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Instruções para a Prova de ARTES E QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS:

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• Você terá 4 horas para realizar as provas.
• Antes de iniciar a prova, verifique se o caderno contém 3 questões e se a impressão está legível.
• A prova de Artes e Questões Contemporâneas é composta por 3 questões e vale, no total, 10 pontos, assim distribuídos:
• Questão 1 – 4 pontos (sendo 2 pontos para o subitem A e 2 pontos para o subitem B).
• Questão 2 – 2 pontos.
• Questão 3 – 4 pontos (sendo 2 pontos para o subitem A e 2 pontos para o subitem B).
• As respostas deverão ser redigidas nos espaços destinados a elas, com letra legível e, obrigatoriamente, com caneta de tinta azul ou preta.
• Não se identifique em nenhuma das folhas do corpo deste caderno, pois isso implicará risco de anulação.
• O candidato só poderá deixar definitivamente o local das provas a partir de 1 hora e meia após seu início.
• Não haverá substituição deste caderno.
• O candidato é responsável pela devolução deste caderno ao fiscal de sala.
• Adverte-se que o candidato que se recusar a entregar este caderno, dentro do período estabelecido para realização das provas, terá automaticamente
sua prova anulada.

NOME:
IDENTIDADE: INSCRIÇÃO:
LOCAL:
DATA: 20/11/2019 SALA: ORDEM:

Assinatura do Candidato:

SALA 341 ORDEM 25 ID 004583


GRADUAÇÃO EM DIREITO SP | 20/11/2019

ARTES E QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS


QUESTÃO 1A

Leia a descrição que o historiador da arte Jorge Coli (2002, p. 8) faz do quadro ao
lado:

... ao isolar seu caipira, dispondo-o para o espectador como pessoa solitária e
despojada, representando-o no manejo pacífico de instrumentos que guardam
a latência agressiva porque podem se metamorfosear em armas, Almeida Júnior
intuiu, com seus meios de pintor, muito do que a sociologia viria, mais tarde,
analisar. Sem nenhuma concessão a um pitoresco feito de detalhes supérfluos, o
picador de fumo, na sua postura concentrada, expondo de modo tão crucial sua
faca, interpondo-a de fato entre si mesmo e o espectador, protege-se, protege sua
autonomia individualizada, protege, pela violência possível, o lugar frágil que
ocupa no mundo.

O quadro Caipira picando fumo, de Almeida Júnior, foi composto em 1893 e


sua imagem destaca um brasileiro em meio à cena rústica do interior do país.
Na tela, um homem liga-se a terra por meio dos pés descalços, plantados no
chão. Está sentado em frente à porta entreaberta de uma casa de pau a pique
mal conservada, desgastada pela ação do tempo, e concentra-se na atividade de
preparo de seu cigarro de palha, desbastado por um facão pontiagudo.
Informado pela técnica acadêmica realista, de fundo regionalista e social,
Almeida Júnior retrata um momento de intervalo na vida laboral de um
camponês típico da zona rural do estado de São Paulo, o caipira.
O personagem representado, no entanto, adquiriu historicamente uma
interpretação em outro sentido. Foi imortalizado na literatura brasileira por
Monteiro Lobato, já no início do século XX, na figura de Jeca Tatu. Na versão
inicial criada pelo escritor, a figura caipira é depreciada por sua postura corporal,
sempre de cócoras, e por sua postura moral, avesso à civilização, supersticioso, (Ver imagem ampliada e em cores na última folha deste caderno)
indolente e alienado com relação aos problemas do país.
Décadas à frente, o mesmo Jeca foi representado também no cinema, desta vez pelo comediante Mazzaropi, que lhe deu novos contornos, com o homem da
roça desgarrado de seu lugar de origem e lançado no meio urbano da metrópole de São Paulo, por volta de meados do século passado.
Apesar se não ter esse significado na tela original, conforme interpreta o crítico Jorge Coli acima, seja no campo seja na cidade, via de regra esse personagem é
associado, no imaginário coletivo nacional, a estereótipos broncos, cuja passividade cotidiana, cuja suposta ignorância e cujo isolamento fazem com que o tempo
passe sem que haja transformações sociais nem aspiração por mudanças em sua própria condição de vida.

