanas deno-
minado ACE2. Ora, tendo em
conta que essa união é a porta
de entrada do vírus no orga-
nismo, evitá-la pode ser uma
possível terapêutica.
“Estas descobertas são
prometedoras para um tra-
tamento capaz de deter a
infecção num estádio inicial
deste novo coronavírus”,
comentou Núria Montserrat,
investigadora espanhola,
em declarações à agência
espanhola Efe.
de forma a conter aquele
coronavírus. Taiwan, ou a
República da China, não sendo
um estado reconhecido pelas
Nações Unidas, não pertence
à Organização Mundial de
Saúde, pelo que teve de desen-
volver políticas próprias.
É com esta experiência
bem-sucedida que os for-
mosinos têm aplacado a
Covid-19. Há 348 casos e
cinco mortes a lamentar.
Todos os níveis escolares
mantêm-se em actividade
normal, mas com o reforço
de medidas, como as pro-
tecções individuais nas car-
teiras das escolas. Também
nos transportes públicos
passa a ser obrigatório o uso
de máscaras.
das bolas jogadas por rapa-
zes e que, teimosamente,
batiam nas paredes, tam-
bém cessou. Do lado dos
pequenos, o efeito do
Estado de Emergência faz-
se sentir. Já o comporta-
mento diário dos adultos
citados acima não. Os hábi-
tos anteriores ao corona-
virus permanecem.
Qual distanciamento
social! Nem a notícia da
existência de casos e
mortes pela Covid-19,
em Luanda, os demove.
Tudo parece como antes.
Melhor, quase nada
mudou. São os diferentes
efeitos do Estado de
Emergência.
8 Domingo
5 de Abril de 2020

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MOLDURAMANIA ANGOLA, LDA

Rua Principal do Benfica, S/N.º, (ao lado da Contrauto)
Contribuinte n.º 5417161128
Tels: 945785938 - 922394406
LUANDA
E-mail: molduramania.angola@gmail.com

ABANDONO DE TRABALHO COMUNICADO

A Gerência da Molduramania Angola, Lda. vem, por este meio, comunicar aos trabalha-
dores ANTÓNIO DOS SANTOS CAMBUNDO e LEONILDE GABRIEL GONÇALVES
ANTÓNIO, que se encontram em situação de abandono de trabalho, em virtude de es-
tarem ausentes do seu local de trabalho, há trinta (30) dias consecutivos, sem que tenham
informado a entidade patronal do motivo das suas ausências.
Assim, no prazo de cinco (5) dias, a contar da data desta publicação, deverão justificar,
documentalmente, as suas ausências, sob pena de ser declarado o efectivo abandono
de trabalho, conforme previsto na Lei Geral do Trabalho.
Luanda, 2 de Abril de 2020.
(500.0468)
HORÁRIO DE ATENDIMENTO
A Direcção de Marketing e Comercialização da Edições Novembro E.P., em
pleno respeito por um comportamento social responsável, alinhado às recomen-
dações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde de
Angola (MINSA), com vista a combater a propagação do surto do Coronavírus
– COVID-19, excepcionalmente, durante a vigência do período de Estado de
Emergência, o atendimento presencial ao público passa a ter o seguinte horário
de funcionamento:

De segunda-Feira a Domingo, das 9:00 horas às 14:00 horas.

Após o horário de atendimento presencial, estamos à sua disposição nos seguin-
tes Canais Alternativos:
REPÚBLICA DE ANGOLA
MINISTÉRIO DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E HABITAÇÃO
INSTITUTO GEOGRÁFICO E CADASTRAL DE ANGOLA WhatsApp / SMS
DEPARTAMENTO PROVINCIAL DO UÍGE

EDITAL N.º 19/020 925134301 | 937550262 | 949770006 | 924445541 | 917269650 | 924290850

PROCESSO DE CONCESSÃO N.º 08-UE-020

Tendo, o senhor AZIZ SAJÓ MANUEL, requerido a Concessão por Direito de Superficie de uma parcela de E-mail:
Terreno rural, com uma área de 700 hectares (Setecentos hectares) destinados a actividades Agrícola, sito publicidade@jornaldeangola.com
na área da Aldeia Kiumba, Município do Bembe, Província de Uíge, feita a Demarcação Provisória, a mesma
ficou com as seguintes confrontações: Norte: Com o Rio Lúfua, Sul: Com a Logoa Sobe e Desce, Este: modesto.ilunga@jornaldeangola.com
Com a Via de acesso, Oeste: Com Terrenos de Terceiros não Cadastrados. domingos.ingles@jornaldeangola.com
São, por este meio, convocadas todas as pessoas que se julgarem com direitos sobre o mesmo terreno, a vanusa.cabimba@jornaldeangola.com
virem comprová-lo neste Departamento Provincial do Instituto Geográfico e Cadastral de Angola, no prazo
de Trinta (30) dias a contar da data da publicação deste Edital.- luena.guinapo@jornaldeangola.com
DEPARTAMENTO PROVINCIAL DO INSTITUTO GEOGRÁFICO E CADASTRAL DE ANGOLA, NO UÍGE,
AOS 6 DE FEVEREIRO DE 2020.
Luanda, 27 de Março de 2020.
O CHEFE DO DEPARTAMENTO PROVINCIAL
JUSTINO LOURENÇO KUIASSANA
A Direcção
“Geógrafo” (3831) (700.036)
Domingo
5 de Abril de 2020 9
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(700.038e)
10 POLÍTICA
MINISTRA DE ESTADO PARA ÁREA SOCIAL FALA SOBRE OS GANHOS DA PAZ
Dinheiro antes usado para guerra
é agora para o combate à pobreza
Ao discursar no acto alusivo ao Dia da Paz, Carolina Cerqueira destacou a aposta
do Executivo no desenvolvimento humano, enquanto elemento de base para a
igualdade e Justiça e factor de reconciliação e unidade entre os angolanos
Ministra de Estado para a Área Social depositou uma coroa de flores no Monumento do Soldado Desconhecido, em Luanda
César Esteves
Os recursos financeiros ante-
riormente alocados em des-
pesas relacionadas com a
guerra, que imperou no país
durante anos, servem, hoje,
para suprir necessidades nos
sectores da Educação, Saúde,
Habitação e no combate à
pobreza, realçou, ontem, em
Luanda, a ministra de Estado
para a Área Social.
Ao discursar por ocasião
do Dia da Paz e da Reconci-
liação Nacional, ontem assi-
nalado, Carolina Cerqueira
ressaltou que a aposta no
desenvolvimento humano,
enquanto elemento de base
da igualdade, justiça e factor
de reconciliação, reconstru-
ção, unidade e coesão entre
os angolanos, após o fim da
guerra, foi das metas que o
Governo se predispôs cum-
prir. Isso “veio mostrar a
intenção governamental em
priorizar a paz social”, salien-
tou a ministra.
A governante disse ser,
igualmente, prioridade do
E x e c u t iv o c o n t i n u a r a
desenvolver esforços para
a “inclusão produtiva”,
através do incentivo à pro-
dução agrícola, pesca,
indústria e ao comércio,
que, numa aliança com o
turismo, podem garantir
mais acesso ao emprego,
sobretudo dos jovens.
Carolina Cerq ueira
salientou ser neste quadro
que surge o Plano Integrado
de Intervenção nos Muni-
cípios (PIIM), lançado no
ano passado, para exaltar
as potencialidades locais e
promover a inclusão social
nos municípios.
A mini stra de Estado
garantiu que o PIIM vai con-
tribuir, decisivamente, para
a diminuição das assimetrias
regionais e no combate à
pobreza, que, sublinhou,
vão confirmar os esforços
do Executivo quanto ao
compromisso com uma cul-
tura de paz, integração e
coesão social.
Carolina Cerqueira
disse ser prioridade
do Executivo
continuar a
desenvolver
esforços para
a “inclusão
produtiva”, através
do incentivo
à produção agrícola,
pesca, indústria
e ao comércio
Segundo Carolina Cer-
queira, constitui, igualmente,
valor acrescido, neste pro-
cesso, o programa das trans-
ferência s monetária s ,
projecto que o Executivo está
a levar a cabo, para permitir
a inclusão social de 14 mil
famílias nas diversas regiões
do país.
“Está previsto, para o mês
em curso, o pagamento de
dois meses para apoiar a nutri-
ção das crianças e os encargos
familiares, essencialmente
em serviço de saúde e de edu-
cação”, garantiu.
Carolina Cerqueira lem-
brou que Angola vive, hoje,
momentos de paz social,
com as instituições a demo-
cratizarem-se, depois de
um longo período de guerra
e instabilidade.
Para manter este quadro
disse ser necessário continuar
a inculcar o sentimento
patriótico nas crianças e nos
jovens, a fim de os mesmos
“amarem mais a Pátria e
demonstrarem respeito e
ca r i n h o p o r e l a e p e l o s
demais filhos dessa terra”.
A ministra defendeu, igual-
mente, que o respeito pelas
instituições do Estado deve
passar a constar dos progra-
mas escolares, ao lado do
conhecimento e do respeito
pelos símbolos nacionais.
Carolina Cerqueira disse,
também, que as novas gera-
ções têm de continuar a assi-
m i l a r va l o r e s , c o m o a
dignidade, respeito pela dife-
rença, tolerância, solidarie-
dade, liberdade, justiça e
tradição. “Os mais velhos
devem voltar a ser uma ins-
tituição de respeito e de con-
sideração, não apenas no
meio rural, mas, também,
nas cidades”, defendeu.
Relativamente à efemé-
ride, a ministra de Estado
para a Área Social recordou
que assinala o final de um
longo conflito armado que
opôs irmãos durante longos
e sofridos anos. “Nesta data,
que representa uma nova
etapa na História recente do
país, deve recordar-se as
lições do passado, que devem
servir de exemplo para não
se repetirem os mesmos
erros”, advogou.
Carolina Cerqueira disse
ser importante enaltecer os
feitos heróicos dos angolanos,
devendo a juventude ser pio-
neira nas acções a desen-
volver para a consolidação
da paz e desenvolvimento
humano sustentável num
clima de justiça social.
Coronavírus
Ao referir-se à pandemia da
CEDIDA PELA ANGOP
Covid-19, que já fez duas
vítimas mortais no país, a
ministra sublinhou que
Angola e o mundo estão a
viver dos tempos mais difí-
ceis da História recente da
humanidade, com a propa-
gação da doença.
Solidariedade às vítimas
Carolina Cerqueira expressou,
na ocasião, em nome do Exe-
cutivo, solidariedade para com
as famílias que perderam ente-
queridos, vítimas da Covid-
19. “Estamos desolados pela
perda dessas vidas humanas
e entendemos que, neste
momento, devemos estender
as nossas condolências às famí-
lias enlutadas”, salientou.
Aos doentes da Covid-19,
desejou rápidas melhoras e
muita coragem, para enfren-
tarem os desafios que estes
dias difíceis exigem de todos.
Antes de fazer o dis-
curso alusivo ao Dia da
Paz, na sede do Governo
Provincial de Luanda, a
ministra de Estado para a
Área Social presidiu à ceri-
mónia de hastear a Ban-
d e i ra Mo nu m e nto , n o
Museu Nacional de História
Militar (ex-Fortaleza de
São Miguel), acto seguido
p e l a d e p o s i ção d e u m a
coroa de flores no Monu-
mento do Soldado Desco-
nhecido, na Mutamba.
Entre as individualidades
presentes nos actos que
marcaram o 4 de Abril em
Luanda, destacam-se os
ministros da Defesa Nacional,
Salviano de Jesus Sequeira,
da Administração do Terri-
tório, Adão de Almeida, e da
Comunicação Social, Nuno
Albino “Carnaval”, além do
governador de Luanda, Sér-
gio Luther Rescova.
“FICAR EM CASA E LAVAR AS MÃOS”
Presidente indica armas
na luta contra o Covid-19
A necessidade de ficar em
casa e de lavar as mãos com
sabão quantas vezes for pos-
sível foi apontada pelo Pre-
sidente da República, João
Lourenço, como armas que
todos devem usar na luta
contra um inimigo invisível
e mortífero, o Covid-19.
Numa mensagem por
ocasião do 18º aniversário
da Paz no país, o Chefe de
Estado apela a todos os ango-
lanos e estrangeiros resi-
dentes a cumprirem todas
as recomendações de pro-
cedimentos de prevenção
estabelecidas pelas compe-
tentes autoridades adminis-
trativas, sanitárias, policiais
e outras, que têm o objectivo
de evitar, ao máximo, o sur-
gimento da contaminação
comunitária e a propagação
da pandemia.
“Só a autodisciplina indi-
vidual e colectiva nos salvará,
para podermos voltar à nossa
vida normal e desfrutar dos
benefícios da paz e da recon-
ciliação nacional”, exorta.
Referindo-se ao 18º ani-
versário da Paz, João Lou-
renço realçou o papel do
ex-Chefe de Estado no pro-
cesso de pacificação. “O Pre-
sidente José Eduardo dos
Santos, como estadista,
soube, na altura, interpretar
este sentimento da grande
maioria dos angolanos, das
igrejas e da sociedade civil,
verdadeiros artífices da paz
alcançada”, sublinha.
“A 22 de Fevereiro de
2002, após décadas de um
conflito armado entre irmãos
DECLARAÇÃO POR OCASIÃO DO DIA DA PAZ
MPLA reafirma compromisso
para o reforço da democracia
O Bureau Político do MPLA
manifesta o total compro-
misso de reforçar as bases
da democracia, unidade
nacional e progresso, sempre
na perspectiva da concreti-
zação dos mais nobres inte-
resses da nação angolana.
Numa declaração por oca-
sião do Dia da Paz e Recon-
ciliação Nacional, assinalado
ontem, o órgão de cúpula do
partido no poder homenageia
todos os angolanos que sacri-
ficaram as vidas em prol da
liberdade e da pacificação
do país.
O MPLA considera o 4 de
Abril de 2002 marco funda-
mental para a instauração
do espírito de convivência
pacífica e de tolerância entre
os angolanos e desenvolvi-
mento político, social e eco-
nómico do país.
O Bureau Político do par-
tido maioritário exorta os
cidadãos a celebrarem a data
de modo comedido, com
espírito de unidade e soli-
dariedade. De igual modo,
convida todas as forças vivas
da sociedade a participarem
de forma empenhada e
patriótica no processo de
consolidação da Paz e da
Domingo
5 de Abril de 2020
angolanos, que ceifou inú-
meras vidas humanas e des-
t r u i u g ra n d e p a r t e d a s
infra-estruturas com que o
país contava, alcançou-se,
finalmente, a tão almejada
paz. Os angolanos com-
preenderam que só em paz
era possível termos a Angola
democrática, próspera e
desenvolvida com a qual
os nossos antepassados
sempre sonharam e luta-
ram”, lembra.
O Presidente João Lou-
renço refere que a efeméride
é comemorada numa con-
juntura de crise económica
iniciada em 2014, que se foi
agravando com o aumento
da dívida pública e a baixa
dos preços do petróleo nos
últimos anos. O desafio de
reverter a situação, admitiu,
é grande, mas é realizável
“se todos compreendermos
que o caminho é apostar na
produção interna de bens e
serviços pelo nosso sector
empresarial privado e inves-
tidores estrangeiros, neste
quadro de um melhor
ambiente de negócios”.
MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO
Presidente João Lourenço
Democracia, bem como na
preservação da Unidade e
da Harmonização Nacional.
O MPLA lembra que o 18º
aniversário da assinatura
dos Acordos de Paz e da
Reconciliação Nacional
decorre num clima de reco-
lhimento social, devido ao
Estado de Emergência decla-
rado no sentido de cortar a
cadeia de transmissão da
pandemia do novo corona-
vírus, salvaguardar a vida e
a segurança das pessoas e
limitar as graves consequên-
cias que lhe são associadas.
O MPLA expressa pro-
fundo pesar e apresenta às
famílias enlutadas das duas
vítimas mortais do Covid-
19 registadas em Angola,
bem como a do padre ango-
lano, falecido em França, o
abraço de solidariedade e
as mais sentidas condolên-
cias, assim como reitera o
apelo ao estrito cumpri-
mento das medidas excep-
cionais de resposta à
pandemia viral, endere-
çando uma palavra de con-
forto e coragem a todos os
angolanos infectados pela
Covid-19 e internados em
vários países.
POLÍTICA Domingo
5 de Abril de 2020
NO CENTRO DE IMPRENSA “ANÍBAL DE MELO”
Fotografias retratam
os “Ganhos da Paz”
Manuela Gomes
Uma exposição fotográfica
denominada “Ganhos da
Paz” está patente, desde
ontem, no Centro de
Imprensa “Aníbal de Melo”,
em Luanda, para comemorar
o 18º aniversário da Paz e da
Reconciliação Nacional.
A a m o s t r a , q u e fi c a
patente até ao mês de Junho,
exibe, em 112 fotografias de
formato vinil, os momentos
históricos que marcaram o
alcance da Paz em Angola,
no dia 4 de Abril de 2002.
Entre as várias etapas his-
tóricas encontramos retratos
que reflectem instantâneos
do acto oficial de incorpo-
ração dos oficiais generais
das extintas forças militares
da UNITA nas Forças Arma-
das Angolanas (FAA).
A exposição faz, igual-
mente, um recuo no tempo
e mostra a tomada de posse
dos membros do Governo
de Unidade e Reconciliação
Nacional (GURN), a assina-
tura do Protocolo de Lusaka
e, mais recentemente, as
festividades em alusão ao
Dia da Libertação da África
Austral, comemoradas este
ano pela segunda vez no país.
GOVERNADOR DO MOXICO
Pacificação abriu
caminho à unidade
José Rufino* | Luena
O governador provincial do
Moxico, Gonçalves Muan-
dumba disse ontem, no
Luena, que a paz e a recon-
ciliação entre os angolanos
abriu o caminho para a uni-
dade, estabilidade e o desen-
volvimento do país.
Gonçalves Muandumba,
que falava por ocasião do Dia
da Paz e Reconciliação Nacio-
nal, perante um número
reduzido de membros do
Governo, devido ao Covid-
19, destacou a importância
da data, tendo sublinhado
que o momento exige um
esforço redobrado diante da
situação que o país enfrenta.
O governador da província
onde foram dados os pri-
meiros passos para a Paz
em Angola, admitiu que os
efeitos da pandemia do
Covid-19 estão a fragilizar
a economia, numa altura
em que o país se prepara
para comemorar os 45 anos
da Independência Nacional.
Apesar deste desafio,
Gonçalve s Muandumba
garantiu que o Executivo vai
continuar apostado no com-
bate à pobreza e promoção
do emprego, em prol do
bem-estar de todos.
O governador esclareceu
que o Estado de Emergência
decretado pelo Presidente
da República tem como
objectivo prevenir e estancar
a transmissão da Covid-19,
Estão, também, patentes
na exposição imagens de
outros ganhos da Paz, como
as centralidades construídas
no país, e estabelecimentos
erguidos para os sectores da
Educação e Saúde.
Na ocasião, o director do
Centro de Imprensa Aníbal
de Melo (CIAM) disse que a
exibição visa assinalar uma
data importante para o povo
angolano, “embora neste
ano calhe num momento
menos bom, marcada pela
pandemia da Covid-19”.
António Mascarenhas
referiu que, ainda assim, o
Centro de Imprensa Aníbal
de Melo decidiu inaugurar
a exposição com o propósito
de dar a merecida atenção
à efeméride e recordar aos
angolanos que, indepen-
dentemente do que o mundo
está a viver - pandemia da
Covid - 1 9 - , não devem
esquecer os momentos que
marcam a História do país.
O director do CIAM apro-
veitou a oportunidade para
apelar aos angolanos a cum-
prirem rigorosamente as
orientações passadas pelas
instituições, no sentido de
evitar o contágio da pande-
mia da Covid-19.
razão pela qual solicitou o
cumprimento escrupuloso
da medida.
Lunda-Norte
O governador da Lunda-
Norte, Ernesto Muangala,
realçou ontem, no Dundo,
que os ganhos da Paz na pro-
víncia são inquestionáveis,
destacando a reabilitação de
infra-estruturas sociais e da
rede viária.
Ao falar a propósito do
Dia da Paz e Reconciliação
Nacional, Ernesto Muangala
afirmou que com a Paz a pro-
v í n c i a d a Lu n d a - No r te
ganhou nova imagem, com
a construção, por exemplo,
da nova Centralidade do
Mussungue, com cerca de
cinco mil apartamentos. A
centralidade, disse, permitiu
a muitos jovens a realização
do sonho da casa própria.
Muangala apontou os sec-
tores da Educação, com mais
de mil salas de aula e o da
Saúde, com mais de 80 uni-
dades sanitárias, como os que
mais ganhos tiveram durante
os 18 anos de paz, garantindo
o ensino e a assistência médica
gratuita aos cidadãos.
O governador destacou,
igualmente, a reabilitação
da rede viária, sobretudo
que liga a sede capital da
província, Dundo, e o inte-
rior, bem como o alarga-
mento da rede de distribuição
de água potável.
* Com Angop
PEREIRA ALFREDO
“Preservação é
tarefa de todos”
A preservaçãoda Paz, unidade
e coesão nacionais, para a
salvaguarda da estabilidade
política, económica e social
deve ser tarefa de todos os
angolanos, reafirmou, ontem,
no Cuito, o governador do
Bié, Pereira Alfredo.
Ao falar num acto sim-
bólico por ocasião do 18º ani-
versário da Paz e da
Reconciliação Nacional, assi-
n a l a d o o n t e m , P e re i ra
Alfredo frisou que a conquista
da Paz foi resultado da von-
tade dos angolanos, que atra-
vés do diálogo colocaram o
fim de um longo período de
sofrimento e de adiamento
no desenvolvimento do país.
De acordo com a Angop,
no âmbito do 4 de Abril,
Pereira Alfredo rendeu home-
nagem aos cerca de sete mil
mártires da resistência do
Cuito sepultados no Cemitério
Monumento, localizado na
comuna do Cunje.
O 18º aniversário da Paz e
foi assinalado um pouco por
todo o país de forma simbó-
lica, devido à Covid-19.
O governador da província
da Huíla, Luís Nunes, referiu
que a consolidação da Paz
passa pela promoção da cul-
tura de tolerância e respeito
dos direitos, liberdades e
garantias dos cidadãos. Ao
discursar num encontro, no
quadro do 4 de Abril, o gover-
nante admitiu que há muitos
desafios por vencer, sendo
necessário fortalecer as boas
práticas de governação.
EDSON FABRIZIO | EDIÇÕES NOVEMBRO | BIÉ
Pereira Alfredo, governador
provincial do Bié
Em Menongue, província
do Cuando Cubango, o
governador Júlio Bessa, con-
siderou a unidade e recon-
ciliação nacionais como os
principais ganhos da Paz.
Em declarações à imprensa,
depois da deposição de uma
coroa de flores no túmulo
do soldado desconhecido,
n o a n t ig o c e m i té r i o d e
Menongue, por ocasião do
4 de Abril, Júlio Bessa des-
tacou o convívio pacífico da
população, independente-
mente da cor partidária, reli-
gião ou região de origem.
O governador provincial
do Cuanza-Sul, Job Capapi-
nha, indicou, no Sumbe, os
trabalhos de reabilitação de
estradas, construção de habi-
tações, entre outras infra-
e strutura s s o ciai s na
circunscrição, como os prin-
cipais ganhos dos 18 anos de
Paz no país. Reconheceu que
deve haver mais celeridade
na execução dos projectos.
11
APESAR DA AMEAÇA DA COVID-19
UNITA acredita em eleições
autárquicas ainda neste ano
Partido considera que o aprofundamento da democracia
tem por epílogo a institucionalização das autarquias
VIGAS DA PURIFICAÇÃO | EDIÇÕES NOVEMBRO
A UNITA acredita na reali-
zação das primeiras eleições
autárquicas do país ainda no
ano em curso, não obstante
o momento difícil que o
mundo enfrenta devido ao
novo coronavírus (Covid-
19) que já provocou duas
vítimas mortais em Angola.
Numa declaração alusiva
ao Dia da Paz e da Reconci-
liação Nacional, assinalado
ontem, o Comité Permanente
da Comissão Política da UNITA
reafirma a sua determinação
de contribuir positivamente
para o aprofundamento da
democracia.
Na óptica do órgão de
cúpula do maior partido da
oposição, o aprofundamento
da democracia tem por epí-
logo a institucionalização e
funcionamento das autar-
quias, em todo o território
nacional e em simultâneo
este ano de 2020, de acordo
com os compromissos assu-
midos, apesar do leque dos
desafios políticos, económicos
e sociais, nacionais e inter- Adalberto Costa Júnior, líder do maior partido da oposição
nacionais do momento, agra-
vados pela crise da Covid-19.
A UNITA, de acordo ainda homens. Assim, exprime,
com o documento, também Numa declaração mais uma vez, que, tal como
quer contribuir para aquilo alusiva ao Dia da em Bicesse em Maio de 1991,
que considera serem as
“reformas necessárias” à
Constituição da República,
Paz e Reconciliação
Nacional, o Comité
Permanente da
em Lusaka em Novembro
de 1994, no Luena em Março
de 2002, em Luanda em
como respaldo das reformas
económicas e institucionais;
para a plena conclusão da
Comissão Política
da UNITA reafirma
a determinação de
Abril e Dezembro de 2002,
está disposta e pronta para
dialogar com todos os par-
reconciliação nacional; o contribuir c e i ro s n a c i o n a i s , p a ra
“combate universal e impar- positivamente para decantar as melhores solu-
cial” à corrupção e aos males o aprofundamento ções para os grandes pro-
à ela conexos; bem como da democracia blemas que Angola e os
participar no combate à angolanos devem enfrentar.
Covid-19, tal como ficou Tal é o caso da verdadeira
expresso no comunicado da na quinta-feira. “A UNITA reconciliação nacional e o
reunião extraordinária do acredita na virtude do diálogo lugar de Angola no mundo
C o m i té Pe r m a n e n te d a como forma suprema de que se vislumbra”, lê-se na
Comissão Política, realizada solução dos problemas dos declaração do partido.
Partido fala em “balanço mitigado” dos últimos 18 anos
O Comité Permanente da Comissão Política nas Forças Armadas Angolanas (FAA) e Polícia
da UNITA considera que, volvidos 18 anos de Nacional, bem como a transformação em
Paz em Angola, “o balanço é mitigado”, pois partido político democrático, à luz do mani-
o país vive uma grave crise económico-financeira festo de fundação.
e social de que não se tem memória. A UNITA sublinha que jamais abdicará da
Numa declaração por ocasião do 18º ani- sua responsabilidade de dialogar, de forma
versário do Dia da Paz e Reconciliação Nacio- aturada e permanente, para que sejam cum-
nal, assinalado ontem, o órgão de cúpula pridos, pelo Governo, os pendentes dos
do maior partido da oposição considera que Acordos de Paz, nomeadamente a conclusão
a grave crise a que faz alusão é caracterizada do processo de desmobilização e inserção
pelo aumento da pobreza, do índice de social dos ex-combatentes e a devolução, à
desemprego com ênfase na juventude em UNITA, do seu património material.
idade activa e na subida vertiginosa dos Relativamente ao 4 de Abril, o Comité Per-
preços da cesta básica. manente da Comissão Política da UNITA verga-
A segunda maior força política no país se, em homenagem patriótica, à memória de
aponta ainda a desvalorização da moeda e todos os filhos de Angola que ao longo da sua
a consequente perda do poder de compra História pagaram com as suas vidas o preço
dos trabalhadores, a corrupção endémica da conquista da Paz. “A todos eles vai o nosso
e sistemática, a degradação dos valores compromisso de honra de que a Pátria jamais
morais e cívicos e o abuso e violação dos os esquecerá e que os seus nomes figuram no
direitos humanos, como outros sinais da crise Panteão da Glória”, declara o partido liderado
que o país vive. por Adalberto Costa Júnior.
Um dos signatários dos acordos para a Paz Para o maior partido da oposição, a assi-
efectiva em Angola, a UNITA considera que natura do Memorando de Entendimento Com-
cumpriu cabalmente o que lhe competia no plementar do Luena constituiu-se num
quadro dos acordos, tendo destacado a sua momento e num quadro das melhores expec-
completa e definitiva desmilitarização, o total tativas para os angolanos, individual e colec-
desarmamento das suas ex-forças armadas e tivamente em todos os segmentos sociais,
a incorporação dos efectivos, a vários níveis, culturais, económicos, políticos e espirituais.
12 ENTREVISTA E speci
al 4
ABRIL
DE
Domingo
5 de Abril de 2020

KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO

nos apraz registar. É normal
que haja reclamações, porque
GONÇALVES MUANDUMBA, GOVERNADOR DA PROVÍNCIA DO MOXICO saúde é vida e todos nós que-
remos preservá-la. Tivemos
avanços significativos no sec-
tor da Saúde – várias infra-
Este é um mal que precisa
de ser combatido. O fenó-
meno está, entre outros fac-
tores, muito associado à
educação e à pobreza das
famílias. As questões cul-

“O sector da Educação
estruturas, algumas das quais
modernas, foram construídas
– temos o hospital geral, os
hospitais municipais do
Moxico e Camanongue, o ser-
turais também têm um certo
reflexo nessa preocupante
situação, visto existerem
tabus que dificultam o diá-
logo das famílias sobre o

estava infermo viço de hemodiálise, entre

outros. São um bom exemplo.

Mesmo assim, continua a faltar

pessoal qualificado nos hos-
assunto. Precisamos de
quebrar esses tabus. Os
gabinetes da Acção Social,
Fa m í l i a e Ig u a l d a d e d e
Género, da Juventude e

quase moribundo” pitais. O concurso público não

Yara Simão
Apesar da construção de muitas
escolas, nos últimos anos,
ainda há crianças fora do sis-
tema de ensino. Como pensa
resolver este problema?
A Educação e a Saúde são
áreas prioritárias que des-
pertam a atenção de todos,
pois, sem educação, ninguém
deve ousar falar em desen-
volvimento. Este sector, no
Moxico, é dos que mais me
preocupa, porque estava
enfermo, diria moribundo…
Os problemas radicavam em
práticas inaceitáveis, assentes
em interesses pessoais.
O que pretende dizer quando
afirma que o “sector estava
Para que a província possa desenvolver-se,
os caminhos estão identificados: estradas,
agricultura, pesca, educação e saúde.
Num contexto de tantos
constrangimentos a aposta deve
ser orientada para os serviços
básicos e os sectores com
maior potencial de
desenvolvimento ao curto
prazo. Mas, sem estradas
transitáveis e um sistema de
ensino adequado à
realidade, o Moxico
continuará a ser um
destino quase esquecido
enfermo, quase moribundo”? gem de nós uma atenção
Encontrámos casos de con- especial para encontrarmos
flitos de interesse, falsifi- soluções rápidas, eficazes
cação de certificados, e efectivas.
a d u l te ra ç ã o d e p rova s ,
“professores-fantasmas”, Mas que medidas concretas
pessoas a receberem ven- estão a ser implementadas para
cimentos como directores acabar com essas práticas?
e coordenadores (algumas Temos vindo a implementar
até menores), professores medidas administrativas
dispensados para darem conducentes à reorganiza-
continuidade à sua forma- ção do sector, apesar de
ção há mais de oito, nove, alguma resistência, que têm
d ez e m a i s a n o s . E q u e resultado, mas precisamos
nunca regressaram. Alguns de fazer mais. São males
já empregados noutras ins- que mexem directamente
tituições. Temos professores com os interesses de algu-
empregados nos bancos e mas pessoas. São aqueles
noutras instituições públi- que, ao longo do tempo e
cas em situação de incom- de forma irregular, tiveram
patibilidade, enfim, uma acesso a privilégios, benes-
série de problemas que exi- ses... e não são poucos. Se
por um lado estamos a reor-
ganizar o sector, por outro,
há quadros descontentes
pois, directa ou indirecta-
mente, beneficiavam dessas
práticas. O mais importante,
para nós, é repor a trans-
parência e a legalidade no
sector da Educação.
A população também critica os
serviços de saúde por causa da
escassez de médicos em toda a
província. O que pensa fazer?
Os problemas da Saúde na
nossa província são comuns
às demais, embora admita
que ainda temos muito que
fazer e melhorar, se tivermos
em linha de conta os nove
municípios da província. Mas,
tem havido melhorias que
a b ra n ge u a p rov í n c i a d o
Moxico?
Temos hospitais com equi-
pamentos de ponta que, infe-
lizmente, não funcionam em
pleno. É aqui onde vou con-
cordar consigo quando diz
que temos problemas de qua-
dros qualificados para manu-
sear os equipamentos
existentes. É um problema
que tem solução, pois tudo
o que não tem solução não
é digno de problematização.
Precisamos, paralelamente
ao investimento na formação,
de criar condições de habi-
tabilidade, transporte, comu-
nicação e outros incentivos
que concorrem para a atrac-
ção de quadros qualificados
pela província.
Quantas vagas foram dispo-
nibilizadas pelo Ministério da
Saúde?
No concurso público que o
sector da Saúde promoveu
no país, a província do Moxico
foi contemplada com 67
vagas. Paradoxalmente, ou
não, apenas 15 médicos se
candidataram. A partir desse
facto pode perceber-se que
o problema não se resume à
falta de oportunidades de
emprego. Vai mais além,
desde as políticas de atracção
até às de manutenção de qua-
dros. Temos vindo a envidar
esforços nesse sentido. Ele-
gemos 2020 o ano das infra-
estruturas na nossa província.
É a pensar nestes e noutros
problemas que alinhamos as
nossas prioridades.
Como lidam com o aumento
de adolescentes grávidas?
Desportos, e o da Saúde,
em acção conjunta com as
igrejas e outras instituições
afins têm estado a trabalhar
nesse sentido.
Com que mecanismos?
Temos vindo a encurtar a
distância entre a escola e os
encarregados de educação,
ao mesmo tempo que as
palestras e outros mecanis-
mos de informação e forma-
ção têm sido implementados
neste sentido. A criação de
espaços de lazer, como jar-
dins, ginásios públicos e
outros atractivos, associados
às diversas actividades extra-
escolares, tem sido dos nossos
focos. É preciso ressaltar que
a gravidez precoce resulta de
vários factores. O seu combate
deve obedecer às políticas
multissectoriais. Daí, que os
gabinetes que referimos têm
trabalhado em conjunto para
dar resposta gradual a essa
situação. Muitas adolescentes
vêem o futuro comprome-
tido. Por isso, lançámos o
repto, no dia 8 de Março, no
quadro das comemorações
do Dia Internacional da
Mulher, para a criação de
um programa dirigido à
“jovem mulher”.
As mulheres ainda têm pou-
cas oportunidades ao nível
do poder local.
Esta é uma das orientações
políticas. Devemos dar opor-
tunidade às mulheres de
assumirem cargos a nível
governamental. Temos gran-
des mulheres aqui na pro-
víncia. Nas cooperativas e
no empreendedorismo a
maioria das propostas é de
mulheres.

“Precisamos de tornar EDIÇÕES NOVEMBRO

a província transitável”
A p o p u l a ç ã o d o M ox i co
depende da agricultura. Que
medidas pretende implemen-
tar para alavancar o sector?
O sector da Agricultura é estra-
tégico para nós, se tivermos
em linha de conta o facto de
ser transversal, sobretudo
quando falamos de combate
à pobreza e à fome e falamos
de desenvolvimento e pro-
gresso. Temos estado a tra-
balhar no sentido de tornar a
agricultura mais robusta.
Adquirimos alguns meios de
mecanização agrícola, e rea-
lizámos um fórum dedicado
ao assunto, cujas conclusões
servirão de base para concre-
tizar os nossos propósitos.
Agora, é preciso realçar que
todo e qualquer projecto na
área da agricultura não pode
ser visto como evento singular,
mas como um processo.
Quais são produtos com mais
potencial económico?
O Moxico produz de tudo. Parte
do nosso desenvolvimento
económico está na agricultura.
Temos mandioca, batata rena
e batata-doce, inhame, feijão,
tomate, cebola, repolho,
couve, frutas. Além disso,
temos mel e a produção de
madeira. O nosso maior pro-
blema é a descentralização
dos produtos do campo. Por
outro lado, o Moxico é rico
em água. Os rios fazem
morada abundante na pro-
víncia, temos 54. Só isso já é
uma vantagem competitiva.
O Moxico já foi um dos maio-
res produtores de arroz do país.
Que projectos existem para
retomar a actividade?
Precisamos de revitalizar esta
actividade, o que passa pela
criação de condições humanas
e materiais. Daí, a nossa aposta
no arranque do Instituto Médio
Agrário do Luau, ainda este
ano, pois entendemos que
não se deve falar em agricul-
tura avançada sem indivíduos
tecnicamente formados, nem
meios modernos.
É nossa pretensão inverter
o quadro no mais curto espaço
de tempo. Para tal, mais do
que termos elegido o ano de
2019 como o “ano da agricul-
tura”. Também realizámos o
fórum agrícola, cujas conclu-
sões produziram bases cien-
tíficas conducentes àquilo
que nos propusemos, sendo
o cultivo do arroz uma das
nossas grandes apostas.
Qual é a estratégia para resol-
ver o problema do escoa-
mento de produtos do meio
rural para as cidades?
Precisamos de tornar a pro-
víncia transitável. Além de ser
das nossas maiores dificul-
dades, é também dos nossos
maiores desafios. Precisamos
de reduzir essa dificuldade.
Prevemos implementar medi-
das para melhorar o tráfego
na província, que, natural-
mente, não vão resolver o pro-
b l e m a , m a s ce r ta m e n t e
ajudarão na circulação de pes-
soas e bens, no comércio,
nomeadamente de produtos
agrícolas. O escoamento dos
produtos é dos nossos gran-
des problemas. Vamos dando
passos que consideramos
indispensáveis para os nos-
sos objectivos sobre o sector
se concretizarem com cele-
ridade. Afinal, somos uma
potência e temos tudo para
dar certo nesse sentido.
As estradas da província são
mesmo o “calcanhar de Aqui-
les” do Moxico?
O problema das estradas é
um desafio para nós. Temos
consciência que os cami-
n h o s pa ra o d e s e n vo l v i -
mento obedecem a passos
sucessivamente lógicos e as
estradas são indispensáveis
para isso. No PIIM, por exem-
plo, prevemos construir 20
pontes na província. Significa
que estamos preocupados
com as estradas. Num hori-
zonte temporal de médio e
longo prazos teremos essas
dificuldades, de alguma
forma, ultrapassadas.
Ainda sobre as infra-estru-
turas na província, como
está a situação das ravinas
na cidade do Luena?
Este é um fenómeno erosivo,
que corrói a província, pondo
em risco várias infra-estruturas,
incluindo as vias de comuni-
cação e a própria vida das
populações. A cidade do Luena
tem cerca de vinte ravinas
identificadas. Estamos a tra-
balhar com os recursos e meios
locais, mobilizando as pessoas
no sentido de solucionarmos
o problema.
ENTREVISTA
5 de Abril de 2020
Como está a ser implementado
o Plano Integrado de Inter-
venção Municipal (PIIM)?
O PIIM teve início no Moxico,
no município do Alto-Zam-
beze, na sequência da visita
do Presidente da República
à n o s s a p r o v í n c i a . N e ste
momento, estamos em fase
contratual bastante avançada
e acreditamos que, ainda este
ano, começaremos a sentir
os primeiros resultados. As
verbas vão sendo colocadas
à disposição dos municípios,
sendo que, a título de exem-
plo, temos o da Cameia, que
já recebeu parte dessas ver-
ba s . S e n d o u m p ro ce s s o,
vários são os trâmites que
devem ser obedecidos para
que, no final, se comecem a
desenvolver os projectos na
prática. Aguardemos, pois
em breve teremos acções con-
cretas em todos os municí-
pios. Esse é um desejo de
todos nós.
Na província do Moxico, quan-
tos projectos foram inscritos
no PIIM?
No global, temos 87. Uns, de
âmbito nacional e outros, pro-
vinciais e municipais. Sabemos
que a incidência do PIIM é
mesmo nos municípios, fun-
damentalmente em sectores
que vão contribuir para a melho-
ria de vida das populações,
como acesso à água, saúde e
educação.
Existe algum município onde
os trabalhos concretos já
tenham começado?
O município da Cameia já rece-
beu 50 milhões de kwanzas.
Nos outros, os concursos já
foram realizados, alguns tam-
bém já estão a rubricar os con-
Domingo
Espe
ci al 4
ABRIL
DE 13
AGOSTINHO NARCISO | EDIÇÕES NOVEMBRO
tratos. O município do Moxico
recebeu a maior fatia por ter
mais população. Importa res-
saltar que este plano inte-
grado terá grande impacto
na vida das mulheres, mas a
ex p e ctat i va é q u e ve n h a
melhorar a vida das popula-
“O objectivo é acreditar
ções em geral. Mas, a nossa
população é, na maioria, com-
posta por mulheres. O objec-
na mulher, sobretudo
a camponesa”
tivo é acreditar na mulher,
sobretudo a camponesa.
O PIIM teve
início no Moxico,
no município do
Alto-Zambeze, na
sequência da visita
do Presidente da
República à nossa
província. Neste
momento, estamos
em fase contratual
bastante avançada
O Alto-Zambeze é o maior
município da província. No
âmbito do PIIM, que projectos
serão implementados naquela
região?
Prestamos muita atenção às
infra-estruturas. Sendo assim,
cerca de 22 pontes vão ser
construídas, 20 delas no maior
município do país, que é o
Alto-Zambeze, mais importante
em termos económicos. Por
ser fronteiriço e ter um papel
importante na economia da
província.

