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HÉRNIAS – EVENTRAÇÃO – EVISCERAÇÃO

 Conteúdo Abordado
 Hérnia
 Eventração
 Evisceração
HÉRNIAS
 Conceito:
 Passagem ou insinuação de vísceras de uma cavidade para outra ou de uma cavidade para o meio
externo através de um orifício anatômico e sem que as vísceras tenham contato com o meio exterior.
Exemplo: Cavidade para o meio externo  na hérnia umbilical as vísceras se insinuam para o meio externo em
relação a cavidade abdominal, porém não tem contato com o meio externo ao corpo do animal (Ficam retidas pela pele.
Sempre são recobertas pelo saco herniário, tecido subcutâneo e pele). Cavidade para outra cavidade  hérnia
diafragmática.
 Para a patologia ser classificada como hérnia verdadeira é preciso apresentar 3 componentes:
 Conteúdo - É o órgão herniado. Ex.: Pode ser o intestino delgado, intestino grosso, bexiga,
próstata, útero gravídico.
 Anel herniário - É um orifício anatômico que já existe (o orifício é verdadeiro), ele não é
adquirido de forma traumática. Ex.: Canal inguinal.
 Saco herniário - Contém o conteúdo. Ex.: Em hérnias derivadas da cavidade abdominal o que vai
constituir o saco herniário é o peritônio.
 Classificação
 Verdadeiras X Falsas: Presença dos 3 componentes torna a hérnia verdadeira.
 Localização anatômica (o nome deriva do local em que ela está presente): Umbilical, inguinal,
diafragmática etc.
 Origem do defeito: Congênita (Nasce com a hérnia. Uma hérnia congênita não significa que é
hereditária) ou adquirida.
Os equinos possuem uma herdabilidade/hereditariedade para as hérnias inguino-escrotais, contudo não são
hérnias congênitas, são adquiridas muitas vezes quando o animal começa a ser utilizado para a reprodução.
 Relação anatômica:
 Redutível ou irredutível (encarceramento ou aderências). A hérnia é redutível quando
pressionamos manualmente o conteúdo através do anel herniário e conseguimos retorná-lo
para a cavidade de origem, ela possui um conteúdo dinâmico. A redutibilidade da hérnia está
relacionada ao fator de classificação da cirurgia como cirurgia eletiva ou cirurgia de urgência e
emergência, isso está associado as complicações advindas de uma hérnia. A hérnia redutível é
descomplicada, possui conteúdo dinâmico (é aquele que tem movimentação, conseguimos
voltar para a cavidade de origem), não é de urgência ou emergência, pois não há o
encarceramento ou estrangulamento da alça, isso faz com que seja um procedimento eletivo,
poderemos agendar, não causa dor. A hérnia irredutível é complicada, possui conteúdo
adinâmico, isso pode ser causado por diversos fatores, entre eles a presença de aderências,
além disso, outro fator é a incompatibilidade do tamanho do conteúdo com o diâmetro do anel
herniário, dessa forma o conteúdo pode ser encarcerado (preso). Uma hérnia encarcerada pode
ou não sofrer estrangulamento. Causa dor e é uma emergência ou urgência.
 Pode ser classificada de acordo com o órgão herniado: Prefixo = órgão + sufixo = cele - Histerocele
(hérnia em que o conteúdo herniado é o útero); Cistocele (bexiga); Prostatocele (próstata); Enterocele
(intestino).
 Etiologia
 Multifatorial
 Fatores predisponentes:
 Hereditário - Algumas hérnias são reconhecidas como hereditárias, ou seja, a herança genética
influencia na ocorrência da hérnia - Ex.: hérnia inguinal;

