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Resumo
Neste texto refletimos sobre os princípios pedagógicos na educação de jovens e adultos, tendo
como referência no âmbito legal, documentos oficiais como a Constituição Federal de 1988,
a Lei 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e as Diretrizes Curriculares
Nacionais contidas no Parecer CEB 11/2000 e Resolução CNE/CEB 1/2000. No campo
educativo utilizamos como referência os aportes teórico-metodológicos do pensamento
educacional de Paulo Freire. Centralizamos as nossas reflexões em torno de três questões:
Quem são os/as alunos/as atendidos na Educação de Jovens e Adultos? Por quê educá-los?
Como educá-los?
Princípios Pedagógicos
!!Etária (Não-Infância):
1
Doutora em Educação: Currículo pela PUC-SP. Mestra em Educação pela UFPb. Professora Titular da
Universidade do Estado do Pará e Universidade da Amazônia.
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Existe uma complexidade nesta especificidade etária que precisa ser considerada. No
âmbito das práticas pedagógicas há diferenças de interesses, de motivações e de atitudes face
ao processo educacional entre os jovens, os adultos e os idosos.
O jovem tem um olhar para o futuro. Na transição da infância para a fase adulta está
ligado às inovações tecnológicas, aos modismos dos meios de comunicação, ou seja, às
mudanças que ocorrem no mundo. O adulto está interessado na vida profissional, em ser
inserido no mercado de trabalho, olhando para a sua situação de vida presente. O idoso busca
ser cidadão, viver a sua vida em sociedade sendo respeitado como pessoa e pelo seu passado,
pela sua história de vida. Almeja viver na sociedade com dignidade.
!"Sociocultural:
A educação de jovens e adultos apresenta uma especificidade sociocultural, na medida
em que concentra suas atividades educativas predominantemente em determinados grupos de
pessoas de uma determinada classe social e cultural, ou seja, jovens, adultos e idosos de uma
classe economicamente baixa. De modo geral, são trabalhadores assalariados, do mercado
informal ou do campo, que lutam pela sobrevivência na cidade ou no interior, apresentando
em relação à escola uma desconfiança, por não terem tido acesso à escola ou já terem sido
evadidos. Jovens, adultos e idosos «marginalizados» pelo sistema econômico - social, vistos
como «analfabetos» e muitas vezes considerados «incapazes de aprender».
Segundo OLIVEIRA:
O adulto, no âmbito da educação de jovens e adultos, não é o
estudante universitário, o profissional qualificado que freqüenta
cursos de formação continuada ou de especialização (...) Ele é
geralmente o migrante que chega às grandes metrópoles
proveniente de áreas rurais empobrecidas, filho de trabalhadores
rurais não qualificados e com baixo nível de instrução escolar
(muito freqüentemente analfabetos), ele próprio com uma
passagem curta e não sistemática pela escola e trabalhando em
ocupações urbanas não qualificadas, após experiência no
trabalho rural na infância e na adolescência, que busca a escola
tardiamente para alfabetizar-se ou cursar algumas séries do
ensino supletivo (1999, p.59).
!"Ético-política:
A educação de jovens e adultos também se caracteriza por uma especificidade ético-
política, porque está no centro da relação de poder existente entre os escolarizados e não-
escolarizados, entre os alfabetizados e os não-alfabetizados. Relação de poder construída
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Esse olhar para a criança e não para o adulto está pautado em duas representações:
Desta forma o tempo considerado para a aprendizagem é a infância, que tem uma
perspectiva de futuro (ser produtor na sociedade) e na fase adulta esse tempo de preparação
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Conceito usado por SAWAIA (1999, p.11) para «incorporar a ética, a felicidade e o humano como critérios que
se entrelaçam com o econômico e o político, na análise do processo de inclusão perversa».
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para o futuro já passou. E, quem não teve acesso à escola ou não concluiu sua trajetória
escolar nessa faixa etária, passa a ter dificuldades em iniciar ou prosseguir os seus estudos.
