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O CONTROLE ENDÓCRINO DO EQUILÍBRIO DO CÁLCIO

Devido ao cálcio ser tão importante para diversas funções fisiológicas, a concentração
plasmática de Ca2+ é estreitamente regulada.
Três hormônios regulam o movimento de Ca2+ entre osso, rim e intestino: hormônio da
paratireoide, calcitriol (vitamina D3) e calcitonina. Destes, o hormônio da paratireoide e o
calcitriol são os mais importantes em seres humanos adultos. As glândulas paratireoides,
que secretam o hormônio da paratireoide, foram descobertas nos anos 1890 por
fisiologistas enquanto eles estudavam o papel da glândula tireoide. Esses cientistas
observaram que cães e gatos morriam poucos dias após a remoção total da tireoide. Em
contrapartida, os coelhos morriam se fossem removidas apenas as pequenas “glândulas”
paratireoides situadas junto à tireoide. Os cientistas, então, procuraram as glândulas
paratireoides em cães e gatos e as encontraram escondidas atrás da glândula maior da
tireoide. Se as glândulas paratireoides fossem deixadas quando a tireoide era
cirurgicamente removida, os animais sobreviviam.
Os cientistas concluíram que as paratireoides continham uma substância que era
essencial à vida, embora a glândula tireoide não o fosse. Essa substância essencial era o
hormônio da paratireoide. A ausência do hormônio da paratireoide causa tetania
hipocalcêmica e paralisia respiratória, como mencionado na seção das funções do cálcio.
Quatro pequenas glândulas paratireoides repousam sobre a superfície dorsal da glândula
tireoide. Elas secretam o hormônio da paratireoide (PTH) (também chamado de
paratormônio), um peptídeo que possui função principal de aumentar as concentrações
plasmáticas de Ca2+. O estímulo para a liberação do PTH é a diminuição das
concentrações plasmáticas de Ca2+, monitorada por um receptor sensível ao Ca2+
(CaSR, do inglês, Ca2+-sensing receptor), localizado na membrana celular. O CaSR, um
receptor acoplado à proteína G, foi o primeiro receptor de membrana identificado cujo
ligante era um íon, em vez de uma molécula orgânica.
O PTH atua no osso, no rim e no intestino para aumentar as concentrações plasmáticas de
Ca2+. O Ca2+ plasmático elevado atua como retroalimentação negativa e desliga a
secreção de PTH. O hormônio da paratireoide aumenta o Ca2+ plasmático de três formas:
1. O PTH mobiliza cálcio dos ossos. O aumento da reabsorção óssea pelos osteoclastos
leva aproximadamente 12 horas para se tornar mensurável. Curiosamente, embora os
osteoclastos sejam responsáveis por dissolver a matriz calcificada e serem um alvo lógico
para o PTH, eles não possuem receptores para PTH. Em vez disso, os efeitos do PTH são
mediados por um conjunto de moléculas pará-crinas, incluindo a osteoprotegerina (OPG) e
um fator de diferenciação de osteoclastos, chamado de RANKL. Esses fatores parácrinos
estão sendo intensamente investigados como agentes farmacológicos em potencial. No
final de 2010, um inibidor da RNAKL, chamado de denosumab, foi aprovado para o
tratamento de condições com excessiva perda óssea.
2. O PTH aumenta a reabsorção renal de cálcio. Como mencionamos previamente, a
reabsorção regulada de Ca2+ ocorre no néfron distal. O PTH aumenta simultaneamente a
excreção renal do fosfato, reduzindo sua reabsorção. Os efeitos opostos do PTH sobre o
cálcio e o fosfato são necessários para manter suas concentrações combina-das abaixo de
um nível crítico. Se as concentrações excedem tal nível, formam-se cristais de fosfato de
cálcio que precipitam fora da solução. As elevadas concentrações de fosfato de cálcio na
urina são uma das causas da formação de cálculos renais. Discutiremos os aspectos
adicionais da homeostase do fosfato mais adiante.
3. O PTH aumenta indiretamente a absorção intestinal de cálcio pela sua influência na
vitamina D3, um processo descrito adiante.
