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A invenção do direito matrimonial

2.1.1. A invenção do Direito matrimonial (séculos XII e XIII)


Por ‘’invenção’’ do Direito matrimonial, quer referir-se à transformação em
normas jurídicas estaduais, em Direito aceite justaposto pelo ‘’Estado’’, das
normas eclesiásticas sobre o casamento que comtemplavam neste um vínculo
indissolúvel, perpétuo, monogâmico, heterossexual e de carácter sacramental.
Uma ‘’ invenção’’ que se centrou e crescer na competência exclusiva
da jurisdição eclesiástica acima do matrimónio presenciada a partir do século
XI.

O século XIII é considerado o século da ordem: política, social,


profissional, religiosa. Uma ordem desejada por Deus, e velada pelo Papa,
detentor das ‘’duas espadas’’, do poder espiritual e temporal.
No decorrer do século IX, nos Estado carolíngeos, existia, no que diz
respeitos aos aspectos pessoais do casamento, uma competência coincidente
de jurisdições. Sendo temática civil, o casamento devia estar subjugado
a
jurisdição laica; expondo da moral cristã, quanto à indissolubilidade, a igreja
achava-se no Direito de o julgar.
Nos séculos subsequentes, a desordem social e politica remete o
casamento para a dominação dos costumes. As separações, os divórcios, as
segundas núpcias na vigência de um casamento antecedente válido, aparenta
terem existido de forma constante.
O ano de 1031 é assinalado por uma modificação na jurisdição da Igreja
em conteúdo matrimonial. Modificação que se engloba num enorme movimento
eclesiástico no sentido de ‘’re’-estabelecer a ordem na igreja e na sociedade
laica.
‘’Reformar a paz’’ é a finalidade dos Concílios de Bourges e de Limoges
que regem de três conteúdos ligados entre si e a paz de Deus, o casamento e
a eficácia prática da excomunhão.
A excomunhão alcançará os senhores que se recusarem a adotar a paz
determinada pelo seu bispo. Mas a reforma dos costumes dos clérigos e dos
leigos acompanha a reforma dos costumes belicosos dos senhores. Os bispos
fazem visualizar que o casamento pertence à sua jurisdição – e reafirmam a
proibição do casamento dos clérigos.
Chamando à sua jurisdição o ‘’casamento dos clérigos’’ – os bispos
abrem o caminho para reivindicarem a sua competência exclusiva sobre o
casamento dos leigos. O concílio de Bourges sustenta que o casamento é
indestrutível, não permitindo assim um novo matrimónio ao cônjuge que repeliu
a esposa por adultério. E, em 1104, os Concílios de Baugency e de Paris,
depois de um extensa hostilidade, tomam conhecimento da promessa feita pelo
rei de França que, sujeitando-se à jurisdição eclesiástica, identifica a invalidade
de um segunda casamento que celebrara ainda no decorrer da vigência do
primeiro.
Assim se sucedeu ao começo do processo de revindicação da
competência exclusiva da Igreja em matéria matrimonial que transportou à
constituição para a Igreja de uma ‘’reserva de lei’’ que ia aprovar a criação, no
seu núcleo, de todo um Direito matrimonial com efectividade externa, tutelado
pelo Estado.
Nos séculos XII e XIII, com a convocação de Concílios gerais e
a
publicação de inúmeras Decretais, o Direito matrimonial desenvolveu-se e foi
objecto de progressivo interesse por parte da doutrina que se
estruturava,
sobretudo a partir de Bolonha.

O matrimónio como sacramento


Os teólogos e canonistas sempre consideraram o matrimónio como
sacramento. Até meados do século XII, a imprecisão sobre a matéria da noção
‘’sacramentum’’ tomado este em seguimento lato, tornava pouco necessária a
qualificação do matrimónio como um sacramento. Deste o século XII, com a
exatidão da noção de sacramento, as dúvidas terminaram.
Santo Alberto Magno considera o matrimónio perfeito pela simples
comutação dos consentimentos. Representando a união de Cristo com a sua
Igreja, através da união dos esposos, confere a graça. Convicções que são
seguidas por S. Tomás de Aquino.

Considerações Finais
Em suma, conclui-se que o tema Evolução Histórica do Direito da
Família (em sentido lato) é bastante complexo, e consagra em si um vasto
conjunto de noções pelos quais o Direito Português se regeu. Para além disto,
é um tema bastante importante e fundamental para perceber o progresso do
Direito da Família

Foi no decorrer do casamento no Direito Romano, visto como um


consenso permanente, que a primeira ideia de casamento se desenvolveu a
partir dos séculos XII e XIII com a obtenção feita pela Igreja, onde se criou um
corpo de normas de Direito canónico que regulavam o casamento enquanto ato
e estado.
Quanto aos canonistas e aos teólogos adotaram dois modelos de
sociedade idealizada: o cosmos presidido por Deus, o mosteiro pelo abade – a
família pelo chefe de família (pai); o mosteiro como arquétipo da sociedade
humana cristã a caminho da salvação, uma vez que abade podia ser demitido,
o que se verificou com alguma frequência na Idade Média, embora o principio a
cargo fosse vitalício.
A evolução do Direito da Família encontrou a sua forma no Concílio de
Trento, que foi fundamental para dar forma ‘’definitiva’’ à corrente dominante.
Isto mesmo nos Estados protestantes, em que, embora o casamento não fosse
visto como um sacramento, onde a sua estrutura e o seu sentido
eram tradicionais.
Conclui-se assim, que a partir do século XII, a importância do dote da
mulher tende a aumentar, mas para o fim da Idade Média, os seus poderes
tenderam a diminuir em benefício do marido, uma vez que era este que estava
no centro da família e que administrava todos os bens familiares.

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