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Escola Superior da Amazônia

Uma Grande Faculdade. Um Grande Futuro

PLANO DE AULA

Curso de Bacharelado em Direito

P L A N O D E AU L A
DISCIPLINA: Falencia e Recuperaçao de
PERÍODO: 2021. 2
Empresas
TURMA: DIR4NA PROFESSORA: Marina Pantoja
CARGA HORÁRIA: 40h TITULAÇÃO: Mestre e Doutora

TEMA DA AULA FREMP


DATA

PLANO DE AULA 07

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Escola Superior da Amazônia
Uma Grande Faculdade. Um Grande Futuro

PROFESSOR Profa. Dra. Marina Pantoja


CURSO Direito
DISCIPLINA Falência e Recuperação de empresas
TEMA DA AULA
UNIDADE II: DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

DATA 27.10. 2021

Objetivo da aula: Introduzir as disposições gerais da legislação brasileira relativas ao direito falimentar.

O art. 51 trata da petição inicial de recuperação judicial.

Embora especial o procedimento, são aplicáveis os requisitos gerais de qualquer petição inicial previstos no art.
319 do Código de Processo Civil. Ao lado dos requisitos gerais, há requisitos específicos, dispostos no art. 51.

Claro que a petição inicial deve indicar o juízo ao qual é dirigida (art. 319, I, do Código de Processo Civil), sendo
competente o foro do principal estabelecimento do devedor (art. 3º).

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O autor deve ser adequadamente qualificado (art. 319, II, do Código de Processo Civil) e deve indicar as demais
empresas do grupo de fato ou de direito do qual faça parte (inciso II, e, incluído pela Lei 14.112/2020). Embora os
credores figurem como réus, não se exige a qualificação de cada um deles na petição inicial, bastando a instrução
com relação completa, constando endereço físico e eletrônico de cada credor, além da natureza e do valor atualizado
do crédito, com a indicação da origem e dos regimes de vencimento, na forma do inciso III.

A causa de pedir (art. 319, III, do Código de Processo Civil), que são a crise econômico-financeira e a viabilidade
de sua superação, deve ser indicada. Por disposição do inciso I, também devem ser expostas as “causas concretas da
situação patrimonial” e as razões da crise. O intuito de exigir a exposição das causas da crise é permitir, pelos credores,
a análise da viabilidade da recuperação, para maior segurança e previsibilidade na tomada de decisões. Não se exige
que a exposição da situação patrimonial e das razões da crise seja elaborada por pessoa especializada, como ocorre
com o laudo econômico que acompanha o plano de recuperação judicial (art. 53, III), embora seja recomendável a
tecnicidade do parecer. Apesar de o texto do art. 51 mencionar que a petição inicial deva ser instruída com a
exposição, nada impede que o devedor o faça no próprio corpo da petição inicial, por seu advogado. No caso de
recuperação judicial de produtor rural pessoa física, a exposição das razões da crise deverá “comprovar a crise de
insolvência, caracterizada pela insuficiência de recursos financeiros ou patrimoniais com liquidez suficiente para
saldar suas dívidas” (§ 6º, I, incluído pela Lei 14.112/2020).

Deve haver pedido (art. 319, IV, do Código de Processo Civil), que é a concessão da recuperação judicial decorrente
da aprovação do plano de recuperação a ser apresentado pelo devedor no momento oportuno. Diante da

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especificidade procedimental, nem sequer se pode cogitar da cumulação de pedido de recuperação judicial com
qualquer outro.

Também é requisito da petição inicial a indicação do valor da causa (art. 319, V, do Código de Processo Civil). Por
previsão expressa § 5º, incluído pela Lei 14.112/2020 e na linha do que já havia consolidado a jurisprudência, o valor
da causa deverá corresponder ao montante total dos créditos sujeitos à recuperação judicial.

