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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA EXATAS E TECNOLÓGICAS


NOVAS TECNOLOGIAS PARA O ENSINO DE FÍSICA

LEI DOS GASES COM ARDUINO

RAFAEL DOS SANTOS RAMOS SOUZA (202120666)

Ilhéus - Bahia
2022
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RAFAEL DOS SANTOS RAMOS SOUZA (202120666)

LEI DOS GASES COM ARDUINO

Relatório apresentado como parte dos


critérios de avaliação da disciplina
CET282 – Novas tecnologias para o ensino
de física.
Professor: ADRIANO MARCUS STUCHI

Ilhéus - Bahia
2022
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1. Introdução

Um dos assuntos mais importantes da física do ensino médio é a Termodinâmica pelo


fato de que suas aplicações no cotidiano dos alunos vão desde evitar uma simples queimadura
até construção de aparelhos eletrônicos de última geração. Portanto o engajamento do professor
em levar um bom material de experimento para seus alunos é de extrema importância. No
entanto, para que se tenha uma ótima compreensão do fenômeno que será estudado, é
importante que a teoria seja passada em sala de aula.

As variáveis que caracterizam um ideal gás é sua temperatura ( 𝑇 ), pressão (𝑃 ) e volume


(𝑉 ), a imagem abaixo ilustra bem essas variáveis:

Figura 1 - Um dispositivo hipotético para estudar o comportamento de gases.

Fonte: Física 2: Termodinâmica e ondas

No dispositivo apresentado na figura 1 é possível compreender a relação entre a


temperatura, pressão, volume e outra quantidade bastante importante: número de moles (n). O
pistão pode alterar o volume do gás enquanto que a chama pode aquece-lo e é possível aumentar
a sua quantidade com uma fonte (que se encontra na da imagem).

Com experimentos que foram conduzidos no século XVII foi possível concluir que:

• o volume é proporcional ao número de moles, ou seja, com pressão e volumes


constantes, duplicar no número de moles faz com que a temperatura dobre o seu valor.
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• O volume do gás no recipiente é inversamente proporcional à pressão absoluta.


• A pressão é proporcional à temperatura absoluta.

Com esses resultados, foi possível concluir que os gases ideais estão sujeitos à seguinte
lei geral:

𝑃. 𝑉  =  𝑛. 𝑅. 𝑇 (1)

Onde 𝑅 é a constante dos gases ideias (válida para todo o tipo de gás ideal) e possui um
𝑗
valor próximo de: 𝑅  ≅  8,314  𝑚𝑜𝑙.𝐾.

Sendo assim, é possível definir um gás ideal como aquele segue a lei descrita na equação 1.
𝑃.𝑉
Quando o gás possui a massa constante, o produto 𝑛. 𝑅 é constante, portanto 𝑇
também
é constante fazendo com que a fórmula abaixo seja válida nesse caso específico:
𝑃1 .𝑉1 𝑃2 .𝑉2
  =  (2)
𝑇1 𝑇2

Todas as relações acima citadas funcionam muito bem quando a temperatura do gás é
relativamente elevada fazendo com que não haja muita interação entre as partículas que o
compõe. No entanto, quando essa interação não pode ser ignorada a equação 1 e por
consequência a 2 falham, ou seja, quando a distância média entre partículas vizinhas é inferior
ao alcance da energia de interação entre elas, a mesma deve ser levada em consideração. A
figura abaixo ilustra melhor essa situação graficamente:

Figura 2 - Energia de interação típica entre dois átomos

Fonte: Casadasciencias.org
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Em 1873, Johannes Diderik van der Waals tentou a primeira correção no modelo, o
mesmo propôs que existe uma força de repulsão interatómica quando seus núcleos estão a uma
distância aproximada de um núcleo atômico, ou seja, o volume 𝑏 de cada molécula deve ser
levado em consideração, sendo assim, o valor de correção no volume total é 𝑉  −  𝑛. 𝑏 .

