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Carl R. Rogers
Terapia Centrada
apareceu em Portugal, publicado pela já finda editora Moraes, com
o título de Terapia Centrada no Paciente. Surge agora uma nova
publicação, desta vez sob a responsabilidade da editora Ediual,
com o título de Terapia Centrada no Cliente o qual consideramos
ser mais genuíno por respeitar a fundamentada intenção do autor
em utilizar o termo cliente em vez de paciente. no Cliente
Este livro, considerado um dos clássicos de C. Rogers,
desenvolve um conjunto de conceitos fundamentais que permitem
ao leitor apreender as linhas mestras do modelo teórico de
intervenção psicoterapêutica, designado de Psicoterapia Centrada
Terapia Centrada
no Cliente, cujos princípios filosóficos se enquadram na
perspectiva da Psicologia Humanista.
no Cliente
Maria Odete Nunes
E DI
U U
ISBN 972-8094-74-4
UNIVERSIDADE U
UNIVERSIDADE
UNIVERSIDADE
Carl R. Rogers
AUTÓNOMA 9 789728 094744 AUTÓNOMA AUTÓNOMA
EDITORA DE LISBOA DE LISBOA
Título Original Client-Centered Therapy
Copyright © Carl R. Rogers xxxx - xxxx
ISBN xxx-xxxx-xx-x
Tradução ????????????
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Terapia Centrada no Cliente
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA
OU O MOVIMENTO EM TERAPIA
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4 O estudo, muito interessante, de Beyer dá-nos uma prova indirecta da diferenciação perceptiva, invertendo o
processo e induzindo ansiedade, para estudar o resultado. Aplicou a todos os indivíduos (sessenta e duas mulheres)
um teste de Rorschach, um teste de desorientação perceptiva e uma bateria de testes para medir a capacidade de
abstracção, capacidade para executar várias tarefas, em simultâneo, para sintetizá-las, para classificar materiais,
para passar de um conceito a outro. Introduzia então uma ameaça no grupo experimental dando, a cada um dos
membros, uma interpretação diferente, estruturada, mas exacta dos seus resultados no Rorschach. Quando o grupo
experimental e o grupo de controlo foram retestados com as provas de raciocínio abstracto, verificou-se que o grupo
experimental revelava uma diminuição da capacidade de abstracção e um aumento da rigidez de pensamento e de
percepção, comparado com o grupo de controlo. As diferenças eram significativas.
Do ponto de vista do nosso interesse em terapia, este estudo sugere que a diferenciação e a formação de hipóteses
flexíveis diminuem sob ameaça e aumentam provavelmente na ausência de ameaça; que a apreciação feita por um
perito a partir de um quadro de referência externo pode constituir uma ameaça para o self.
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viver de acordo com o que os outros pensam, que não está a ser o seu
self real, e que está cada vez menos satisfeito com a situação. Mas se
abandona esses valores introjectados, como substituí-los? Segue-se um
período de confusão e de incerteza perante os valores, uma certa sensação
de insegurança por não ter fundamentos para julgar o que está certo e o
que está errado, o que é bom e o que é mau.
Esta confusão é substituída, a pouco e pouco, pela crescente
compreensão de que a evidência sobre a qual deve formar um juízo de
valor lhe é dada pelos seus próprios sentidos, pela sua própria
experiência. Pode reconhecer as satisfações a curto e a longo prazo,
não pelo que os outros dizem, mas pela análise da sua própria
experiência. O sistema de valores não é necessariamente uma coisa
imposta de fora, mas algo que é experienciado. O indivíduo descobre
que tem, no seu interior, a capacidade para ponderar sobre os dados da
experiência e decidir sobre aquilo que contribui para o seu
desenvolvimento (o que implica, também, inevitavelmente, um
desenvolvimento dos outros). Uma investigação preliminar de Kessler
(101), estudando o material de três casos, mostra que as primeiras
apreciações tendem a ser vistas como algo de fixo e radicado no objecto;
esta perspectiva vai sendo substituída pelo reconhecimento de que os
juízos de valor não são necessariamente fixos, mas que se podem alterar;
por fim, há a tendência para reconhecer que as apreciações eram
estabelecidas pelos outros indivíduos e que a apreciação pessoal tem
de ser alterada em função dos dados.
