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A REVISTA DE

EMPREGADOS COMO
MECANISMO DE
CONTROLE E SEUS
LIMITES

Prof. Renata Nóbrega Figueiredo


Prof. Renata Nóbrega Figueiredo
Conceito e fundamentos do
poder diretivo do empregador
Faculdade que assiste ao chefe de ditar
normas de caráter prevalentemente técnico
ou técnico-administrativas.

Principais correntes: teoria da propriedade


privada, teoria institucional e a teoria
contratual.
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Teoria da propriedade privada: direito
constitucional do empregador (art. 170, II,
CRFB/88), de ser titular, dono, a empresa é
objeto de seu direito de propriedade.

Teoria institucional: concepção institucional


ou comunitária da empresa, acepção
político-social.

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Teoria Contratual: é a mais consistente, pois
fundamenta-se na existência dos poderes
do empregador decorrentes do contrato de
trabalho celebrado entre as partes.

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Titular do Poder Diretivo. Natureza
Jurídica e Limites.
Empregador e seus Prepostos

Natureza jurídica

Direito potestativo e Direito-função (CC,


art.421 do CC e art. 8º da CLT)

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A função social do contrato mitiga o
princípio da autonomia contratual privada. O
poder diretivo, como emana do contrato,
deve ser exercido com restrições.

Limites externos: constitucionais (art. 5º, 7º


e 170 CRFB/88)

Limites internos: licitude do ato, boa-fé.

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Colisão de direitos
fundamentais
Direito à intimidade e vida privada do
empregado (CRFB/88, art. 5º, X)

versus

Direito de propriedade (CRFB/88, art. 5º,


XXIII e 170, II).
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Dado caráter de princípios e idêntica
posição hierárquica que ambos ocupam,
não é possível estabelecer e justificar uma
relação de precedência absoluta ou
incondicionada.

Princípios constitucionais traduzem


mandamentos de otimização e não regras
do tipo “tudo-ou-nada”.

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Robert Alexy
Teoria da Ponderação de interesses e
Princípio da Proporcionalidade em sentido
estrito

“Quanto maior é o grau da não-satisfação


ou de afetação de um princípio, tanto maior
tem que ser a importância da satisfação do
outro.”
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Funções diretivas do empregador:

1) Decisões executivas: atos meramente


constitutivos, dizem respeito à organização do
trabalho;
2) Instrução: se exterioriza por meio de ordens ou
recomendações, cuja eficácia depende de uma
observância do trabalhador;
3) Controle: consiste na faculdade do empregador
de fiscalizar as atividades profissionais de seus
empregados. Compreende as revistas.
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A revista como mecanismo de controle

A revista em face da lei, da jurisprudência e da


doutrina:
 Sem dispositivo legal até início da década de
1990.
 Jurisprudência: inclina-se pela possibilidade,
há mais de meio século. Fundamento: direito
do empregador na salvaguarda do seu
patrimônio.

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Meados de 1990: Lei Municipal de Belo
Horizonte (MG), proibindo revista íntima (Lei
n. 7.451/98)

Lei Municipal de Vitória (ES) – L. 4.603/98,


idem.

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CLT: art. 373-A, VII, inserido no capítulo do
trabalho da mulher, veda a revista íntima da
trabalhadora.

CRFB/88: Art. 5, I - iguala homens e


mulheres em direitos e deveres, portanto, os
homens poderão invocar, por analogia, o
citado dispositivo para se protegerem contra
revistas íntimas.

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Situações que justificam a revista:

Deve constituir último recurso para salvaguarda e


proteção do patrimônio (circunstâncias concretas
que justifiquem a revista).

Ex. Colocação de etiquetas magnéticas em livros e roupas


torna desnecessária a inspeção de bolsas e sacolas nos
estabelecimentos comerciais.

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Requisitos:
1) Caráter geral e impessoal, para evitar
suspeitas, por meio de um critério
objetivo (sorteio, numeração, todos os
integrantes de um turno ou setor);
2) Ajuste prévio com a entidade sindical ou
com o próprio empregado, na falta
daquela, respeitando-se ao máximo, os
direitos da personalidade.

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Âmbito de realização da revista. Limites

Âmbito da empresa: local de trabalho, entrada e


saída deste. Em geral, deve ser realizada na
saída.

Exceção: em casos excepcionais, em face do


fenômeno terrorista no mundo, e também em
determinadas atividades (minas, eletricidade, por
ex.), para evitar a introdução de objetos
explosivos, colocando em risco a segurança das
pessoas ou o patrimônio empresarial.

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Revista que pressupõe inspeção direta
sobre o corpo do empregado. Violação
ao direito à intimidade.

