Você está na página 1de 18

16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

LITERATURA
BRASILEIRA
Textos literários em meio
eletrônico
Cantiga de amiga, de
Maura de Senna

Edição de base:
 
Maura de Senna Pereira, Poesia
reunida e outros textos.
Org. de Lauro Junkes,
Florianópolis: ACL, 2004.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ÍNDICE
 
Oh América

A sábia mão

A profecia
Confiteor

Canto natural

Revoada
Evolução

Grumixamas

Festa e fome
A
chave

Balada contra a

tormenta
Culto mutilado

Anacreôntica

Carnaval
Busco
a palavra
 
 
 
Para ALMEIDA COUSIN
o grande companheiro
 

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 1/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

para ILKA, RUTH,


SAMUEL E ZAURINHA
irmãos muito amados
 
e para os meus amigos
que são também irmãos
 
 
 
 
Penetra
surdamente
no
reino
das
palavras.

estão
os
poemas
que
esperam
ser
escritos.
 
Carlos
Drummond
de
Andrade
           
 
A
autobiografia
de
um
poeta
são
seus
próprios
poemas.
O
resto
é
suplementar.
 
Eugênio
Evtuchenko
 
 
A
poesia
é
um
centauro
 
Ezra
Pound
 

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 2/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

 
Sou
um
evadido.
Logo
que
nasci
Fecharam-
me
em
mim,
Ah,
mas
eu
fugi.
 
Fernando
Pessoa
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Oh América
 
 

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 3/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

"Ai flores ai flores


do verde pino"
 
Ai negros regatos em
veios
profundos
que podem jorrar e
mover os mundos
 
Ai tesouros ai minas de
prata e de
ouro
de pedras soberbas e
ricos
minérios
Ai não os levem barcos
nem peixes
barcos pesados
peixes aéreos
 
Ai flores ai flores
des-pe-ta-la-das
 
Ai florestas imensas
decapitadas
para nelas abutres
cravarem as
garras
 
Ai duras amarras e
agruras e lutas
oh América
Latina e sofrida América
 
em dia porvindouro
(longe? perto?)
oh transmutada
em chãos libertos e povos
cantando
de mãos dadas
Oh flores oh flores
ressuscitadas
 
 
 
A sábia mão
 
 
“...
pois
toda
mão
é
movida
pela
inteligência"
 
Tristão
de
Athayde
 
 

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 4/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

Quando todos
trabalharem
o trabalho será uma
alegria
— disse alguém
Meta ou sonho — não
questiono:
sonho
E nessa questão do
trabalho humano
força do mundo
sobretudo me conturba
haver no trabalho
hierarquia
conforme seja cerebral ou
não
 
Por que a discriminação
se é sempre nobre o
labor
seja ele qual for?
se no próprio fio que tece
o
artesão
é sempre a mente que
lhe move a
mão?
 
se no preparo do prato
mais
singelo
ao mais requintado em
baixela
servido
a mão que os cozeu para
o filho ou
o patrão
é sempre guiada pela
inteligência?
 
se na construção de
qualquer
edifício
a mente tem que estar a
postos
sempre
ao colocar o operário
tijolo sobre
tijolo
ao armar o concreto a
viga o
bloco?
 
Objetarão aí que tudo se
deve ao
arquiteto:
à planta ao cálculo ao
saber ao
projeto
Mas se — para erguer a
casa
a rua a urbe —
não concentrasse o
operário toda a
forca
mental na execução
e não vigiasse o corpo
talvez
subnutrido
para não cair do andaime,
para
levantar a obra
todas as plantas jazeriam
no chão

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 5/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

 
 
 
A profecia
 
 
Quando me libertei dos
profetas
bíblicos
em boa hora ainda, cor
de aurora,
num manifesto muito
claro e
honesto
indignados fariseus
vaticinaram
que eu terminaria na
sarjeta
Entanto
nesta hora já de
esmaecidas
papoulas
estou onde sempre
estive:
no meio da praça
Estou no meio da praça
e canto
enviando
amor
 
às sarjetas aos bordéis às
prisões
aos que trazem grilhetas
e
mordaças
aos oprimidos de todas as
raças
aos famintos de pão e de
justiça
aos que nascem em
manjedoura
aos que morrem na cruz
 
E aos que já
desmascararam a tola
hipocrisia
e arrebentaram todos os
grilhões
eu mando ainda "uma
rosa
branca"
Estou no meio da praça
e canto
 
