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Direito Internacional

Tiago Borges - Avaliação 1 - 2020.2

O direito é um conjunto de expectativa de comportamentos de uma sociedade. A existência


da norma cria nas pessoas, uma expectativa de que as pessoas criem expectativas nas normas.
A possibilidade da pessoa antever as consequências do seu comportamento é o que move elas
a realizarem aquilo que está previsto na norma. A sociedade tem a expectativa de que as
pessoas se comportem de acordo com a expectativa criada pela norma em relação ao seu
comportamento, impactando o sistema econômico, de saúde, de educação, etc (se organizam
de acordo com essa expectativa de comportamento). Se o direito é isso, não necessariamente
o direito emana do Estado.

O que caracteriza o direito? De todos os outros sistemas sociais, o direito é a capacidade de


distinguir os comportamentos lícitos dos ilícitos. O direito seria um sistema de normas, que
criam expectativa de comportamento, que diferenciam lícitos dos ilícitos. Aqueles que
praticam atos ilícitos são obrigados a responderem a sua conduta a fim de que se cumpra a
expectativa de comportamento.

O descumprimento das expectativas normativas pelo sujeito irá ensejar uma consequência,
dentro do direito, que é destinada a corrigir aquele comportamento desviante. O sistema,
portanto, reage por meio de operações que irão re-colocar aquele comportamento no
parâmetro que são as expectativas do ordenamento. O descumprimento traz, para a parte que
descumpre, determinadas consequências.

Por exemplo: Direito Penal - Isso não impede que os crimes sejam cometidos. Para além
disso, ocorrendo as condutas criminosas temos as operações dentro do direito, que são as
ações penais. A pessoa pode ou não mudar seu comportamento depois de ser presa.

● Direito diferencia-se funcionalmente da religião e da moral;

Determinadas normas, que são a priori alimentadas por valores religiosos, muitas
vezes integram o direito porque passaram pelo processo de internalização dessas
normas. Como por exemplo: o aborto.

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● Acoplamento estrutural entre política e direito determina o que é direito;
● O direito diferencia o direito do não-direito.

SOCIEDADE MUNDIAL E O DIREITO

O que caracteriza a sociedade mundial? Temos que entender que a ideia de mundo é uma
ideia muito discutida no plano da filosofia, sendo o espaço onde todas as coisas acontecem. A
ideia de mundialidade aqui não se resume a tão somente o Planeta Terra. Nesse mundo,
percebemos que a sociedade se relaciona em um único espaço, por ora, a humanidade se
relaciona somente no Planeta Terra - de forma integral. Apesar da política e do direito se
organizarem de maneira territorializada em forma de estados, a sociedade humana não se
relaciona de maneira territorializada.

Nós somos seres mundiais, então isso não nos impede de relacionar-mos com outras
sociedades, de outros países. A cultura e a arte é mundial, e nós, como seres humanos,
podemos nos comunicar e admirar a estética mundial. A economia é mundial, não se baseia
na lógica territorial, como por exemplo a Lei da Oferta e da Procura (aplica-se
mundialmente). A educação não é territorial. Essa observação da realidade é o que
caracteriza uma sociedade mundial.

Alguns autores observam que o estado vem perdendo essa centralidade. A ideia de que
existem direitos que não tem como ser mantido pelo Estado. O direito encontra-se
territorializado, manifestado a partir dos estados, gerando direitos individualizados.
Entretanto, como a sociedade é mundial, os Estados se relacionam entre si como sujeitos
partícipes da sociedade mundial, produzindo expectativa de comportamento entre eles. Ou
seja, existem normas que emanam do comportamento dos Estados na sociedade mundial
(Direito Internacional).

O Direito Internacional cria uma expectativa de comportamentos, já que toda a sociedade


mundial se comporta com a expectativa de que os sujeitos da sociedade internacional se
comportem de acordo com as expectativas criadas pelos direito internacional.

Se a sociedade mundial é esse complexo entre os vários sistemas sociais, porém o direito se
manifesta de maneira territorializada, é por razão disso que surgiu, de maneira natural, o
Direito Internacional. Este não surge movido por nenhum tipo de projeto, ele surge de uma

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necessidade dos estados, na medida que se relacionavam como uma sociedade internacional,
tinham a necessidade de criar normas estabilizadoras entre eles, diminuindo os conflitos. O
Direito Internacional continua se desenvolvendo com vista a um nível de estabilização entre
os estados na sociedade mundial. Como o Direito Internacional não se organiza na forma
territorial, ele acaba tendo uma possibilidade de comunicação mais próximas das demandas
mundiais. As situações tipicamente globais são passadas primeiro pelo Direito Internacional e
depois para chegarem a acertos localizados em cada território. Se o nível do problema é
global, é preciso debater esse tema a nível internacional primeiro.

O direito internacional precisa lidar com o princípio da soberania e o reconhecimento da não


intervenção são premissas pelas quais os direitos internacionais funcionam. Não vivemos
mais o paradigma de uma soberania absoluta, portanto, o poder da soberania é limitado pelo
direito. Numa sociedade contemporânea a soberania não é pensada somente com o poder de
decidir e não sofrer intervenção, mas também o direito de participar (aceitar as regras).

O direito internacional acaba permitindo uma maior capacidade de assimilação das demandas
que vem da sociedade. Ex: A medida que a OMS foi assimilando que havia uma pandemia,
houve uma expectativa dos estados que a OMS encarasse isso como um risco mundial.

Exemplo: Como eu garanto que uma marca seja impedida de ser usada nos EUA, Indonésia,
etc. se eu não tiver uma perspectiva mundial?

● Não se pode confundir o Direito Internacional com o Direito Estrangeiro;


● Esse Direito Internacional que estamos estudando não é Direito Internacional Privado
(relações entre dois direitos);
● Vamos estudar o Direito entre os estados;
● Exemplo: Normas do Facebook/Instagram são normas globais, mas que não fazem
parte do Direito Internacional, já que elas são entidades privadas.

Discussão começo de aula:

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL


Como os Estados têm trazido para o Direito Internacional temas que não havia perspectiva de
se criar um ambiente na sociedade internacional que fosse aplicado o Direito Penal. Pois o
Direito penal se vincula ao direito político de pessoas. Ao passar dos anos, o processo
evolutivo da sociedade internacional levou a essa disciplina que determinados assuntos
extremamente graves podem sofrer penas de um órgão internacional. Em princípio, o que se

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espera é que os Estados unam os crimes, a ordem internacional não quer tirar a aplicação das
penas dos Estados, mas sim, querem aplicar pena caso o Estado não o faça.
Inclusão da pessoa humana como sujeito do Direito Internacional. Sendo isso uma evolução no
processo histórico.
TPI - É um processo ainda em curso. Ex: Necessidade de ampliar a TPI para crimes contra o
meio ambiente. Ex: Tráfico Internacional de drogas, definições de terrorismo. Há temas que
podem ser inseridos nesses tribunais internacionais.

DIREITOS HUMANOS
Como tudo no Direito, os direitos humanos são discursos. Ex: Se um brasileiro trabalha na
alemanha, recebe dinheiro na alemanha, com o dinheiro tributado na alemanha, quando ele for
trazer esse dinheiro para o Brasil, segundo o tratado bilateral entre brasil e alemanha, ele não
será tributado no Brasil. // Se esse tratado visa proteger os bens da dupla incidência da força
coletora do Estado, isso seria uma proteção dos bens dele. Então pode sim se tratar de um
direito fundamental. 1º Geração dos Direitos Humanos.
É interessante perceber como a etiqueta dos direitos humanos acaba servindo para alcançar
direitos não jurídicos. Os direitos humanos ampliam as possibilidades discursivas.
Os direitos humanos extrapolam os direitos fundamentais. Porque os Direitos Fundamentais já
são os direitos jurídicos.

TEXTO DE BORGES SOBRE DIREITOS HUMANOS

Evolução histórica do Direito Internacional

Vários autores criticam a ideia de que o direito internacional nasceu na modernidade, pois
desde a antiguidade as relações tinham um perfil internacional, no sentido de suserania e
vassalagem, por exemplo. Nós vamos trabalhar no Direito Internacional na modernidade,
criado a partir do surgimento dos Estados.

A Alvorada da Modernidade - A Baixa Idade Média (séc. VIII a XV) caracterizou-se pela
cultura renascentista, pelo êxodo rural, o declínio do feudalismo e o desenvolvimento do
comércio na Europa. Os primeiros Estados soberanos surgiram em um ambiente social
dominado pela igreja e pelo império.

● Cultura renascentista: é uma cultura que é o renascimento da cultura grega,


centrada no homem, e isso foi muito importante para contrapor o teocentrismo
característico da Idade Média. A própria noção da centralidade das decisões vai se
deslocando. Transição da cultura voltada para o espiritual para o temporal (homem
tem um tempo no mundo).

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● Êxodo rural: O fortalecimento das cidades e início da urbanização, traduzindo na
modificação da cultura humana. Isso decorre do desenvolvimento do comércio, do
mercantilismo, que acaba modificando a economia medieval, gerando um
enriquecimento dos comerciantes, que lá na frente serão chamados de burguesia.
● Conflitos: As relações feudais começam a ficar mais conflituosas, ou seja, vassalos
questionando o poder do suserano, e isso acabava impactando o topo da sociedade
(igreja e império). Estes tinham dificuldade de controlar as rebeldias que vinham de
baixo para cima.

“A estrutura hierárquica medieval se manifestava na integração sistêmica. O cume da


sociedade era composto pelo amálgama da estrutura política de dominação, que se
reproduzia com base na diferença entre o estrato superior e inferior e na semântica moral-
religiosa da distinção entre bem e o mal (moral) e entre o transcendente e o imanente
(religiosa). Esse amálgama prevalecia sobre todas as outras esferas de comunicação e, com
isso, não se distinguia claramente de ilicitude (direito): ter e não ter (economia); verdadeiro
e falso (saber); belo e feio (estética). Todos os binômios eram orientados pela semântica do
bem, que apontava para o estrato superior da estrutura de dominação social (política),
designada de nobreza. A semântica do mal era identificada pelo estrato inferior, a plebe.
Operava-se assim a lógica da inclusão/exclusão, de maneira que a conduta dos de baixo só
seria socialmente aceita como “do bem” se refletissem os padrões dos de cima. Não existia o
conceito de “pessoa” no sentido moderno. Logo, não se podia falar em instituição de
direitos, mas sim de distribuição de privilégios de status.”

● Na idade média, a estrutura hierárquica era baseada numa lógica de dois estratos. No
estamento superior estava a nobreza e o nó inferior estava aqueles que não faziam
parte da sociedade. Já que toda a decisão estava concentrada no estrato superior, como
não havia o conceito de pessoa como titular de direitos, não havia como participar da
sociedade. Até a transição de fora pra dentro da sociedade era algo que era
dificultado.

Essa realidade é uma realidade que é enfrentada a partir do processo de diferenciação


funcional dos sistemas sociais. Os sistemas sociais parciais começam a se desenvolver em
razão da aceleração do comuninação,

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As origens do Direito Internacional (tratado de westfallen - 1648)

Tratado de Wesfallen (1648) - Esse tratado faz parte de um suposto acordo de igualdade
jurídica entre os Estados. Mas nós temos que compreender que o surgimento dos Estados se
deu numa realidade adversa. Os Estados surgem a partir de reinos que se declaram
independentes do império, ou seja, a ideia de que o império não teria poder sobre aquele
espaço territorial. Recusando aceitar a imposição imperial de qualquer outro poder, fazendo
com que o reino se separe dessa estrutura como uma nova forma da sociedade.

Com o fim da antiguidade (cisão do império romano), o império romano do ocidente é


derrotado, e com isso, considera-se o fim da antiguidade e início da idade média. O legado do
império romano foi absorvido pela igreja, mas aí há uma mudança, pois com o fim do
império, a igreja vai para cima e passa a ser a grande herdeira do império romano. Com isso,
os reinos que deviam o império romano, veem a igreja como seu substituto e acabam
servindo ao papa. O papa passou a ser a grande figura que concedia o poder, e para dar conta
desse poder, no ano 800, a igreja fundou um império, chamado de Sacro Império Romano-
Germânico (império subjugado a igreja) - A igreja passou a ser a entidade espiritual e
precisava de uma entidade terrena, temporal.

O Estado então surge tendo que controlar uma sociedade muito adversa. O processo de
consolidação dos Estados é um processo muito lento, mas fundamental para eles
permanecerem como forma de organização da sociedade. (1) Consolidação do absolutismo;
(2) Grandes Navegações - enriquecimento dos Estados.

É importante ver como o mapa da Europa mudou com o tempo. Desde a independência dos
EUA e dos outros estados americanos, se pegarmos o mapa da América, veríamos que o
mapa quase não mudou de 1800 para cá.

Os protestantes queriam o direito de manifestar seu direito de culto e poder existir enquanto
pessoas, esse período se caracteriza por uma expansão.

O Mundo em Expansão (As Grandes Navegações) - A expansão territorial das grandes


potências europeias a partir do séc XV proporcionou a percepção da globalidade do mundo.
A possibilidade de comunicação entre todos os povos redimensionou a noção de sociedade. O
direito internacional moderno começa a se desenvolver parte do discurso da superioridade da
organização da sociedade na forma de Estado.

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● O direito internacional surge com uma dupla perspectiva: 1) Atribuir aos Estados
como sujeito de direitos, acaba viabilizando o fortalecimento dos Estados em frente à
igreja e ao império. De um lado o direito internacional serve como emancipação, do
outro serve como dominação; 2) Dominação dos Estados. A colonização é parte do
discurso de dominação normalizado como de direito pelo Direito Internacional. Isso
traz uma série de distorções na sociedade mundial, pois esse sistema colonial
considerou como jurídico o tráfico de pessoas e a escravidão, provocando uma forma
de genocídio não traduzida até hoje no Direito Internacional.
● Não é possível admitir a ideia de uma comunhão entre direito e moral. Não podemos
imaginar e tomar como suposto que aquilo que é conforme o direito, é moralmente
aceitável, pois senão, teríamos que concordar que era aceitável a escravidão e o
genocídio, coisa que não era. Os Estados europeus que se viam como “mais
evoluídos” nunca implementaram a escravidão em sua metrópole, eles tinham a
consciência de que a escravidão era algo moralmente condenável.

O direito internacional servia como fonte de dominação (em relação às igrejas) e de


emancipação (em relação colônias). Só com a dependência dos EUA, é que se admite pela
declaração de independência, a inclusão de uma colônia como Estado.

Recepção do direito romano

Como a igreja tinha criado o Sacro Império Romano-Germânico, ela criou o direito canônico
que convivia com o common law. Esse direito canônico acabava influenciando o direito
comum. A igreja resolveu, com a configuração do Sacro Império Romano-Germânico, decide
adotar o direito romano que era um direito imperial. A diferença é que o direito comum era
construído da sociedade (costumes) para cima, enquanto que no direito imperial romano, o
direito era imposto pelo imperador, vinha de cima para baixo. Para a igreja era muito útil ter
um direito terreno (que dialogasse com os problemas da convivência cotidiana) e que fosse
caracterizado pela imposição. A igreja, portanto, elabora o corpus iuris civilis, que é a
compilação do direito romano, que foi parar lá em Constantinopla. Com o surgimento do
Sacro Império Romano-Germânico, no séc. IX, a igreja traz o corpus iuris civilis para a Itália
para ser estudado pelos clérigos (gozadores), que estudavam e comentavam sobre este. Esses
clérigos que iam estudar o corpus iuris civilis, voltavam para os seus reinos e criavam escolas
(Coimbra, Salamanca, Oxford, etc) de direito, criadas por gozadores para ensinar o direito
romano, filosofia e teologia.

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O Direito Romano é recepcionado na Idade Média como um modelo de direito que
interessava o império. O problema foi que, depois de que o direito romano se tornou
normalizado, pelo trabalho dos gozadores como um direito comum, que era costumeiro e vai
cedendo espaço ao direito romano, isso vai repercutir aqui no Brasil (ordenações que são o
primeiro direito que é aplicado no Brasil, são resultado dessa recepção do Direito Romano) -
Quando os reis começaram a confrontar a igreja, eles passaram a puxar para si o Direito
Romano - aí a igreja leva o golpe (rei rompe com o direito canônico e diz que quem vai
prevalecer é o direito do rei). A separação entre o direito canônico e o romano é o ponto
importante para a separação dos Estados. Os povos aceitam muito melhor o direito do rei,
pois entre se vincular a punição do rei ou da igreja, eles preferem a do rei, visto que a punição
do rei era de clausurar/prender, enquanto a da igreja era, por exemplo, enforcar.

Antes de separar o direito da política, foi importante separar o direito da religião. Então,
separa o direito da religião, mas o direito continua dominado pela política, já que o
absolutismo se caracteriza por essa não diferenciação entre direito e política, já que o
direita está a serviço do domínio do Poder. No absolutismo, o direito não tem nenhuma
possibilidade de limitar a política.

Texto - Comentários
O fato da transição da idade média para a moderna ocorrem em tempos diferentes em cada
lugar, não podendo definir exatamente quando essa mudança aconteceu. Foi algo
gradativo. Ex: A Itália só vai se formar no séc XIX, a cultura italiana moderna é muito
precoce, por causa do renascimento - tanto é que temos vários autores italianos que são
fundamentais para o iluminismo.

O iluminismo é fundamental para formar uma cultura que vai confrontar o absolutismo. O
absolutismo acaba sendo confrontando pelo iluminismo que surge no seu âmbito.

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O iluminismo surge dentro do sistema absolutista, não à toa fomentado pela burguesia.
Grande parte dos pensadores iluministas são burgueses, poucos são os que têm título de
nobreza. Por que isso? Em razão do fortalecimento e o enriquecimento do Estado é
operacionalizado pela burguesia, que fomentava as Grandes Navegações, o dinheiro para
bancar as viagens, etc, era a burguesia. Só que a burguesia, no absolutismo, sofria uma
opressão fiscalizatória para manter os padrões de vida da nobreza. Depois que o Estado se
desvinculou do domínio, do império e da igreja, dentro do Estado, uma nova divisão se
revela, essa divisão começa a gerar insatisfações. O Estado absolutista tinha que domesticar
a nobreza, pois na Idade Média, quem tinha exército eram os nobres (cavaleiros). Então no
absolutismo, ele tinha o seu próprio exército. Com isso, os nobres perderam a sua função de
cavaleiros e passam a ser cortesão, que ficam apenas bajulando o rei.

Na França, onde o absolutismo perdurou por mais tempo, o rei francês começou a vender os
cargos para os nobres. Então o nobre pagava grandes quantias e comprava um cargo no
Estado e passava ocupar esse cargo. Os nobres começam a entrar no governo absolutista
como servidores públicos. Daí o nome “BUROCRACIA”. O Estado vai trazendo os nobres
para ocuparem esses cargos burocráticos.

Qual era o único limite que o Estado Absolutista tinha? O território. Ou seja, o único limite
dele era o Direito Internacional, a existência de outro Estado. Ele podia tudo dentro do seu
território. O que levou a muitas guerras, porque ele queria ampliar suas terras para ampliar
o seu poder. Um Estado não pode se impor a outro, igualdade jurídica entre os Estados
(entre os Estados europeus que se respeitavam mutuamente, mas não as colônias).

1648 - Paz de Westrailen - Equilibrio Europeu. Período em que os Estados entram menos em
conflito por disputas territoriais. Permitindo esse absolutismo e o fortalecimentos dos reinos
absolutistas. Vai até 1789 (Revolução Francesa) - Invasões Napoleónicas chega e coloca fim
nesse período de calmaria, para implementar o liberalismo, movidos pelos ideais da
Revolução Francesa.

No período que vai de 1632, quando nasce logo até o final do século XVIII, quando morre
Adam Smith, temos uma grande mudança na filosofia política prevalecente na Europa. Com
uma forte tendência para um discurso estimulado pelos interesses da burguesia. A maioria
dos autores dessa época eram ligados a burguesia, que vão tratar sobre liberdade econômica,

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de expressão, limitação jurídica do estado, divisão dos poderes do estado, etc. Então nós
temos essa realidade na ciência política que contribui para uma mudança do ambiente onde se
desenvolvem as relações de poder no absolutismo, que obviamente acaba mais tarde por ser
confrontada por ser confrontada por esses ideais liberais.

Texto - Transição Absolutismo ao Constitucionalismo (Marcelo Neves)

Dois pólos: De um lado o absolutismo o do outro o constitucionalismo. No absolutismo o


afastamento do direito na religião, ele já desenvolve, por outras razões, que o direito se afastou
da religião mas ficou funcionalizado pela política, de forma que o direito se mantém como
forma de exercício do poder. Com o afastamento da religião qual é a legitimidade da
manifestação do direito a partir do monarca? No outro polo, o que vai legitimar o direito é
justamente o procedimento político e o limite da política criada pelo direito, esse diferenciação
entre direito e política acaba por ser o grande salto que se dá na legitimação tanto do poder
político quando o direito.

E aí ele vai diferenciar os pactos de poder das constituições. Ele sinaliza ali na Magna Carta,
como por exemplo. Relevância história da Magna Carta, além do sentido político, de que os
direitos precisaram ser conquistado ainda durante o absolutismo, para que séculos depois, o
exercício desses direitos conquistados, junto ao rei, pudesse levar ao Estado de Direito. Não é
a Constituição que prevê os Direitos, é a existência dos direitos que leva a Constituição. Nós, a
sociedade brasileira, não temos essa exata dimensão da importância da conquista dos direitos.
Noção histórica de conquista de direitos, que vem de muito tempo atrás quando ainda se vivia
no absolutismo.

Esses acordos de poder são importantes para a transição do Absolutismo para o


Constitucionalismo.

Carta que acabou com a escravidão no Brasil. A primeira lei brasileira foi de 1831,
proibindo o tráfico de escravos, mas o problema foi que, essa lei tinha o objetivo de ter o apoio
do Reino Unido para a Indepência, pois o Reino Unido tinha interesses econômicos e queria
implementar no Brasil várias empresas e precisaria de mão de obra remunerada, um sistema
escravocrata não valia a pena. Só que nesse período, a principal mola propulsora da economia
brasileira era a cafeicultura, que era movida por trabalho escravo. Essa proibição de 1831, não
pegou, e só em 1850, a lei volta a proibir o tráfico de pessoas.
Entre 1830 e 1850, chegaram mais escravos ao Brasil do que em todo o período anterior desde
o descobrimento (desde o séc. XVII), isso porque as embarcações eram muitos maiores e mais
estáveis, o que impedia as mortes durante a navegação.

Demandas burguesas diantes de um Estado Absolutista.


Esses acordos moldam o princípio da legalidade, visto no direito penal, a atipicidade penal.
Ideia de que o Estado só pode intervir se estiver previamente previsto.

● Bill of Rights - Absolutismo britânico para o constitucionalismo. é um acordo


essencial para que a constituição britânica fosse reconhecida, esse Bill of Rights integra
a constituição britânica, representando uma vitória da burguesia por sua disputa na
participação. Obra de Locke que é super importante para o Bill of Rights. O B.R.
concedeu a burguesia, o poder de participar do parlamento (câmara dos comuns). Isso

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era importante, porque desde a Magna da Carta, a burguesia ficava sem um canal para
levar suas demandas. A partir da criação da câmara dos comuns, ela começa a ter uma
participação na determinação dos limites do rei e até na tributação. Burguesia com o
objetivo de impor limites ao rei.

● Habeas Corpus Act

O salto que o Constitucionalismo dá em relação aos acordos de poder (contemplava os


participantes). Aí vem a Cosntituição e diz que é a sociedade. Isso é necessário para chegarmos
ao sufrágio universal, voto, etc. Sem a generalização da Constituição, ainda estaríamos no que
acontecia do Bill of Rights, em que a câmara dos comuns era dos burguesia. A burguesia era
excluída e se inclui, ams e o restante da população? Não foi incluída. No Reino Unido, novos
elementos vão surgindo até que se chegasse a normas (costumeiras) e criasse a constituição
(não-escrita). Diferentemente do que acontece com os EUA, que tem uma constituição escrita.
Constituições diferenciam o direito da política, na medida em que estabelecem o equilíbrio
entre esses dois, coisa que esses acordos de poder não faziam. Os acordos de poder não
encerraram o absolutismo, mas foi muito importante para o Reino Unido.

Nesse mesmo período, na França vigorava o Império do Luís 14 (Rei Sol). Ele impunha seu
poder sobre a burguesia, oprimindo as demandas burguesas. Burguesia não conseguiu
conquistar os mesmos poderes por esses acordos, como aconteceu no Reino Unido. Depois da
morte de Luís 14, a burguesia toma o poder de maneira violenta, começando a Revolução
Francesa. E não só tomou o poder, pois a partir de Napoleão, a burguesia se estende pela
Europa e começa a propagar os ideais liberais.

Essa pressão da burguesia acaba por não só eclodir na frança, mas a força era tanta que ela
acaba se esparramando por outros territórios europeus, e no plano do direito internacional, é o
momento que há uma quebra de um equilíbrio que tinha sido estabelecido no Westphalen
(rompe com as invasões napoleónicas).

Essa transição acontece de maneiras diferentes nos vários estados e acaba que esse processo,
embora internos, acabam se manifestando também no direito internacional, já no séc. XIX.

Pág. 18 do texto.

Juridificação. Ele diz que o surgimento do Estado já permitiu o surgimento do Direito


Privado. No absolutismo, já podemos falar em direitos que se aplicam principalmente nas
relações privadas. Se percebe que o Direito Privado, que era o Direito Romano, começa a se
estabelecer. O que não tinha era o Direito Público (objeto de conquista).

Esse direito privado já é existente, mas os direitos públicos são objetos de conquistas nesses
aspectos de poder, nos tratados e acordos.

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Consolidação dos Direito Internacional

Com as Invasões Napoleônicas, aquela estabilidade conquista lá em Westfalen é quebrada.


Então há uma quebra do equilíbrio europeu e o declínio dos reinos absolutistas. Também no
mesmo período, até pelo enfraquecimento dos reinos absolutistas, ocorre o avanço de Bolívar
e a independência dos Estados Americanos e a expansão da sociedade internacional.

Tem-se o Congresso de Viena, que põe fim das invasões napoleónicas e decretou sua derrota.
Tem-se a obra de Vatel, que é uma obra em francês, dando uma acessibilidade maior ao
conhecimento do direito internacional, ajudando a modernizar o direito internacional e se
tornando um manual importante.

O direito internacional se consolida no séc XIX, a partir de uma modernização das suas
normas pela multiplicação e surgimento dos tratados multilaterais em um processo de
positivação do direito internacional (muito importante para sua consolidação). O direito
internacional se insere como um dos ramos do direito e ganha um sentido prático, já que
várias arbitragens internacionais começam a ser realizadas com vista a aplicar o direito
internacional na solução pacífica de controvérsias entre estados.

O direito internacional sai de um panorama mais conceitudinário, ganha ares de direito


positivo e assim, o direito internacional passa a também ser utilizado na solução pacífica de
controvérsias entre Estados em arbitragens internacionais.

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Texto: Estado de Direito

Como se vê no final do texto, esse processo de transição do Direito interno, essa


reconfiguração político-jurídica que conduza o Estado de direito, não produz, imediatamente,
grandes mudanças no Direito Internacional; elas só vão acontecer no séc. XIX, efetivamente, a
partir do Concerto Europeu, que se dá a partir da queda de Napoleão.
Aqui são estabelecidos novos princípios do direito internacional, anunciados no Congresso de
Viena (reinos absolutistas que tinham vencido a batalha contra Napoleão e queriam evitar que
novas invasões ocorressem).

Congresso de Viena, 1815 (Concerto Europeu)


Novos princípios das relações internacionais:
● Não intervenção;
● Autodeterminação dos povos;
● Liberdade de navegação; → Ideal de que os Estados não podem exercer um domínio
absoluto dos mares
● Proibição do tráfico de pessoas; → 1815. Prática que não deve ser aceita e os Estados
que ainda exercem essa prática não deverão ser bem recebidos na ordem jurídica
internacional. Demanda, principalmente, do Reino Unido. Objetivo mais econômico
do que humanista.
● Classificação dos agentes diplomáticos (direito de legação). → Trata-se da disciplina
do direito de legação, ou seja, os Estados se fazem representar um nos outros. Ex:
Embaixadas.