Traduz atentado contra o pudor natural da


pessoa, violando o direito à intimidade (art.
5º, X, da CF/88).

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Jurisprudência:
HORAS IN ITINERE. TEMPO DE SERVIÇO. O tempo despendido pelo empregado até o
local de trabalho e para o seu retorno, em condução fornecida pelo empregador, quando
não servido por transporte público regular, é computável na jornada de trabalho (Súmula
n. 90, I, do colendo TST). ACUSAÇAO DE FURTO. REVISTA ÍNTIMA POR
EMPREGADO DE OUTRO SEXO. DANO MORAL CONFIGURADO. Demonstrado que
a empregada sofreu constrangimento moral ao ser indevidamente acusada da prática de
furto de um aparelho celular e, em razão disso, submetida à revista íntima pelo chefe da
segurança patrimonial da empresa, é devida a condenação da reclamada ao pagamento
de indenização por danos morais, pois presentes todos os elementos necessários para a
composição da tríade que permite concluir pela configuração da responsabilidade civil, a
saber: a ocorrência de dano, ação ou omissão voluntária e nexo de causalidade entre o
dano e a conduta.
(TRT-14 - RO: 391 RO 0000391, Relator: DESEMBARGADORA SOCORRO MIRANDA,
Data de Julgamento: 02/09/2011, SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DETRT14
n.165, de 05/09/2011)

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Jurisprudência:
O TST tem se posicionado no sentido de
condenar empresas que fazem revista de
modo a constranger os empregados a se
despirem em salas espelhadas, sem que
pudessem ver quem os observava (3ª
Turma – RR 688.679/2000.1, Rel.ª Min.
Maria Cristina Peduzzi, DJ 27.05.2005).

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Revistas em objetos do empregado,
veículo ou em espaços reservados

Bolsas, carteiras, papéis, fichários do


empregado ou espaços a ele reservados,
como armários, mesas, escrivaninhas,
escaninhos e outros que se tornam privados
por destinação.

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Observações finais
Critério objetivo (sorteio, numeração);

Saída do trabalho;

Mediante certas garantias (presença de um


representante dos empregados ou outro colega de
trabalho);

Colegas do mesmo sexo.

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Jurisprudência:
RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL. REVISTA NOS
PERTENCES DOS EMPREGADOS. Na esteira da
jurisprudência desta Corte Superior, a revista nos
pertences dos empregados, sem contato físico, não
importa em constrangimentos, tampouco agressões morais
à intimidade, à imagem profissional do trabalhador ou a
quaisquer dos bens protegidos pelo artigo 5º, X, da Carta
da Republica. Recurso de revista conhecido e provido.
(TST - RR: 10852220115090014 1085-22.2011.5.09.0014,
Relator: Hugo Carlos Scheuermann, Data de Julgamento:
14/05/2013, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT
24/05/2013)
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Direito Comparado
Itália: Art. 6º, Lei 300/1970 (Estatuto dos
empregados da Itália), veda as revistas
pessoais de controle sobre o empregado,
salvo nos casos em que sejam
indispensáveis aos fins da tutela do
patrimônio empresarial (qualidade dos
instrumentos de trabalho, matéria-prima ou
produtos).

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Espanha: art. 10.1 da Constituição Espanhola
consagra o respeito à dignidade da pessoa, e o
art. 18 do Estatuto dos Empregados na Espanha,
dispõe que “as revistas sobre a pessoa do
empregado, seus pertences e efeitos particulares,
quando necessários à proteção do patrimônio do
empregador e dos demais empregados da
empresa, devem ser feitas dentro do
estabelecimento e no horário de trabalho”.

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França: a jurisprudência francesa condena a
submissão do empregado a revistas
vexatórias, ou realizadas por pessoas de
outro sexo, mas admite o controle nos
vestiários onde o empregado guarda os
seus objetos pessoais, por motivo de
segurança e higiene, e desde que realizado
na presença do empregado. (Cons. Èt. 12
juin 1987, Droit social, 1987, 654).

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China: a legislação trabalhista chinesa, de 3
de abril de 1992, sobre a proteção dos
direitos e interesses da mulher, após
considerar sua liberdade pessoal inviolável,
proíbe seja ela submetida a revistas físicas
ilícitas.

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Canadá: as leis são omissas. As revistas
sobre a pessoa do empregado e os locais
de trabalho são permitidas quando se
destinam a prevenir ou reprimir furtos,
conforme previsto em convenções coletivas
ou no costume.

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Argentina: A Lei do Contrato de Trabalho (L.
n. 20.744, de 1976), dispõe de forma
semelhante à legislação italiana. O art. 70
prevê que os sistemas de controle pessoais
do empregado deverão ser usados
discretamente.

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Fim

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