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1.1 A Farinha
A excepcional aptidão do trigo para panificação deriva do facto de ser o único cereal a
possuir a capacidade de formação de glúten, o que permite a produção de uma massa
elástica e obtenção de um pão volumoso, leve, de textura alveolada e macia e boa
digestibilidade.
A operação de Loteamento é feita com base nos resultados obtidos nos ensaios tecnológicos
efectuados à recepção e é função da qualidade dos trigos em stock; tem como objectivo
manter a uniformidade da qualidade da farinha a fornecer às padarias.
Desta forma, trigos de diferentes tipos e zonas de produção são misturados em
percentagens calculadas para a obtenção do desejado teor protéico e qualidade panificável.
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A farinha de trigo não é um produto simples, mas sim composto por vários componentes
individuais em que cada um deles tem uma função diversa na massa.
Indica-se seguidamente uma composição típica:
Vitaminas Vestígios Vitaminas Compl. B , Vitamina E etc. Contribui para o valor nutricional do pão.
A Gordura (ou Lípidos) presente na farinha provém, quer do gérmen, quer das camadas
internas da casca. As gorduras são de ocorrência baixa na farinha; todavia, o seu teor pode
elevar-se, quer por efeito do aumento da taxa de extracção (logo, aumento da incorporação
de gérmen na farinha), quer por a farinha ser proveniente de moagem de ramas, que não
separa o gérmen.
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As Enzimas aparecem na farinha de forma vestigial. São substâncias de natureza proteica e
as mais conhecidas em panificação são: amilase, protease e lipase.
A Amilase actua sobre o amido produzindo dextrinas e maltose (açúcares), sendo de
extrema importância na manutenção de uma quantidade adequada de açúcar directamente
fermentescível para a levedura; o seu teor excessivo, porém, provoca massas muito húmidas
e descaídas pelo que, em anos em que a farinha provém de trigos com teores de
germinação elevados, dever-se-á trabalhar as massas mais frias para reduzir a actividade
enzimática e melhorar o produto final.
A Protease actua sobre as proteínas, designadamente o glúten, destruindo as cadeias
proteicas e colocando vários problemas no caso de se estar em presença de farinhas fracas.
No entanto, com farinhas muito fortes (caso das americanas) é, por vezes, necessário
adicionar proteases para melhorar as características panificáveis da farinha.
Os Açúcares existentes na farinha numa forma directamente assimilável pela levedura não
atingem quantidades apreciáveis (2% no máximo). Apesar disso, são extremamente
importantes para assegurar o arranque fermentativo da massa enquanto maiores
quantidades são produzidas por acção das enzimas amilolíticas sobre o amido lesionado. Os
açúcares mais importantes para garantir uma correcta marcha fermentativa são a maltose,
frutose e glucose.
As Substâncias Minerais que no grão de trigo se encontram até 2%, passam à farinha uma
percentagem que, na grande maioria dos casos, não ultrapassa os 0,75%. Esta quantidade
está relacionada, naturalmente, com os limites legais que regulamentam os diversos tipos de
farinha; no caso das farinhas integrais toda a matéria mineral passa do trigo para a farinha.
Em termos tecnológicos, a quantidade de substâncias minerais (cinzas) presentes na farinha
varia com a taxa de extracção na moagem.
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1.2 A Água
Juntamente com a farinha, a levedura e o sal, a água é uma das matérias primas básicas;
numa massa ela exerce várias funções. Eis alguns exemplos:
A água (da torneira ou de outra fonte diversa) que é usada em panificação não é 100% pura;
diferentes minerais e outros componentes podem encontrar-se dissolvidos na água e
conferir-lhe alguma dureza (presença de certos carbonatos e sulfatos), acidez (pH) e
salinidade (teor em sais). Cada uma destas características tem o seu efeito próprio na
actividade da levedura e nas características da massa.
Águas Duras – endurecem excessivamente o glúten e atrasam a fermentação, sendo
aconselhável aumentar a dose de levedura e a temperatura da massa, diminuir o sal e
aumentar os tempos de fermentação;
Águas Moles – produzem massas descaídas e pegajosas, pelo que se aconselha reduzir
a água, aumentar o sal e a dosagem do melhorante;
Águas Alcalinas (baixa acidez, pH alto) – diminuem a actividade enzimática e
fermentativa e dissolvem o glúten, sendo recomendável acidificar a massa (com vinagre
ou Ferment Sauer), usar “massa velha” e aumentar os tempos de fermentação.