No procedimento central do processo de recuperação judicial não há dilação probatória, sendo as provas limitadas
aos documentos que instruem a petição inicial. Com efeito, pode haver ampla produção probatória nas impugnações
de crédito, mas não é necessária a indicação dos meios de prova na petição inicial, de modo que não se faz
inteiramente aplicável o requisito da indicação de provas previsto no art. 319, VI, do Código de Processo Civil.

Por fim, exige o art. 319, VII, que o autor indique a opção pela realização ou não da audiência de mediação ou
conciliação. Mesmo que se mostre adequada a mediação dos interesses em algum momento do procedimento, na
forma dos arts. 20-A a 20-D, o requisito não é pertinente à petição inicial da recuperação judicial.

Além disso, petição inicial deve ser instruída com documentos comprobatórios do preenchimento dos requisitos
de admissibilidade previstos no art. 48, que demonstrem que o autor é empresário regular há mais de dois anos, não
é falido, não obteve recuperação judicial recente, nem foi condenado por crime falimentar.

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Em complemento, o art. 51 traz uma extensa relação de documentos essenciais. Além da (i) exposição das causas
da situação patrimonial e da crise, impõe-se a instrução da petição inicial com (ii) demonstrações contábeis dos
três últimos exercícios (e, em caso de o ajuizamento ocorrer antes do fim do prazo para entrega do balanço do
exercício anterior, deve ser apresentado o balanço prévio, até que o definitivo possa ser juntado, conforme § 4º);
assim como as demonstrações contábeis especialmente levantadas para a recuperação judicial, contendo balanço
patrimonial, demonstração de resultados acumulados e do resultado do corrente exercício, relatório gerencial de
fluxo de caixa atual e projetado, e descrição das sociedades de grupo societário, de fato ou de direito; (iii) relação
nominal completa dos credores, mesmo os que não sejam sujeitos à recuperação judicial, com indicação de
endereço físico e eletrônico, e especificação de natureza, classificação e valor atualizado do crédito; (iv) relação
completa dos empregados, em que constem função, salários e créditos pendentes; (v) certidão de regularidade no
Registro Público de Empresas Mercantis, ato constitutivo atualizado e atas de nomeação dos atuais
administradores; (vi) relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores; (vii) extratos
bancários e de aplicações de qualquer natureza atualizados; (viii) certidões de cartórios de protestos situados na
sede e em todas as filiais; (ix) relação de todas as ações judiciais e arbitrais em que figure como parte, com
estimativa de valores; (x) relatório detalhado do passivo fiscal; e (xi) a relação de bens e direitos integrantes do
ativo não circulante, incluídos aqueles não sujeitos à recuperação judicial, acompanhada dos negócios jurídicos
celebrados com os credores de que trata o art. 49, § 3º.

Embora público o processo, prevê o art. 51, §§ 1.º e 3.º, que os documentos de escrituração contábil, que gozam
de sigilo, sejam depositados em cartório, podendo ser acessados pelo juiz, pelo administrador judicial e, mediante
autorização judicial, por qualquer interessado.

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O § 6º destaca peculiaridades quando se trata de produtor rural pessoa física. A exposição das causas da crise
deve comprovar a iliquidez patrimonial, ou seja, a inexistência de recursos suficientes para saldar as dívidas. Por outro
lado, ao invés de documentação contábil do triênio anterior ao pedido de recuperação judicial, bastam os balanços
dos dois anos antecedentes.