“Os problemas do Moxico são sobejamente conhecidos”

Qual é o sentimento que car-
rega ao governar uma pro-
víncia que precisa de tudo,
em termos de desenvolvi-
mento social e económico?
É um privilégio conduzir os des-
tinos da maior província de
Angola. Sinto-me orgulhoso,
desafiado e crente num futuro
melhor. Quero dar o melhor
para que o meu legado seja
positivo. Penso que o lema do
governo da província, “Respon-
sabilidade e Responsabilização”,
traduz esse espírito de missão
que queremos imprimir no
nosso trabalho. O meu dia-a-
dia tem sido marcado por esse
estado de espírito, pelo diálogo
constante com as populações,
a sociedade civil, as igrejas,
associações, enfim, todos os
organismos. A receita é simples:
dar o exemplo e trabalhar!
Temos uma população bastante
jovem que anseia
pelodesenvolvimentodaprovíncia
e, muito naturalmente, pelo seu
desenvolvimento pessoal. Temos
consciência das nossas respon-
sabilidades. Precisamos de fazer
as coisas acontecerem e tudo
tem sido feito nessa direcção para
que, a médio e a longo prazos,
as perspectivas se concretizem
em benefício do povo do Moxico.
A identificação dos problemas é
meio caminho andado para a sua
resolução. Graças a Deus, os pro-
blemas do Moxico são por nós
sobejamente conhecidos. O com-
bate à pobreza, à fome, está no
topo da agenda. Sabemos onde
estamos e onde pretendemos
chegar. As dificuldades existem
mas a vontade de transpô-las é
muito maior.
Numa altura em que a economia
do país enfrenta uma fase com-
plicada, torna-se mais difícil
de gerir esta província?
O Moxico é uma província em
marcha. Mas é preciso uma
conjugação de esforços, por
parte dos governantes, empre-
sários e da população em geral.
Para mim, é um privilégio gover-
nar essa cidade histórica.
A província também foi bas-
tante fustigada pela guerra.
Que balanço faz desde 2002,
altura em que terminou o
conflito armado?
Hoje, não obstante esse passado,
o povo do Moxico é, felizmente,
pacífico. Aqui está erguido o
único Monumento à Paz do país.
O povo moxicano vive a Paz
como sinónimo de progresso.
Depois do 4 de Abril de 2002,
Angola deu saltos significativos.
O que se construiu ou se reabi-
litou ao longo deste período
contribuiu para que milhões de
angolanos possam viver melhor,
embora haja muito por fazer.
EDIÇÕES NOVEMBRO
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 Domingo, 5 de Abril de 2020

EDIÇÕES NOVEMBRO
Hoje
é Domingo
de Ramos
É celebrado hoje o Domingo de Ramos
numa altura em que o mundo se debate
com uma pandemia que força as pessoas
a viverem em quarentena

Curiosidades + Comer fora + Comer em casa + Reportagem + Cultura + Roteiro de casa + Roteiro de rua
16 PERFIL Domingo
5 de Abril de 2020

EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO

ZULINNI BUMBA
A escritora
infantil que
destaca o
ambiente
O destino separou-a dos pais muito
cedo. Com apenas dois anos, Zulinni
Bumba, pseudónimo literário de
Madalena Suzete Paulo Manuel Bumba,
começou a viver longe dos
progenitores, separação que durou nove
anos. Gêmea, sempre teve a parceira,
já falecida, como grande companhia.
Ambas passaram pelos mesmos
dissabores e alegrias. A Brigada Jovem
de Literatura foi o suporte para a dor
pela perda dos pais depois
do reencontro
Roque Silva bores distintos. Caiu-nos
mal, por um lado, mas, por
Zulinni Bumba e a irmã vi- outro, soube muito bem. Pri-
ram os progenitores partirem meiro cheguei a pensar que
em 1975 para outro país por sequer tínhamos a mãe bio-
motivos de segurança. Os lógica em vida e que éramos
dois funcionários públicos adoptadas, porque, na época,
eram simpatizantes da Frente outras famílias tinham adop-
Nacional para a Libertação tado crianças. Mais tarde,
de Angola (FNLA) e fugiram alegrámo-nos por saber que
numa época em que a into- íamos conhecer uma outra
lerância política vivia o seu figura materna, porque para
apogeu. Tiveram como des- uma criança quanto maior o
tino a cidade de Kinshasa, número de mães, melhor. A
Congo Democrático. A mãe todo momento, imagináva-
exercia funções na Alfândega mos e conversávamos sobre
e o pai era economista e pro- como seria a imagem dela”.
fessor com responsabilidades A emoção tomou conta
no Ministério da Agricultura. das meninas quando reen-
Viram-se obrigados a deixar contraram a mãe biológica,
as duas únicas filhas, na épo- sobretudo quando lhes disse
ca. Ambas naturais de Luan- que nunca mais haviam de
da, Madalena e a irmã ficaram viver separados.
em Angola com a avó ma-
terna. Esta, temendo igual- Em Kinshasa
mente pela vida das netas, A chegada a capital congo-
procurou segurança numa lesa, Kinshasa, foi uma au-
outra província. tê nt i ca su r p re sa pa ra a
“Recordo-me, embora pequena angolana. Zulinni
ainda muito pequenina, de encontrou cinco novos ir-
ouvir a minha mãe pedir que mãos e o pai. “Era só alegria”,
fôssemos bem guardadas. diz, admitindo que a adap-
Não tínhamos muita noção tação foi fácil por ter contado
do que se passava, mas na- com a ajuda da família, que
quela altura, em algumas zo- já tinha a vida organizada.
nas, vivia-se debaixo de fogo. Os pais tinham bom em-
Foi uma situação muito difícil. prego, casa própria e moto-
Mas até hoje pouco sei sobre rista. O pai foi director de uma
por que razão os meus pais escola de expressão portu-
se foram, embora tenhamos guesa maioritariamente fre-
ouvido nos últimos anos his- quentada por angolanos, onde
tórias idênticas. Sei que foi Zulinni e os irmãos estudaram.
por questões políticas”. O conteúdo programático se-
Lubango foi a cidade es- guia os parâmetros das escolas
colhida. A residência para primárias em Portugal. O en-
qual se mudaram está loca- sino era rígido.
lizada no Bairro da Lage, A exigência para o acesso
considerado nobre na época. era tal que todos eram sub-
Viveram quase 10 anos pen- metidos à exame num co-
sando que a avó fosse a mãe. légio controlado pela
Nada faltou. A vida era re- embaixada portuguesa.
pleta de alegria. Até ao dia Conhe cer a Hi stória de
em que a sexagenária revelou Portugal era o básico. O
o grande segredo. professor, no principio,
“A notícia teve dois sa- protegia-a. Tinha receio
 Domingo
5 de Abril de 2020
de tratá-la como os demais colegas
por ser filha do director, mas
quando o pai descobriu deixou
de ser protegida.
“Quando os meus pais che-
garam ao Congo, passaram por
momentos muito difíceis. Não
tinham sequer espaço onde dor-
mir. Encontraram uma cultura e
estilo de vida diferente de Luanda.
Mas a vida voltou a sorrir satis-
fatoriamente para eles porque
eram formados.
A vida de Zulinni e da irmã no
bairro Barrumbu durou apenas um
ano, porque os pais decidiram re-
gressar ao país.
Em Angola
No regresso de Kinshasa, em 1988,
a família deparou-se com uma
situação desconfortante. A resi-
dência onde viviam no bairro
Prenda estava ocupada.
“Já não tentamos reaver por
conselhos de pessoas amigas, por-
que a situação poderia criar outros
problemas”. As boas amizades
feitas no tempo antes de migrar
estenderam as mãos, garantindo
emprego na função pública ao
pai. A posição que ocupou no Mi-
nistério da Agricultura permitiu
o acesso a uma residência, num
condomínio, no bairro do Kukixi,
em Luanda.
Com o passar do tempo, aos 22
anos, Zulinni sentiu a necessidade
de trabalhar para reduzir o peso
das despesas dos pais, com os sete
filhos. Começou a trabalhar, sem
o consentimento dos pais. Tudo
era feito às escondidas, até ganhar
aceitação. “Meus pais eram muito
rigorosos, só permitiam que es-
tudássemos. Mas não queria mais
depender financeiramente deles,
pois nem sempre os pedidos eram
atendidos a tempo.”
Dois anos depois, em 1997, a
mãe faleceu por doença. O pai se-
guiu o mesmo caminho em 1999.
PERFIL 17
Zulinni encontrou na Brigada Jo-
vem de Literatura de Angola (BJLA),
que integrou em 2002, as forças
para ultrapassar a dor pela perda
dos progenitores.
“Não sei o que seria dos meus
irmãos se eu estudasse apenas,
pois acabei por ser responsável
por eles, eu e a minha parceira.
A perda dos pais foi dolorosa,
mas a arte ajudou-me a ultra-
passá-la pois encontrei um mun-
do diferente e extraordinário…
EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO

O amor à arte da escrita

O amor pela arte da escrita nasceu aos 11
anos, em Kinshasa. Zulinni atribui as respon-
sabilidades ao professor “Esdrúxula”, da dis-
ciplina de Língua-Portuguesa, pelo rigor como
leccionava e os critérios adoptados na trans-
missão dos conhecimentos, e à igreja, onde
manteve contacto com os primeiros poemas.
O projecto “Escola Bíblica de Férias”, na igreja
Metodista Unida da comunidade angolana
na RDC, reunia alunos para declamarem em
efemérides e aí destacou-se. Ganhou gosto
pela literatura, a poesia especialmente, e co-
meçou a escrever os próprios poemas, guar-
dando-os a sete chaves. Mas no primeiro
emprego, secretária de direcção do colégio
Bola de Neve, Zulinni passou a produzir
poemas de forma intensa para as actividades
extra-escolares, onde era, na época, o local
onde declamava de forma regular para os
estudantes e encarregados de educação.
Muitos poemas nunca saíram do caderno de
rascunhos. Os de conhecimento público pas-
saram por críticos literários, de quem bebeu
experiências para se tornar hoje numa escritora
premiada. Na Brigada Jovem de Literatura
de Angola, manteve contacto com muitos es-
cribas experimentados, na época.
A humildade e dedicação levaram a escritora
a ver pela primeira vez o seu nome numa
obra literária “Antologia Poética de Geografia
Mágica da Kianda”, da Brigada Jovem de Li-
teratura de Angola (BJLA), ao lado de outros
jovens que já pontificavam, como Kudijimbe,
John Bella e Akis Neto.
“Não conseguia acreditar que meu nome
constava num projecto sério… Foram um
total de três antologias editadas com membros
de Luanda, Huíla e Lunda-Sul”.
Actualmente, é detentora dos livros “Kam-
binda”, “O aniversário do Rei Leão”, “Menino
Kulomba e os Dois Lenhadores”, “A Roda da
Amizade”, “Despique na natureza” e “Menino
Zola e as Flores”.
Zulinni representou a Brigada Jovem de Li-
teratura no Conselho Nacional da Juventude
(CNJ), como Secretária para Educação e
Cultura, de 2006 a 2010, e de 2010 a 2016,
como vice-presidente para área de Solida-
riedade Social e Promoção do Género. Teve
um papel activo, tendo participado das ac-
tividades paralelas da Conferência das Nações
Unidas Rio+20, no Brasil em 2012.
Em 2017, participou do IV Encontro Interna-
cional de Educação Ambiental da CPLP, em
São Tomé e Príncipe, cuja abertura foi feita
pelo Presidente daquele país.
Crescimento na Maka às Quartas-feiras
“Cresci muito no projecto Makas às Quartas-
feiras, ouvindo os profissionais e bebendo
muito do seu saber. Era quase proibido faltar
as edições do projecto quando fossem pre-
lectores nomes como Dario de Melo, um dos
precursores da literatura infantil angolana,
Uanhenga Xitu e Jofre Rocha, embora tenham
sido tempos muito difíceis porque as sessões
terminavam às 20h00 e, muitas vezes, tinha
de apanhar o último autocarro da Tcul. De-
pois percorria sete quilómetros a pé da
sede de Viana até ao Kikuxi, onde vivia.
Muitos desistiram. Mas permaneci até hoje,
pois havia uma corrente positiva sobre
mim. Fui persistente, por mais críticas que
recebesse. Hoje sou escritora infantil,
depois de ter dedicado muitos anos à poesia
e à declamação.”
De onde vinham as críticas?
Sobretudo de casa. Os meus irmãos, muitas
vezes, perguntavam-me o que ganhava na
brigada, que me fazia sofrer tanto.
Quem são as suas grandes referências na
literatura em Angola?
Kudijimbe, Akis Neto, John Bella, Kanguimbo
Ananaz, Marta Santos, Maria Celestina Fer-
nandes, Ngonguita Diogo, José Luis Mendonça
e Cremilda de Lima, entre outros. A lista é
extensa, mas preferi priorizar os artistas que
me incentivaram a não desistir.
O que a levou a deixar de escrever e
declamar poemas e dedicar-se a produzir
para crianças?
Foi de repente, embora fosse convidada,
inclusive, em eventos privados. Ganhei co-
ragem com o advento do Jardim do Livro
Infantil, concorri desde a primeira edição,
em 2011, e tive a sorte de vencer a segunda
edição, em 2012, com o livro “O aniversário
do Rei Leão”.
As suas obras são maioritariamente sobre
educação ambiental por quê?
Dos seis títulos publicados, quatro são de
carácter ambiental e um quinto, que está no
prelo, também. Gosto muito da natureza e é
essencial que as crianças comecem a cultivar
a natureza para o bem do planeta Terra. Isso
é indispensável para qualquer ser humano,
pois deve começar da base.
Como avalia o trabalho do CNJ onde já
esteve?
Penso que não fica bem falar porque já
não estou lá. Mas considero que é mais ac-
tivo, só que quem está dentro conhece me-
lhor as dificuldades… Tem muito trabalho
pela frente…
Aconteceu comigo…
Tive a honra de declamar em 2010 o poema
“Mar Salgado”, de Luis Vaz de Camões, na
União dos Escritores Angolanos, para entidades
angolanas na visita do então Primeiro de Por-
tugal, Durão Barroso. Foi extraordinário. Eu
e outros jovens da brigada deixamos a entidade
estrangeira boquiaberta. Actuei em 2011 para
as primeiras damas da SADC em Angola. O
livro “O aniversário do Rei Leão” foi tema de
tese de duas licenciaturas. Alguns escritores
de referência elogiam os meus livros…
 18 CAPA Domingo
5 de Abril de 2020

NOVO CORONAVÍRUS
Inimigo oculto ofusca
Domingo de Ramos
Templos fechados e milhares de crentes em quarentena domiciliária, católicos, evangélicos, adventistase tantos outros fiéis
cristãos das mais diferentes denominações religiosas, em todo país, assinalam hoje o Domingo de Ramos,sob o espectro da
Covid-19.Fora de Angola, locais históricos como a Igreja do Santo Sepulcro, na Cidade Velha de Jerusalém, estão fechados.
Curiosamente, a última vez que a Igreja do Santo Sepulcro fechou foi em 1349 (há 671 anos), por causa da Peste Negra
KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO

Ferraz Neto
Como se de um acordo se
tratasse, este ano, cristãos de
diversas congregações religiosas
de Luanda e noutras regiões
do país e do mundo celebram
o Domingos de Ramosapenas
com reflexões em torno do
sofrimento físico e espiritual
vivido por Jesus Cristo, sob
o lema “Fique em Casa”.
Data histórica de rele-
vância para os cristãos, o
Domingo de Ramos marca
o início da Semana Santa,
depois de um período in-
tenso de orações, jejum, per-
dão e de sacrifícios
denominado como o tempo
da Quaresma, iniciado no
mês de Março. Epílogo de
uma caminhada sinuosa, on-
de cada cristão é chamado a
fazer uma introspecção sobre
a sua conduta.
Noutras palavras, a Qua-
resma representa o tempo
de escuta da palavra de Deus
e de conversão, de preparação
e de memória do baptismo,
de reconciliação com Deus
e com os irmãos, de recurso
mais frequente às “armas da
penitência cristã”: a oração,
o jejum e a esmola.
Assim, as festas pascais
começam com o que tem
sido tradicionalmente cha-
mado Domingo de Ramos,
dia em que os fiéis recordam
a entrada triunfal de Jesus em
Jerusalém, meditando sobre
a sua paixão (sofrimento) no
Calvário. É um momento su-
blime, marcado por diversas
actividades, com realce para
baptismos e crismas.
Em anos anteriores, num
dia como hoje, pelas dife-
rentes artérias do país eram
visíveis crentes a exibirem
ramos de palmeiras ou de
outra espécie de planta. Jun-
tava-se ao cenário os enfeites
no exterior e no interior de
cada igreja. Como mandam
a s regra s , dep oi s do s
cultos,que culminavam com
baptismos ou crisma, são
realizados almoços e festas
em casa dos contemplados.
Festas que se prolongam
noite adentro.
Todas as denominações
cristãs presentes em Angola
realizam eventos especí-
ficos durante os dias que
antecedem a Páscoa. As
igrejas católicas e protes-
tantes costumam ficar lo-
tadas nessa época do ano.
Planeavam-se cerimónias
tradicionais com milhares
de fiéis. “Fique em Casa”
é o lema em 2020.
Fique em casa
Infelizmente, em 2020, o Do-
mingo de Ramos está com-
pletamente ofuscado. Apenas
meditação e celebrações ao
domicílio. Tudo por conta de
um inimigo oculto, invisível
e letal: o novo coronavírus.
A pandemia de covid-19 e o
Estado de Emergência limitam
este ano as comemorações.
A mensagem deste ano é,
tão somente,esta: “Fique em
casa”. Fazendo jus ao primado
da lei, o Ministério da Cultura
determinou a suspensão, por
15 dias, dos cultos religiosos,
as concentrações de fé e mi-
lagres, os espectáculos e os
divertimentos públicos.
O departamento minis-
terial avançou que o período
de suspensão das actividades
poderá ser prorrogado em
igual período em função do
desenvolvimnento da situa-
ção sanitária.O MINCULT
adiantou que os estabeleci-
mentos públicos (museus,
casas de cultura, centros cul-
turais, arquivos, bibliotecas
e locais de congregação) que
se mantiverem abertos de-
vem criar as condições ade-
quadas de higiene, em
conformidade com as normas
e procedimentos de segu-
rança contra aCovid-19.
 Domingo
5 de Abril de 2020
Celebrar com os olhos na Covid-19
Assinalar a Semana Santa
de forma simples e digna é
a meta de muitas denomi-
nações religiosas. Numa nota
tornada público no passado
dia 20 de Março, os bispos
da Conferência Episcopal
d e A n g o l a e S ã o To m é
(CEAST)referem que “de-
pendendo do evoluir da si-
tuação”, as celebrações da
Semana Santa serão à porta
fechada, sem ajuntamento
de fiéis.
A nota refere ainda que,
para se fortalecer a fé e a es-
perança dos fiéis, deve-se
incentivar o uso das rádios
eclesiais, da televisão, dos
boletins diocesanos e paro-
quiais e das redes sociais para
a transmissão das celebrações
eucarísticas e de outros exer-
cícios de piedade.
Algumas igrejas decidi-
ram assinalar a data de uma
maneira diferente. Distante,
mas próximo das ovelhas,
como soe dizer-se. A título
de exemplo, na Paróquia
São Lucas, localizada no Dis-
trito Urbano do Zango, mu-
nicipio de Viana, o pároco
sugeriu a colocação de um
ramo verde em cada um dos
portões e/ou janelas de casa.
No Domingo de Ramos ele
passará por algumas ruas e
abençoará as casas assina-
ladas com um ramo.
Segundo o padre Domin-
gos Pestana, da igreja Nossa
Senhora do Rosário, Diocese
CAPA 19
KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO
de Viana, o Domingo de Ra-
mos este ano é apenas uma
data de meditação e intros-
pecção. “Não haverá missa,
nem na sede paroquial nem
em outros centros”.
O pastor da Igreja Bom
Deus, Samuel Kimbembe,
em declarações à Angop,
disse que tem apelado aos
seus fiéis para procurarem
conhecer melhor a doença
Covid-19, principalmente
a sua forma de transmis-
são, para se prevenirem
da mesma.
“A transmissão é feita por
contacto com pessoas infec-
tadas, com superfícies con-
taminadas como corrimão
de escadas, computadores e
outras. Ainda temos a cultura
de cumprimentar com beijos
e apertos de mão, mas a in-
dicação é para evitar, pois é
um caminho fácil para con-
trair a doença”, asseverou.
O Conselho de Igrejas Cris-
tãs em Angola (CICA) acon-
selhou os seus filiados a
observação das medidas pre-
ventivas da Covid-19, so-
bretudo a lavagem das mãos
com água corrente e sabão.
Recentemente, em confe-
rência de imprensa, a secre-
tária-geral dessa instituição
religiosa, reverenda Deolinda
Dorcas Tecas, referiu-se
igualmente ao uso regular
de desinfectantes como álcool
gel, e tomar cuidados ao es-
pirrar e tossir.

Consequências globais DR

Fora das nossas fronteiras, os distância uns dos outros.

efeitos devastadores da Covid-
19 estão longe de ser inteira-
mente calculados.
Na segunda-feira, 30, as portas
da Igreja do Santo Sepulcro, na
Cidade Velha de Jerusalém, foram
fechadas à chave. A última vez
que isso aconteceu foi em 1349
(há 671 anos), por causa da epi-
demia de Peste Negra, que dizimou
entre um terço e metade da po-
pulação da Europa.
Desta vez, outra pandemia, a
do coronavírus, é a responsável
pelo encerramento dos portões de
um dos sítios cristãos mais sagrados
do mundo, consagrado no ano 335
da Era Cristã, que marca, segundo
a tradição, o local onde Jesus foi
crucificado e ressuscitou.
A Igreja do Santo Sepulcro ficará
fechada na Páscoa, segundo in-
formou o porta-voz da Assembleia
da Ordenaça Católica, Wadie Abu
Nassar. Mas algum tipo de cele-
bração será realizada dentro da
mesma por alguns clérigos, se-
guindo as restrições das autori-
dades de saúde.
Mesmo que a igreja reabra para
isso, peregrinos não poderão entrar
e apenas 10 clérigos de cada de-
nominação católica – a igreja é con-
trolada por diversos grupos que
nem sempre se entendem – poderão
participar, ficando dois metros de
Os judeus celebram o Pessach
(a Páscoa Judaica),que este ano
será no dia 8 de Abril. Já os mu-
çulmanos começam a marcar o
mês sagrado do Ramadão em fi-
nais de Abril, mais concretamente
no próximo dia 23. Todos esses
festejos costumam ser acompa-
nhados de aglomerações de mi-
lhares e milhares de fiéis ou ceias
em família.
Na Cisjordânia, Palestina, tam-
bém as orientações da Organi-
zação Mundial de Saúde (OMS),
estão a ser seguidas a risca. Todas
as mesquitas e igrejas estão fe-
chadas. Em Belém, a Igreja da
Natividade – que marca o local
onde, segundo a tradição, Jesus
nasceu – está fechada desde o
início de Março depois que casos
da Covid-19 começaram a apa-
recer na cidade.
As ruas estão vazias porque
os cidadãos não podem deixar
a cidade e ninguém pode entrar.
Na Faixa de Gaza o grupo islâmico
Hamas, que controla a região,
também ordenou o encerramento
de todos os locais de oração. Este
ano será diferente. Estas festivi-
dades também terão que ser
adaptadas. Mesmo assim, com
todas as medidas e cuidados,
vale lembrar que hoje é Domingo
de Ramos.
 20 REPORTAGEM
Inventar maneiras
de estar em casa
Isolamento social, privações e o tédio são situações que teremos de enfrentar por mais algum tempo.
António Capapa
Felisberto Cassua, homem
de teatro, assegura que se
adaptou “bem à situação
de emergência que o país
está a viver”, porque, na
sua condição de reformado,
já só saía de casa quando
algo se impusesse, e o tem-
po de quarentena está a ser-
vir-lhe para a criação de
“argumentos para novas
peças de teatro”.
Como vários outros, Fe-
lisberto Cassua vê o con-
finamento em casa como
um momento de retiro, de
reflexão e reencontro com
a família e sobretudo “de
interação com os filhos”,
ajudando-os em assuntos
escolares, estando com eles
em brincadeiras e a apren-
der a gerir o estresse.
“Ter os filhos como foco”
é o que aconselha mesmo
a psicóloga Jacinta Costa,
que devido à busca por aju-
da por parte de algumas
pessoas, inclusive médicos,
por conta da exigência e da
pressão na sua actividade
Mas no final valerá a pena o sacrifício: continuar vivo
neste período de excepção,
decidiu, com alguns colegas
de especialidade, criar um
grupo que presta gratuita-
mente aconselhamento por
telefone e ajuda as famílias
a “saberem encarar com
serenidade” o estado de
isolamento social que estão
obrigadas a cumprir.
Conhecer a rotina em
casa das pessoas, desde a
alimentação ao entreteni-
mento, é o que fazem os
especialistas, no sentido
de lhes prestar o melhor
aconselhamento.
O medo parece ter to-
mado conta de muita gente,
que, segundo Jacinta Costa,
busca amparo junto do Al-
tíssimo, através da oração.
Mas, no entender da psi-
cóloga, “as pessoas não de-
vem buscar Deus com o
sentimento de pânico”.
A prática de exercícios
físicos, para evitar o se-
dentarismo, “que é natural
em muitos de nós angola-
nos”, é um dos conselhos,
“assim como criar momen-
tos de total entretenimento
com os filhos, envolven-
ESTADO DE EMERGÊNCIA
do-os, se possível, em todas
as actividades”.
Segundo Jacinta Costa,
o que se pretende é que as
pessoas se sintam bem,
mesmo que forçadas ao
confinamento em casa du-
rante largos dias. Daí que
toda a orientação seja de
acordo com a preocupação
das pessoas.
O consumo por excesso
de notícias sobre mortes
por conta do novo corona-
vírus, divulgadas pelos
meios de comunicação es-
trangeiros, é algo que a psi-
cóloga Jacinta Costa sugere
que se evite, assim como
a não se ater em demasia
às informações e mensa-
gens disseminadas via fa-
cebook ou whatsaap.
E muitos dos alunos do Ins-
tituto de Telecomunicações
de Luanda (ITEL) têm a sorte
de, através das redes sociais,
manterem a sua rotina estu-
dantil, como assegura Alberto
Paulo, professor daquela ins-
tituição. É através do What-
sApp, Facebook e e-mails
que recebem dos seus pro-
fessores matérias com a pos-
sibilidade de verem esclare-
cidas as suas dúvidas.
“Cada professor estipulou
um horário com os grupos
por turmas para, através
das tecnologias, tirar dúvi-
das e enviar exercícios aos
estudantes. São usadas as
redes WhatsApp, Facebook
e os e-mails dos estudan-
tes”, realça.
Para o pedagogo Alberto
Paulo, o tempo de quarentena
deve ser aproveitado pelos
pais para ajudarem os filhos
com problemas de escrita e
de leitura.
“Os pais devem estimular
o hábito de leitura nas crian-
ças e ensiná-las como pes-
quisar matérias na internet
e fazer resumo das leituras
feitas por eles”.
No entender do professor,
mais do que se preocupar
com a obtenção de infor-
mações sobre a pandemia
no mundo, os pais e encar-
regados de educação “devem
aproveitar esta fase para
cultivar novos hábitos, al-
guns já perdidos por causa
da situação imposta nas
grandes cidades onde os pais
deixam e encontram os fi-
lhos a dormir”.
Para o psicólogo Paxi Pe-
dro, a ansiedade, a impa-
ciência, o aborrecimento,
dentre outros sentimentos,
são próprios de momentos
como estes.
“Aconselha-se que haja
paciência, equilíbrio emo-
cional, prudência e que se
evitem os aborrecimentos e
estresses desnecessários,
apesar de a situação não ser
fácil para muitas famílias,
sobretudo para aquelas que
não possuem um televisor
ou alternativas para diversão
neste período”, sublinha.
Permanecer em casa vai
continuar a ser mesmo o
apelo até que cheguem ao
fim os dias mais longos, as
noites mais curtas, por conta
do Estado de Emergência.
Para o economista Gilberto
Segunda é preciso que as fa-
mílias continuem a observar
as medidas de biossegurança
para se vencer a Covid-19,
“evitando ao máximo a pro-
pagação do vírus letal”.
O economista realça o
facto de a situação não estar
Domingo
5 de Abril de 2020
JOSÉ COLA | EDIÇÕES NOVEMBRO
fácil para as famílias, “fun-
damentalmente para as que
dependem do mercado in-
formal”, razão porque en-
tende que tanto as empresas
como o Estado devem con-
tinuar a garantir as condi-
ções para que as famílias
satisfaçam as suas neces-
sidades sem correrem o ris-
c o d e s e exp o re m a u m
inimigo invisível.
“O impacto dessa pande-
mia obriga a que os agentes
económicos encontrem, in-
voluntariamente, o choque
na demanda e na oferta de
bens e serviços”.
E numa situação como
esta é preciso “racionalizar
no consumo”, como sugere
ainda Gilberto Segunda. Por-
quanto, afirma, “os excessos
e o consumo exagerado po-
dem prejudicar e afectar di-
re c ta m e n te a re n d a e a
poupança das famílias, so-
bretudo as que não detêm po-
der de compra significativo”.
Daí que as famílias “devam
recorrer única e exclusiva-
mente a bens e serviços ne-
cessários,como é o caso da
alimentação e saúde”.
 Domingo
5 de Abril de 2020
Redescobrir a família e o lar
Isaquiel Cori
Nesse confinamento força-
do, muitas famílias estão a
redescobrir o espaço físico
em que vivem, escrutinando
milimetricamente cada uma
das divisões da casa. Assim
o diz João Domingos Ma-
buaca, artista plástico pre-
miado, mais conhecido por
Mayembe: “As minhas ac-
tividades em casa triplica-
ram. A limpeza do quintal
é feita minuciosamente, em
todos os cantos”.
Mestre Mayembe todos
os dias borrifa a sua casa
com água sanitária e agora
tem tempo para supervisio-
nar mais os filhos. “Dá para
ver quem é preguiçoso e
quem gosta de trabalhar. Há
mais proximidade na família,
mais conversa”, frisa.
Tendo o seu atelier em ca-
sa, o artista plástico continua
a pintar, aliás, fez questão
de enviar-nos, via whatsaap,
um dos seus últimos quadros,
inspirado no seu credo to-
coista, em que aparece a fi-
gura crucificada de um Jesus
Cristo negro. “Todos os dias
a família faz a meditação re-
ligiosa conjunta, rogando a
Deus que nos perdoe. Eu me-
dito muito, recordando a so-
lidariedade que Jesus Cristo
teve para connosco, mor-
rendo por nós”.
Para o advogado António
Njunjulo “estar em casa não
tem sido fácil”. Impossibi-
litado de ir ao escritório para
as consultas aos clientes,
tem usado muito o telefone
e o whatsaap. E vê um “lado
positivo” na obrigação de
estar em casa. “O lado po-
sitivo é o convívio perma-
nente com a família. Somos
uma família de quatro ele-
mentos e tem sido meu papel
cuidar das crianças durante
grande parte do tempo en-
quanto a esposa se dedica a
outros afazeres domésticos.
Tenho aproveitado também
para dar uns retoques e fazer
reparações na casa”.
Segundo o advogado, está
a conhecer e a dar-se a co-
nhecer melhor às filhas e à
esposa. “Estamos a conhecer
melhor aquilo que deve ser
a nossa relação. E outra coisa.
Eu gostava muito, quando
estivesse em casa, de ver
jogos na televisão, mas hoje,
com as actividades despor-
tivas suspensas, começo a
ver que é possível estar em
casa sem ser a ver jogos na
televisão. Essa quarentena
vai nos reeducar, está a nos
reorientar a aproveitar mais
os momentos em família”.
Maria Paula António, fun-
cionária pública, mãe e avó
que ela é, não tem mãos a
medir quando está em casa.
Mesmo agora com as restri-
ções impostas pelo Estado
de Emergência. “Como dona
de casa não me faltam ta-
refas. Nunca estou parada.
Tenho uma máquina de cos-
tura e aproveito para costurar
algumas peças de roupa.
Também tenho a preocupa-
ção de telefonar para alguns
parentes, para saber como
estão. E apesar do comando
da televisão estar quase sem-
pre com as crianças, que
não deixam de ver desenhos
animados, quando chega a
hora do telejornal imponho
a minha autoridade e seguro
no comando”.
Maria António mostra-
se optimista, acredita que a
pandemia da Covid-19 vai
passar. “Leio muito a Bíblia,
que me serve de grande con-
solo. No fim de tudo isso va-
mos estar mais preocupados
com a nossa saúde e com as
nossas famílias”.
Jandira Fernandes, estu-
dante finalista de psicologia,
encara a obrigatoriedade de
REPORTAGEM 21
DR
estar em casa como “uma seca”.
Para ela é mesmo muito com-
plicado. “A pessoa fica ente-
diada, sem saber o que fazer.
Por mais trabalho doméstico
que se faça, chega um momento
em que é aborrecido”.
Para tentar superar o tédio,
Jandira Fernandes procura ou-
vir música, estar mais tempo
nas redes sociais e ler também
mais. Revelou-nos que acabou
de ler o livro “Vítimas de Abusos
Sexuais”, de autoria da psicó-
loga Encarnação Pimenta.
E depois da pandemia? “An-
tes, cada um em casa vivia no
seu canto e agora estamos mais
um ao lado do outro. Acho que
isso vai permanecer”, acredita
Jandira Fernandes.
“Já fazemos as refeições em
conjunto, à mesma mesa. E
também estamos a conseguir
fazer estudos bíblicos conjun-
tos, coisa que tínhamos pro-
gramado há muito mas não
conseguíamos concretizar. Isso
é para manter”, diz Aldina Dias,
funcionária pública, agora cir-
cunstancialmente forçada à
condição de dona de casa a
tempo inteiro.
Pombal Maria, escritor,
aproveita esses dias para ler
coisas novas, reler textos que
ele próprio escreveu e ver fil-
mes. Revela que reviu, muito
recentemente, o filme “Titanic”.
E que conversa muito com as
filhas. “Há uma maior apro-
ximação nas famílias, entre
pais e filhos, entre os casais.
As pessoas estão a conversar
mais, há um ressurgimento do
diálogo nas famílias”, defende
o escritor.
José Gombo, líder da or-
ganização filantrópica Juca-
rente, valoriza muito, nessa
fase de restrições, a dimensão
religiosa da vida. Por isso não
deixou de cultuar. “Acom-
panho os cultos via internet,
na página do facebook da mi-
nha igreja, Ministério Inter-
nacional da Fé”.
 Domingo
5 de Abril de 2020 REFLEXÃO 22
DR DR

DR

Crónica dos dias

de resistência
Apesar do ainda significativo movimento no interior dos bairros periféricos, a cada dia que passa as ruas ficam mais
vazias e damo-nos conta de que o que realmente faz a cidade são as pessoas. As pessoas são a alma da cidade. Há
aquele intervalo do dia, até às 13/14 horas, em que uma correria de gente em direcção aos mercados, aos armazéns,
às grandes superfícies comerciais, parece imitar a azáfama de dias normais de outrora (que hoje nos parecem tão
distantes, uma recordação que se vai esfumando).E depois vem a desertificação humana, as ruas entregues a uns
quantos intrépidos, profissionais ditos “essenciais” nas respectivas áreas, em trânsito de/ou para o local de trabalho

Isaquiel Cori de proximidade e de encon- cumpridores das restrições tralhadoras nem bombas,
tro, de trocas físicas de afec- impostas pelo Estado de muito menos a aviação ou DR