A absorção intestinal de cálcio é estimulada pela ação de um hormônio conhecido como
1,25-di-hidroxicolecaliferol ou 1,25(OH)2D3, também conhecido como calcitriol ou vitamina
D3. O corpo forma calcitriol a partir da vitamina D que foi obtida pela dieta ou sintetizada
na pele pela ação da luz solar sob os precursores formados a partir de acetil-CoA. As
pessoas que vivem acima de 37° graus de latitude ao norte ou abaixo de 37° graus de
latitude ao sul não recebem luz solar o suficiente para produzir quantidades adequadas de
vitamina D, exceto no verão, e devem considerar tomar suplementos vitamínicos.
A vitamina D é modificada em dois passos – primeiro no fígado, e então nos rins – para
formar a vitamina D3 ou calcitriol. O calcitriol é o principal hormônio responsável por
aumentar a absorção de Ca2+ a partir do intestino delgado. Além disso, o calcitriol facilita
a reabsorção renal de Ca2+ e ajuda a mobilizar Ca2+ para fora do osso.
A produção de calcitriol é regulada no rim por ação do PTH. Concentrações plasmáticas
diminuídas de Ca2+ estimulam a secreção de PTH, que estimula a síntese de calcitriol.
A absorção renal e intestinal de Ca2+ aumenta o Ca2+ sanguíneo, desligando o PTH em
uma alça de retroalimentação negativa, que diminui a síntese de calcitriol.
A prolactina, o hormônio responsável pela produção do leite em mulheres que estão
amamentando (lactantes), também estimula a síntese de calcitriol. Essa ação assegura a
absorção máxima de Ca2+ a partir da dieta em um momento em que a demanda
metabólica para Ca2+ está alta.
O terceiro hormônio envolvido no metabolismo de cálcio é a calcitonina, um peptídeo
produzido pelas células C da tireoide. As suas ações são opostas às do hormônio da
paratireoide. A calcitonina é liberada quando as concentrações plasmáticas de Ca2+
aumentam. Experimentos realizados em animais mostram que a calcitonina diminui a
reabsorção óssea e aumenta a excreção renal de cálcio.
A calcitonina aparentemente desempenha um papel secundário no equilíbrio diário do
cálcio em seres humanos adultos. Os pacientes cujas glândulas tireoides foram removidas
não mostram nenhum distúrbio no equilíbrio do cálcio, e pessoas com tumores na tireoide
que secretam grandes quantidades de calcitonina também não apresentam efeitos
nocivos.
A calcitonina tem sido utilizada medicamente para tratar pacientes com doença de Paget,
uma condição ligada à genética na qual os osteoclastos são superativos e o osso se torna
enfraquecido devido à reabsorção. A calcitonina nesses pacientes estabiliza a perda óssea
anormal, levando os cientistas a especularem que esse hormônio é mais importante
durante o crescimento na infância, quando uma deposição óssea líquida é necessária, e
durante a gestação e a lactação, quando o corpo da mãe precisa de suprimento de cálcio
para ela e para o seu filho.
A homeostasia do fosfato é intimamente relacionada à homeostasia do cálcio. O fosfato é
o segundo ingrediente principal da hidroxiapatita no osso, Ca10(PO4)6(OH)2, e grande
parte do fosfato presente no corpo humano é encontrado no osso. Entretanto, os fosfatos
possuem outros importantes papeis fisiológicos, incluindo a transferência e o
armazenamento de energia em ligações de fosfato de alta energia, e a ativação ou
desativação de enzimas, transportadores e canais iônicos via fosforilação e
desfosforilação. Os fosfatos também fazem parte da estrutura do DNA e do RNA. A
homeostasia do fosfato é paralela à do Ca2+. O fosfato é absorvido no intestino, filtrado e
reabsorvido nos rins e distribuído entre o osso, o LEC e os compartimentos intracelulares.
A vitamina D3 facilita a absorção intestinal de fosfato. A excreção renal é afetada tanto
pelo PTH (que promove a excreção de fosfato) como pela vitamina D3 (que promove a
reabsorção de fosfato).

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