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 Congênito - Devido à má formações, maturação incompleta, problemas no momento do parto.
O fator tração umbilical excessiva é determinante para ruptura da cicatriz umbilical que ainda
não está retraída - Ex.: hérnia umbilical.
 Fatores determinantes - Estão diretamente relacionados a ocorrência da hérnia, entre eles:
 Aumento da pressão abdominal - Se o animal já tem o fator predisponente, como um anel
herniário permissivo que permite a passagem das vísceras por exemplo na região inguinal, e
somado a isso possui também aumento da pressão abdominal, acontece o aumento da força
com que as vísceras se projetam pelas bordas do anel, isso pode determinar a ocorrência da
hérnia. Fatores que aumentam a pressão abdominal:
 Ascite;
 Cólicas;
 Timpanismo;
 Tosse persistente - Ex.: Cadela de porte pequeno, hormonalmente predisposta que
possui colapso de traqueia ou síndrome braquicefálica. Toda vez que animal tosse de
forma excessiva acontece contração e prensa abdominal o que pode facilitar o
extravasamento das vísceras.
 Prenhez;
 Neoplasias.
 Sinais Clínicos
 Facilmente observadas no exame clínico quando ocorre para o meio externo;
 Sinais clínicos variam de acordo com a localidade, conteúdo herniado (vísceras, órgão parenquimatoso)
e relação anatômica:
 Identificamos ao exame clínico durante a inspeção o aumento de volume;
 Presença do anel herniário - Normalmente o anel herniário tem bordas bastante definidas,
conseguimos palpar e mensurar as bordas do anel;
 Indolor (exceto as encarceradas ou estranguladas) - Não tem sinais de inflamação então não há
dor.
 Consistência variável - redutível ou não.
 Diagnóstico
 99% do diagnóstico é feito através do histórico e exame físico.
 Exames de imagem auxiliam  Radiografias e US:
 Avaliar se tem presença de aderências e conexões do órgão com as bordas do anel ou com o
saco herniário (importante também para as eventrações). Ajuda a identificar qual órgão está
herniado, também contribui para dimensionar o anel herniário principalmente no que tange a
espessura da borda do anel, pois é ela que irá ancorar as suturas durante o tratamento que se
chama herniorrafia.
 Avaliar conteúdo e comorbidades - Principalmente em uma hérnia encarcerada. Avaliar se é o
intestino que está estrangulado ou encarcerado, se está muito edemaciado ou ainda tem
motilidade (motilidade é indicativo de função, se tem função não deve ter uma lesão muito
grave).
 Diagnósticos diferenciais  Durante o exame clínico percebemos à inspeção apenas um aumento de
volume, então outras patologias que tiverem aumento de volume circunscrito pode constituir
diagnóstico diferencial de hérnia: Abscessos; Hematomas; Seromas; Eventração (é o principal
diagnóstico diferencial das hérnias).
 Tratamento Geral
 Herniorrafia - Fechamento da hérnia. As suturas são ancoradas no anel herniário.
 Trans-cirúrgico - O animal vai ser preparado com técnica cirúrgica asséptica, vamos realizar o risco
cirúrgico, identificar as comorbidades. Avaliar se existe a possibilidade de lesão grave no órgão
herniado, se existir essa possibilidade normalmente a herniorrafia é um procedimento consecutivo a
laparotomia para podermos visualizar as vísceras identificando se há ou não a necessidade de fazer
exérese destas vísceras. Não sendo complicado (sem dor, sem edema, o conteúdo é dinâmico) não
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precisamos abrir o abdômen e partimos para o tratamento geral de toda hérnia que é a Herniorrafia.
Fazemos uma incisão que pode ser retilínea ou elíptica (quando tem muito excesso de pele) em cima do
anel herniário, identificamos as bordas do anel herniário e dissecamos as bordas do anel sem abrir o
saco herniário, reposicionamos as estruturas, escarificamos (ferir) as bordas do anel e implementamos
suturas de tensão, a sutura ouro para herniorrafia é a de Sultan ou Em X. Utilizamos fios inabsorvíveis e
passamos ao fechamento de pele com redução de subcutâneo.
 Reposicionar as estruturas herniadas;
 Fechar o anel herniário: Suturas de tensão; Fios não absorvíveis.
Não podemos abrir o saco herniário porque ele está segurando o conteúdo, se abrirmos ocorrerá uma evisceração.
Nas hérnias a musculatura tem uma solução de continuidade, ela está afastada, para aproximar as bordas colocamos
uma sutura de tensão e ela predispõe a deiscência, que é a principal complicação das herniorrafias. Se ocorrer
deiscência com o saco herniário fechado o grande risco é de recidiva da hérnia, quando abrimos o saco herniário e
ocorre deiscência acontece a evisceração, por isso a regra geral para as herniorrafias é a sua realização sem a abertura
do saco herniário. Abrimos o saco herniário somente nas hérnias complicadas por estrangulamento ou encarceramento,
isso é realizado para avaliar conteúdo (órgão), por isso que nas hérnias complicadas é indicado a laparotomia
consecutiva que é um acesso para fazer a excisão ou correção do problema.
Utilizamos fios não absorvíveis (náilon) para diminuir o risco de recidivas, porque quando utilizamos um fio
absorvível ele é absorvido antes de ocorrer a maturação total da cicatriz levando a recidiva da hérnia.
 Complicações
 Infecção está relacionado com:
 Falha de técnica cirúrgica asséptica - A infecção do sítio cirúrgico é fator determinante para a
ocorrência de recidiva da hérnia, pois haverá uma infecção, haverá reação exacerbada ao fio, a
sutura não irá aguentar ocorrendo deiscência, teremos que remover o fio e tratar por segunda
intenção até que haja a cura do processo infeccioso para depois de 6 meses tentar repetir o
procedimento;
 Reação de corpo estranho ao fio - Quando utilizamos fio inadequado;
 Conteúdo herniado - Quando vamos passar a agulha pela borda do anel herniário temos que
nos certificar que estamos passando afastado da víscera. Ex.: Se a víscera herniada é o intestino
e traspassarmos a agulha por ele no momento da sutura, nossa cirurgia deixa de ser limpa e
passa a ser contaminada e teremos que lidar com esse problema no pós-operatório;
 Trauma;
 Inflamação - Está relacionado a fatores do local, existem locais que há maior inflamação e outros que há
menor inflamação. Quanto mais gentil, quanto mais rápida e menos cruenta for a manipulação menor o
processo inflamatório, reduzindo assim o risco de complicações.
 Recidiva:
 Erro de técnica asséptica - Como por exemplo, número de suturas insuficientes, suturas
apertadas em demasia, indicação de sutura em locais em que se deveria indicar o uso de telas
(quando a borda é muito grande e afastada);
 Aumento da pressão abdominal.
 Irredutibilidade - Pode ser vista no exame clínico e também no trans-cirúrgico, é um fator de
complicação para redução da hérnia e para implementação da herniorrafia, está relacionada com:
 Aumento do volume dos órgãos herniados - A drenagem linfática fica comprometida e os
órgãos ficam edemaciados dificultando o retorno;
 Presença de aderências;
 Bridas conjuntivas resistentes.
 Encarceramento (Aprisionamento. Presença de dor):
 Aumento do volume dos órgãos herniados.
 Estrangulamento (Comprometimento vascular grave da irrigação e da drenagem. Há mais dor que no
encarceramento. Quadro clínico totalmente diferente de uma hérnia não complicada.):
 Comprometimento circulatório - A víscera está em isquemia, então também há um processo
séptico em curso.
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 Perda de domicílio - Em hérnias muito grandes e crônicas há uma atrofia ou hipotrofia da cavidade de
origem do órgão herniado e quando tentamos reduzir a hérnia não encontramos espaço na cavidade de
origem para realocar todas essas vísceras. Ocorre quando há:
 Grande volume herniado;
 Diminuição do volume abdominal;
 Atrofia muscular;
 Pacientes jovens;
 Hérnias antigas.
 Principais Hérnias
 Hérnias perineais; Hérnias umbilicais; Hérnias diafragmáticas; Hérnias inguinais.

HÉRNIA UMBILICAL
 Conceito:
 Defeito na parede abdominal na região da cicatriz umbilical com passagem de estruturas através do
anel umbilical.
 Etiologia
 Congênita:
 Falha na fusão da prega lateral ou fusão tardia (após o deslocamento do intestino médio para
dentro da cavidade abdominal).
 Adquirida:
 Ocorre principalmente na fase juvenil por aumento da pressão abdominal antes da completa
retração da cicatriz umbilical e antes que ela adquirira resistência;
 Tração exagerada durante ligadura do cordão umbilical.
 Epidemiologia
 Provavelmente hereditária e poligênica (pequenos animais);
 Predisposição racial: Pointer; Pequinês; Weimaraner; Basenji; Airedale terrier.
 Predileção pelo sexo: Fêmeas são mais afetadas.
 Múltiplas afecções associadas:
 Criptorquidismo;
 Fusão esternal caudal incompleta;
 Hérnia diafragmática peritoneopericárdica;
 Hipospadia - É quando o orifício da uretra não surgi na posição normal na glande, se desenvolve
em uma região ventral em relação a glande.
 Atresia anal;
 Extrofia da bexiga - Por falha no fechamento ventral.
 Apresentação Clínica
 Mais comumente as hérnias umbilicais são de forma não complicadas:
 Hérnia simples, redutível, indolor;
 Sem afecções associadas.
 A forma complicada é mais rara:
 Se complicam pelo encarceramento ou estrangulamento do conteúdo dentro do anel herniário;
 Não redutível, firme a palpação (não conseguimos retornar o conteúdo), edema peritecidual,
muita dor a palpação;
 Em pequenos animais temos o desenvolvimento de obstrução intestinal que causa: Anorexia (o
animal para de se alimentar), vômito, letargia, grau variado de toxemia com sepse em função
das lesões decorrentes na alça intestinal;
 Anormalidades concomitantes.
 Onfalocele:
 Hérnia umbilical grande com defeito dérmico;
 Protrusão dos órgãos abdominais;

