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17ª EDIÇÃO DO CURSO DE AGREGAÇÃO PEDAGÓGICA

PARA
DOCENTES UNIVERSITÁRIOS

O perfil do Docente Universitário, perante as


exigências actuais

JOÃO MANUEL CORREIA FILHO (P h.D.)


jmcf82@yahoo.com.br
Investigador do Centro interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora
“O professor deste século necessita compreender que existem
novos desafios a serem alcançados, entre eles identificar o
colapso das velhas certezas, da docência obsoleta orientadas
por paradigmas individualistas, centralistas e transmissores
de verdades absolutas.” (Imbernón, 2010, p. 12)

2
OBJECTIVO
Problematização inicial

 Como as funções do docente universitário se articulam e


se integram no processo de ensino aprendizagem?

 O que precisamos saber, fazer e como relacionar as


acções do ensino por meio das tecnologias?

 Qual é o perfil desejado do docente do século XXI que


actua no subsistema do Ensino Superior?
João Manuel Correia Filho , 2019 6
 “No processo de formação, a autonomia, responsabilidade e a
capacitação são características tradicionalmente associadas a
valores profissionais que deveriam ser indiscutíveis na
profissão docente” (CONTRERAS, 2002, p.12).

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actuar

João Manuel Correia Filho , 2019 8


FUNÇÕES DO CORPO DOCENTE
Decreto Presidencial n.º191/18, de 8 de Agosto (Art. 6.º)

INVESTIGAÇÃO EXTENSÃO
• Prestar serviço • Contribuir para a
Docente gestão
• Desenvolver democrática • Desenvolver e
trabalhos de Participar nas
Investigatigação actividades de
Ciêntífica extensão
universitária

ENSINO GESTÃO
TAREFAS DO DOCENTE A NÍVEL DO ENSINO

EDUCAR INTERVIR
• Conhecimentos • Capacidades
• Atitudes • Transformação
• Habilidades • Competências da Realidade
• Valores social
• Soluções a
Problemas
INSTRUIR DESENVOLVER

Estamos diante de um novo ofício, no qual ser professor significa


intervir na realidade social, fazer, aprender e inovar.
TAREFAS DO DOCENTE A NÍVEL DA INVESTIGAÇÃO

Publicações de
Trabalhos
• Teses Científicos • Congressos
• Dissertações • Conferências
• Artigos
• Monografias • Posters • Simpósios
• Livros Didácticos e • Jornadas
Científicos Científicas

Orientação de Participações em
Trabalhos Eventos
Académicos Científicos

A investigação científica interfere tanto na formação dos estudantes, ou seja, na construção de


competências académicas e profissionais, quanto no corpo docente universitário que, por meio da
pesquisa, poderá renovar e regenerar a actividade de ensino.
TAREFAS DO DOCENTE A NÍVEL DA EXTENSÃO

Interação Indissociabilidade
• Desenvolvimento • Reintegração
regional
• Troca de saberes • Ensino
• Políticas
• Igualdade • Investigação

Impacto e
Interdisciplinaridade
transformação

A extensão dá a oportunidade ao professor reforçar que a "sala de aula", não é o único


lugar para o acto de aprender, ocorrendo em qualquer espaço e momento, dentro e
fora da universidade, a partir da interação de professores, estudantes e sociedade.
TAREFAS DO DOCENTE A NÍVEL DA GESTÃO

Liderança de
Gestão
• Ensino
• Voltada para a
Equipes
• Investigação
• Extensão • Administrativa aprendizagem e o • Gestão de pessoas,
• Gestão • Política elaboração de
desenvolvimento
• Internacionalização • Pedagógica estratégias
contextualizadas,
• Inovação • Criação de Estratégias
auto-formação
permanente,
Planificação e proatividade
Gestão
organização das
estratégica
actividades

Hoje o docente universitário é cada vez mais um gestor, administrando a progressão das
aprendizagens, organizando e dirgir as diferentes situações, criando uma visão estratégica que
atinja os interesses de todos no processo de garantia da qualidade.
Lei n. 17/16
Objectivos gerais do subsistema de Ensino Superior
 a) Preparar quadros com alto nível de formação científica, técnica, cultural e
humana, em diversas especialidades correspondentes a todas as áreas do
conhecimento.

 b) Realizar a formação em estreita ligação com a investigação científica orientada


para a solução dos problemas locais e nacionais inerentes ao desenvolvimento do
País e inserida nos processos de desenvolvimento da ciência, da técnica e da
tecnologia.
 g) promover a extensão universitária, através de acções que contribuam para o
desenvolvimento da própria instituição e da comunidade em que está inserida.

