Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
11 Março de 2006
Editor: Giovanni Torello
Instituto de Psiquiatria - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Rua Ovídio Pires de
Campos, s/n. CEP 05403-010, São Paulo, SP. Tel/Fax (011) 852-9029.
Resumo
Abstract
The authors, beginning with a discussion about the concept of Personality, review the Paranoid
Personality Disorder, its diagnosis and treatment. Typical cases are presented.
Tchecov, A Esposa
Personalidade é um dos conceitos mais complexos em Psiquiatria (WANG E COL., 1995). Constitui a
essência do indivíduo, determinada multifatorialmente e percebida pelo meio (ALPORT, 1966; WANG E
COL., 1995). É composta pelo caráter - seus aspectos cognitivos - e pelo temperamento - seus
aspectos afetivo-conativos (PETERS, 1984).
Transtornos de Personalidade são variações extremas da normalidade, causando prejuízo no
funcionamento do indivíduo, má adaptação social e sofrimento subjetivo (WANG E COL., 1995). Para
muitos, o Transtorno de Personalidade não existe, devendo-se eliminar o conceito por ser teoricamente
insatisfatório, confuso na prática e cientificamente nocivo (KAUFMAN, 1980).
O Transtorno de Personalidade Paranóide pode ser definido como entidade patológica distinta, que
independe da cultura e do grupo em que o indivíduo está inserido, envolvendo um estilo global de
pensar, sentir ou relacionar-se com os outros de forma rígida e invariável (GABBARD, 1992). Constitui
maneira de ser do indivíduo, ego-sintônica, caracterizada por desconfiança e suspeita persistentes em
relação a outrem, interpretando motivações e ações de outros indivíduos como malevolentes (GABBARD,
1992; GUNDERSON & PHILLIPS, 1995).
A Personalidade Paranóide já havia sido descrita por Kraepelin em 1915, designando indivíduos
querelantes e constituindo característica pré-mórbida da Paranóia (GUNDERSON & PHILLIPS, 1995). Kurt
Schneider, em sua classificação assistemática das Personalidades Psicopáticas, descreveu um tipo de
psicopata, o fanático, caracterizado pela supervalorização de certos complexos, ou seja, idéias ou
motivações que em virtude de sua exagerada acentuação afetiva adquiriam posição dominante, uma
preponderância tirânica sobre o psiquismo (BIRNBAUM, 1909; SCHNEIDER, 1948; KAUFMAN, 1980).
Haveria fanáticos ativos, lutadores, e fanáticos silenciosos, dissimulados (SCHNEIDER, 1948).
É interessante assinalar que o próprio Schneider evitou o termo "Psicopata Paranóide", pois o
principal nesses psicopatas seria a supervalorização de complexos e não a propensão à autorreferência
(SCHNEIDER, 1948). A respeito disso, cabe salientar que a classificação de Kurt Schneider foi criticada
por "definições pouco esclarecedoras" (BONNET, 1983). Ao psicopata fanático schneideriano
corresponde o Transtorno de Personalidade Paranóide nas nosologias atuais (CID - 10, DSM - IV).
(GUNDERSON & PHILLIPS, 1995).
O Transtorno de Personalidade Paranóide ocorre em 0,5 - 2,5% da população geral, sendo mais
comum em indivíduos do sexo masculino (GUNDERSON & PHILLIPS, 1995). Estudos em famílias revelaram
estreita relação com Esquizofrenia e Transtornos Delirantes (GUNDERSON & PHILLIPS, 1995).
A CID - 10 (OMS, 1993) tem como critérios diagnósticos para o Transtorno os seguintes:
sensibilidade excessiva a contratempos e rejeições; tendência a guardar rancores persistentemente,
isto é, recusa a perdoar insultos e injúrias ou desafetos; desconfiança e tendência invasiva a distorcer
experiências por interpretar erroneamente ações amistosas de outrem como hostis; um combativo e
obstinado senso de direitos pessoais, em desacordo com a situação real; suspeitas recorrentes, sem
justificativa, com respeito à fidelidade sexual do cônjuge ou parceiro sexual; tendência a experimentar
auto-valorização excessiva, manifestada em atitudes persistentes de auto-referência; preocupação
com explicações "conspiratórias", não substanciadas, para o que ocorre. Estão excluídos Esquizofrenia e
Transtornos Delirantes.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com Esquizofrenia Paranóide (há sintomas psicóticos
persistentes), com Transtorno Delirante, tipo Paranóide (há delírios persecutórios persistentes) e com
outros Transtornos de Personalidade (GUNDERSON & PHILLIPS, 1995).
Caso 1)
Caso 2)
Caso 3)
Pedro I, o Grande, Czar da Rússia (1672-1725). Dotado de enorme vontade e energia, foi
responsável pela ocidentalização da Rússia, trazendo Arte e Ciência de outros países europeus por onde
viajou. Organizou a Administração e o Exército, conquistou vários territórios e fez-se reconhecer como
supremo chefe da Igreja Russa. Desconfiado, mesmo sem provas punia com extrema crueldade
"opositores em potencial". Mandou executar seu próprio filho, que se opunha às suas reformas (Lello
Universal).
Caso 4)
Caso 5)
Tibério, Imperador Romano (14-37 d.C.). Príncipe hábil, esclarecido e prudente, teve um reinado
glorioso; porém, desconfiado em excesso com relação a intrigas palacianas, cometeu as maiores
crueldades (Lello Universal).
Tratamento
As psicoterapias cognitiva e familiar podem ser úteis, sendo que outras terapias, como a
comportamental, não mostraram sucesso (BECK & FREEMAN, 1990; GUNDERSON & PHILLIPS, 1995).
Os pacientes podem beneficiar-se com medicação antipsicótica em baixas doses (GUNDERSON &
PHILLIPS, 1995). Essas drogas estão indicadas nas descompensações psicóticas que podem ocorrer no
curso do Transtorno (GUNDERSON & PHILLIPS, 1995).
Bibliografia