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 Na onfalocele tem uma cavidade umbilical grande revestida pelo peritônio sem o fechamento
muscular e sem o fechamento dérmico;
 Nesse caso o saco herniário é o saco amniótico, é um grande defeito dérmico (má formação
congênita), é um passo antes do o Schistosomus reflexus, que é uma alteração que não tem o
fechamento dérmico, não tem o fechamento muscular e além disso tem a ausência do saco
herniário, não tem o fechamento do peritônio, todos os órgãos do animal estão difundidos e
soltos pela membrana amniótica, normalmente são animais natimortos.
 Gastrosquise:
 Semelhante a onfalocele - paramediano;
 Não há recobrimento de membranas;
 Não envolve o cordão umbilical.
O volume herniado nem sempre está relacionado ao tamanho do anel herniário, é mais relacionado ao tamanho do
saco herniário.
 Diagnóstico
Devemos palpar muito bem para não confundir com outras afecções.
 Diferenciais:
 Abcessos;
 Massas;
 Onfaloflebite - O exame ultrassonográfica deve estar presente para a diferenciação da
onfaloflebite de uma hérnia umbilical. Se tentarmos fazer uma herniorrafia em um animal com
onfaloflebite estaremos sepultando um abscesso de cordão umbilical dentro da cavidade
abdominal, não sendo uma boa conduta.
 Trauma no cordão umbilical.
 Tratamento
 Conservativo:
 Quando o animal nasce e identificamos a hérnia umbilical não operamos imediatamente porque
existe uma grande chance de em 6 meses para o cão e 1 ano para o equino de haver um
fortalecimento da musculatura abdominal e fechamento espontâneo do anel herniário;
 Hérnias pequenas podem ser monitoradas;
 Pressão com bandagens - Mantém o conteúdo dentro da cavidade de origem, dando
oportunidade para haver o fortalecimento e fechamento do anel herniário (Isso funciona em
hérnias pequenas, hérnias grandes é pouco provável que isso aconteça);
 Cirúrgico:
 É eletivo nas hérnias grandes sem complicações (hérnias sem encarceramento e sem
estrangulamento), é feito através da herniorrafia;
 Hérnias complicadas; Emergência
 Onfalocele e gastrosquise. Cirúrgica
 Trans-cirúrgico: O animal é preparado com técnica cirúrgica asséptica, anestesia geral e decúbito dorsal.
 Incisão de pele:
 Suínos e bovinos - Quando há muito excesso de pele é feito a incisão Elíptica (dessa
forma remove o excesso de pele, deve ter cuidado para não remover pele demais,
porque assim a dermorrafia ficará sobre muita tensão predispondo a deiscência);
 Equinos, cães e gatos:
- Incisão Simples e sobre a hérnia - Quando as hérnias são pequenas.
- Incisão Elíptica ou em semicírculo ao redor da hérnia - Quando são hérnias grandes e
irredutíveis. Em semicírculo ao redor da hérnia é para depois ter tecido que feche a pele
sem que a linha de incisão se encontre exatamente embaixo do anel herniário, isso é para
proteção da herniorrafia.
 Dissecção do saco herniário - É importante ser realizado sem abrir o saco herniário, porque se
houver deiscência da muscular e recidiva teremos como complicação a recidiva de uma hérnia e
não uma evisceração:
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 Isolar o anel e as bordas do anel - Duas vezes a espessura do anel  Considerando o
cão que tem uma musculatura fina, delgada (1 a 2 milímetros de espessura), dissecamos
2 a 4 milímetros da borda do anel herniário. Em equinos que é uma grande parede (0,5
centímetros de espessura) vamos dissecar 1,5 a 2 centímetros da borda do anel
herniário, principalmente quando formos colocar tela;
 Utilizar dissecação romba com tesouras rombas ou digital;
 Evitar abertura do peritônio a todo custo - Diminuímos a probabilidade da ocorrência de
peritonite, além disso, mantemos um tecido que irá manter as vísceras em caso de
deiscência da musculatura;
 Facilitar a sutura - Não suturar vísceras, isso poderia levar ao íleo adinâmico (íleo
paralítico) e também a uma sepse por peritonite séptica;
 Inspeção do conteúdo quando a hérnia for complicada.
 Fechamento do anel:
 Pontos separados;
 Imbricação lateral ou jaquetão;
 Padrão Em X em todos os animais domésticos;
 Fio inabsorvíveis - Náilon. Não vamos utilizar algodão e seda por serem fios que causam
reação de corpo estranho muito intensa, além de serem fios multifilamentosos o que é
favorável para as bactérias se alojarem;
 Fios absorvíveis de alto tempo de absorção - Polidioxanona, poligliconato,
poliglecaprone. Podem ser usados em pequenos animais mas não é a melhor
recomendação. Em grandes animais nunca devem ser usados.
 Uso de implantes pode ser necessário - Quando a sutura não é suficiente para fazer a
aproximação das bordas e o fechamento, nesse caso precisamos de um implante para dar
reforço e que não diminua a tensão nas bordas. Tela de polipropileno é hoje a melhor indicação,
esse material é razoavelmente hiporreativo, não causa grandes alterações de reação de corpo
estranho. O grande cuidado que devemos ter com uma tela é a aderência, nunca devemos
coloca-la em contato direto com a víscera, então se pretendemos colocar uma tela não
devemos de forma alguma abrir o saco herniário, porque é uma tela altamente aderente, é feita
para suscitar aderência. O que dará resistência final a herniorrafia quando colocamos a tela são
as pontes de fibroblasto que migram entre o diagrama da tela. A tela é trançada não só para dar
resistência, mas também para ser nicho para os fibroblastos migrarem encapsulando todo o
material formando uma placa fibrosa no local da tela, é isso que dará sustentação e resistência
após a cicatrização. No entanto a tela também pode ser nicho para as bactérias, então devemos
ser rigorosos na cirurgia, pois o maior risco é haver contaminação do implante, se isso ocorrer
teremos que removê-lo, será a única maneira da infecção curar, por isso deve haver uma
programação grande e consciência de toda equipe cirúrgica juntamente com o proprietário em
relação a necessidade de evitar infecção cirúrgica a todo custo.