Também é requisito da petição inicial a indicação do valor da causa (art. 319, V, do Código de Processo Civil). Na
linha do que já havia consolidado a jurisprudência, o valor da causa deverá corresponder ao montante total dos
créditos sujeitos à recuperação judicial. A rigor, o valor da causa deveria mesmo corresponder ao valor total dos
créditos em recuperação, mas limitados à importância anual para as prestações vincendas por tempo indeterminado
ou superior a um ano (art. 292, § 2.º, do Código de Processo Civil). Não foi nesse sentido a alteração legislativa, de
modo que, por sua especialidade, prevalece a regra do art. 51, § 5º, sobre a previsão do art. 292, § 2.º, do Código de
Processo Civil. De toda sorte, se no processo comum o valor da causa é relevante para os honorários de sucumbência,
a delimitação da competência, a definição do rito procedimental e a fixação das custas processuais, na recuperação
judicial, cujo procedimento principal não enseja condenação sucumbencial, não tramita nos Juizados Especiais e se
processa em rito próprio, o valor da causa é relevante apenas para fins de fixação das custas processuais

CONTROLE DE ADMISSIBILIDADE DO PROCEDIMENTO

No processo de recuperação judicial, o momento adequado para o controle da admissibilidade do procedimento é o


do deferimento do processamento, que segue o ajuizamento da ação. Notando a falta de requisitos, o juiz deve tomar
a providência cabível, extinguindo desde logo a ação ou determinando a correção, se sanável o defeito.

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Como medida a mitigar o risco de deferir o processamento de empresas inviáveis, mesmo sem previsão legal expressa,
os juízes passaram a determinar a realização da cognominada “perícia prévia”, utilizada para a aferição perfunctória
de viabilidade da empresa em crise, para então se decidir acerca do deferimento ou não do processamento da
recuperação judicial.

A reiteração da prática de designar perícia prévia levou à inclusão do ato na recuperação judicial pelo novo art. 51-A,
que trata da “constatação prévia”.

O objetivo da constatação não é analisar a viabilidade de recuperação, mas constatar que a empresa está em
funcionamento, qual o principal estabelecimento para fins da definição da competência e que as descrições feitas na
petição inicial e na documentação que a acompanha correspondem à realidade.

Assim, discricionariamente e sempre que entender necessário, poderá o juiz nomear profissional idôneo e
tecnicamente capaz, para constatar as reais condições de funcionamento do devedor e conferir a documentação
anexa à petição inicial.

A constatação deverá ocorrer sem prévia comunicação aos credores, sem apresentação de quesitos e,
eventualmente, sem ciência do próprio devedor, quando o juiz entender necessário.

O prazo de conclusão da constatação, com a apresentação do laudo, é de cinco dias. Apresentado o laudo, o
profissional responsável fará jus à sua remuneração, fixada de acordo com a complexidade do trabalho e devida pelo
requerente.

DEFERIMENTO DO PROCEDIMENTO

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Formulado o pedido de recuperação, cabe ao juiz decidir se defere ou não o processamento. Não se trata ainda da
concessão da recuperação, mas apenas do juízo de admissibilidade do processo, da autorização para que se inicie o
processo recuperacional.

Como dito, é no momento de deferimento do processamento que deve o juiz analisar se estão presentes os requisitos
de admissibilidade: se o requerente é legitimado, se a petição inicial é apta, se o devedor é empresário exercendo
regularmente as atividades há mais de dois anos, se não ocorre nenhum dos impedimentos previstos nos incisos do
art. 48 e se foram apresentados todos os documentos exigidos em lei.

A decisão limita-se aos requisitos de admissibilidade. Não cabe ao juiz analisar a viabilidade da superação da crise,
que é o mérito da recuperação judicial, dependente da deliberação dos credores.

Abrem-se três possibilidades ao juiz, contando ou não com a constatação prévia (art. 51-A): reputar preenchidos os
requisitos de admissibilidade e deferir o deferimento; entender que ainda pode ser atendido algum requisito faltante
e determinar a emenda; ou indeferir o processamento. O indeferimento de plano do processamento, medida extrema,
somente deve ocorrer se for impossível o preenchimento do requisito faltante, como na hipótese de não empresário,
assim se declarando, requerer a recuperação judicial.

