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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

CAETANO VENDRAMIN

O EXERCÍCIO DA AVIAÇÃO: A SAÚDE DA TRIPULAÇÃO

Palhoça
2018
CAETANO VENDRAMIN

O EXERCÍCIO DA AVIAÇÃO: A SAÚDE DA TRIPULAÇÃO

Projeto de pesquisa apresentado ao Curso de


graduação em Ciências Aeronáuticas, da
Universidade do Sul de Santa Catarina, como
requisito parcial para elaboração da monografia.

Orientadora: Profa. Conceição Aparecida Kindermann

Palhoça
2018
CAETANO VENDRAMIN

O EXERCÍCIO DA AVIAÇÃO: A SAÚDE DA TRIPULAÇÃO

Esta monografia foi julgada adequada à obtenção


do título de Bacharel em Ciências Aeronáuticas e
aprovada em sua forma final pelo Curso de
Ciências Aeronáuticas, da Universidade do Sul
de Santa Catarina.

Palhoça, 03 de Junho de 2018

__________________________________________
Orientadora: Profa. Conceição Aparecida Kindermann, Dra.

__________________________________________
Prof. Esp. Hélio Luis Camoes de Abreu
Dedico este trabalho aos meus pais e meus tios,
pelo apoio e pela oportunidade que me deram
para poder realizar está graduação.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a minha família pelo apoio que sempre me deram, seja ele emocional
ou financeiro.
Agradeço ao meu amigo Vinicius pela ajuda no desenvolvimento do trabalho e
também a minha namorada Caroline por ter me ajudado na construção deste trabalho, devido ao
conhecimento na área da medicina e pela paciência nos momentos que passamos longe.
Não poderia deixar de agradecer minha orientadora Profa. Conceição Aparecida
Kindermann, pela dedicação e paciência que teve durante a realização deste trabalho.
RESUMO

O trabalho a seguir visa adquirir conhecimento sobre os prejuízos causados à saúde da tripulação
pelo exercício de sua profissão, e avaliar métodos conhecidos para a sua prevenção, como forma
de reduzir o risco de desenvolvimento e/ou agravamento de doenças. A pesquisa aborda
essencialmente fatores fisiológicos que possam ser causados ou agravados pela profissão de
aeronauta. Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva com abordagem qualitativa. Em relação
à coleta de dados, trata-se de uma pesquisa bibliográfica. Com o presente estudo foi possível
observar que a interrupção do ciclo circadiano devido longas jornadas de trabalho impacta de
forma negativa no que diz respeito às funções cognitivas do aeronauta, ou seja, alterando seu
raciocínio e estado de vigília, diminuindo seu tempo de percepção e reação frente a situações de
risco.

Palavras-chave: Saúde do aeronauta. Aviação. Tripulação. Fadiga e Trabalho. Prevenção e


Tratamento.
ABSTRACT

The following paperwork has as its goal to provide an insight into the health disturbance caused
by aviation profession on its crew, and to evaluate methods and forms for their prevention as a
way to reduce the risk of disease development and/or aggravation. The research essentially
addresses physiological factors that can be caused or aggravated by the profession of pilots and
flight attendants. This research is characterized as descriptive with a qualitative approach. In
relation to data collection, this is a bibliographical research. With the present study it was possible
to observe that the interruption of the circadian cycle due to long working hours negatively
impacts on the cognitive functions of the aeronaut, that is, altering their reasoning and awaking
state, reducing their time of perception and reaction situations.

KEYWORDS: Health. Aviation. Crew. Fatigue. Work. Prevention and treatment.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Hérnia de disco.........................................................................................................20

Figura 2 - Veia normal e com varizes.......................................................................................24

Figura 3 – Septo nasal normal e septo nasal desviado………………………………………..27


LISTA DE SIGLAS

ANAC: Agencia Nacional de Aviação Civil

INSS: Instituto Nacional do Seguro Social

CMA: Certificado Médico Aeronáutico


SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11
1.1 PROBLEMA DA PESQUISA ................................................................................... 11
1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................... 12
1.2.1 Objetivo geral ........................................................................................................ 12
1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................................. 12
1.3 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 13
1.4 METODOLOGIA ....................................................................................................... 13
1.4.1 Natureza e tipo da pesquisa ................................................................................. 13
1.4.2 Materiais e metódos .............................................................................................. 13
1.4.3 Procedimentos de coleta de dados ....................................................................... 14
1.4.4 Procedimentos de análise dos dados ................................................................... 14
1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ......................................................................... 14
2 CRONOBIOLOGIA HUMANA ................................................................................... 15
2.1 RITMO CIRCADIANO ............................................................................................. 15
2.2 SONO ......................................................................................................................... 16
2.3 FADIGA ..................................................................................................................... 17
3 SAÚDE/PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À PROFISSÃO DO
AERONAUTA ........................................................................................................................ 18
3.1 SAUDE DO AERONAUTA ...................................................................................... 18
3.1.1 Certificado médico aeronáutico e sua regulamentação..................................... 18
3.1.2 Ambiente de trabalho do aeronauta ................................................................... 18
3.2 PROBLEMAS DE SAÚDE REFERENTES À PROFISSÃO DO AERONAUTA .. 19
3.2.1 Problemas ortopédicos ......................................................................................... 19
3.2.1.1 Hérnias de disco ............................................................................................. 20
3.2.1.2 Espondilólise .................................................................................................. 21
3.2.2 Espondilolistese ..................................................................................................... 21
3.2.3 Doenças cardiovasculares .................................................................................... 21
3.2.4 Doenças da artéria coronária .............................................................................. 22
3.2.5 Hipertensão ........................................................................................................... 23
3.2.6 Varizes ................................................................................................................... 23
3.2.7 Problemas oftalmológicos .................................................................................... 24
3.2.8 Problemas psiquiátricos e psicológicos ............................................................... 25
3.2.9 Ocorrências na área da otorrinolaringologia ..................................................... 25
3.2.9.1 Perda auditiva induzida por ruídos ................................................................. 26
3.2.9.2 Labirintite ....................................................................................................... 26
3.2.9.3 Renite alérgica ................................................................................................ 26
3.2.9.4 Desvio de septo ............................................................................................... 27
4 SEGURANÇA OPERACIONAL E FATORES HUMANOS .................................... 29
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 31
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 33
11