Despojada da sua alma, a
cidade vazia parece emer-
gida de um catálogo de ar-
queologia. Que cataclismo
atingiu a cidade e fez os seus
habitantes refugiarem-se
no interior de suas casas?
O cataclismo chama-se
Covid-19, cujo vírus vector,
estranha e paradoxalmente,
segundo os relatos cientí-
ficos, não se instalou nem
circula nas ruas abandona-
das. O vírus parasita não
tem mobilidade própria,
habita o corpo humano e
“salta” da pessoa infectada
para a pessoa sã pelo con-
tacto ou a proximidade fí-
sica. Abandonamos as ruas,
os restaurantes, os bares,
as discotecas, as praias - a
cidade - porque são lugares
to, de interacção pessoal...
O vírus da Covid-19, insi-
diosamente, aproveita-se
precisamente do que nos
torna humanos para nos de-
sumanizar, para matar-nos.
E é tão formidável quanto
invisível.
Estranha guerra essa, em
que os tanques se movi-
mentam nas ruas não exac-
tamente contra o inimigo
directo, contra o qual, aliás,
dada sua invisibilidade, de
nada valem. Contra quem
se dirige então o aparato mi-
litar e policial na rua? Contra
os próprios aliados que fazem
o jogo do inimigo, dissemi-
nando-o nas comunidades...
Estaremos então diante de
traidores?
Num sentido lato, dentro
do espírito de guerra, os in-
Emergência deverão ser con-
siderados traidores à pátria?
À espécie humana?
As patrulhas militariza-
das, as barreiras policiais
nas estradas, a apreensão e
o medo no ar, a incerteza
quanto aos próximos dias,
o confinamento obrigatório
nas casas, configuram uma
situação real de cerco físico
e psicológico próprio de um
ambiente de guerra. Estamos
cercados: pela impossibili-
dade de exercer a liberdade
de deambular por aí, de ir
à escola, de ir ao trabalho,
de fazer os lugares que ama-
mos – as pessoas é que fazem
os lugares - e pelo medo
avassalador de contrair a
Covid-19.
Nessa guerra em que não
servem de nada tiros de me-
os mísseis, as nossas casas
são as trincheiras da resis-
tência. E o distanciamento
e o isolamento sociais, ou-
trora tão estigmatizados, são
as armas mortais contra o
vírus da Covid-19.
Um dos significados da
palavra “emergência”, se-
gundo o Dicionário
Houaiss, é “situação grave,
perigosa, momento crítico
ou fortuito”. E outro sen-
tido, mais literal, é “acto
ou efeito de emergir”. Que
mundo vai emergir da si-
tuação grave criada pela
Covid-19? Seremos me-
lhores? Mais humanos?
M a i s e c u m e n i c a m e n te
abertos e sensíveis a ou-
tras espécies de vida, ain-
da que de dimensões
microscópicas?
NECROLOGIA Domingo
5 de Abril de 2020 23
FALECEU FALECEU FALECEU FALECEU RECORDAÇÃO

JOANA MARIA JOSÉ
Edson, Belita, Edna, Verónica, Osvaldo,
Nicolau, Jéssica, Estêvão, Edigardo, Anísia,
Maria, Francisco, Alexandrina, Domingas,
Gomes Fuca, Lina Fuca, Abel Fuca, João
Fuca, Emília Fuca, André Gomes, (sobrinhos)
e demais familiares comunicam o passamento
físico de sua querida, JOANA MARIA JOSÉ,
ocorrido no dia 31/3/2020, em Lisboa, por
doença. O funeral realizar-se-á em data a
anunciar oportunamente. 3.823R)
JOANA MARIA JOSÉ
Tânia Miguel (filha), Isabel Maria José,
Ester Maria José Geovety, Ana Maria,
Habacuque José, Ageu Maria José, António
Maria Gomes e Abel Maria Paulo (irmãos)
e demais familiares comunicam o pas-
samento físico de sua querida, JOANA
MARIA JOSÉ, ocorrido no dia 31/3/2020,
em Lisboa, por doença. O funeral rea-
lizar-se-á em data a anunciar oportu-
namente. (3.823aR)
ADELINA DA CONCEIÇÃO
MOUFORTE JOAQUIM
A família de Adelina da Conceição Mouforte:
João Mouforte Velasco (Maninho), Maria Antónia
Mouforte Velasco Dias dos Santos, (Tuna),
Jacinta Mouforte Joaquim(Jaci), Jurema Lassaleth
Mouforte Joaquim dos Santos (Jú), Lucrécio
Mouforte Joaquim(Keko) “filhos”, irmãos,
sobrinhos e netos comunicam o falecimento
de sua mãe, irmã, tia e avó ADELINA DA CON-
CEIÇÃO MOUFORTE JOAQUIM, ocorrido no
dia 3/4/2020. O funeral realizar-se-á em data a
anunciar oportunamente. (500.0466)
LUMINGU LUIZ CARNEIRO
GIMBY (Domingos Gimby)
Isabel Gimby, Berta Gimby, Luíz Gimby,
Sambo Gimby, Angélico Gimby, Jocelino
Gimby, Carla Gimby (filhos), irmãos,
sobrinhos, netos, primos, genros e noras
comunicam o falecimento de seu ente
querido, LUMINGU LUÍZ CARNEIRO
GIMBY, ocorrido no dia 29/3/2020, em
Libreville (Gabão). O funeral realiza-se
dia 10 do mês em curso, em Libreville.
(3.824R)
ALBERTO DOMINGOS
ANDRÉ DA COSTA
Não é fácil conviver o amanhecer e o
adormecer sem a tua presença, sem
escutar a tua voz. Pai já se passaram 2
anos da tua partida fatal. Recordam-te
Tudizole Costa, Eunice Costa, Albertina
Costa e demais familiares. Queremos
dizer que sempre estarás presente nas
nossas memórias. (3.826R)

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CAMPANHA SOLIDÁRIA
COVID-2019
O nosso país e o mundo estão a viver dos tempos mais difíceis da História recente da Humanidade.

Tempos difíceis mas de grande coragem.

Nós, angolanos, sempre enfrentámos com determinação e inteligência as diferentes adversidades por
que já vivemos.

Hoje apelamos à solidariedade de todos para ajudar com donativos que nos permitam mitigar a situação
social das nossas populações mais necessitadas.

As consequências do COVID-19 podem vir a ser muito difíceis.

Vamos todos contribuir para ajudar uma causa que é de todos.

Conta do Tesouro Nacional no BCI, para ajudas em Kwanzas,

IBAN Nº AO 06 0005 0000 5197 1631 1019 7; CONTA: 51971631-10-001;

Conta do Tesouro Nacional no BCI, para ajudas em Kwanzas convertíveis em DÓLARES,

IBAN Nº AO 06 0005 0000 5197 1631 1514 4; CONTA: 51971631-15-001

Conta do Tesouro Nacional no BCI, para ajudas em Kwanzas convertíveis em Euros,

IBAN Nº AO 06 0005 0000 5197 1631 1524 1; CONTA: 51971631-15-002

Uma vez mais e sempre estaremos todos Juntos por Angola

(700.037)

