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AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM,

SEGUNDO JEAN PIAGET.


Epistemologia genética e Aquisição da linguagem

Annyelle Araújo
Luísa Morais
Wograine E. F. Dias
NOÇÕES PRELIMINARES

Por que é difícil entender o lugar da linguagem na obra de Piaget?

Porque, na verdade, ele procurava entender como funcionava todo o


desenvolvimento e aprendizado do ser humano, não só a linguagem. Sua teoria da
Epistemologia Genética procurava dar conta da gênese do conhecimento científico. No
entanto, sem linguagem, o ser humano não chega a esse conhecimento. Por tudo isso,
Piaget desenvolve seu pensamento sobre a aquisição da linguagem.
NOÇÕES PRELIMINARES

=> Piaget ocupou-se das condições necessárias para que nós pudéssemos construir a linguagem.
Procurou explicar o que nos permite receber as mensagens que nos são enviadas na vida social.

=> As condições necessárias nem sempre são suficientes.

Concepções de linguagem

Empiristas Piaget Racionalistas

Behavioristas a partir do encontro Inatistas (Chomsky)

meio como fator aspecto inato como fator


“Para Piaget, a linguagem é constituída a partir do encontro de um funcionamento
endógeno (orgânico) do ser humano com a vida social” (pg. 84)

“Piaget afirma ser o conhecimento e também a linguagem frutos de uma troca entre
organismo e meio; portanto, não é nem empirista nem inatista” (pg. 85)

=> A concepção de linguagem para Piaget:

Funcionamento endógeno (orgânico) + vida social = linguagem


=> Do nascimento aos dois anos de idade, a criança organiza seu mundo de acordo com
esse encontro.

=>Essa organização será representada por imagens mentais a partir do surgimento da


função semiótica. Essas imagens são ligadas entre si por relações lógicas. A criança
verbaliza esse entrelaçamento, dando início a linguagem falada. A “dublagem” dessas
ações dá início à linguagem da criança.
Primeira condição : função semiótica (0-2 anos)

“A Linguagem se constitui num dos aspectos da função semiótica”

=> Para piaget, a linguagem é dependente da função semiótica. Não seria possível construir uma
linguagem verbal sem símbolos e signos linguísticos.

Seria necessário conseguir “Representar algo por algo”

Porém, a distinção entre significante e significado não é condição suficiente. É necessário, também,
uma organização espaço temporal e causal do real e suas representações. (outras condições)
A AQUISIÇÃO NA ABORDAGEM PIAGETIANA

=> A partir da aquisição da função semiótica, a criança adquire a capacidade de se referir ao passado.
Como? pela fantasia, imaginação, previsão etc. A aquisição dessa função completa os aspectos
figurativos do processo cognitivo.

=> O que são os aspectos figurativos? é a correspondência aproximativa dos objetos ou fatos, uma
“cópia” do real construído pela criança. Esse real depende da capacidade de estruturação da criança, em
nível endógeno (construções cerebrais) e nível exógeno (construção de esquemas motores e sistemas de
esquemas de ação). É guiado pela percepção (presença do objeto) e pela imagem mental (reprodução
interiorizada)

Obs: esquema = estruturas mentais em que os indivíduos se adaptam e organizam o meio

=> Imagem mental: reprodução ativa e esquematizante. Piaget procurou, a partir de


estudos,determinar o lugar e o papel da imagem mental na origem e no processo de aquisição.
TEORIA DE PIAGET PARA A AQUISIÇÃO

=> Semelhante a Chomsky, Piaget também acredita que há uma sintaxe anterior às
gramáticas das línguas. Essa sintaxe é a lógica das ações.

=>Lógica das ações: dispositivo para aquisição que, em contato com a língua materna,
dá origem à gramática. Não é inato. É constituído nas ações pela construção dos
esquemas motores.

=> Primeiros meses: a criança pode possuir compreensão (qualidades que apoiam
generalizações) e extensão (situações às quais as generalizações se aplicam)

=> 8 meses: a criança coordena esquema para alcançar um objetivo -> meio para
conseguir algo. A criança ordena suas próprias ações no espaço e no tempo.

A partir disso, surge a lógica das ações


Sobre Piaget - o desenvolvimento ocorre em fases

sensório-motor (0-2)

pré-operatório (2-6)

operatório concreto (6-


12)

operatório formal (12-


18…)
Recapitulando...

