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DIREITO CIVIL

Direito Civil Desenhado – Prescrição e Decadência

DIREITO CIVIL DESENHADO – PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

Este é um tema muito importante que constitui o passar do tempo.


O tempo tem um efeito dentro das relações jurídicas por dois motivos. O primeiro é de que
o direito não afaga aqueles que deixam passar o tempo e não movem suas ações no prazo. E
o segundo é que algumas relações jurídicas não podem ser perpetuadas no tempo.
Ex.: a pessoa A deve dinheiro à pessoa B, que pode cobrar A todos os dias de sua vida se
assim desejar.
A problemática entra quando se fala em prescrição e decadência, situações que refletem
o passar do tempo.
Antes de explanar esse ponto, é importante relembrar um tema muito importante relacio-
nado à categoria de atos e fatos jurídicos. Sendo ato todo acontecimento da vida e passando
o ato a ter consequências jurídicas, é denominado fato jurídico.
Se esse fato decorre da vontade humana, é chamado de ato jurídico. Se não decorre da
vontade humana, é chamado fato jurídico em sentido estrito. Pode ainda ser imprevisível, cha-
mado extraordinário de força maior/fortuito; ou previsível, denominado ordinário. Ex.: o passar
do tempo, morte, nascimento, tempo para a maioridade.

NATUREZA JURÍDICA DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA


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Quando se questiona a natureza jurídica de algo, na verdade a pergunta pode ser tradu-
zida como: essa espécie é uma espécie de que gênero?
Ex.: a natureza do fato jurídico em sentido estrito é o fato jurídico.
A natureza jurídica do fato ordinário é o fato jurídico em sentido estrito.
A natureza jurídica do tempo é o fato jurídico em sentido estrito ordinário.
Nesse estudo, o tema abordado será o tempo.

“Todos os dias quando acordo


Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo.”

(Tempo Perdido – Legião Urbana)

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Para prescrição e decadência não existe tal coisa como ter “todo o tempo do mundo”; exis-
tem prazos e se alguém deixa passar o tempo deles, está sujeito a punição.
Prescrição e decadência remetem à ideia de perder alguma coisa, acabando por ser uma
punição para aqueles que “dormem” e não recorrem ao direito.

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

O assunto pode ser encontrado nos artigos 189 a 211 do Código Civil.
Prescrição e decadência são reflexos do tempo nas relações jurídicas e no exercício de
determinados direitos e estão intimamente ligadas a prazos, lapsos temporais entre uma data
inicial e uma data final, para a execução de determinado direito.
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Qual é a natureza jurídica do tempo?
O tempo não é o mesmo que prescrição e decadência; elas são consequências de uma
situação que está relacionada com o tempo.
A natureza do tempo é de fato jurídico em sentido estrito ordinário.
Qual é a natureza jurídica da prescrição e da decadência?
Prescrição significa deixar passar um prazo; da mesma forma é a decadência. Existe um
misto de vontade humana na ocorrência das duas.
Ex.: um cliente comparece a um escritório de advocacia, no intuito de iniciar o ajuizamento
15m de uma ação de danos morais. O primeiro passo é verificar o tempo de ocorrência desse dano,
que nesse caso foi de 5 anos. De acordo com a lei, o ajuizamento de uma ação indenizatória
é de 3 anos, sendo esse o tempo prescricional para essa ação. Sendo assim, o cliente é infor-
mado de que o prazo para mover qualquer ação legal já foi excedido, e reage com inconformi-
dade alegando que não tinha ciência desse prazo.
O cliente do exemplo não tinha conhecimento desse prazo, então onde a vontade humana
entra nessa questão?
Um fato jurídico que contém a vontade humana é um ato jurídico, podendo ser lícito
ou ilícito.
Ex. 1: a pessoa A, maior de idade e em suas plenas capacidades mentais, tenta vender
um carro para a pessoa B, que também é maior de idade e possui suas plenas capacidades
mentais e resolve comprar o carro. É um contrato de compra e venda, portanto ato jurídico
onde a vontade humana é celebrada.