Havendo, por outro lado, qualquer possibilidade de emenda à petição inicial, a oportunidade deve ser concedida ao
autor. Observe-se que, embora a Lei 11.101/2005 não tenha versado sobre o direito de o autor emendar a petição
inicial no caso de recuperação judicial, expressamente previu a emenda em pedido de autofalência no art. 106,
aplicável por analogia. De qualquer forma, faz-se plenamente aplicável o art. 321 do Código de Processo Civil. Afinal,
tolher do autor o direito de corrigir defeitos sanáveis é desviar da perspectiva constitucional do processo, o que é
inadmissível. Entendendo pela necessidade de emenda, o juiz deve indicar precisamente qual é a providência faltante.

Como ponto de partida para o procedimento, o deferimento do processamento é acompanhado de uma série de
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medidas descritas nos incisos do art. 52: o juiz deve nomear o administrador judicial; determinar a dispensa da
apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas atividades, inclusive para contratação com o
Poder Público, já que a restrição constante na redação original foi alterada; ordenar a suspensão das execuções contra
o devedor; determinar ao devedor a apresentação de contas mensais; e ordenar a intimação (agora eletrônica, e não
mais por carta) do Ministério Público e das Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados, Distrito Federal e
Municípios em que o devedor tiver estabelecimento, para que informem os créditos de que são titulares contra o
devedor, para ciência de todos os interessados.

DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Em linhas gerais, o devedor é livre na elaboração do conteúdo econômico do plano de recuperação. Uma extensa
relação de meios de recuperação é sugerida ao devedor (art. 50), que pode cumular mais de um ou servir-se de
instrumento não imaginado pela lei. Evidentemente, deve atentar o devedor que os destinatários do plano são os
credores, aos quais caberá aprovar ou rejeitar a proposta, levando, respectivamente, à concessão da recuperação ou
à decretação da falência. Assim, prudente que o devedor ofereça proposta que possa satisfazer minimamente a
pretensão dos credores.

2. Com intuito de atingir o fim colimado da reestruturação, o devedor poderá ainda propor em seu plano condições
diferenciadas e tratamento distinto para credores da mesma classe, ressalvadas as hipóteses em que a Lei
11.101/2005 impõe o tratamento igualitário, como na conjectura da concessão da recuperação judicial pelo chamado
cram down (art. 58) e no caso de falência (art. 126).

3. Há limites legais, contudo, à liberdade do devedor na elaboração do plano, relativos aos créditos trabalhistas:
deverá o plano prever o prazo máximo de um ano para pagamento de todos os créditos derivados da legislação
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trabalhista ou decorrentes de acidente do trabalho; e de 30 dias para pagamento dos créditos de natureza salarial,
vencidos até três meses antes do ajuizamento, no limite de cinco salários mínimos por trabalhador.

Com a inclusão do § 2º, passou-se a se permitir que o prazo seja estendido em até dois anos, desde que haja a
apresentação de garantias julgadas suficientes pelo juiz, seja o plano aprovado pela classe dos credores titulares de
créditos trabalhistas e que o plano contemple o pagamento integral dos créditos da classe, sem deságio.

OS CREDORES NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Os credores são intimados por edital da apresentação do plano, e também é publicada por edital a relação de credores
elaborada pelo administrador judicial (art. 7.º, § 2.º). Quando publicados ambos os editais, inicia-se o prazo de 30 dias
para os credores manifestarem objeção ao plano de recuperação.

A objeção é veiculada por petição, exigindo-se capacidade postulatória. Tem legitimidade para objetar qualquer
credor. Não se admite que o administrador judicial ou o Ministério Público apresentem objeção; mas, se entenderem
que há ilegalidades, devem se manifestar nesse sentido, por forma livre.

A objeção deve ser fundamentada, ainda que de forma sucinta. Então, é necessário que se aponte em que aspectos
e por quais razões o objetante discorda da proposta. Não o sendo, a objeção deve ser rejeitada liminarmente. Admite-
se que o credor desista da objeção apresentada, desde que antes de convocada a assembleia.