Função semiótica (0-2) Aspecto figurativo: ‘cópia” do real construído pela


criança
dois aspectos da cognição
Imagem mental: símbolo, cópia ativa do real.
percepção Resultadodo que se vê, filtrado pelas ações. Capacidade
de estruturação do mundo.
Aspectos figurativos imitação
“As imagens reproduzem, copiam, imitam o meio
imagem mental
ambiente em termos de objeto, ações, situações e
regularidades da natureza detectadas pela criança.” (pd.
Aspectos operativos
88)
Recapitulando... “A linguagem da criança inicia-se como que
dublando essas ações, para depois revelar as
organizações dos eventos, dos objetos e das
pessoas. Sem as organizações que procedem das
Função semiótica (0-2) ações anteriores à linguagem, o discurso
coerente será impossível.”
dois aspectos da cognição
capacidade de operar, isto é, inferir, classificar, ordenar

“caracteriza as formas de conhecimento que consistem


Aspectos figurativos em modificar objeto ou o acontecimento a ser
conhecido, de maneira a alcançar as transformações
como tais e seus resultados” (pg. 87)

Aspectos operativos o aspecto operativo, de algum modo, dirige a leitura do


mundo.

os dois aspectos estão subordinados um ao outro, são


complementares e condições para a aquisição.
“A questão que se coloca é a de saber por que e como a criança sofre , em certos
momentos determinados e não em outros, a influência de tais ou tais relações sociais: é
assim que a linguagem é adquirida em uma determinada idade e não em outra, segundo
uma determinada ordem e não em outra e por que não transforma o pensamento, a não
ser na medida em que este se encontra apto a deixar-se transformar.” (pg. 91)

que condições são necessárias para que se receba influência do meio e se possa adquirir

linguagem ?
Sintaxe, Semântica e Pragmática

Para Piaget, assim como para Chomsky:

1) haveria uma sintaxe universal, uma sintaxe anterior às gramáticas de cada uma das
línguas

Analogamente a Chomsky, os dispositivos para a aquisição da linguagem em Piaget


seriam:

1) A lógica das ações e as noções espaço-temporais.

Diferentemente de Chomsky, para Piaget:

1) os dispositivos não são inatos, mas construídos nas ações a partir da construção
dos primeiros esquemas motores.
Lógica das ações = quando a criança não apenas lê o mundo (dubla, estrutura, etc), mas
coordena esquemas para alcançar um objetivo.

“nesse momento, um esquema que era, anteriormente, um fim em si mesmo, torna-se um meio
para conseguir alguma coisa, e a criança passa a ordenar suas próprias ações no espaço e no
tempo.” (pg. 93)

Recapitulando:

esquemas: é como a criança organiza o mundo, são suas estruturas. a cada presença de um
diferente objeto, uma tentativa de classificação em seus esquemas.

Em presença de algo novo, pode haver ou assimilação ou acomodação.

a lógica das ações acontece por volta dos 8 meses


as noções espaço-temporais:

Estruturação do espaço e distribuição do espaço - quando a criança percebe quando


“primeiro vem isso”, “depois vem aquilo”. A noção de espaço pode ser observada quando
crianças brincam de casinha ou se imaginam em uma floresta, quando elas constroem
pequenas cenas sociais.

A noção de tempo é quando elas conseguem se referir a fatos que já aconteceram ou que
ainda irão acontecer. A noção de presente, passado e futuro, de antecedente e
consequente.

Essas são condições necessárias para a aquisição da linguagem. A ausência de uma delas
poderá causar, por exemplo, a disfasia evolutiva ou retardo simples da linguagem. (pg. 96)
Sintaxe, Semântica e Pragmática

Assim como em Chomsky, a semântica não precede a sintaxe. Ela “constitui-se na


interpretação de suas ações pela própria criança, é o significado que ela atribui ao
significante”. Ela deriva da lógica das ações e das noções espaço-temporais.

Quanto a pragmática, para Piaget, haveria dois tipos de experiência:

experiência física => caso peso, volume

experiência lógico-matemáticas => caso soma


Como a criança vai da inteligência sensório-
motora à inteligência conceitual?
esquemas sensório-motores ---- esquemas verbais ---- conceitos

1º momento: palavras como símbolos, significados particulares. ex: nenê, au-au

símbolos: fonemas com significado particular para uma determinada crianças.

no entanto, o esquema da criança é instável e mutável, enquanto os signos são convencionais e


compartilhados.

2º momento: esquemas verbais, não designam apenas nomes de coisas, mas esquemas de
ações complexas. ex: papai e mamãe

no entanto, o verdadeiro conceito implica sistema de classes e relações hierárquicas.


Depois desses momentos, como a criança chega
ao conceito?

Através dos recitativos => dirigir-se a si mesmo ou aos outros. meio de evocação e
reconstituição.