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Ex 1.: uma menina de 5 anos de idade vai ao mercado com 5 reais e compra tudo de chi-
clete. Isso também é um contrato de compra e venda, mas ela com 5 anos não tem consciên-
cia plena disso, da estipulação do vendedor, comprador e do preço dos chicletes.
Para essas situações onde existe a vontade humana, mas essa vontade é desprovida de
consciência, existe outra categoria nos fatos jurídicos, denominada de ato-fato.
Não está presente no Código Civil, sendo uma criação de Pontes de Miranda, um doutri-
nador que diz ser um ato por conter a vontade humana, mas essa vontade humana é tão des-
provida de consciência que acaba se assemelhando ao fato jurídico em sentido estrito.
Voltando ao exemplo do cliente que perdeu o prazo para processo de danos morais, pode-
-se determinar que ele não agiu, ainda que de forma inconsciente. Ato: ele deveria ter agido
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e não fez; fato: não houve a vontade humana. Ato-fato: a vontade humana de deixar passar o
prazo ainda que de forma inconsciente.
Em resumo, a natureza jurídica da prescrição e da decadência não é a mesma do tempo e
sim, de acordo com o entendimento da professora que ministrou esta aula, constitui ato-fato.
Formalmente, trata-se de institutos que devem ser tratados como “ato-fato”.

Verdadeiro ou Falso?
A natureza jurídica da prescrição e da decadência corresponde à mesma natureza jurí-
dica do tempo.
Falso.
O tempo é fato jurídico em sentido estrito, não há vontade humana para que o tempo acon-
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teça e ele é previsível.
A prescrição e a decadência não se confundem com o tempo, posto se tratar de um reflexo
da perda de um tempo, ainda que inconsciente.
No ordenamento jurídico entrou uma norma que estabelece que nos casos de não paga-
mento total do cartão de crédito, é feito um financiamento automático. Acontece que esse
financiamento não é vantajoso, uma vez que os juros são altos e os números de parcelas não
foram contratadas pelo cliente.
Ex.: a fatura de Roberta vence todo dia 17 do mês. Numa viagem para os Estados Unidos,
ela efetuou todos os pagamentos no cartão e quando a fatura veio, estava altíssima. No dia
de efetuar o pagamento, Roberta abriu o aplicativo do seu banco no fim da tarde e constatou
que, como o valor era muito alto, ela não teria como realizar o pagamento total de sua fatura
naquele dia. Resolveu então pagar uma parte no dia 17 e no dia 18 se esqueceu de que teria

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que pagar a outra parte, lembrando-se apenas no dia 19 e efetuando então esse pagamento.
No dia 21, Roberta recebeu uma mensagem informativa de que o pagamento total não foi
detectado e por conta disso a sua fatura foi parcelada, vindo na fatura seguinte todo o paga-
mento que ela tinha feito e o financiamento do débito + cerca de 15 mil reais apenas de juros.
Traduzindo, o saldo devedor foi parcelado em 24 meses e além da parcela, havia os juros; o
valor que foi pago dia 19 ficou para ser abatido na diferença do mês seguinte. Roberta então
contratou um contador que a informou de estar sendo lesionada em pelo menos 23 mil reais.
Tendo isso em mente, ela ligou para o cartão e recebeu a resposta de que suas parcelas esta-
riam sendo antecipadas, mas não aceitou e pediu para que elas fossem retiradas. A conse-
quência foi que o banco não tirou e ela ficou com o prejuízo. No outro mês, Roberta resolveu
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pagar e ajuizar uma ação, que de acordo com o Código tem como prazo 3 anos.
Acontece que já se passaram 2 anos desde o ocorrido e Roberta ainda não ajuizou essa
ação, ela ainda está dentro do prazo legal. Nesse caso específico, ela tem a consciência de
que esse prazo está passando.
Ex. 2: suponha que Leonardo passou pela mesma situação e não tem consciência dos
prazos; o tempo continua passando. Ele tem então uma atividade humana omissiva, que
mesmo de forma inconsciente produz efeito.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Roberta Queiroz.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.

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