 
 
Confiteor
 
A Flávio José Cardozo
 
 
Para me livrar das malhas
sutis da
catequese

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 6/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

para frustrá-las
eu disse a meus irmãos e
a amigos
meus
com uma firmeza de tese
que era uma pedra
consolidada
por não poder crer
que sobre algo do meu
corpo morto
de qualquer corpo em
que o cérebro
parou
Aí se entristeceram — e
isso
me magoou
 
Hoje porém é mais
intensa ainda
a força vital que me
habita e me
anima
(a que eles dizem não
poder
cessar... )
Será?
Vou então alegrar meus
irmãos
convocar meus amigos
e dizer-lhes o que sei
pueril e
passageiro
dizer-lhes logo
que encontrei fendas na
pedra
e ainda interrogo
 
 
 
Canto natural
 
 
Liberdade, igualdade —
retornarão depois
não agora sobre estes
lençóis
desfeitos
em que entregue estou
inteira ao
teu querer
a carne rendida
penetrada
a língua sugada como um
favo
o lábio mordido como um
figo
sou fêmea ou fruta sobre
o leito
mas subo até o teto e as
estrelas
e é possível que
apedrejem o meu
canto
algum juiz severo ou
varonil
matrona
esquecidos de que de um
ato assim
eles vieram

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 7/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

de que um ato assim é


que povoa a
terra
                       
nem sempre porém com
esta chama
(de igual deveria nascer
cada
menino)
que não se apaga no
orgasmo findo
e me fará até ainda
amassada
ancila radiante levantar-
me
e oferecer-te vinho
 
 
 
Revoada
 
Aos meus pássaros
 
 
Menina
como sem de mim teres
saído
tanto saíste a mim?
Não tens sequer o meu
sangue
não te aninhei em meus
braços
não te dei bem-querer
não te dei lição de vida
nem sequer te vi crescer
— e, crescida, me
buscaste
com teus versos e teus
laços
pelas tuas ruas nuas
me buscaste e eu te achei
 
Menina
não és a única: e o preso
outros chegaram também
da mesma fonte nascidos
 
São todos poetas — e
cantam
todos são bravos — e
lutam
(nunca mais vou
lamentar
ter sido estéril meu
útero)
Pássaros amanhecendo
ainda na escura noite
com eles vou continuar
Verão por mim o sol
nascer

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 8/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

 
eles que se dizem meus
irmãos
pois se as estações
pesam muito
os elos fortes pesam mais
quando as senhas quando
as asas
e as consignas são iguais
 
 
 
Evolução
 
 
Em que estágio — tento
descobrir

começou na espécie
humana
o ato ignóbil de bater
num corpo:
na idade ainda
animalesca?
nas etapas do homem
primitivo?
ou já na fase do ântropos
em toda a plenitude?
 
Seja onde surgiu o fato é
que
evoluiu
em requintes de
crueldade o
processo
covarde
no qual o flagelador tem
sempre
como vítima
um ser inerme, atado,
indefeso:
a criança o servo o pobre
o preso
 
 
 
Grumixamas
 
Para Holdemar Menezes
 
 
Ao saber que das doces
frutas
só o nome conhecias
quis vencer tempo e
distância
e chegar ao quintal da
minha
infância
que era um poema de
ecologia
 

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 9/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

Passei pela casa sem


olhar
pelo varandão com
folhagens e
gloxínias
rajadas que minha mãe
criava (ela
era fada)
pelos caramanchões e
trepadeiras
pelos manacás girassóis
pelas
roseiras
 
Cheguei depois à área de
meu pai
que além de douto em
números
amava e conhecia a terra
Área assimétrica
e de repente dentro dela
a figura geométrica
quadrilátera da horta
em que era difícil apontar
canteiro de maior realce:
dos tomateiros
carregados?
o das grandes rosas
verdes das
alfaces?
 
A parreira longa era uma
sólida
armação
de que pendiam pelos
dezembros
negros cachos de uvas
presas
sobremesas
 
Passei pelo balanço, a
gangorra e
pelo
caminho aberto
onde Roberto e Carlos,
meus
irmãos,
jogavam bola
Pelos pêssegos amoras
cajás
carambolas
frutas de conde romãs e
pelo
espaço onde
entre pitangueiras
minhas irmãs e eu
cantávamos
às vezes com as vizinhas
alemãs
"à mão direita tem uma
roseira..."
 