SERVIÇO NECROLÓGICO: DIAS ÚTEIS DAS 9H ÀS 14H, SÁBADOS, DOMINGOS E FERIADOS DAS 9H ÀS 14H
24 ECONOMIA
COMBUSTÍVEIS NA AVIAÇÃO
Preço de referência reduz
quase 50 por cento em dois meses
Isaque Lourenço
O Ministério das Finanças
reduziu em 45,76 por cento
o Preço de Referência do Ajus-
tamento dos combustíveis
JET A1 usado no sector da
aviação no acumulado de
Fevereiro a Abril deste ano, .
Dos 243,39 kwanzas fixa-
dos em Fevereiro como Preço
de Referência de Ajustamento
(PRA), o Ministério fez baixar
a tabela de Kz 209,51 publi-
cada no início de Março para
os actuais 142,80 kwanzas (-
31,84 por cento) a vigorar
desde 1 do mês em curso. No
global, a redução está acima
de 41 por cento, ou seja, 100,59
kwanzas, em dois meses.
A nova tabela das Finanças
estipula o valor de 169 kwanzas
para o Preço Base na Costa/Ex-
Refinaria (PBC), uma redução
de -28,32% por cento se com-
parado a Março. Já o Preço de
Venda Ex-Logística e Distri-
buição (PVD) ficou em 213,84
kwanzas, menos 23,67 por
cento do que o anterior. O
Preço da Aeroinstalação do
JET-A1 - PVA, que inclui
impostos e taxas, passou para
255,65 kwanzas, com uma
redução de 22,47 por cento,
em relação ao Março.
A publicação da nova
Finanças adopta medidas para estimular operações do sector
tabela, segundo o Minfin,
ocorreu após a ministra Vera
Daves de Sousa ouvir o Ins-
tituto Regulador dos Derivados
do Petróleo e as empresas
operadoras do sector.
Este ajustamento foi efec-
tuado nos termos do artigo 6
do decreto Executivo n.º
132/19, de 6 de Junho, com-
binado com o artigo 9.º do
Decreto Presidencial n.º
206/11, de 29 de Julho.
No mês de Março, a tabela
publicada pelo Minfin fixava
o PRA nos 209,51 kwanzas,
o PBC em Kz 235,76; o PVD
nos Kz 280,14 e o PVA com
EDIÇÕES NOVEMBRO
um custo de Kz 329,75.
Estes valores já represen-
tavam, na altura, descidas
acentuadas, quando compa-
rados com os de Fevereiro,
que eram de Kz 243,39 (+13,92
por cento) para o PRA, Kz
269,29 (+12,45) do PBC, Kz
312,80 (+10,44) e os Kz 366,01
(+9,91 por cento) no PVA.
As quatro categorias de
referência do JET A1, ao todo,
de Fevereiro a Abril, desceram
Kz 100,58 (45,76 por cento)
no PRA; Kz 100,29 (40,77) o
PBC; Kz 98,96 (34,11) o PVD
e Kz 110,37 (32,38 por cento),
respectivamente.
Custo dos bilhetes
O porta-voz da TAAG, Carlos
Vicente, questionado se a
baixa dos preços de referência
do JET A1 representaria uma
redução directa nos custos
dos serviços e, sobretudo,
dos bilhetes disse que “não
necessariamente”, embora
fosse, sem dúvidas, uma folga
operacional à empresa.
Um engenheiro de manu-
tenção da companhia nacio-
nal de bandeira esclareceu
que as alterações nos preços
dos bilhetes estão mais asso-
ciadas às variações da moeda.
Para ele, a redução no preço
do JET permite que os voos
tenham menos custo, porque,
lembrou, normalmente, no
caso da TAAG, o abasteci-
mento para voos de ligação
com Lisboa ou Maputo che-
gam a ser feitos já em Luanda
e na moeda nacional para
poupar divisas.
Explicou que um voo
777-200 ou, mesmo, o 300,
por exemplo, precisa de
mais de 60 quilogramas
(unidade usada que resulta
d a c o nve r s ã o d e l i t ro s
sobre a densidade e tem-
p e ra t u ra a m b i e n t e ) d e
combustível no traçado
Luanda - Lisboa e 50 no
Luanda - Maputo.
RATING
Agência Moody’s estende avaliação ao Banco Económico
Risco do Económico
em revisão negativa
Depois de, na terça-feira,
ter colocado a dívida soberana
angolana de longo prazo clas-
sificada em B3, em revisão
negativa, a agência de notação
Moody’s decidiu alargar a
medida ao sector bancário
do país, incluindo o Banco
Económico, que, na sexta-
feira, anunciou o facto ao Jor-
nal de Angola.
A nota Caa1 do Banco
Económico tamb ém foi
colocada em revisão nega-
tiva, não tendo sido ainda
cortada, uma decisão que
a Administração da insti-
tuição declarou encarar
“com serenidade e resiliên-
cia”, tendo adoptado “medi-
das de contingência para
continuar a desenvolver a
sua actividade” com base
nas determinações do BNA.
A decisão da Moody’s em
Domingo
5 de Abril de 2020
EDIÇÕES NOVEMBRO
relação à dívida soberana de
Angola decorre do momento
económico adverso que o
país atravessa, caracterizado
pela queda acentuada do
preço do petróleo nas últimas
semanas (mais de 70 por
cento desde o início do ano)
com impacto directo na prin-
cipal fonte de receitas do
país, colocando pressão
acrescida sobre as finanças
públicas e posição líquida
externa, em divisas.
Acresce-se a isso o rápido
alastramento da pandemia
Covid-19 e o imprevisível
efeito sobre a actividade
económica mundial, as con-
dições de crédito e de liqui-
dez que também podem-se
traduzir num previsível
acréscimo do endivida-
mento e pressão sobre a
balança de pagamentos.
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(500.0467)
MUNDO Domingo
5 de Abril de 2020
PROPAGAÇÃO DA COVID-19 EM MOÇAMBIQUE
Nyusi propõe amnistia para
aliviar impacto nas cadeias
Chefe de Estado moçambicano leva proposta de lei ao
Parlamento destinada a perdoar crimes puníveis com pena
de prisão até um ano
O Presidente moçambicano,
Filipe Nyusi, submeteu,
sexta-feira, ao Parlamento,
u m a p ro p o s ta d e l e i d e
amnistia para crimes puní-
veis com até um ano de pri-
são e de penas pelo mesmo
tempo, para minimizar o
impacto do novo coronavírus
nas cadeias.
“Avaliando a situação do
sistema penitenciário, carac-
terizada por desafios cons-
tantes relacionados com a
gestão da superlotação dos
estabelecimentos, constatamos
que as penitenciárias cons-
tituem um local de alto risco
para a propagação de doenças
infecciosas”, entre as quais a
Covid-19, referiu o comuni-
cado da Presidência da Repú-
blica de Moçambique, ao qual
a Lusa teve acesso.
O Chefe de Estado precisou
que, feitas as consultas per-
tinentes, ao abrigo da Cons-
tituição da República, remeteu,
sexta-feira, à Assembleia da
República, “a proposta de Lei
de Amnistia dos crimes puní-
veis com pena de prisão até
um ano e perdão das penas
até um ano de prisão".
Filipe Nyusi apelou aos
órgãos de Justiça para garan-
tirem a celeridade nos pro-
cessos judiciais e , quando
aplicável, optarem por penas
alternativas à prisão, uma
m e d i d a p a ra r e d u z i r o
número de reclusos nas
cadeias moçambicanas.
“Em face da proposta que
remetemos à Assembleia da
República, vai o nosso apelo
à sociedade civil e às auto-
ridades comunitárias para
que acolham, com carinho,
os nossos compatriotas, aju-
dando-os a reintegrarem-
se na sociedade”, acrescentou
Filipe Nyusi, que pediu, tam-
bém, aos estabelecimentos
penitenciários para a adopção
de medidas de prevenção do
novo coronavírus.
No âmbito das medidas
de prevenção, durante o
Estado de Emergência, que
vai vigorar por 30 dias, foram
suspensas visitas aos esta-
belecimentos prisionais, que
contam com cerca 21 mil
reclusos, um número acima
das capacidades.
CONGO
Vinte pessoas electrocutadas
num bairro de Brazzaville
Vinte pessoas morreram
electrocutadas, ontem de
manhã, em Kintelé, nos
arredores do Norte de Braz-
zaville, quando um raio
rompeu cabos de alta tensão
na empresa eléctrica E2C,
Presidente Filipe Nyusi quer redução do número de reclusos
Ataques em Gorongosa
Uma pessoa morreu e quatro
ficaram feridas, sexta-feira,
durante um ataque contra
um autocarro na zona do rio
Pungue, no limite entre os
distritos de Nhamatanda e
Gorongosa, disseram à Lusa
várias testemunhas.
“O carro foi atingido por
balas numa mata, depois de
termos passado a ponte” sobre
o rio Pungue, disse Eulália
Frederico, uma passageira
que sobreviveu ao ataque.
O autocarro da companhia
City Link viajava da Beira
para Quelimane e foi alvejado
quando seguia acompanhado
de uma escolta policial.
Nas imagens postas a cir-
cular nas redes sociais, o
autocarro, parado no hospital
rural de Gorongosa, apresenta
várias perfurações de balas
no perfil lateral direito, do
lado do motorista, e os vidros
das janelas partidos. “Aca-
bávamos de sair de Inchope”,
disse uma outra passageira,
adiantando que as vítimas
foram socorridas no hospital
rural de Gorongosa. Este é o
terceiro ataque em dois dias
numa onda de violência
armada que desde Agosto
anunciou à rádio pública o
administrador daquela
comuna urbana, Stella Sas-
sou-Nguesso. As forças de
segurança foram enviadas
rapidamente para o local
para garantirem a segurança
DR
de 2019 já provocou 22 mor-
tos. Um dia antes, um auto-
carro que fazia o sentido
sul-norte de Moçambique
foi alvejado por vários tiros,
pouco depois de passar a
povoação de Mutindiri, tendo
três pessoas ficado feridas
de forma ligeira, incluindo
o condutor.
Meia hora depois, um outro
autocarro, que fazia o mesmo
percurso, foi metralhado e
atingido por várias balas na
parte traseira no mesmo troço,
no meio de outros dois auto-
carros, tendo duas pessoas
sofrido ferimentos ligeiros.
O ataque surge na sequên-
cia de outros em estradas e
povoações das províncias de
Manica e Sofala, por onde
deambulam guerrilheiros
dissidentes da Resistência
Nacional Mo çambicana
(Renamo), liderados por
Mariano Nhongo.
O grupo tem ameaçado
recorrer à violência armada
para negociar melhores con-
dições de reintegração social
do que aquelas acordadas pelo
seu partido com o Governo,
mas, por outro lado, também
se tem recusado a assumir a
autoria dos ataques.
da zona e dos responsáveis
da empresa E2C, e resta-
belecerem os dois cabos
rompidos e que estiveram
na origem da tragédia.
A situação perturbou
as populações de Brazza-
ville, numa altura em que
se iniciou a aplicação das
medidas de confinamento
e o recolher obrigatório,
tomadas pelas autoridades
para prevenir a evolução
do coronavírus (Covid-
19) no país.
DOAÇÃO
Banco Africano
ajuda a combater
praga de gafanhotos
O Banco Africano de Desen-
volvimento (BAD) anunciou,
sexta-feira, a aprovação de
um empréstimo de emer-
gência no valor de 1,5 milhões
de dólares para ajudar nove
países africanos a comba-
terem a praga de gafanhotos,
noticiou a CNN.
Canalizada através da
Autoridade Intergoverna-
mental para o Desenvolvi-
mento (IGAD) com a
chancela da União Africana,
o empréstimo, no valor de
cerca de 1,3 milhões de euros,
vai ajudar o Djibuti, Eritreia,
Etiópia, Quénia, Somália,
Sudão, Sudão do Sul, Uganda
e Tanzânia a controlarem “a
praga de gafanhotos que está
a ameaçar as colheitas e a
segurança alimentar”.
A IGAD está a colaborar
c o m a O rga n i za ç ã o d a s
Nações Unidas para a Ali-
mentação e Agricultura
(FAO), que lidera a coorde-
nação do apoio financeiro
dos parceiros contra a invasão
de gafanhotos. As verbas
serão usadas para “controlar
a propagação da invasão de
gafanhotos, prevenir poten-
ciais novas ameaças e fazer
uma avaliação do impacto
da invasão”, lê-se no comu-
nicado de imprensa.
DR
Insectos devoram milhares
de hectares de culturas
SOMÁLIA
Antigo primeiro-ministro
morre de covid-19 em Londres
O ex-primeiro-ministro
somalí, Nur Hassan Hussein
“Nur Adde”, morreu, ontem,
num hospital de Londres,
vítima de coronavírus, reve-
lou a BBC.
O Presidente somalí,
Mohamed Abdallah Farmajo,
declarou três dias de luto em
homenagem ao ex-Pri-
meiro-Ministro, que se
demitiu em 2009, depois de
uma luta pelo poder contra
o então Presidente cessante,
Abdullahi Yussuf.
Advogado de formação,
que trabalhou como provedor
geral da Somália, Nur Adde
foi indigitado como Chefe do
Governo devido ao seu pas-
sado constante em prol do
país abalado pela guerra. Con-
seguiu ficar na Somália, longe
do conflito, e trabalhou, antes,
CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU
Reunião na ONU pode decorrer por videoconferência
Nove Estados querem
reunião com Guterres
Nove membros não perma-
nentes do Conselho de Segu-
rança (CS) da ONU, por
iniciativa da Alemanha, soli-
citaram, na sexta-feira, uma
reunião deste organismo com
o Secretário-Geral, António
Guterres, para abordar a pan-
demia da Covid-19, referiram
fontes diplomáticas.
Após a fulgurante propa-
gação, em Fevereiro, da pan-
demia pelo mundo, o CS
nunca mais se reuniu sobre
esta questão, nem adoptou
declarações ou resoluções,
apesar de diversas tentativas.
Actualmente existe um
projecto de resolução apre-
sentado pela Tunísia desti-
nado a promover a ideia de
um cessar-fogo mundial,
enquanto os cinco membros
permanentes do Conselho
(Estados Unidos, China, Rús-
sia, França e Reino Unido)
debatem um projecto francês
similar, mas sem resultados
até ao momento.
Os membros não perma-
nentes do Conselho, que
rejeitam a ideia de um esta-
tuto menor e preferem ser
designados “membros elei-
tos”, manifestam crescente
impaciência pelas recorren-
tes divisões que opõem os
EUA à China, e as reticências
de Pequim, ou Moscovo, de
como chefe do Crescente Ver-
melho no país, salvando vidas
afectadas pelo conflito.
EUA atacam Al Shabab
Cinco elementos do grupo
islâmico Al Shabab morre-
ram, ontem, num ataque
aéreo efectuado pelos Estados
Unidos na Somália, anunciou
o Governo de Mogadíscio.
O bombardeamento, efec-
tuado pelo comando militar
para África das Forças norte-
americanas (AFRICOM),
atingiu a zona de Xawaaalo,
sul da Somália, indicou o
Ministério da Informação,
através de um comunicado,
acrescentando que a popu-
lação civil não foi afectada.
O Governo somalí e o
AFRICOM, refere a mesma
nota, “adoptaram importantes
25
DR
levar ao órgão uma questão
dominada pela Saúde e que
não considera ameaçadora
para a paz e segurança no
mundo, indica a agência
noticiosa AFP.
Os nove países pediram
uma reunião do CS, para
além da Alemanha, são a
República Dominicana, pre-
sidente em exercício da ins-
tância em Abril, Estónia,
Indonésia, Níger, Vietname,
Tunísia, São Vicente e Gra-
nadinas e a Bélgica, segundo
os diplomatas.
O número de nove (em
15 membros) é o mínimo
exigido para evitar a rejeição
de um pedido de reunião no
decurso de um eventual voto
de procedimento que pode
ser exigido que se oponha à
realização da sessão.
A África do Sul, o último
país não-membro perma-
nente do Conselho de Segu-
rança das Nações Unidas,
não se juntou ao pedido.
A iniciativa consiste “num
pedido para uma videocon-
ferência à porta fechada”,
acrescentou um diplomata,
ao precisar que não implica
uma “reunião urgente”.
A data da sessão ainda
não foi fixada, dependendo
da agenda de António Guter-
res, concluiu a mesma fonte.
medidas para evitar vítimas
civis na luta contra os terro-
ristas Al Shabab da Al Qaeda”.
No final do mês de Março,
a Amnistia Internacional
(AI) notava “falta de respon-
sabilidade à medida que
aumentavam as mortes de
civis, vítimas dos ataques
aéreos dos Estados Unidos”
em território da Somália.
A Amnistia Internacional
tem vindo ao longo dos últi-
mos anos a contradizer os
dados norte-americanos
sobre a morte de civis na
Somália dizendo que tem
provas de que o AFRICOM
matou dois civis e feriu três
em ataques aéreos ocorridos
em Fevereiro, apesar de
Washington insistir que ape-
nas atingiu “terroristas” do
grupo Al Shabab.
26 SOCIEDADE
CAMINHOS DA VIDA
O menino pobre de Nambuangongo
acreditou nos seus sonhos
Ainda criança participou na guerra e em Luanda enfrentou
ambientes hostis mas estudou sempre
Rui Ramos
Malunda Ntchima é o pseu-
dónimo de João Adelino
Domingos, quarto dos 10
filhos de Adelino Domingos
Congo, ex-militar, e de Suzana
João, camponesa, nascido em
1988, há 32 anos, na aldeia
de Hala–Amor, Quicunzo,
Nambuangongo, Bengo.
Aos 4 anos, após os resul-
tados das primeiras eleições
de 1992, andava com a famí-
lia e toda a população de
Nambuangongo, num vai-
vém, até que no ano seguinte
se refugiaram nas matas lon-
gínquas do Dande, bairro
Boa Esperança-Porto Quipiri,
em tendas para albergar os
deslocados de guerra.
Malunda Ntchima andou
centenas de quilómetros a
pé, carregando nas mãos um
jarro de água, pernoitando
n a s m ata s , c o m c huva s
intensas e alimentando-se
de frutas e folhas.
Posta em Canacassala, que
limita Nambuangongo do
Dande, a família foi socorrida
por um primo, comandante
de uma unidade local, que
os transportou de carro até
Quicabo, e daí para Luanda,
bairro Petrangol, em 1993.
Enquanto tentavam adap-
tar-se ao ambiente citadino,
a sua família sofre um aci-
dente de carro e o pai e dois
irmãos ficaram gravemente
feridos. Então, um primo do
pai mandou bandidos assal-
tarem a sua casa e assassi-
narem os ocupantes, alegando
que a família detinha somas
avultadas de dinheiro. Ao
aperceberem-se de que a
família não tinha nada, expli-
caram quem os tinha man-
dado e puseram-se em fuga.
A família decide então ir
MALUNDA NTCHIMA
DR
morar no bairro Mabor.
Meses mais tarde, como
as dificuldades eram inul-
trapassáveis, regressam ao
Campo de Refugiados para
beneficiarem dos apoios do
Governo e da ONU.
O pai de Malunda Ntchima
volta a Nambuangongo para
ingressar nas Forças Arma-
das, destacado para o Bata-
lhão de Muxaluando.
Aos 9 anos, em 1997,
Malunda Ntchima e a família
seguem o pai para Muxa-
luando e ele acompanha os
juramentos de bandeira e os
treinos nas trincheiras que
rodeavam o batalhão.
Em 2001, com o regresso
intensivo do conflito, a popu-
lação da sua comuna cria a
Defesa Civil. As mulheres e
as crianças foram para as matas
(refúgios), enquanto os
homens e os rapazes forma-
vam a frente de resistência.
Com 13 anos, Malunda
Ntchima serviu a guerra, como
segurança dos refúgios e trans-
portava o farnel dos soldados.
“Na tarde de 22 de Feve-
reiro de 2002, chegado à
aldeia para deixar o farnel
dos soldados, encontrei-os
a gritar de alegria. Tinham
ouvido, pela rádio, que Jonas
Savimbi havia tombado nas
matas do Lucusse.”
Malunda Ntchima estudou
a 5ª e 6ª classes em 2003-04
percorrendo a pé 15 quiló-
metros para ir e vir a Quicunzo.
Como não havia, na comuna,
o II Nível, os pais de Malunda
Ntchima enviaram-no para
Luanda, em 2005, para o bairro
do ex-Cala-Boca, Cazenga,
onde foi matriculado, no
período nocturno, na Escola
do Ensino Geral 701, Mata
Gato (agora 7001), na Sonef
(Ser-Madó), instituição que
distava 5 Km da sua casa e era
frequentada por marginais.
S e m c o n d i ç õ e s p a ra
ingressar num instituto
público médio, Malunda
Ntchima interrompe os estu-
dos e inscreve-se num curso
de inglês, pagando com a
venda, no mercado dos
Kwanzas, de alguns produtos
q u e a m ã e e nv i ava d o
campo. Em 2008, Malunda
revê a mãe, transferida do
Hospital do Bengo para a
Maternidade Lucrécia Paim
onde perde a vida. Foi um
grande golpe para o menino
pobre de Nambuangongo.
A mãe era a sua impulsio-
nadora e o seu principal
apoio. Nesta fase, Malunda
padeceu de fome e de doen-
ças. “Muitas vezes faltava
até água para beber, era obri-
gado a percorrer quilómetros
para procurar arroz, óleo e
massa alimentar no Nzamba
4 e-ou no Kicolo.”
Malunda Ntchima teve
todas as “oportunidades”
para se desviar para maus
caminhos. “Tive uma infân-
cia dura, mas com uma edu-
cação sólida, pelo que não
me desviei, o que me custou
muitas ameaças pois era
anormal um adolescente não
pertencer a um grupo.”
Como não podia pagar a
mensalidade do curso, nego-
ciou com o formador e pro-
prietário do centro para se
tornar formador-auxiliar dos
principiantes. O formador
dotou-o de habilidades para
ensinar. Malunda é convidado
por um colega que tinha uma
explicação (Escola Comuni-
tária Futuro do Amanhã), a
dar aulas à 1ª classe, recebendo
4.300 kz por mês, o que lhe
permitiu regressar aos estudos,
frequentando a 9ª classe. Dos
4.300 Kz, 2.500 eram para a
propina num colégio.
Ainda em 2008, Malunda
faz teatro e Adilson Caldeira,
director e encenador da
associação infanto-juvenil
Twana Twangola convida-
o para a agremiação.
Malunda dá os primeiros
passos no associativismo,
aprende a trabalhar em
equipa, dedicando-se ao
voluntariado e chega a coor-
denador-geral-adjunto.
Termina o ensino médio
e foi admitido, com 14 valo-
res, na Faculdade de Direito
da Universidade Agostinho
Neto, no período pós-laboral.
Devido à perigosidade da
zona onde vivia, Malunda
decide ferquentar o período
diurno mas teve de suspen-
der o curso de Direito e ins-
creve-se no curso de Ciências
Políticas, em que é licenciado
e hoje trabalha no ramo de
Consultoria em Soluções
Tecnológicas.
CUANZA-NORTE
Chuva começou por volta das cinco horas de sexta-feira e afectou vários municípios da província
Fortes chuvas fazem dois mortos
e deixam mil pessoas ao relento
Marcelo Manuel | Ndalatando
Duas pessoas morreram
devido a uma descarga eléc-
trica e outras mil estão ao
relento, em consequência
de fortes chuvas que caíram,
na sexta-feira, em cinco
municípios da província do
Cuanza-Norte.
Além das vítimas mortais,
119 residências ficaram des-
truídas. A chuva começou
por volta das cinco horas de
sexta-feira e afectou os
municípios de Ambaca,
Cazengo, Golungo-Alto,
Lucala e Samba-Cajú.
Na localidade de Mulaza,
município de Ambaca, uma
jovem de 28 anos e sua filha
perderam a vida devido a uma
descarga eléctrica, quando
se deslocavam para o campo
em busca de carvão vegetal.
O Cazengo é o município
mais afectado, com mais de
500 pessoas desalojadas e
284 casas inundadas. Os bair-
ASA BRANCA, SÃO PAULO E CONGOLESES
Mercados obedecem horário
estipulado na quarentena
Edna Mussalo
Os vendedores dos mercados
do São Paulo, dos Congoleses
e do Asa Branca passaram a
encerrar a actividade laboral
às 13 horas, em cumprimento
do Estado de Emergência
que o país observa, face à
pandemia da Covid-19.
Numa ronda efectuada
pela reportagem do Jornal
de Angola, constatou-se que
as administrações destes
mercados têm pautado pelo
cumprimento da lei, que
proíbe o funcionamento des-
tes para além das 13 horas.
Pena é que ao redor do
mercado do Asa Branca exis-
tem um outro, a céu aberto,
sem o mínimo de condições
de higiene, onde são comer-
ros mais atingidos são os da
Ilha, 11 de Novembro, 28 de
Agosto e São Felipe.
Algumas casas junto ao rio
Muembeje, nos bairros Sam-
bizanga e Posse, foram afec-
tadas devido à subida dos
níveis de água. No Lucala, há
registos de duas casas des-
truídas e 20 pessoas ao relento.
De acordo com o coman-
dante provincial dos Serviços
de Protecção Civil e Bombeiros,
Zacarias Quinanga, o número
de sinistrados pode aumentar
nos próximos dias, devido ao
levantamento que está a ser
realizado a nível das diversas
comunidades afectadas.
Zona de São Felipe
O caos urbano vivido na
capital do Cuanza-Norte,
aliado às construções em
zonas de risco, como mar-
gens dos rios, linhas de água,
encostas das montanhas,
linhas de alta tensão e fer-
roviária, levou o governo da
província a direccionar estra-
cializados produtos de pri-
meira necessidade e não só,
colocando em risco a vida
dos clientes.
Entre os bens comercia-
lizados, destacam-se ali-
mentos perecíveis, balões
de roupa usada, calçado,
material escolar entre outros
produtos, que são vendidos
em cima de pedras e de sacos
plásticos colocados no chão,
rodeados de lama, água
parada e lixo, susceptíveis
de gerarem doenças.
Algumas câmaras frigo-
ríficas, destinadas à conser-
vação e comercialização do
peixe são abertas, clandes-
tinamente, para a venda a
grosso e a retalho.
Além da venda no espaço
adjacente ao mercado do Asa
Domingo
5 de Abril de 2020
NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO
tégia para reverter a situação,
através da criação do Projecto
Urbanístico de São Felipe,
zona Sudeste de Ndalatando.
Segundo o governador,
Adriano Mendes de Carvalho,
o projecto estratégico visa
responder satisfatoriamente
à procura pela habitação e
espaços condignos, onde se
possa desenvolver activida-
des que concorram para a
melhoria da qualidade de
vida da população.
Adriano Mendes de Car-
valho disse que o mesmo
será implementado numa
área de 704 hectares, dos
quais 120 estão destinados
para a habitação, dando ori-
gem a 3.676 lotes que poderão
albergar 18.380 pessoas.
Informou que vários meios
para o arranque do projecto
já estão em Ndalatando, mas
que, infelizmente, a zona
seleccionada, para o efeito,
tem um suposto dono que faz
“braço-de-ferro”, negando a
cedência do referido terreno.
Branca, os comerciantes e os
clientes não acataram as medi-
das de prevenção, expondo-
se sem quaisquer “kits” de
protecção que são recomen-
dados pelas autoridades sani-
tárias, para evitar contágio da
pandemia Covid-19.
Também não é permitida
a aglomeração de pessoas
em determinados locais como
temos assistido nos merca-
dos, contrariando às regras
impostas pelas autoridades.
De acordo com um agente
de segurança do mercado,
que preferiu o anonimato,
os mesmos vendedores do
mercado Asa Branca são os
que tomam de “assalto” os
espaços adjacentes, tão logo
que dão por encerrado as
portas, por volta das 13 horas.
Domingo
5 de Abril de 2020 27
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(700.038c)
28 GENTE Domingo
5 de Abril de 2020

DR

ENTREVISTA O outro lado da Gente

Os desafios NILSA COSTA
da Miss Neste mês dedicado à juventude e à literatura infantil, a rubrica O
Outro Lado da Gente esteve à conversa com Nilsa Costa. Com um
percurso longo por galgar, Nilsa, como é mais conhecida, destaca-
se pelo facto de estar a trabalhar arduamente para que o sonho de

Angola 2019
empresária seja uma realidade. Adepta da equipa do 1º de Agosto,
adora a leitura e tem no escritor Augusto Cury o seu preferido.
Nasceu no dia 13 de Setembro, é filha de Francisco Lucas da Costa
e de Edna Manuela dos Santos. Saiba mais sobre o Outro Lado da
Gente da estudante Nilsa Cristiane dos Santos Costa, a nossa entre-
vistada da semana.
Miss Angola 2019, Salett Miguel esteve à
conversa com o jornalista Ferraz Neto.
Durante a entrevista, descreveu ao
pormenor as suas acções no combate à fuga Nome: Nilsa Cristiane dos e ser muito perfeccionista.
à paternidade no país. A detentora da coroa Santos Costa. Vício: Internet.
de Miss Angola 2019 revelou que o alvo Data de nascimento: 13/09. Livro: Vários.
principal nessas acções são as mulheres Naturalidade: Angola. Escritores: Augusto Cury.
zungueiras que, no seu entender, são as Filiação: Francisco Lucas da Uma boa companhia: Família.
mais vulneráveis. A beldade e estudante de Costa e Edna Manuela dos Músicos: Drake e Rui Orlando.
Ciências Políticas esclareceu também que Santos. Comida: Feijoada.
neste momento se dedida à luta contra a Calçado: 39. Bebida: Sumo natural.
Covid-19, tendo estabelecido, Ocupação: Estudante e modelo. Sabe cozinhar? Sei.
recentemente, uma parceria com a empresa Estado civil: Solteira. É ciumenta? Muito.
Basel Angola nesse sentido. A finalidade é a Filhos: Nenhum. Desporto? Andebol.
distribuição de materiais de higiene e Sonhos: Apostar fortemente na Clube? 1º de Agosto.
limpeza às 18 províncias do país. Leia a carreira empresarial e de Alguma vez mentiu? Sim. Acho
entrevista completa no suplemento modelo. que todos já o fizeram.
“Caderno Fim de Semana”, do Jornal de Sente-se realizado? Ainda não. Já foi enganada? Já.
Angola, publicado todos os domingos. Tem carro próprio? Não. Ano que mais a marcou? 2018.
E casa? Não. Porquê? Perdi uma avó muito
Como se veste de segunda à querida e a minha vida mudou.
sexta-feira? De segunda-feira à Deputado ou ministro, qual
sexta-feira, visto-me de forma dos dois cargos escolheria?
normal. Não sou muito de Escolheria ministro.
formalidades. Porquê? Gostaria muito de
E aos fins-de-semana?
DR mudar várias coisas que acho
Depende muito. Se eu for para erradas e que muitos deles não
algum sítio uso um vestido, um fazem.
MILHARES NA INTERNET calção e saias com calçados de
acordo a ocasião,
O que acha da corrupção? Para
mim, a corrupção é algo muito
principalmente os saltos, que já feio, indigno e sem

Médico António Chiloya bate recorde amo.

Faz uso de roupa de marca?
Sim. Essa pergunta chega a ser
profissionalismo. Detesto todos
os vícios que lesam o bom nome
e a sociedade.
de certa forma intrigante, pois Homossexualidade: Ninguém
Milhares de visualizações em poucos segundos. O que toda a roupa tem uma deve julgar ninguém. Não sou
rosto de António Eduardo Kapewa Chiloya ganhou marca. Sou preferencialmente contra. Cada um deve viver
notoriedade entre os milhares de internautas adepto por roupas que se como quer e sente.
espalhados pelo país e no mundo. O jovem médico, ajustam o meu corpo. Poligamia: Não sou a favor e
destacado no Hospital Central do Huambo, notabilizou- Cor preferida? Rosa e azul. nunca serei. Simplesmente, não
se depois de ter partilhado um vídeo em que esclarece Qual é a marca do perfume que acho digno e nem certo um
todos os comportamentos e cuidados que se devem usa? Não uso uma marca, homem ter mais de uma mulher.
ter para se evitar a Covid-19. Num vídeo bastante prefiro escolher pelo aroma.
elucidativo, o também docente universitário do Acredita em forças ocultas?
DR
Instituto Superior de Ciências da Educação do Huambo Acredito.
(ISCED), nas disciplinas de Fisiologia e Anatomia, Alguma vez foi
descreve também as reais condições sanitárias aliciada? Já.
existentes no país. A verdade é que o vídeo Como reagiu? Reagi
partilhado na manhã de segunda-feira, dia 22, num com calma, porque é
ápice, foi visto por milhares de internautas algo que eu sabia que
espalhados pelos diferentes cantos do mundo. algum dia poderia
Nascido no dia 1 de Janeiro de1989, António Chiloya acontecer e que não
é formado em Biologia e Medicina. Do seu currículo sou a primeira nem a
académico consta também o mestrado em Educação última a ser aliciada.
na área de Investigação em Doenças Humanas de Tentei não me exaltar.
Veiculação Ambiental. Onde passa as
férias? Não tenho
muitos lugares
para férias.
EM DIA DE ANIVERSÁRIO Normalmente, na
cidade de
Luanda.

Yola Araújo envia Cidade

preferida? Amo
a cidade de

mensagem ao filho Paris, França.