A partir do Congresso de Viena, começa uma positivação do direito internacional pela


adoção de tratados multilaterais de caráter normativo, que terão o papel de legislação
internacional. → Esses tratados são grandes positivações de direito costumeiro, ganhando
uma legislação internacional que é incipiente e importante no séc XIX.

Positivação do Direito

O direito costumeiro é um direito que decorre da tradição (conhecimento passado adiante).


Então a segurança jurídica que ele carrega tem a ver com essa tradição, de que o
comportamento e adequado porque ele é historicamente aceito. Entretanto, o direito
costumeiro só é discuto no momento do conflito, pois enquanto não há conflito, o que
aparece é da habitualidade da conduta, em conformidade com as expectativas. Só se discute
direito costumeiro quando há uma divergência, um litígio, que exija a comprovação de que
esse direito costumeiro existe e que ele tem um determinado conteúdo.

Quando se vai positivar o direito, a tarefa é muito mais complexa, pois essa positivação
passa, necessariamente, por manifestar qual é o direito costumeiro que existe para que ele
seja positivado. AInda que não haja conflito, as partes devem dizer o que entendem como

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sendo o direito, para a partir daí começar o processo de positivação escrita. Nesse momento,
da manifestação das partes, divergências acerca do próprio direito costumeiro vão surgir sem
que haja conflito. Com a necessidade de positivar o direito, a manifestação de qual será o
direito costumeiro a ser positivado, por si só, poderá conduzir a um desentendimento sobre
qual é o direito costumeiro e, consequentemente, a uma tomada de decisão sobre qual será o
direito a ser positivado.

O direito positivo não é um direito tradição, que olha para trás, mas um direito que olha para
frente. As relações que virão, a partir do direito positivo, deverão ter quais consequências? É
um direito propositivo de uma realidade futuro. Se nó olharmos desse ponto de vista, a
positivação do direito enriquece a cultura jurídica. Por isso o direito internacional, ao ser,
progressivamente positivado, vai se fortalecendo com o passar do tempo, porque o
conhecimento do direito internacional se torna mais efetivo, a partir do momento que é
positivado na forma de tratados multilaterais.

Essa conjuntura de positivação do direito internacional implica uma demanda por


participação dos Estados. Os estados passam a querer participar do processo construtivo do
direito internacional.

Cidadão e Nacionalidade

Uma outra característica fundamental do séc. XIX é que com a transformação dos estados
absolutistas em estado de direito, emerge a figura do cidadão (pessoa que participa do
processo decisório do Estado de Direito). E a ideia de cidadania leva a um outro conceito
muito importante, que é o de nacionalidade como um vínculo jurídico-político da pessoa com
o Estado.

É uma era das nacionalidades. Extremamente importante para os dias atuais (passaporte,
refugiados, etc). A ideia de nacionalidade acaba sendo uma das razões da primeira e segunda
guerra mundial.

Esse contexto jurídico-político da ordem internacional vai de 1815 até a 1º Guerra Mundial.

1º Guerra Mundial

Assistir vídeo para contextualização: https://www.youtube.com/watch?v=6P89N-WrnLk

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A primeira Guerra Mundial acontece de uma maneira muito repentina, embora esse
armamentismo viesse acontecendo nos últimos 25 anos (1890-1º Guerra), esse armamentismo
se dava do fato que grandes impérios tinham se consolidado ao longo do tempo. Eles não
bloqueiam o avanço de outros impérios recém constituídos. Uma das conquistas desses
impérios que formaram a Tríplice Aliança foi a Conferência de Berlim.

A guerra vem a tona porque os imperadores da Tríplice Aliança não aceitava o domínio da
Tríplice Entente. Com o fim da 1º Guerra Mundial temos a assinatura do Tratado de
versalhes.

Esse regime jurídico traçado no Congresso de Viena é interrompido pela 1º Guerra mundial e
o direito internacional começa a se reestruturar a partir do Tratado de Versalhes (1919), que
põe fim à 1º guerra mundial, cria a Liga das Nações (tentativa de manutenção do equilíbrio
político entre os Estados) e com isso:

1. O surgimento da corte permanente de Justiça Internacional (Haia, Países Baixos);


2. Academia de Direito Internacional;
3. Organização Internacional do Trabalho (1920).

Os Estados, pós primeira guerra mundial, tentam estabelecer um novo cenário. Além da
mudança na programação normativa do direito internacional, ocorre também o ínicio de uma
estruturação institucional da sociedade internacional. Já havia aqui uma sinalização de que a
sociedade internacional seria permeada por instituições. Os Estados começam organizar a
sociedade internacional, pois essas instituições aceleram as Relações Internacionais e
aumentam a assimilação das demandas da sociedade.

As instituições aceleram a comunicação nas relações internacionais e aumentam a


sensibilização para assimilação das demandas da sociedade mundial.

Todo esse cenário construído pós 1 Guerra Mundial não são suficientes para conter o avanço
dos nacionalismos dos Estados. Ao contrário até, as punições que a Alemanha sofreu, ao final
da 1º Guerra gerou o empobrecimento do Estado Alemão e isso abriu espaço para um
discurso de fortalecimento do nacionalismo, e de um nacionalismo com uma forte carga
preconceituosa, baseada numa questão racial e ideológica, que propaga com uma grande
facilidade no ambiente de profunda depressão que vivia a sociedade alemã. O que leva a 2º
Guerra Mundial.

15
A 2º Guerra Mundial é devastadora para as relações internacionais, pois tudo que tinha sido
construído se mostra ineficiente para impedir a ocorrências de graves conflitos nas relações
internacionais. Com o fim dessa guerra, uma nova estrutura das relações internacionais é
pensada com o surgimento das Nações Unidas.

A ONU não surge do nada:

1. Houve a experiência da Liga das Nações;


2. Durante a 2º Guerra houve a assinatura das Nações Unidas.

Essa conjuntura da ocorrência da 2º Guerra permitiu o consenso difíceis de serem alcançados


em outro contexto. A carta das Nações Unidas acaba sendo fruto de um consenso raro nas
relações internacionais, entre Estados, e por isso a sua força normativa. É por representar um
raro momento de abertura ao diálogo entre Estados tão distintos ideologicamente que a Carta
das Nações Unidas detém sua força normativa (semelhante com a Constituição Federativa de
1988, que reuniu consensos entre opostos).

Após a 2º Guerra há uma nova reestruturação da sociedade internacional. Ao invés de criar


coisas muito novas, os Estados pegaram o regime entre guerras e aprofundaram com a carta
das Nações Unidas (1945):

1. Proliferação de Organizações Internacionais (Unesco, OMS, OIT, OMI, OMM, FAO,


FMI, Banco Mundial; OMC, etc.) inclusive regionais, como a OEA, UAE, UE
(blocos econômicos).
2. Há uma aprofundamento da institucionalização da sociedade internacional
3. Aceleração da positivação do Direito Internacional (atuação da Comissão de Direito
Internacional da ONU). Inúmeros tratados multilaterais;
4. Desenvolvimento progressivo da jurisdição internacional, com o surgimento de cortes
internacionais;
5. Expansão normativa do Direito Internacional, alcançando campos como o comércio,
direito humanos, meio ambiente, etc.
6. Expansão subjetiva da sociedade internacional com a descolonização dos Estados
asiáticos e africanos.

O direito internacional de coexistência e reciprocidade desenvolvido a partir de Westfalen e


aperfeiçoado a partir do Congresso de Viena passa a conviver com um novo modelo
estrutural de direito internacional, baseado na cooperação.

16
O direito internacional de cooperação parte do suposta da interdependência entre os Estados e
do reconhecimento da existência de interesses comuns, que não podem ser alcançados pelo
paradigma da reciprocidade e da mera coexistência.

Os estados passaram a reconhecer que há determinadas questões da ordem jurídica-


internacional que não tem como ser resolvidas com base na reciprocidade, seria preciso um
agir comum. Normas voltadas para alcançar objetos comuns entre os Estados. Uma das
primeiras decorrências disso é a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), como
uma resposta da sociedade internacional ao holocausto.

A ideia de que era necessário que os Estados agissem de maneira cooperativa para evitar que
os Estados voltassem a ter políticas voltadas ao massacre de pessoas.Essa limitação política
de soberania é uma decorrência da interdependência dos Estados.

● Cenário de reformulação do Direito Internacional;


● Organização das Nações Unidas (ONU);

A ONU teve um papel essencial o pós guerra. No controle de disputas geopolíticas existes na
época do fim da segunda guerra mundial. Com o fim da Guerra Fria (Queda do Muro de
Berlim e dissolução da União Soviética), a ONU passa a encontrar dificuldades, porque ela
estava estruturada para o mundo bipolarizado, e com o fim da União Soviética só tem os
EUA. Os EUA começam a atuar como “grande polícia do mundo”. E a ONU foi encontrando
dificuldades para lidar com essa hegemonia do poder Americano e perdeu, em grande parte, a
sua credibilidade como órgão da governança política global. A ONU passou a buscar um
papel mais desenvolvimentista, buscando o desenvolvimento sustentável, proteção do direitos
humanos, mas perdendo a sua efetividade na manutenção da estabilidade das relações
internacionais. Há várias situações no mundo, hoje, que a ONU não consegue dar conta e isso
é extremamente perigoso (nacionalismo, multilateralismo).

Fontes do Direito Internacional


Como as fontes da ordem jurídica internacional interagem sistematicamente?

Precisamos entender que essa miscelânea de fontes do direito internacional não é caótico,
pois há uma construção desde o início e ainda em curso, de uma sistemática no
relacionamento entre essas fontes. Uma tentativa exitosa de dar um sentido estrutural entre
essas fontes. Essas fontes se consideram reciprocamente. E por vezes, umas fundamentam as
outras. Ex: A Convenção de Viena dos Tratados menciona os bons costumes, o “jus cogens”.

17
Então, essas fontes se interligam em um sistema normativo, sistema bem mais complexo e
difícil de entender.

Enquanto nos temos no direito interno uma norma fundamental em razão da qual se estrutura
todo sistema jurídico, no direito internacional não há essa norma fundamental. O sistema do
direito internacional é não fundante, o seu fundamento é difuso, são várias as normas que se
interligam nos estabelecimentos do fundamentos da ordem jurídica internacional.

O sistema é uma ordem dinâmica, que está em constante modificação, que se adapta a sua
função, tem uma constante alteração na sua estrutura. O direito internacional é um sistema
pois busca se adaptar à realidade. Ele não é estático. Portanto, para falar no sistema, essa
estrutura normativa se organiza hierarquicamente. Há uma hierarquia entre as normas do
direito internacional.

1. Costumes internacionais

O art. 38, b ECIJ, diz que “o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita
como sendo direito”. A doutrina destrinchou o costume em dois elementos: material (prática
dos Estados) e subjetivo/psicológico (“opinion juris”, sensação de uma obrigatoriedade
daquela prática). Para que um costume seja utilizado como fonte do direito internacional, é
preciso que a parte que alega o costume tem o ônus da prova da existência e do conteúdo.
Então há de haver uma prova de que aquele costume existe e qual é o seu conteúdo, por parte
daquele Estado que em um conflito, alega em sem favor, a regra decorrente do costume. O
costume é dito como fonte do direito internacional. dessa fonte emergem normas/regras de
comportamento para os estados nas relações internacionais, se um determinado estado
entende que determinada regra deve ser aplicada a um costume, esse estado tem que provar
(elemento material e subjetivo) que esse costume existe. Estados não são pessoas, mas sim
organizações que operam, em geral, no mais das vezes, de maneira formal e pública, então a
maior parte de atos de estados são formalizados em instrumentos (portarias, decretos, leis,
editais, etc.). Os Estados praticam atos formais e na maioria das vezes são atos públicos.

A prova da existência da prática estatal, portanto, não é tão complicada. O elemento material,
portanto não é difícil de se provar, a dificuldade talvez esteja no opinion juris, já que estado
não tem psique, então provar a sensação de obrigatoriedade pode ser difícil. Mas muitas
vezes, no preâmbulo/considerandos/texto do ato, o Estado manifesta que entende que aquela
prática é uma prática obrigatória.

18
Ex: Oficio da União para o Estado (ato formal e público). Dizendo que “[...] as
recomendações não são obrigatórias, no entanto, o Estado Brasileiro, pretende a dar
cumprimento [...]. Nesse ato o Estado disse que não reconhece como obrigatória, mas que iria
cumprir.

Ex: O Brasil, 6 anos atrás, o brasil fazia parte do conselho da ONU e houve uma confusão
com o Irã. Resolução contra o Irã. Uma portaria do governo federal determinou o bloqueio
econômico a certos produtos vindos do irã, e lá no preâmbulo tinha dizendo a respeito da
obrigatoriedade. / O próprio ato traz esse sentido de obrigatoriedade, expressamente.

A prova da existência de um costume se dará pela demonstração daquela prática do Estado e


que aquela prática é uma prática obrigatória. Coletando na história, de reiteração episódica
daquela prática, de modo a demonstrar que ela é aceita por todos os Estados e amparada pelo
direito.

Quanto casos são necessários para configurar um costume? Quantos estados tem essa
prática? Durante quanto tempo essa prática tem que ser seguida? Para todas essas
perguntas não há resposta. O que importa é perceber que o costume nacional tenha um prova
da existência desse conteúdo.

Ex: Determinada prática A (terremoto), foi adotada por um Estado frente a umas situações
(pessoas tiveram que sair do seu Estado para dar a volta) de calamidade envolvendo o Estado
vizinho, em 1838 (o vizinho permitiu que passassem, mas não ficassem lá). Essa prática
voltou a ser adotada em episódios ocorridos em 1891, 1923, 1956, 1979 e 2003, em lugares
diferentes. Isso é um costume internacional? Pouco importa quando esse costume começou, o
que quer saber é se hoje é um costume? Se todos o Estados repetiram essa prática,
entendendo que essa era uma prática devida naquelas circunstâncias, o opinion juris está
provado. Ela foi adotada naturalmente e sem discussão, então há uma grande possibilidade
da opinion juris. O que reforça o argumento? Se eu dizer, que essas foram as únicas 6
situações histórias que aconteceram, e em todas, o Estado agiu dessa forma. Houveram 6
hipóteses e as 6 tiveram o mesmo comportamento, reforçando o opinion juris. Os Estados já
fazem isso com uma certa obrigatoriedade. A expectativa de comportamento está baseada
com o que aconteceu, e nenhum Estado disse nada, se era a favor ou contra, é sinal de que
todos estão aceitando essa prática.

19
Se essa prática foi feita tão somente por um Estado, isso não implica num dever para os
demais. A doutrina já evoluiu para reconhecer costumes universais e regionais (ex: adoção de
concessão de asilos em embaixadas nos países latino-americano).

Ex2: Determinada prática B foi iniciada por 12 Estados em 2010; adotada por 35 em 2011;
56 em 2013 e por 145 em 216. Há um costume internacional? Houve um aumento coletivo.
EX: A comissão de direito internacional da ONU vem discutindo sobre o uso da internet, com
o foco na proteção dos Estados; uma prática vem sendo identificada que é considerar crime o
hackeamento de violação de qualquer site .gov. Se isso for feitos em outros Estados? Nós
temos ai uma prática cada vez mais reiterada, acelerada, num curto espaço de tempo,
demonstrando que há uma opinion juris nessa prática.

Ex: Proteção diplomática (universal) - quando o Estado assume para si um litígio de um


nacional seu que esteja sofrendo alguma arbitrariedade no Estado estrangeiro. O Estado pode,
é uma escolha, endossar esse litígio e transformar esse litígio entre Estado-Estado, que antes
era Estado-estrangeiro. Ex: Episódio envolvendo chan charlie nos EUA, que foi morto de
maneira arbitrária.

Quando pensamos que o direito positivo é o de mais fácil acesso ao conhecimento porque ele
é comunicado de maneira escrita, todo o resto do direito internacional geral decorre de
costumes e princípios. Nós, que estamos acostumados com o civil law, não temos uma visão
fácil da importância dos costumes na ordem jurídica internacional.

Não há hierarquia entre tratadas e costumes internacionais.

Quando um costume começa a surgir, e ela é observada no âmbito internacional pelo


conjunto da sociedade internacional, pode surgir uma figura chamada de objetor persistente.
Esse é aquele Estado que de maneira expressa, mesmo não sendo em Estado a realizar
determinada prática, afirma que não concorda com ela e entende que ela não é defina. Todas
as vezes que aquela prática é adotada, esse Estado permanece dizendo que não concorda e
nem irá adotar a prática. O Estado mantém-se coerente na sua negativa de aceitar aquela
prática. Ele não se vincula ao costume internacional. Costume não se aplica. O objetor se
constrói na medida que o costume se constrói.

Ex: Costume de reconhecer a proteção diplomática. E aí, de uma hora pra outra, um país
começa a dizer que não aceita essa prática. Se esse Estado permanecer manifestando essa
negação. O objetor persistente deve ser reconhecido na sociedade internacional. Ou seja,

20
somente uma conduta de negação, não implica ser um objetor persistente, deve-se
permanecer na negação.

Ex: Na década de 70, foi adotada na ONU uma convenção para proteção dos direitos da
criança e nessa convenção tinham vários dispositivos, inclusive a vedação de casamento
obrigatório por decisão da família. Alguns países muçulmanos fizeram uma reserva dizendo
que não iriam adorar e os outros países fizeram uma objeção disse reserva. Os países
muçulmanos se consideraram como objetor persistente. Os Estado chegaram a conclusão de
que eles não são obrigados, mas que eles estavam fazendo um tratado, que essa seria uma
norma importante para o tratado. Eles não poderiam fazer uma reserva então. Os estados
muçulmanos não aceitaram o costumes, então os direitos permaneceram o mesmo para eles.

O fato de um Estado não reconhecer não muda no geral, o costume existe apesar da
existência de objetor persistente. Só em relação a ele a prática não vai agir. A prática deixa
de ser costumeira quando surge um tratado ou quando aquela prática deixou de ser
obrigatória naturalmente.

Texto: Malcom (Direito Internacional)

“O costume espelha as características de um sistema internacional descentralizado, já que


novos Estados podem participar da formação de novas normas. Se a comunidade internacional
não estiver contente com determinada norma, esta pode modificar com relativa rapidez, sem
que seja necessário convocar e levar a bom termo uma conferência mundial.”
“A essência do costume está em que ele constitua “prova de uma prática geral aceita como
direito”. Há dois elementos básicos na constituição de um costume: material e subjetivo.
Se o costume fosse definido somente com a prática dos Estados, restaria o problema de como
distinguir o direito internacional dos princípios da moral ou dos usos sociais.”

O costume permite a democratização descentralizada. O que ele diz é que é importante o


costume como fonte em um Estado desigual (econômicos, sociais, etc), os Estados são
diferentes. Mas essa diferença, há uma maior possibilidade do costume se formar alheio ao
poder. O costume surge da forma que os Estados agem.

2. Princípios (ECIJ)

Como eu sei que determinado princípio existe? O princípio da segurança jurídica existe no
ordenamento jurídico brasileiro? Se você acha que sim, qual seria a prova? Não tem nenhum
lugar no nosso ordenamento que mostra que a segurança jurídica é um princípio. Como eu sei

21
que aquele artigo 5º, XXXVI garante a segurança juríridica? A partir de diversos dispositivos
que tem com o objeto garantir a segurança jurídica, tem essa ideia em razão de existência,
pode-se dizer que ele é um princípio do nosso ordenamento. Os princípios são valores que
dão sustentação ao ordenamentos, mas que só conseguimos identificar ao olhar para o
ordenamento. E assim é no direito internacional.

Quando olhamos para o direito internacional conseguimos enxergar certos valores. Qual a
diferença entre valor e princípio? Todo valor é um princípio? O valor é o conteúdo do
principal, mas há conteúdos que não formam princípios por serem juridicamente irrelevantes.
O valor é dentro do princípio, o princípio que adquiriu força jurídica. O valor é o conteúdo
filosófico do princípio.

Os princípios, na ordem internacional, estamos falando de valores que são percebidos nas
normas e que já integram o ordenamento como norma. Então, os princípios no direito
internacional tem um processo histórico de reconhecimento que vem em um progresso.
Desde a igualdade jurídica entre os Estados, como princípio mater da ordem internacional.
Esse é um princípio primordial para o paradigma da coexistência pacífica e da
reciprocidade, que foi o paradigma que prevaleceu, essencialmente, desde antes de Westfalen
até a 2 Guerra Mundial. Há outros princípios fundamentais: Autodeterminação dos povos,
não intervenção (política, econômica, social), liberdade de navegação, solução pacífica de
controvérsias, Integridade territorial, princípio da soberania, etc. Além de outros princípios.

Após a segunda guerra mundial temos o paradigma da cooperação, dignidade da pessoa


humana, proteção do meio ambiente, não proliferação de armas de destruição em massa,
liberdade de comércio etc. passam a integrar também o conjunto da ordem jurídica
internacional dos valores.

Se nós pensarmos, olharmos e viajássemos no tempo e fossemos para em 1920 e olhássemos


para o conjunto de normas do direito internacional não encontramos tratados sobre direitos
humanos. Tínhamos ali e aqui um sinal de que a ordem internacional poderia caminhar na
direção da adoção de normas de caráter internacional voltados para a dignidade da pessoa
humana. Ex: Comitê da cruz vermelha, conferências das paz, etc., mas não dava para dizer
que a proteção da dignidade humana era um valor do ordenamento internacional. A
observação circunstancial de normas que olhavam para o ser humano não era o suficiente
para dizer da dignidade humana. Agora, em 1950, não encontraremos nenhum tratado falando
do meio ambiente. Atualmente podemos dizer que o valor do meio ambiente está na ordem

22
mundial. Essas construções argumentativas dependem de um momento histórico que se
organiza o ordenamento internacional.

Essa discussão sobre princípios me remete ao conceito de jus cogens. A convenção de viena,
no seu art. 53 define o que é jus cogens “ É nulo um tratado que, no momento de sua
conclusão, conflite com uma norma imperativa de Direito Internacional geral. Para os fins da
presente Convenção, uma norma imperativa de Direito Internacional geral é uma norma
aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma
da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de
Direito Internacional geral da mesma natureza.” O jus cogens existem, há um tratado onde
está positivado na ordem jurídica internacional, e ainda tem um efeito.

Grande parte desses princípios que são identificados tanto na prática costumeira dos Estados,
quanto na adoção de tratados multilaterais, que mencionam expressamente estes valores , ou
que os resguardam no conjunto de suas normas, configuram “jus cogens”. Ex: proibição da
tortura, vedação ao desmatamento descontrolado, a proibição do boicote. Então esses
princípios, listados no começo, que são usados na adoção de tratados multilaterais, que
mencionam esses princípios ou que podem ser identificados, são jus cogens. Pode ter um ou
outro que seja controverso, como a liberdade de comércio.

Eu consigo verificar vedações amplamente aceitas. Então, nós temos que, “Jus cogens” vão
aparecer como aqueles princípios que se posicionam hierarquicamente no topo da ordem
jurídica internacional. No topo pois são nulos os tratados que violam os jus cogens. Não há
possibilidade de um objetor persistente. Eles são obrigatórios para todo e qualquer
participante da ordem jurídica internacional.

3. Jurisprudência e Doutrina

São fontes auxiliares e portanto não podem ser utilizadas sozinhas. Entretanto, a
jurisprudência ganhou força e a doutrina perdeu. A própria corte internacional de justiça se
refere aos seus precedentes e aos precedentes de outros tribunais. A jurisprudência ganhou
força devido ao trans referenciamento jurisprudencial, que é o uso dos precedentes dos
tribunais internacionais na sua fundamentação. Hoje a jurisprudência ocupa um lugar mais
relevante que a doutrina, principalmente dos livros. A doutrina acaba tendo amparo quando
se manifesta no âmbito dos organismos internacionais. Muitas vezes a doutrina ganha
relevância quando eles integram órgãos das organizações internacionais, quando se

23
manifestam participando de órgãos das organizações internacionais (ONU, OEA, por
exemplo).

Ex: Eu sou advogado de um Estado e pretende alegar um determinado costume internacional.


Eu posso me utilizar de um parecer dado no âmbito internacional e utilizar a doutrina para
amparar. Ou, eu posso usar jurisprudência para reforçar o seu conteúdo e existência.

Posso usar essas fontes auxiliares como forma de reforço, para dizer, por exemplo, que certas
jus cogens existem. Mas, em tese, não posso decidir com base somente da doutrina ou da
jurisprudência, elas não podem ser o único fundamento de uma decisão.

O art. 38 do Estatuto ainda diz que, no seu segundo parágrafo, “não prejudicará a faculdade
da corte de decidir uma questão ‘ex aequo et bono’, se as partes com isto concordarem’ - a
doutrina traduziu isso como equidade (fairness), que se as partes concordarem, a corte pode
decidir de acordo com a sua justeza, sentimento de justiça. Ela pode desprezar as fontes do
direito e decidir com base no que os juízes entendem que é justo. O limite das possibilidades
de decisão na equidade é a observância dos “jus cogens”.

4. Atos Unilaterais

Nuclear Tests, 1974. A corte internacional de justiça reconheceu que a França teria assumido
determinadas obrigações devido a atos unilaterais no decorrer do processo. A França vinha
fazendo testes nucleares na Polinésia (território francês) trazendo consequências para a
Austrália e a Nova Zelândia e a França alegou de que não havia nenhuma proibição para que
aqueles testes atmosféricos fossem realizados no território francês. A Austrália e a Nova
Zelândia alegaram que estavam sofrendo consequências desses testes, a França portanto,
indica numa declaração unilateral ministerial de que não realizaria novos testes atmosféricos
após a conclusão dos testes em andamento. A corte entendeu que apesar de não poder
responsabilizar a França, já que não era proibido, a França teria criado para si a obrigação de
não criar mais testes atmosféricos face ao ato unilateral criado.

Esse precedente histórico é um precedente relevante para o direito internacional e reconhece


uma nova fonte do direito internacional.

5. Resoluções das Organizações Internacionais

Notadamente as resoluções do conselho de segurança. Porque os Estados concordaram em


cumprir, na carta das Nações Unidas, as decisões do Conselho de Segurança. Art. 24, 1, Carta

24
da Nações Unidas: “ A fim de assegurar pronta e eficaz ação por parte das Nações Unidas,
seus Membros conferem ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade da
manutenção da paz e da segurança internacionais e concordam em que no cumprimento dos
deveres impostos por essa responsabilidade o Conselho de Segurança aja em nome deles.” -
os próprios Estados conferem ao Conselho de Segurança uma competência e acordam em
cumprir os deveres do conselho de segurança.

No que tange o CSNU (Conselho de SEGURANÇA DAS nações unidades, elas criam
obrigações para os Estados (“hard law”), constituindo-se como fonte de direito internacional.

6. Soft law

Normas não vinculantes dos sujeitos de direito internacional, mas que integram o conjunto
normativo da programação da ordem internacional. Sua obrigatoriedade no âmbito do direito
é contestável; porém as consequências de sua inobservância das relações internacionais (i.e.,
na política, na economia, na cultura, na sociedade internacional como um todo) são
facilmente percebidas pelos Estados.

Ou seja, o soft law não podem ser apontadas como normas cogentes, vinculantes e
obrigatórias. No entanto, se observadas de fora do direito, na sociedade a consequência do
seu descumprimento, podemos perceber que as consequências dos Estados podem ser até
piores do que os descumprimentos das normas vinculantes.

Ex: Organização mundial da saúde veterinária (OMSV) voltada para os estudos das questões
dos animais. Várias doenças são doenças que se originam dos animais. Mas, cabe a OMSV
ter o controle da saúde animal. Doença bovina. Imagina que a OMSV estabelece que o
controle adequada dessa doença deve ser feito levando em consideração a norma quem tem
10 itens que os estados devem adotar para evitar a doença. Esse regulamento é obrigatório?
não. tem a pretensão de ser obrigatória? Não. Agora, se a china estabelece uma norma interna
de que somente os estados que cumprem o regulamento da OMSV podem exportar carne para
lá. O Brasil, que tem na china seu principal importador, vai fazer o que? Se ele se interessa,
terá que se adequar.

O direito se comunica por meio do soft law. O direito não existe sozinho, ele existe em
comunicação com outros sistemas. Atualmente se discute, na OMS, sobre a pandemia, sobre
o regulamento.