HÉRNIA PERINEAL
 Conceito:
 Separação dos músculos perineais permitindo a passagem de estruturas pélvicas ou abdominais para a
região perineal, seja a região ciática, região dorsal ao ânus ou a região ventral ao ânus.
 Etiologia
 Desconhecida;
 Provável associação de:
 Fraqueza muscular congênita ou adquirida dessa região;
 Tenesmo - Defecação dolorosa com grande esforço. Pode ser relacionado a obstruções tanto do
lúmen do reto nas prostatomegalias e estrangúria também por prostatomegalia, quanto por
obstruções do canal urinário, além disso também pode estar associado a constipação,
resultando em uma força maior para defecação;
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 Estrangúria;
 Atrofia neurogênica - Lesões sacropúbicas ou de glândulas dessa região.
 Epidemiologia
 Comum em cães, em equinos e bovinos são pouco comuns ou inexistentes;
 Machos inteiros 3 : 1 macho castrado;
 Raro em fêmeas;
 Raro em felinos;
 Idade acima de 5 anos - média de 10 anos em cães;
 Fatores de risco:
 Cães: Prostatomegalia ou constipação;
 Gatos: Megacólon; Colite; Doença do trato urinário inferior (plugs urinários e urólitos);
Uretrostomia perineal.
 Apresentação Clínica
 Caracterizada pelo aumento de volume uni ou bilateral em relação ao ânus. Pode apresentar
estufamento e desvio dorsal, ventral ou lateral do ânus;
 Histórico de tenesmo e/ou disúria - O animal se coloca em posição de defecação por longos períodos
mas não consegue defecar já que todas as vísceras estão protrusas dentro da região perineal e o reto
normalmente está desviado ou obstruído.
 Exame físico:
 Palpação retal e perineal: Para identificação de defeito muscular; Identificação de presença de
saculações retais; Desvio retal; Palpação da próstata.
 Diagnóstico
 Base mínima de dados:
 Pré-operatório;
 Os animais desenvolvem frequentemente Azotemia pós-renal - Essas hérnias normalmente
modificam dois sistemas, o sistema renal e o digestório. O paciente pode estar séptico e
normalmente estará com azotemia (aumento dos compostos nitrogenados no sangue sem
sinais clínicos de insuficiência renal) ou uremia (há sinais clínicos de insuficiência renal).
Azotemia pós-renal  Porque o problema está na obstrução das vias urinárias (problema
depois do rim). Muitas vezes o conteúdo herniado é a própria bexiga que fica retrovertida e
assim tem a obstrução.
 Leucocitose - Relacionada a possível desvitalização de vísceras em função do estrangulamento e
translocação bacteriana.
 Palpação perineal e retal: Para identificar se é uni ou bilateral; Identificar qual é o conteúdo herniado.
 Exames de imagem  Raio-X pode nos auxiliar, radiografias contrastadas tem grande valor:
 Deve determinar qual é o conteúdo herniado;
 O tamanho e posição da bexiga e da próstata, porque elas tem grande relação com o problema,
bem como da uretra e cólon.
 Diferenciais: Neoplasias, abscessos e/ou cistos prostáticos.
 São 4 tipos de hérnias perineais:
 Hérnia perineal ciática - rara;
 Hérnia perineal dorsal - rara;
 Hérnia perineal caudal - comum;
 Hérnia perineal ventral - rara.
 Anatomia: Músculo elevador do ânus; Músculo coccígeo; Músculo esfíncter anal esterno; Músculo
obturador interno.
 Tratamento
 Clínico:

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 O tratamento clínico visa identificar as alterações do paciente - O paciente vai estar
desidratado, terá constipação por causa do conteúdo e terá desequilíbrios metabólicos, então
precisamos corrigir e estabilizar o paciente;
 Ponto importante  Corrigir a azotemia pós-renal - Devemos dar patência a via urinária através
da cateterização, colocamos um cateter na bexiga e fazemos a drenagem da urina, mantemos
este cateter no paciente antes e durante o procedimento. Hidratar o paciente para reverter o
quadro de azotemia. Cistocentese;
 Tenesmo - Manejo dietético. Deve ser feito o jejum, uso de laxantes, substâncias emolientes e
enemas para dissolver as fezes facilitando a eliminação, diminuindo assim o volume fecal e
preparando o paciente para cirurgia. Já é uma cirurgia contaminada, se trabalharmos com o
trato digestório cheio de fezes é ainda pior, a contaminação cirúrgica favorece a ocorrência de
recidivas;
 Identificar a presença e ocorrência de colites e cistites infecciosas que deverão ser tratadas
concomitantes ao tratamento.
 Cirúrgico:
 Reposicionar os órgãos;
 Reconstruir o diafragma pélvico;
 Prevenir recidiva
 Obstrução urinária; Emergência Cirúrgica
 Estrangulamento de vísceras; (Não há tempo de fazer jejum e laxativos,
deverá entrar logo para a cirurgia)
 2 técnicas cirúrgicas são mais utilizadas:
 Técnica padrão - Utiliza a própria musculatura do esfíncter anal.
 Técnica de transposição do músculo obturador interno - Com avulsão de sua origem.
 Anatomia cirúrgica: Músculo coccígeo; Músculo
esfíncter anal esterno; Músculo elevador do ânus;
Músculo obturador interno; Músculo bulbo
esponjoso; Músculo isquiocavernoso; Músculo
semitendinoso; Músculo retrator do pênis.
 Transoperatório:
 Incisão curvilínea dorsoventral sobre a
hérnia, 1 a 2 centímetros lateral ao ânus;
 Incisão do subcutâneo e saco herniário -
Nessa hérnia abrimos o saco herniário
para facilitar o reposicionamento e para
avaliar o conteúdo, principalmente se tem sinais de encarceramento ou estrangulamento;
 Reduzir o conteúdo herniário;
 Proteger e defeito com tampão umedecido - O ânus deve ser obliterado, pode ser usado gaze
ou sutura boca de tabaco, isso é feito para evitar a contaminação da ferida cirúrgica. Não pode
ter presença de fezes para poder suturar o ânus, porque se tiver vamos ter um grande trabalho
com o conteúdo.
 Proceder a herniorrafia
 O melhor posicionamento do cão é com os membros pélvicos apoiados até a região do tarso,
decúbito ventral. A mesa deve estar levemente inclinada para a gravidade ser um fator que nos
ajude, portanto a região caudal do animal deve estar mais elevada.
 Atenção a identificação de: Artérias e veias pudendas internas; Nervo pudendo; Nervo retal
caudal; Vasos retais; Ligamento sacrotuberoso. Não puncionar e nem ancorar nenhuma dessas
estruturas, pois isso determinaria estases venosas ou claudicação grau 5 (o animal não vai
apoiar o membro no solo), além disso pode gerar uma clínica de dor muito grande no pós-
operatório.