Afinal, no fundo do
quintal,
a taça que era o pé de
grumixama
redonda e cheia de graça

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 10/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

na sua forma e nas suas


dádivas
para mim uma criatura
humana
como para todos nós a
Figueira da
praça
Além de me dar a melhor
merenda
com suas frutas retintas e
pequenas
era companheira e
testemunha
À sua sombra fiz deveres
para a
escola
es-cre-vi, dis-cur-sei
e li a bíblia, dever de
cada dia,
até que me indispus com
lave
(Mais tarde tal seria um
escândalo
até)
Mas, naqueles idos, só
ela soube
da minha rebeldia.
Também só ela e
eu
vimos, surpresas, o meu
primeiro
sangue
mudando meu tempo e
minha vida
Assim, não só me deu
repasto: deu
guarida
 
Soou por fim a hora do
regresso
e vou colher todas as
frutas que
puder
para as conheceres, para
te
regalar
 
Mas a máquina chamada
progresso
abriu uma rua nova em
meu quintal
Volto pois machucada de
lembranças
E sem as grumixamas no
avental
 
 
 
Festa e fome
 
A
vida
é
uma
festa

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 11/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

Para
poucos
convidados
 
Francisco
Carvalho
 
 
Não, não foi um
banquete:
foi, sim, um jantar de
finas iguarias
quase íntimo
servido todo pelas
anfitriãs
três irmãs
que ora pareciam
princesas
ora ciganas
deslizando com bandejas
e manjares
e sacudindo as pulseiras
e as
voltas
dos colares
 
Após o ágape uma hora
de arte:
piano
canto poesia. Noite bela

com naturezas mortas
na parede e begônias
vivas na
janela
noite em que também
corria
o vinho da simpatia
humana
e que se encerraria
 
com os versos "tem gente
com
fome"
do poeta negro Solano
Trindade
(Noite bela que trouxe
procela
ao meu coração)
 
Ah meu amigo Solano
Trindade
um dia terás busto terás
rua terás
praça
para lembrar tua
fidelidade
à classe à raça ao verso à
arte?
Terás teus poemas
reunidos, tuas
onomatopeias,
teu teatro, teus cantos
afros?

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 12/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

Naquela noite ainda


vivias e pois
sofrias
te desfolhavas em poesia
em saber que teu gemido
e teu
protesto
estavam ressoando entre
taças
vazias
pratos e pratas
sobras nos pratos
convivas fartos
mas também ante vinte
rostos
comovidos
e afinal inculpados
de que há fome, amigo
"tem gente com fome",
irmão
 
 
 
A chave
 
Para Neila Tavares
 
 
Ah, vou devolver-te a
chave. A
oferta amável
servirá a outrem. A mim

serviria
se esta chave abrisse
as portas de uma cidade
onde todos morem em
paz
 
Não tem este dom a
chave que me
dás
 
Há unção no sono (repara
qualquer ser adormecido)
O sono não deve ser
turbado
e na cidade do meu
sonho
todos saudarão a manhã
nova
com a alegria de ter bem
dormido
 
O pão é a festa simples
de cada dia — e todos
rodearão
a copiosa mesa posta
 
O trabalho é direito de
cada um
e após o desjejum
tomarão seus
instrumentos:

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 13/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

livros arados pincéis


machados
 
Quando o crepúsculo
chegar
pintado de mênstruo e
violeta
todos voltarão livres ao
lar
 
A chave que me dás —
dizes
— é para
decifrar o além
para abrir o que —
segundo
crês — vem
após o fim
E o meu tema não é o
além: é o bem
da vida
Vou devolvê-la
ou devolver-te a chave
em seguida
 
 
 
Balada contra a
tormenta
 
Para Enéas Athanázio
 
 
a tempestade passou
ou apenas amainou?
tantos são os destroços
tantos foram os mortos
as colheitas que engoliu
as pontes que desabou!
e os meninos não
nascidos?
e os rebentos não
crescidos?
e os verdes que
assassinou?
 
somos os sobreviventes
de desatadas torrentes
 
vou pegar vamos pegar
punhados de
sementes
e jogá-las pelas terras
boas e
poupadas
plantando um campo de
pão e de
jasmins
para o caldo em nossas
xícaras
quebradas
 
somos os sobreviventes
vamos para frente
 

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 14/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

 
 
Culto mutilado
 
 
A congregação reunida
celebrava o Dia
das Mães
Sobre a tocante gênese
— o amor filial de miss
Ana Jarvis

falaram
pastor presbítero alunos e
mentores
da Escola Dominical
desde os cordeirinhos de
Jesus
até os anciãos as dorcas
os sumortodoxos
Era edificante ouvir
aquele coro
de justas loas ao amor
materno:
as mães eram as
heroínas, o terno
centro
Todas? Oh não!
 