1 INTRODUÇÃO

A aviação é um meio de transporte considerado recente; surge a partir do termino


da Segunda Guerra Mundial, uma vez que existia uma grande quantidade de aeronaves que não
teriam mais utilidade. Deste modo, elas começaram a ser vendidas para serem utilizadas no
transporte de passageiros. Mas esse transporte aéreo ficou mais acessível paras as pessoas
somente nas últimas duas décadas, devido ao aumento de empresas no setor e a modernização
das aeronaves.
Caracterizado pelo dinamismo de suas atividades, a aviação se desenvolveu
rapidamente. A velocidade é a maior vantagem da aviação em relação aos outros tipos de
transportes disponíveis. Devido às constantes evoluções tecnológicas presentes no setor
aeronáutico, é possível aprimorar cada vez mais o ambiente de trabalho no que tange à redução
da carga de trabalho por meio do uso de aeronaves mais automatizadas, sendo assim reduzindo
a fadiga, de modo a tornar a operação das aeronaves cada vez mais segura e menos danosa à
saúde dos tripulantes.
Avanços de grande relevância foram implementados ao longo dos anos como, por
exemplo, a pressurização de cabine e a implementação do sistema de oxigênio, porém, ao passo
em que as aeronaves têm seu desempenho melhorado, outros problemas de saúde começam a
ser apresentados na tripulação, como labirintites ou problemas ortopédicos.
O trabalho a seguir abordará formas de prevenção e tratamentos conhecidas na
bibliografia atual, mas dará ênfase em como pilotos e comissários podem buscar formas de
prevenção para os problemas que possam ocorrer durante a carreira de um aeronauta, já que
existe uma gama de material sobre o problema relativamente baixa ou pouco divulgada.

1.1 PROBLEMA DA PESQUISA

A pesquisa aborda essencialmente fatores fisiológicos que possam ser causados ou


agravados pela profissão de aeronauta, tais como problemas ortopédicos, cardíacos, vasculares,
oftalmológicos, cognitivos e de ordem circadiana. Sendo assim, a saúde da tripulação de alguma
forma corre risco pelo exercício da profissão? E como é realizada a identificação do risco e sua
provável solução?
12

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

O principal objetivo desta pesquisa é analisar a fadiga e as doenças que fazem


parte do sitema biológico do ser humano, sendo assim, não pode ser eliminada totalmente.
Quando associamos as doenças e fadigas com o exercício do tripulante de voo, podemos
identificar que a segurança pode ser prejudicada, pois um tripulante que apresenta sinais de
fadiga pode realizar o trabalho de forma incorreta, assim se tornado um risco para a segurança.
O tripulante estará naturalmente mais desatento, desmotivado, estressado, com
reações lentas e podem colocar suas vidas e de todos a bordo em risco. A fadiga causada pelas
longas horas de trabalho, horários inoportunos e locais desapropriados para um bom descanso
pode ser mitigada através de ações preventivas das empresas, caso contrário, a segurança
continuará sendo prejudicada pela fadiga dos tripulantes, que continuarão trabalhando sob seu
efeito, estando cansados, desatentos, com a memória prejudicada ou desmotivados

1.2.2 Objetivos específicos

Explicar o funcionamento do ritmo circadiano e apresentar as consequências que o


mesmo pode causar.
Identificar, do ponto de vista técnico, como o sono e a fadiga podem contribuir na
ocorrência de acidentes e incidentes na aviação brasileira.
Descrever o ambiente de trabalho da tripulação, identificando fatores que possam
desencadear prejuízos à saúde da tripulação;
Descrever os principais problemas cardíacos, ortopédicos, oftalmológicos,
psicológicos, psiquiátricos, entre outros, que podem ser desencadeados pela profissão do
aeronauta.
Identificar como os fatores humanos podem afetar a segurança operacional.
13

1.3 JUSTIFICATIVA

Este tema foi escolhido em virtude de ser um fator de segurança para aviação e
também por tratar-se do próprio bem-estar do tripulante, em função da segurança ser um quesito
importante, quando se fala sobre uma atividade que exige elevado grau de performance em um
ambiente com estresse constante.
Um tripulante de voo um tripulante de voo ao longo de sua carreia poderá ter
problemas de saúde, em virtude de sua própria profissão. À vista disso, nesta pesquisa, são
abordados sintomas e causas mais comuns e os possíveis tratamentos recomendados pelos
médicos, para que o aeronauta posso se precaver antes que os problemas surjam.
Sabe-se que na história da aviação muitos tripulantes, durante a sua carreira, tiveram
certos quadros clínicos que prejudicaram sua saúde no decorrer do tempo, até mesmo fazendo
com que fossem afastados da profissão a fim de evitar acidentes aeronáuticos.
Esta pesquisa, desta forma, tona-se relevante por tocar em questões como a saúde
do aeronauta ao exercer sua profissão, dado que visa observar, identificar e expor ao tripulante
os possíveis riscos que a profissão pode causar, caso ele seja negligente com a sua saúde.

1.4 METODOLOGIA

1.4.1 Natureza e tipo da pesquisa

A presente pesquisa caracteriza-se como descritiva, com procedimento bibliográfico e com


abordagem qualitativa.
O procedimento para coleta de dados caracteriza-se como bibliográfico, definido
por Gil (2008) como “é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos”. Desse modo, a pesquisa em questão visa a uma
profunda investigação teórica sobre cada uma das supracitadas abordagens, primordial para a
análise proposta inicialmente.

1.4.2 Materiais e metódos

Os materiais analisados foram:


14

Bibliográficos: Livros sobre medicina aeroespacial, medicina da aviação clínica.


Documentais: Documentos diversos sobre a medicina na aviação.