A Temperatura da Massa
A água permite controlar a temperatura da massa no final da amassadura. Este aspecto é muito importante
dado que, quer a actividade da levedura, quer as características da massa, dependem da temperatura. A
temperatura (desejada) da massa depende do processo de fabrico e da composição da massa (receita),
podendo ser ajustada através da temperatura da água. Por sua vez, a temperatura da água pode ser
calculada para o fim em vista.
Para calcular a temperatura necessária da água precisamos saber a temperatura desejada da massa
(TDM), a temperatura da farinha (TF) e o aquecimento durante a amassadura. Este aquecimento, também
chamado de tolerância ou t (diz-se: Delta t) é o calor libertado por fricção entre a massa, as paredes da
amassadeira e o garfo da amassadeira e pela incorporação de ar à temperatura ambiente da padaria (TP).
A temperatura desejada da água (TA) pode ser calculada por várias formas incorporando numa fórmula
toda a informação necessária::
TA = (TDM – t) x 2 – TF
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1.3 Ingredientes Opcionais na Receita
Para além dos constituintes obrigatórios numa receita de panificação típica, outros existem de
utilização mais esporádica mas que, apesar de tudo, podem desempenhar funções apreciáveis.
Na tabela abaixo encontra-se uma selecção dos ingredientes mais comuns numa receita, as
dosagens mais utilizadas, as respectivas funções e alguns efeitos secundários na massa.
Nutriente da levedura
1-6% Aumenta a actividade da levedura
Cor da côdea
Sacarose Aumenta a cor da côdea
Nutriente da levedura
Açúcar Mais de 6% Sabor
Massa mais macia
Reduz a actividade da levedura
Nutriente da levedura
Dextrose 1-5% Aumenta a actividade da levedura
Cor da côdea
Estabilidade da massa
Glúten Glúten vital de trigo 0.5-2% Tolerância da massa
Maior volume do pão
Macieza
Gordura, Óleos, Shortenings 5-20% Sabor e aroma
Conservação
Gorduras Macieza
Manteiga 1-20% Sabor e aroma Volume
Textura
Volume Textura do miolo
Banha 1-5%
Macieza Características da côdea
Cor da côdea
Inteiros 5-10% Macieza
Cor do miolo (amarelado)
Ovos
Cor da côdea
Egg yolk 5-10% Macieza
Cor do miolo (amarelado)
2.1 A Amassadura
A amassadura pode ser considerada a parte mais importante de todo o processo de fabrico,
não desconsiderando a cozedura. Uma amassadura deficiente conduz, sem sombra de
dúvida, a um pão de inferior qualidade; a este propósito, há um ditado muito conhecido dos
padeiros que ilustra este facto – “O forno não é um hospital”. Assim sendo, é da maior
importância assegurar uma correcta operação de amassadura.
2a Velocidade:
2.1.1 As fases da amassadura
Incorporação de ar
O processo de amassadura passa por várias
fases sem uma transição muito distinta. Desenvolvimento do glúten
Saber quando deve interromper ou continuar a amassadura é uma das mais importantes
(quiçá a mais importante) atribuições de um bom amassador.
O nível óptimo de desenvolvimento da massa pode ser reconhecido por várias formas. Em
primeiro lugar, por observação directa da massa durante a amassadura.
Verificar se a massa:
Atinge um bom nível de consistência
Mostra pouca humidade
Está macia
Deixa de se agarrar às paredes da amassadeira.
Estes aspectos indicam que a massa está a atingir um bom nível de desenvolvimento e que
está prestes a atingir-se o nível óptimo de amassadura.
O Teste do Véu
Procedimento:
1. Destacar uma pequena porção de massa da amassadeira.
2. Esticar a massa cuidadosamente em todas as direcções (usando a ponta dos dedos) até formar um véu ou
membrana fina.
3. Avaliar o estado de elasticidade / resistência da massa.
A tabela abaixo dá uma indicação dos aspectos que influenciam o tempo de amassadura.
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2.1.4 Tempo de amassadura versus Qualidade do pão
Desenvolvimento do Glúten
Durante a amassadura a massa torna-se elástica por efeito de algumas proteínas presentes
na farinha e que são responsáveis pela formação do glúten; estas conseguem absorver água
até cerca de 2 vezes o seu peso (1,5 a 2,5 vezes, consoante a sua qualidade).
A continuação da amassadura (e a
consequente transmissão de energia) leva a
que as cadeias proteicas se distendam
completamente, ao mesmo tempo em que
absorvem cada vez mais água.
Paralelamente, a temperatura da massa
sobe.
As ligações existentes entre os diversos
filamentos de glúten, as pontes S-S,
desfazem-se nuns locais e voltam a refazer-
se noutros; lenta e seguramente a massa
torna-se mais elástica e extensível (3). Assim
se vai construindo e fortificando a rede de
glúten.