Devia haver uma cadeira
vazia
a em que não podia estar
sentada
a pobre moça expurgada
"a linda mãe solteira"
 
Entremeando discursos e
orações
os cânticos enchiam o
templo
ao som do órgão bem
tocado
 
E uma das vozes mais
altas era
a do pai impune e
negador do seu
ato
de lábios grossos e cravo
no peito
entre os amigos que
diabos! -
cantando hinos ao Senhor
 
 
 
Anacreôntica
 
 
Em Frigia, a filha de
Tântalo,
Niobe, petrificou-se

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 15/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

E Progne, a filha de
Pândion,
Em nova andorinha alou-
se.
Ah! Eu, se poder tivera
De ter mil formas e
faces*
 
Quisera tornar-me
aragem
puros ares naturais
lufada vinda do sul
para do verão possesso
inumano deste ano
poder te aliviar
 
Quisera ser a paisagem
que no momento não
tens:
leque, sucessão de
quadros
que se abrem pela
estrada
e descobres nas viagens
que te enriquecem o
viver
 
Que eu fosse por uma
hora
um dia uma semana
tua irmã amada e única
sozinha nos araxás
sem poder de lá sair
E, nesta fase de cura,
sem a poderes ir ver
que eu fosse a sua figura
 
Quisera ser toda a glória
que tanto mereces ter
láureas para os teus
méritos
e louros ao teu saber
 
Que eu fosse a primavera
que era ao te conhecer
para veres a teu lado
a primavera renascer
 
Quisera ser a ilusão
que eu não tenho e tu
não tens
mas bem sei que, em a
tendo,
terias também prazer:
terminadas nossas vidas
juntos e pelos espaços
continuarmos a viver...
 

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 16/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

(* Início de uma das odes


de Anacreonte,
traduzidas
do grego por Almeida
Cousin.)
 
 
 
Carnaval
 
 
Entre as ruidosas mesas
do bar
menininha circulava
 
Será que ela reparava
nas havaianas nas
baianas
ou nas de alças de strass
pulando perto dos pais?
E os fortes animais quase
pelados
que vinham do banho de
mar
e as bronzeadas náiades
de cabelos ainda
molhados
— será que reparavam
nela
na sua figura curta
no seu vestido de chita
na sua expressão adulta?
 
Entre as ruidosas mesas
do bar
menininha circulava
 
Mas à muda súplica
do seu rosto — botão
murcho
-
só duas mesas
responderam
Foi o bastante para que
as mãos
pequenas
aumentassem
sustentando guardanapos
de papel
com comidinhas que ela
não comeu
E — como se levasse
tochas
acesas
com cuidado —
atravessou a
rua
e desapareceu
 
— Amor, é filha ou é mãe
essa menininha velha?
Me entontece: chama o
garçom

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 17/18
16/04/2022 15:19 Cantiga de amiga, de Maura de Senna Pereira

e pede mais cerveja


 
 
 
Busco a palavra
 
A Ascendino Leite
 
 
Não a que vem de mitos
nem de
lendas
e que traz resquícios do
passado
nem mesmo dos bosques
frescos do
porvir
em que por vezes me hei
refugiado
A palavra que decerto
jamais
escreverei
pois a que tenho escrito

tenho rasgado
por imprecisa, inócua,
ataviada
Breve ou não, quero a
brava e
exata
espelhando o homem do
meu tempo
Busco a palavra em que
lateje o
presente
a hora que o relógio
marca
fim de centúria e de
milênio
era superapocalíptica
Nem o transato nem o
amanhã
só esta hora mesma e
conflagrada
de agora
na palavra em que meu
semelhante
veja
a sua face
nosso tempo em meu
texto
diga: está certo, irmã
 
 
 

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8791 18/18

Você também pode gostar