1.4.3 Procedimentos de coleta de dados

O procedimento utilizado para a coleta de dados foi a pesquisa bibliográfica. Foram


realizadas as leitura e pesquisas em livros sobre medicina aeroespacial, tais como
‘Fundamentals of Aerospace Medicine’ e ‘Fisiologia Aeroespacial’, medicina da aviação
clínica, espeficicamente ‘Clinical Aviation Medicine’ em conjunto com documentos diversos
sobre a medicina na aviação e pesquisas realizadas em sites relacionados com medicina
aeronáutica.

1.4.4 Procedimentos de análise dos dados

Os conceitos aqui apresentados foram resultado de uma sintese e análise conclutiva


no intuito de se buscar o desenvolvimento do assunto e propagaçao no meio aeronáutico, assim
sendo, com possiblidades das empresas reduzir a forma como conduzem a formaçao das escalas
dos tripulantes.

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O presente trabalho está dividido em cinco capítulos. Neste capítulo, faz-se a


apresentação do trabalho. No segundo capítulo, faz-se a exposição da cronobiologia humana.
No terceiro capítulo, faz-se a divulgação dos problemas de saúde relacionados à profissão do
aeronauta. No quarto capítulo, faz-se a exibição da segurança operacional e fatores humanos.
E, por último, o quinto capítulo, em que são feitas as considerações finais e referências.
15

2 CRONOBIOLOGIA HUMANA

Neste capítulo, são apresentados o ritmo circadiano, sono e fadiga que se fazem
presente na vida de um tripulante de voo.
A cronobiologia é uma área de estudo que traz reflexões sobre a organização
temporal da sociedade, no sentido de demonstrar eventuais efeitos negativos e propor horários
de atividades compatíveis com os ritmos biológicos do homem. Assim, traz “[...] a discussão
do trabalho humano para o campo do bem-estar dos indivíduos, ultrapassando o nível
imediatista da produtividade”. (ROTENBERG; MARQUES; MENNA-BARRETO, 1999, p.
43).
Buscando o aprimoramento, um dos objetivos da cronobiologia é empregar o
conhecimento dos ritmos ao estudo do desempenho humano, deste modo orientando as
empresas no sentido de aproveitar os picos de disposição dos funcionários, em contrapartida,
diminuir a produção nos horários em que os ritmos apresentam quedas. A cronobiologia alega
que a maior parte dos ciclos biológicos humanos se dá num período de 25,2 horas. O organismo
não percebe a mudança de estações pela diferença de temperatura, e sim pela quantidade de luz,
que varia conforme as estações. (OLIVEIRA, 1989).
A cronobiologia responsabiliza a diminuição da quantidade de luz, pelo
crescimento de surtos de depressão nos meses frios, devido a baixa luminosidade. Por isso, em
países europeus e nos Estados Unidos, já se trata a depressão com fototerapia, em que o
incentivo de luz serve para acertar os ponteiros do relógio biológico. Para realizar o tratamento,
o paciente é isolado em um ambiente desprovido de qualquer sugestão da hora do dia, desta
forma os médicos medem alguns parâmetros fundamentais. Assim, são decretadas as
características dos ritmos biológicos naturais. E estas características mostram como está
funcionando o relógio biológico, mais expecificamente se está atrasado ou adiantado.
(OLIVEIRA, 1989).

2.1 RITMO CIRCADIANO

O ritmo circadiano compreende o período de 24 horas no qual o ciclo biológico se


completa. Entre outras funções, é ele que controla a secreção hormonal responsável pela
regulação dos estados de sono e vigília. Esse ciclo sofre influência direta de estímulos
ambientais no qual o indivíduo está inserido. Estresse, desgaste físico e psicológico são fatores
16

que podem alterar a secreção de um dos principais hormônios produzidos durante o sono, o
cortisol. Ele é responsável por estimular a área do cérebro que nos permite identificar o período
do dia em que nos encontramos. Por esse motivo fala-se da importância de um mínimo de 7 a
8 horas diárias de sono, a fim de prevenir problemas de fadiga e diminuir o risco de acidentes.
(ICAO, apud PELLEGRINELLI et al, 2015).
Outro ponto importante que devemos dar ênfase é o mecanismo homeostático, que
está presente no corpo humano, sua função é estimular o corpo humano na presença da luz do
dia. Desta forma a combinação do ciclo circadiano com o mecanismo homeostático é que leva
o ser humano a ficar acordado durante o período do dia e sonolento durante o período da noite.
(GIUSTINA, 2013, apud PELLEGRINELLI et al, 2015).
Devido longas jornadas de trabalho ou voos noturnos, que a tripulação é obrigada
a realizar, sem descanso ou alimentação adequados, acontece a quebra do ritmo circadiano,
fazendo com que o indivíduo passe a mostrar sinais de fadiga. (CARMO, 2013, apud
PELLEGRINELLI et al, 2015).
As empresas costumam adaptar as escalas de voo dos funcionários para que tenham
folgas periódicas, porém isso não resolve os problemas de alterações do ciclo. Pesquisas estão
sendo feitas para desenvolver uma forma de modificar o funcionamento do cérebro através de
hormônios como a melatonina, para que o ritmo circadiano possa ser modificado conforme a
necessidade do tripulante. (RICHARD, 2008).

2.2 SONO

Durante o processo de sono de uma pessoa, o mesmo pode apresentar interrupções


devido a fatores diversos, desta forma comprometendo a capacidade de restaurar algumas
funções especificas do sistema neurológico humano. Ocorrem muitos processos fisiológicos
durante o sono, consequentemente quando nosso corpo é privado destes processos podem
apresentar sinais como sonolência, fadiga e variação do humor desta forma. Desta forma
destacamos a importância do sono restaurador para o bem estar do tripulante e para a segurança
da operação aérea. (CARMO, 2013, apud PELLEGRINELLI et al, 2015).
Dormir é tão vital quanto comer e beber água. O corpo nos envia sinais quando
estamos com fome, sede ou sono, portanto, não é menos importante que os demais e, para que
a necessidade fisiológica seja sanada a única solução é dormir, pois não existem métodos que
substituam os efeitos do sono para o corpo humano. A falta de sono pode acarretar episódios
17

de sonolência incontroláveis durante a operação de aeronaves, fazendo com que os pilotos


percam a consciência temporal do período em que passaram dormindo e degradando a
performance desenvolvida durante o voo. (RICHARD, 2008).