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2.2 A Fermentação
Um glúten bem desenvolvido terá mais capacidade de distensão e, logo, de retenção de gás. Quanto melhor a capacidade
de retenção de gás da massa, mais rapidamente a massa leveda. Alguns componentes dos melhorantes têm esta função
específica de desenvolvimento do glúten, tornando-o forte e estável e permitindo a obtenção de pão com bom volume e
textura fina e regular.
O fenómeno mais importante e mais visível que ocorre durante a fermentação é a levedação
da massa por efeito da actividade da levedura; esta consome os açúcares da massa e
produz gás carbónico, álcool e substâncias aromáticas. A quantidade crescente de gás faz a
massa expandir e o glúten distender. Todo este processo de desenvolvimento da massa
depende parcialmente da qualidade da farinha.
Farinhas fortes produzem massas fortes e elásticas com pouca extensibilidade. Durante a
fermentação a massa pode relaxar um pouco, tornando-se menos elástica e mais extensível.
Esta evolução é devida à distensão lenta do glúten e à actividade de enzimas presentes na
farinha e nos melhorantes.
Tipicamente uma fermentação com uma farinha forte pode ser relativamente longa (de 2 a 4
horas); tempos curtos de fermentação resultam em massas apertadas, demasiado elásticas
e com falta de extensibilidade.
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Farinhas fracas são menos elásticas após a amassadura e podem mesmo ser demasiado
extensíveis; durante a fermentação podem ganhar alguma elasticidade. Quando a massa
atinge o seu nível óptimo de maturação o processamento continua: - ou com o “abaixamento
dos empelos” e enroladura / tendedura, ou com a pesagem / divisão / enroladura e
tendedura.
O processamento da massa torna-a menos extensível e mais elástica. De uma forma geral,
uma farinha fraca requer menores tempos intermédios de fermentação (30 – 45 minutos), já
que tempos mais longos que o necessário resultam numa textura demasiado aberta e perda
de volume; a massa não aguenta ser distendida e fica com excesso de maturação (passada).
Temperatura de Fermentação
A temperatura de fermentação é uma ferramenta importante para controlar a actividade da Levedura, cujas células são
sensíveis a este parâmetro. Uma subida de temperatura de 25 para 35°C quase duplica a velocidade de produção de gás;
no entanto, a temperatura realmente óptima de fermentação está apenas ligeiramente acima dos 25ºC.
Se bem que uma temperatura elevada reduza por si só o tempo de fermentação, um aumento excessivo deve ser evitado,
pois conduz invariavelmente a deficiências no pão: - uma temperatura de fermentação alta enfraquece o glúten e reduz a
capacidade de retenção de gás. Aquilo que o padeiro pensa ganhar ao aumentar a temperatura, vem a ser perdido por
redução da retenção de gás. Isto é especialmente verdade em farinhas fracas.
Uma farinha forte com uma receita rica pode facilmente ser sujeita a 35°C ou mais. No entanto, os prejuízos serão mais
tarde evidentes na falta de sabor e aroma do pão após cozedura.
Como regra simples, as indicações seguintes podem ajudar a definir e controlar a temperatura mais correcta:
1. Evitar o arrefecimento brusco da massa e as correntes de ar.
2. Para o pão pequeno é possível recorrer a temperaturas mais altas desde que a fermentação final leve cerca de 1
hora e a farinha seja suficientemente forte. Em todas as outras circunstâncias manter a temperatura da câmara
não mais que 5°C acima da temperatura da massa (ideal 2ºC) e nunca acima dos 34°C.
3. Temperaturas moderadas dão melhor aroma de pão que temperaturas altas.
Se a massa arrefece bruscamente – como resultado, por exemplo, de temperatura baixa na padaria ou correntes de ar
inesperadas – terá tendência para desidratar e formar pele; massas com pele conduzem a problemas de textura (quando a
pele se forma nas fermentações imtermédias) e a problemas de fermentação e cor de côdea (se for na fermentação final).
Quando a temperatura na câmara de fermentação é alta (de 35°C ou mais) a levedura fica
extremamente activa, produz grandes quantidades de gás (CO2) e a levedação dá-se mais
rapidamente.
Porém, a massa não faz o seu desenvolvimento (maturação) à mesma cadência. Isto
significa que no momento em que a massa atinge a altura ou o volume requerido para ir ao
forno não está ainda suficientemente desenvolvida até ao nível óptimo de maturação. O
mesmo acontece quando se adiciona demasiada levedura; dá-se uma fermentação
extemporânea, forma-se uma textura irregular e perde-se volume e macieza.