Infelizmente,
ainda não
DR

O dia 25 de Março é uma data especial para a cantora Yola Araújo. Nesse cheguei a
dia, o seu filho, Jason Gabriel, comemora mais um aniversário natalício. visitar.
Numa mensagem terna, Yola Araújo revela que são passados 4 anos, Virtude:
desde o dia do seu nascimento. FQue Deus Todo Poderoso te proteja e Humildade.
DR
abençoe sempre, amor da mamã. Minha luz, minha alegria. Por ti Defeito:
atravessei um túnel difícil da vida e faria tudo de novo, porque sou Impaciência
mãe”, realça a cantora. Yola Araújo, que se tornou conhecida no
mercado com o grupo Melomanias, é um dos nomes que se
destacam no cancioneiro feminino angolano. Tem várias músicas
que “estouraram” nas pistas de dança e nas rádios do país, com destaque para
“Quadradinho”, “Não é Justo Não” e “É Hoje ou Nunca”. Participou em três edições do
projecto Team de Sonho (Vol. I – 2012), Vol. II (2015) e Vol. III (2018).
CULTURA Domingo
5 de Abril de 2020
DIA DA LITERATURA INFANTIL
Dia da Literatura Infantil marca o nascimento do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen
Efeméride celebrada
com leituras em casa
O mundo celebrou na quinta-feira, dia 2, o Dia Internacional da
Literatura Infantil, sob o espectro da pandemia Covid-19 e do estado
de emergência. A exemplo das mais diferentes partes do mundo, em
Angola, a data serviu de reflexão e de leituras ao domicílio
Ferraz Neto
A leitura é sempre uma exce-
lente alternativa quando se
está em casa. E, dessa vez,
em cumprimento às neces-
sárias medidas de isolamento
social para a contenção da
pandemia do Coronavírus,
várias acções que visaram
assinalar o Dia Internacional
da Literatura Infantil não
passou despercebida.
Pelas diferentes platafor-
mas digitais, várias foram
as actividades que visaram
celebrar o dia 2, data con-
sagrada a literatura infantil.
O escritor John Bella, hete-
rónimo literário de Jorge
Marques Bela, não deixou
passar a data despercebida.
Na sua página oficial da rede
social Facebook, publicou
um excerto do texto “Sonhar
a realidade”.
O autor do livro infantil
“A Canção Mágica”, com
essa iniciativa tratou-se de
uma grande oportunidade
de divulgar o trabalho dos
escritores e promover novas
acções de estímulo à leitura.
“Creio que nada substitui a
leitura de um texto, nada
substitui a memória de um
texto, nada, nenhum jogo”,
realça o texto de autoria de
Marguerite Duras, publicado
na conta oficial de John Bella.
John Bella nasceu e cres-
ceu no antigo museke Mota,
Bairro Sa mb i za nga , e m
Luanda. Sociólogo, membro
da União dos Escritores
Angolanos e secretário-
geral-adjunto da Brigada
J ove m d e L i te rat u ra d e
Angola (BJLA). É professor
P ré - Un ive rs itá r i o e m
Luanda, tendo iniciado a
carreira docente em 1988.
Iniciou os seus escritos lite-
rários aos 12 anos. Outra figura
ligada às letras que celebrou
o Dia Internacional da Lite-
ratura Infantil foi o escritor
Carlos Pedro. O autor do livro
“Pegadas do Passado”, usou
a sua conta oficial na Internet
para recordar aos seus admi-
radores que, “não só de pão,
leite e frutas, nutre-se a
criança, também de leitura”.
Para ilustrar os leitores,
Carlos Pedro publicou um
cartaz editado pela Canção
Nova, onde o destaque recai
para a ilustração de crianças
a efectuarem a leitura. Em
cada uma das publicações,
os escritores receberam
mensagens de amantes da
literatura infantil em Angola.
Carlos Pedro nasceu em
Luanda em 1983 e é formado
em Línguas e Literaturas
Africanas pela Faculdade de
Letras e Ciências Sociais da
Universidade Agostinho
Neto, onde exerceu o cargo
de secretário para as activi-
dades culturais das associa-
ç õ e s d o s e s t u d a n te s d a
mesma faculdade, membro
fundador e presidente do
Clube de Poetas e Trovadores
dos Estudantes e da Brigada
J ove m d e L i te rat u ra d e
Angola. Por seu turno, o
docente universitário Tau
Lunga Mana solicitou aos
empresários da província da
Lunda Sul que apoiem as
iniciativas dos jovens para
a p u b l i c a ç ã o d e l iv r o s
infanto-juveniis. Em decla-
rações à Angop no âmbito
do Dia Internacional da Lite-
ratura Infantil (02 de Abril),
o docente disse que são mui-
tos os jovens que escrevem
poesia, histórias e cartilhas
informativas para crianças,
DR
mas só não se afirmam no
mercado devido as dificul-
dades financeiras, exiguidade
de gráficas e editoras.
Tau Lunga Mana afirmou
que actualmente se regista
um abrandamento na pro-
dução de obras infanto-juve-
n i s , re a l ç a n d o s e r u m a
responsabilidade do Minis-
tério da Cultura definir polí-
ticas de incentivo que visam
colocar a criança no centro
das prioridades, alinhado aos
11 compromissos assumidos
pelo Executivo angolano, e
da parte de empresários cus-
tearem as despesas.
“Devo lembrar que a lite-
ratura infantil é um cami-
nho que leva a criança a
desenvolver a imaginação,
emoção e sentimentos, con-
tribuindo no desenvolvi-
mento do seu intelecto”,
enfatizou. Domingos Tau
Rodrigues ou simplesmente
“Tau Lunga Mana” tem no
mercado uma obra poética
“Primogénita Paixão”.
Em Angola, o primeiro
livro editado no país e escrito
por um angolano data de
1850 e foi publicado em
Luanda pouco depois de se
ter instalado a Imprensa Ofi-
cial. Trata-se de um livro de
poemas, intitulado “Espon-
taneidades da minha alma”,
de José da Silva Maia Ferreira.
A literatura infantil teve
início na Europa, em meados
do século XVIII, quando,
devido às transformações
sociais da época, a criança
começou a ganhar uma certa
atenção. O dia 2 de Abril foi
escolhido para ser o Dia da
Literatura Infantil por ser a
data de nascimento do escri-
tor dinamarquês Hans Chris-
tian Andersen.
COVID-19
Festival de música
angolana foi adiado
Roque Silva
A primeira edição do fes-
tival AngPor, evento que
visa celebrar a música
angolana em Portugal,
agendado inicialmente
para ontem dia 4 e no pró-
ximo sábado, em Portugal,
foi adiado, sinie die,
devido ao coronavírus
(Covid-19), anunciou ao
Jornal de Angola , fonte
da organização.
O festival deve integrar
dois concertos, o primeiro
anteriormente marcado
no Pavilhão Carlos Lopes,
em Lisboa e a 11 de Abril,
na Alfândega do Porto, na
cidade homónima, seria
abrilhantado por Maya
Cool, Don Kikas, Kristo,
Konde, Isidora Campos e
os DJ Pzee Boy, DJ Kapiro
e DJ João Reis.
Festival seria abrilhantado por músico como Maya Cool, Isidora Campos e Don Kikas
PLATAFORMA DIGITAIS
Anselmo Ralph disponibiliza CD
Ferraz Neto
O novo trabalho discográ-
fico de autoria de Anselmo
Ralph, já tem data marcada
para o seu lançamento,
segundo informação dis-
ponibilizada pela assessoria
de imprensa do músico.
Recentemente foi dis-
ponibilizado o novo vídeo
de Anselmo Ralph que
alcançou mais de 255 mil
visualizações, numa
semana. Denominado “Já
Fui” é o videoclipe de apre-
sentação do novo álbum de
Anselmo Ralph que estará
disponível em todas as pla-
taformas digitais, a partir
do próximo dia 10 de Abril.
“Já Fui” retrata a história
de um homem que se
entrega à solidão depois de
ter ganho consciência da
O músico cabo-ver-
diano Grace Évora consta
no cartaz, como convidado
e amigo de Angola, diz um
documento da produtora
do evento Asdrubal Pro-
motion, que afirma a
urgência da medida por
formas a evitar riscos de
infecção e propagação da
pandemia que já vitimou
três angolanos, dois em
Angola, e um em França.
O documento refere
que a medida foi tomada
no sentido de salvaguardar
a saúde e a segurança do
público, artistas e todos
os envolvidos na produção
do festival, por “ser do
conhecimento público que
se trata de uma situação
extremamente volátil e de
evolução rápida, pelo que,
a principal prioridade da
organização é defender a
perda do seu relacionamento
amoroso que tinha, culpa
das suas próprias aventuras,
devaneios amorosos e falta
de empenho.
No vídeo, percebemos que
a personagem interpretada
pelo próprio Anselmo Ralph
está destroçada, pois esperava
a reconciliação mas, com o
passar do tempo, a esperança
foi-se desvanecendo. A sua
ex deu a volta e está numa
nova relação.
Apercebendo-se que a tinha
perdido de vez e ainda apai-
xonado, o próprio reconhece
que nunca lhe deu o respeito
que merecia: “dei teu amor
por garantido pois, achava-
me o melhor partido, só dei
valor quando perdido”.
“ Já Fu i ” te m l e t ra d e
Anselmo Ralph, do cantor e
produtor Kaysha, arranjos
29
saúde e segurança de todos
os envolvidos no evento”,
conclui. O Pavilhão Carlos
Lopes e a Alfândega do
Porto seriam os palco dos
primeiros eventos confir-
mado s daq uela q ue o s
organizadores prometiam
ser a 1ª edição do maior
festival de música AngoPor
em território português.
Entre os nomes seleccio-
nados para está primeira
edição constam os nomes
de músicos como Grace
Evóra (Cabo-Verde), Don
Kikas, Cristo, Isidora Cam-
p o s , M aya C o o l , o s D j
Kapiro, Pzee Boy e João
Reis (Angola).
Asdrubal Promotion
decidiu adiar o AngoPor
por tempo indeterminado
devido ao Covid-19. A
organização prevê remar-
car o espectáculo.
EDIÇÕES NOVEMBRO
de Elton Ribeiro e produção
de Filipe Survival, e já se
encontra disponível no You-
tube. Por isso, aproveitem
estes dias para verem este
que é o primeiro videoclipe
do álbum “Momentos”, com
lançamento agendado para
10 de Abril.
Anselho Ralph tem
vários trabalhos publicados
no mercado, que lhe vale-
ram prémios a nível nacio-
nal e internacional. Em
1995, integrou o grupo NGB
(New Generation Band),
com quem gravou o pri-
meiro CD. Em Janeiro de
2006, lançou o primeiro
álbum a solo, intitulado
“Histórias de Amor”. No
mesmo ano foi nomeado
pela cadeia televisiva Chan-
nel O, da África do Sul como
“Melhor Cantor de R&B”.
30 ESPECIAL Domingo
5 de Abril de 2020

DR
Manuela Gomes

DJ ELLY CHUVA
Elisandra Duval Pascoal
Chuva é o nome completo
da DJ angolana “Elly Chuva”.

“Não me
Nasceu em 1992 e entrou
para o mundo do “Djing” por
curiosidade, depois de apre-
ciar o seu irmão mais-velho
e os amigos em festas de
quintal e outros eventos.
Tudo começou aos 15 anos,
quando o irmão passou a orga-
nizar festas no quintal de casa.
Eram pequenos convívios
familiares, onde tocavam
amigos que já estavam no
vejo a fazer
mundo do “Djing”. Dali come-
çou a troca de experiências,
aumentando cada vez mais
o seu interesse pela música.
Aos 18 anos decidiu fazer
do “Djing” um negócio. Pro-
outra coisa”
fissionalizou-se e procurou É uma mulher num mundo dominado por
ganhar dinheiro. “Inicial- homens. Foi a profissão que escolheu para
mente, a minha família não
me levou a sério. Diziam que toda a vida, apesar da resistência inicial
tudo não passava de um desejo da família e do preconceito social a que foi
de adolescente, algo tempo-
rário”, conta, sorridente. sujeita, pelo simples facto de ser mulher.
Elly Chuva lembra que no Teve que mostrar o que valia para
início sofreu discriminação. conquistar o seu espaço no competitivo
Havia um certo preconceito
e algumas pessoas olhavam mundo do “Djing”, que é o modo de
para ela como o “sexo frágil”. estar e viver de um DJ. Elly Chuva
“ Já aconteceu chegar a um
casamento e o tio da noiva confessa que já realizou 80 por cento
olhar para mim e exclamar, dos seus sonhos
com desdém, `oh! é mulher
que está a tocar!'. Confesso
que me senti mal, mas não
baixei a cabeça”, garante.

Resistência dos DJ masculinos

Elly Chuva também encon-
trou uma certa resistência
no seio dos DJ masculinos,
que até agora são a maioria
e os pioneiros neste campo.
“Muitos me subestimaram
por ser mulher. Conside-
ram-me imatura e acham
que não sou capaz de dar
conta do recado. Mas nada
melhor do que uma boa dose
de compromisso, paixão e
profissionalismo para dar
resposta àqueles que des-
creem de nós”, frisa. DR