Uma outra conceptualização deste processo surgiu da nossa teoria
acerca do locus de avaliação. Na maior parte das afirmações, que
constituem ou que implicam juízos de valor, o locus espacial da origem
da valorização pode inferir-se rapidamente. Nas fases iniciais da terapia,
revela-se uma tendência para o locus de avaliação se situar fora do
cliente. Essa avaliação é entendida como uma função dos pais, da cultura,
dos amigos e do counsellor. Em relação a este último, alguns clientes
fazem grandes esforços para que o terapeuta exerça essa função
valorativa, fornecendo-lhes, assim as directrizes para a acção. No
entanto, na terapia centrada no cliente, a descrição da conduta do
counsellor indica que este deve, com coerência, conservar o locus de
avaliação no cliente.
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Cliente 346: Agora - uma das coisas que fazia - uma coisa que me
preocupava era, bem… Viver à margem; o que é difícil não é ligar-se a um
grupo de pessoas que não são interessantes, mas continuar nele. Bem,
descobri que estava a gastar muito mais tempo com um grupo de pessoas
que não achava interessantes -; todas elas são pessoas agradáveis e realizava
com elas determinadas actividades, mas havia muita coisa que não era
comum entre nós. Tínhamos caído no hábito de tomar juntos o pequeno
almoço, de almoçar juntos, de jantar juntos e de continuarmos juntos,
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especialmente à noite. Agora descubro que sou capaz ou que, pelo menos,
estou a afastar-me um pouco do grupo. E, bem, agora encontro-me com
pessoas que são um pouco mais interessantes, pessoas em quem descubro
mais interesses comuns aos meus.
Counsellor 346: Isto é, escolheu efectivamente afastar-se do grupo ao
qual se ligou, por acaso, e selecciona as pessoas com quem sente maiores
afinidades. Será assim?
Cliente347: É essa a ideia. Eu - eu, não estou a fazer nada de drástico.
Não estou a dar grandes passos, rapidamente. Bem, uma das minhas colegas
que vive no mesmo andar e que vinha bater-me à porta e dizer que queria
ir almoçar, ou que almoçássemos ao meio-dia, ou que iam todos almoçar
ao meio-dia. Ora para mim era difícil dizer: «Não. Gostava de almoçar ao
meio-dia e meia e seguir depois para as aulas da uma e meia». Portanto
deixava o que estava a fazer e seguia, ao meio dia, com o grupo. Pois,
agora, às vezes digo: «Bem, não me convém. Prefiro almoçar mais tarde»
ou «Prefiro almoçar mais cedo». Antes era mais fácil para mim dizer: «Está
bem, vou já e almoço agora». Uma outra coisa é que sentia ter sido quase
como que arrastada para o grupo com o qual almoçava. Não era gente - ou
melhor, um ou dois elementos do grupo eram pessoas que me agradavam,
e foram eles de certa maneira que me impeliram a entrar no grupo dos seus
amigos que eu não tinha, de forma alguma, escolhido. E, por isso, descobri
que gastava todo o meu tempo com essas pessoas, comecei a procurar
gente de acordo com as minhas preferência, que fosse eu a escolher em
vez de me deixar levar em rebanho.
Counsellor 347: Concluo que, para si, se torna possível exprimir as
suas atitudes reais numa situação social, como querer ou não querer ir
almoçar, e também efectuar a sua própria escolha dos amigos e das pessoas
com quem quer relacionar-se.
Cliente 348: Sim, parece-me que é isso; mas não estou a avançar muito
depressa, contudo...
Counsellor 348: É um processo lento.
Cliente 349: Contudo, creio que estou a conseguir. Sabe, de início tentei
ver se me afastava do grupo que me ocupava o tempo e penso, sinceramente,
que não é um afastamento, mas mais uma afirmação dos meus verdadeiros
interesses.
Counsellor 349: Hum... Por outras palavras, tentou ser autocrítica para
poder ver se estava a fugir da situação, mas sentiu realmente que era uma
expressão de atitudes positivas da sua parte.
Cliente 350: Creio que é isso.
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Aqui a cliente não só afirma a sua avaliação acerca dos amigos e das
actividades sociais em oposição aos valores do grupo, mas é capaz de
examinar as suas próprias avaliações para ver se se baseiam
efectivamente na experiência: «Tentei ver se me estava a afastar do
grupo... é uma afirmação dos meus interesses reais». Descobre que é
capaz de determinar, partindo dos dados da sua própria experiência,
que relações têm valor para ela e quais as que não têm, que actividades
a desenvolvem e quais as que não contribuem para o seu
desenvolvimento, as condutas que são fugas e as que são afirmações
positivas de um objectivo. Aqui temos um pequeno exemplo da mudança
que se verifica no processo de avaliação.