“mamãe pegou o ursinho pois na mesa. ele vai ficar lá. amanhã, ursinho volta cama fred”.

meio do caminho entre comunicação e monólogo egocêntrico.

a fase de desenvolvimento “pré-operatória” é constituída de linguagem socializada e


linguagem egocêntrica.

chegamos ao pré-conceito.
pré-conceito
a criança deste nível não chega nem à generalidade, nem a individualidade verdadeiras. não
há distinção clara entre tipo e classe, todo e partes. esquemas meio-gerais, meio-individuais.

casos borboleta e padre.

palavra ou signo coletivos ficam inadequados.

existência de protótipos.

a imagem particular serve de símbolo individual a um sujeito que ainda não raciocina sobre
a classe gera. esquema individualizado. representante do objeto que desempenha a função
de substituto de todos os outros.

O pré-conceito implica imagem e permanece em parte determinado por ela.


pré-conceito ---- conceito operatório (4-7)

A criança avança pela construção de encaixes hierárquicos. Há presença de pensamento


intuitivo. Há uma generalidade progressiva. A criança sai da transdução.
inteligência sensório-motora | inteligência conceitual

4 diferenças fundamentais:

1) As conexões estabelecidas pela inteligência sensório-motora ligam apenas percepções e


movimentos sucessivos, sem a representação de conjunto que domine os estados distintos no
tempo e que organize as ações, refletindo-as simultaneamente num quadro total.

2) A inteligência sensório-motora tende ao sucesso e não à verdade: ela encontra sua satisfação
na conquista do fim prático perseguido e não na construção ou na explicação.

3) Ela só trabalha sobre o concreto, indícios perceptivos e sinais motores e não sobre signos,
símbolos e esquemas representativos ou conceitos verdadeiros que implicam inclusão de
classes e relações.

4) Ela é essencialmente individual.


inteligência sensório-motora | inteligência conceitual

4 condições para passar de uma para outra:

1) Que haja representação do conjunto, em que as ações sucessivas se fundam num todo móvel
de ação conjunta.

2) Que haja uma tomada de consciência que mostre as relações entre estas representações. A
constatação e a explicação, fundamentadas na classificação hierárquica e na seriação das
relações, substituiria a simples busca do fim prático.

3) Que haja um sistema de signos sobrepondo-se às ações,permitindo a construção dos


conceitos gerais necessários a estas classificações e seriações.

4) Que haja a socialização, que acompanha as trocas simbólicas, inserindo opensamento


individual em uma realidade objetiva e comum.
Piaget ocupou-se das condições necessárias para que nós pudéssemos construir a
linguagem.

função semiótica

aspectos figurativos

aspectos operativos

lógica das ações

noções espaço-temporais

esquemas

representação conceitual
Período crítico
=> Piaget não escreveu nada a respeito de um período crítico para a aquisição da
linguagem.

=> Para ele, a aquisição depende da construção interna das estruturas mentais em nível
cerebral (embriologia mental).

=> “Sem as construções endógenas responsáveis pela organização do mundo


(construção do real) que deverá ser representada por intermédio das imagens mentais,
para ele não haverá a construção da linguagem pela criança, que, em média, deveria
começar por volta de um ano e meio / dois anos”. (p.111)

=> Depois da idade média (até 3 / 4 anos), a aquisição fica cada vez mais difícil, mais
ainda com os problemas emocionais que a vida social determina.

=> Depois do período de especificação dos neurônios (12 anos), fica bem mais difícil.
Considerações finais

=> No Brasil, inúmeras estratégias já foram postas em prática para diminuir a exclusão
social, especialmente na escola.

=> Adrian Montoya

=> As crianças não construíram a representação adequada das noções de espaço, tempo
e causais.

=> Agíam muito bem no presente, mas eram incapazes de falar sobre o passado ou o
futuro, exceto uma pequena zona móvel do presente, não usada no discurso.

=> Não eram capazes de construir um argumento por mais simples que fosse.
Considerações finais

=> No fim de 1 ano de um trabalho de intervenção, levando em conta o prejuízo, as


características do grupo e suas pessoais, as crianças já eram capazes de estabelecer
trocas simbólicas com o grupo, eram capazes de construir um discurso coerente.

=> “Muitas dessas crianças conseguem sair das amarras do presente sozinhas, pois sua
capacidade de resiliência é maior (CYRUCNIK, 2001). Porém, a maioria não consegue
escapar das condições desfavoráveis, não consegue crescer, inserir-se adequadamente
na sociedade”. (p.114)

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