Diante das diferenças interpretativas do quadro de Almeida Júnior e do personagem por ele retratado, desenvolva uma análise acerca da
ambivalência das leituras acima apresentadas. Reflita sobre o poder da arte, em especial da pintura, de criar e fixar imagens de tipos nacionais.
Estes, como se sabe, servem de modelo para generalizações mais amplas em torno de comportamentos coletivos e de valores sociais.
Mais do que emitir seus juízos de valor pessoais, concentre-se, no desenvolvimento da resposta, nos aspectos do caipira salientados por Jorge
Coli, em contraponto às características do Jeca Tatu, tais como propostas por Monteiro Lobato.
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ARTES E QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS


QUESTÃO 1A (continuação)

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NÃO
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ARTES E QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS


QUESTÃO 1B

O Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, analisa, entre outros fenômenos, o impacto e o sentido das profundas transformações
sociais causadas pela Revolução Industrial. O livro foi escrito em dezembro de 1847 e publicado pela primeira vez em Londres, no mês de fevereiro de 1848.
Na primeira parte do texto, os autores dizem:

A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou grandes centros urbanos; aumentou prodigiosamente a população das cidades em relação à dos campos e,
com isso, arrancou uma grande parte da população do embrutecimento da vida rural. Do mesmo modo que subordinou o campo à cidade, os países bárbaros ou
semibárbaros aos países civilizados, subordinou os povos camponeses aos povos burgueses, o Oriente ao Ocidente (2005, p. 14).

Tendo ainda por parâmetro a representação pictórica da tela de Almeida Júnior, reproduzida na questão 1A, descreva até que ponto a imagem sugerida pela
tela confronta-se tanto com os princípios dialéticos de mudança econômica do capitalismo na modernidade quanto com as ações esperadas de trabalhadores
e operários na luta por emancipação e por conquistas sociais.
Em seguida, examine como o sentido da cultura caipira no contexto brasileiro pode ser contraposto à nova dinâmica histórica e internacional proposta pelo
filósofo alemão Karl Marx na interpretação da sociedade moderna do século XIX, tal como enuncia no seu Manifesto (1848).

NOTA

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ARTES E QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS


QUESTÃO 2

Em 2006, o cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu lançou o filme Babel, produção milionária e com atores hollywoodianos. Babel arrebatou uma série
de prêmios internacionais, a exemplo do Oscar de Melhor Filme, e recebeu elogios da crítica cinematográfica especializada. Sua sofisticada trama superpõe 4
enredos distintos, passados em países diferentes entre si, como Estados Unidos, Japão, Marrocos e México. Apesar da distância e do paralelismo aparente, a
narrativa do filme entrecruza seus personagens e suas histórias. Ao acentuar as dificuldades de comunicação no mundo contemporâneo, a película tematiza
assuntos caros ao século XXI, como a migração, o terrorismo, a estrutura familiar e o choque entre culturas.
A propósito, o tema da globalização é caro a muitos teóricos, como o sociólogo Anthony Giddens, assunto apresentado e desenvolvido em seu livro Mundo em
descontrole: o que a globalização está fazendo de nós. Uma das ideias centrais do livro encontra-se na seguinte passagem:

O campo de batalha do século XXI irá opor o fundamentalismo à tolerância cosmopolita. Num mundo globalizante, em que informação e imagens são
rotineiramente transmitidas através do mundo, estamos todos regularmente em contato com o que os outros pensam, e vivem, de maneira diferente de nós.
Os cosmopolitas acolhem essa complexidade cultural e a abraçam. Os fundamentalistas a veem como perturbadora e perigosa. Seja nos campos da religião, da
identidade étnica ou do nacionalismo, eles se refugiam numa tradição renovada e purificada – e, com muita frequência, na violência (p. 16).

Nesse sentido, desenvolva uma análise do filme, de modo a salientar como o cinema de Iñárritu aprofunda essas questões típicas da contemporaneidade. Para
tanto, embase sua resposta no suporte conceitual das reflexões do sociólogo supracitado.