2.3 FADIGA

Toda operação que é realizada por humanos existirá uma probabilidade que ocorra
algum erro, e quando a operação é submetida a situações de estresse ou sobrecarga de trabalho,
a probabilidade da ocorrência do erro é elevada consideravelmente. (HELMREICH, 1998;
FAA, 2002; apud PELLEGRINELLI et al, 2015).
A falha humana representa cerca de 70-80% da ocorrência de acidentes de
transporte, sendo que desses, 20 a 30% possuem a fadiga como importante fator contribuinte.
A fadiga pode ocorrer por diversos motivos, mas na aviação os principais fatos são
pela perda de sono, rompimento do ritmo circadiano, elevadas jornadas de trabalho com direito
a voos na madrugada (AKERSTEDT et al., 2003, apud PELLEGRINELLI et al, 2015).
Os fatores que podem causar a fadiga são variados e ocorrem com frequência na
rotina do aviador, como a falta de sono reparador, ingestão excessiva de cafeína, desidratação,
atividades enérgicas, ruídos, vibrações, doenças, medicação não controlada, hipoglicemia,
hipóxia, variações de temperatura, mudanças no ciclo circadiano, visão debilitada, tédio,
tremores, e problemas externos não resolvidos (RICHARD, 2008).
Desta forma, pode-se concluir que a interrupção do ciclo circadiano devido os
fatores anteriormente citados, estão intimamente ligados com a diminuição da percepção e do
tempo de reação do aeronauta, fazendo com que, consequentemente, ocorra maior número de
acidentes por falha humana.
18

3 SAÚDE/PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À PROFISSÃO DO


AERONAUTA

Este capítulo abordatrata da saúde do aeronauta, considerando a certificação médica


para o exercício da profissão, o ambiente de trabalho e os agravos que podem ocorrer ao longo
da carreira do aeronauta, tais como problemas cognitivos, ortopédicos, cardíacos, vasculares,
oftalmológicos, secundários as desordens do ritmo circadiano.

3.1 SAUDE DO AERONAUTA

3.1.1 Certificado médico aeronáutico e sua regulamentação

A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) disponibiliza através do


Regulamento Brasileiro de Aviação Civil Nº67 Emenda Nº00 normas gerais para a realização
de inspeção de saúde e procedimentos afins para obtenção e revalidação de certificados de
capacidade física.
Neste regulamento, é descrito os tipos de exames clínicos e complementares
exigidos para que o tripulante possa exercer a sua função abordo da aeronave, sendo assim,
demonstrando que as suas condições psicofísicas estão aptas. Caso alguma anormalidade for
detectada durante a realização dos exames, o tripulante será afastado temporariamente do
exercício da profissão, aguardando o tratamento correto para retornar ao exercício da profissão.
O CMA é pré-requisito necessário para o candidato que deseja atuar como Piloto,
Comissário de Voo ou Mecânico de Voo. A certificação médica tem como o objetico
estabelecer limites à segurança do vôo consequente de problemas de saúde, que o candidato
possa apresentar. Assim tendo validade específica de acordo com a classe do CMA, função,
idade e outras possíveis exigências médicas.

3.1.2 Ambiente de trabalho do aeronauta

É de amplo conhecimento que o ambiente de trabalho de um aviador não é apenas


limitado ao cockpit de uma aeronave. O aviador conta com horas de solo, diferentes aeroportos,
mudança de equipe de trabalho e outros fatores que caracterizam o seu meio de trabalho de um
piloto de avião de forma tão impar.
19

O ambiente de trabalhado do aeronauta possui características de ar seco, ruidoso


e, por vezes, de alto nível de estresse, o que correlacionado a improprias horas de dencanso,
pode aumentar os efeitos negativos da fadiga e diminuir os níveis de segurança operacional
desejados. (SILVEIRA, 2011).
A operação de aeronaves requer do tripulante altos níveis de atenção a inúmeros
fatores o que o circumdam durante a jordana de trabalho e, todavia, memória aguçada para que
seja possível a aplicação dos conhecimentos obtidos para melhor realização dos procedimentos
de decolagem e pouso a serem realizados. (SILVEIRA, 2011).
Uma das formas mais comuns e efetivas para o gerenciamento individual da fadiga
seria a prática regular de exercícios físicos, porém devido a forma ímpar da escala de um
tripulante, muitas vezes a efetiva regularidade da prática acaba sendo impossibilitada devido
aos diferentes horários e escalas de folga. (SILVEIRA, 2011).
De acordo com o ciclo circadiano, os indivíduos possuem dois momentos de maior
sonolência durante um dia e a diminuição da capacidade mental é reduzida em tais
circunstâncias. Um tripulante, quando em alta carga de trabalho e má gerenciamento de folgas,
está ainda mais sucetível à tais diminuições de capacidade mental, também, colocando em risco
a segurança operacional que por ele deve ser exercida. (DUVAL NETO, 2006).

3.2 PROBLEMAS DE SAÚDE REFERENTES À PROFISSÃO DO AERONAUTA

3.2.1 Problemas ortopédicos

Uma parte relevante dos afastamentos nas empresas deve-se aos casos de patologias
ortopédicas. A decisão médica final ocorre pela avaliação do grau de prejuízo funcional residual
encontrado após a lesão ou o dano estarem curados e o tratamento e reabilitação completos.
Claramente situações onde ocorram limitações de movimento, perda de força ou prejuízos
funcionais são prejudiciais à segurança de operação das aeronaves e nesses casos o afastamento
do tripulante é mandatório. (RAYMAN, 2006).
Um estudo indicou que cerca de 80% dos pilotos civis e militares já apresentaram
dores na região lombar, dos quais a maioria não teve maiores complicações ou impedimentos.
A causa mais comum costuma ser a distensão do músculo lombo sacral onde o paciente pode
ser afastado temporariamente para tratamento com relaxantes musculares, terapias físicas,
massagens dentre outros. Também podem ocorrer patologias mais graves, que necessitem de
20

tratamento mais intensos, que por vezes necessitam do afastamento da função e que serão
tratadas a seguir. (RAYMAN, 2006).