25
É preciso compreender a importância do soft law, salvo o conselho de segurança, as
organizações internacionais de modo geral agem por meio do soft law, que tem aquela
característica para lidar com a soberania, porque por não ser uma norma obrigatória, o Estado
sente que ele está escolhendo seguir aquela norma.

O JUS COGENS LEVAM A NOÇÃO DE OBRIGAÇÕES ERGA OMNES (APLICÁVEIS A


TODOS OS ESTADOS), O QUE SIGNIFICA QUE O PARADIGMA DO CONSENTIMENTO
COMO FUNDAMENTO DA OBRIGATORIEDADE DO DIREITO INTERNACIONAL NÃO
PROCEDE. PRINCÍPIOS, COSTUMES E TRATADOS ESTÃO NO MESMO PATAR
HIERÁRQUICO. O FUNDAMENTO DA OBRIGATORIDADE DAS RESOLUÇÕES É O
CONSENTIMENTO. O SOFT LAW NÃO É SOBREPOSTO A NENHUM OUTRO. EXISTE
UMA COMUNICAÇÃO. HÁ UMA INTERAÇÃO ENTRE AS FONTES.

AVALIAÇÃO 2
Tratados Internacionais

CVDT, 1969 - É a norma geral que regula e positiva diversos costumes já consolidados nas
sociedades internacionais nos tratados, se tornando uma norma geral. Se assemelha com a
nossa LINDT.

Definição de Tratados (art. 2º, I, a, CVDT) -

(1) O tratado é um acordo internacional. Sendo um acordo,

(2) vamos para a noção de negócio jurídico. O tratado tem natureza jurídica de
negócio jurídico, na medida em que um elemento essencial para sua existência é o

(3) consentimento entre os Estados, das partes envolvidas. Quem pode ser parte no
tratado internacional?

(4) Estados e OIs, os sujeitos de direito internacional podem firmar tratados. No


artigo citado somente se fala de Estados soberanos, por isso que tiveram que criar
outra norma para regular as Organizações Internacionais. Ex: Tratado entre Brasil e
ONU.

(5) O tratado é resultado de um documento escrito, formal, assinado pelas partes.


Não existe tratado internacional verbal. Além disso, a norma diz que

26
(6) o tratado é regido pelo Direito internacional, ou seja, o tratado é uma fonte
normativa da ordem jurídica internacional, ou seja, é uma fonte normativa
reconhecida como fonte do direito na ordem jurídica internacional. Isso quer dizer que
qualquer questão do direito interno dos Estados a respeito da existência, validade ou
eficácia do tratado são determinados pelo Direito Internacional. Ressalvadas as
situações em que o próprio direito internacional reconhece ao direito interno o poder
de decidir sobre sua validade e eficácia.

Se uma determinada norma interna estabelece que os tratados serão considerados os


acordos entre Estados que sejam escritos em Língua Portuguesa, essa definição de
tratado, na norma interna, não mudará a natureza do tratado internacional, nem
mesmo para aquele país. Ou seja, não terá nenhuma consequência na ordem jurídica
internacional. Pouco importa se um direito interno traga uma norma diferente do
direito internacional. Além disso, não terá nenhuma consequência uma questão de
invalidade do tratado por uma jurisdição interna (ex: declaração de
inconstitucionalidade do tratado não leva, no âmbito internacional, nenhum efeito).
O tratado é válido ou inválido de acordo com o Direito Internacional. Deve-se
observar a Convenção de Viena. O Estado não pode alegar aquilo em legítima
defesa, pois foi um compromisso internacional assinado. Assim como, não compete
também ao âmbito interno deliberar sobre o momento da eficácia - Quem determina
a eficácia do tratado é o próprio tratado, mesmo que ainda não tenha entrado em
vigor em um País.

(7) O tratado internacional independe da Constituição, pois tem seus próprios


parâmetros de funcionamento e suas funções.

(8) O tratado pode ter qualquer denominação. Ex: Tratado, acordo, convenção,
carta, protocolo, pacto, etc.

Declaração parece um tratado, mas não é. Quando pensamos na Declaração


Universal de Direitos Humanos, não é um tratado. As declarações são compromissos
com a sociedade e não com os Estados. As declarações não geram um vínculo
obrigacional recíproco. A obrigatoriedade de uma declaração vem pelo seu conteúdo
e não pela sua forma - obrigação frente a sociedade internacional.

27
Não se deve confundir com os Tratados os atos praticados entre Estados, como por exemplo o
Convênio assinado entre o Estado brasileiro e o COI - a assinatura desse acordo não se
configura como acordo internacional, pois o COE é uma entidade privada e não internacional.
Mesma coisa para a Fifa, por exemplo. O que difere a FIFA da ONU? A FIFA não é uma
organização formada por Estados, não são os Estados que reunidos que fundam a FIFA, a
FIFA é fundada por entidades privadas.

Validade dos Tratados

Como o tratado é um negócio jurídico, ela requer:

1. Agente capaz: Quem pode firmar tratados.


➔ Estado: O Estado precisa ser reconhecido internacionalmente para firmar
tratados. Esse reconhecimento internacional permitiu a ampliação do número
de sujeitos envolvidos na sociedade internacional. O reconhecimento é um ato
declaratório. Esse reconhecimento não recai sobre o Estado, mas sobre a sua
soberania. Por exemplo, a Bahia é um estado, mas não é um estado soberano.
O que é reconhecido é a soberania do Estado brasileiro.

Quantos reconhecimentos são necessários? Um Estado pode ser reconhecido por uns e não
por outros? Ex: Palestina e Israel - amplo reconhecimento internacional, mas essa
amplitude não chega a ser generalizada. Os Estados ali por perto não reconhecem Israel
como um Estado. Juridicamente é irrelevante quem ele reconhece, mas politicamente faz
toda diferença. Às vezes certos Estados são reconhecidos por grandes potências, mas não
por outras e acabam não tendo muita força.

O que vai se firmar se estamos diante de um tratado ou não é o reconhecimento mútuo entre
Estados.

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/03/26/internacional/1490563515_114308.html

Ao reconhecer os Estados, eles dizem de maneira indireta quem não é reconhecido como
Estado. O reconhecimento se dá pela força das circunstâncias.

Ex: Venezuela está com dificuldade para considerar quem seria o seu representante. O fato
de um Estado não considerar o representante de outro Estado, isso nada afeta o Estado em
si.

28
Ex: Michel Temer apareceu para discursar e uma série de representantes simplesmente
saíram, pois não reconheciam Michel Temer como legítimo representante do Brasil, mas isso
não quer dizer que o Brasil deixou de ser soberano.

➔ Organizações Internacionais: Definida pelo seu tratado constitutivo. O que


determina se ela pode ou não firmar tratados é o seu ato constitutivo. Às vezes
esse poder de firmar tratados vem das competências do secretário geral, ou até
por escrito, num artigo. Se há uma previsão, ela tem competência para tanto.

Entretanto, há organismos que o Estado não atribui competência para firmar tratado. Como
por exemplo a CPLP, que quem participa é o Brasil, Portugal, Angola, São Tomé e Príncipe,
Moçambique, Guiné-Bissau, etc. A CPLP é uma organização entre os Estados que tem a
língua portuguesa como língua oficial. Essa organização tem reuniões, assembleias… A
CPLP não tem competência para firmar tratados próprios. Ao olhar seu ato constitutivo
você não irá encontrar essa competência. Sendo assim, não tem competência internacional
para firmar acordos.

2. Habilitação dos agentes: O Estado é um sujeito fictício, então a validade do tratado


se dá em quem representa:
➔ Estado: O Estado é representado pelo chefe de estado (presidente, monarca),
chefe de governo (primeiro ministro) e ministro das relações exteriores. Com o
passar do tempo, a partir do Parlamentarismo, surge a figura do primeiro
ministro e algumas constituições internas começaram a dar liberdade para que
esse ministro seja representado internacionalmente.

Representantes originários: Chefe de Estado; Chefe de Governo

Derivado: Ministro das Relações Exteriores; Chefes das Missões Diplomáticas


(embaixadores) ou qualquer pessoa munida da Carta de Plenos Poderes (plenipotenciários).

É neste ponto que o reconhecimento do governo importa.

➔ Organizações Internacionais: Chefe do órgão administrativo, que


normalmente é chamado de secretariado (Secretário-Geral). Na OMC, se
chama Diretor-Geral. Isso é definido no ato constitutivo da organização
internacional.

29
Texto: Tratados Internacionais

A definição de Tratado na Convenção de Viena de 1969 aparece em seu art. 2º, parágrafo 1º,
alínea a.

O tratado é um instrumento de veiculação de regras jurídicas, que têm conteúdo variável. É um


acordo formal, concluído entre sujeitos de Direito Internacional Público, que visa a produção
de efeitos de direitos das partes contratantes.
Dificuldades: Saber se um determinado texto internacional tem realmente natureza
convencional e se são capazes de obrigar seus autores ou não.

Elementos essenciais para um tratado:


● Acordo internacional - Princípio nascido com o advento da Revolução Francesa e
positivismo jurídico. Os tratados não podem expressar senão aquilo que os
negociadores acordaram livremente. Há um compromisso entre as partes. O acordo
concluído deve visar à produção de efeitos jurídicos.
● Celebrado por escrito - Somente por meio da sua escritura é que se pode deixar bem
consignado o propósito a que os contratantes chegaram após a negociação. Isso porque,
na declaração oral não há a clareza e a estabilidade de um acordo escrito. Art. 3º,
alíneas a e b, Convenção de Viena/1969 - Ela admite que outros atos jurídicos
internacionais, não escritos, existam, que assim se exprime de maneira válida, ou seja,
com valor jurídico no cenário internacional.
● Concluído entre Estados ou Organizações internacionais - A única diferença entre
eles é que os Estado têm capacidade para celebrar tratados sobre qualquer material, e as
organizações internacionais somente dispõem de tal poder para a celebração de tratados
relacionados às suas finalidade precípuas.
● Regido pelo Direito Internacional - Os pactuantes têm a intenção de criar entre si
uma obrigação jurídica sob a autoridade do Direito Internacional Público. Importante
para diferenciar tratado de contrato internacional - o contrato internacional possui os 3
itens anteriores, mas falta-lhe regência completa pelo Direito Internacional.
● Celebrado em instrumento único ou dois ou mais instrumentos conexos - Além do
texto principal do tratado, podem existem outros instrumentos que o acompanham, a
exemplo dos protocolos adicionais e dos anexos, produzidos concomitantemente à
produção do texto principal.
● Ausência de denominação específica (terminologia dos tratados)

3. Objeto lícito: Tem a ver com Jus Cogens. O limite das possibilidades de acordo é o
jus cogens. Alguns autores acrescentam nesses limites as obrigações erga omnes e o
art. 103 da Carta das Nações Unidas (posiciona hierarquicamente a carta das nações
unidas, já que os Estados que assinaram a carta, não podem ir contra).
4. Forma prescrita
5. Manifestação da vontade soberana, livre, consciente e de boa-fé
● Manifestação da vontade soberana: “Treaty-making Power” - Pressupostos
constitucionais do consentimento estatal , ou seja, cada Estado tem uma forma

30
de manifestar sua soberania e os seus próprios pressupostos constitucionais do
consentimento.

Para todos os Estados, esse processo tem duas faces: internacional e interna. A internacional
envolve a assinatura e a ratificação. Enquanto a interna decorre das normas de direito
doméstico.

Do ponto de vista internacional temos um Estado que manifesta sua vontade inicialmente por
uma assinatura e posteriormente uma ratificação. Essa manifestação ocorre em duas etapas
porque quando um Estado entra em uma negociação, ele entra para deliberar sobre o
conteúdo do tratado, o texto, o que aceita e não aceita, etc. A fase de conclusão de um tratado
dá pela sua assinatura, encerrando a deliberação sobre o texto e art. 18º da CVDT, 1969. Em
um segundo momento, o Estado irá ratificar a assinatura, quando ele ratifica, há o
consentimento do Estado e por tanto fica definido. Entre a assinatura e a ratificação acontece
no âmbito interno, então cada Estado terá seu próprio procedimento. A assinatura e a
ratificação sobre procedimentos internacionais. Segue o procedimento interno do Brasil:

PROCEDIMENTO INTERNO

➔ Mensagem Presidencial ao Congresso Nacional - O presidente envia o texto do


tratado ao Congresso, solicitando a sua aprovação. Quem recebe essa mensagem é o
presidente do Congresso. Ao receber essa mensagem, ele
➔ Submeterá o texto do tratado às comissões internas, onde os deputados ou
senadores irão discutir o texto do tratado. Após isso, o presidente do Congresso
➔ Colocará em pauta o texto do tratado para votação, primeiro na câmara dos
deputados e no senado federal para votar. Não se pode oferecer emendas, pois o texto
foi concluído com as assinaturas, será votado como o texto está. O tratado será
aprovado se ele passar pelo rito previsto pela lei ordinária federal (comum), ou rito
das leis complementares (complementar), e se for de direitos humanos, deverá ser
submetido ao quorum de emenda constitucional. O rito pelo qual o tratado é aprovado
depende se é um tratado comum, complementar ou tratados humanos.
➔ Se não for aprovado, encerra-se o procedimento e o presidente do congresso
nacional remete a mensagem do legislativo ao presidente da república informando a
não aprovação, não podendo ser reiniciado. - Retira-se a assinatura.
➔ Se for aprovado, é publicado um decreto legislativo. O Congresso Nacional não
ratifica o tratado, apenas aprova e referenda. Art. 84, VIII, e 49, I, CF/88.

31
➔ Após a ratificação, que é um ato internacional, o Presidente deverá publicar um
Decreto Presidencial/Decreto do Poder Executivo, para dar publicidade ao tratado,
após a sua entrada em vigor.

Problema: O STF entendeu que o tratado entra em vigor para o Brasil após a publicação do
Decreto Presidencial - As instâncias internas do Brasil só têm que cumprir o tratado
efetivamente depois da sua publicação. Esse é um entendimento obtuso, totalmente
equivocado do funcionamento das relações internacionais. Pois um tratado internacional
entra em vigor no cenário internacional a partir das suas próprias decisões. Pode ser que
ele entre em vigor logo após a ratificação, 30 dias após a ratificação, etc. Se não houver
uma publicação depois do dia previsto no texto e o Brasil, por exemplo, não publicar o texto,
o Brasil estaria descumprindo o tratado internacional.

Se o presidente da república negociou o tratado, assinou, submeteu ao congresso, que


mandou para as comissões, votou, aprovou o decreto, o presidente pode, nesse momento, que
não vai ratificar o tratado? O ato é discricionário? Caso o presidente não ratifique, o tratado
não volta para o congresso. O congresso não pratica ato internacional. O entendimento
generalizado da doutrina é que o ato de ratificação é discricionário.

A ratificação é um ato discricionário do presidente - pensamento majoritário do Brasil.

● Livre, Consciente e de Boa-fé

Art. 42, 1º - CVTI; Art. 46 (conectado ao art. 27).

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Tratados Internacionais

● Reservas

As reservas dos tratados são declarações unilaterais dos Estados pelas quais eles manifestam
que não irão se obrigar por parte das obrigações previstas no tratado. Possibilidade do Estado
não se vincular a uma parte do tratado.

Art. 19 da Convenção de Viena sobre os tratados - A regra é a possibilidade de formular a


reserva, a não ser que a reserva seja incompatível com o objeto e finalidade do tratado. Mas
não havendo regra, aplica-se a norma geral (que o Estado pode, portanto, que não seja
incompatível).

32
Quando falamos que o Estado pode formular uma reserva num tratado, dá impressão de uma
injustiça. Porque o tratado é um negócio jurídico, porque alguns Estados assumirem certas
obrigações e outros não? Mas temos que entender que o tratado se apresenta como uma
legislação, mesmo sendo um negócio jurídico. Então, desse ponto de vista, entende-se que a
força normativa do tratado passa em grande parte pelos Estados que participam do acordo. A
possibilidade de um Estado criar reserva, aumenta a possibilidade de Estados parte ser maior.
Na medida que os Estados podem fazer escolhas na ordem internacional adequadas a suas
possibilidades jurídicas, sociais, culturais internacionais, isso potencializa a participação
desse Estado.

Ao contrário da ideia inicial de que as reservas enfraquecem os tratados, elas são


instrumentos fortalecedores do tratado por ter um grande número de participantes, sem que
seja incompatível com o objeto e finalidade do tratado. Aqui há uma sensibilidade
interpretativa para entender que às vezes, dentro de um mesmo tratado nos temos que
diferenciar aquelas obrigações que são secundárias (a sua exclusão não compromete o objeto
e a finalidade do tratado como um todo) e as que integram o objeto e a finalidade do tratado.

O Brasil formulou reservas em relação a dois artigos da Convenção de Viena (art. 25) - O
Brasil não se submete a essa regra. O fato do Brasil ter feito uma reserva desse artigo 25, não
compromete a finalidade da Convenção de Viena, porque o que comprometeria seria, por
exemplo, se ao invés da 25 o Brasil fizesse uma reserva da 26, pois ficaria claro que seria
incompatível com a finalidade e objeto do tratado. Fica evidente que o artigo 26 não pode ser
possível a criação de reserva.

Quando um Estado formula uma reserva fora das hipóteses da alínea a e b. Portanto,
aplicando a alínea c do artigo 19. A formulação da reserva é publicizada para todos os
Estados parte no tratado (tomam conhecimento). Se os Estados nada disserem, a reserva é
aceita. No entanto, os Estados partes podem formular uma objeção à reserva por considerá-la
incompatível. Havendo aqui, portanto, a instauração de um conflito interpretativo para decidir
se aquela reserva é ou não compatível em relação ao objeto e finalidade do tratado. Esse
conflito pode ser resolvido de forma autêntica (decidida pelos próprios Estados - votação)
ou jurisdicional (levado ao tribunal internacional ou a uma arbitragem internacional). Se a
decisão for pela compatibilidade da reserva, o Estado que fez a Objeção é obrigado a aceitar,
se por outro lado a reserva for considerada incompatível, aí o Estado que formulou a resposta
tem duas escolhas: não continuar no tratado ou continuar no tratado sem a reserva. Basta uma

33
objeção para que isso aconteça - é comum que quando um diga que tem uma objeção, outros
países agregam. Ex: Convenção das Nações Unidas sobre o Direito da Criança - Árabes
(reservas) e países ocidentais (objeções) e acabou na Corte Internacional de Justiça.

Ratificação dos Tratados no Direito Internacional - Item II

Possibilidade de o Congresso Nacional emendar o texto dos tratados internacionais durante a


deliberação. Uma emenda imposta pelo Poder Legislativo representaria interferência indevida
na atribuição privativa do Presidente da República. Não se confunde emenda com reserva.
Quem negocia o tratado é o Poder Executivo e, uma vez que ele admite reservas, foi por ter
concordado com isso. Com esse efeito, a possibilidade de se apor reservas, seja porque
expressamente prevista esta possibilidade no tratado, seja porque o texto não proíbe, é
conhecida do Presidente da República no ato de assinatura do compromisso internacional.
Para as reservas serem válidas, devem preencher uma condição de forma (apresentada por
escrito pelo poder competente - Poder Executivo - dentro do Estado) e outra de fundo. O Poder
Legislativo não pode apresentar reservas no plano internacional.
Nada impede que o Poder Legislativo aprove o texto com reservas, desde que estas sejam
cabíveis, ficando a critério do Presidente da República ratificar ou não o tratado aprovado a
menor.

O Congresso Nacional não pode fazer emenda, porque o texto está concluído desde a
assinatura. Mas e a reserva?
Chega o texto do tratado, vai para as comissões temáticas, uma delas chega e diz que essa
obrigação prevista no tratado é incompatível com alguma lei no brasil/economicamente
inviável, etc, ou seja, dá alguma razão para que o brasil não aceite aquela obrigação. Se essa
reserva for cabível do ponto de vista do tratado, o CN pode apresentar um destaque (para que o
artigo seja votado em apartado) em relação a um certo artigo do tratado. Se o artigo não for
aprovado, mas o tratado sim, será escrito que o específico artigo foi restringido e deve ser
objeto de reserva. O CN pode propor uma reserva.
Se o presidente assinou um tratado com reservas, o CN pode tirar a reserva do presidente? A
maior parte da doutrina entende que não, ainda é uma discussão polêmica. O professor diz que
sim. A princípio, o CN não poderia tirar essa reserva do presidente, por outro lado, o CN
poderia aceitar o tratado na íntegra e desconsiderar a reserva do presidente.

Se o presidente assina o tratado na íntegra, mas o CN o aprova com proposição de


reserva em relação a certa obrigação, o presidente da república pode decidir não ratificar
o tratado, por causa da reserva?
Sim.

Se o presidente assina o tratado na íntegra e o presidente (ME PERDI NA AULA, 1H DE


AULA MAIS OU MENOS - OUVIR TODA ESSA PARTE.)
Na prática pode.

Mas isso, a ideia de equilíbrio de poderes fica um pouco prejudicada. Então parece que ao
propor uma reserva de última hora, na hroa da ratificação, o presidente estaria tomando uma
nova decisão.

34
Se o presidente e o Legislativo concordam com as obrigações, aprova. Se o presidente, de
última hora, diz que não aceita uma obrigação, não precisaria da manifestação do Congresso.

● Interpretação - Art. 31 (Decreto nº 7030)

Os elementos da regra geral de interpretação de um tratado são: boa-fé, sentido comum


atribuível aos termos do tratado, objeto e finalidade.

A boa-fé objetiva significa que uma interpretação deve considerar que as partes estavam de
boa-fé quando assumiram o acordo internacional. A interpretação deve levar em consideração
que os Estados estavam interessados, que agiram de boa-fé objetiva quando negociaram os
termos dos tratados.

O sentido comum atribuível quem diz que os termos utilizados no tratado devem ser
considerados no seu sentido habitual, e não no sentido metafórico. Portanto, uma palavra no
tratado sempre terá o seu sentido comum. Se os Estados quiserem atribuir outro sentido
àquela palavra, o parágrafo 4º diz que um sentido especial de um termo aplicado no tratado,
só será aplicado se ficar estabelecido que essa era as intenções da parte.

Elemento teleológico. O tratado deve ser interpretado à luz do objeto e finalidade.


Normalmente no preâmbulo e considerandos. O próprio tratado, muitas vezes, permite que
nós cheguemos a conclusão de quais são seus objetos e finalidades.

Além disso, nós temos que ter, no parágrafo primeiro, que a interpretação recairá sobre o seu
contexto. O segundo parágrafo traz o que seria esse contexto. O contexto envolve o texto,
preâmbulo, texto, anexos (letras “a” e “b”). Digamos que num tratado de proteção ambiental,
sobre animais migratórios, uma determinada lista de animais em extinção seja considerada
como parte do tratado. Ela integrará o contexto do tratado.

A interpretação não se limita ao texto do tratado. Ela inclusive inclui qualquer instrumento
aceito pelas partes como parte do tratado. A interpretação ainda vai além do contexto.

Parágrafo 3º - O objeto de interpretação do tratado vai do texto ao contexto ao sistema. Nesse


parágrafo, letra “a”, fala sobre qualquer acordo posterior, que deve ser considerado. Também
deve ser considerado os costumes que emergem na aplicação do tratado. E a letra “c”,
quaisquer regras pertinentes de direito internacional aplicáveis entre as partes.

35
Ex: Se Estado A e Estado B disputam a interpretação de um tratado, a sua interpretação
levará em conta o contexto e todo o entorno normativo que envolve as relações internacionais
entre A e B.

Esse art. 31, 3, c, indica que no momento de interpretação de um tratado, ele não deve ser
considerado como uma norma isolada do universo. No momento de interpretar um tratado
vou considerar se os Estados são parte da ONU, UNESCO, OMS, etc. Esse sistema, em que o
tratado é considerado como norma, envolve o tratado e sua interpretação.

A regra geral de interpretação dos tratados é complementada pelos chamados de meios


suplementares de interpretação (art. 32). Além da regra geral, há outros meios de
interpretação, como trabalhos preparatórios (instrumentos e documentos trocados para
negociação - que antecedem o texto final) e circunstâncias de conclusão (a pandemia cria
uma circunstância especial e portanto, os tratados assinados atualmente, devem ser
considerados utilizando a existência dessas circunstâncias). Esse rol de meios suplementares
não são exaustivos. A analogia é um meio suplementar para interpretação.

Interpretação de tratados autenticados em duas ou mais línguas (art. 33) - No caso da


convenção, art. 85, tem-se quais são os textos originais. Obviamente a mesma versão do texto
é repetida 5 vezes nessas 5 linhas. Quando um tratado for autenticado em duas ou mais
línguas, numa disputa internacional lá na Corte Internacional de Justiça que o Brasil faça
parte, pode ser usado qualquer uma das línguas. Qualquer dos textos autenticados faz
igualmente fé, a não ser que tenha a prevalência de um texto em determinada língua. Outra
forma de resolver o conflito é uma versão em língua diversa, mas só será considerado texto
autêntico se o tratado o previr ou as partes nisso concordarem. No parágrafo 4º, diz que se
nós tivermos uma divergência idiomática que não seja possível resolver pela boa-fé, etc. Eu
vou utilizar o objeto e finalidade do texto. A solução proposta pelo artigo 33, parágrafo 4 nem
sempre será viável pela mudança de palavras de um país para outro.

Essa questão da língua é importante e deve ser objeto de elaboração desde a criação do
tratado.

● Efeito dos Tratados

Art. 26 - O tratado é regido pela pacta sunt servanda, ou seja o efeito do tratado é o
surgimento de direitos e deveres que devem ser cumpridos pelas partes de boa-fé.

36
Art. 28 - Os tratados não produzem efeitos retroativos, salvo quando o próprio tratado e as
partes concordam. Só se aplica a fatos posteriores à sua entrada em vigor.

Art. 29 - Obriga o Estado em todo o seu território, a não ser que o tratado estabeleça que ele
se aplique apenas em partes do território.

Art. 30 - Posterior prevalece sobre posterior. Via de regra, quando todas as partes no tratado
anterior são igualmente partes do tratado posterior, o tratado anterior só se aplica na medida
em que suas disposições sejam compatíveis com seu tratado posterior. O tratado posterior
prevalece sobre o tratado anterior, porém o tratado anterior se aplica naquilo que for
compatível com o posterior. Obviamente aqui nos termos a regra da posterioridade e a
regra da especialidade. Tudo isso, desde que sejam as mesmas partes. Se forem partes
diversas, nós precisaríamos considerar se as partes em disputa sobre o tratado são ou não são
partes do tratado anterior.

Ex: Tratado 1930 - A,B,C,D e E. Em 1972 assinou outro tratado sobre o mesmo assunto -
A,C,D,F e G. Em 2002 - A, B, C, D, e F. Todos tratam o mesmo assunto. Um litígio entre
AxC, qual tratado é aplicado? O de 2002 (ME PERDI DEPOIS DO INTERVALO, MAIS
OU MENOS 2HRS DE AULA).

Art. 30, 4 - Acerca de quando as partes no tratado posterior não incluem todas as partes no
tratado anterior.

Ex: Tratado de 1930 (30 Estados), Tratado de 1972 (74 Estados) e no Tratada de 2002 (120
Estados).

Art. 34 - Um trato não cria obrigações nem direitos para um terceiro Estado sem seu
consentimento

Art. 35 - Porém, um terceiro Estado pode aceitar uma obrigação de um tratado o qual ele não
é parte.

Art. 36 - Um direito pode nascer para um Estado terceiro. O consentimento não precisa ser
expresso. Quando se tratar de um direito, o consentimento é presumido e decorre do mero
silêncio.

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Ex: Direito de adesão. Tratado 2002 (A,B,C,D,E e F) criou uma cláusula dizendo que “Os
Estados que preencherem os requisitos X,Y e Z, poderão aderir ao tratado. Se o Estado
terceiro quer aderir, ele deve aceitar os requisitos e irá cumprir as condições.

● Extinção e suspensão

Art. 70 - Nós devemos ter em mente que um tratado pode se extinguir ou ser suspenso por
inúmeras circunstâncias. O art. 54 estabelece sobre a extinção de um tratado. A princípio, um
Estado pode se extinguir pela mera manifestação de vontade das partes. Agora, o Estado pode
decidir sair do tratado por si próprio? Pode, por meio de denúncia/retirada (declaração
unilateral para um Estado deixar de fazer parte do tratado); art. 56.