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 Técnica padrão - Após abertura e reposicionamento das vísceras vamos colocar suturas interrompidas
ancorando o músculo coccígeo no músculo elevador anal bem dorsal, à medida que vai se tornando
ventral ancoramos o músculo elevador anal no músculo esfíncter anal esterno, mais ventralmente
vamos utilizar a borda do músculo obturador interno para fechar o defeito juntando os três músculos
sem contudo rebatê-lo em sua origem pélvica.
 Variação da técnica padrão mais utilizada  Transposição do músculo obturador interno - Se
considerarmos insuficiente e fraca a musculatura para o fechamento, além do elevador anal e do
esfíncter anal esterno podemos ampliar a incisão até a inserção pélvica do obturador interno, disseca-lo
de sua inserção com o periostomo (instrumento que eleva o periósteo) e rebatê-lo dorsalmente.
Fazemos suturas de tensão no sentido do elevador anal com o esfíncter anal esterno, e no sentido do
coccígeo e do elevador anal com o músculo obturador fechando nos dois sentidos.
 Transposição do músculo semitendinoso - Muito cruento, não é muito utilizada. É feito uma incisão até
a origem e inserção do músculo semitendinoso dissecando-o, abrindo até a hérnia. O tarso fica restrito
mas não é um fator impeditivo. Seccionamos distalmente o músculo e transpomos utilizando ele para o
fechamento do defeito.
 Implantes: Fáscia lata - Malha de polipropileno. Se o defeito é muito grande ou se já tentamos utilizar a
técnica padrão e houve recidiva podemos tentar utilizar implantes. Fáscia lata: É feito uma incisão na
coxa, removemos um retalho triangular de fáscia lata do sítio doador e depois ancoramos utilizando os
músculos obturador interno, esfíncter anal esterno, elevador anal e coccígeo para o fechamento do
defeito. A mesma técnica é feita utilizando malha de polipropileno.
 Complicações pós-operatórias:
 Alto índice de recidiva - 10 a 46%;
 Deiscência e infecção da ferida - 6 a 26%;
 Ancoragem do nervo ciático - Gera claudicação grau 5 e a necessidade de remover a sutura que
está ancorando o nervo;
 Tenesmo ou prolapso retal - 8 a 13%;
 Deformidade anal nos casos em que a hérnia é bilateral;
 Prolapso retal - casos bilaterais.
 Prognóstico:
 Unilaterais não complicadas: Bom e reservado.
 Bilaterais ou unilaterais complicadas: Ruim.

HÉRNIA INGUINAL
 Conceito:
 Saída de estruturas ou órgãos pelo canal inguinal para a região inguinal ou inguino-escrotal.
 Epidemiologia
 Ocorre em pequenos e grandes animais;
 Epidemiologicamente verificamos a ocorrência nessa ordem: Suínos > equinos > cães > gatos;
 Em pequenos animais é um problema da fêmea: Fêmeas são mais afetadas que machos - cães (nos
machos é raro);
 Em grandes animais é um problema do garanhão: Garanhões apresentam canal inguinal mais largo.
 Nos garanhões está relacionada ao canal inguinal largo e permissivo;
 Nos machos pode estar relacionado ao criptorquidismo. Em cães o criptorquidismo normalmente é
bilateral;
 Fatores de risco em cães (fêmeas): Obesidade; Gestação; Trauma; Hormonal.
 Etiologia
 Congênita:
 Principalmente vista na deiscência testicular tardia;
 Subdesenvolvimento do músculo oblíquo externo.
 Hereditária:

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 Existe a questão de muitas linhagens de cavalos que tem hérnia inguino-escrotal adquirida na
fase adulta.
 Herança poligênica no Cocker spaniel e Teckel.
 Não traumática:
 Tem maior predisposição anatômica em fêmeas;
 Hormonal:
 Estro ou prenhez - Quando o animal está submetido aos níveis de estrógeno;
 Garanhões está relacionado a testosterona, mas principalmente relacionado a mal
formação do anel no canal inguinal;
 Metabólica/nutricional:
 Obesidade (muita gordura visceral) - Aumento da pressão abdominal com dilatação do processo vaginal
permitindo o extravasamento de vísceras.
 Traumática: Tração; Cobertura; Enfraquecimento ou ruptura dos músculos abdominais.
 Muitas vezes é uma hérnia sazonal - Além de sabermos que existe uma hereditariedade percebemos
uma sazonalidade em relação a ocorrência de hérnias inguino-escrotais no garanhão. Elas ocorrem mais
no início da estação de monta, isso está relacionado ao tempo que o garanhão permanece em repouso
durante todo o inverno, com isso toda a sua musculatura abdominal e pélvica ficam enfraquecidas.
Quando começa a estação de monta o garanhão cobre as éguas e isso envolve um exercício físico
intenso e vigoroso, além disso a propriocepção também é afetada sendo um pouco reduzida. Também
ocorre o aumento da pressão abdominal no momento da cobrição, pois o abdômen do garanhão é
pressionado por estar apoiado no dorso da égua.
 Classificação
 Dois tipos de hérnias inguinais:
 Indireta:
 Mais comum;
 A passagem da víscera se dá por dentro do processo vaginal ficando dentro
da túnica vaginal (o processo vaginal é um dobramento do peritônio que se insinua
para dentro da bolsa escrotal. A túnica vaginal é uma fáscia, é firme, não tem
capacidade elástica nenhuma);
 Conteúdo herniado no processo vaginal;
 Contato direto com testículos - hérnia inguino-escrotal.
 É a mais grave e é estrangulativa, porque o intestino se insinua por dentro
da túnica vaginal ficando em contato direto com o testículo. O segmento intestinal
que entra normalmente é pequeno (30-40 cm), mas a pressão da túnica vaginal é
tão grande que essas hérnias normalmente são estranguladas, são emergências cirúrgicas.
 Direta:
 Menos comum;
 É classificada pela insinuação das vísceras através do canal inguinal (que é
um canal muscular) por fora do processo vaginal ficando fora da túnica vaginal, a
víscera não fica em contato direto com o testículo, ela disseca o subcutâneo. A
víscera entra por uma lesão no peritônio que permite a passagem da víscera pelo
canal inguinal fora da cavidade vaginal.
 Conteúdo herniado adjacente ao processo vaginal;
 Túnica vaginal separa o conteúdo dos testículos;
 São hérnias grandes, não estranguladas.
 Apresentação Clínica
 Varia de acordo com a apresentação, se ela é indireta ou direta, encarcerada ou não encarcerada;
 Aumento de volume na região inguinal nas fêmeas (cães) - Deve ser diferenciado durante a palpação de
situações muito comuns na fêmea de pequeno porte, como tumores de mama, mastites, adenopatias
inguinais e tumores metastáticos para os linfonodos inguinais;