Depois de esta exposição já estar escrita, Raskin terminou um estudo
(157) que confirma algumas das ideias apresentadas. Raskin investigou
a amplitude da alteração do locus de avaliação do cliente ocorrida
durante a terapia. O enunciado foi definido em termos de organização
da personalidade do cliente - a amplitude da dependência dos valores e
dos padrões do indivíduo em relação aos juízos e expectativas dos outros,
ou se, pelo contrário, se baseavam na confiança em relação à sua própria
experiência. A primeira fase consistiu em determinar se os itens da
entrevista relacionados com esse conceito podiam ser seleccionados,
com confiança, por juizes. Verificou-se entre os dois juizes um acordo
superior a 80 por cento. A fase seguinte consistiu em elaborar uma
escala para avaliar o locus de avaliação. Vinte e dois itens de entrevistas,
englobando elementos referentes a esse conceito foram classificados
por dezoito indivíduos qualificados, e a partir destes juízos elaborou-se
uma escala objectiva de classificação com valores entre 1 e 4, com
doze itens exemplificativos cujo valor tinha sido estabelecido por dezoito
peritos. A terceira fase foi a definição do grau de segurança da escala.
Em cinquenta e nove itens, um de cada uma das entrevistas classificadas,
verificou-se 76 por cento de acordo entre o investigador e o juíz com
uma correlação de 0,91.
Aplicou-se, então a escala às cinquenta e nove entrevistas dos dez
casos estudados. Estes mesmos casos tinham sido utilizados como
elementos de base para vários estudos coordenados (43) e, assim
dispunha-se de diferentes tipos de dados para cada caso e para cada
entrevista. De uma maneira geral, a escala construída mostrou um
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seu problema e bastante dos seus pais, de quem parecia gostar muito. No
entanto, houve longas, longas pausas. As quatro entrevistas seguintes
podiam ser transcritas, textualmente, numa pequena folha de papel. Em
meados de Novembro, Joana referiu: «as coisas estão a ir muito bem».
Não clarificou mais nada. Entretanto, a directora disse-me que os
professores tinham reparado que a Joana os cumprimentava com um sorriso
amigável, quando os encontrava nos corredores. Esta atitude não tinha
precedentes. Contudo, a directora conhecia pouco Joana e não podia dizer
nada dos seus contactos com os colegas. Em Dezembro houve uma
entrevista durante a qual Joana falou livremente; as anteriores
caracterizavam-se pelo silêncio, enquanto permanecia sentada
aparentemente mergulhada nos seus pensamentos, olhando, de vez em
quando, com um sorriso. Mais silêncio durante os dois meses e meio
seguintes. Informaram-me, então, que tinha sido eleita «a mulher do mês»
pelas alunas da escola. O objectivo dessa eleição é sempre o de fomentar
o espírito desportivo e a popularidade entre as colegas. Ao mesmo tempo,
recebi uma mensagem de Joana: «Não creio que precise de voltar a vê-la».
Não, aparentemente não precisaria, mas porquê? O que aconteceu nessas
horas de silêncio? A minha fé na capacidade do cliente foi severamente
posta à prova. Sinto-me contente por não ter vacilado».
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Sentindo que é uma pessoa incapaz de ter amigos, entra numa relação
com a terapeuta. Encontra aí uma aceitação total - ou amor, se se preferir
- tão evidente nos períodos de silêncio e de timidez como nos momentos
em que falou. Descobre que pode ser uma pessoa silenciosa e continuar
a agradar, que pode ser o seu self tímido e, no entanto, ser aceite. Talvez
isso lhe dê um sentimento de valor e modifique a sua relação com os
outros. Ao acreditar que pode ser amada como uma pessoa tímida e
reservada, descobre que é aceite pelos outros e que essas características
tendem a desaparecer.
Podemos formular uma outra hipótese clínica em termos ligeiramente
diferentes. Quando o cliente faz a experiência da atitude de aceitação
que o terapeuta assume para com ele, é capaz de assumir e de
experimentar essa mesma atitude para consigo. Quando começa a
aceitar-se, a respeitar-se e a amar-se a si próprio, é capaz de fazer a
experiência dessas atitudes para com os outros.