Se não houver objeção alguma, considera-se aprovado o plano de recuperação, sem necessidade de convocação de
assembleia geral. Afinal, a ausência de objeção indica a concordância tácita de todos os credores com o proposto pelo

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devedor em seu plano de recuperação. Se nenhum credor demonstra discordar do plano, razão alguma haveria em
convocar a assembleia geral. Passe-se, nesse caso, à análise judicial quanto ao preenchimento dos requisitos legais,
para subsequente homologação do plano.

Por outro lado, havendo alguma objeção – ainda que seja apenas uma –, deverá o juiz designar data para a assembleia
geral. Vê-se que o intuito da objeção é causar a convocação da assembleia geral, e não necessariamente a decretação
da falência, visto que o interesse do credor objetante pode ser apenas a modificação de algum ponto específico do
plano.

A assembleia foi pensada para ocorrer em até 150 dias do deferimento do processamento. Contudo, a realidade
forense, especialmente nas comarcas em que não há varas especializadas, mostrou sem difícil o cumprimento desse
prazo.

É de competência da assembleia, quando aprova o plano de recuperação judicial, nomear o Comitê de Credores, se
assim entender e se ainda não houver sido constituído.

Admite-se que o devedor proponha a modificação do plano inicialmente apresentado, apresentando um plano
alternativo ou alterações no plano inicial. Na realidade, em assembleia, os credores podem propor modificações ao
plano do devedor. Para a validade da aprovação do plano modificado, além da indispensável concordância do devedor,
a modificação não pode ser prejudicial exclusivamente aos credores ausentes.

Como uma das principais alterações promovidas pela Lei n. 14.112/2020, está a possibilidade de os credores
apresentarem plano de recuperação judicial, o que poderá ocorrer em duas hipóteses: quando o plano do devedor
não é apresentado para deliberação em assembleia dentro do stay period (art. 6º, § 4º-A) e quando o plano é rejeitado
pela coletividade de credores (art. 56, § 4º).

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No caso de rejeição pela assembleia geral do plano original apresentado pelo devedor, os credores podem deliberar,
no mesmo ato, por oferecerem um novo plano, no prazo de trinta dias (art. 56, § 4º). A decisão sobre a decretação da
falência ou a apresentação de plano pelos credores a estes compete, com quórum de mais da metade dos créditos
presentes à assembleia, independentemente da categoria.

Nada impede que venham a ser diversos os planos apresentados por grupos de credores, ou mesmo que um credor
individualmente apresente um plano. Todavia, para ser colocado em votação pela assembleia, exige-se apoio prévio,
por escrito, de credores que representem mais de 25% dos créditos sujeitos à recuperação judicial ou mais de 35%
dos créditos de credores presentes à assembleia que rejeitou o plano anterior.

Além dessa exigência, o § 6º impõe outros cinco requisitos para o plano de credores poder ser submetido à
deliberação. O primeiro é que o plano original do devedor não tenha se obtido votos suficientes para aprovação por
cram down. Nesse caso, o devedor tem direito à concessão da recuperação judicial com base no plano por ele
apresentado, e por isso não se justifica a elaboração de outro plano.

Em relação ao conteúdo do plano dos credores, é necessário que atenda aos mesmos requisitos exigidos do plano do
devedor, com a discrição dos meios a serem empregados, a demonstração da viabilidade econômica e laudo de
avaliação dos ativos do devedor. O plano não pode imputar ao devedor novas obrigações, que não as já previstas em
lei ou nos contratos anteriores; tampouco poderá impor ao devedor ou a seus sócios “sacrifício maior” do que aquele
que decorreria da falência.

Por fim, uma condição bem peculiar, prevista apenas no plano de credores, é a exigência de “isenção” das garantias
pessoais prestadas em relação aos credores que tenham previamente manifestado apoio ao plano ou o aprovado em
assembleia. Essa “isenção” (“extinção” seria o termo mais adequado) é impositiva, não se admitindo ressalva de voto
ou impugnação de qualquer natureza.