3.2.1.1 Hérnias de disco

Alguns casos onde são relatados dores nas costas podem estar relacionados ao
aparecimento de hérnias de disco, que são degenerações dos discos localizados entre as
vértebras da coluna (Fig. 1), pressionando o nervo espinhal provocando dor e/ou disfunção
neurológica, por vezes irradiando a dor pela compressão dos nervos para as pernas. As causas
comuns são o levantamento excessivo de peso ou traumas, que causam o desgaste dos discos e
pode ser diagnosticado pela diminuição da capacidade de movimentação da coluna, redução
dos reflexos de tornozelos e joelhos e exames de imagem. (RAYMAN, 2006).
O tratamento pode ser por medicamentos como analgésicos e relaxantes
musculares, onde é recomendado o descanso e sono em superfícies firmes ou pelo método
cirúrgico, quando o anterior falhar ou houver recorrência dos sintomas, porém uma parte dos
pacientes continuará a sentir dores. No caso do tratamento cirúrgico, os tripulantes precisam
aguardar um período de três a quatro meses antes de retornar ao voo, porém para os dois
métodos, caso as dores continuem e prejudiquem a performance, faz-se necessário o
afastamento da função. (RAYMAN, 2006).

Figura 1 – Hérnia de disco.

Fonte: SOS ENFERMERO. Disponível em: <http://www.sosenfermero.com/noticias-de-salud/pacientes/hernia-


de-disco/>.

Conforme ilustrado na figura 1, fica evidente o fato da compressão das raízes


21

nervais pelo disco herniado. Tal compressão causará dor de forma proporcional ao tamanho da
inflamação, o que será decisivo para uma posição médica referente ao futuro da carreira do
tripulante.

3.2.1.2 Espondilólise

Casos de espondilólise, que é um defeito no arco neural da vértebra lombar mais


baixa, podem ser caudados por má formação congênita ou uma fratura por estresse,
diagnosticados por exames de imagem e gerando dores na lombar em alguns pacientes. O
tratamento pode ser feito com o uso de uma faixa abdominal e analgésicos. Para a aviação a
importância está na região em que acomete, por ser a região da espinha mais afetada pelo
estresse da aviação, provocando o afastamento dos pilotos com sintomas frequentes, mas
adotando medidas mais brandas em caso de sintomas infrequentes. (RAYMAN, 2006).

3.2.2 Espondilolistese

A espondilolistese ocorre quando há um deslizamento frontal de uma vértebra, por


causas congênitas, degenerativas do disco ou pela espondilólise, provocando dores na lombar
e compressão do nervo espinhal e também é diagnosticado por exames de imagem. O
tratamento é feito a partir de analgésicos e descanso na cama, necessitando do afastamento da
função, ou por cirurgia, onde o tripulante precisa aguardar de quatro a seis meses para o retorno
ao seu campo de atuação. (RAYMAN, 2006).

3.2.3 Doenças cardiovasculares

Doenças cardiovasculares são o maior problema de saúde e a principal causa de


mortalidade e morbidez em países industrializados, tonando-se a maior fonte de preocupação
aero médica e de impedimento de licenças dos aeronautas. Os casos mais comuns de problemas
então em doenças coronárias, disritmias cardíacas e desordens das válvulas. Estudos recentes
nos Estados Unidos apontaram doenças cardiovasculares como a causa principal de mais de
40% das mortes registradas no país nos últimos tempos, já a Organização Mundial da Saúde
22

estima que em 2025 essas doenças serão a principal causa mundial de morbidez e mortalidade.
(DAVIS, 2008).
Alguns passos são adotados pelos médicos para obter diagnósticos, baseados em
uma razão de porcentagem de eventos por ano, de um a três anos para efeitos de curto prazo e
de cinco a dez anos para longo prazo, utilizando dados de aeronautas e da literatura clínica. Para
os dados selecionados, os problemas de incapacitação completa ou súbitos, como ataque
cardíaco, são fundamentais, mas todos os outros fatores que possam trazer a eventualidade de
risco para o voo devem ser considerados. As avaliações médicas feitas por exames periódicos
devem ser capazes de identificar tanto tripulantes que possuam sintomas quanto os
assintomáticos, para promover a eficácia da prevenção e tratamento dos problemas. (DAVIS,
2008).

3.2.4 Doenças da artéria coronária

O paciente acometido por doenças da artéria coronária, que são causadas


predominantemente por rupturas ou desgastes das paredes arteriais, pode desenvolver isquemia
do miocárdio, angina estável ou instável e até evoluir para uma morte súbita cardíaca, que
apresenta maior parte das ocorrências, já que em apenas 25% dos casos o indivíduo sente dores
(angina) antes da morte súbita e, quando os sintomas aparecem costumam durar em torno de
uma hora. O problema é de extrema relevância para a aviação visto que essas ocorrências podem
gerar decréscimo da performance dos tripulantes, podendo resultar em cenário catastrófico no
caso de incapacitação em voo, sendo apontado como causa de perda de controle e morte em
alguns acidentes civis e militares. (DAVIS, 2008).
A prevalência da doença varia com a idade e estilo de vida do indivíduo, quanto
mais novo e melhor a qualidade de vida do paciente, menores são as chances de desenvolver o
problema. Porém, estudos por autópsia com soldados mortos em guerras mostram que 10% a
mais que a média encontrada na população geral apresenta lesões, de forma semelhante estudos
demonstraram incidência superior também em pilotos mortos em acidentes. No caso dos
tripulantes, essas lesões aumentaram significativamente após os trinta anos, chegando a
expressivos 43% dos examinados com idades próximas a cinquenta anos. (DAVIS, 2008).
Os principais fatores de risco para o desenvolvimento das doenças são o tabagismo,
hipertensão, fatores psicossociais, histórico familiar, consumo diário de álcool, obesidade
abdominal, baixo consumo diário de vegetais e o sedentarismo, apontados como predominantes
23

em 90% dos casos de pacientes com o problema. A prevenção do quadro requer


acompanhamento médico constante, por meio de exames periódicos e a reeducação do
tripulante para que o mesmo adote um estilo de vida saudável condizente com atitudes que
evitem os fatores de risco citados acima, evitando que o tripulante desenvolva a doença.
(DAVIS, 2008).