Todas as instituições de Ensino Superior têm a responsabilidade de contribuir


para o fortalecimento da Ciência, da Técnica e da Tecnologia, participando da
resolução dos diversos problemas e desafios da vida económica, social e cultural
para a promoção do desenvolvimento sustentado do País [...]”. (Art.80)
Decreto Presidencial n.º 191/18, Artigo 5.º
 “Recomenda que, para o exercício da actividade docente em instituições de
ensino superior, ¨podem ser igualmente contratados individualidades
nacionais ou estrangeiras, de reconhecida competência científica,
tecnológica, pedagógica, cultural ou profissional cuja colaboração se
revista de interesse e necessidade inegável para a instituição de ensino
contratante¨.

 Aqui ressalta um elemento de destaque a competência tecnológica que faz


o professor um diferenciador no âmbito da profissionalização docente e
que exige cada vez mais o docente na busca, no tratamento e divulgação
da informação.
 A sociedade do conhecimento exige um novo perfil, que
seja, comprometido com as transformações sociais e
políticas, competente com as novas tecnologias
educacionais, crítico com postura e convicções nos seus
valores, aberto à mudanças ao diálogo e a cooperação,
exigente que ajude os estudantes a avançarem de forma
autônoma e interativo promovendo a educação integral.
 As TIC podem ter um impacto sobre o perfil dos
professores, pela reciclagem constante recebida via rede,
em termos de conteúdos, métodos e uso da tecnologia,
apoiando um modelo geral de ensino que encara os
estudantes como participantes activos do processo de
aprendizagem e não como receptores passivos de
informações ou conhecimento.
BARREIRAS MAIS COMUNS

RECURSOS

TEMPO

APOIO

PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM
Delors, 1996
APRENDER OU CONHECER as
TIC, como meio de informação, de
acesso ao conhecimento e revisão de
várias fontes.

EMPREENDER OU FAZER
com flexibilidade e criatividade, na
problematização e reconstrução de
novas formas de práctica profissional,
institucional e social.
APRENDER A…
VIVER JUNTOS para promover
o intercâmbio, a interação, e
contribuir para tornar a
diversidade cultural.

SER o uso ético das TIC, como meio de


expressão
Fonte : Chagas, 2013
Hoje o mundo mudou……
O MUNDO MUDOU…
Novas literacias
Novos valores,
O valor da informacão é
reduzido,
O valor do
conhecimento é maior

Delors, 1996
A EDUCACÃO MUDOU…
Tendências educacionais
DE PARA
 Foco no ensino  Foco na aprendizagem

 Professor transmite,  Professor mediador,


estudante reproduz estudante constrói o
conhecimento
 aprender = memorizar  Formação integral e
multidimensional
 Currículo por
 Currículo baseado em competências
conteúdos conceituais
 Métodos diversificados e
 Método único= aula cooperativos
expositiva
João Manuel Correia Filho , 2019 26
 “Para que haja educação é preciso muito mais do que
uma massa formidável de informações imediatamente
acessíveis: é preciso que haja elaboração do saber,
considerando o jogo da interatividade entre
conhecimento, informação e acção humana”(Barato, 2002,
p. 109)
“Quando se diz que um professor tem dez anos de experiência, será
que tem mesmo? Ou tem um ano de experiência repetida dez vezes?”
Filósofo Americano John Dewey

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Livro didáctico
activa
PROFISSIONAL DOCENTE

Como instruir? Que opções

Como educar? tomar?

Como desenvolver Que paradigma

competências? seguir?
ESTÁDIOS QUE CARACTERIZAM OS PROFESSORES

Estádio- 1 O professor ingénuo

ESTÁDIOS QUE Estádio- 2 O professor burocrata

CARACTERIZAM
OS
PROFESSORES

Estádio- 3 O professor competente

Estádio- 4 O professor de excelência


Kevin, R. (1986)
O mercado de
O inusitado Desafios do Ensino Superior trabalho cada
desenvolvimen no Século XXI vez mais
to da ciência e
competitivo
a técnica

A grande As novas
quantidade de As demandas
tecnologias da
conhecimentos cada vez mais
informação e a
cumulados pela crescentes da
comunicação,
humanidade sociedade

Impõem novas exigências aos currículos de formação profissional:


O aperfeiçoamento de seu desenho, execução e avaliação para garantir
uma formação integral do profissional em
correspondência com as necessidades sociais
Desafios do Ensino Superior no
Século XXI

A formação de profissionais competentes e comprometidos com o desenvolvimento social é


hoje uma missão essencial do Ensino Superior Contemporâneo (UNESCO, 1998).