Numa primeira leitura do art. 56, poderíamos concluir de que a Convenção de Viena sobre
direito dos tratados proíbe a denúncia, porém as exceções são muito amplas. No momento
que se diz que o direito de denúncia do tratado pode ser extraído da natureza do tratado, e aí a
doutrina vai dizer que existem tratados que podem ser ou não denunciados pela sua natureza.
Então quais seriam os tratados que não podem ser denunciados? Com isso a regra se
inverteu: Em princípio os tratados podem ser objetos de denúncia, salvo se sua natureza não o
permitir.

Ex: Tratado de venda de território - Esses tratados não podem, por sua natureza, serem
denunciados. / Tratado sobre direitos humanos - Alguns dizem que não pode ser denunciado.

Para o Brasil abandonar totalmente um tratado que ele já fazia parte é uma decisão do
Presidente? http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=325338

Essa convenção foi aprovada no Brasil em 1996. Não foi julgada. Não há previsão
normativa. Acho minimamente razoável, mas ao mesmo tempo, é difícil aceitar uma
imposição dessas sem uma previsão normativa. É uma questão que, de certo modo, impacta
muito na sociedade. É um tratado sobre direitos humanos, direitos trabalhistas, direitos
sociais. Pode o presidente da república denunciar? Fernando Henrique denunciou e foi
questionado, alegando que a denúncia seria inconstitucional. Ou seja, por ora não temos
como confirmar, mas há uma tendência de que o presidente, para denunciar ao tratado, deva
se submeter ao crivo do legislativo. Essa seria uma solução precária, mas mais condizente.
Diante desse vácuo constitucional, a melhor interpretação parece ser aquela que tem
participação do legislativo. Mas ainda é um tema em discussão no Supremo desde 1996.

38
Opinião: Tem tratados que, pela celeridade, fosse melhor o presidente pudesse denunciar
sem ouvir o congresso e outros não. Ex: Sair do Mercosul (seria inviável que o presidente
pudesse denunciar). Ex: Tratados em matérias bilaterais em matéria de extradição, não teria
problema. O tratado de extradição poderá ser objeto de denúncia sem ouvir o congresso, por
ser algo pequeno.

1. O tratado pode ser extinto por acordos das partes (art. 58).
2. O tratado pode ser extinto em virtude da conclusão de um tratado posterior sobre o
mesmo assunto (art. 59).
3. O tratado pode ser extinto em consequência da sua violação (art. 60), ou seja, a
violação substancial do tratado - no caso do tratado bilateral, se uma parte viola, a
outra parte pode ensejar a sua violação. Violação que atinge o objeto do tratado. No
caso do tratado multilateral tem-se mais de uma solução possível (parágrafo 2º, 60).
num tratado multilateral, uma violação pode levar à extinção total do acordo ou à
expulsão do Estado faltoso. Um Estado pode alegar que aquela violação substancial é
tão grave que ela modifica os interesses de todas as partes. Ex: Não utilização de
armas atômicas. Para. 3º, 60 - fora das hipóteses previstas na convenção, a violação
substancial será uma desconsideração de uma obrigação essencial para o objeto
finalidade do tratado.
4. Além disso, um tratado pode ser extinto pela impossibilidade superveniente do
cumprimento (art. 61). Ex: Essa pandemia pode implicar numa impossibilidade
temporária em matéria de livre circulação de pessoas.
5. Pode gerar a extinção uma mudança fundamental das circunstâncias (art. 62). Ex:
Pandemia. 1) As circunstâncias do momento da conclusão devem ser essenciais para o
consentimento; 2) A mudança das circunstâncias altera radicalmente o alcance das
obrigações - gera uma onerosidade excessiva, tornando ali de difícil cumprimento
aquela obrigação do tratado.
6. Art. 63 - O rompimento das relações diplomáticas e consulares é a causa para a
extinção do tratado? Depende. O rompimento irá suspender apenas as relações que
dependem das relações diplomáticas ou consulares. Ex: Tratado de extradição - sua
execução passa por condutas diplomáticas para evitar a extradição, se houver
rompimento, o tratado de extradição será suspenso ou extinto.
7. Art. 64. O tratado será extinto quando houver superveniência de uma norma
imperativa de direito internacional jus cogens.

39
OBS: Todos os artigos são da Lei 7030 de 2009.

Relações entre o Direito Internacional e o Direito interno dos Estados

RE 80.004-SE

RE 466.343-SP (Voto do Min. Gilmar Mendes e Celso de Mello)

O RE 80.004 é um recurso paradigma até hoje utilizado pelo Supremo.

1. DUALISMO E MONISMO

Para os dualistas, direito interno e direito internacional não se comunicam; representam


ordens jurídicas distintas, com sujeitos distintos e normas e jurisdição próprias (Triepel e
Anzilotti). Para os monistas, o sistema do direito é único e envolve tanto o direito dos Estados
quanto o direito internacional em uma ordem jurídica completa; portanto, caberá à doutrina e
aos tribunais estabelecer uma ordem hierárquica entre as fontes (Kelsen).

Dentro dessa perspectiva, tem-se uma disputa, em ambas as teorias, pela supremacia entre o
Direito Interno e o Direito Internacional. As duas teorias se organizam hierarquicamente.

No dualismo, Triepel sugere que o Direito Internacional teria prevalência, uma vez que as
obrigações internacionais assumidas pelos Estados poderiam exigir a modificação do direito
interno, que ele chama de direito interno internacionalmente relevante (não há comunicação
entre o direito interno e o Direito Internacional, mas quando o Estado assume algumas
obrigações internacionais, pode ser que ele tenha que alterar o seu direito interno), o que
revelaria uma supremacia da ordem internacional.

No monismo, Kelsen propõe que o Direito Internacional tem prevalência sobre o direito
interno, pois a própria manifestação do direito interno seria uma decorrência da soberania,
que é garantida pelo Direito Internacional. O DI estaria, segundo Kelsen, mais próximo da
norma fundamental, por representar um consenso mais amplo da comunidade humana.
Kelsen, embora seja muito referido pelos constitucionalistas, ele é um internacionalista na sua
teoria, defendendo a prevalência do DI sobre o direito interno. Ele argumenta que o D.I
estaria acima do direito interno, pois (1) o direito interno só é concebido como direito quando
deliberado por um Estado soberano; (2) direito internacional representa um consenso mais
amplo da humanidade.

40
No entanto, o monismo é uma teoria meramente estrutural, isto é, ela descreve o direito como
uma estrutura estética. É por isso que é tão confortável falar do ordenamento como se fosse
uma pirâmide. O monismo, em si mesmo, não impõe um conteúdo, nem a forma como esse
conteúdo se organiza na estrutura do ordenamento. Kelsen, quando escreveu A Teoria Pura,
não se preocupou quanto ao conteúdo do direito, ele queria descrever o direito como uma
estrutura (conjunto de normas que emana de uma autoridade competente - norma hipotética
fundamental).

Surgem teorias que posicionam o direito interno acima do DI na estrutura monista,


notadamente as teorias neoconstitucionais, e há teorias que colocam o DI e o interno no
mesmo patamar hierárquico, procurando resolver os conflitos pelas regras da posterioridade e
da especialidade.

Como o DI se relaciona com o direito brasileiro, segundo a jurisprudência do STF?

Texto: RE 80.004-SE

O STF julgou uma questão que suscitou a invalidade do Decreto-lei nº 427/1969 lei interna
brasileira por contrariar a Convenção de Genebra sobre títulos de crédito.
Ministro Relator - a norma internacional tem forma própria de revogação, a denúncia só pode
ser modificada por outra norma de igual ou superior categoria, internacional ou supranacional.
Enquanto não denunciado o tratado, este não pode ser descumprido, sendo obrigatória a sua
observância.

Art. 98 do Código Tributário Nacional - Os tratados e convenções internacionais revogam ou


modificam a legislação interna e devem ser observados pela que lhe sobrevenha, como
consagração legislativa deste princípio.

Lei Uniforme

Ministro Cunha Peixoto - o tratado obriga o governo na ordem internacional, pois tratado não
é lei, mas ato internacional, não sendo admissível que um só ato, ao mesmo tempo possa
produzir efeitos de tratado e ato legislativo ordinário ou que um tratado se converta em ato
legislativo, exigindo, para sua vigência, promulgação da lei interna.
Existem normas distintas para o processamento da lei interna e da ratificação do tratado
internacional: ratificação da convenção pelo decreto, declaração de aprovação da convenção
para adoção de uma lei uniforme sobre letras de câmbio e notas promissórias, bem como de lei
uniforme sobre cheques e o fato de ser a Convenção destinada a regular conflitos em matérias
de letras de câmbio e notas promissórias e cheques.
Essa lei transformou-se em direito positivo brasileiro, podendo ser modificada, revogada como
qualquer outro diploma legal, sob pena transformar lei decorrente de tratado em “super lei”,
acima da própria Constituição.

A recepção do direito internacional não significa que o Poder Legislativo fique impedido de
editar novas leis contrárias ao disposto nos tratados.

41
Ministro Cordeiro Guerra - Constituição Brasileira deferiu ao Supremo Tribunal Federal a
competência para declarar a constitucionalidade de tratado ou lei igualmente, sem dar ao
tratado internacional relevância superior à da lei e que a adoção de lei federal posterior,
contrária com as obrigações assumidas no tratado, pode ensejar reclamação de uma outra parte
contratante no plano internacional, sem afetar as questões de direito interno.

Analisa o artigo 114, inciso III, alínea b, da Constituição Brasileira de 1967, segundo o qual
competia ao Supremo Tribunal Federal julgar, mediante recurso extraordinário, as causas
decididas por outros tribunais, quando a decisão recorrida declarar a inconstitucionalidade de
tratado ou lei federal, afirmando que em que pese o dispositivo traga, em seu bojo, tanto a lei
quanto o tratado, isso não quer dizer que possuam o mesmo status.

Segundo o Ministro, hierarquicamente à lei e o tratado se situam abaixo da Constituição, sem


que isso implique na equiparação entre eles, que guardam suas características específicas,
sendo dotados de eficácia formal própria, pelo que não seria possível adotar o princípio da lex
posterior derogat lex priori, de forma que lei interna revoga o tratado.

Considerando os votos divergentes, o Supremo Tribunal Federal, nesse caso, reafirmou a regra
de que o tratado internacional tem o mesmo nível hierárquico que as leis ordinárias, aplicando-
se a regra de que ele é revogado por leis novas

Comentários:

Esse julgado prevaleceu até hoje, apesar de sofrer modificações. Como o Brasil, ao adotar
essa posição, que vem desde 1977, bastante arriscada e que organiza o direito internacional
no direito interno.
Essa decisão assume uma posição meio híbrida, já que assume que os tratados devem entrar
como norma do direito interno (dualismo). E, admite que o tratado produza efeitos direitos
(monismo); juiz aplica o tratado na ordem interna.
É interessante que tem uma passagem que eles citam Kelsen para justificar o dualismo
(grande erro epistemológico, pois Kelsen combate o dualismo).
A doutrina chega a conclusão de que se adota um sistema misto.

Qual a posição do direito internacional no direito interno? Pelo RE 80.004-SE, qual a


posição adotada pelo Brasil?
O tratado tem a mesma força que uma lei ordinária. Logo, pode ser alterado por uma lei
interna posterior. Além disso, é uma norma infraconstitucional (já que tem o mesmo patamar
da lei interna, e portanto está abaixo da Constituição).
No que tange a estrutura monista, é o monismo de prevalência do direito interno. Já que
sendo uma norma infraconstitucional, está sujeita ao controle de constitucionalidade. Art.
105, III, a, CF/88, que fundamenta o posicionamento adotado. Este artigo trata da
competência do STJ de julgar, em recurso especial, as causas decididas pelos Tribunais de
segunda instância, quando a decisão recorrida contrariar tratado ou lei federal, ou negar-
lhes vigência. Conclui-se que havia paridade hierárquica entre lei e tratado. A conclusão
possível é que o ordenamento trata lei e tratado como normas infraconstitucionais, já que
sujeitas a recurso especial. Superinterpretação constitucional.

42
Textos complementares não citados em sala
https://revista.ufrr.br/examapaku/article/download/2412/1393 - O SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL E O DIREITO INTERNACIONAL: UMA ANÁLISE JURISPRUDENCIAL
https://periodicos.unb.br/index.php/redunb/article/download/20330/18771/ - O SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL E A RELAÇÃO ENTRE DIREITO INTERNO E DIREITO
INTERNACIONAL

Diante do art. 5º, parágrafo 2º, CF/88, como ficam os tratados que versam sobre direitos
humanos, em face do precedente do RE 80.004? Qual o status constitucional desses tratados?
Eles integram o bloco de constitucionalidade? Ou são normas infraconstitucionais em
paridade com as leis ordinárias? Podem ser revogadas por lei posterior?

Texto: RE 466.343-SP (Voto do Min. Gilmar Mendes e Celso de Mello) - 2hrs de aula do dia
24/09.
Gilmar disse, em seu voto: "O Supremo Tribunal Federal acaba de proferir uma decisão
histórica. O Brasil adere agora ao entendimento já adotado em diversos países no sentido da
supralegalidade dos tratados internacionais sobre direitos humanos na ordem jurídica interna.”
Isso aconteceu porque o caso é o seguinte: Alguém sabe sobre quais foram as circunstâncias
fáticas que levaram ao julgamento do 466.343? Qual foi a materialidade da discussão? O que
estava em questão no caso? Incompatibilidade entre o Pacto São José da Costa Rica e com a
legislação vigente permitindo a prisão do depositário infiel. E qual era a problemática de fundo
constitucional? A Constituição estava aberta para que se criasse uma lei permitindo a prisão e
a legislação regulamentava essa situação. Como o Pacto foi ratificado, não havia ainda o
parágrafo 3º que exige uma aprovação pelo coro de emenda. Então começou a discutir a
aprovação do tratado - quorum de lei ordinária e de maioria simples.É possível considerar essa
norma constitucional mesmo ela tendo sido aprovada pelo quorum de uma lei ordinária?
Parágrafo 2, Art. 5º (inclui também os decorrentes de tratado). Problema: Tínhamos a previsão
da prisão na lei ordinária anterior à CF/88. É importante dizer que a CF/88 não determina a
prisão do depositário infiel, ela não cria a prisão, mas admite (ou seja, uma lei
infraconstitucional poderia gerar a prisão do depositário infiel).
Essa relevância toda vem por um artifício legal. Na década de 60, na ditadura militar, uma das
premissas para justificar a não democratização do país era a de que o seu regime seria o mais
eficiente economicamente, então eles precisam demonstrar e justificar para a sociedade
brasileira essa eficiência - Milagre econômico.
Depositário infiel.
Art. 5º, parágrafo 2º, CF/88.
RE 466.243 - Supralegalidade porque os tratados internacionais sobre direitos humanos
aprovados pelo quorum de lei ordinária antes da entrada em vigor da EC45/2004 seriam
normas infraconstitucionais, porém normas supralegais, como fundamento no parágrafo 2º do
ar. 5º da CF.

Considerando a estrutura hierárquica do ordenamento brasileiro, a lei que entra em


conflito com um tratado sobre direitos humanos pode ser válida? A decisão do Supremo
indica que pode, mas é ineficaz. Porque pelo Supremo, a supralegalidade provoca uma
“eficácia paralisante”. Convennhamos que sso é de todo esquisito, porque em qualquer ordem

43
hierárquica a ideia de surpa e infra presume uma relação de validade e invalidade. Isso é
básico em Kelsen. As normas inferiores só são validadas se correspondem às normas
superiores. Normas infraconstitucionais, sejam legais ou infralegais, serão inválidas se
contrariarem a constituição. E as normas infralegais serão inválidas se forem contrárias à lei.

O Supremo inova ao dizer que há uma norma entre a constituição e as leis, que seria a
supralegalidade. E nesse novo patamar a relação não é de invalidação, mas de ineficácia.
Então, a decisão adotada pelo Supremo deixa problemas. Nós temos então uma nova
configuração: No Brasil, a partir do RE 466.343-SP, os tratados: a) sobre direitos humanos,
aprovados pelo quorum do art. 5º. par. 3º, integram o bloco de constitucionalidade; b) Sobre
Direitos Humanos, aprovados antes de EC 45/2004, são normas supralegais; c) que não são
sobre direitos humanos, permanecem em paridade hierárquica com as leis ordinárias. - Esse é
o quadro que vigora a partir do julgamento do RE 466.343 pelo STF (julgado em 2009).

Em 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, criada pelo Pacto São José da Costa
Rica, condenou o Brasil pela aplicação da Lei de Anistia. Fundamentou a justiça de transição
entre o regime militar e o regime democrático no caso “Gomes Lund e outros vs Brasil”. O
STF, no entanto, julgou que a Lei de Anistia foi recepcionada pela nova ordem
constitucional. A pergunta é: O que prevalece? Essas decisões são incompatíveis? O juiz
brasileiro diante de um pedido formulado pelo Ministério Público Federal, pedindo a
condenação de um militar por fatos ocorridos na ditadura, albergados pela lei de
anistia, o juiz deve dar prosseguimento ao processo ou extinguir o feito por extinção da
punibilidade? 2º pergunta = Não são incompatíveis, pois são duas decisões sobre coisas
diferentes. De um lado tem-se dito que a lei de anistia é constitucional, de outro diz que
contraria o Pacto de São José da Costa Rica. O MPF vem alegando nos seus processos que
uma coisa não tem nada a ver com a outra. Há apenas uma conformidade, na leitura do STF,
da lei de Anistia com a CF/88. Outra coisa é a Corte dizer que a aplicação da lei de anistia
contraria o PSJCR, e aí 3º pergunta = o caso o MPF vai dizer que o juiz interno não pode
aplicar, porque existe um tratado que bloqueia a eficácia dessa lei enquanto o Brasil for parte
desse acordo (lei não pode ser aplicada).

A prisão do depositário infiel, prevista no Código Civil, de acordo com a CF/88 é válida, mas
de acordo com o tratado ele não pode ser aplicado, daí a ideia de “eficácia paralisante”.

A existência do tratado não interfere na validade, mas tão somente na eficácia. Ou seja, a
eventual fundamentação do juiz de não aplicar a lei de anistia não contraria a decisão do

44
supremo porque não nega a constitucionalidade - apenas segue a decisão da Corte ao impedir
a sua eficácia - não nega a constitucional, mas impede a eficácia com base na Corte
Interamericana de Direitos Humanos.

Atualmente, tivemos outro caso que trouxe essa questão. Que foi o caso do julgamento da
candidatura de Lula no TSE. No caso, o Comitê de DH da ONU, em decisão cautelar, julgou
que a proibição da candidatura com fundamento na Lei Ficha Limpa (LFL) contrariaria o
Pacto de Direitos Civis e Políticos, ratificado pelo Brasil em 1992. Então, se o Pacto Int. de
Direitos Civis e Políticos (PIDCP) fosse ratificado pelo Brasil em 1922, estaria no grupo de
normas supralegais. A lei da ficha limpa é uma norma posterior e portanto estaria sujeita ao
controle de convencionalidade. A LFL foi considerada constitucional pelo STF. Como se
sabe, o TSE decidiu pela recusa da candidatura de Lula pela LFL. Se o PIDCP é um tratado
de DH uma norma supralegal e o Comitê da DH da ONU seria o órgão competente para
se manifestar sobre o cumprimento desse tratado, poderia o TSE ignorar essa decisão
do comitê e aplicar a LFL em detrimento de um tratado internacional sobre DH? O voto
do Min. Luís Roberto Barroso fundamentou-se na teoria da margem de apreciação da ordem
jurídica interna em relação ao cumprimento das obrigações internacionais. Considerou-se que
como a LFL foi adotada a partir de uma iniciativa popular, ancorada o ordenamento brasileiro
e considerada constitucional pelo Supremo, essa norma pela sua importância do regime
constitucional brasielrio deveria ser considerado pela margem de apreciação da ordem
jurídica interna em relação ao cumprimento das obrigações internacionais, ou seja, a LFL,
apra ele deveria prevalecer sobre a decisão do comitê relativo à aplicação do PIDCP. O único
voto contrário, portanto vencido, foi do Min. LE Fachin, que entendeu que o tratado
internacional, pelos precedentes do Supremo deveria ser considerado como norma supralegal,
e portanto, prevalece, da decisão fornecida pelo comitê deveria prevalecer sobre a LFL
naquele caso concreto já que essa manifestação no comitê daria conta de dizer como o tratado
teria que ser cumprido, assim sendo, não poderia uma lei interna infraconstitucional bloquear
a eficácia do tratado.

Em todos esses casos o precedente do RE 466.343-SP vem sendo deixado de lado em outras
decisões do nosso ordenamento, já que a prevalência dos tratados em matéria de DH sobre o
ordenamento interno, nem sempre ocorre. Revelado, assim, uma insuficiência da decisão. O
problema está na própria decisão do RE 466.343-SP, revelando uma insuficiência
argumentativa, pois essa ideia da supralegalidade não cola nem para o próprio STF.

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Ou seja, a configuração tratada anteriormente (na divisão: a, b,c do RE 466.343-SP) carece de
uma reconstrução/revisitação. Primeiro uma revisitação em torno da letra c, porque não é
possível que a gente vá manter por mais tempo uma eficácia do precedente 80.004 em
relação a tratados que não são sobre DH. Segundo, sobre a ideia de supralegalidade que o
Supremo criou para gerar o bloqueio da eficácia (que só acontece de acordo com a
conveniência no momento da decisão).

As candidaturas avulsas nas eleições no Brasil são cabíveis? Isto é, sem a filiação
partidária? Art. 23 do Pacto São José da Costa Rica, par. 2º. A lei não poderia limitar o
exercício do direito político condicionando a uma filiação partidária. Não poderia condicionar
o exercício do direito político, qualquer que seja. Algumas pessoas vem entrando com ações
alegando que a exigência constitucional da filiação partidária para exercício de direitos
políticos, seria contrária ao PSJCR. Seria? O que você acha? Nós já temos algumas decisões
favoráveis a candidatura avulsa. Se o Brasil mantém seu regime constitucional, vedando a
candidatura avulsa, ele viola o PSJCR até que a Corte Interamericana em DH fale sobre isso,
porque diante da negativa da candidatura avulsa definitiva e esgotamento dos recursos
internos, o interessado pode levar o caso a comissão interamericana de DH e o Brasil será
notificado para se manifestar. Se o Brasil mantiver o que não vai permitir, será levado à corte.
Agora, se o Brasil permitir, vai haver uma mudança abrupta no sistema eleitoral brasileiro.

Nós temos aqui duas questões: (1) Controle de constitucionalidade dos tratados; (2) Controle
de convencionalidade das leis. Se o RE 466.343-SP entende que os tratados são normas
supralegais, as leis estariam sujeitas a um controle de convencionalidade. Então, caberia aos
tribunais internos, no momento de aplicação da lei, decidir se aquela lei está de acordo ou não
com o tratado internacional. O problema é: qual é a eficácia do controle de
convencionalidade das leis pelos tribunais internos? Imaginemos que o juiz de primeira
instância entende que a exigência de filiação partidária é conforte ao PSJCR, o TRE entende
que a exigência de filiação é conforme ao Pacto e deve ser mantido. Se todos entenderem que
é conforme, mas chega na Corte Interamericana e ela entende que viola o Pacto, de que valeu
todas as decisões do tribunal interno a respeito da conformidade das leis internas com os
tratados? São perguntas que o Supremo ainda não respondeu.

Texto: Candidatura avulsas

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O Direito Internacional no Brasil, após o RE 466.343-SP:

Constituição:

■ Tratados sobre DH aprovados pelo quórum de EC (art. 5º, par 3º)


■ Tratados sobre DH aprovados antes da EC 45/2004 (supralegais)
■ Leis federais e tratados internacionais sobre outros assuntos (RE 80.004)
■ Normas infralegais (portarias, editais, etc.)

Nós temos questões recentes em que o próprio poder judiciário brasileiro confronta esse
paradigma, tanto no caso com questões controversas, como a Lei de Anistia (casos “Gomes
Lund” e “V. Herzog”, julgados pela CtIDH), a Lei da Ficha Limpa e Candidaturas Avulsas
(em discussão no STF). São questões que vêm sendo postas em função do próprio precedente
criado pelo Supremo. Toda essa questão ainda se põe em função da fragilidade do precedente.
Há questões em aberto, como por exemplo: 1) Qual a posição das demais fontes do Direito
Internacional? 2) Em caso de colisão entre tratados, como se decidirá?

2. TEORIAS HETERÁRQUICAS - Decorrência da insuficiência do debate “monismo


vs dualismo”. Nos temos teorias como o interconstitucionalismo, constitucionalismo
global, transconstitucionalismo, constitucionalismo multinível e pluralismo jurídico.

Texto: Teorias heterárquicas da relação entre DI e direito interno

COMENTÁRIOS DO TEXTO:
Essas são doutrinas que reconhecem uma insuficiência do monismo e dualismo. Esse monismo
e dualismo leva a um texto: Is international law international? (Anthea Richards). E é
interessante essa reflexão do texto de Anthea porque: se cada país, pelo discurso do monismo e
dualismo, dá ao direito internacional a sua própria visão (d.i do brasil, d.i do japão, etc), que
decorre das suas decisões do tribunal interno, nós não teríamos um direito internacional. Mas
seria o direito internacional em cada Estado. Como os Estados têm lidado de formas diferentes
com o direito internacional, criando na verdade direitos internacionais nacionais. Mostrando
uma insuficiência da solução do monismo e dualismo, pois ela acaba não refletindo o direito
internacional como direito internacional, mas sim como parte do direito interno dos Estados.

Essas teorias propõem uma construção de um diálogo mais aberto entre as ordens jurídicas
internas e a existência de outras ordens jurídicas. E aí temos várias formas de enxergar essas
interações entre o direito interno dos Estados e outras ordens jurídicas.

47
2. 1 Interconstitucionalismo: Mudança radical nos pensamentos e Canhotinho.
Reconhecendo que, na verdade, não tinha como sustentar essa ideia. Canotilho muda
seu ponto de vista para observar que a ideia de constitucionalidade é mais complexa
do que se resume num mero texto da constituição. A ideia de constitucionalidade
demanda uma percepção que extrapola o texto da constituição mas que se relaciona
com outros elementos constitucionais, que resultam da interação do direito interno
com as relações internacionais, com o reconhecimento de que a Constituição tem que
ter uma abertura cognitiva capaz de assimilar outras ordens jurídicas que foram se
criando no plano global, nas relações transnacionais, e com isso, não há como
sustentar um constitucionalismo dirigente na medida que o próprio Estado se vê
obrigado a ceder frente às demandas da sociedade mundial.

Canotilho admite uma noção de constitucionalismo mais integrado e inter-relacionado com


esse universo normativo. Mas ele chama atenção para o teste democrático que essa produção
normativa gera. Há um déficit democratico que é preocupante, pois essas ordens/estruturas
normativas produzidas em relações privadas trazem um impacto muito grande sobre as
populações sem que elas façam parte da construção dessa programação. Ex: Lei geral da
copa.

2.2 Constitucionalismo global: Constituconalização generalizada da sociedade


mundial - não infere o surgimento de uma constituição mundial, mas a existência de
múltiplas constituições que se relacionam hierarquicamente, criando um grande
amálgama em rede de expectativas de comportamento que se conectam gerando
inúmeras tomadas de decisão no plano internacional.

O direito internacional seria o direito estatal com uma perspectiva global. O direito
internacional permitiria uma maior aceleração da comunicação do direito dos Estados com
essas outras dimensões do direito/estruturas normativas privadas que rivalizam com o Estado
na composição desse constitucionalismo global.

O constitucionalismo tira o Estado do centro, colocando o Estado como mais um participante


da sociedade mundial. O direito que emana do Estado estaria sujeito a se estruturar
considerando as outras estruturas normativas existentes, principalmente no campo
empresarial, das empresas transnacionais. O estado é mais um ator dessa sociedade mundial.
Os Estados, empresas, ONGs, etc tem que lidar uma com as outras, entrando, constantemente

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em conflitos, pois todas elas estabelecem suas normas. As redes sociais vão amplificando e
ampliando a participação do ser humano. Aumentando a complexidade da sociedade.

Podemos observar que os autores do Constitucionalismo Global são influenciados pela


doutrina alemã e que vem se colocando como uma alternativa de estudo das relações
internacionais, visto que há uma frustração dos alemães do funcionamento do direito
internacional. Crítica ao direito internacional e a forma que ele foi concebido depois da
segunda guerra mundial.