A segunda correção está relacionada com a parte atrativa da interação acima citada. Já
se sabe que a pressão de um gás é a média da colisão das partículas que o compõe com o
recipiente onde ele está contido, portanto, a pressão média deve ser menor do que a que foi
definida na equação 1 pois cada partícula colidindo com a parede do recipiente será atraída
pelas moléculas anteriores a ela. O número de partículas por unidade de volume é designado
por 𝑎 , assim, a nova pressão 𝑝 será dada por:

𝑝  ≅  𝑃  −  𝑁 2 𝑎 (3)

onde
𝑛
𝑁  =   𝑉 (4)

Sendo assim, a equação 1 pode ser corrigida e ficar da seguinte forma:

(𝑃 + 𝑎𝑁 2 )(𝑉 − 𝑛𝑏) = 𝑛. 𝑅. 𝑇 (5)

Podendo ficar com o seguinte formato:

𝑎𝑛 2
(𝑃 + ) (𝑉 − 𝑛𝑏) = 𝑛. 𝑅. 𝑇 (6)
𝑉2

Isolando o valor de P tem-se:

𝑛.𝑅.𝑇 𝑎𝑛 2
𝑃=  −  (7)
𝑉−𝑛𝑏 𝑉2

Os valores de a e de b irão variar para diferentes tipos de gases como mostra a figura
abaixo:

Figura 3 – constantes de van der Waals para diferentes gases


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Fonte: Portal de estudo em química

Com toda essa teoria passada os alunos terão uma base muito boa para entender os
experimentos, porém ainda falta a montagem dele. Uma maneira bastante eficiente de se estudar
termodinâmica é por meio do dispositivo Arduino com o sensor de temperatura e pressão
BMP280, uma ilustração dele é dada na figura abaixo:

Figura 4 – Foto do sensor BMP280

Fonte: Curto Circuito

Sua montagem no Arduino fica:

Figura 5 – Montagem do sensor BMP280 no Arduino UNO


7

Fonte: BlogMasterWalker.com.br

Para que esse dispositivo funcione, uma das opções é usar código mostrado na figura
abaixo em uma IDE para Arduino, compila-lo e manda-lo para a placa:

Figura 6 - código usado para coletar temperatura e pressão ambiente

Fonte: BlogMasterWalker.com.br

Um comentário importante sobre o código acima é que ele está configurado para exibir
a altitude do dispositivo na linha 25, uma coisa que não será feita nesse tipo de experimento
pois esse dado é irrelevante nesse contexto e irá consumir memória.

2. Objetivo

O objetivo principal desse experimento será entender como aplicar o experimento a


respeito de lei dos gases com Arduino em uma sala de aula. Para isso, os resultados obtidos em
8

laboratório serão expostos para que se possa entender como o dispositivo irá funcionar e
gráficos serão plotados no intuito de conferir as fórmulas 1, 2 e 7.

3 Materiais e método

3.1 Materiais

• Erlenmeyer
• Luvas de látex para procedimentos não cirúrgicos
• Álcool
• Dispositivo Arduino com sensor BMP280
• Fraco de vidro
• Corda de algodão
• Cabos Jumper

3.2 Método

No primeiro momento quatro cabos jumper foram separados e suas pontas foram
conectadas nas respectivas entradas do sensor BMP280. Essa armação foi colocada dentro do
Erlenmeyer, o qual já estava com sua extremidade superior fechada com a luva de látex.

Após isso, a outra ponta dos cabos jumper foram conectados e armados do jeito que
ilustra a figura 5. O Erlenmeyer foi suspenso acima do frasco de vidro, o qual já estava com
álcool dentro e um pedaço da corda de algodão imerso nele. Em um momento o fogo foi aceso
e depois do código na figura 6 ter sido compilado e enviado para o Arduino, as medidas de
temperatura e pressão foram obtidas e lançadas automaticamente para uma planilha Excel.

Após esse procedimento, o simulador de gases perfeitos do Phet foi aberto, foi colocada
uma certa quantidade de gás dentro do recipiente dele. Depois a temperatura era
cuidadosamente aumentada, seu valor e o da pressão dentro do recipiente eram anotados em
uma planilha do Excel.

4 Resultados e discussão

O primeiro experimento será analisado, no segundo momento a simulação com o Phet


será discutida. Como foi dito, quando o fogo foi ligado para aquecer o ar dentro do Erlenmeyer
o Arduino começou a medir a temperatura e pressão, no entanto um comportamento estranho
foi observado pois alguns dados de pressão e temperatura repentinamente caiam e depois
voltavam a subir. Utilizando todos os dados foi possível obter o gráfico plotado logo abaixo:
9

Figura 7 - gráfico plotado com todos os dados coletados com o Arduino

Fonte: próprio autor

Com a figura 7 pode-se concluir que existe algum mal funcionamento no dispositivo
que fez com que esse fenômeno acontecesse, no entanto é possível escolher intervalos nos quais
não houveram muitas anomalias e estabelecer a hipótese de que quantos menos dados, melhor
será a descrição do fenômeno.