Recentes propostas de mudanças na educação superior, que acompanham


tendências internacionais da educação para o século XXI, vêm incorporando a
noção de competências como norteadora da organização curricular.
As universidades como principal recurso para a formação de profissionais
qualificados é capaz de criar ambientes onde é possível desenvolver
competências.
Dificuldades

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Estilos docentes
Estilos docentes
A vocação
DILEMAS DA FORMAÇÃO DOCENTE

 Formação científica versus pedagógica


 Formação profissional versus pessoal
 Formação externa versus interna

Fonte: Educação um Tesouro a Descobrir


UNESCO - 1999
Que Professor para o Século XXI?

 Gestor da Incerteza ou

Seguro em Certezas?

 A Civilização da Mudança

 A Fronteira do Espanto

 O Paradigma da Incerteza
Que Professor para o Século XXI?

Pessoa ou Indivíduo?
P  I
Que Professor para o Século XXI?

 Cultural:
- ensinar o conhecimento do conhecimento;
- ensinar a religar os conhecimentos, os princípios
do conhecimento pertinente;
- ensinar a condição humana;
- ensinar a identidade terrena;
- ensinar a enfrentar as incertezas;
- ensinar a compreensão;
- ensinar a ética do género humano.
(Edgar Morin)
Que Professor para o Século XXI?

Optimista ou Pessimista?
- algumas histórias exemplares

Com verdadeiro pessimismo pode escrever-se contra a educação,


mas o optimismo é imprescindível para estudá-la e para exercê-la.
Os pessimistas podem ser óptimos domadores mas não são bons
professores., Savater, O Valor de Educar

Um optimista pode ver uma luz onde ela não existe, mas
porque terá o pessimista de correr logo a apagá-la?,
Michel de Saint-Pierra
Crente
ou
descrente?
Que Professor para o
Século XXI?

Crítico?
Acrítico ?

João Manuel Correia Filho , 2019


Que Professor para o Século XXI?

Co-autor ou fiel
cumpridor do Currículo?

O “currículo uniforme
pronto a vestir”
(Formosinho)

De um currículo de
colecção a um currículo
de integração.

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Que Professor para o Século XXI?

 Criativo ou
repetitivo?

48
Que Professor para o Século XXI?

A força da criatiVIDAde!
Que Professor para o Século XXI?
Agente da mudança?

A Universidade de hoje exige do professor, enquanto líder,


uma grande preparação. Neste quadro, ele tem que ter uma
enorme dose de flexibilidade, face a actores, circunstâncias e
contextos tão diferentes, sob pena de fracassar. A
competência central é ser capaz de gerar energia nos outros,
levando-os, simultaneamente, a sentirem-se entusiasmados.
Que Professor para o Século XXI?

 Cooperante ou solitário?
Que Professor para o Século XXI?

Resistente os desistente?
Que Professor para o Século XXI?

Super-herói?
Zé Ninguém?
Faz-Tudo?
Deixa Andar?
Que Professor para o Século XXI?

 Pensante – o legado cultural


 Resistente – as artes marciais
 Optimista – as palavras e o exemplo vitamínicos
 Faz-tudo – confusão de papéis
 Estilista – desenhar o futuro
 Sísifo – o eterno retorno
 Solitário  solidário
 Orientador – o caso do Estudo Acompanhado
 Resultado - um artista
O professor deve
 Reconhecer e articular conteúdos já tratados com a Informática,

 Reavaliar a função da Universidade nestes novos tempos não


perdendo de vista os “princípios norteadores das novas funções,
 como a capacidade de argumentação,

 a tolerância,

 a diversidade de opiniões,

 os valores democráticos e de constituição de uma cidadania consciente e


crítica” (Machado, 1996, p. 252).
O professor
“deixará de ser um leccionador para ser
 um mediador do conhecimento,
 um aprendiz permanente,
 um construtor de sentidos,
 um cooperador, e sobretudo,
 um organizador de aprendizagem”
(Gadotti, 2002, p. 32).
Ser Professor ...
é um crítico... não um concorda.
é um diferente... não mais um igual.
é uma existência... não uma desistência.
é um consequente... não uma consequência.
é um auto-artesanato... não uma indústria.
é uma mentalidade... não um mentalizado.
é um computador... não uma fita gravada.
é uma experiência... não um modelo.
é um radar... não um farol.
é um etc. ... não um ponto final.
Nelson Mendes, 1974
Ser Professor...