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 No macho (equino) ocorre um grande aumento de volume, firme a palpação com diminuição da
temperatura e assimetria escrotal. A bolsa escrotal do lado acometido fica muito firme a palpação
porque normalmente há um processo estrangulativo, o conteúdo é irredutível;
 Sinais de abdômen agudo (dor abdominal) por estrangulamento ou encarceramento em qualquer
espécie animal;
 Dor; Vômito (animais que vomitam) /refluxo nasogástrico pela sonda nasogástrica (animais que não
vomitam); Letargia; Sinais variados de toxemia;
 Hérnias diretas:
 São hérnias grandes, mas com poucas complicações clínicas.
 Hérnias indiretas:
 Geralmente estranguladas pelo anel inguinal. Normalmente o animal tangencia o choque
séptico e hipovolêmico.
As hérnias inguino-escrotais congênitas mesmo que indiretas em potros normalmente não são encarceradas ou
estranguladas, muitas vezes apresentam um volume grande e com a palpação da região escrotal conseguimos passar
vários dedos para dentro da cavidade abdominal pelo anel inguinal. São hérnias que podemos esperar para tratar,
normalmente desaparecem sozinhas até 1 ano de idade, basta haver o fortalecimento da musculatura abdominal e o
desenvolvimento da musculatura de quadríceps e tríceps da coxa e da face interna da coxa do animal. Então hérnias
inguino-escrotais em potros o tratamento é conservativo. O tratamento cirúrgico em potro é implementado quando
começar a ter sinais de cólica, essas cólicas irão começar como cólicas recorrentes e não como cólicas agudas,
gravíssimas e cirúrgicas. O tratamento cirúrgico também será indicado se após 1 ano de idade ela não desaparecer.
Podemos encontrar concomitante a hérnia uma neoplasia mamária e até mesmo uma metástase para linfonodos,
mas temos que entender toda a região antes do início da cirurgia para não nos depararmos com o diagnóstico errado.
O que difere a hérnia inguinal de uma neoplasia à palpação é que o tumor é uma massa firme, delimitada,
desconectada da musculatura. Na hérnia vamos encontrar tecido flutuante, líquido, gás de dentro das alças intestinais e
conseguimos reduzir e encontrar os limites do anel inguinal.
 Diagnóstico
 Exame clínico - Muito importante. É preciso ter atenção porque a região inguinal é uma região rica em
vasos, linfonodos e glândulas. Tentar fazer o diagnóstico diferencial;
 Contra indicado Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF) - É contra indicado pois há a presença de
vísceras, então acabaríamos perfurando e transformando um sítio limpo em um sítio contaminado.
Seria indicado em tumores (lipoma, mastocitoma);
 Os exames de imagem precedem sempre qualquer indicação de punção aspirativa:
 Utilizado para avaliar o conteúdo herniado  Tanto o raio-X quanto o ultrassom nos auxiliam.
Os principais conteúdos que estarão presentes nessa região são: Omento; Intestino; Útero
gravídico; Bexiga.
 Diferenciais:
 Hérnia perineal ventral;
 Neoplasias testiculares ou escrotais;
 Orquite;
 Torção testicular ou escroto agudo que ocorre em cães. Em equinos é raro;
 Neoplasia mamária ou mastite;
 Hematomas;
 Lifoadenopatia, aumento de volume dos linfonodos ou metástases tumorais para linfonodos;
 Abcessos.
 Tratamento
 Cirurgia de urgência ou cirurgia de emergência quando houver:
 Encarceramento ou estrangulamento  Com abdômen agudo e todos os outros sinais de
interrupção do fluxo digestivo;
 Peritonite pode ser encontrada.
 Orquiectomia é sempre indicada - Para não ter recidiva do lado contralateral e para não transmitir essa
patologia hereditariamente. Podemos indicar a orquiectomia, mas quem decide se ela será realizada ou
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não é o proprietário. Se a hérnia é nova e não tem comprometimento testicular do lado acometido não
castramos nem o lado da hérnia, mantemos o testículo, abrimos a túnica vaginal próximo ao anel,
reduzimos a hérnia, fechamos o anel inguinal do lado herniado (anel inguinal externo). Se a cirurgia está
ocorrendo bem e o animal está bem na mesa de cirurgia aproveitamos para fechar o anel inguinal
externo do outro lado para não permitir a passagem, evitando que ocorra hérnia no outro testículo.
Fechamos apenas 2/3 do anel, se fecharmos tudo causará isquemia e necrose do testículo. Se o
testículo está acometido castramos, para isso não precisamos de autorização, temos que informar ao
dono que é necessário, pois o testículo irá necrosar causando alterações mais graves podendo levar a
morte do paciente. Se a cirurgia está lenta e o paciente não está bem fechamos o anel inguinal externo
do lado acometido e indicamos que ele volte após 6 meses para fechar o outro lado.
 Laparotomia concomitante em equinos (hérnias encarceradas/estranguladas) - Normalmente nas
hérnias estranguladas em 99% dos casos teremos que fazer penectomia de algum segmento e haverá
outras alterações abdominais secundárias, então nunca iremos abrir somente a região inguinal,
devemos fazer a laparotomia exploratória para correção das outras alterações. Ex.: Pode ter
deslocamento do cólon, compactação, distensão grande de intestino delgado, vólvulo deslocamento.
Antes acreditava-se que a laparotomia principalmente em equinos reduzia muito o seu prognóstico com a
presença da peritonite. Antigamente um cavalo com peritonite era um cavalo sentenciado ao óbito, não havia muito
recurso terapêutico para o tratamento da peritonite. Com a evolução das técnicas, o tempo de encaminhamento,
conscientização das pessoas, hoje percebemos que o cavalo com peritonite pode ou não morrer e normalmente quando
operamos um cavalo de cólica algum grau de peritonite ele já possui, então a muito tempo já operamos e salvamos
cavalos com peritonite já instalada e ninguém antes havia percebido a questão do prognóstico dos cavalos que
operamos já apresentando peritonite, que está sendo um prognóstico bom, isso difere um pouco da literatura e do
consenso geral de quem vivenciou a época em que a gastroenterologia equina não era bem desenvolvida no Brasil.
 Anatomia do canal inguinal: Musculatura dos oblíquos retos do abdômen, passando dentro dos canais
inguinais além da vasculatura do testículo veia e artéria testicular, temos o conjunto de veia, artéria e
nervo pudendo, aponeuroses dos músculos abdominais externo, reto e interno e tendão pré-púbico,
estes formam o canal inguinal com sua lâmina interna e externa.
É uma região rica em vascularização, isso nos obriga a realizar uma divulsão romba ou digital. Também
é uma região rica em aponeurose que é um tecido que confere sustentação as suturas.
 Transoperatório:
 Incisão:
 Fêmeas - Linha sagital mediana se a hérnia for bilateral, por este acesso conseguimos
fazer os dois lados;
 Machos - Sobre o anel inguinal ou imediatamente paralelo ao canal inguinal.
 Se a hérnia é não complicada não fazemos a abertura do saco herniário, fazemos identificação e
isolamento do saco e reduzimos o conteúdo;
 Se é uma hérnia complicada teremos que fazer a abertura do saco herniário para fazer avaliação
do conteúdo herniado, estando tudo bem realizamos redução;
 Herniorrafia: Músculo oblíquo externo no músculo reto do abdômen. Podemos fechar apenas
2/3 do anel inguinal externo, é suficiente para fazer contenção das vísceras e para que não
ocorra recidiva do lado operado, o outro lado se não formos castrar o animal também devemos
fechá-lo.
 Ancoragem é feita de cranial para caudal com pontos Em X e fios inabsorvíveis (náilon).
 Complicações:
 Se fizermos uma divulsão cruenta vai resultar em hematoma, hemorragia e formação de
seromas, por isso a divulsão deve ser romba ou digital, incisão é somente na pele;
 Infecção da ferida cirúrgica - Por quebra de técnica cirúrgica asséptica;
 Peritonite - Se puncionar;
 Edema por ancoramento de estruturas neurovasculares;
 Recidiva - Não é muito comum nesse tipo de hérnia.
 Prognóstico:

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 Bom nos casos simples (tanto em animais de pequeno porte quanto animais de grande porte);
 Reservado a ruim nos casos com: Cólica; Quando encarcerada por problemas relacionados não a
herniorrafia, mas as lesões no intestino; Abdômen agudo. Animais de pequeno porte  Bexiga,
intestino ou útero gravídico no conteúdo herniado.

HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA
 Conceito:
 Hérnias verdadeiras são aquelas em que o conteúdo passa e migra pelo hiato esofágico porque há uma
deficiência no fechamento do hiato esofágico, assim temos hérnias de hiato:
 Hérnia diafragmática peritoneopericárdica;
 Hérnia diafragmática pleuroperitoneal;
 Hérnia de hiato.
Ocorre o extravasamento de vísceras da cavidade abdominal para a cavidade torácica. O grande problema, seja
hérnia verdadeira seja hérnia falsa, é o tamponamento pulmonar e o tamponamento cardíaco, já que quando há o
rompimento do diafragma os órgãos abdominais invadem a cavidade torácica. Nesse caso os animais desenvolverão
quadros variáveis de insuficiência cardiorrespiratória, são animais críticos, é uma urgência cirúrgica.
Todas as outras lesões diafragmáticas advindas de atropelamento, quedas, etc., causam aberturas e lesões na
musculatura diafragmática, então o anel herniário não é verdadeiro, assim temos uma falsa hérnia. Essa falsa hérnia é
definida como Eventração.
 Hérnia falsa:
 Hérnia diafragmática traumática.
 Hérnia Diafragmática Traumática
 Melhor classificada como uma Eventração;
 É caracterizada pela ruptura da porção muscular do diafragma com passagem de vísceras abdominais
para a cavidade torácica (principalmente intestino, estômago e fígado);
 Interferência principalmente no sistema cardiovascular e respiratório;
 Ocorre principalmente em atropelamentos;
 Caracterizada pelo aumento da pressão intratorácica, tamponamento pulmonar que gera: Atelectasia
alveolar; Hipoperfusão periférica (animal cianótico); Hipóxia; Hipercapnia (aumento de CO2 no sangue).
 Apresentação clínica:
 Histórico de trauma, quedas, atropelamentos;
 Importante fazer uma pesquisa de fraturas de costela (palpar todo o arco costal do animal),
porque pode não ser apenas uma hérnia diafragmática, pode haver agravantes ao quadro de
hérnia, por exemplo a fratura de costela (Gera fratura em galho verde - Quebra e não separa,
deixa um monte de espículas ósseas aparentes na região do parênquima pulmonar, causando
lesões pulmonares, enfisema pulmonar e pneumotórax, isso leva a perda da pressão positiva
que seria mais grave, além do tamponamento pulmonar);
 Dispneia leve a grave, o animal normalmente adota uma posição ortopnéica;
 Pode progredir ao choque por tamponamento.
 Diagnóstico: Raio-X da região toracoabdominal.
 Tratamento:
 Patência de via aérea e suporte ventilatório - Oxigenoterapia (ventilador mecânico). É
importante dar aporte ventilatório e patência de via aérea antes de posicionar o animal para
fazer a radiografia, porque vamos colocá-lo em uma posição que pode dificultar ainda mais a
respiração e isso pode leva-lo a morte.
 A cirurgia pode ocorrer por Toracotomia ou Celiotomia ou ambas, depende do tipo do
problema;
 O objetivo é fazer herniorrafia e fazer o reparo das lesões de reperfusão que ocorrem nas
vísceras, se houver necrose ou desvitalização essas vísceras deveram ser removidas o que
justifica dois acessos.

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 A posição da mesa de cirurgia é inclinada, o animal fica em decúbito dorsal com a região da
cabeça mais elevada para que a gravidade favoreça a respiração.
 A sutura pode ser pelo padrão Em X. Eventualmente podemos utilizar implantes (Fáscia lata,
pericárdio bovino).
 Retornamos a pressão negativa ao final da herniorrafia utilizando um dreno com aparelho de
sucção, quando percebermos o retorno do diafragma apertamos o último ponto e removemos o
dreno. O anestesista também pode nos ajudar expandindo ao máximo o pulmão, fazendo um
recrutamento alveolar, colocando uma pressão maior que o fisiológico dentro dos pulmões (50-
60 centímetros de ar dentro dos pulmões), isso faz com que todo o pulmão se infle ao máximo
ocupando toda a cavidade torácica e então damos nosso último ponto.