Na tabela abaixo estão listados os 13 primeiros dados que possuem um comportamento


dentro do esperado:

Tabela 1 – primeiros 13 dados de temperatura e pressão obtidos pelo Arduino

Temperatura (°C) Pressão (Pa)


299,57 101458,5
299,57 101466,1
326,57 101466,1
299,57 101471,7
299,58 101477,6
299,59 101482,7
299,59 101484,9
299,61 101490,6
299,62 101495,9
299,64 101496,1
299,67 101506,1
299,71 101511,7
É possível perceber que os dados da tabela 1 são todos crescentes, a partir do 14° dado,
o valor de pressão começou a cair, por isso esses valores foram selecionados. O gráfico dos
valores da tabela 1 foi plotado e está exposto abaixo:
10

Figura 8 - gráfico plotado com os 13 primeiros dados coletados com o Arduino

Fonte: próprio autor

Primeiro percebe-se que essa não é a escolha mais eficiente dos dados para plotar o
gráfico pois os três primeiros não estão tendendo a uma reta, portanto eles devem ser excluídos
na próxima análise.

O gráfico exposto na figura 8 está com a equação da reta que melhor se aproxima desses
dados, ela deve ser interpretada para quando a equação 2 não sofre variação em seu volume,
ficando nesse formato:
𝑃1 𝑃
  =   𝑇2 (8)
𝑇1 2

A razão da pressão e temperatura em um dado momento deve ser igual a razão da


pressão e temperatura em um outro dado momento. A divisão da pressão pela temperatura foi
feita e os resultados estão expostos abaixo:

Tabela 2 – razão entre os primeiros 13 dados de temperatura e pressão obtidos pelo Arduino

Temperatura (°C) Pressão (Pa) Razão


299,57 101458,5 338,68
299,57 101466,1 338,70
326,57 101466,1 338,70
299,57 101471,7 33872
299,58 101477,6 338,73
299,59 101482,7 338,73
299,59 101484,9 338,74
299,61 101490,6 338,74
299,62 101495,9 338,74
11

299,64 101496,1 338,72


299,67 101506,1 338,72
299,71 101511,7 338,69
Como se pode observar na tabela 2 os valores estão seguindo muito bem a fórmula 8
pois o valor da razão entre a pressão e temperatura permanece praticamente constante nesse
intervalo. Além disso, isolando o valor da pressão na equação 8 obtém-se:
𝑃
𝑃2   =   𝑇1 . 𝑇2 (9)
1

𝑃1
Ou seja, o termo 𝑇1
pode ser visto como o coeficiente linear de uma reta, enquanto que

as variáveis x e y serão respectivamente 𝑇2 e 𝑃2 , portanto, a equação na figura 8 pode ser


reescrita como:

𝑃2   =  341,43. 𝑇2   −  812,42 (10)

Comparando a equação 9 com a 10 é possível notar que a razão entre a pressão e


temperatura na equação feita pelo gráfico se aproxima com uma boa precisão do real valor
𝑃 𝑃1
encontrado ( 𝑇1   =  341,43 para o gráfico e 𝑇1
  =  338,70 para os dados), isso indica que houve
1

uma boa precisão. Contudo, o coeficiente linear na equação 10 não deveria existir se ela for
comparada com a equação 9, porém deve-se lembrar que a pressão inicial do experimento não
era zero, mas sim a pressão atmosférica, dessa maneira a equação 10 ainda possui uma validade
muito boa.

Entretanto, comparando a equação 10 com a 7 é possível notar uma semelhança ainda


maior pois ela admite um coeficiente linear, além de que aparentemente a temperatura do gás
dentro do Erlenmeyer não está alta o suficiente para que a equação 1 explique o fenômeno
analisado de forma eficiente.

Para que se possa ter outros resultados, os três primeiros dados e o ultimo foram
excluídos, o gráfico foi plotado exposto abaixo:
12

Figura 9 - gráfico plotado sem os 3 primeiros e últimos dados da tabela 1

Fonte: próprio autor

A equação retornada pelo gráfico já em termos de pressão e temperatura está exposta


abaixo:

𝑃2   =  329,34. 𝑇2   +  2813,9 (11)

A primeira coisa que se observa no gráfico da figura 9 é que os dados estão bem mais
ajustados à reta em relação a figura 8. No entanto, parece que a precisão caiu pois o coeficiente
angular que é a razão entre a pressão e temperatura está com um valor muito mais baixo em
relação ao resultado obtido na tabela 2, outra coisa a se observar foi que o coeficiente linear,
que representa a pressão atmosférica está muito alto, esses dados mostram que provavelmente
a hipótese estabelecida anteriormente não se confirma pois o intervalo que aparentemente não
ocorreu anomalias quando foi reduzido perdeu precisão.