2.3 Transconstitucionalismo: Existência de uma racionalidade transversal, que seria


possível de ser identificada na comunicação proporcionada pelas constituições (no
sentido técnico-jurídico). Essa racionalidade transversal seria alcançada pelos
entrelaçamentos e pelas pontes de transição decorrentes dos acoplamentos operativos
entre o direito e os demais sistemas sociais da sociedade e entre as diversas ordens
jurídicas existentes.

2.3 Constitucionalismo Multinível: Observa na relação entre direito constitucional e


os tratados sobre direitos humanos uma relação de complementaridade. Então
teríamos um constitucionalismo estatal e um internacional. Ex: O Pacto São José da
Costa Rica traria para a constituição um conjunto de direitos fundamentais que se
juntaria aos direitos fundamentais da constituição num constitucionalismo multinível.

Os tratados sobre direitos humanos seriam uma amplificação da ressonância dos direitos
fundamentais para os direitos humanos, gerando aí uma grande perspectiva de normatividade
que extrapola os limites da constituição para níveis superiores. Então teríamos o direito
fundamental previsto na constituição, os direitos humanos previsto nos tratados e a existência
do sistema interamericano de proteção aos direitos humanos criaria uma outra camada de
constitucionalidade, que seria acessível às pessoas para garantir seus direitos. Com isso você
teria o duplo controle: constitucional e convencional para garantia de direitos. Isso geraria um
constitucionalismo multinível que impõe um diálogo constante das instâncias internas com a
ordem internacional.

2.5 Pluralismo jurídico: Vai na mesma linha do constitucionalismo multinível e


reconhece uma multiplicidade de ordens jurídicas que interagem, aqui, muito mais no
ponto de vista estatal, mais aos vários regimes jurídicos especializados internacionais,
todos integrando um pluralismo jurídico e estariam em um constante diálogo.

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O ambiente da sociedade mundial, onde há uma esfera pública de comunicação entre os
vários atores da sociedade, buscam ampliar a capacidade da comunidade do direito para levar
decisões mais íntegras.

Aqui, é uma coisa mais centrada no Estado. Reconhecimento de que o próprio Estado
participa de inúmeras construções de estrutura normativa e não raro entram em colisões e
precisam de instâncias de decisões que possam assimilar toda essa complexidade normativa.

Todo esse discurso das cinco teorias se distanciam muito do que o Brasil vem praticando
como processo decisório, tomando como exemplo o RE 4.666-343. São outras formas de
enxergar a própria dinâmica do funcionamento do direito, como uma forma completamente
distinta de observar as relações no plano internacional.

Importante pensar no ordenamento jurídico fora da pirâmide de Kelsen, porque o


ordenamento jurídico não tem uma forma; O nome “ordenamento jurídico” não explica o
fenômeno do direito, já que o direito é muito mais complexo. Ele é contingente, porque ele
vai ser decidido conforme cada caso, momento e colisão.

● Constitucionalismo multinível
● Teoria da relação heterárquica

Sujeitos do Direito Internacional

1. ASPECTOS GERAIS: Os destinatários sobre quem as normas internacionais


produzem a sua eficácia. Aqui a gente volta a restringir o discurso sobre o Direito
Internacional.

Temos os sujeitos originários, que são os Estado; os sujeitos derivados, que são as
organizações internacionais; sujeitos suis generis, que são as pessoas humanas. Mas, aqui
temos o contexto da complexidade do ambiente da sociedade mundial onde interagem
inúmeros atores que se conectam de maneira contingencial com o Direito Internacional. Ou
seja, existem atores na sociedade mundial que, mesmo não sendo sujeitos do Direito
Internacional, eventualmente se conectam com o Direito Internacional.

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Ex: Entidades desportivas - Quando se sujeitam ao CAS (Corte de Arbitragem Desportiva).
No Brasil, em 2015, a federação russa de atletismo ficou impedida de mandar seus atletas
para os jogos olímpicos do RJ - Decidida pela CAS.

Ex: Os grupos armados beligerantes que rivalizam com as estruturas de Estado, acabam
estando sujeito ao julgamento dos seus membros por um Tribunal Penal Internacional, criado
no âmbito do direito internacional. Porque o art. 8 do Estatuto de Roma do Tribunal Penal
Internacional fala sobre isso - Caso venha a cometer algum crime de guerra.

Isso ocorre porque o Direito Internacional, por sua dimensão desterritorializada ou, pelo
menos, globalizada, cria expectativas de comportamento que vão além daquelas criadas pelo
direito interno dos Estados, pois este vem impregnado pelo conceito de soberania. Então
entidades que não aceitariam se submeter aos direitos internos do Estado, por, de certa forma,
acabam correndo o risco de serem prejudicados devido à soberania. Enquanto o direito
internacional é desligado de premissas territorializadas e particulares de cada Estado.

O direito internacional, portanto, reflete um nível de consenso mais abrangente que o direito
interno. Tornando as entidades mais suscetíveis a observar o direito internacional do que
observar o direito interno dos Estados.

Considerando então, que nessa noção de aspectos gerais temos a noção de que temos autores
que interagem com o direito internacional, nós vamos falar dos Estados.

2. ESTADOS: Os Estados são considerados os sujeitos originários do direito


internacional porque o direito internacional emerge das relações entre eles. Ou seja,
pode-se dizer que há uma relação mais íntima entre o direito internacional e os
Estados, porque os Estados precisaram do direito internacional para se estabelecer. Os
Estados desenvolveram o Direito internacional como uma necessidade. E o direito
internacional surge a partir dessas relações. São sujeitos que naturalmente são
destinatários do direito internacional.
● ESTADO SOBERANO (próximo título)
3. ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS: Já no séc. XX, os Estados começam, por
meio do direito internacional, criar organizações internacionais. Então essas
organizações são derivadas do direito internacional, elas emergem e são fruto do D.I.
4. A PESSOA HUMANA COMO SUJEITO: A pessoa humana é um sujeito suis
generis. É um sujeito à parte do direito internacional. Sujeito atípico.

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Estado Soberano

1. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS: Povo, território, governo, soberania, poder, etc.

O que é povo? Povo, palavra coletiva de cidadãos (é a pessoa com vínculo com o Estado;
nacionais do Estado). Vínculo com o Estado. Natos e naturalizados (cidadão).

Cidadania e nacionalidade são a mesma coisa? Todo cidadão é nacional e todo nacional
é cidadão? Existe alguma pessoa que possa ser chamado de cidadão mas que não é
nacional? Um imigrante não nacional pode ser cidadão? Qual a diferença entre o
imigrante e o naturalizado? Relação de cidadania com direitos políticos. O naturalizado é
nacional? O art. 12 da Constituição reconhece dois tipos de nacionalidade: natos e
naturalizados. O parágrafo 3º do artigo 12 não permite que a lei diferencie o tratamento entre
os tipos, salvo nas hipóteses previstas na própria constituição. Temos que ter em mente que
nacionalidade e cidadania não são a mesma coisa. Todo nacional é cidadão, titular de direitos
políticos (não é uma questão de exercício), direito de participar do funcionamento do Estado.
Ex: Theo, de 6 anos, é cidadão brasileiro? Sim. Há pessoas que detém direitos políticos, a
exemplo do naturalizado. O imigrante pode ser estrangeiro ou naturalizado. O imigrante que
mora no Brasil é cidadão brasileiro? O imigrante pode escolher votar? Não, ele não conta
como cidadão. O estrangeiro residente, em princípio, não é cidadão.

Existe cidadão que não seja nacional? Sim. Quem são esses? Ver art. 12, parágrafo 1º, CF. Os
portugueses.

Povo é o conjunto dos cidadãos, que são aquelas pessoas que têm potencial para participar na
vida política do Estado. Logo, povo é um conceito restrito.

Esse conceito de cidadania, tão importante na Revolução Francesa, que foi um conceito de
inclusão, 200 anos depois se torna um conceito de exclusão. Aqueles que não são cidadãos
ficam excluídos da participação efetiva política de onde vive.

Sendo um conceito restrito, nós temos que dar maior amplitude à dimensão pessoal do
Estado, considerando também os não cidadãos como parte da dimensão do Estado.

Agora, o que é território? É a área a qual o Estado exerce sua soberania. O Estado exerce
sua soberania no mar territorial? Mar territorial é o mesmo que território? Integra o
território? Espaço aéreo integra o território? Qual a origem etimológica da palavra
território? Terra.

52
O regime jurídico do mar territorial é o mesmo do território? Território é um conceito restrito
relativo ao espaço circunscrito nas fronteiras do Estado.

Agora, todo Estado tem governo. Governo como poder institucionalizado que exerce
internamente a soberania e representa externamente o Estado. Todo Estado tem que ter um
governo. O reconhecimento do governo não se confunde com o reconhecimento do Estado.

Tomando esses três elementos: povo, território e governo. A Bahia é um Estado? Se eu uso
a expressão "Estado soberano” eu pressuponho a existência de um “Estado não soberano”? A
expressão “Estado soberano” é uma redundância?

A Bahia é um Estado não soberano, sujeito ao regime federativo brasileiro. Tem povo,
território, governo, ordem jurídica, tripartição de poderes etc. Não possui personalidade
internacional.

A soberania é uma qualidade do Estado que lhe coloca na condição de sujeito da ordem
internacional, por ser dotado de independência e autodeterminação. Por isso, o
reconhecimento do Estado é um ato declaratório da existência da soberania naquele Estado.

A soberania contemporânea está relacionada com o interesse em participar, ativamente, das


relações internacionais.

Todo Estado tem uma ordem jurídica.

2. DIMENSÃO PESSOAL DO ESTADO: O Estado é um conjunto de pessoas que


num dado momento está sujeito a sua soberania.

Ex: Imaginemos que um turista chinês, passando por Salvador, seja acusado em uma loja do
Pelourinho de ter furtado algo. E esse turista seja preso pela polícia e não lhe seja dado acesso
a advogado, não seja aberto processo a ele, habeas corpus negado, ou seja, uma prisão
arbitrária. Enfim, ela tenha seus direitos básicos negados e fique presa incomunicável sem
que a embaixada chinesa tome conhecimento dessa prisão. 6 meses depois ele foi solto por
não ter cometido ilícito. O sujeito pode entrar com uma reclamação perante a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos contra o Brasil por violar o Pacto São José da Costa
Rica?

Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal

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1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais.
2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas
condições previamente fixadas pelas Constituições políticas dos Estados-
partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas.
3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários.
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da detenção e
notificada, sem demora, da acusação ou das acusações formuladas contra
ela.
5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à
presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções
judiciais e tem o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em
liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser
condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.
6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou
tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade
de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura, se a prisão ou a detenção
forem ilegais. Nos Estados-partes cujas leis prevêem que toda pessoa que se
vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz
ou tribunal competente, a fim de que este decida sobre a legalidade de tal
ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser
interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa.
7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os
mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de
inadimplemento de obrigação alimentar.

Artigo 8º - Garantias judiciais


1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro
de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e
imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer
acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e
obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua
inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o
processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias
mínimas:

Todos esses direitos foram violados, sendo um Chinês de passagem turista no Brasil. Se ele
pode, o Brasil deve considerar esse Chinês parte da sua dimensão pessoal no momento que
ele se encontra no território nacional? O Brasil então deve recorrer a esses direitos? Sim.
Assim como o Chinês está sujeito ao direito brasileiro.

54
A dimensão pessoal do Estado deve considerar o conjunto das pessoas que em dado momento
se submetem à jurisdição nacional.

3. DIMENSÃO TERRITORIAL DO ESTADO: A dimensão territorial é mais ampla


que o território, pois se aplica ao mar, ao espaço aéreo, ao subsolo, etc. Ou seja, a
dimensão espacial do Estado inclui todo o território, mas também as áreas adjacentes,
ou não, a que o direito internacional atribui poderes de exercício da soberania. Áreas
não adjacentes: territórios ultramarinos. O território é um conceito restrito demais
para explicar a dimensão espacial do Estado.

55
4. EXTINÇÃO E SUCESSÃO DO ESTADO

Anotei isso solto… Não lembro de que parte era.

Racionalidade Transversal - identificada na comunicação proporcionada pelas constituições.


Entrelaçamentos e pelos pontos de transição decorrentes dos acoplamentos operacionais entre
o direito e os demais sistemas sociais da sociedade e entre as diversas ordens jurídicas
existentes.

"Sociedade Mundial, Transconstitucionalismo e Análise Eco-lógica do Direito", com Wálber


Carneiro (https://www.youtube.com/watch?v=5Wd9gXcq09w)

A análise ecológica do direito é uma observação ecológica do sistema jurídico em relação ao seu ambiente.
Isso não fica restrito tão somente ao direito ambiental, já que o direito ambiental está relacionado com o
sistema econômico e a relação do ecossistema.

A análise ecológica do direito parte de uma observação sistemática que toma como categoria primeira a
relação sistema-ambiente, mas por outro lado amplia a noção de ambiente para todas as formas de vida,
comunicação e organização. A relação com o direito ambiental vem como uma espécie de projeção.

Qual a relação entre essa noção de ambiente onde a comunicação se produz e a sociedade mundial? A
sociedade mundial se restringe a esse ambiente que se produz comunicação?

Menos e mais abrangente. A proposta da análise ecológica está relacionada ao déficit de outras formas de
observação. No que diz respeito a sociedade mundial, chama-se atenção ao déficit social da observação
teórica científica jurídica. Os teóricos do direito tendem a ter uma espécie de pressuposto societal, que faz e
produz uma série de equívocos. Ou seja, a noção de sociedade que está dada e pressuposta é uma noção
muito pobre. Em parte por um movimento quase natural do recorte epistêmico.

A economia seria mais uma capacidade de adaptação melhor a essa visão da própria sociedade do que o
direito e a filosofia?

A teoria econômica, não necessariamente. Mas a prática da economia sim, porque ela é estratégica. Na
economia ocorre a pressuposição da economização de toda a sociedade.

➔ Falar de uma sociedade moderna mundial é falar de uma sociedade que encontra seus limites
mundialmente e, portanto, suas fronteiras são fronteiras mundiais, mas internamente, quando
pensamos em termos espaciais, o objetivo do globo, há muita coisa no globo que não é a sociedade

56
moderna mundial (ex: indivíduos, sociedades tradicionais).
➔ A sociedade mundial constrói uma série de mecanismos para melhorar a sua capacidade de
observação ecológica/ambiental. Ex: Direitos humanos. Nessa perspectiva eles são a tentativa do
direito social da sociedade mundial moderna captar a desrazão (aquilo que seus programas jurídicos
não são capazes de observar).
➔ A sociedade moderna mundial observa bem o fenômeno do desempregado. Ela seria capaz de, em
função do sistema econômico capitalista, produzir uma organização mundial do trabalho.
Desempregados são para a sociedade empregados que ainda não estão dentro. O problema é quando
a sociedade mundial não encontra como traduzir ou processar a desrazão de não ser nem
trabalhador nem desempregado.
➔ Os direitos humanos são esponjas (meios de comunicação) que captam as desrazões do ambiente.
➔ Isso mostra uma capacidade de expansão para fora do que não era incluído ser incluído.
➔ Uma das características da comunicação ecológica é um código secundário científico.
➔ Uma das características da sociedade mundial é a ideia de um lugar especial para o conhecimento
científico.
➔ Racionalidade transversal do transconstitucionalismo de Marcelo Neves. Como a racionalidade
transversal contribui para essa análise ecológica do direito e quais os limites que ela apresenta?
Como a análise ecológica do direito pode contribuir para esse avanço de observação?

O transconstitucionalismo é em alguma medida mais restrito, é um fenômeno de ressonância ecológica, de


sistemas jurídicos diferenciados da sociedade mundial. A sociedade moderna se mundializa em função de
alguns fatores, e um desses fatores é que ela se reproduz a partir de sistemas funcionais que se
mundializaram (economia, direito, política). Mais uma vez vem o problema do jurista, porque o jurista só
consegue enxergar o direito a partir de uma noção de sociedade ligado à cultura ou ao Estado.

Essa diferenciação de sistemas jurídicos, de ordem jurídicas autonômas, não significa que elas estejam
isoladas e que elas se relacionem com outras ordens autônomas a partir do seu bel-prazer. Todas essas
ordens jurídicas autônomas decorrem de uma diferenciação funcional de um sistema jurídico da sociedade
mundial moderna, pois todas operam sob o mesmo código.

➔ Is international law international? - O direito internacional é mesmo internacional? Porque cada


Estado tem seu direito internacional a partir do que ele quer interpretar do direito internacional.
➔ A convenção africana de direito humanos e dos povos, ao incluir os povos na opção não
convencional sobre direitos humanos, não é que ele dá uma subjetividade ao povo, mas uma
singularidade que não é percebida aos povos.

Dimensão pessoal do Estado

A dimensão pessoal do Estado envolve todas as pessoas que, em um determinado momento


da história, estejam submetidas à jurisdição soberana do Estado. O que quer dizer que tanto
nacionais quanto estrangeiros integram o complexo da dimensão pessoal do Estado. Há graus

57
de proximidade e vínculo entre as pessoas e os Estados, os nacionais possuem mais vínculo
do que um estrangeiro imigrante, e um imigrante com residência fixa tem mais vínculo que o
turista Mas todas as pessoas que têm deveres em relação ao Estado integram a dimensão
pessoal do Estado.

1. NACIONALIDADE - Essa ideia surge como uma substituição dos títulos de


nobreza comuns na Idade Média. A nacionalidade é como se fosse a “diferenciação”
com base na lógica inclusão/exclusão da modernidade.

Enquanto os títulos de nobreza geram a inclusão dos nobres na sociedade, a modernidade


com a prevalência da organização dos Estados, a ideia de nacionalidade vem substituir esses
títulos de nobreza como critério de diferenciação social entre incluídos e excluídos. Como o
vínculo com o Estado passa a ser a grande vantagem na modernidade, então a nacionalidade
aparece como uma diferenciação entre os incluídos e os excluídos. Isso vem com um
amálgama que é a noção de que a nacionalidade é o fundamento da cidadania. E a cidadania é
o direito de participar da vida política do Estado.

Se remontarmos ao passado e formos procurar a origem da noção de nacionalidade, vamos


ver que essa noção é relativamente recente. Antes dessa noção tinha um uma noção de
pertencimento da família (direito romano), na Idade Média isso se perde, e na Idade Média
não há as denominações ligada ao Estado, então a pessoa era designada como parte de uma
determinada cultura, ou era designado pela cidade de onde vinha. Então, essa ideia de
nacionalidade não é presente na Idade Média, tanto é que os primeiros estados surgem com a
designação de Estado-nação, como se o Estado fosse a representação de uma nação. Essa
noção de Estado-nação vai ficando para trás no tempo, porque o Estado se estabelece para
além dos interesses das nações de pessoas.Institui-se a ideia de nacionalidade.

É porque os estados surgiram representando nações, que mais tarde vão utilizar a expressão
nacionalidade. Não é que as pessoas que detém a mesma nacionalidade sejam da mesma
nação, no sentido antropológico. A ideia de nação é ligada a traços culturais e
comportamentais e num Estado há inúmeras nações. Ex: Espanha. A nacionalidade é
designativa da relação do vínculo político jurídico do Estado com objetivo de conferir aos
nacionais a cidadania.

Toda medida de inclusão que se baseia na comunicação e na etiquetação vai gerar uma
consequência que importa na exclusão.D Durante a Revolução Francesa esse conceito de

58
nacionalidade se tornou forte, visto como a marca de inclusão. Ou seja, quanto mais pessoas
nos podermos incluir no conceito de cidadão, maior a inclusão. A humanidade passou a usar
a ideia de cidadania como conceito de inclusão e o desafio passou a ser uma inclusão
generalizada pela amplificação do alcance do conceito de cidadania. Só existe cidadania
porque não existe cidadãos. Se não houvesse não cidadãos, não haveria sentido trabalhar com
a noção de cidadania. Em regra, a cidadania exclui os estrangeiros. Com essa exclusão, a
lógica da inclusão/exclusão da modernidade é nacional/estrangeiro. O que leva, no século
XIX, a inúmeros movimentos nacionalistas que culminam na primeira guerra mundial. A
ideia da nacionalidade se torna uma espécie de muro/cercas que separam quintais, que visam
proteger os seus. Ex: Olimpíadas, Copa do Mundo. Esse processo se introjeta na nossa
cultura moderna. Isso vai trazer profundos problemas com as migrações de pessoas no
mundo.

Nacionalidade brasileiro (art. 12, CF)

I - Natos:

a) Nascidos no território nacional, exceto os filhos de representantes de Estados


estrangeiros (jus soli)
b) Filhos de representante do Brasil nascidos no exterior (jus sanguinis, por exceção)
c) Todos os nascidos no exterior, filho ou filha de mãe ou pai brasileiro, desde que
registrados em Consulado, ou após a maioridade, optarem pela nacionalidade
brasileira (jus sanguinis).

II - Naturalizados: São aqueles estrangeiros que, preenchidas as condições legais, requerem a


nacionalidade em caráter derivado. Em regra geral, o tempo mínimo de residência é de 4
anos. Os que, na forma da lei:

a) Na lei de migrações (Lei 13.445/2017) estabelece que com 4 anos residindo no Brasil
e preenchendo outros requisitos básicos, a pessoa poderá requerer a nacionalidade
brasileira. Mas esse prazo pode ser menor.

Art. 65. Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as seguintes
condições:
I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;
II - ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de 4 (quatro)
anos;

59
III - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do
naturalizando; e
IV - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.

Art. 66. O prazo de residência fixado no inciso II do caput do art. 65 será reduzido
para, no mínimo, 1 (um) ano se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes
condições:
I - (VETADO);
II - ter filho brasileiro;
III - ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não estar dele separado
legalmente ou de fato no momento de concessão da naturalização;
IV - (VETADO);
V - haver prestado ou poder prestar serviço relevante ao Brasil; ou
VI - recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou artística.
Parágrafo único. O preenchimento das condições previstas nos incisos V e VI do
caput será avaliado na forma disposta em regulamento.
Art. 67. A naturalização extraordinária será concedida a pessoa de qualquer
nacionalidade fixada no Brasil há mais de 15 (quinze) anos ininterruptos e sem
condenação penal, desde que requeira a nacionalidade brasileira.
b) A exigência de 15 anos do CF, é especial. Pois não requer nada além do que está ali.

A nacionalidade pode ser perdida (Art. 12, parágrafo 4º)

a) O Inciso I só se aplica ao naturalizado.


b) O inciso II se aplica tanto ao nato quanto ao naturalizado. Vários países do mundo
adotam o jus sanguinis. Às nacionalidade originárias adquiridas por hereditária não
se enquadra no art 12, para. 4º, II, b. A nacionalidade é perdida quando se dá pela
naturalização (ex: brasileiros que se casam nos EUA - gerando a renúncia da
nacionalidade brasileira). Naturalização de jogadores de futebol - enquadra na alínea
b, já que houve uma imposição de naturalização.

A constituição foi muito rigorosa com a aquisição de outra nacionalidade e esse regime,
adotado no Brasil, deixa de observar situações que fossem mais complexas. Ex: Brasileiro
com dupla nacionalidade em caráter originário, pode na outra nacionalidade ser convocada
para o exercício e não há uma previsão legal de perda de nacionalidade por ser convocado
para o exercito militar de outro país.

60
2. CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO

É matéria do direito interno de cada Estado. Então, cada Estado tem liberdade para disciplinar
um regime jurídico que será aplicável aos estrangeiros. Ex: Visto. Regras que devem ser
estabelecidas em conformidade com o direito interno de cada Estado.

O direito internacional, ao mesmo tempo que cria a figura do estrangeiro ao reconhecer a


noção de naturalidade, reconhece também a figura do estrangeiro. Surge um problema que
passa a ser tratado pelo Direito Internacional. Como o direito internacional cria o problema
da figura do estrangeiro e depois vai estabelecer uma série de normas que visa minimizar os
problemas criados.

As migrações se tornam um problema na medida em que se ressalta a nacionalidade como


elemento da soberania dos Estados. A partir do momento que o Estado pode decidir quem são
seus nacionais, a escolha dos migrantes fica mais limitada, e as fronteiras se tornam menos
porosas à circulação humana, gerando o problema da entrada e saída de pessoas.

Apátrida - Não possui nenhuma nacionalidade.Refugiados, asilados, migrantes ilegais,


deslocados forçados, etc. Todos esses são termos que vão sendo criados que são
consequência da observação de um contexto jurídico adverso em decorrência do direito
internacional que reconhece a figura da nacionalidade como elemento de soberania dos
Estados.

Thiago Moreira - Direitos internacional do migrantes


https://www.youtube.com/watch?v=0QXQSNodmuw

Até a nossa própria Legislação que mudou a perspectiva do estrageiro para o imigrante, como até as
expressões são relevantes e tem um sentido importante.

GOVERNANÇA DAS MIGRAÇÕES


Tem o papel do direito internacional com o sistema global (ONU, OIT, OIM), regionais, direito
transnacional (OMC, NAFTA, OCDE), direito estatal e direito “comunitário” (União Europeia, Mercosul,
Comunidade Andina).

TUTELA GLOBAL DOS DH DOS MIGRANTES


1. A tutela geral enquanto pessoa:
A) Proteção normativa - Antes do indivíduo ser imigrante ele é um indivíduo. Então ele não

61
perde a condição de pessoa. Declaração universal dos direitos humanos (art. 13, 14 da
DUDH). Do ponto de vista positivo, não há um direito humano a migrar.
Art. 13 - A norma não fala em fixar residência no interior de qualquer estado. A norma quer evitar a
possibilidade de uma pessoa ficar sem ter onde fixar, e não abrir a possibilidade de onde quer se fixar. Os
Estados devem ser acolhidos por outros Estados em casos de perseguição, por exemplo. Isso não quer
dizer que onde a pessoa quer se fixar.
Paradoxo: O direito internacional cria a situação de refugiados e imigrantes ao estabelecer a proteção de
fronteira, mas tem que regulamentar as pessoas que estão em situações vulneráveis que o mesmo direito
internacional criou.
Ex: Cuba é um Estado que tinha uma política de restrição à migração, depois que a pessoa saia do Estado
cubano tinha dificuldade de retornar. Política de restrição à circulação dos cubanos.
Art. 14 - asilo = refúgio. Direito ao refúgio. O refúgio tem condições específicas e há
direitos humanos para isso. O fechamento da fronteira do Brasil no momento de pandemia
viola o art. 14, 2º, porque todo indivíduo tem direito de buscar asilo.
2. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e políticos de 1966
➔ Direitos à livre circulação;
➔ Direito a imigrar;
➔ Direito de não ser expulso de forma arbitrária;
➔ Direitos que dependem da regularidade migratória;
➔ Não inclui o direito de buscar asilo;
O ser humano nunca é ilegal. É inerente à condição humana ter direitos. Não cabe mais o uso de “imigrantes
ilegais”. Não são indivíduos que são ilegais mas é a situação que não é regular ou irregular.

ARTIGO 12

1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Estado terá o direito de nele livremente circular
e escolher sua residência.
2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive de seu próprio país.
3. os direitos supracitados não poderão em lei e no intuito de restrições, a menos que estejam previstas em
lei e no intuito de proteger a segurança nacional e a ordem, a saúde ou a moral pública, bem como os
direitos e liberdades das demais pessoas, e que sejam compatíveis com os outros direitos reconhecidos no
presente Pacto.
4. Ninguém poderá ser privado arbitrariamente do direito de entrar em seu próprio país.

Há mais imigrantes ou emigrantes? O BR já recebeu pessoas de mais de 80 nacionalidades. Embora 3.2%


da população brasileira seja imigrante, esse saldo é negativo. Há mais brasileiros lá fora do que aqui no
Brasil.

ARTIGO 13

Um estrangeiro que se ache legalmente no território de um Estado Parte do presente Pacto só poderá dele
ser expulso em decorrência de decisão adotada em conformidade com a lei e, a menos que razões
imperativas de segurança nacional a isso se opunham, terá a possibilidade de expor as razões que militem
contra sua expulsão e de ter seu caso reexaminado pelas autoridades competentes, ou por uma ou várias
pessoas especialmente designadas pelas referidas autoridades, e de fazer-se representar com esse objetivo.

3. Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966

ARTIGO 2º

62
2. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a garantir que os direitos nele enunciados
e exercerão em discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião
política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou
qualquer outra situação.
3. Os países em desenvolvimento, levando devidamente em consideração os direitos humanos e a
situação econômica nacional, poderão determinar em que garantirão os direitos econômicos
reconhecidos no presente Pacto àqueles que não sejam seus nacionais.

➔ Poibição de discriminação com relação à origem;


➔ Permite a exclusão aos estrangeiros do acesso a determinados direitos;
➔ Relativizaão do princípio da não discriminação.

4. Convenção Internacional para a eliminação de todas as formas de discriminação racional

Artigo I

1. Nesta Convenção, a expressão “discriminação racial” significará qualquer distinção, exclusão


restrição ou preferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou etnica que tem
por objetivo ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano,
( em igualdade de condição), de direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político
econômico, social, cultural ou em qualquer outro dominio de vida pública.
2. Esta Convenção não se aplica às distinções, exclusões, restrições e preferências feitas por um
Estado Parte nesta Convenção entre cidadãos e não cidadãos.

➔ Veda a discriminação baseada em origem nacional;


➔ A Convenção não se aplica às distinções, exclusões, restrições e preferências feitas por um
Estado entre cidadãos e não cidadãos;
➔ O Estado pode limitar os direitos dos estrangeiros.

5. Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra o Desaparecimento


Forçado

Artigo 16

1. Nenhum Estado Parte expulsará, devolverá, entregará ou extraditará uma pessoa a outro Estado
onde haja razões fundadas para crer que a pessoa correria o risco de ser vítima de desaparecimento
forçado.

2. Para fins de determinar se essas razões existem, as autoridades competentes levarão em conta
todas as considerações pertinentes, inclusive, se couber, a existência no Estado em questão de um
padrão de violações sistemáticas, graves, flagrantes e maciças dos direitos humanos ou graves
violações do direito internacional humanitário.

➔ Proíbe que os Estados expulsem, devolvam, afastem ou extraditem um indivíduo para outro
Estado onde corra risco de ser sujeito a desaparecimento forçado.

6. Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes,


de 2002

ARTIGO 3º
1. Nenhum Estado Parte procederá à expulsão, devolução ou extradição de uma pessoa para outro

63
Estado quando houver razões substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali ser submetida
a tortura.
2. A fim de determinar a existência de tais razões, as autoridades competentes levarão em conta
todas as considerações pertinentes, inclusive, quando for o caso, a existência, no Estado em questão,
de um quadro de violações sistemáticas, graves e maciças de direitos humanos.

➔ Veda que os Estados procedam à expulsão, devolução ou extradição de estrangeiros para


Estados quando houver fundadas razões para crer que o não nacional corre perigo de ser
submetido à tortura, ainda que a condição de refugiado não tenha sido reconhecida.

7. Convenção sobre os direitos da criança


ARTIGO 9
Os Estados Partes devem garantir que a criança não seja separada dos pais contra a vontade dos
mesmos, salvo quando tal separação seja necessária tendo em vista o melhor interesse da criança, e
mediante determinação das autoridades competentes, sujeita a revisão judicial, e em conformidade
com a lei e os procedimentos legais cabíveis. Tal determinação pode ser necessária em casos
específicos – por exemplo, quando a criança sofre maus-tratos ou negligência por parte dos pais, ou,
no caso de separação dos pais, quando uma decisão deve ser tomada com relação ao local de
residência da criança.

ARTIGO 10
De acordo com obrigação dos Estados Partes estipulada no parágrafo 1 do artigo 9, toda
solicitação apresentada por uma criança ou por seus pais para ingressar em um Estado Parte ou
sair dele, visando à reintegração da família, deverá ser atendida pelos Estados Partes de forma
positiva, humanitária e ágil. Os Estados Partes devem assegurar também que a apresentação de tal
solicitação não acarrete consequências adversas para os requerentes ou seus familiares.

➔ Garantem o direito à reunião familiar, não só para as crianças, mas também para os próprios
pais.

ATUAÇÃO DOS ÓRGÃOS DE MONITORAMENTO


● Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas;
● Comitê de Direitos Econômicos, sociais e culturais;
● Comitê para a Eliminação da discriminação contra as mulheres;
● Comitê para a Eliminação da discrimanação racial;
● Comitê contra tortura;
● Comitê dos Direitos da Criança;
● Comitê para a Proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas
Famílias.

TUTELA ESPECÍFICA ENQUANTO MIGRANTE INTERNACIONAL


a) Refugiados
b) Apátridas
c) Trabalhadores migrantes (OIT e ONU)
d) Vítimas de Tráfico de Pessoas

A) REFUGIADOS
● Diferença entre asilo e refúgio;
● O asilo é genêro;
● Uma de suas espécies é justamente o refúgio;

64
● Os institutos em tela possuem a mesma natureza e as normas internacionais que tratam do asilo, em
regra, também se aplicam aos casos de refugiados.

Por exemplo, o caso do filme dos espiões que foram pedir asilo nos EUA.

● Após o impulso à temática dos refugiados que foi dado pela DUDH, eis que, em 1951, por meio da
Conferência de Plenipotenciários sobre o Estatuto dos Refugiados e dos Apátridas, foi aprovada a
Convenção de Genebra sobre o Estatuto dos Refugiados.
● Trata-se do primeiro instrumento internacional que abordou a condição genérica dos refugiados,
seus direitos e deveres, já que as normas internacionais antecedentes, em regra, eram aplicáveis a
grupos específicos de refugiados;
● Um dos primeiros instrumentos jurídicos a intervir de modo direto na soberania dos Estados em
relação ao ingresso de estrangeiros.
● Único texto convencional de alcance global e em vigor que define o que vem a ser um refugiado;
● Conceito fundado em cinco elementos ou motivos principais:
I - O fato de que o indivíduo se encontra fora do seu país de origem ou de habitual
residência;
II - A perseguição motivada por raça, religião, nacionalidade, opinião política ou grupo
social;
III - A necessidade de proteção;
IV - Além do merecimento dessa proteção.
● Encontra-se superada a visão de que somente o Estado pode ser o “perseguidor”. Já se admite
agentes não estatais, como beligerantes, insurgentes, grupos terroristas, por exemplo, também
podem ensejar um temor de perseguição;
● A Convenção em tela, inicialmente, estabeleceu dois critérios restritivos. O primeiro deles é a
chamada “cláusula temporal”. Em razão dessa norma, a Convenção somente será aplicável aos
fluxos de refugiados anteriores à sua entrada em vigor;
● A segunda foi o “limite geográfico”, que determinava a aplicação da Convenção somente para os
refugiados provenientes dos países europeus;
● Tais restrições foram suprimidas pelo Protocolo Adicional à Convenção sobre refugiados em 1967;
● É indiscutível que o refúgio tem natureza temporária, pois a manutenção da condição de refugiado
vincula-se a subsistência dos motivos que ensejaram o reconhecimento;
● Convenção de 1951 não avançou ao ponto de obrigar os Estados contratantes a conceder refúgio;
● Proibiu a devolução e a expulsão a um país onde o indivíduo possa continuar sofrendo perseguição;
● Positivou o princípio do non-refoulement ou não rechaço, que adquiriu o status de normas de jus
cogens, o que limita a discricionariedade do Estado em matéria de aplicação das medidas de retirada
compulsória;
● Não criou um órgão específico para interpretar e controlar a devida aplicação de suas normas;
● Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados, em 1967, que suprimiu as limitações temporais e
geográficas.
● A Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, juntamente com seu Protocolo Relativo ao
Estatuto dos Refugiados formam o que se costuma denominar de Magna Carta do Direito
Internacional dos Refugiados;
● Processo de regionalização das normas sobre refúgio;
● Em 1969, foi aprovada a Convenção sobre Aspectos Específicos dos Refugiados da África, no
âmbito da outrora denominada Organização para Unidade Africana (OUA);
● Amplia as hipóteses de reconhecimento da condição de refugiado previstas na Convenção de 1951;
● Também se reconhece como refugiado o indivíduo que foi obrigado a sair de seu país em virtude do
quadro grave e generalizada violação aos direitos humanos.

65
● Não se exige o fundado receio de perseguição como elemento essencial para concessão do refúgio.

B) APÁTRIDAS
● O ACNUR estima que há cerca de 10 milhões de pessoas sem nacionalidade.
● É possível identificar a presença de apátridas em território brasileiro, sendo que a grande maioria
encontra-se na condição de imigrantes;
● Os apátridas, como lamentável regra, não possuem acesso aos serviços públicos de saúde e
educação, são impedidos de exercerem o direito de propriedade, bem como até mesmo de se
deslocarem, pois muitas vezes não se encontram munidos com documentos essenciais, como é o
caso do passaporte;
● Há, infelizmente, uma clara relação entre apátrida e discriminação.
● O apátrida pode decorrer de diversas causas. Em apertada síntese, as principais são: sucessão estatal,
transferência de território, privação de nacionalidade, legislação matrimonial, falta de registro de
nascimento, práticas administrativas discriminatórias, conflito de leis sobre aquisição ou renúncia da
nacionalidade, pela perda automática da nacionalidade, tráfico de pessoas e migração internacional
irregular.

C) TRABALHADORES MIGRANTES (OIT E ONU)

D) VÍTIMAS DE TRÁFICO DE PESSOAS

VÍDEO: Tratados e o direito interno


https://www.youtube.com/watch?v=V0bTJyiS_Qw

A nova ordem constitucional de 88 ter advindo com grandes mudanças no texto constitucional sobre as
relações internacionais e tratados internacionais e ter encontrado vigente no sistema um precedente que
remonta ao de de 1967, um precedente do RE 80.004 que igualou os tratados e as leis ordinárias,
colocando as duas fontes normativas no mesmo patamar hierárquico. Pós 88 as coisas continuaram
assim. O STF não enfrentou essa questão, mas manteve, apesar da mudança significativa que a CF/88
trouxe. Lá nesse precedente a gente encontra que a então competência do STF para julgar REsp no caso
do tribunal estadual da época decidir em torno da negativa de vigência ou da aplicação de lei ordinária
ou de tratado internacional. Como esses dois institutos estavam no mesmo dispositivo, o STF entendeu que
eles estariam na mesma hierarquia. Esse precedente se consolidou na jurisprudência do Supremo e
permaneceu. Como esse estado de coisas se coloca?

Nunca houve um constitucionalista que entendesse de Direito Internacional. A grande realidade é que
temos um STF frágil em relação ao conhecimento. São de fato os 11 homens e mulheres mais preparados
para lidarem com assuntos constitucionais? No Brasil virou lugar comum a crítica ao positivismo jurídico.
Esse é um exemplo clássico da interpretação literal que desconsidera qualquer perspectiva sistemática da
Constituição.
O STF senta num conceito de soberania, e nesse conceito de não admitir interferências externas, ele faz
uma interpretação literal (art. 105, III, a, CF/88, e nessa interpretação o STF acha que tratados e leis estão
no mesmo patamar.
A CF/88 deixa o art. 105 lá, mas abre um ponto interessante no art. 5, para. 2º. Nesse artigo não fala de
tratado de direitos humanos, mas sim de tratados internacionais. Não restringindo aos direitos humanos. O
Brasil, embora fizesse parte desses tratados, não ratificou por conta do regime militar. Havia uma intenção
do constituinte de que esse tratado fosse inserido no contexto do texto constitucional. Esse contexto é

66
importante para mostrar a importância desse dispositivo.

Art. 5, p. 2º - É a verdadeira cláusula de abertura de direitos fundamentais. Reconhecer direitos


fundamentais para além do rol normativo.
Com a ratificação do Pacto São José começam as discussões relativas ao depositário infiel.
Tratados para o STF é totalmente diferente para o mundo, embora seja uma fonte normativa do direito
internacional. O STF criou uma “nova categoria” na pirâmide e criou as normas supralegais.

Esse julgamento do Supremo é histórico, no sentido dele proferir uma decisão louca. A própria decisão é
contraditória. A Emenda 45, quando define a inserção do parágrafo 3, art. 5º é péssima. A questão chega ao
STF e cria uma ideia de supralegalidade. Contradição? Súmula vinculante 25 - é inconstitucional e não
ilícita a prisão de depositário infiel

A supralegalidade deveria ser: o que está abaixo disso fosse invalido, mas aí vem o supremo e diz que
seria somente eficaz. Como pode ser supra e não considerar inválido? É uma inserção torta. Deixa de ser
uma pirâmide. Não se sustenta nem do ponto de vista formal. Eficácia paralisante.

Em uma dpf o Supremo julgou a constitucionalidade da Lei de Anistia, entrando em colisão com a corte
interamericana de direitos humanos, e a corte decidiu que a aplicação da lei no Brasil viola o Pacto São
José. Parece que vários juízes resolveram dizer que por ser constitucional ela deve continuar sendo
aplicada. A corte interamericana tratou das consequências da Lei de Anistia e do Pacto São José. A corte
diz que a aplicação desta lei viola o pacto, o que deveria ser um comando. Se a ideia de paralisação da
eficácia tivesse algum sentido, esse seria o caso. O STF não aplica. O próprio STF não aplica o seu
próprio precedente.

Quando aqui se trabalha com direito internacional, no Brasil. É como se o direito internacional das cortes
não tivesse que dialogar com aqui. Nesse sentido, até Kelsen já teria quebrado essa lógica. Marcelo Neves -
Transconstitucionalismo impõe a necessidade de se estabelecer canais de diálogos entre sistemas. O nosso
direito constitucional é obrigado a dialogar com a corte (permitindo que o nosso sistema tenha a autonomia
preservada). Não há uma comunicação estabelecida entre esses sistemas. Art. 4, CF/88.

A ideia de hierarquização gera esse bloqueio de comunicação. Ex: Candidatura de Lula - combatida pela
lei da Ficha Limpa e entrou em colisão com o tratado internacional dos direitos humanos, pela
jurisprudência do supremo, norma supralegal, que deveria ter uma eficácia paralisante sobre todas as
normas abaixo dela, o que seria o caso da ficha limpa. Aí o comitê da ONU dá um parecer favorável e o
ministro do TSE dá um voto dizendo que nós temos que trazer uma teoria que não era muito abraçada
pelo Brasil, da margem de apreciação no momento da aplicação do direito internacional. A decisão deu a
prioridade a uma lei do que um tratado.

As candidaturas avulsas são possíveis? Art. 23, Pacto. O direito brasileiro, no art. 14, CF/88. A limitação
da CF/88 não está nas limitações do Pacto. Viola o Pacto? O STF pode autorizar candidaturas avulsas?

Do ponto de vista da construção do diálogo e do direito internacional. Isso seria muito importante nesse
momento como uma atuação estratégica: nós temos um modelo político partidário falido. Nesse momento,
isso seria para usar o d.i. como forma de constrangimento no diálogo.

67
Condição jurídica do estrangeiro

É objeto de regulação pelo direito interno de cada Estado. O Estado deve estabelecer em lei
as condições jurídicas de entrada e permanência de estrangeiros em seu território. Já que, em
regra, o Estado não é obrigado a receber estrangeiros em seu território. Essa regra comporta
exceções decorrentes do direito internacional, como no caso dos refugiados.

Quando eu digo que o Estado deve estabelecer essas condições jurídicas, estou me referindo a
qual instituto? O visto. O visto cria uma expectativa de direito. A condição jurídica do
estrangeiro é estabelecida no seu visto. Lei nº 13.445.

Art. 12. Ao solicitante que pretenda ingressar ou permanecer em território nacional poderá
ser concedido visto:

I - de visita;

II - temporário;

III - diplomático;

IV - oficial;

V - de cortesia.

Art. 13. O visto de visita poderá ser concedido ao visitante que venha ao Brasil para estada
de curta duração, sem intenção de estabelecer residência, nos seguintes casos:

I - turismo;

II - negócios;

III - trânsito;

IV - atividades artísticas ou desportivas; e

V - outras hipóteses definidas em regulamento.

Art. 14. O visto temporário poderá ser concedido ao imigrante que venha ao Brasil com o
intuito de estabelecer residência por tempo determinado e que se enquadre em pelo menos
uma das seguintes hipóteses:

I - o visto temporário tenha como finalidade:

a) pesquisa, ensino ou extensão acadêmica;

b) tratamento de saúde;

c) acolhida humanitária;

d) estudo;

68
e) trabalho;

f) férias-trabalho;

g) prática de atividade religiosa ou serviço voluntário;

h) realização de investimento ou de atividade com relevância econômica, social, científica,


tecnológica ou cultural;

i) reunião familiar;

j) atividades artísticas ou desportivas com contrato por prazo determinado; (Caso do


jogador de futebol)

Art. 15. Os vistos diplomático, oficial e de cortesia serão concedidos, prorrogados ou


dispensados na forma desta Lei e de regulamento.

Parágrafo único. Os vistos diplomático e oficial poderão ser transformados em autorização


de residência, o que importará a cessação de todas as prerrogativas, privilégios e
imunidades decorrentes do respectivo visto.

Art. 16. Os vistos diplomático e oficial poderão ser concedidos a autoridades e funcionários
estrangeiros que viajem ao Brasil em missão oficial de caráter transitório ou permanente,
representando Estado estrangeiro ou organismo internacional reconhecido.

§ 1º Não se aplica ao titular dos vistos referidos no caput o disposto na legislação trabalhista
brasileira.

§ 2º Os vistos diplomático e oficial poderão ser estendidos aos dependentes das autoridades
referidas no caput .

Art. 17. O titular de visto diplomático ou oficial somente poderá ser remunerado por Estado
estrangeiro ou organismo internacional, ressalvado o disposto em tratado que contenha
cláusula específica sobre o assunto.

Parágrafo único. O dependente de titular de visto diplomático ou oficial poderá exercer


atividade remunerada no Brasil, sob o amparo da legislação trabalhista brasileira, desde
que seja nacional de país que assegure reciprocidade de tratamento ao nacional brasileiro,
por comunicação diplomática.

Art. 18. O empregado particular titular de visto de cortesia somente poderá exercer atividade
remunerada para o titular de visto diplomático, oficial ou de cortesia ao qual esteja
vinculado, sob o amparo da legislação trabalhista brasileira.

Parágrafo único. O titular de visto diplomático, oficial ou de cortesia será responsável pela
saída de seu empregado do território nacional.

A depender do visto que a pessoa detenha, isso vai estabelecer os limites de atuação do
estrangeiro no Brasil. Ou seja, se a pessoa está com visto de turismo, ele não pode trabalhar
(remunerado), pois extrapola os limites do visto.

69
Regra geral das relações internacionais:

Art. 6º O visto é o documento que dá a seu titular expectativa de ingresso em território


nacional.

Por exemplo, para ir para os EUA, é preciso ir ao consulado e passar por todo aquele
processo. Mas quando você pega o voo e chega nos EUA com seu visto, você vai no galpão
da migração e o oficial vai fazer algumas perguntas. E essas perguntas são uma entrevista
decisiva para sua autorização de entrada. O fato de você portar o visto não te dá o direito de
entrar no território Norte-Americano. O visto é um componente necessário e imprescindível
para que você entre, visto que nenhum Estado é obrigado a permitir entrada de estrangeiros.

Em virtude de acordos internacionais, vários Estados acabam dispensando que seja concedido
o visto. Não é correto dizer que o brasileiro não precisa de visto para entrar na zona que
envolve a maior parte dos países europeus. Na hora que você chega lá, você apresenta o
passaporte e ele faz algumas perguntas e ao final, ele dá um carimbo no passaporte
estabelecendo os dias que você vai ficar e há um código que lhe autoriza a permanência
naquele território. O que fica dispensado é que você não precisa tirar o visto antes, mas sim
ao entrar.

No caso do Mercosul também é dispensado o visto. Além da pessoa circular, ela pode exercer
determinadas atividades, como trabalho. Como o que acontece entre os países europeus. Essa
livre circulação de pessoas é uma das características dos blocos econômicos mais avançados.
No caso do Mercosul não é uma expectativa de direito, mas sim um direito. Porque aqui eles
tem direito de entrar um no território do outro. A pessoa não pode ser proibida de entrar. O
Estado pode estabelecer limites. O visto não é um elemento necessário. Pode ser sim barrada
a entrada, mas essa proibição não pode ser pelo fato de não ter visto ou algum documento de
viagem, pois o passaporte é dispensável.

Impedimento de entrada

A imprensa, muitas vezes, comete o equívoco e confunde o impedimento de entrada com a


deportação. O estrangeiro que não entrou no território não está sujeito a deportação, expulsão
ou cooperação internacional. Esse impedimento acontece antes da entrada do estrangeiro no
território nacional.

70
Art. 49. A repatriação consiste em medida administrativa de devolução de pessoa em
situação de impedimento ao país de procedência ou de nacionalidade.

A pessoa portanto é repatriada pois não lhe foi autorizado entrar, seja porque ela não detém o
visto, seja porque ela não não apresentou as outras condições legais para ingressar no
território nacional.

O Brasil tem um número considerável de pessoas que anualmente são impedidas de entrar
nos EUA e na Europa. O sujeito foi a outro país, por exemplo, com propósito de praticar atos
que não estão de acordo com a sua estadia.

A retirada compulsória do estrangeiro do território nacional

1. Deportação: É uma medida leve. Medida administrativa pela qual um estrangeiro


pode ser retirado do território nacional porque a sua situação migratória está irregular.
Ela pode estar irregular por duas questões: 1) Entrou ilegalmente no território
nacional (clandestino); 2) Sua situação se tornou irregular no território nacional.

Não é possível confundir a deportação com a proibição de entrada, porque aqui o sujeito já
está no território nacional.

Art. 50. A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na


retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em
território nacional.

§ 1º A deportação será precedida de notificação pessoal ao deportando, da qual constem,


expressamente, as irregularidades verificadas e prazo para a regularização não inferior a 60
(sessenta) dias, podendo ser prorrogado, por igual período, por despacho fundamentado e
mediante compromisso de a pessoa manter atualizadas suas informações domiciliares.

Se o sujeito deportando, é flagrado em situação de irregularidade, for notificado, ele pode


regularizar sua situação dentro do prazo estabelecido, evitando a deportação, ou ele pode
fazer uma saída voluntária (para. 5º). Então, ele pode sair voluntariamente, concretizando o
ato de deportação, sendo que, em qualquer caso, o procedimento administrativo deve
respeitar o contraditório e ampla defesa (art. 51).

A deportação, em princípio, não deixa sequelas, podendo o deportado retornar ao país após a
regularização de sua situação. O que pode acontecer é de o deportanto ser multado por trazer
dificuldades para a deportação (ex: não manter endereço fixo). Assim como terá que ressarcir
o tesouro nacional pelas despesas com a deportação.

71
É importante dizer que:

Art. 53. Não se procederá à deportação se a medida configurar extradição não admitida pela
legislação brasileira.

A doutrina chama isso de “extradição dissimulada”. Quando formos estudar extradição, isso
vai ficar mais claro. A lei proíbe que a extradição seja praticada em certas ocasiões. Ex: Se a
lei permite que a pessoa seja extraditada porque no seu país de origem seja perseguida por
uma opinião política, a extradição não é possível. Se a lei veda a extradição para esse fim, ela
também veda a deportação.

2. Expulsão: É uma medida administrativa mais grave que a deportação.

Art. 54. A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante


ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo
determinado.

§ 1º Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa
à prática de:

I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão,


nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998,
promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002 ; ou

II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e


as possibilidades de ressocialização em território nacional.

§ 2º Caberá à autoridade competente resolver sobre a expulsão, a duração do impedimento


de reingresso e a suspensão ou a revogação dos efeitos da expulsão, observado o disposto
nesta Lei.

§ 3º O processamento da expulsão em caso de crime comum não prejudicará a progressão de


regime, o cumprimento da pena, a suspensão condicional do processo, a comutação da pena
ou a concessão de pena alternativa, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de
quaisquer benefícios concedidos em igualdade de condições ao nacional brasileiro.

§ 4º O prazo de vigência da medida de impedimento vinculada aos efeitos da expulsão será


proporcional ao prazo total da pena aplicada e nunca será superior ao dobro de seu tempo.

Alguém poderia perguntar: O cara comete um crime grave e é expulso? Ele é expulso depois
de ter cumprido a pena (para. 3º). Depois de cumprir a pena, ele poderá ser expulso, como
consequência administrativa do cometimento do crime, mesmo que ele cumpra a pena
alternativa.

Expulsão: Cometimento de crime previsto no ETPI ou crime doloso passível de pena


privativa de liberdade. O Estado tem uma margem de discricionariedade na decisão de

72
expulsar, considerando a gravidade do crime e as condições de ressocialização do expulsando
do território nacional. Logo, o procedimento administrativo de expulsão observará o devido
processo legal, com ampla defesa e contraditório.

O STF já anulou decreto de expulsão por considerar que a defesa do expulsando foi
insuficiente. Não sendo efetiva, o ato de expulsão deverá ser anulado. A expulsão se
concretiza por um decreto do poder executivo que estabelece/fixa um prazo, dentro do qual, o
estrangeiro não poderá retornar ao Estado brasileiro.

A regra sobre o prazo da expulsão está prevista no art. 54, para 4º. Há uma margem de
discricionariedade.

Art. 55 - Quando não se procederá à expulsão. 1) É proibida a extradição dissimulada por


deportação ou por expulsão. 2) filho brasileiro. 3) cônjuge residente no Brasil. 4) Ingressar
no Brasil até 12 anos. 5) For mais de 70 anos. Os brasileiros natos e naturalizados também
não podem ser expulsos.

TRAVOU TUDO DEPOIS DO INTERVALO DIA 15/10

3. Cooperação Internacional:

A extradição acontece quando há um requerimento de um Estado a outro para a entrega de


uma pessoa que esteja sendo processada penalmente, ou tenha sido condenada, no estado
requerente e se encontre no território do Estado requerido. A extradição pressupõe um
processo penal (em curso ou concluído) como regra.

Nós temos, na Constituição (art. 5º, LI, CF/88), a regra de que nenhum brasileiro será
extraditado, salvo o naturalizado em certos casos. CUIDADO: Se um brasileiro cometer um
crime no exterior e depois voltar ao território nacional depois do cometimento do crime, ele
poderá ser extraditado? Sim, desde que seja naturalizado e o crime seja de tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, nas condições previstas em lei.

Em caso de crime comum, ele só pode ser extraditado se ele não for naturalizado ainda (antes
da naturalização). Ex: Morou na Itália, cometeu crime, veio para o Brasil, pediu a
naturalização, veio o pedido de extradição. Ele pode ser extraditado pois quando cometeu o
crime ele era estrangeiro, ainda não naturalizado. Nesse caso ele pode ser extraditado.

73
Agora, se o naturalizado cometer o crime de tráfico ilícito de entorpecentes ele poderá ser
extraditado.

O brasileiro nato não pode ser extraditado.

Art. 82. Não se concederá a extradição quando:

I - o indivíduo cuja extradição é solicitada ao Brasil for brasileiro nato; A lei veda a
extradição de brasileiro nato. Mas do naturalizado também não, salvo nas hipóteses vistas
anteriormente.

II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado
requerente; Só pode haver pedido de extradição quando houver algo criminoso. É possível a
extradição por pensão alimentícia? Às vezes, em alguns países, o não pagamento de alimentos
é considerado crime (fato típico penal). Como no Brasil não é, não seria possível a extradição.
É necessário que ele tenha cometido um crime que é reconhecido no Brasil e em outro Estado.
Ainda que seja considerado crime no Estado requerente, como não é crime no Brasil, ele não
poderia ser extraditado por não pagamento de alimentos. EX: Precedente
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13072202 .

III - o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao
extraditando;

IV - a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2 (dois) anos;

V - o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou absolvido


no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido;

VI - a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do Estado


requerente; Nesse caso, como não é uma negativa, é em ambos os casos.

VII - o fato constituir crime político ou de opinião;

VIII - o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de


exceção; ou

IX - o extraditando for beneficiário de refúgio, nos termos da Lei nº 9.474, de 22 de julho de


1997 , ou de asilo territorial.

§ 1º A previsão constante do inciso VII do caput não impedirá a extradição quando o fato
constituir, principalmente, infração à lei penal comum ou quando o crime comum, conexo ao
delito político, constituir o fato principal.

§ 2º Caberá à autoridade judiciária competente a apreciação do caráter da infração.

§ 3º Para determinação da incidência do disposto no inciso I, será observada, nos casos de


aquisição de outra nacionalidade por naturalização, a anterioridade do fato gerador da
extradição. Se o brasileiro nato cometeu o crime ainda sendo nato, não pode ser extraditado.
Mas se ele cometer um crime quando tiver perdido a nacionalidade, ele poderá sim ser
extraditado.