3.2.5 Hipertensão

A hipertensão é caracterizada pela alta pressão sanguínea que o sangue exerce


contra as paredes das artérias para conseguir circular por todo o corpo, causada pelo
estreitamento das artérias, que aumentam a força requerida pelo coração para bombear o
sangue, causando a sua dilatação e danos às artérias. A doença é um dos fatores de risco para o
desenvolvimento das doenças da artéria coronária, e pode acometer pessoas de todas as idades
e etnias. (DAVIS, 2008).
Os fatores de risco para o desenvolvimento da hipertensão são o tabagismo,
sedentarismo, obesidade, histórico familiar, ingestão demasiada de álcool, estresse e excesso
de sal na alimentação, podendo acarretar infarto do miocárdio, derrames, crescimento do
coração, edema nos pulmões, insuficiência cardíaca, falência dos rins, aneurismas, dissecação
da aorta e angina. O tratamento é feito por meio da administração de medicamentos e combate
aos fatores de risco, o último também é utilizado como forma de prevenir o surgimento da
doença. (DAVIS, 2008).

3.2.6 Varizes

O sistema vascular é o responsável por promover a circulação sanguínea do


organismo. O coração faz o bombeamento do sangue que circula pelo corpo e é oxigenado pelos
pulmões, as artérias são as responsáveis por enviar sangue oxigenado ao corpo e as veias pelo
retorno do sangue venoso ao coração, por meio de válvulas que facilitam o fluxo. Quando essas
válvulas não funcionam de forma correta, o sangue fica empoçado nas veias por efeito da
gravidade, provocando a deformação e inchaço dessas veias, que nesse caso passam a ser
varizes. (RICHARD, 2008).
As varizes nos tripulantes ocorrem nos membros inferiores e podem causar dor,
inchaço das pernas e pés, feridas e trombose (coágulo sanguíneo). Os fatores mais comuns para
24

o surgimento de varizes são a permanência por longos períodos em pé ou sentado, histórico


familiar e sobrepeso. O tratamento mais usual é feito por remoção cirúrgica das varizes ou pela
injeção de drogas que necrosem as veias para que não conduzam mais sangue. Dessa forma, o
recomendado para a prevenção é caminhar ao longo do dia ou fazer movimentos com as pernas
durante longos períodos em uma mesma posição e utilizar meias de compressão que favoreçam
uma circulação sanguínea adequada. (VARELLA, 2011).

Figura 2 - Veia normal e com varizes.

Fonte: MD SAÚDE. Disponível em: <www.mdsaude.com/2010/05/varizes-tratamento.html>.

Conforme ilustrado na figura 2, podemos identificar que em uma veia varicosa


existe a ineficiência das válvulas de retorno, o que possibilita a movimentação do fluxo
sanguíneo no sentido inverso.

3.2.7 Problemas oftalmológicos

A maioria dos aviadores não costumam apresentar grandes problemas de visão ao


longo da carreira, o que se encontra com maior frequência são sintomas de presbiopia (vista
cansada), geralmente à partir dos 45 anos de idade e o ressecamento da retina, devido às
condições de ar seco na cabine, facilmente tratável pela aplicação de colírios hidratantes. Em
tripulantes jovens, as ocorrências mais comuns estão ligadas a casos de trauma ocular,
especialmente os que não usam óculos, por essa razão, especialistas recomendam uso de óculos
25

de proteção em atividades de alto risco potencial, como em esportes de impacto, para evitar
possíveis danos. (DAVIS, 2008).
Entre os aviadores mais experientes, costumam aparecer casos de glaucoma ou
hipertensão ocular, que provocam o endurecimento do globo ocular e uma pressão no nervo
ótico, podendo degradar a capacidade visual. Atualmente já existem tratamentos com
aplicações de laser e medicinais, que podem ser recomendados para aviadores seguramente por
não apresentarem efeitos colaterais à visão a garantindo a permanência do tripulante em sua
carreira sem o comprometimento da segurança de voo. (DAVIS, 2008).

3.2.8 Problemas psiquiátricos e psicológicos

A aviação possui um ambiente de trabalho considerado muito complexo e


dinâmico, diariamente novos fatores entram em consonância com a rotina do aeronauta. Os
tripulantes ficam expostos a contínuos estímulos e pressões profissionais e pessoais,
possibilitando em alguns casos desequilíbrios emocionais, estresse, depressão, fadiga entre
outros quadros que afetam o trabalhador psicologicamente. (RAYMAN, 2006).
Os sintomas apresentados em quadros de estresse tendem a ser cumulativos como
os da ansiedade e depressão, apontando como principais o aumento de esquecimentos em
atividades rotineiras, distração e foco demasiado em um único aspecto, alterações de humor,
irritabilidade, mudanças de comportamento, infelicidade e desânimo. O Tratamento deve ser
feito com acompanhamento especializado para treinar métodos de prevenção, como técnicas de
reflexão, incentivos ao tripulante para solucionar problemas pessoais e aumentar a tolerância
às situações potenciais cotidianas. (DAVIS, 2008).