Novamente, a equação 7 parece descrever muito melhor esse fenômeno pelos mesmos
fatos citados anteriormente.

Por fim, tentou-se excluir de todos os dados aqueles que estavam com valores
decrescentes ou abaixo do valor esperado, um gráfico foi plotado com esses dados e exposto
abaixo:

Figura 10 - gráfico plotado com os dados que aparentemente se comportavam de acordo com o esperado
13

Fonte: próprio autor

Como é possível observar na figura 10 os dados não estão se comportando como era
esperado, além de que não é possível estabelecer uma reta que se ajuste os dados com uma boa
precisão. Nota-se que os valores são crescentes, mas não condizem com a equação 9.

Como foi dito anteriormente, o simulador Phet foi usado como mostra a foto abaixo:

Figura 11 – foto tirada da tela durante a simulação

Fonte: Phet

Os resultados obtidos estão expostos na tabela abaixo:

Tabela 3 – valores de temperatura e pressão obtidos com o simulador Phet

Temperatura (°C) Pressão (Pa)


1775 300
14

2274 384
2643 447
2910 492
3214 543
3574 604
4003 677
4491 759
5200 879
5896 997
6871 1161
8190 1384
10362 1752
13216 2234
Com os dados da tabela 3 foi possível plotar um gráfico que está exposto abaixo:

Figura 12 - gráfico plotado dos dados coletados no simulador

Fonte: próprio autor

A primeira coisa a se observar nesse gráfico é que ele se comporta muito bem em relação
aos outros analisados anteriormente, ou seja, os dados estão com uma grande tendencia de reta.
A segunda coisa a se analisar é a equação que foi retornada:

𝑃2   =  5,9155. 𝑇2   +  0,4995 (12)

Ela já está em termos da pressão e temperatura, como se observa o coeficiente linear


assumiu um valor muito menor do que nas equações 10 e 11, isso sugere que a equação 9
descreve muito bem essa simulação.

Seguindo novamente a discussão feita anteriormente sobre o coeficiente angular que é


𝑃
dado por 𝑇1 , fazendo essa razão nos dados da tabela 3 obtém-se:
1
15

Tabela 4 – valores de temperatura e pressão e a razão entre essas duas grandezas obtidos com o simulador Phet

Temperatura (°C) Pressão (Pa) Razão


1775 300 5,91
2274 384 5,91
2643 447 5,91
2910 492 5,91
3214 543 5,91
3574 604 5,91
4003 677 5,91
4491 759 5,91
5200 879 5,91
5896 997 5,91
6871 1161 5,91
8190 1384 5,91
10362 1752 5,91
13216 2234 5,91
A primeira coisa que se observa na tabela 4 é que realmente a razão entre a pressão e
temperatura do sistema permanece constante e com uma precisão muito boa pois não existe
diferença entre os valores da terceira coluna quando está levando em conta apenas duas casas
decimais. Outra coisa a se notar é que o coeficiente angular na equação 12 tem o mesmo valor
da razão entre os valores de pressão e temperatura indicando que a equação 9 descreve esse tipo
de situação com muita eficiência.

5 Conclusão

Portanto pode-se concluir que o experimento foi um sucesso pois foi possível entender
como aplicar esse experimento em sala de aula. Foi possível entender que umas das coisas a se
esperar é que algumas anomalias aconteçam e um intervalo apropriado deve ser selecionado
para que seja possível fazer a análise de dados com os alunos.

Outra coisa que foi possível perceber foi que os dois experimentos podem ser explicados
com a lei dos gases ideias, entretanto para que se possa ter uma melhor precisão, o experimento
do Arduino fica ainda melhor quando a fórmula 7 é usada para entender o fenômeno, isso
acontece, pois, a temperatura que foi analisada não é alta o suficiente para que o gás seja
considerado como ideal. Porém o mesmo não pode ser dito sobre a simulação feita com o Phet
pois como foi possível concluir, a lei dos gases ideais explica com uma precisão muito boa o
fenômeno que foi estudado.
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A aplicação em sala de aula desse experimento pode levar muitos benefícios para os
alunos, além de compreensão do conteúdo de termodinâmica ele aprenderão a usar o dispositivo
Arduino e o simulador Phet que podem ser usados em outros experimentos de física.

Referências bibliográficas

YOUNG, H.D.; FREEDMAN, R.A.; Sears e Zemansky Física 2: Termodinâmica e ondas,

12.Ed., São Paulo: Ad-Adison Wesley (2008).

JEWETT JR., J. W. e SERWAY, R. A., Física para Cientistas e Engenheiros, 8 Ed. São Paulo,

Ed. Cengage Learning (2011).

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