RESPOSTA

NOTA

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ARTES E QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS


QUESTÃO 3A

Claro enigma, publicado em 1951, é um livro de poemas de Carlos Drummond de Andrade, marcado pela preocupação com a existência humana, em sua
dimensão mais filosófica e introspectiva. Do conjunto da obra, selecionamos a poesia “Um boi vê os homens”, que torna o comportamento do homem um
objeto de estranhamento e de reflexão inusitada, por parte de uma espécie de animal-observador.

Tão delicados (mais que um arbusto) e correm


e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia que não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
Toda a expressão deles mora nos olhos – e perde-se
a um simples baixar de cílios, a uma sombra.
Nada nos pelos, nos extremos de inconcebível fragilidade,
e como neles há pouca montanha,
e que secura e que reentrâncias e que
impossibilidade de se organizarem em formas calmas,
permanentes e necessárias. Têm, talvez,
certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazem
perdoar a agitação incômoda e o translúcido
vazio interior que os torna tão pobres e carecidos
de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme
(que sabemos nós), sons que se despedaçam e tombam no campo
como pedras aflitas e queimam a erva e a água,
e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade.
(2012, p. 25)

A partir da crítica perspicaz e sutil contida na poética drummondiana, estabeleça um paralelo entre a questão acima observada – os limites e os hábitos do
homem vistos por um animal – à luz do ensaio filosófico de Immanuel Kant “Resposta à pergunta: que é o Esclarecimento?”, escrito no final do século XVIII,
do qual reproduzimos o trecho a seguir:

É difícil, portanto, para um homem em particular desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza. Chegou mesmo a criar amor a
ela, sendo por ora realmente incapaz de utilizar seu próprio entendimento, porque nunca o deixaram fazer a tentativa de assim proceder. Preceitos e fórmulas,
estes instrumentos mecânicos do uso racional, ou, antes, do abuso de seus dons naturais, são os grilhões de uma perpétua menoridade. Quem deles se livrasse só
seria capaz de dar um salto inseguro mesmo sobre o mais estreito fosso, porque não está habituado a este movimento livre. Por isso são muito poucos aqueles que
conseguiram, pela transformação do próprio espírito, emergir da menoridade e empreender então uma marcha segura (p. 1-2).

Para a elaboração da resposta, leve em consideração o modo de entendimento do filósofo acerca de temas como maioridade e menoridade, liberdade e
servidão, razão e emoção, ciência e religião. Ao delinear a questão, mostre como o pensador alemão entendia o sentido necessário a ser adotado pelo ser
humano com vistas a conquistar a sua própria emancipação.
Não deixe de considerar também o período histórico em que cada texto – o poema e o ensaio filosófico – foi produzido.
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QUESTÃO 3B

Em novembro de 1987, a banda de rock brasileira Legião Urbana lançava seu terceiro álbum e conquistava a preferência musical de parcelas expressivas da
juventude e da sociedade brasileira. Mais de 1.5 milhão de cópias foram vendidas, um número extraordinário para os padrões da época. Com sentido de
protesto, uma das letras do LP aludia, em tom metafórico, aos perigos ambientais da construção da usina nuclear de Angra dos Reis. Já o hit da faixa Que país é
esse? dava nome ao novo disco do grupo brasiliense, comandado por Renato Russo, ícone da geração que crescera no Brasil no contexto da redemocratização.

Nas favelas, no Senado


Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
No Amazonas, no Araguaia iá, iá
Na Baixada Fluminense
Mato Grosso, Minas Gerais
E no Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso
Mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Terceiro mundo, se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?

Com base no período histórico em que foi composto o disco, os anos 1980:
1) Proponha, por meio da análise de passagens da letra acima transcrita, uma interpretação da canção. Diante deste objetivo, evite juízos de valor e expressões
do senso comum, procurando refletir em que medida a música pode vocalizar sentimentos geracionais e insatisfações coletivas.
2) Avalie, assim, qual deve ser a fronteira entre a criação artística e a denúncia social, em um país marcado por acentuadas disparidades econômicas, bem
como enfatize qual a capacidade de uma canção transcender gerações e exprimir, ainda nos dias de hoje, pautas identitárias e questionamentos políticos
importantes.
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QUESTÃO 3B (continuação)

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