Orgulhosa, Elly diz que
hoje todos abraçam-na e res-
peitam a sua carreira. “As
pessoas duvidavam das
minhas capacidades. Tive de
me impor, consolidar aquilo
que queria conquistar e mos-
trar às pessoas. Hoje, feliz-
mente, há respeito mútuo.
Fiz grandes amizades neste
mundo e já tenho conquistado
o meu espaço”, acredita.
Em 2014, quando começou
a ganhar mercado, a família
e os amigos passaram a apoiar
e a aceitar as suas escolhas
profissionais. “Aconselho as
mulheres que quando se pro-
põem a desempenhar deter-
minada actividade devem
primeiro impor-se, dando
o seu melhor e não entrar
para competir”.
Se profissionalmente
enfrentou obstáculos, na
vida amorosa nem por isso.
“Felizmente, com o meu
namorado foi tudo diferente,
até p o rq u e q u a n d o n o s
conhecemos eu já era DJ. Ele
acompanha a minha agenda,
também vai a alguns eventos
e diverte-se enquanto eu
trabalho (risos). Temos muita
cumplicidade e respeito pelas
escolhas de cada um”, refere.
Quanto à discriminação
das mulheres na sociedade,
Elly Chuva entende que ainda
vai demorar um pouco para
todos nos respeitarmos de
forma igual, em todas as
áreas. É por isso que consi-
dera não haver facilidades
para quem pretende ser
mulher e DJ em Angola.
“Já pensei em desistir”
Depois de algum tempo
como DJ, Elly Chuva pensou
em desistir em três momen-
tos diferentes da sua vida.
O primeiro se deu aos 18
anos, quando comentários
negativos de membros da
família baralharam as suas
ideias. Observações como
“assim não vais arranjar
namorado”, “isso é profissão
para homens”, acabam por
criar insegurança.
A entrada na universidade
foi o segundo momento de
dúvidas profundas. “Nos dois
primeiros anos estava inde-
cisa entre a música e os estu-
dos. Precisava de dedicar
mais tempo aos estudos mas,
com as noites de trabalho,
não estava a dar certo”. Aca-
bou por deixar a universidade.
A terceira ronda de ques-
tionamentos surgiu nova-
mente por causa da formação
académica. “Em 2014, surgiu
uma oportunidade para estu-
dar no exterior. Já era conhe-
cida como DJ Elly Chuva e
decidi aproveitar. Mas, infe-
lizmente, com a crise finan-
ceira que assola o país passei
a ter dificuldades para custear
os estudos”, conta.
Obrigada a regressar a
Angola, decidiu retomar a
carreira de DJ. “Notei que,
graças a Deus, a crise não
afectou excessivamente o
mundo do espectáculo. Con-
segui fazer algumas parti-
cipações e fechar alguns
contratos. Comecei a sair-
me bem. Acredito que foi
nessa altura que atingi um
dos momentos mais altos da
minha carreira. De lá para
cá cresci muito profissio-
nalmente e ganhei popula-
ridade”, explica.
A noctívaga conta que
agora consegue viver do seu
trabalho. “A minha missão
é aceitar o destino. Gosto
muito do que faço e quando
se trabalha com o que se
gosta é mais fácil crescer.
Sinceramente, não me vejo
a fazer outra coisa que não
seja estar diante de uma mesa
de música a levar alegria às
pessoas”, diz Elly Chuva.
Conquistas
Em 2013, tornou-se a pri-
meira mulher DJ a ser con-
tratada pelo projecto “Angola
Music Awards”, conquista
que a orgulha bastante. Sem
ignorar o facto de ter sido
embaixadora de uma marca
de cerveja nacional e de ter
lançado, em 2019, o seu pri-
meiro álbum “Agora é que
são elas”. Também gosta de
recordar as inúmeras viagens
para mostrar o seu trabalho
no exterior do país.
Pelos ganhos pessoais e
profissionais, Elly Chuva pro-
mete que, se as filhas deci-
direm s eguir a me sma
carreira, não vai se opor. “Vou
deixá-las descobrir a vocação
e apoiá-las sempre, inde-
pendentemente de ser uma
profissão exercida, maiori-
tariamente, por homens”.
Na verdade, desde que
Elly Chuva se tornou uma
referência já começou a
influenciar outras mulheres
que pretendem entrar para
o mundo do “Djing”. “Digo
que a música me escolheu.
Quando era mais pequena
nunca pensei em tornar-me
DJ, entrei para este mundo
acidentalmente. No início,
com o meu irmão, pensámos
em formar uma dupla de
cantores para os estilos Hip
Hop ou Kizomba. Mas per-
cebi que não sabia cantar
(risos). Não era a minha
praia”, confessa.
Os DJ angolanos Malvado,
Paulo Alves ou Djeff são as
suas principais referências
no mundo do “Djing”. Mas
Elly Chuva ambiciona inter-
nacionalizar a sua carreira.
“Felizmente já atingi 80 por
cento do que pretendo”,
reconhece, satisfeita.
DESPORTO Domingo
5 de Abril de 2020
FÓRMULA 1
Ferrari é um ícone
de beleza e sucesso
Equipa de Maranello é a única que competiu em todas as
épocas desde a fundação do campeonato em 1950
Escuderia francesa continua a ser a marca de maior sucesso a nível da Fórmula 1
Altino Vieira Dias
A Ferrari é um ícone de beleza, sucesso
e performance. A equipa de Maranello
é a única a competir em todas as tem-
poradas desde a fundação do campeo-
nato, em 1950. A sua popularidade a
nível global, é óbvia. Pois não é preciso
dizer muito, só temos que olhar para a
multidão nas bancadas do campeonato
de Fórmula 1 uma espécie de “mar ver-
melho de outra galáxia”.
Porém, todo mundo adora as equipas
de Fórmula 1, mas é obviamente a Ferrari
a mais especial e única. Continua a ser
de longe a marca de maior sucesso na
modalidade, liderando um o top cinco
que inclui também a Williams, Lotus,
McLaren e Mercedes.
O “Cavalinho Rampante” é o orgulho
da nação italiana, é especial e como uma
religião. O sonho de todos os pilotos nas
categorias inferiores à Fórmula 1 é correr
pela Ferrari. Os pilotos da Ferrari são
venerados como “semi-deuses”. O alemão
Michael Schumacher é o mais bem suce-
dido com cinco títulos, e setenta e duas
das noventa e uma vitórias alcançadas
com a Ferrari.
Dos seus antigos pilotos a maioria
está no panteão do desporto dos ven-
cedores de grandes prémios, incluindo
Schumacher, Alain Prost (francês),
Nigel Mansell (inglês), Niki Lauda (aus-
tríaco) e o não menos famoso “Mestre
voador” o canadense Gilles Villeneuve
que nasceu em Saint- Jean Richelieu,
no Quebeque, Canadá.
A história da Ferrari está inundada de
nomes famosos e lendários. Mas, isto não
é surpresa para ninguém, sendo a equipa
de Maranello a mais titulada na Fórmula
1. Mas poucos pilotos da Ferrari alguma
vez foram tão amados como o Joseph
Gilles Henry Villeneuve (1950-1982) que
arrasou ao serviço da Ferrari.
Piloto destemido
Por outro lado, Villeneuve tinha arte de
um piloto destemido, veloz e furioso, ele
intercalou as corridas de mota de neve
com as de carro. O título de campeão de
Fórmula Atlântica, em 1976 onde venceu
nove das dez corridas, fez com que o
campeão de Fórmula 1 deste ano, James
DR
Hunt, sugerisse ao seu chefe na McLaren,
Teddy Mayer, para dar uma oportunidade
ao piloto de Quebeque. E foi dada no
Grande Prémio de Inglaterra, em 1977.
James Hunt venceu e Villeneuve ficou
em 11º lugar, não convenceu o “Boss”
da McLaren por isso não o reteve, mas
a Ferrari ficou impressionada e foi subs-
tituir Niki Lauda nas duas últimas corridas
da temporada.
O fundador da marca italiana,
Enzo Ferrari, ficava abismado
com o talento de Villeneuve
e tratava-o como um
“pintinho frágil”
O fundador da marca italiana, Enzo
Ferrari, ficava abismado com o talento
de Villeneuve e tratava-o como um
“pintinho frágil”. “Gilles é como sumo-
sacerdote da destruição… Ele ensinou-
nos a apreciar a força que as peças
mecânicas têm que aguentar, quando
um piloto se encontra a enfrentar o
imprevisto. Algumas pessoas chama-
ram-lhe louco. A meu ver ele era a
minha família. Eu adorava-o”, disse.
Segundo o sul-africano Jody Scheckter
campeão de Fórmula 1 de 1979 “Gilles
era uma pessoa directa e honesta. Niki
Lauda, por seu turno, o descreveu como
“o demónio mais louco” com que cruzou
na Fórmula 1… “mas que tinha um carác-
ter sensível e adorável”.
O Canadá tem uma longa história nos
desportos motorizados, pois vários
pilotos oriundos desta nação já dispu-
taram Grandes Prémios de Fórmula 1,
mas o clã Villeneuve é o mais bem suce-
dido. Apesar de Gilles Villeneuve ter
partido antes do seu tempo, o seu filho
Jacques Villeneuve cumpriu o destino
da família ao vencer o campeonato mun-
dial de Fórmula 1, em 1997, com outra
equipa icónica a seguir à Ferrari, a Wil-
liams, prestando homenagem ao legado
do seu pai como piloto de Fórmula 1
sempre a correr além do limite. Apesar
de não conquistar um campeonato de
Fórmula 1, os feitos de Gilles Villeneuve
estarão sempre patente na história das
verdadeiras estrelas, daí ele ser consi-
derado um imortal.
BASQUETEBOL
Victor Muzadi
lança projecto
“The Scout Live”
no Facebook
O antigo jogador da Selecção
Nacional sénior masculina
d e b a s q u e te b o l , Vi c to r
Muzadi, lançou ontem, às
14h30, na sua plataforma do
Facebook, o seu mais recente
episódio denominado “The
Scout Live 2020”.
O primeiro episódio, rea-
lizado na página oficial do
facebook do ex-atleta, teve
como tema “os desafios do
Scouting em África” e contou
com a participação especial
de Abel Nson, um dos res-
ponsável do Departamento
de 'Scouting' dos Toronto
Raptors, que actuam na NBA,
designação por que é conhe-
cida a liga de basquetebol
norte-americana.
Em declarações ao Jornal
de Angola , Victor Muzadi
assegurou que está foi umas
das formas encontradas para
partilhar os seus conheci-
mentos com os amantes da
«bola ao cesto» no país.
Ontem, foram abordados
temas como a “definição do
Scout”, as “seis chaves para
obter a atenção do recruta-
dor”, “os nove erros que os
jogadores africanos cometem
quando tentam ser recruta-
dos” e por último a “sessão
de perguntas formuladas
pelo público”, cujas respostas
foram dadas pelo anfitrião
e o seu convidado.
JOSÉ COLA | EDIÇÕES NOVEMBRO
Antigo basquetebolista
partilha conhecimentos
A primeira parte do show
teve uma duração de 50 minu-
tos de esclarecimentos, sobre
os quatros tópicos escolhidos
para cada episódio. A segunda
parte teve quinze minutos de
análises de alguns jogos da
Selecção Nacional sénior mas-
culina de basquetebol e por
fim ocorreu a terceira parte
de perguntas e respostas.
Análise de jogos
Durante a transmissão, Victor
Muzadi convidou o público
e especialistas da modalidade
a integrarem a transmissão,
dando o seu contributo para
a análise de jogos e jogadas
por meio de uma plataforma
de estatística dinâmica.
A transmissão encerrou
com um momento informa-
tivo, destinado a divulgar os
modos de combate à pan-
demia do coronavírus que
assola o mundo e com a qual
o país também já se vem
c o n f ro n t a n d o . O « t a l k
Show», sublinhe-se, vai
acontecer todos os sábados
a partir das 14h00', na página
oficial do Victor Muzadi.
Juscelino da Silva
PAUSA NO GIRABOLA ZAP
Jogadores do Petro de Luanda fazem treinos domiciliares
Tricolores orientados
a treinarem em casa
Edvaldo Lemos
Os jogadores da equipa
sénior masculina de futebol
do Petro de Luanda rece-
beram orientações para rea-
lizar actividades físicas e
treinos domiciliares, que
serão orientados pelo pro-
fessor Maurício, que coor-
d e n a a p re p a ra ç ã o d o s
guarda-redes da turma tri-
color. O objectivo dessa ini-
ciativa é para que os atletas
não sejam surpreendidos
no regresso do Campeonato
Nacional da I Divisão, para-
lisado devido à propagação
do coronavírus.
Toni Cosano, técnico prin-
cipal da equipa, disse ao Jornal
de Angola, que o emblema
do Catetão deve estar prepa-
rado para o regresso da prova
nacional de futebol e que
desde o princípio do cance-
lamento do Girabola Zap os
seus pupilos receberam esta
orientação, tendo em vista o
objectivo traçado que passa
pela conquista do título.
Q u e s t i o n a d o s o b re o
desempenho dos seus pupi-
los nos treinos, Toni Cosano
afirmou que os mesmos estão
orientados a filmarem os
FUTEBOL BURUNDÊS
“Amstel Ligue” continua
disputa sem restrições
Job Franco
O campeonato de futebol da
primeira divisão do Burundi,
apelidado de “Amstel Ligue”
continua a decorrer sem
qualquer restrição, apesar
da paralisação das actividades
desportivas no mundo devido
a pandemia da Covid-19.
A liga burundesa conta
com a participação de 16 equi-
pas. Até ao momento já foram
disputadas 27 jornadas. A
equipa do Le Messager Nzozi
lidera a prova, com 54 pontos,
enquanto o Les Lierres, com
20 pontos, ocupa a última
posição da classificação.
Além do Burundi, no Tur-
quemenistão, Nicarágua e
Bielorrússia os campeonatos
de futebol também conti-
nuam a decorrer. No Turque-
menistão, antiga República
da antiga União Soviética,
situada no continente asiático,
a “Yokary Liga 2020” conti-
nua activa e tem agendados
31
CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO
seus trabalhos e depois
enviarem para o corpo téc-
nico, que é liderado por si,
para a efectiva avaliação do
desempenho técnico destes.
“Nós, do corpo técnico, rece-
bemos alguns vídeos para
acompanharmos e apurar
como está a ser feito o tra-
balho”, assegurou.
A pandemia da Covid-
19 é um problema mundial,
que paralisou a maioria das
ligas de futebol do mundo,
e Angola não foi uma
excepção. Por essa razão,
o técnico espanhol ao ser-
viço da equipa do Catetão
apelou à precaução para o
combate à pandemia, para
que o país não corra o risco
de vivenciar os factos que
ocorrem em muitas latitudes
do mundo. “O mais impor-
tante de tudo é a saúde.
Temos exemplos da Europa
e da América, onde apesar
de existirem melhores sis-
temas de saúde, há muita
gente a morrer, incluindo
agentes ligados ao des-
porto, como moscas. Ima-
ginemos, aqui em Angola,
onde existem menos con-
dições de sanidade”, retor-
quiu Toni Cosano.
vários jogos para os próximos
dias. Com uma população
estimada em cerca de 6
milhões de habitantes, o Tur-
quemenistão é dos poucos
países no mundo que ainda
não registou nenhum caso
de Covid-19.
Já na América Central, a
Ni ca rágu a q u e até ao
momento tem apenas dois
casos registados da pandemia,
o campeonato, denominado
“Clausura”, prossegue sem
quaisquer restrições. O
mesmo acontece na Bielor-
rússia, único país na Europa
que também não suspendeu
os respectivos campeonatos
devido a Covid-19. A tem-
porada começou no dia 19
de Março e já foram dispu-
tadas três jornadas.
Depois de surgir na China,
em Dezembro, o surto espa-
lhou-se por todo o mundo, o
que levou a Organização Mun-
dial da Saúde (OMS) a declarar
a situação de pandemia.

DOM05ABR
ALTO
Artistas
Criatividade
As dificuldades criadas pela
propagação da pandemia do
coronavírus estão a aguçar o
engenho dos criadores. Desde
músicos a desportistas, até
pessoas comuns, cada um
põe em prática a inteligência
para não ficar parado, nesta
fase de confinamento social
obrigatório. Há dias, foi uma
produtora que decidiu lançar,
via online, a amostra de tra-
balhos de vários artistas na-
cionais. A produtora optou
por vídeos que ajudem a aler-
tar para os perigos do vírus e
que apelem à população a
acatar as medidas de segu-
rança. Ontem, foi a vez de
Paulo Flores realizar um con-
certo online, para entreter os
fãs e fazer esquecer um pouco
o ambiente trágico criado
pela pandemia. Bem haja!
BAIXO
Hélder Cruz
Estragos ao basquetebol
Quando se pensava que os “es-
tragos” causados por Hélder
Cruz “Maneda” ao basquetebol
angolano estavam ultrapassa-
dos, eis que surge mais uma
surpresa: afinal falta pagar ao
técnico norte-americano que
o próprio foi buscar para dirigir
a Selecção Nacional. Para subs-
tituir o angolano Manuel Silva
“Gi”, Maneda assinou um con-
trato milionário com William
Voigt. Até Dezembro, a dívida
já estava em meio milhão de
dólares. Num país que se ha-
bituou às vitórias e com uma
extensa lista de jovens técnicos
talentosos, faz até duvidar do
espírito patriótico dos nossos
gestores desportivos. Curiosa-
mente, a passagem, pela se-
lecção nacional, do técnico
que agora reclama, em tribunal,
a dívida milionária é de triste
recordação, em termos de re-
sultados. Sinceramente!
ESTRADA NACIONAL 225
Arrancaram os trabalhos
para contenção de ravina
Uma ravina de mais de 10
metros de profundidade, que
danificou parte da Estrada
Nacional (EN) 225, no troço
Cambawassa/sede do Lóvua,
Lunda-Norte, já está a ser
intervencionada, de acordo
O GRITO DE DESESPERO DOS EQUATORIANOS
“Estão a deixar-nos para morrer” Pumangol entre as mais
O Equador está a ser forte-
mente afectado pela pandemia
da Covid-19, multiplicando-
se o número de casos e mortos.
A falta de resposta das auto-
ridades governamentais está
a gerar desespero entre a
população que acusa o
Governo de estar a deixar os
seus cidadãos morrer sem
qualquer auxílio.
Com o mundo a viver uma
pandemia sem precedentes,
as respostas dos diferentes
Estados vão sendo diferen-
tes um pouco por toda a
parte. Porém, no Equador,
com as unidades médicas
completamente “arrasa-
das”, o problema sanitário
continua a multiplicar-se
em diversos âmbitos.
Sem resposta hospitalar
à altura, muitos cidadãos
têm perdido familiares que,
sem cuidados médicos,
sucumbem onde estão.
Os corpos amontoam-se
nas ruas e nas casas. Por vezes
passam dias sem que sejam
removidos do sítio onde 'caí-
ram', gerando acrescidos pro-
blemas morais, mas também
de saúde. “As autoridades estão
simplesmente a deixar-nos
morrer”, conta Eduardo Javier
Barrezueta Chávez, 33 anos,
que viu o pai, de 57, falecer há
três dias, em casa, sem auxílio
médico, mas que ainda não
conseguiu receber qualquer
resposta das autoridades.
Depois de cinco dias a sen-
tir sintomas ligeiros, Eduardo
levou o pai a um hospital
local. Depois de uma radio-
grafia aos pulmões, o diag-
nóstico foi confirmado:
pneumonia. Porém, com a
lotação do hospital atingida,
a recomendação foi que
ambos a regressassem a casa,
com Eduardo a ter de admi-
nistrar paracetamol ao pai
que morreria dias depois sem
conseguir lutar, por meios
próprios, contra a doença.
Com temperaturas, por
vezes, a superar os 30 graus
muitos são os corpos que se
podem ver em vídeos e foto-
grafias partilhadas nas redes
sociais, abandonados ou com
com o director do Instituto
Nacional de Estradas de
Angola (INEA).
Citado pela Angop,
Domingos António disse que
os trabalhos incidem na
“recarga dos solos para se
Equador vive dias difíceis, com pessoas a morrer nas ruas
os familiares a terem de con-
viver de perto com entes que-
ridos que já perderam a vida.
“Estão a deixar os corpos
nas ruas, no pavimento ou
abandonados em casa. O que
se passa com Guayaquil?”,
escreveu, há dias, Cynthia
Viteri, mayor da cidade.
Fernando Jiménez, dono
de uma funerária, fechou
recentemente a actividade,
porque os cemitérios já não
asseguram espaço para tantos
corpos que necessitam de ser
sepultados. “Houve tanta pro-
cura que simplesmente não
conseguimos gerir as coisas.
A situação está verdadeira-
mente fora de controlo”, con-
tou o agente funerário, ao
“The Guardian”.
Além da medicina
O médico Ernesto Torres acre-
dita que a tragédia deve ser
entendida como uma questão
de Saúde Pública, pois, em
suas palavras, “vai além do
campo da medicina, porque
tem a ver com as políticas do
Estado e o real interesse dos
Governos na saúde da popu-
lação”. Para este especialista
em Saúde Pública, os hospitais
receberam muita atenção,
mas não trabalharam no
atingir a cota da estrada, exe-
cução do leito do pavimento,
aplicação do asfalto. A EN 225
é, actualmente, utilizada por
automobilistas e, principal-
mente, camionistas para o
transporte de bens alimen-
tares, combustível e passa-
geiros de Luanda para o Leste
do país e/ou vice-versa.
Enquanto decorrem estas
obras, foi criada uma via alter-
nativa para facilitar a circu-
lação de viaturas ligeiras e
DR
mesmo nível para atender
toda a comunidade. “Se tra-
balhássemos intensivamente
neste nível (desde os primei-
ros casos), poderíamos impe-
d i r q u e m u i ta s p e s s o a s
congestionassem hospitais.
Agora, os hospitais tentam
apagar incêndios com baldes
de água”, diz.
Nas comunidades, espe-
cialmente nas mais perifé-
ricas, está a ocorrer “uma
crise humanitária real e pro-
funda”, nas palavras de Paúl
Murillo, chefe da área de
advocacia comunitária do
Comitê Permanente de Direi-
tos Humanos. “Está certo
haver isolamento nos domi-
cílios, mas nunca pensaram
em planos que garantissem,
ao menos, segurança ali-
mentar nos bairros perifé-
ricos e marginais”, afirma
Adriana Rodríguez, pro-
fessora de Direito, considera
que não é de surpreender que
os problemas sociais fiquem
evidentes durante este período
numa cidade com alta desi-
gualdade social. “Guayaquil é
uma cidade que tem aproxi-
madamente 17 por cento da
população em situação de
pobreza e extrema pobreza”,
lembra, com tristeza.
pesadas. Sobre os 26 quiló-
metros em reabilitação na
mesma estrada, o respon-
sável disse que as obras
decorrem sem sobressaltos,
apesar dos constrangimentos
causados pelas fortes chuvas,
que vão diminuindo a velo-
cidade da empreitada.
As obras de reabilitação
da Estrada Nacional 225,
numa extensão de 504 qui-
lómetros, tiveram início
em 2012.
MAU ATENDIMENTO
denunciadas ao INADEC
Alvo de 22 reclamações,
a Pumangol é a empresa
que mais queixas teve junto
do Instituto Nacional de
D e f e sa d o C o n s u m i d o r
(INADEC), no mês de Março,
por alegado mau atendi-
mento aos clientes.
De acordo com a chefe de
Departamento de Apoio ao
Consumidor e Resolução de
Litígios, Juliana Gonga, o
número de queixas contra a
empresa distribuidora de
combustível deve-se ao facto
de vários clientes, após o
abastecimento das respec-
tivas viaturas, constatarem
que o valor pago não cor-
responde à quantidade, isto
é, ao ponto habitual.
Empresa de comercialização de combustíveis liderou queixas
CAMINHO DE FERRO DE LUANDA
Trabalhadores reclamam
salários do mês passado
Os trabalhadores do Cami-
nho-de-Ferro de Luanda (CFL)
estão sem o salário de Março,
situação que se deve à já débil
situação financeira da empresa,
agravada com a Covid-19, disse
o porta-voz da empresa.
Citado pela Agência Lusa,
Augusto Osório confirmou o
atraso no salário do mês de
Março, reclamado pelos cerca
de mil trabalhadores do CFL,
que se manifestam preocu-
pados face à situação de con-
finamento devido ao novo
coronavírus, que já causou no
país dois óbitos de um total de
oito casos positivos.
“Até ao presente momento
ainda não pagamos os salários,
porque temos problemas de
liquidez, de dinheiro, os com-
boios suspenderam a activi-
dade em função do novo
coronavírus”, explicou.
Segundo Augusto Osório,
esta situação “não é novidade
nenhuma”, para os traba-
lhadores, que “sabem a difi-
culdade que a empresa tem
enfrentado nos últimos tem-
pos”. “E não é a primeira vez
que acontece, queria já deixar
bem claro, já aconteceu mais
vezes”, referiu.
PUBLICIDADE
Da mesma lista de irregu-
lares, com quatro queixas, está
a Clínica Grande Muralha da
China, sobre quem pesam
denúncias de violação de direi-
tos do consumidor.
Entre várias irregulari-
dades registadas pelo INA-
DE C , e m Ma rç o , re a l c e
para 209 reclamações, das
quais 136 foram resolvidas
e 161 encontram-se em
fase de resolução.
Na semana passada,
comerciantes das farmácias
Ariplus e Wenha, ambas
situadas no distrito do
Camama, foram detidos por
especulação de preços de
produtos e meios de protec-
ção contra o COVID-19.
DR
Para um dos trabalhado-
res, que pediu anonimato,
“o mais grave é que não
dizem nada” a justificar a
situação. “Nem um comu-
nicado conseguiram emitir
para dizer o porquê desse
atraso”, reclamou.
O porta-voz do CFL refe-
riu que a situação de confi-
namento das pessoas tem
dificultado a comunicação,
tranquilizando os trabalha-
dores, que a situação será
resolvida nos próximos dias.
“Como as pessoas não estão
a aparecer no local de serviço
a fluidez da informação tem
sido complicada, na medida
em que quando eles apare-
ciam no local de serviço,
mais facilmente a informação
passava, neste momento fluir
a informação é mais com-
plicado”, frisou.
De acordo com a fonte,
são situações como a dos
trabalhadores do CFL, que
estão a influenciar o cum-
p r i m e n to d o E s ta d o d e
Emergência decretado no
país, ao confinamento
social, “porque as pessoas
precisam de encontrar for-
mas de sobrevivência”.