Se o plano proposto pelos credores e submetido à assembleia geral também vier a ser rejeitado, não restará

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alternativa senão a convolação da recuperação judicial em falência (§ 8º).

A assembleia convocada para deliberar sobre o plano, caso venha a ser suspensa, deverá ser encerrada em até 90 dias
constados da instalação. A nova previsão teve por objetivo eliminar as suspensões que eternizavam a recuperação
judicial.

A exemplo do que trata mais genericamente o art. 39, § 4º, sobre a substituição da assembleia presencial por adesão
escrita, o novo art. 56-A estende essa possibilidade à assembleia convocada para deliberar sobre o plano de
recuperação judicial. Nesse caso, o pedido de substituição deve ser apresentado em no máximo cinco dias antes da
data designada para a assembleia, já acompanhado da comprovação de que o plano foi aprovado por adesão dos
credores em volume suficiente para aprovação do plano, como previsto no art. 45, que é de maioria dos credores de
cada classe.

Preenchidos os requisitos, o juiz dispensa a assembleia e intima os credores a apresentarem oposições à homologação
do plano. A lei não especifica qual a forma de intimação dos credores. Parece-nos que as mesmas regras para a
publicidade da convocação da assembleia são aplicáveis para a publicidade de sua dispensa e do prazo para oposições.

A oposição é a manifestação do credor contrário à homologação do plano de recuperação judicial, somente podendo
ter como fundamento (i) o não preenchimento do quórum de aprovação, (ii) o descumprimento do procedimento;
(iii), haver irregularidades no termo de adesão; ou (iv) o plano de recuperação conter irregularidades ou ilegalidades
(§ 3º).

A NECESSÁRIA CONCORDÂNCIA DOS CREDORES

No processo de recuperação judicial, os credores têm papel fundamental no resultado do processo, cabendo-lhes
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quase soberanamente decidir a sorte do devedor. Com a concordância dos credores, expressa ou tácita, o devedor
alcança a concessão da recuperação judicial.

2. A inexistência de objeções ao plano de recuperação leva diretamente à concessão da recuperação, sem assembleia.
A inércia dos credores diante do plano apresentado pelo devedor significa a concordância tácita com o plano
proposto.

3. Também justifica a concessão da recuperação judicial a aprovação do plano, original, modificado ou alternativo,
pela assembleia geral, atin-gindo-se a maioria em todas as classes de credores. Aprovado o plano, o juiz concederá a
recuperação judicial.

4. Por outro lado, rejeitado o plano em assembleia geral, caso os credores deixem de usar a faculdade de apresentar
um novo plano de recuperação, a regra é que o juiz decrete a falência do devedor, a não ser que estejam presentes
os requisitos para a concessão forçada, hipótese em que a recuperação será alcançada mesmo sem concordância dos
credores.

Para tanto, devem ser observadas as exigências cumulativas dos §§ 1.º e 2.º, que são: (i) o voto favorável de mais da
metade dos credores presentes votantes, por valor, independentemente das classes; (ii) a rejeição em apenas uma
das classes; (iii) o voto favorável de mais de um terço dos credores da classe que rejeitou, computados por cabeça, se
dissidente for a trabalhista e ME/EPP, e cumulativamente por cabeça e crédito, se forem as outras classes (garantia
real e quirografários); e, finalmente, (iv) o tratamento equânime entre os credores da classe que rejeitou.

A imposição aos credores de plano rejeitado em assembleia geral tem como fundamento a ponderação do peso de
credores que, com valor representativo, podem minar a aprovação do plano, contrariando o desejo de expressiva,
embora minoritária, parcela dos credores.

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Nosso sistema, com regras objetivas, difere do que prevê o Bankruptcy Code dos Estados Unidos, em que o cram
down pode ocorrer se, a despeito de rejeitada a proposta pelos credores, o juiz entender que o plano não implica
unfair discrimination (injusto tratamento diferenciado), é fair and equitable (justo, equilibrado, equitativo), e
respeitoso às classes de credores que o rejeitaram.