3.2.9 Ocorrências na área da otorrinolaringologia

A área da otorrinolaringologia compreende estruturas complexas do organismo, que


devem estar em pleno funcionamento para que o piloto esteja apto ao voo, são elas: ouvidos,
nariz e garganta. Quando algumas das funções está prejudicada, como quando o bloqueio do
tubo de Eustáquio ou a labirintite estão enviando sinais conflitantes ao sistema nervoso central,
o tripulante pode entrar em um quadro de plena incapacitação para o voo. Algumas ocorrências
da otorrinolaringologia podem desqualificar permanentemente para o voo, mas felizmente a
26

maioria delas é tratável, tornando-se incomum o afastamento permanente dos tripulantes de


suas funções (DAVIS, 2008).

3.2.9.1 Perda auditiva induzida por ruídos

A perda auditiva induzida por ruídos causada por exposição ocupacional é um


problema sério e costuma resultar em altos custos por compensação para as empresas que
poderiam ser evitados. Existem programas de conservação auditiva que fornecem exames
auditivos, equipamentos de proteção individual, medição dos ruídos nos locais de trabalho e
conscientização dos funcionários para trabalhar na prevenção dos problemas auditivos (DAVIS,
2008).
Sabe-se que os ruídos contínuos são mais prejudiciais do que os do tipo
intermitente, e que os tripulantes estão em constante exposição a esse tipo de ruído. Para evitar
maiores danos, especialistas recomendam o uso de tampões de ouvidos em conjunto com fones
de ouvidos que cubram externamente as orelhas, sendo notável uma eficiência maior ainda com
o uso dos que possuem redutores ou atenuadores de ruídos (DAVIS, 2008).

3.2.9.2 Labirintite

Labirintite é uma doença do ouvido interno, que pode causar vertigens


incapacitantes e pode ser classificada como tóxica, serosa ou infecciosa. A labirintite tóxica é
causada pelo uso de alguns antibióticos, podendo afetar a cóclea e o sistema vestibular, gerando
vertigem, zumbidos e perda auditiva, comumente revertidos ao término do medicamento, mas
podendo tornarem-se permanentes os danos. A labirintite serosa é uma sequela de um trauma
no vestibular e facilmente reversível, já a labirintite infecciosa pode ser causada por inflamação
bacteriana ou viral auditiva, e apesar de ser incomum, necessita de tratamento com antibióticos
ou drenagem cirúrgica para combater os sintomas (RAYMAN, 2006).

3.2.9.3 Renite alérgica

A renite alérgica é uma doença incômoda que provoca espirros, coceira no nariz,
excesso de secreções nasais e o bloqueio das passagens de ar e estão relacionadas ao contado
27

com poeira ou pólen. A doença costuma ser um incômodo para os aeronautas não apenas pelos
sintomas inconvenientes, mas também pelo fato de que os tratamentos efetuados por meio de
antialérgicos da primeira geração causavam sedação e sonolência, incapacitando os tripulantes
para o voo. Já na segunda geração, os antialérgicos foram aprimorados de forma a não
apresentar efeitos adversos e possibilitarem sua indicação médica sem prejuízos a performance
do profissional. (RAYMAN, 2006).

3.2.9.4 Desvio de septo

Em alguns casos, uma obstrução nasal pode ser causada por uma anormalidade
estrutural, como os de desvio de septo e polipose nasal, que impedem o ar de circular livremente
devido a um bloqueio mecânico formado por eles. Se o ar não puder entrar e sair livremente
das cavidades nas mudanças de altitude, ocorre a barosinusite, que causa dor e desconforto ao
tripulante. Quando há desvios leves que não alterem o fluxo de ar, geralmente não é necessário
tratamento e não há contraindicação para o voo, já em casos em que a lesão é maior, interferindo
na passagem de ar para as cavidades, restrições ao voo podem ser aplicadas pelos riscos da
ocorrência de barosinusite em voo e o tratamento cirúrgico é recomendado para reabilitar-se ao
voo. (RAYMAN, 2006).

Figura 3 – Septo nasal normal e septo nasal desviado.

Fonte; PERFEITO: 6 sinais de desvio de septo. Disponível em: <https://perfeito.guru/lbmkt-4895-6-sinais-de-


desvio-de-septo/>.

Na figura 3 encontramos, de forma evidenciada, a ilustração da diferença entre um


septo nasal desviado contraposto a um septo normal. Conforme Rayman (2006), existem
28

diferentes intensidades de desvio de septo, quanto mais intensificado seja o desvio mais se torna
necessário métodos de correção
Em suma, esse capítulo visa expor como o Certificado Médico Aeronáutico (CMA)
e sua regulamentação possuem grande importância para a segurança da operação aérea, além
de expor quais os procedimentos adotar, em caso do tripulante não estar apto físico ou
mentalmente para exercer sua função a bordo. O ambiente de trabalho no qual o aernonauta
está inserido, além de sua rotina composta por exaustivas horas de trabalho, contribuem de
forma prejudicial ao exercício da profissão, pondo em risco sua própria segurança e a de seus
tripulantes. Dessa forma, as somas de todos esses fatores ao longo de anos geram problemas de
saúde relacionados à profissão do aeronauta, tais como problemas articulares, circulatórios,
cardíacos, oftalmológicos, além de desordens de natureza psicológica.
29