58
Ser Professor...
Ser Professor...

?
 Tudo se resume a
ARTE
PAIXÃO
TEIMOSIA
TRANSPIRAÇÃO
soft skill - Competências
hard skill - Habilidade difícil

Hard Soft E

Skills
E-skill - Habilidades electrónicas
Soft skill - Competências
Hard skill - Habilidade difícil
João Manuel Correia Filho , 2019
União Europeia (EU, 2006) explicitam as seguintes nove
competências (Soft skills) essenciais a um profissional:
SS1 – Aprender a aprender;
SS2 – Processar e gerir informação;
SS3 – Habilidades de dedução e análise;
SS4 – Habilidade para tomar decisões;
SS5 – Competências de expressão verbal e de comunicação;
SS6 – Trabalho em equipa;
SS7 – Pensamento criativo e capacidade de resolução de problemas;
SS8 – Gestão e liderança, pensamento estratégico;
SS9 – Auto-gestão e auto-desenvolvimento (Peres & Pimenta, 2011, p. 35).
A sociedade do conhecimento exige um novo perfil
de educador, ou seja, alguém:

• com as transformações sociais e políticas; com o projeto político-

Comprometido
pedagógico assumido com e pela escola;

• evidenciando uma sólida cultura geral que lhe possibilite uma prática
interdisciplinar e contextualizada, dominando novas tecnologias
educacionais. Um profissional reflexivo, crítico, competente no âmbito da
Competente
sua própria disciplina, capacitado para exercer a docência e realizar
atividades de investigação;

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• que revele, através da sua postura suas convicções, os seus valores, a sua
epistemologia e a sua utopia, fruto de uma formação permanente; seja um
intelectual que desenvolve uma actividade docente crítica, comprometida
Crítico com a idéia do potencial do papel dos estudantes na transformação e
melhoria da sociedade em que se encontram inseridos;

• ao novo, ao diálogo, à ação cooperativa; que contribua para


Aberto à que o conhecimento das aulas seja relevante para à vida
mudanças
teórica e prática dos estudantes;

João Manuel Correia Filho , 2019 64


• que promova um ensino exigente, realizando intervenções pertinentes,
desestabilizando, e desafiando os alunos para que desencadeie a sua acção
reequilibradora; que ajude os alunos a avançarem de forma autônoma em
Exigente seus processos de estudos, e interpretarem criticamente o conhecimento e
a sociedade de seu tempo;

• que concorra para a autonomia intelectual e moral dos seus alunos


trocando conhecimentos com profissionais da própria área e com os alunos,
no ambiente escolar, construindo e produzindo conhecimento em equipe,
promovendo a educação integral, de qualidade, possibilitando ao aluno
Interativo
desenvolver-se em todas as dimensões: cognitiva, afectiva, social, moral,
física, estética

João Manuel Correia Filho , 2019 65


Conclusão Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia……..

O primeiro, não há docência sem


discência, em que ensinar significa
criar possibilidades para a produção ou
a construção do conhecimento.
O segundo, ensinar exige rigorosidade
metódica, ou seja, a relação entre o que
lê e o que faz, entre a teoria e a prática,
expressando a necessidade de
organização intencional e estratégica do
ensino.
João Manuel Correia Filho , 2019
Muito Obrigado!
Referências bibliográficas
 Angola. Decreto Presidencial Nº 191/18, de 08 de Agosto, 2018 – publicado no
Diário da República. I Série nº 118 – aprova o Estatuto da Carreira Docente do
Ensino Superior.

 Angola. Lei nº 17/16, de 7 de Outubro de 2016. Diário da República nº 170. I


Série - Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino.

 Dowbor, L. & Drucker, P (1993). O espaço do conhecimento. In: A revolução


tecnológica e os novos paradigmas da sociedade. Belo Horizonte, IPSO.
 FILHO, J. C. (2016). O perfil do docente universitário em Angola no século
XXI, suas perspetivas e desafios: Um estudo exploratório em torno de
conceções e de práticas (Tese de Doutoramento). Évora: Instituto de
Investigação e Formação Avançada Universidade de Évora, 2016.

 Fortes, V. (2011). Tecnologias de Informação e Comunicação. Luanda,


Angola: Instituto Nacional das Indústrias Culturas.

 Moran, J. M. (2007) . Novas tecnologias e mediação pedagógica. 13. ed.


Campinas: Papirus.

 Morais, C., Alves, P., & Miranda, L. (2013). Valorização dos Ambientes
Virtuais de Aprendizagem por Professores do Ensino Superior. Sistemas e
Tecnologias de Informação - Atas da 8ª conferência

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