Um dos membros da nossa equipa, Olivier H. Bown, interessou-se
particularmente pela ideia aqui apresentada e alguns extractos de uma
nota que ele escreveu dar-nos-ão uma descrição mais viva de uma terapia
em que a tónica recai numa relação profunda e significativa, para a
qual o cliente pode levar tudo o que, emocionalmente, é e em que se
encontra com os sentimentos do terapeuta. Esta nota pertence a um
documento pessoal e informal para a equipa, mas Olivier Bown
autorizou-me a citá-lo aqui. Considera que o termo «amor», embora
possa ser, facilmente, mal compreendido, é o mais útil
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do cliente, estava muito longe disso. Talvez o melhor exemplo, deste tipo
de interacção, seja dado pelas reacções do cliente, apresentadas no final
desta nota face a este processo emocional persistente.
Ao concluir esta longa análise, e estou certo que não muito clara, do
compromisso afectivo do counsellor na terapia, gostaria de dizer que o
cliente estabelece com o terapeuta o mesmo tipo de relação que estabelece
com outros indivíduos do seu meio ambiente. Encerra as mesmas inibições,
ambivalências, conflitos, necessidades, valores objectivos; e quando o
terapeuta é capaz de percepcionar esses elementos, em acção no presente
imediato da terapia, descobre uma das fontes mais valiosas para a
compreensão profunda do cliente.
A partir deste ponto gostaria de afastar-me da árdua tarefa de tentar
descrever a relação terapêutica tal como eu a vejo, para mencionar apenas,
de forma resumida e ao acaso alguns aspectos teóricos que para mim se
tornaram importantes.
O primeiro destes aspectos refere-se ao problema: por que é que se
reprime um sentimento ou uma necessidade? Sob este aspecto, penso que
é sobretudo por se ter aprendido, num determinado momento, com o reforço
afectivo adequado que essa necessidade ou sentimento são maus e que a
sua expressão acarretaria a rejeição daqueles a quem damos mais valor
num momento da nossa vida. Estou absolutamente seguro de que se trata
de uma dinâmica de base que se revela na estrutura da personalidade de
todos nós; mas acabei por reconhecer uma outra dinâmica em relação à
qual não atribuía muita importância e que parece, de alguma maneira, ainda
mais essencial. Creio que algumas necessidades e sentimentos são
reprimidos, não porque se aprendeu que eram maus, mas antes porque se
aprendeu que, se fossem expressos, não seriam satisfeitos. Estou a referi-
me ao fenómeno da privação que julgo que, provavelmente, também, todos
experimentámos. Os meus clientes exprimiram muitas vezes o sentimento
de que se viam de certo modo privados, mas quer eles quer eu pensávamos
que o esforço para resolver esse sentimento era como trabalhar sobre algo
que não está presente; é mais como um «vazio» dentro da pessoa, do que
uma coisa tangível que se pudesse examinar e manipular. Descobri que
esta repressão é, a maior parte das vezes, tão completa que a pessoa só
pode tomar consciência desse «vazio» quando o preencheu, parcialmente,
através da riqueza da experiência com uma outra pessoa. Creio que na
terapia centrada no cliente proporcionamos muitas vezes esse tipo de
experiência através das nossas atitudes de animação, aceitação, respeito
pelo indivíduo e atitudes semelhantes. Descobri, além disso, que uma
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( A exposição do cliente )
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apresentaremos o desenvolvimento.
1) Durante a última parte da terapia, a conversação do cliente inclui
uma maior análise de planos e de modos de conduta que vai empreender,
bem como a análise dos seus resultados.
Snyder (197), Seeman (180) e Strom (204) mostraram que nos dois
últimos quintos do processo de counselling há um aumento muito
acentuado de elementos deste tipo, embora nunca chegue a constituir
mais que uma pequena parte (de 5 a 12 por cento) da conversação.
Poder-se-ia dizer que estes estudos indicam que o cliente planeia
modificar o seu comportamento e analisa as possibilidades dessa
modificação. Trata-se, no entanto, de um resultado evidente, apenas do
ponto de vista do cliente.
2) Na terapia centrada no cliente bem sucedida, uma análise de todas
as referências à conduta actual, indica que no decurso das entrevistas
esta sofreu alterações, partindo de uma conduta relativamente imatura
para uma mais ponderada.
Hoffman (86), num pequeno estudo que merecia ser desenvolvido e
repetido, extraiu das entrevistas de dez casos todas as referências à
conduta actual e em curso, bem como ao comportamento planeado.