§ 4º O Supremo Tribunal Federal poderá deixar de considerar crime político o atentado


contra chefe de Estado ou quaisquer autoridades, bem como crime contra a humanidade,
crime de guerra, crime de genocídio e terrorismo.

74
§ 5º Admite-se a extradição de brasileiro naturalizado, nas hipóteses previstas na
Constituição Federal.

Nessas hipóteses não poderá haver deportação nem expulsão. CUIDADO: O estrangeiro que
tem filho brasileiro pode ser extraditado? Art. 82, para. 3º. As hipóteses em que ÚLTIMOS
50 MINUTOS DA AULA DO DIA 15/10. TRAVOU TUDO.

O pedido de extradição irá se fundamentar na existência de um tratado entre os Estados. Não


havendo tratado, o pedido de extradição deverá se fundamentar em uma promessa de
reciprocidade. Quando o Estado vai pedir a extradição de alguém a outro, ele deve
fundamentar seu pedido num tratado de extradição. 1) Quando há tratado, ele rege o
processamento do pedido de extradição, sendo a lei norma geral; O pedido é formulado com
base no tratado e o processamento também. Essa lei será a norma geral. 2) Quando o pedido
for baseado na promessa de reciprocidade, a lei regerá o processamento do pedido.
Competência para julgar o pedido: STF.

O STF vai analisar se o pedido tem algum tipo de bloqueio conforme as regras do tratado e
também considerando a lei como norma geral aplicada. Se não for tratado, o STF considerará
tão somente a lei.

1- Legalidade do pedido

Quando o Estado formula o pedido ou ele se fundamenta no tratado ou ele faz uma promessa
de reciprocidade. O STF julgará a legalidade do pedido.

Superada a questão da legalidade, se o STF considerar iegla o pedido, não poderá haver novo
pedido de extradição pelo mesmo fato. Se o STF considerar legal o pedido, a entrega da
pessoa ao Estado requerente será procedida, observadas as condições estabelecidas em lei.
Essas condições estão previstas no art. 96. Aqui já se considerou legal o pedido, já foi julgado
procedente, mas o estado requerente terá que assumir esses compromissos.

CUIDADO: O Brasil pode extraditar estrangeiro que tenha sido condenado, no Estado
requerente, a pena de morte? Se a resposta for estrita, é verdadeiro. Mas é verdade que exige
um desenvolvimento. O STF não vai julgar ilegal o pedido de extradição por ser de pena de
morte. Não está entre as vedações da extradição a pena de morte, mas a entrega é obstada.
Pois o compromisso deve ser assumido antes da entrega do estrangeiro.

75
Há uma diferença entre julgar se o epdido é legal ou ilegal (art. 82). Não sendo ilgeal, o STF
irá requerer. Sendo legal o pedido, a entrega procederá? Só se o estado requerente assumir
esses compromissos (art. 96). Pode conceder extradição em caso de prisão perpétua? Sim.
Mas entregar a pessoa é outra história. A ordem de extradição pode ser dada sem que se
efetive a entrega.

No caso de pedido de extradição fundado na promessa de reciprocidade, julgando o STF


procedente o pedido, na forma da lei, pode o presidente da república se recusar a extraditar?

ÚLTIMOS 20 MINUTOS DA AULA DIA 15/10 ME PERDI, COM SONO

https://migalhas.uol.com.br/quentes/302950/assalto-ao-trem-pagador--a-historia-de-ronald-
biggs--que-escapou-da-justica-por-mais-de-30-anos

https://www.academia.edu/6919472/
El_Caso_Battisti_y_el_conflicto_internacional_entre_Brasil_e_Italia_en_la_Corte

Texto: Caso Battisti

Historicamente, a extradição era dada da seguinte forma: quando o fundamento do pedido era
uma promessa de reciprocidade, após o julgamento da legalidade pelo STF, caberia ao PR
decidir a questão do acordo internacional. Quando o fundamento do pedido era um tratado
internacional com o Estado requerente, após o julgamento da legalidade pelo STF, o PR não
poderia recusar a entrega.
No caso Battisti, o STF reconheceu que o Presidente da República (PR) poderia deixar de
cumprir o tratado, mesmo após o julgamento da legalidade do pedido pelo STF. Nesse caso, o
PR indicou um dispositivo do tratado para recusar a extradição. Art. 3(f) do tratado de
extradição entre Brasil e Itália, que dizia que o país não deveria extraditar quando houver risco
de uso político da imagem do extraditando.
A Itália não ingressou com ação na CIJ por descumprimento de tratado pelo Brasil; podia fazê-
lo, pois o tratado de amizade entre os países permitiria. E não considerou o tratado de
extradição extinto por violação substancial, já que anos depois veio a extraditar, com
fundamento no mesmo tratado, Pizzolato para o Brasil.
Battisti acabou extraditado e confessando os crimes cometidos dos quais era acusado.
O Brasil não reconhece a jurisdição obrigatória da CIJ; porém aceita submeter-se à Corte em
tratados específicos.

76
Dimensão Espacial do Território

● Mar territorial, Zona Contígua, Zona Econômica Exclusiva e Plataforma Continental


● Espaço Aéreo
● Espaços Internacionais

A priori, é importante saber que a ideia de TERRITÓRIO está na origem da noção de


Estado. O Estado se constitui como um espaço no qual se exerce uma soberania. Um Estado
soberano tem poder exclusivo sobre determinado espaço territorial.

Historicamente, o território é definido por um espaço terrestre circunciso na fronteira dos


Estados. Juridicamente falando pode se estabelecer uma FRONTEIRA por meio de tratados
ou costumes, por exemplo.

As fronteiras podem ser fixadas por técnicas artificiais ou elementos naturais (ex: rios e
cordilheiras). Outras são definidas por linhas imaginárias (ex: meridianos e os paralelos).

Os tratados que fixam fronteiras são tratados e executados e não são sujeitos a denúncia e
nem retirada unilateral. É comum que esses tratados tratem não somente das fronteiras (ex:
tratado entre argentina e paraguai)

A delimitação territorial dos Estados fala também sobre a consideração das águas interiores
(rios, mares, bacias hidrográficas), que muitas vezes ultrapassam a fronteira. No Brasil, temos
duas bacias hidrográficas internacionais. No caso das bacias hidrográficas, há um limite
natural da soberania sobre esse espaço. Então, no caso da Bacia Amazônica e da Bacia do Rio
Prata que envolve o pantanal, o Brasil tem, como qualquer outro país envolvido nessas
bacias, limites quanto ao que pode ser feito ou não nessas águas interiores que integram o
território. Ex: O BR não pode fazer uma transposição do rio, de modo que o rio que sai do
BR e chega no Uruguai não pode ser barrado. Encontramos no Direito Internacional conflitos
entre Estados resultantes do regime jurídico das bacias hidrográficas, etc. Elas limitam a
soberania dos Estados sobre seus territórios.

Além do território, o MAR sempre foi uma temática presente na agenda do Direito
Internacional. A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de Montego Bay,
Jamaica, de 1982, é a principal norma internacional que rege o direito internacional do mar.
O espaço marítimo é dividido em três (a convenção também fala sobre um quarto):

1. MAR TERRITORIAL

77
2. ZONA CONTÍGUA
3. ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA
4. PLATAFORMA CONTINENTAL

Desde sempre o direito do mar foi um um tema relevante para o Direito Internacional porque
não há dúvidas quando os primeiros estados surgiram, o mar já se tornava uma questão
relevante para a economia desses Estados. Com as Grandes Navegações (séc. XV), a questão
marítima se torna fundamental para a sobrevivência de todos os Estados. Uma das primeiras
questões que se pôs no âmbito do D.I foi se um Estado poderia ou não exercer o domínio
sobre o mar. Tanto que Hugo Grócio, em sua obra, defendia o Mare Liberum, ou seja, a
liberdade de navegação em benefício da Companhia das Índias Orientais. O contraponto de
Grócio era a doutrina de “Mare Clausum", defendida pela Inglaterra. Ideia de Grócio é
estabelecida, limitado o Estado de possuir domínio soberano sobre o mar. Quais os limites
que podem ser estabelecidos a título de mar territorial? No primeiro momento se
estabeleceu que o mar territorial deveria ter a largura de um tiro de canhão. No entanto, o
desenvolvimento tecnológico, já no séc XIX permitiu que as embarcações pesqueiras
conseguissem avançar para pescas mais distantes, isso fez com que os países fosse
aumentando seu mar territorial.

O Chile é um país que tem um território bastante limitado, de modo que, naturalmente, o
Chile desenvolve parte da sua economia voltada para o mar, por isso que a pesca se torna
importante. A frente do Chile não tem nenhum Estado na frente dele, por isso não se
importou em ampliar seu mar territorial. O Brasil pensou o mesmo, que dali até a África era
um espaço muito grande, então não tinha problema ampliar. Mas isso não foi muito aceito
pelos demais Estados, inclusive os Europeus. Com o advento das Nações Unidas foram feitas
convenções para chegar a um consenso da subdivisão do estado martírio em três: 1) o mar
territorial pode ter no máximo 12 milhas marítimas, a) a zona contígua pode ter até 24
milhas (12 de mar territorial + 12 complementares onde a soberania é mais mitigada), c) a
zona econômica exclusiva pode ter até 200 milhas náuticas. Com isso, como o interesse da
maior parte dos países que fixaram seu mar territorial em 200 milhas era um interesse
econômico, os Estados chegaram a um acordo dessa zona econômica exclusiva que permitiu
que esses países aceitassem reduzir seu mar territorial para 12 milhas, já que lá o exercício de
soberania é maior do que na zona econômica exclusiva. Com isso se estabeleceu uma certa
ordem na questão do mar.

78
Se nós olharmos de outra perspectiva…

O mar territorial brasileiro que

contém 12 milhas quase não

aparece (ele está entre a linha

azul e a costa). Nós temos

Fernando de Noronha que é considerada uma ilha, mas é conjugada a nossa zona

econômica exclusiva. A Bahia tem a maior costa do Brasil → Mas acaba não tendo a maior

zona econômica exclusiva por causa das conjugações. Percebe-se com essa imagem que o

aumento para 200 milhas pouco interfere no interesse dos países africanos. As áreas que

vão além da zona econômica exclusiva (plataforma continental) é uma área que o Brasil

pretende anexar. Por que? Veja…

A plataforma continental é uma continuidade do continente para baixo do nível do mar, que é
uma montanha e uma hora ele desce até a crosta oceânica. De modo que, o Estado também
tem direitos soberanos sobre a Plataforma Continental, mas isso tem limites, que é a zona

79
econômica exclusiva. Então, apesar da plataforma continental do Brasil ultrapassar a zona
econômica exclusiva, o Brasil, em tese, só pode explorar até o limite da zona. O Brasil pede à
ONU uma extensão da sua plataforma continental. Ele quer isso porque nesse espaço está o
pré-sal. O Brasil tem grandes interesses em explorar sua plataforma continental com vista à
exploração de petróleo. Há uma tendência de aceitação desse pedido, já que o Brasil está
bem fundamentado e já que o Brasil cumpre os principais requisitos 1) não interferir na
soberania dos outros Estados; 2) que o Brasil demonstra a capacidade de explorar aquela
área.

Ao contrário do espaço marítimo, o ESPAÇO AÉREO não é uma questão relevante para o
direito internacional, já que a aviação é um advento do final do séc XIX, de modo que os
tratados e discussões jurídicas em matéria de espaço aéreo só chegam a ser discutidas no séc
XX, pós Guerra Mundial. Mas, com o passar do tempo isso se tornou uma questão relevante e
foi discutida nos tratados internacionais e definiram inúmeros acordos. Alguns tratados sobre
o espaço aéreo estão relacionados ao transporte comercial, como é o caso da Convenção de
Montreal. Efetivamente, é na Convenção de Chicago (princiapal norma sobre esse assunto)
que vamos encontrar algum tipo de desenvolvimento do direito internacional aéreo.

1. ELEMENTO COMERCIAL
2. ELEMENTO DE SEGURANÇA

No direito aéreo internacional, não há liberdade de navegação como o que acontece com o
espaço marítimo. A liberdade de circulação se dá tão somente no automar. Quando se trata,
por outro lado, de uma navegação aérea pelo Espaço aéreo de um Estado há a necessidade de
uma autorização, daí se justifica a monitorização do Estado a passagem para o seu espaço
aéreo de qualquer aeronave. Diversas legislações chegam a autorizar o abatimento de
aeronaves que não estejam autorizadas a navegar no espaço aéreo daquele Estado.

80
O Estado tem soberania plena sobre o espaço aéreo do território e do mar territorial e
soberania limitada sobre a zona econômica exclusiva (ZEE). De modo que o espaço aéreo se
torna parte do conjunto denominado dimensão espacial do Estado. Sendo este um espaço que
o Estado possui uma certa soberania nos espaços. Além disso, há os espaços internacionais,
que também são chamados de “global commons” (ex: alto mar ou águas internacionais, que
são disciplinadas pela CNUDM, antártida, pelo tratado da antártida e protocolo, espaço
cósmico, como a lua e os demais astros espaciais). Esses espaços são insuscetíveis de
domínio pelos Estado, mas podem ser explorados para fins pacíficos, sob a tutela da ordem
jurídica internacional. Seja a própria ONU ou autoridades como a Autoridade Internacional
sobre os Fundos Marinhos, criada pela CNUDM.

81
O Brasil conseguiu uma autorização para explorar a área vermelha. A linha vermelha é a ZEE
do Brasil. Depois da ZEE continua tendo algumas cordilheiras submarinas por baixo do mar,
e algumas delas chegam até emergir, como pedra ou pequenas ilhas. Essa região em vermelho
é chamada de Rio Grande. O Brasil conseguiu que a Autoridade Internacional sobre os
Fundos Marinhos autorizasse a exploração dessa área até 2022, estrategicamente para a
pesca.

Texto sobre Mar Territorial

No mar territorial a soberania não é plena, a própria norma internacional, ao conceder a


passagem de inocente, acaba imitando a soberania do Estado, por tanto não se pode igualar o
mar territorial com o território do Estado.

Coisas que chamaram atenção e dúvidas:


1) Utilização de milhas marítimas. A prática marítima é praticada em milhas.
2) Passagem inocente de navio de guerra (navio não armado). Ainda que ele seja de
guerra, ele está sujeito a fiscalização, não podendo estar armado.
3) O que acontece quando um navio de um país estrangeiro traz uma espécie
marinha que não é da região e acaba matando a biodiversidade? Isso é um dos
assuntos mais tratados. Água de lastro (água trazida dentro da embarcação e que muitas
vezes é trocada quando chega em determinado porto, mas às vezes é preciso jogar água
fora durante a navegação para que o navio não afunde) → Isso pode fazer com que
haja poluição no mar. Há diversos tratados que tratam disso.
4) Não existe legislação específica sobre crimes em águas internacionais. Em geral, a
jurisdição vai ser a do país que possui a bandeira. Ou seja, o direito aplicável é o direito
dos países cujo registro é feito da embarcação.
5) Dever de não cobrar taxas.

82
A ZONA CONTÍGUA não pode ter mais que 24 milhas náuticas, começando da linha de
base. Nas primeiras 12 milhas há o mar territorial, e lá a soberania é mais efetiva, na zona
contígua é considerado o fim do mar territorial até o fim dos 12 milhas.

ARTIGO 33 (CNUDM)
Zona contígua
1. Numa zona contígua ao seu mar territorial, denominada zona contígua, o Estado
costeiro pode tomar as medidas de fiscalização necessárias a:
a) evitar as infrações às leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração
ou sanitários no seu território ou no seu mar territorial;
b) reprimir as infrações às leis e regulamentos no seu território ou no seu mar
territorial.
2. A zona contígua não pode estender-se além de 24 milhas marítimas, contadas a
partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial.
A zona contígua funciona como se fosse um abrandamento da soberania nas 12 milhas
subsequentes do mar territorial, mas que dá ao Estado algum nível de poder sob as
navegações que navegam naquele espaço. A soberania vai se abrandando a cada zona: mar
territorial > zona contígua > zona econômica exclusiva. Na ZEE, o Estado costeiro tem
poderes de exploração econômica, e um poder-dever de proteção do meio ambiente.

Recentemente tivemos o caso do derramamento de óleo causando imensos prejuízos, que é


uma responsabilidade do Estado de fazer uma investigação, a limpeza da poluição e
identificar os responsáveis.

Umas das áreas mais conflituosas nessa questão de direito do mar atualmente é a região da
Baía de Bengala, que é disputada pela Índia, Bangladeste e Myanmar. Há uma dificuldade
para se estabelecer o limite de mar territorial e ZEE, já que as regiões são muito próximas. Há
diversas zonas de disputa entre esses três países. Essa é uma região estratégica e com grande
potencial de pesca.

Outro problema é o mar da China, porque a China vem aumentando as suas ilhas artificiais
nesta região. A China vem aumentando suas ilhas com o intuito de aumentar o mar territorial.
A China vem tentando se utilizar de brechas internacionais para ampliar seu mar.

83
Extinção e Sucessão dos Estados

Os Estado, em geral, não tem um termo final, eles não se extinguem pelo simples passar do
tempo, mas existem causas, como:

1. ABSORÇÃO TOTAL: foi durante muito tempo reconhecida pelo D.I, tornou-se, a
priori, ilícita depois da Carta das Nações Unidas. Mas nós tivemos vários exemplos na
história, como a formação da União Soviética, decorrente da absorção total de várias
repúblicas. Nos últimos anos, a absorção total voltou à agenda do D.I quando Porto
Rico começou a firmar acordos com os EUA, cedendo competências soberanas aos
EUA. Possibilitando que a absorção total, por convenção, seja reconhecida no âmbito
internacional. Ou seja, permanece possível a absorção total POR CONVENÇÃO.
2. FUSÃO DOS ESTADOS: Como por exemplo a fusão das Alemanhas,
restabelecendo o Estado alemão e extinguindo a Alemanha Oriental e Ocidental.
Outro exemplo é os EUA e seus Estados. Outro episódio foi a fusão dos dois Vietnãs.
3. CISÃO OU DESMEMBRAMENTO: Tivemos inúmeros desmembramentos, como
o caso da Iugoslávia, da União Soviética, da Tchecoslováquia

Não é tão raro essas situações de estados que se extinguem. Não são incomuns nas relações
internacionais, mas pode-se dizer que isso vem desacelerando com o passar do tempo. Mas
muitos conflitos decorrem da extinção dos Estados. Tivemos, por exemplo, vários problemas
com o caso da Iugoslávia.

Algumas normas do D.I são aplicáveis aqui.

As relações internacionais, via de regra, não são descontinuadas, sendo necessário falar da
sucessão dos Estados. No caso das Alemanhas, o Estado resultante da fusão irá dar
continuidade, salvo naquilo que for incompatível. (como por exemplo dois tratados opostos, a
Alemanha deixou de lado o Pacto de Varsóvia).

No que tange ao desmembramento, essa questão é mais complexa, porque o


desmembramento gera uma multiplicidade de estados e nem sempre os estados que
participaram do desmembramento podem dar seguimento ao tratado internacional que existia.
Nesse caso, nós temos um costume internacional que define que o Estado em que está
situada a capital do Estado extinto é considerado sucessor deste nas relações
internacionais. Ex: No caso da União Soviética: a US é membro permanente do Conselho de

84
Segurança da ONU. A US se desmembrou em 17 repúblicas. Qual república iria ocupar a
cadeira de membro permanente? Todas poderiam? Então, considerou-se como sucessora da
US a Rússia, já que Moscou fica na Rússia.

Em suma, regra do D.I: Havendo situação em que não se possa atribuir o direito de um
tratado a todos os Estados sucessores, será considerado sucessor o Estado onde está situada a
capital do Estado extinto.

Outras questões relevantes para a sucessão de Estados:

1. BENS PÚBLICOS: é comum que muitos bens públicos sejam situados na capital,
mas no caso da US, a Ucrânia ficou com várias usinas nucleares);
2. TESOURO NACIONAL: a Rússia ficou com todo o tesouro nacional da US)
3. NACIONALIDADE: Imagine que uma pessoa nascida em Kiev nos anos 70. Em 70,
a Ucrânia era parte da US. Então se ele nasceu em Kiev, ele era soviético. Aos 18
anos, em 1987, ele vai fazer faculdade em Moscou, começa a estudar lá. Nesse
período a US deixa de existir. Ele conclui a faculdade, arranja um emprego em
Moscou e em 1992, a comunidade dos Estados independentes deixam de existir e a
Rússia passa a ser um Estado distinto da Ucrânia. Esse rapaz vai procurar um
emprego e questionam se ele tinha visto de trabalho, só que ele disse que morava lá há
5 anos. Então ele precisaria tirar um passaporte Ucraniano e ter um visto de trabalho.
Para evitar esse tipo de situação, já que haviam milhares de pessoas na mesma
situação, a Rússia estabeleceu que as pessoas poderiam optar pela nacionalidade russa
se quisessem.

Isso, no entanto, não foi feito por todos os países, a exemplo da Ucrânia. A cidade de
Donetsk, por exemplo, é uma região povoada por comunidade russa. Porque
naturalmente, durante a US, povos russos se deslocaram e habitaram essa cidade.
Contingente grande dessas cidades são de origem russa. Como a Ucrânia não atribuiu
a essas pessoas a nacionalidade ucraniana, essas pessoas permaneceram russas de
nacionalidade e estrangeiras no território ucraniano. Recentemente, essas pessoas se
manifestaram para desmembrar essas regiões e anexá-las à Rússia. A Ucrânia enviou
então tanques de guerra para conter o movimento dessas populações. Como as
pessoas são russas, a Rússia fez movimentos militares. E a Ucrânia alegou que a
Rússia estaria alegando ameaça a sua integridade territorial. A Rússia, por sua vez,

85
argumentou que, na verdade, estava visando proteger seus nacionais em território
ucraniano.

Organizações internacionais

Texto: Organizações internacionais (Cretella Ols)

As OIs representam uma infraestrutura da sociedade internacional. Grande parte das relações
internacionais acontecem nas organizações internacionais, mas isso não impede que haja
relações internacionais fora dessas OIs, através de acordos bilaterais.
O D.I que se desenvolve no pós guerra é um direito que tem seu desenvolvimento atrelado a
OIs. Então nós temos que entender que uma OI representa grande parte do funcionamento do DI
(das sociedades e políticas internacionais). Com um olhar mais global.
Às vezes os interesses coletivos entram em colisão com os interesses individuais, fazendo com
que alguns Estados se distanciam da OI.
As OIs são necessárias para que seus anseios normativos se tornem reais. Algum tipo de
conduta e comportamento no mundo da vida.

O papel das OIs é um papel limitado dentro daquilo que os Estados lhe concederam de
atribuições. Quando os Estados criaram as OIs, eles limitaram o poder de decisão e o uso da
força. O campo mais crítico é o da segurança internacional → nas questões mais agudas da
estabilidade política-internacional, há problemas.

Caso da Bósnia → os agentes da ONU acabaram se envolvendo no conflito e isso foi


desastroso. Alguns soldados se envolveram contra os bósnios.

OEA → Entidade contaminada pelos interesses de um estado.


aula dia 29/10 durante os primeiros 44 minutos.

1. ASPECTOS GERAIS: São sujeitos derivados do DI. Seu surgimento não é


decorrente de um planejamento articulado dos Estados. Cada Organização
Internacional tem sua própria história, seu ato constitutivo, seus procedimentos,
atividades e finalidades.

Infraestrutura da sociedade internacional por meio das OIs. Objetivo de lidar com a
complexidade crescente das relações internacionais. Esse movimento foi acelerado
pelo incremento do multilateralismo após a II Guerra. O recuo do multilateralismo
afeta as OIs.

86
CARACTERÍSTICAS DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

Texto: Organizações internacionais (a partir da pág. 94)

Minhas anotações:

CARACTERÍSTICAS DAS OIs

➔ Criadas por tratado internacional


A organização resulta de um ato de vontade de seus criadores. Em outros casos raros, as OIs podem
ser criadas por meio de decisão de uma conferência internacional (ex: extinguindo COMECON) ou a
decisão de criar uma OI pode resultar de decisões paralelas tomadas pelos governos de seus Estados-
Membros (ex: Commonwealth Agricultural Bureau).

Embora na maior parte das vezes se trate de Estados, outras entidades dotadas de personalidade
jurídica de DI podem ser parte (ex: Estados dependentes, como Mônaco e Butão).
➔ Prática de atos pela organização internacional
A existência de um tratado constitui condição necessária para criá-las, mas não suficiente, o que deve
ocorrer com a elaboração do respectivo estatuto, que irá atribuir poderes à organização internacional e
instituir seus órgãos e os atos que cada qual deverá/poderá praticar.
Pessoas físicas pertencentes à organização internacional podem praticar atos na qualidade de seus
agentes mediante atribuição à ordem jurídica, conferida pelas partes que a instituíram, podendo esses
atos ser considerados como atribuídos à própria organização.
Além disso, a prática dos atos, tanto internos quanto externos, por parte da organização deve dar-se
segundo determinado regramento. Daí se dizer que as OIs possuem um ordenamento jurídico interno
próprio, que prescreve e legitima seus atos.
➔ Dotados de competência funcional
A ordem jurídica de cada Estado - isto é, o conjunto de suas competências e das de seus órgãos -
estabelece quem está sujeito a ela, sendo sempre limitada a determinado território.
O DI não contém normas que lhe atribuam a prática de atos, já que é descentralizada. Ou seja, a ordem
jurídica internacional não é sujeito de direito e a comunidade internacional não possui personalidade
jurídica de DI. Uma vez que falta subjetividade à ordem internacional e que inexistem órgãos
executivos, legislativos ou judiciários centrais, capazes de praticas atos jurídicas nessa esfera, os
membros da comunidade internacional criaram, segundo suas necessidades, organismos aos quais
incumbe a prática de atos e o desempenho de funções determinadas para atuar somente em casos de
interesse dos membros da comunidade.
As OIs criadas não são dotadas de competências territorial exclusiva. Ou seja, recebem dos sujeitos de
DI que as instituíram uma competência específica em certos domínios para exercer função
determinada, razão pela qual se diz que possuem competência funcional.
Cada organização é dotada de órgãos e institutos para realizar as funções que lhe são atribuídas.

87
➔ Sujeição ao Direito Internacional
Existem entidades criadas por tratado internacional, que lhes atribui (e a seus órgãos) autoridade para a
prática de atos determinados, e dotadas de competência funcional, que não se enquadram no conceito
de organização internacional.

Disciplinada pelo Direito Internacional → Afirmar que uma entidade é regulada pelo Direito
Internacional, ou que a este se sujeita, significa dizer que existem normas jurídicas internacionais das
quais é destinatária, isto é, que lhe conferem direitos e lhe impõem obrigações.

A) Criação por tratados internacionais → Uma OI decorre de um tratado


internacional. Os OIs decorrem de um ato voluntário dos Estados que criam e se
associam. Ou seja, uma OI não cria outra.

Quando falamos nas Nações Unidas, não falamos que a ONU criou, pois quem assina o
tratado são os Estados. Você pode ser uma OI como membro de outra, mas uma OI não é
criada a partir das atribuições de outra.

B) Prática de atos pela organização internacional → Se refere ao chamado


princípio da atribuição das OIs. A ideia de que as OIs atuam no limite dos poderes
que lhes são atribuídos. E, por isso, o princípio da atribuição é o que orienta os
agentes das OIs, porque o poder que lhes é atribuído é o que orienta a sua atuação.
Dentro dos limites das suas atribuições eles são independentes.

Órgãos essenciais das OIs: Secretariado (órgão administrativo) e Assembleia Geral (órgão
deliberativo).

As OIs têm um ordenamento jurídico interno: um Estatuto, normalmente aprovado pelos


Estados na Assembleia Gerais, e um regulamento, estabelecido internamente, que regula os
procedimentos de seu funcionamento. É uma espécie de direito interno da OI.

C) Dotados de competência funcional → As OI atuam em nome próprio, seus


agentes atuam no âmbito das suas competências. E assim, atuam com independência.
Os Estados não podem interferir na atuação dos agentes.
l

88
D) Sujeição ao Direito Internacional → As OI estão sujeitas ao DI visto como um
todo, e não um direito fracionado. Toda OI se vincula ao conjunto da ordem jurídica
internacional, aos costumes das OIs. Todas devem compreender o tratado como a
ordem jurídica internacional.