Por outro lado, quando a temperatura da massa é demasiado baixa (ou diminui durante o
processo) a produção de CO2 pela levedura abranda comparativamente com a velocidade de
maturação da massa e atinge-se a maturação óptima sem que o volume necessário tenha
sido atingido.
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Neste caso o padeiro é obrigado a esperar um pouco mais até atingir o volume ideal, o que
pode resultar numa maturação excessiva da massa. Se isso acontece o pão vai apresentar
algumas deficiências como resultado de uma expansão excessiva do glúten e consequente
ruptura das bolhas de ar no interior da massa; dá-se a libertação do gás carbónico e forma-
se um alveolado irregular do miolo.
Para avaliar do grau de maturação da massa, o padeiro tem que confiar na sua experiência e
esta baseia-se em algumas características típicas:
Aspecto da superfície da massa
Alterações da forma da massa durante a fermentação final
Volume
Resistência da massa ao toque
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2.4 A Cozedura
A cozedura é a última fase do processo de panificação e é aqui que o produto sofre a maior
metamorfose. Pela cozedura, a massa pastosa e moldável transforma-se num produto
estável, digestível e muito saboroso; a massa levedada vai transformar-se no miolo
alveolado e a parte exterior dá origem à côdea dourada e estaladiça. O cheiro característico
da fermentação muda para o agradável aroma do pão cozido.
A levedação da massa e, logo, o seu aumento de volume continua no forno durante a fase
inicial da cozedura até que a massa atinja o seu volume máximo e a rede de glúten a sua
extensibilidade máxima. Este crescimento é causado pelo aumento de actividade da
levedura, pela evaporação da água e pela expansão dos gases, fenómenos provocados pelo
aumento da temperatura na cozedura. A isto se chama o “oven spring”.
2.4.2 O Vapor
Na fase inicial da cozedura a crosta começa a formar-se nas partes mais superficiais da
massa, como resultado da evaporação da água e do aumento da temperatura. Devido ao
aumento de volume a côdea em formação pode romper (rebentar) o que, em certas ocasiões
e em certos tipos de pão, até é desejado; por exemplo, a “abertura” das carcaças ou o
“escanar” da regueifa.
É sabido que uma massa rebenta sempre na parte mais fraca. Um pão grande pode rebentar
pelo vinco da tendedura ou por uma das partes laterais; um cacete rebentará pelos cortes;
um pão de forma rebentará pela aresta.
Na maior parte das vezes o padeiro injecta vapor na câmara com os seguintes objectivos:
Aumentar o volume do pão
Evitar que a côdea rebente ou controlar o sítio do rebentamento
Obter uma boa cor e brilho
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Ainda como resultado do aumento de temperatura as enzimas também aumentam a sua
actividade. As amilases da farinha são capazes de transformar o amido lesionado e
gelatinizado em dextrinas (mais macieza) e maltose (cor da côdea e aroma). A partir dos
75ºC todas as enzimas são inactivadas e cessa a actividade enzimática na massa.
O exterior da massa atinge temperaturas muito mais altas, podendo atingir os 150 a 190ºC.
A crosta forma-se como resultado da total desidratação da superfície exterior da massa.
Por causa das altas temperaturas e da alta humidade inicial na crosta, as proteínas e os
açúcares redutores reagem entre si e adquirem uma cor castanha. Este processo tem o
nome de “Reacção de Maillard”.
Durante a Reacção de Maillard são também produzidos alguns componentes do aroma e por
isso um pão com uma forte cor de côdea terá um melhor (ou, pelo menos, mais forte) aroma.
O pão é cozido a uma certa temperatura durante um certo tempo. Na práctica, é importante
saber a que temperatura e por quanto tempo um determinado produto deve ser cozido.
A fim de determinar os tempos e temperaturas mais correctos, os seguintes factores devem
ser tidos em consideração:
Factor Considerar
Pão estaladiça ou de côdea macia
Requisitos do Produto
Cozido no lar, em lata ou tabuleiro
Pão grande ou Pão pequeno
Peso do Produto
Leve ou compacto
Percentagem de açúcar
Composição da massa Percentagem de gordura
Leite, leite em pó, ovos, etc.
Arredondado ou cacete
Formato do Produto
Simples ou com recheio
Com ou sem pintura (ovo)
Processo de cozedura Com ou sem vapor
Unidades separadas ou juntas
Forno de lares, rotativo ou ciclotérmico
O Forno Aquecido a lenha ou a gás
Aquecimento directo ou indirecto
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3 Diversos processos de fabrico
A produção de pão pode obedecer a qualquer um dos três seguintes métodos de fabrico:
1. Método “Verde”
2. Método Directo
3. Método Indirecto (Fermento e Massa)
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