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Caso 7 - Mário

Mário, um universitário recém-formado de 22 anos, foi levado ao pronto-socorro


por seus amigos ao reaparecer estranhamente calado depois de um sumiço de três dias.
Seus amigos relataram que ele havia recentemente feito tratamento para câncer de
testículo, mas que estava de bom humor na última vez que o viram, quatro noites antes.
Ele não havia aparecido para uma reunião planejada para o dia seguinte e não respondia
a e-mails, mensagens de texto, nem chamadas telefônicas. Eles não sabiam como entrar
em contato com seus pais ou parentes e não dispunham de um histórico.

No pronto-socorro, Mário se relacionava com os outros de maneira estranha,


com postura ereta e rígida, sem fazer contato visual e sem responder a perguntas.
Depois de cerca de 10 minutos, ele subitamente agarrou uma componente da equipe
pelo braço. Embora parecesse não ter intenção ou objetivo de machucá-la, recusou-se
a largá-la, e ela foi incapaz de livrar-se até a intervenção de um segurança. Nesse
momento ele recebeu haloperidol e lorazepam via intramuscular. Durante a hora que
se seguiu, suas extremidades ficaram rígidas e, enquanto se encontrava deitado no leito
hospitalar, manteve os braços acima da cabeça com os cotovelos dobrados. Ele foi
internado para atendimento médico. Uma tomografia computadorizada (TC) da cabeça,
testes laboratoriais de rotina e um exame toxicológico de urina não acrescentaram
dados relevantes, exceto que sua creatina quinase (CPK) estava elevada em 906 IU/L.
Ele estava com taquicardia de 110 batimentos por minuto. Não apresentava febre, e a
pressão arterial estava dentro dos parâmetros normais.

Durante o exame, sua aparência era a de um jovem magro, deitado na cama com
a cabeça fora do travesseiro em uma posição estranha. Ele levantava e abaixava
rigidamente os braços. O cabelo caía em tufos. Olhava direto para frente, com piscadas
ocasionais, sem fazer contato visual. Não parecia estar com dor. O exame físico revelou
uma resistência inicial contra todo tipo de movimento dos braços. Quando um braço era
movido em uma posição pelo examinador, ficava naquela posição. Não havia
contrações, tremores ou espasmos involuntários do músculo evidente. Falando com
uma latência longa e produção significativamente reduzida, ele expressou medo de que
estivesse morrendo. Ao expressar lentamente sua ansiedade, o corpo permaneceu
rígido e duro. Negou alucinações auditivas ou visuais. Estava totalmente desperto, alerta
e orientado para tempo e lugar, mas não participou de outros testes cognitivos.

Mário permaneceu sem alterações clínicas durante três dias enquanto recebia
líquidos por via intravenosa. Não foi administrado nenhum medicamento psicoativo.
Testes laboratoriais, um eletroencefalograma (EEG) e uma ressonância magnética (RM)
do encéfalo não revelaram nada destoante e sua CPK seguiu uma tendência à redução
após atingir um pico de 1.100 IU/L. No quarto dia de internação, recebeu uma dose de
teste de lorazepam intravenoso 1mg e então uma dose de repetição de 1mg após 5
minutos. Ele não ficou sedado. Seu estado mental não mudou, exceto pelo discurso
ligeiramente mais produtivo após a segunda dose. Foi iniciada a administração de
lorazepam intravenoso, 1mg a cada período de quatro a seis horas. Depois de 24 horas,
sua rigidez se resolveu, o discurso estava fluente e com senso de urgência, e ele se
tornou bastante ativo e agitado. Andava de um lado para o outro no corredor, seguia as
enfermeiras e tentava sair do hospital. Disse à equipe, a outros pacientes e a visitantes
que ele era um grande artista e que havia curado seu câncer. Sua CPK ficou normal e a
taquicardia se resolveu. Continuava sem febre.

Os pais do Mário chegaram no sexto dia de internação, vindos de outra cidade.


Relataram que sua história psiquiátrica anterior havia sido uma depressão que ele
desenvolveu após ser diagnosticado com câncer de testículo um ano antes. O paciente
estava sendo medicado com 50mg/dia de sertralina e estava bem até 10 dias antes da
internação, quando descobriu que estava com recidiva do câncer de testículo com
metástase retroperitoneal. Foi submetido imediatamente a quimioterapia com
cisplatino, etoposídeo e dexametasona. Depois de receber a quimioterapia, Mário disse
aos pais pelo telefone que se sentia “excelente”, mas desde então não respondia mais
a seus telefonemas e mensagens. Esse não era um comportamento totalmente estranho
de seu filho, que entrava em contato “irregularmente", mas eles ficaram cada vez mais
preocupados e finalmente pegaram um avião para visitá-lo depois da falta de notícias
durante 10 dias. Os pais também mencionaram que a única história familiar relevante
era o transtorno bipolar grave de um tio por parte de mãe, o qual havia sido tratado
com eletroconvulsoterapia.

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