1) Aporte Filosófico-antropológico:
O ser humano é um «ser de busca». É um ser «inconcluso», inacabado e incompleto,
que por perceber “que não sabe tudo”, busca o saber, o conhecimento e o seu aprimoramento
enquanto humano. Por saber-se inacabado é que busca a perfeição.
2) Aporte Epistemológico:
O ser humano é um «corpo consciente», cuja consciência é «intencionada ao mundo;
consciência de algo» (de si e do mundo), pressupondo que a consciência se constitui através
da intenção à realidade objetiva, em uma dimensão dinâmica, na medida em está direcionada
ao mundo para captá-lo, objetivá-lo e transformá-lo. O ser humano «está no mundo e com o
mundo».
3
Explicitados em OLIVEIRA, 2003.
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Para FREIRE (1997, p. 46), «a assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos
outros. É a "outredade" do "não-eu" ou do "tu", que me faz assumir a radicalidade de meu
eu».
A história para Freire é um processo dialético humano, porque «não apenas temos
história, mas fazemos a história que igualmente nos faz e que nos torna portando históricos»
(FREIRE, 2000:40) e de possibilidade, na medida em que considera a mudança difícil, mas
possível.
A educação passa a ter sentido ao ser humano porque o seu existir se caracteriza como
possibilidade histórica de mudanças.«Somos ou nos tornamos educáveis porque, ao lado da
constatação de experiências negadoras da liberdade, verificamos também ser possível a luta
pela liberdade e pela autonomia contra a opressão e o arbítrio» (FREIRE, 2000, p. 121).
!"A educação deve ser compromissada com a transformação social, com o sonho
político de uma sociedade democrática. Educação cuja tarefa é a de denunciar a
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excluídos, marginalizados na sociedade e negados no seu direito ético à formar-se como ser
humano e no seu direito político de participar efetivamente da vida social.
1) A educação como direito público subjetivo, compreendido como aquele pelo qual o
titular de um direito (de qualquer faixa etária que não tenha tido acesso à escolaridade
obrigatória) pode exigir imediatamente o cumprimento de um dever e de uma obrigação.
Direito que pode ser acionado por qualquer cidadão, associações, entidades de classe e o
Ministério Público (Parecer CEB 11/2000 e Art. 5º da LDB/96).
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Declaração de Hamburgo sobre Educação de Adultos (1997, p. 03).
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A própria LDB/96 (§2 do Art.5º ) determina que o Poder público deve assegurar em
primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório, antes dos demais níveis e modalidades de
ensino, que pode ser interpretada como prioridade na destinação dos recursos da União para
esse ensino em detrimento da Educação de Jovens e Adultos.
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Devem ser priorizadas atividades que fazem o educando pensar, descobrir, recriar,
possibilitando-lhe avançar no conhecimento do mundo e na instrumentalização da leitura e
escrita;
Prática que pressupõe uma pedagogia dialógica com uma nova cultura a da
solidariedade, capaz de redimensionar os papéis tradicionalmente estabelecidos e a superação
de práticas individualistas para um trabalho coletivo e solidário, envolvendo a comunidade.
Considerações Finais
Os avanços nos princípios legais estabelecidos pela política educacional devem estar
coadunados com as práticas de gestão e pedagógicas nas escolas. Não se pode deixar de se
considerar que a educação de jovens e adultos se situa no debate ético-político da exclusão
social e na luta pela educação pública e gratuita para todos, com um ensino de qualidade e
democrático, envolvendo a participação das classes populares, o que implica na interação no
ensino escolar entre os saberes (o erudito e popular) e a escola e a comunidade.
Referências Bibliográficas
_____ Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 6ed. São Paulo:
Paz e Terra, 1997.
_____ e SHÖR, Ira. Medo e Ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1986.
OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno. Leituras Freireanas sobre educação. São Paulo: UNESP,
2003.