Aqui, os critérios para imposição do plano são claros e objetivos. Atente--se que, configurada a situação descrita nos
§§ 1.º e 2.º, não há margem de discricionariedade ao juiz. Embora o texto legal mencione que o juiz poderá conceder
a recuperação, a leitura mais adequada é a impositiva: o juiz deverá conceder a recuperação judicial, se, não atingido
o quórum de aprovação, estiverem presentes os requisitos objetivamente previstos.

Por outro lado, se não se alcançarem as exigências para o cram down – em outras palavras, se os credores votaram
válida e expressivamente pela rejeição do plano –, não deve o juiz impor a recuperação judicial, salvando a empresa
a qualquer custo. Não lhe cabe ignorar os requisitos legais para a concessão impositiva da recuperação judicial, nem
criar outros.

Há, todavia, situações práticas que exigem olhar diferenciado: nos casos em que a classe que rejeita o plano é
composta por um único credor, de modo que o seu voto contrário tenha o condão de impedir a aprovação do plano
e o preenchimento do requisito previsto no inciso III do § 1.º, entende a jurisprudência de a recuperação deve ser
concedida.

A REJEIÇÃO AO PLANO

No sistema original da lei, a rejeição do plano de recuperação judicial implicava decretação da falência do devedor, se
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não fosse hipótese de cram down.

A gravidade dos efeitos da rejeição do plano vinha sendo discutida pela doutrina, especialmente porque, diante da
gravidade e da lesividade que é a decretação da falência, os credores tendiam a aprovar planos inadequados, que
imponham sacrifícios grandes, mas ainda assim menores que os decorrentes da indesejada falência.

Agora, rejeitado o plano em assembleia, os credores têm o direito de, eles próprios, apresentarem um novo plano de
recuperação, alternativo ao do devedor. É do que tratam os §§ 4º a 7º do art. 56.

Contudo, se os credores deliberarem rejeitar o plano do devedor e não apresentar um novo, ou se o próprio plano
alterativo dos credores for rejeitado pela maioria, a decretação da falência é inevitável.

Apesar de o ato judicial que convola a recuperação judicial em falência ter natureza de sentença, o recurso cabível é
o agravo de instrumento. Veja-se que o art. 189, § 1º, II, já prevê o cabimento do agravo de instrumento contra
qualquer decisão (interlocutória) ao longo do procedimento, para afastar as discussões surgidas com a previsão do
rol do art. 1.015 do Código de Processo Civil. Todavia, por se tratar de sentença, impôs-se a previsão expressa, caso
contrário o recurso cabível seria a apelação, na forma do art. 1.012 do Código de Processo Civil.

A opção pelo agravo de instrumento é procedimental. Interposto o agravo, os autos permanecem na instância
originária, formando-se o instrumento, com cópia dos autos (art. 1.017, I, do Código de Processo Civil), que deve ser
dirigido diretamente ao tribunal para julgamento; por outro lado, a apelação é endereçada ao juízo de origem, a quem
cabe abrir oportunidade de contrarrazões à parte adversa e remeter os autos ao tribunal, independentemente de
juízo de admissibilidade (art. 1.010, §§ 1.º a 3.º, do Código de Processo Civil). Outra distinção relevante é que, em
regra, a interposição do agravo não suspende a eficácia da decisão recorrida (art. 1.019, I, do Código de Processo
Civil), ao passo que a apelação a suspende automaticamente (art. 1.012 do Código de Processo Civil).

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Não é o caso de admitir, com fundamento no princípio da fungibilidade, eventual apelação. Como há expressa
previsão na lei do cabimento de agravo, a interposição de apelação seria erro grosseiro, causa impeditiva à aplicação
do princípio.

Bibliografia: Barros Neto, Geraldo Fonseca de. Reforma da Lei de Recuperação Judicial e Falência: comentada e co

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