Cada referência era escrita num cartão separado e classificado, quanto
à maturidade da conduta, por um perito que não conhecia o caso nem o
resultado ou a entrevista de que tinha sido extraída. A escala tinha apenas
três pontos, desde a conduta imatura e irresponsável à conduta que
revelava maturidade. No conjunto dos dez casos verificou-se um
aumento na maturidade da conduta referida, mas esse aumento não era
estatisticamente significativo. Dividiu-se, então, os dez casos em dois
grupos, os cinco de maior e os cinco de menor êxito, utilizando como
critério os resultados combinados de outros quatro métodos objectivos
de análise. Posto isto, verificou-se que os casos de maior êxito
mostravam um aumento, estatisticamente significativo, na maturidade
da conduta referida, mas os casos de menor êxito revelavam pouca
alteração. Esta conclusão parece apoiar a teoria clínica de que quanto
maior êxito as entrevistas manifestarem, maior será a alteração no sentido
da maturidade da conduta.
3) Na terapia centrada no cliente bem sucedida, há uma redução da
tensão psicológica, redução evidenciada pela a verbalização do cliente.
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QUADRO II
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6 Posteriormente à redacção deste aspecto, surgiram novos factos que complicam mais ainda o quadro. Grande
parte desta problemática baseava-se no facto de que, num caso gravado, todas as medidas, com excepção das
atitudes defensivas, mostravam que o cliente realizava um progresso bem definido, mas as atitudes de defesa
aumentavam também nitidamente. Contudo, uma entrevista com a mesma cliente, um ano depois da conclusão da
terapia e testes, aplicados em simultâneo, indicam com igual clareza que houve um progresso real e persistente. A
cliente mostra um progressão surpreendente na sua adaptação anterior ao seu papel feminino e uma maior liberda-
de em ser ela mesma. Também dá provas de uma melhor adaptação à família, aos amigos, à vida social e ao seu
trabalho. Todos os que eram a entrevista consideram-na como um resultado verdadeiramente conseguido. Qual é a
explicação? Que a medida da atitude defensiva não era adequada? Ou que a atitude de defesa aumenta durante a
terapia para se dissolver, depois? É, evidente que há muito que investigar neste ponto.
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de ameaças, o que, para ele, é, de certo, novo. Não se trata apenas de estar
livre de ser atacado: isso aconteceu-lhe com a maior parte das suas
relações. Aqui são todos os aspectos do self que, ao serem expostos, são
aceites e apreciados de igual modo. A sua declaração de virtudes, quase
beligerante, é aceite não tanto como, mas não mais do que a imagem
desanimada dos aspectos negativos. A sua segurança em relação a alguns
aspectos de si próprio é aceite e valorizada, como o são também as suas
incertezas, as suas dúvidas, a sua vaga percepção de contradições no
interior do self. Neste clima de segurança, de protecção e de aceitação
descontraem-se os limites rígidos da organização do self. Deixa de existir
a gestalt estreita e rígida, que caracteriza toda a organização que se
encontra sob ameaça, para dar lugar a uma configuração mais flexível,
mais incerta. O indivíduo começa a explorar o seu campo perceptivo de
forma, cada vez mais, ampla. Descobre falsas generalizações, mas, agora,
a sua estrutura do self é suficientemente flexível para poder enfrentar as
experiências complexas e contraditórias em que se baseavam. Descobre
experiências das quais nunca tinha tido consciência, que são bastante
contraditórias com a percepção que tinha de si próprio e, certamente,
ameaçadoras. Refugia-se, durante algum tempo, na estrutura anterior mais
cómoda, mas logo depois sai dela lenta e cautelosamente para assimilar a
experiência contraditória num padrão novo e revisto.
Trata-se, essencialmente, de um processo de desorganização e de
reorganização que, enquanto ocorre é deveras doloroso. É muito confuso
não ter um conceito sólido de self através do qual se determine a conduta
adequada à situação; assusta ou desagrada descobrir o self ou o
comportamento a flutuar quase de dia para dia, estando, às vezes, em
larga medida, de acordo com o modelo do self anterior, e, outras vezes,
num acordo confuso, com uma nova gestalt vagamente estruturada.
Com o decorrer do processo, vai-se construindo uma nova configuração
do self. Essa configuração contém percepções previamente rejeitadas;
implica uma simbolização mais adequada de uma variedade muito mais
vasta de experiências viscerais e sensoriais; implica uma reorganização
de valores, reconhecendo claramente a própria experiência do organismo
como fornecendo os elementos do juízo de valor. Começa, então, a
surgir lentamente um novo self que para o cliente parece ser muito mais
o seu self «real», pois baseia-se numa extensão muito maior de toda a
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SUGESTÃO DE LEITURAS
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