Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Hérnia do grego hernos (rebento). Chegou até nós pelo latim, hernia (quebradura). Significa ainda
"tumor mole" pela extrusão de uma víscera ou gordura.
Definição clássica: "É a protrusão de uma víscera de sua cavidade normal, através de uma
abertura congênita ou adquirida".
Outras definições:
+ "É a solução de continuidade da estrutura musculoaponeurótica das paredes abdominais".
+ "É um defeito da continuidade normal, musculoaponeurótica e fascial na parede do abdome, no
diafragma ou no assoalho pélvico, congênito ou adquirido, que permite a saída de quaisquer
estruturas que não sejam as que normalmente passam através das paredes" (Davis, 1968). É a
definição mais completa por envolver os diferentes locais que ocorrem.
CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DAS HÉRNIAS
Topografia: localização da hérnia – epigástricas, umbilicais,
lombares, paramedianas ou de Spiegel, incisionais (acesso
cirúrgico), inguinais, crurais (femorais).
Etiologia: congênitas (persistência do conduto peritônio
vaginal [hérnia inguinal indireta], mal formações músculo
aponeurótica); adquiridas (pós-operatórias, traumas).
Redutibilidade:
+ Redutível: coercível (quando reduzida, se mantém até
novo esforço) ou incoercível (quando reduzida, retorna à
condição anterior imediatamente).
+ Irredutível: encarcerada (presa na parede) ou estrangulada (gangrenosa).
Incidência: primária ou recidivada.
Simetria: unilateral ou bilateral.
Concomitância de áreas com hérnia
+ Hérnia dupla: indireta e direta; inguinal e crural.
+ Hérnia tríplice: inguinal direta, indireta e crural.
Grau de exteriorização do conteúdo herniário
+ Hérnia interna: não se exterioriza. Ex. hérnia diafragmática (da cavidade abdominal para
cavidade torácica), hérnia pelo forame omental (de Winslow), hérnias mesentéricas (comum em
cirurgias).
+ Hérnias externas: são visíveis e palpáveis.
Tipo de saco herniário
+ Membrana serosa (ex. conduto peritônio vaginal).
+ Parede da víscera faz parte do saco herniário (ex. hérnia de deslizamento [hiato] - segmento
abdominal do esôfago e estômago).
Conteúdo da hérnia
+ Hérnia adiposa: gordura pré-peritoneal ou omento (ex. hérnia epigástrica).
+ Hernia de Lavater ou Richter: borda anti-mesentérica do intestino, com encarceramento ou
estrangulamento e sem obstrução.
+ Hérnia de Amyand: apêndice vermiforme.
+ Hérnia de Littré: divertículo de Meckel.
+ Intestino delgado e cólon: alças intestinais.
+ Hérnias de hiato diafragmático: estômago.
+ Hérnias diafragmáticas: em hérnias granes pode ter fígado, suprarrenais, baço.
ETIOLOGIA
Fatores predisponentes:
Nathalia Crosewski – 2013.2
Cirurgia Geral| Aula 9 - Página |2
Cuidados pré-operatórios
+ Detalhada avaliação clínica, laboratorial e por imagem (conhecer bem a hérnia).
+ Diagnóstico diferencial apurado.
+ Abolir fumo (tossir no pós-operatório).
+ Tratar previamente: obstrução urinária (prostatismo), podendo fazer as duas cirurgias juntas;
distúrbios cardiorrespiratórios (tosse crônica); obstipação intestinal severa.
+ Redução de peso corpóreo.
+ Cuidados com a pele (ex. áreas de necrose ou infectadas).
+ Avaliar distúrbios metabólicos (diabetes, IRA, etc).
+ Orientação quanto ao período de repouso pós-operatório (não pode dirigir, trabalhar, fazer
atividade física) que pode variar de 2-4 meses.
Variáveis para o tratamento
+ Via de acesso
- Convencional (a céu aberto): pode resolver sem entrar na cavidade abdominal (abre pele,
subcutâneo, aponeurose do obliquo externo; abre funículo espermático e coloca conteúdo para
dentro; fecha o funículo, parede, etc).
- Laparoscópica peritoneal
- Laparoscópica pré-peritoneal: fibrose do espaço retro-púbico dificultando operações futuras.
+ Reforço da parede (plug e tela): pode ser feito com ou sem reforço.
- Acesso tranperitoneal: descrito originalmente por Stoppa. Abrir e colocar uma tela entre a
parede abdominal e o peritônio. Precursor do reparo laparoscópico pré peritoneal.
- Recidivas: uma revisão da Cochrane (2003) concluiu que o reparo com tela resulta em 50-75% de
redução da recidiva baseado em meta-análises de 20 estudos. Entretanto esses valores variam
com o tipo de paciente, então não são dados completamente confiáveis.
- Tipos de telas: vários tipos, depende da indicação (mais rígidas, mais maleáveis, etc).
- Vantagens descritas: incisões menores (nem sempre verdade); diminuição de tempo cirúrgico
(nem sempre é verdade); baixas taxas de recorrência (depende do paciente e do treinamento do
cirurgião).
- Evidências pós estudo: pequenas diferenças no tempo cirúrgico; taxas de recorrência 0-2%;
nenhuma diferença em relação a dor (em alguns casos pode ocorrer mais dor com a tela).
- Plug: cria uma área de fibrose ao redor do anel e a cicatriz retrai, com o tempo o diâmetro
diminui e com o plug lá há compressão do canal inguinal.
Cuidados pós-operatório: mobilização precoce; evitar o uso de faixar de contenção (aumenta
recidiva pois pode aumentar a pressão no local); antibioticoterapia (tela); analgesia adequada
(paciente com dor se contrai); cuidados com drenos (não usar, pois pode contaminar a cavidade
cirúrgica); sonda vesical; cuidados com a sutura da pele; curativos; cuidados alimentares; cuidados
no retorno ao trabalho (explicar para o paciente suas possíveis limitações); prevenir (tosse, soluço,
vômito, distensão abdominal, esforços).
COMPLICAÇÕES
Pré-operatórias: encarceramento; estrangulamento (com ou sem necrose de alça); perfusão da
alça intestinal; peritonite.
Pós-operatórias: deiscência (paciente que não foi bem preparado no pré-operatório); recidivas;
infecções; seromas; hematomas (pois na cirurgia descola demais); necrose de retalhos cutâneos;
trombose venosa; dor.
HÉRNIAS DA REGIÃO INGUINOCRURAL: apresentam fatores etiológicos distintos, mas todas tem
origem na fraqueza da parede posterior da região inguinal e podem ser divididas dependendo do
local de herniação - em inguinal indireta, inguinal direta e crural (femoral).
Limites do canal inguinal
+ Superior: foice inguinal (fibras dos mm. oblíquo interno e transverso).
Nathalia Crosewski – 2013.2
Cirurgia Geral| Aula 9 - Página |5