4 SEGURANÇA OPERACIONAL E FATORES HUMANOS

Este capítulo trata da segurança operacional, fatores humanos e, também, um dos


problemas vivenciados pelos aeronautas, a fadiga.
Para o correto exercício da aviação, é necessário promover um ambiente
profissional adequado. Minimizar as desordens geradas por cargas horarias extenuantes, pouco
descanso e estresse as quais influenciam diretamente na qualidade de vida do aeronauta.
A segurança operacional tem como objetivo prevenir acidentes e incidentes
aeronáuticos, para isso fazem-se necessários programas de prevenção, relatórios preventivos,
administração dos riscos por todas as áreas envolvidas nas operações aéreas, tais como:
empresas aéreas, agência reguladora, empresas de handling, empresas de catering, empresas de
manutenção, administradoras de aeroportos. (SANTOS, 2014).
Buscando o aprimoramento das operações aeronáuticas, a segurança operacional
vem com o intuito de traçar padrões e criar métodos de melhorar a relação entre o trinômio
homem-meio-máquina.
Sabendo da existência dos problemas provenientes da relação entre o aviador, o
meio em que está inserido e a operação das máquinas, faz-se necessário o estudo dos fatores
humanos que sofrem essas influências correlacionados ao meio e a realidade da vivência do
aviador.
Programas para evitar que o excesso de fadiga ocorra com frequência devem ser
criados para diminuir as chances de a segurança operacional ser afetada pela fadiga dos
tripulantes. Estes programas devem contemplar oportunidades de repouso com qualidade, e que
o ciclo circadiano seja quebrado o menor número de vezes possível.
A fadiga está presente na vida do ser humano diariamente. No caso dos tripulantes
ela pode ser causada pelo próprio trabalho. Longas jornadas de trabalho, local inapropriado para
o repouso, alterações constantes no ciclo circadiano, mudança de fuso horário, estresse, são
fatores do trabalho dos tripulantes que podem gerar fadiga.
Visto que a fadiga é um fator de difícil eliminação, os fatores ligados ao trabalho
podem e devem ser gerenciados pelas empresas que utilizam da operação humana.
Cientes da existência e limitações geradas pela fadiga, as empresas aéreas são
incentivadas a estruturarem as escalas de voo levando em consideração a melhora da qualidade
de vida dos tripulantes. Pontos importantes a serem analisados em uma escala baseada no
equilíbrio entre a carga horária e a relevância da qualidade de dencaso seriam o número de
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folgas e os locais de repouso. Visto que o tripulante obtem uma redução do estresse gerado
pelas operações quando existe a possibilidade de visitas a família, por exemplo.
Após identificado o que é a fadiga e quais os perigos ela pode trazer às operações
aeronáuticas, podem ser avaliados os riscos e como os mesmos podem ser mitigados, então o
programa de gerenciamento de fadiga leverá esses fatores em consideração, afim de manter-se
um monitoramento sobre a eficácia da redução da fadiga e a possibilidade de novas adapções
para melhores resultados. (OLIVEIRA, 2011).
Dessa forma, para que haja segurança no exercício da profissão se faz necessário
que todas áreas envolvidas na prevenção, promoção de saúde e administração de riscos estejam
trabalhando conjuntamente em beneficio à saúde do profissional. As empresas aéreas estão
sendo cada vez mais incentivadas a adotarem medidas que visam diminuir fadiga e estresse de
seus funcionários, diminuindo assim o risco de falha humana.
31

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho de conclusão do curso teve como objetivo adquirir conhecimento


sobre os prejuízos causados à saúde da tripulação pelo exercício de sua profissão, e avaliar
métodos conhecidos para a sua prevenção, como forma de reduzir o risco de desenvolvimento
e/ou agravamento de doenças. Para atingir este objetivo, desenvolveu-se uma pesquisa do tipo
descritiva com abordagem qualitativa.
Primeiramente, discorreu-se sobre o funcionamento do ritmo circadiano, que é um
ciclo biológico que se compreta no período de 24h, é ele que controla a secreção hormonal
responsável pela regulação dos estados de sono e vigília. O rompimento do ritmo circadiano,
pode apresentar consequências como estresse, desgaste físico e psicológico, que os mesmos
podem diminuir a percepção do piloto e, consequentemente, aumentar o risco de incidentes ou
acidentas.
Em seguida, tratou-se da cronobiologia humana. Como os fatores da cronobiologia
podem influenciar no tripulante, mais especificamente no sono, devido a interrupções
apresentadas durante o período de descanço e na fadiga que se manifesta devido a longas
jornadas de trabalho e períodos curtos de descanço.
A fadiga causada pelas longas horas de trabalho, horários inoportunos e locais
desapropriados para um bom descanso pode ser mitigada através de ações preventivas das
empresas, caso contrário, a segurança continuará sendo prejudicada pela fadiga dos tripulantes,
que continuarão trabalhando sob seu efeito, estando cansados, desatentos, com a memória
prejudicada ou desmotivados.
Também foi tratado do ambiente de trabalho do aeronauta, como é a sua rotinha de
trabalho e como a jarnada de trabalho pode ser cansativa e prejudical à segurança da operação.
Posteriormente, foram apresentados os problemas de saúde relacionados à profissão
do aeronauta, devido às rotinas de trabalho e o local de trabalho do aeronauta, tais como,
Problemas Ortopédicos, Doenças Cardiovasculares, Problemas Oftalmológicos, Problemas
Psiquiátricos, Psicológicos e Problemas na área da otorrinolaringologia, são os principais
fatores que são desencadeados pela profissão do aeronauta. E os fatores humanos que podem
afetar a segurança operacional.
Apesar das evoluções tecnológicas propiciarem cada vez mais proteção e segurança
à saúde da tripulação, faz-se necessário modificar alguns conceitos pré-existentes do
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conhecimento dos problemas de saúde da equipe de voo por parte das empresas, para que seja
inserida uma cultura de cuidado e prevenção de doenças no meio aeronáutico.

O foco esteve em listar as principais ocorrências aero médicas que um tripulante de


voo poderá presenciar ao longo de sua carreira, citando seus sintomas e causas mais comuns,
os tratamentos recomendados pelos médicos e divulgando formas de prevenção dos problemas
já conhecidas pela medicina, para que os aeronautas possam evitar os problemas citados
anteriormente.
A pesquisa aborda essencialmente fatores fisiológicos que possam ser causados ou
agravados pela profissão de aeronauta, tais como problemas ortopédicos, cardíacos, vasculares,
oftalmológicos, cognitivos e de ordem circadiana.
O trabalho não trouxe uma solução definitiva para os problemas apontados, mas
apresentou os principais sintomas que ocorrem no tripulante, deste modo, as empresas aéreas
podem utilizar desse conhecimento para minimizar a propabilidade de problemas de saúde do
tripulante.
Assim, recomenda-se outras pesquisas relacionadas à saúde, que possam trazer o
bem-estar do tripulante ao longa da carreira.
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REFERÊNCIAS

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