EVENTRAÇÃO
 Conceito:
 Saída de vísceras ou estruturas abdominais através da parede abdominal sem exteriorizar pela pele,
através de um defeito adquirido na parede abdominal.
 Parede abdominal debilitada.
 Sinônimo de eventração é um termo que foi consagrado pelo uso: hérnia incisional.
 A eventração é parecida com a hérnia porém não tem a presença dos três componentes. A origem do
anel herniário é diferente.
 Componentes:
 Conteúdo;
 Saco herniário;
 Anel neoformado ou cicatricial  O anel herniário na hérnia verdadeira é um orifício
anatômico natural, fisiológico, na eventração é traumático adquirido.
 Pele.
 Não tem contato da víscera com o ambiente;
 Maior incidência em grandes animais - equinos;
 De qual forma temos um defeito traumático na musculatura sem que a víscera se exteriorize para o
meio externo? A eventração é uma complicação de cirurgias abdominais, como vemos no equino e no
cão, pode ocorrer quando há deiscência da camada muscular sem haver deiscência da pele e do
peritônio resultando em hérnias incisionais. Outro modo de eventração são as contusões de segundo
grau, contusões são fruto de ação de impacto e objeto rombo, causando descontinuidade, lesão com
separação de fibra muscular sem haver separação da pele, então as eventrações são fruto de traumas.

Trauma Cirurgia Infecção

Fragilidade da musculatura abdominal

Passagem de vísceras para o subcutâneo


Todo o tratamento é parecido com uma herniorrafia, mas levamos em consideração apenas o tempo. Temos que
pesquisar se tem aderência. Onde é mais fácil ter aderência, na eventração ou na hérnia natural? Na eventração,
porque é fruto de trauma, de processo inflamatório, de cicatrização, onde tem o desenvolvimento de fibroplasia. A
hérnia podemos operar em qualquer momento, já a evisceração como é fruto de um processo cicatricial e inflamatório
quanto mais tempo passar melhor porque a borda vai estar mais forte. Quando o processo cicatricial começa a se
organizar na fase de reparo há uma grande fase proliferativa em que há a produção de tecido fibroso (fibroblasto), o
direcionamento desse tecido fibroso é todo desorganizado, a partir do processo de proliferação vai havendo
remodelação, na remodelação as pontes fibrosas desorganizadas são reabsorvidas e a pontes organizadas são
reforçadas, então há um processo de substituição de um colágeno ruim tipo 3 por um colágeno melhor tipo 1.

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Então qual o truque para ter bom prognóstico em uma reparação de uma eventração? Devemos esperar a definição
da borda, conclusão do processo inflamatório, conclusão do reparo com definição de bordas que sejam maduras,
porque se intervirmos antes não conseguiremos estabelecer bem os limites da borda porque ainda terá muita
inflamação e mesmo se realizarmos a sua ancoragem é um tecido que é friável, não remodelado, não resistente, o fio
vai cortar todo o tecido ocorrendo recidiva.
 Etiologia
 Hérnia incisional (eventração):
 Incisão incorreta: Lesão de nervos, vasos, músculos e aponeuroses;
 Fechamento incorreto: Fios de rápida absorção, muito apertado, muito espaço morto; Necrose
isquêmica; Seroma;
 Hemostasia inadequada: Cria hematoma dissecante, nichos para infecção;
 Infecção da ferida cirúrgica;
 Tensão abdominal excessiva no pós-operatória: Tosse ou vômito persistente; Ascite;
Timpanismo; Constipação; Retenção urinária;
 Estado geral do paciente no pré-operatório.
 Sinais Clínicos
 Aumento de volume não doloroso se não estiver na fase inflamatória aguda;
 Presença de exsudato;
 Edema;
 Poderá haver anel palpável ou não. Inicialmente na fase inflamatória o anel não é bem delimitado,
passa a ficar melhor delimitado a medida que ocorre diminuição da inflamação, resolução do reparo e
maturação: O anel é cicatricial (devemos esperar a maturação da cicatriz para realizar a herniorrafia,
porque assim o anel terá resistência).
 Diagnóstico
 Baseado na história e exame físico;
 Não recomenda-se a Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF);
 Raio-X e US: Identificação do conteúdo. Pesquisa da borda - Se o anel está bem delimitado, bem
definido. Avaliar se a ecogenicidade dele é parecida com o resto da parede, porque se for igual indica
maturação. Se estiver hipoecoico é porque ainda tem muito edema, hiperecoico é desorganização das
fibras. Devemos avaliar a espessura do anel, se há aderências.
 Diagnósticos diferenciais: Neoplasias; Abscessos; Hematomas; Seromas.
 Tratamento
 Prezar pela profilaxia;
 Tratamento exclusivamente cirúrgico;
 Trans-cirúrgico:
 Retorno das estruturas para a cavidade;
 Fechamento do anel - suturas de tensão - Se for permissível e fácil de aproximar fazer pontos
Em X, caso não seja o uso de implantes é recomendado;
 Evitar incisões cutâneas sobre a musculatura rompida.

EVISCERAÇÃO
 Conceito:
 Saída de vísceras da cavidade abdominal para o exterior do organismo.
 Associam-se a complicações das laparotomias ou feridas perfurantes abdominais que rompam todos os
planos teciduais:
 Ruptura do peritônio;
 Ruptura dos músculos abdominais;
 Ruptura de tecido subcutâneo e pele.
 Etiologia
 Trauma acidentais:

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 Objetos perfurantes;
 Mordeduras;
 Cirúrgico:
 Fios inadequados - Ancoragem ruim, nó de vó, incompatibilidade da espessura do fio
com a parede;
 Suturas frouxas;
 Rejeição ao fio;
 Infecção;
 Interferência do paciente - É preciso colocar o colar elisabetano para evitar.
 Sinais e Diagnóstico
 Identificado pela visualização na inspeção.
 Pode estar acompanhado de:
 Vísceras ressecadas, desvitalizadas ou já necrosadas, com vários pontos de torção (muitas vezes
demanda várias enterectomias);
 Remover sujidades;
 Automutilação;
 Conter as hemorragias.
Emergência
 Tratamento
Cirúrgica
 Pré-operatório:
 Antibioticoterapia de amplo espectro;
 Lavagem abundante de todo o conteúdo da cavidade abdominal com salina estéril aquecida;
 Proteção com compressas estéreis úmidas evitando agregar mais sujidades.
 Transoperatório:
 Celiotomia exploratória ampla;
 Lavagem abundante das vísceras e cavidades;
 Avaliar viabilidade das vísceras excisando o que não estiver viável.
 Pós-operatório:
 Antibioticoterapia;
 Podemos ou não deixar drenos abdominais para lavagem peritoneal - Está a cargo do cirurgião e
da leitura do próprio peritônio;
 Internação - Monitoração intensiva (no mínimo 72 horas de internação);
 Prognóstico ruim;
 Alto risco de peritonite séptica - Deve ser tratada de forma terapêutica;
 Instituição de dieta de alta digestibilidade com alto teor energético e proteico (patês).

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