Todos os tratados são considerados tratados por um instituto idêntico. Há um direito


internacional que sujeita todas as organizações internacionais.

As OIs são sujeitos singulares do Direito Internacional. Aquelas OIs que têm competência
para firmar tratados que podem atuar com independência na ordem jurídica internacional
atuam como sujeitos de direito internacional.

Ex: MERCOSUL. Possui personalidade internacional, podendo firmar tratados.

O NAFTA, por exemplo, não é uma OI. Ela não pode firmar tratados e não tem personalidade
internacional.

2. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU)

A ONU é financiada pelos Estados Membros e há uma diferença de contribuição conforme o


PIB de cada Estado. Existe uma grande faixa de isenção, que é a dos países que possuem
baixo PIB.

● Histórico e Aspectos Gerais

A 1º Guerra Mundial decorre do colapso do sistema estabelecido no Congresso de Viena, em


1815. O recrudescimento dos nacionalismos levou os Estados ao conflito armado. Nesse
cenário, do fim da 1º Guerra Mundial, em 1919, foi assinado o Tratado de Versalhes que pôs
fim a 1 Guerra Mundial e criou a Sociedade das Nações, que foi a primeira tentativa dos
Estados criarem uma organização que estabelecesse a cooperação internacional. A Sociedade
das Nações é uma organização internacional idealista, e foi cunhada por alguns princípios que
eram defendidos pelos EUA. Só que, os EUA, depois, acabou nem aderindo essa Sociedade
num primeiro momento. Essa Sociedade Nações, por ser idealista, levou a regra da
unanimidade - os Estados raramente entravam em acordo quanto às questões internacionais,
pela dificuldade de encontrar a unanimidade.

Surgimento da Corte Permanente de Justiça Internacional, na Haia, Países Baixos. Pela


criação da Academia de DI, pela Organização Internacional do Trabalho. Então nos temos

89
aqui um inicio de um ambiente que procura fazer frente aos nacionalismos que levaram a 1
Guerra mundial. No entanto, em contrapartida, foram as sanções aplicadas à Alemanha, que
levaram ao empobrecimento do povo alemão. O Tratado de Versalhes acabou
responsabilizando a Alemanha por tudo que aconteceu na Guerra.

Em grande parte, aquilo que decidiu no fim da 1º Guerra é causa do que aconteceu na 2º
Guerra Mundial. É importante saber que antes dos Estados criarem a ONU, eles já vinham de
uma experiência, com a Sociedade das Nações, onde se tentou criar um ambiente cooperativo
e capaz de contornar esses sentimentos soberanistas e nacionalistas.

Quando a 2º Guerra começou, as primeiras investidas de Hitler, houve uma posição meio
indiferente da Sociedade Internacional, notadamente da União Soviética e dos EUA. Ambos
tinham uma postura de indiferença em relação ao que acontecia na Europa. A URSS estava
mais preocupada em garantir a estabilidade política pós revolução russa, enquanto os EUA
vinha se recuperando economicamente da Queda da Bolsa de Valores de NY. Essas
circunstâncias favoreceram ao avanço da Alemanha nazista e isos não pode ser esquecido.

A ONU foi criada a partir de um ambiente totalmente em crise, de um ambiente político


bastante complexo. Mas, por outro lado, favoreceu, o surgimento da ONU, essa confluência
de distintos interesses, que arrefeceram rivalidades em torno de um objetivo comum. Então, o
nazismo aproximou os EUA e a URSS, também a China, tornando possível consensos
improváveis. O surgimento da ONU se dá em um raro momento de confluência de interesses
de potências que divergiam em quase tudo e eram grandes rivais. Essa compreensão de um
raro momento histórico, em que foi possível chegar a esses consensos, é preciso entender o
peso normativo da Carta das Nações Unidas.

A Carta das Nações Unidas começou a ser concebida ainda durante a 2º Guerra Mundial, com
a assinatura da Declaração das Nações Unidas, em 1942, no momento em que a Guerra
começou a ser vencida pelos aliados, porque se formou uma coalizão que envolvia também
os EUA e as URSS. Então, com o envolvimento dos EUA e da URSS, os Estados
convergiram para a assinatura das Nações Unidas com o propósito de criar uma organização
internacional permanente para a manutenção da paz e da segurança internacionais.

A legitimidade de certos documentos decorre, muita das vezes, de circunstâncias


históricas que são propícias para que haja uma manifestação com larga margem de
legitimidade. Nada é perfeito em torno da sua unanimidade, não há unanimidade. Mas é

90
certo que se chegar uma carta onde há confluência de interesses tão diversos, a ONU foi
criada, na origem, com 50 Estados. Esse forte consenso é muito simbólico. O contexto de
crise pós conflito impulsiona um acordo dessas proporções. Ao final da 2º Guerra Mundial,
as coisas estavam bastante críticas no mundo.

Texto: ONU
Vídeo sobre a Guerra Fria
Vídeo sobre a história da ONU

O papel da ONU nos 10 primeiros anos foi mais interno do que internacional. Esse foi um
período de acomodação pós guerra. Isso se reflete em dois aspectos: 1) Avanço da ONU no
número de Estados-Membros; 2) Papel da ONU na independência dos Estados Africanos.

Além de segurança e da paz internacionais, a ONU atua na proteção dos direitos humanos,
descolonização, proteção do meio ambiente e no desenvolvimento econômico e social dos
Estados.

● Estrutura e Funções

Esses são os órgãos bases da ONU. Tanto o secretariado quanto a Assembleia geral são
bastante comuns.

1. Secretariado: Órgão administrativo. Secretário geral, eleito por ⅔ da


Assembleia Geral para um mandato de 5 anos, podendo ser
reconduzido uma vez; É um órgão de funcionamento permanente e
seus agentes exercem uma função internacional, isto é, atendem aos
propósitos da Organização.

Órgão que dá a existência concreta a ONU, a sua representação em outros Estados. Ex:
Prédio da ONU em Nova Iorque. Agentes que atuam em nome da Organização. É um órgão
de funcionamento permanente e funciona como se fosse um poder executivo da Organização
Internacional.

2. Assembleia geral: Órgão deliberativo. Funcionamento sazonal (reúne-


se 1x ao ano ordinariamente, podendo se reunir extraordinariamente
em qualquer Estado membro).

91
Quando nós assistimos, em Setembro, a reunião que ocorre na sede da ONU em Nova Iorque,
acontece a reunião da Assembleia Geral, onde cada Estado tem direito a 1 voto, mesmo que
possa levar 5 delegados para compor sua representação. E as decisões são tomadas à base dos
⅔ dos membros da Assembleia.

Os representantes dos Estados atuam de maneira parcial. Enquanto no Secretariado é


internacional, aqui os agentes dos Estados atuam na representação dos interesses dos
membros das Nações Unidas, de modo que eles são parciais e visam respeitar as diretrizes de
cada Estado.

É um órgão deliberativo e atua por meio das resoluções (que não são obrigatórias para os
estados membros) elas, muitas vezes, revelam costumes internacionais (apesar de não serem
fontes do Direito Internacional, elas são indicadas como costumes internacionais existentes e
são reconhecidos pelas resoluções). Mesmo que as resoluções não tenha muita força, podem
ser utilizadas para provar a existência de costumes internacionais.

Os Estados não membros da ONU podem participar da Assembleia Geral podem participar,
mas não terão votos. Ex: A Palestina é um Estado observador, que tem um amplo
reconhecimento internacional, mas não integra o quadro das Nações Unidas.

A assembleia geral tem função fiscalizadora do exercício do papel do secretariado e aprovar o


orçamento do secretariado. É o órgão que dá legitimidade no âmbito da onu.

3. Conselho de Segurança (CS): A configuração do CS é o ponto mais


crítico do funcionamento da ONU.

No começo do funcionamento da ONU, O CS acabou sendo o órgão mais efetivo, sendo


muitas vezes utilizado pelos estados-membros como forma de bloquear a entrada de estados
aliados com seus adversários, porque, tão logo a 2º Guerra acabou, a guerra fria se instalou. O
CS assumiu um papel muito importante na estabilização da política internacional do pós
guerra. E essa configuração que foi adotada, foi essencial naquele momento que havia uma
instabilidade política grande.

O CS tem 5 membros permanentes: EUA, Rússia, França, Reino Unido e a China. Outros
países pleiteiam ingressar o CS. São 10 membros não permanentes, eleitos por ⅔ da
Assembleia Geral para um período de 2 anos, não podendo serem reconduzidos para o
período subsequente.

92
Esses membros não permanentes, a cada ano renovam-se 5 membros não permanentes. Não
há, nunca, 2 anos seguidos de uma mesma configuração. A cada ano o CS tem uma
configuração diferente. O CS tem uma mudança constante, gerando um fortalecimento da
posição dos membros permanentes.

As decisões no CS são aprovadas pelos votos de 9/15 dos Estados-membros, porém, os


membros permanentes têm poder de veto. O veto deve ser expresso; abstenção não implica
veto.

Na origem da ONU, essa configuração foi aplaudida. A presença daqueles 5 Estados foi
bastante útil a época em que foi implementado. Costuma-se dizer que isso ocorre devido a
Realpolitik e o realismo político.

Então nós temos aqui uma questão que, com o passar do tempo, passou-se a ter um
descompasso porque o mundo de hoje, 75 anos depois, nós observamos o mundo com uma
configuração política muito distinta daquela do fim da 2º Guerra Mundial. Nós temos países
emergentes que tem uma intensa participação das organizações internacionais, por exemplo.
Para muitos países, essa composição seria um motivo de afastamento da ONU.

Pontos críticos da estrutura do CS:

a) Déficit de representatividade → O CS quando surgiu, tinha, na sua origem, 11/50

Estados-membros da ONU em 1945. Nos anos 60, houve uma mudança na carta

e aumentados para 15/100. Atualmente os mesmos 15 representam 194. O que foi

22% de representação no ínicio, caiu para 8% na atualidade. Uma das coisas que se

propõe é a mudança de 15 para um número maior.

b) Déficit de legitimidade → Devido aos membros permanentes e o direito de veto.


Eles não refletem sozinhos a liderança global. Essa questão atinge a legitimidade do
CS, porque aquela ideia de um realismo político já não justifica que esses sejam os 5
membros permanentes. É importante dizer que, na maior parte das propostas, não há
uma forte que exclua os membros permanentes, mas que aumenta a quantidade deles.
Ex: O Brasil vem pleiteando o aumento dos membros permanentes;
c) Déficit de coercitividade → Consequência dos dois déficits anteriores. De respeito
pelas suas decisões. Isso tudo impacta, não só no próprio CS, mas na ONU como um
todo.

93
O CS adota resoluções obrigatórias para os Estados, por força da Carta das Nações Unidas.
Os próprios Estados reconhecem essa obrigatoriedade das resoluções do CS e, portanto, trata-
se, para muitos, de uma fonte do Direito Internacional.

Essa discussão sobre a reorganização do Conselho de Segurança está em mais ou menos 1h


de aula do dia 05/11.

Pergunta: Você é favorável ao Brasil entrar como membro permanente do CS? Seria um país
importante para representar a América Latina. Quais seriam os prós e contras desta entrada?
Custo! Todos os países ali tem em comum que eles investem nas ofrças armadas. A primeira
consequência então é ter recursos para investir no fortalecimento das forças armadas
(atualização dos equipamentos e no aumento do seu efetivo), além disso, quando se é
membro permanente o Estado é provocado a tomar decisões políticas sensíveis com
frequência, o que resulta na impossibilidade de neutralidade. Qual a consequência de se
tomar ações como essas? De um lado você ganha e do outro você perde; possibilidade de
relação e respeitabilidade. Sem contar o risco de ir a conflito e se envolver mais e se proteger
de eventuais situações armadas. De modo que, essa entrada no Brasil talvez não fosse algo
favorável, já que o Brasil não tem como investir para ser membro permanente do CS.

Carta da ONU, art. 25 → As decisões são obrigatórias.

Artigo 25. Os Membros das Nações Unidas concordam em aceitar e executar as


decisões do Conselho de Segurança, de acordo com a presente Carta.

Capítulo VI, art. 33, Carta da ONU

Artigo 33. 1. As partes em uma controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à
paz e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução
por negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem, solução judicial,
recurso a entidades ou acordos regionais, ou a qualquer outro meio pacífico à sua
escolha.

Capítulo VII, art. 39 → Dimensão do poder do conselho de segurança

Artigo 39. O Conselho de Segurança determinará a existência de qualquer ameaça à


paz, ruptura da paz ou ato de agressão, e fará recomendações ou decidirá que

94
medidas deverão ser tomadas de acordo com os Artigos 41 e 42, a fim de manter ou
restabelecer a paz e a segurança internacionais.

Vamos destrinchar em duas partes:

1. Compete ao Conselho de Segurança determinará a existência de qualquer ameaça à


paz, ruptura da paz ou ato de agressão.

Cabe ao CS dizer se determinado fato ocorrido no mundo constitui algum desses itens. O CS
tem um poder muito grande! De decidir. Essa decisão terá impacto até na atuação do DPI
(direito penal internacional). ANtes de um questão ser levado ao DPI, ela precisa ser levado
ao CS para que ela decida se esse é um ato de agressão.

2. O CS tem competência para fazer recomendações ou decidirá que medidas deverão


ser tomadas de acordo com os Artigos 41 e 42, a fim de manter ou restabelecer a paz e
a segurança internacionais.

Que medidas são essas que eles podem tomar?

Artigo 41. O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem envolver o
emprego de forças armadas, deverão ser tomadas para tornar efetivas suas decisões
e poderá convidar os Membros das Nações Unidas a aplicarem tais medidas. Estas
poderão incluir a interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos
meios de comunicação ferroviários, marítimos, aéreos , postais, telegráficos,
radiofônicos, ou de outra qualquer espécie e o rompimento das relações
diplomáticas.

Aqui, é um conjunto de medidas que não tem o uso da força e devem servir para manter ou
restabelecer a paz e a segurança internacional.

Artigo 42. No caso de o Conselho de Segurança considerar que as medidas previstas


no Artigo 41 seriam ou demonstraram que são inadequadas, poderá levar a efeito,
por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que julgar necessária para
manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal ação poderá
compreender demonstrações, bloqueios e outras operações, por parte das forças
aéreas, navais ou terrestres dos Membros das Nações Unidas.

95
Por outro lado, a Carta revela ao CS a possibilidade do uso da força, não para ganhar uma
guerra, mas para manter ou restabelecer a paz ou segurança internacional. Inclusive nos
conflitos armados internos, nas guerras civis.

Nesses dois artigos dá para ter uma noção da força do CS na carta das Nações Unidas. O uso
da força é só admitido no art. 51 (legítima defesa) e artigo 42.

Como esse é um órgão muito forte e tem a participação em várias questões da Organização,
tendo uma competência impactante na ONU. É evidente que sua estrutura será relevante
nesse sentido.

4. Conselho Econômico e Social (ECOSOC): Composto por 54 Estados


membros, eleitos para um período de 3 anos, podendo ser
reconduzidos. Cada anos, 18 novos membros ou são reeleitos ou
modificados.

É um órgão que tem funções gigantescas. Órgão criado para promover o desenvolvimento
econômico e social dos Estados como forma de evitar conflitos internacionais. É o órgão
responsável pela interação dos organismos especializados do Sistema das Nações Unidas, que
envolve, além da ONU, a OMS, UNESCO, FAO, FMI, Banco Mundial, OMI, OMM, OACI,
AIFM, etc.).

Esse órgão é o centro de toda essa interação orgânica das nações unidas que não envolve tão
somente a ONU, como visto acima. Esse é um órgão de tem função gerencial, tendo uma
capilaridade muito grande. Programas como PNUD (Programa das Nações Unidas para o
desenvolvimento), IDH, etc. Então, ele é formulado pelo ECOSOC.

O ECOSOC foi responsável pelo desenvolvimento da ODM de 2000-2015 e também pela


ODS de 2015-2030.

http://www.agenda2030.org.br/sobre/

Já tivemos no passado, o Conselho de Tutela, que foi desativado, deixando de funcionar, e


em seu lugar foi criado o Conselho de Direitos humanos que vamos ver abaixo:

5. Conselho de Direitos Humanos (CDH): Composto por 47 Estados-


membros, com uma composição regional diversificada, visando
atender à diversidade cultural das Nações Unidas.

96
Esse conselho é considerado um órgão auxiliar da Assembleia Geral, porém pode adotar
resoluções para os Estados e, eventualmente, em caso de grave crise de segurança
internacional, até pode acionar o Conselho de Segurança.

É um órgão que tem um funcionamento recente. É considerado um órgão central, órgão


político, o Brasil faz parte, tendo uma atuação muito questionada nos últimos anos
(totalmente opostas, como por exemplo: aborto, direito da mulher, questões raciais).

O Brasil, por exemplo, foi o propositor de uma resolução que entende que o racismo é
incompatível com a democracia. Então países em que o racismo seja considerado
institucionalizado, não poderiam ser considerados democráticos. Recomenda-se uma
pesquisa sobre isso (Jamil Chaves - Atuação do Brasil recente no CDH).

Os EUA saiu da CDH, entendendo que não era um conselho legítimo para tomar as decisões.

A CDH ainda tem potencial para uma atuação mais efetiva e passa por uma questão

conflituosa no Direito Internacional, que a seguinte → Proteção dos Direitos Humanos:


intervenção para proteger as pessoas ou não intervenção para garantir a soberania?

Uma outra questão é quanto ao universalismo dos Direitos Humanos vs Multiculturalismo


→ Essa é uma discussão entre o absolutismo e o relativismo dos direitos humanos. Existe

algum núcleo de direitos que a humanidade não vai permitir ultrapassar? Ou o

multiculturalismo deixará um relativismo, já que se tem que respeitar a diversidade

cultural da sociedade. Ex: Práticas tribais.

A proteção dos Direitos Humanos deve ser considerada em algum aspecto de maneira
absoluta? Ou temos que lidar com o relativismo?

6. Corte Internacional de Justiça e Jurisdição Internacional (CIJ):


Composta por 15 juízes e diferentes nacionalidades, eleitos por ⅔ da
Assembleia Geral, por indicação do Conselho de Segurança.

O mandato é de 9 anos, podendo ser reconduzido. A CIJ funciona na Haia, Países Baixos.

Somente Estados podem litigar perante a Corte, que é responsável por aplicar o direito
internacional. Questões de direito interno não são decididas pela CIJ, nem questões
envolvendo particulares, OIs, ONGs, etc.

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A competência consultiva da Corte pode ser acionada por OIs, nas hipóteses previstas na
Carta da ONU. O Estatuto da CIJ é um anexo da Carta. Portanto, todos os Estados-membros
da ONU são também da Corte. O fato de serem todos Estados-membros da Corte, não
significa dizer que a jurisdição é obrigatória. Art. 36, Estatuto da CIJ, que estabelece a
cláusula facultativa e jurisdição obrigatória. De modo que, a jurisdição a corte pode ser
exercida nas seguintes situações:

a) Os Estados em conflito são signatários da Cláusula Facultativa de Jurisdição


Obrigatória. → Os dois Estados declararam, unilateralmente, que aceitam a

jurisdição obrigatória da Corte e, portanto, eles estão obrigados a limitar. O BR

não é signatário desse cláusula, então o brasil não pode ser acionado. Por não ser

signatário, o BR não pode obrigar a nenhum Estado litigar na corte.

b) Jurisdição Convencional → Isto é, quando os Estados em conflito previram em

tratado que a CIJ teria jurisdição para resolver os litígios resultantes do tratado. É

como se fosse uma cláusula arbitral. Para litígios decorrentes daquele tratado, a

Corte poderá ser acionada neste acordo para discutir a aplicação deste acordo. Ex:
Pacto de Bogotá, da OEA.
c) Solução de compromis → Acordo especial firmado entre Estados em conflito para

atribuir à CIJ a competência para resolver litígio. É um tratado bilateral pelo qual

os Estados se comprometem a aceitar a decisão da corte.

A CIJ é o principal órgão judiciário das Nações Unidas voltados para resolver conflitos entre
Estados sobre matéria de Direito Internacional, e por isso tem uma importância tremenda na
formação e desenvolvimento do Direito Internacional.

https://www.youtube.com/watch?v=-jGOBQ1s7y4 → Vídeo funcional e esclarecedor acerca

da CIJ.

O BR já teve um caso levado à Corte por Honduras, quando houve um golpe de estado em
Honduras e o presidente fugiu, e outro político assumiu a presidência. Asilo diplomático
cedido pelo BR ao presidente que fugiu.

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O tema da CIJ puxa uma discussão sobre a jurisdição internacional. Leitura de dois textos
que tratam de Jurisdição internacional: Proliferação de Tribunais Internacionais e como isso
deve ser observado no Direito Internacional.

Texto: Tribunais Internacionais e Sistemas Interamericanos de Direitos Humanos

Proteção Internacional da Pessoa Humana (A PESSOA HUMANA COMO


SUJEITO DE DIREITO INTERNACIONAL)

1. Evolução histórica

A pessoa humana não aparece como sujeito na origem do DI, mas num processo histórico que
acontece paralelamente ao surgimento do DI moderno, culmina com a entrada da pessoa
humana na condição de sujeito de DI séculos mais tarde. epois que os Estado surgem, ainda
no contexto da Idade Média, o feudalismo que prevalecia como modo de produção não
permita o reconhecimento de direitos (o acesso a sociedade era por meio de privilégios). Com
o processo histórico de surgimento dos Estados, num primeiro momento, isso não muda
(absolutismo). O texto sobre a transição do absolutismo mostra que com o advento dos pactos
de poder, o poder do reino começa a ser limitado. Esses pactos de poder eram no âmbito de
validade, apenas uma modificação do poder. Diferença entre esses pactos de poder e as
Constituições (pág. 21). Esses pactos de poder estabelecem direitos subjetivos (instrumentos
de comunicação que permitam aos titulares do direito a acessarem a sociedade, buscando a
tutela dos seus direitos.

Precedentes históricos da afirmação dos direitos humanos no plano internacional:

➔ Proibição do tráfico de pessoas e da escravidão → Con. de Viena, de 1815, e

Conferência de Bruxelas, 1890-1: Qundo essa conferencia foi assinada, o Brasil


tinha abolido a escravidão depois de muita pressão internacional.

Essa proibição do tráfico de pessoas tem um caráter muito mais econômico do que o
humanista. Por mais que se trate de uma perspectiva econômica, foi um precedente
importante para o desenvolvimento dos direitos humanos.

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➔ Comitê Internacional da Cruz Vermelha, 1863 → direito humanitário:

proteção das pessoas em situações de conflito armado o calamidades

A cruz vermelha é uma entidade criada por alguns suíços e que goza de financiamento pelos
Estados, mas ela não é uma organização internacional. A cruz vermelha inaugura o estatuto
da neutralidade. Essa neutralidade traz proteção e deveres.

➔ Criação da Organização Internacional do Trabalho, 1919

Criada ainda no período entre guerras. A OIT é considerada de segunda dimensão. É uma
intervenção do Estado na economia a fim de reduzir as disparidades. A OIT é fruto de uma
reação do capitalismo às pressões da sociedade por melhores condições de trabalho.
Estabelecendo um patamar internacional de trabalho.

➔ Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948 → marco histórico do

processo de afirmação internacional dos direitos humanos

Ela serve como uma espécie de memória para que os Estados não desçam do patamar
estabelecido. A DUDH não é um tratado, mas um comprometimento com a sociedade. Não é
uma obrigação de direitos e deveres entre Estados. A DUDH é importante pelo seu conteúdo,
porque dele também decorre diversas convenções, como as citadas logo abaixo:

★ Convenção para a proibição e repressão ao crime de genocídio, 1948


★ 4 Convenções de Genebra sobre Direito Humanitário, 1949
★ Estatuto dos Refugiados, 1950
★ Conv. Europeia de Dir. Humanos, 1951
★ Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, 1966
★ Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e
Protocolo, 1966
★ Conv. Americana de DIreitos Humanos, 1969

A partir desses é possível encontrar vários outros, como a proteção da convenção do direito
da criança. Inúmeras Constituições dos Estados que fazem referência à DUDH. A nossa
CF/88, art. 5º, podemos ver um pouco dessas referências. Aqui, começa-se a reconhecer as
pessoas humanas como sujeito de direito internacional.

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Em 1993 ocorreu a Conferência de Viena sobre Direitos Humanos, o qual o documento ficou
conhecido como Ação de Viena em que os Estados se comprometem a aceitar a criação e
efetivação dos direitos humanos.

2. A proteção internacional dos Direitos Humanos


● Sistema Regional: Temos três sistemas regionais: O europeu, o
interamericano e o africano. Todos eles contemplam tribunais direcionados
para o julgamento dos Estados partes por violação dos direitos humanos.

O SISTEMA INTERAMERICANO de Proteção dos direitos humanos é forjado a partir de


dois órgãos: Comissão Interamericana de Direitos Humanos, prevista na Carta da OEA e
estabelecida pelo PSJCR; e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que foi criada pelo
PSJCR.

Em 1948 foi criada a OEA e na ocasião em que se criou a OEA, na sua carta, ficou
estabelecido que haveria uma comissão de direitos humanos para implementar os direitos
humanos na região. Na Carta da OEA não diz nada sobre corte. Em 69, foi aprovada a
Convenção americana de DH da OEA, nessa convenção, além de estabelecer o que seria a
comissão, criou uma corte (que não estava prevista na OEA) voltada para julgar aqueles que
violassem a OEA. Só que, alguns países não ratificaram a convenção de Direitos Humanos.
Então, a razão política, é que o número de estados membros da OEA, latino americano, é
muito maior que os que falam em inglês. Por essa razão, os estados começaram a chamar a
convenção americana de DH de PSJCR (já que os EUA não fazem parte). Por isso, um órgão
é da OEA e outro do PSJCR.

O sistema interamericano é acessível às pessoas por meio da Comissão IDH. As pessoas não
podem ir direto para a corte.

A Comissão tem uma competência que abrange todos os instrumentos de proteção dos
direitos humanos no plano regional, mas atua somente por meio de recomendações, não
tendo, portanto, caráter judicial. A comissão é composta por 7 comissários, de diferentes
nacionalidades, aprovados na Assembleia Geral da OEA. A Convenção Interamericana atua
por meio de recomendações - “soft law”.

A Corte é acessível apenas à Comissão e aos Estados membros. A Corte, na sua competência
litigiosa, é voltada para o julgamento dos Estados membros. A Corte possui competência
consultiva sobre a aplicação do PSJCR. A Corte atua por sentenças - “hard law” - tem força

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de título executivo judicial no Brasil, independentemente de qualquer homologação. A corte
possui um sistema de acompanhamento do cumprimento das sentenças, emitindo relatórios
anuais para a OEA.

O objetivo principal do SIPDH não é punir os Estados, mas sim aumentar, constantemente, o
grau de respeito aos DH na região. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE →
Perpassa pela discussão sobre a validade das normas, à luz da Constituição. Ou seja, trata-se
de uma avaliação material e formal.

Diferente de CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE. A validade das normas


presume uma relação hierárquica. Não havendo hierarquia, o que o Controle de
Convencionalidade propõe é um diálogo entre as fontes, em busca de decisões mais
adequadas para a estabilização do sistema do direito em face às demandas da sociedade. No
que tange às normas de direitos humanos, o princípio “pro homine” em geral resolverá a
prevalência.

INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA

Art. 109, par. 5º, CF/88. → Aos juízes federais compete processar e julgar:

§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da


República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes
de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá
suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou
processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.

Trata-se de um reflexo constitucional da condenação do Brasil no primeiro caso em que o


Brasil foi condenado.

O objetivo da IDC é garantir que por causa de um julgamento equivocado, a república


federativa do Brasil venha a ser condenada internacionalmente. Ou seja, nas situações que
houver dúvidas sobre a imparcialidade do tribunal, o procurador geral da república poderá
deslocar a competência do caso para a justiça federal.

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● Sistema Universal
3. AULA DIA 24/11 DEPOIS DA APRESENTAÇÃO DO TRABALHO

Tribunal Penal Internacional

1. Histórico

O D.I. é voltado para a relação da pessoa humana, um sujeito que poderia ser vinculado às
suas normas.

2. Estrutura
3. Jurisdição

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