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ADRIANA

Um Romance de Andréia Pontes


Capitulo 1

O início de tudo

Gritos aterrorizados ecoavam na floresta vindo de todos os pontos iluminados


pela lua, pois ela já começava a encobrir o sol e a escurecer o dia, dando
início ao eclipse. Havia uma energia estranha, sombria, pesada, e isso a
paralisou por um instante porque estava atemorizada pelo o que não
conseguia ver, mas sabia que estava ali, pois aquilo rosnava furiosamente em
sua direção. Sentia o suor escorrer por seu corpo que tremia
involuntariamente, não conseguia sair do lugar e correr até a clareira onde
havia claridade. O medo a dominava naquele momento em que se deparou
com vários pares de olhos amarelos brilharem no escuro a sua volta.

Ouviu alguém chamar seu nome: Adriana! Adriana! Acorde!

Virou somente a cabeça para ver quem a chamava, viu aquele homem alto e
forte que estava na clareira, ele empunhava uma espada e tinha vestes de um
soldado medieval. Uma de suas mãos estava esticada na sua direção, como se
quisesse que ela o alcançasse. Ele tinha a expressão quase em desespero, seus
olhos escuros estavam arregalados enquanto a encarava e tentava alcança-la.
Olhou para a mão dele e depois a cicatriz na sobrancelha esquerda, os olhos
dele brilhavam intensos em reflexo com a pouca claridade. Ele a chamou por
seu nome novamente (Adriana! Adriana!). Não o conhecia não se lembrava
dele, quem era aquele homem? Voltou os olhos para as árvores e o que viu a
assustou.
Eram enormes, vigorosos e fortes, mas tão assustadores que não teve outra
reação a não ser gritar de medo. Eram lobisomens e se moveram na sua
direção com as suas garras mortais para pega-la. Fechou os olhos e depois
ouviu um uivo ensurdecedor, que a fez proteger os ouvidos com as mãos.
Manteve os olhos bem fechados para não ver mais as criaturas aterrorizantes,
até sentir alguém segurar seus ombros e a chacoalhar. Abriu os olhos e viu o
rosto do soldado de perto, e ele dizia (acorde!).
Acordou sobressaltada! Ainda podia sentir as mãos que a chacoalharam e
que a fizeram despertar daquele pesadelo, um que parecia real demais, pois
ainda podia sentir aquela sensação de pavor e das mãos fortes em seus
braços, dando a impressão de que realmente havia alguém ali ao lado da sua
cama chamando seu nome e tentando acorda-la. Sentou-se na cama meio
confusa e suando um pouco, olhou para a janela do quarto e ela ainda estava
aberta, o vento fraco e frio ainda soprava apesar de ser junho e ser verão em
Londres. Saiu da cama lentamente, como se precisasse fazer um esforço
enorme, olhou de relance para o relógio no criado mudo, era 3 da manhã.
Havia algo muito estranho, podia sentir aquela presença invisível e aquela
sensação pós sonho de que alguém a observava, aquilo sempre perdurava
todas as vezes que despertava na madrugada. Caminhou até a janela se
achando ridícula por estar um pouco insegura, pois dificilmente alguém
entraria por ali, já que seu apartamento ficava no 6º andar de um antigo
prédio de sete andares. Mas mesmo sabendo que estava segura ali, fechou a
janela e olhou para o prédio vizinho que era um prédio de cinco andares.
Estava silencioso naquele horário, apesar de algumas luzes estarem acesas.
Morar em Chelsea no centro da cidade tinha essa vantagem, sempre havia
luzes acesas por mais silencioso que fosse.

Virou-se para voltar para cama, mas ainda estava um pouco incomodada, e
mesmo que não tivesse visto nada de anormal, seu instinto de sobrevivência
estava gritando. Mas assim que deu as costas para a janela, ouviu um
estrondo e deu um pulo com o susto que levou. Algo pesado bateu com força
no latão de lixo e com certeza não era um gato, só se fosse um gato do
tamanho de um pastor alemão. Virou-se sobressaltada, mas não viu nada
além do gato que correu assustado depois de fazer um barulho defensivo e se
arrepiar todo. Automaticamente olhou para o prédio vizinho novamente, e
por uma fração de segundos pensou: Dava muito bem para alguém a vigiar,
mas pular do 5º andar já era demais a não ser que quisesse quebrar braços e
pernas.

- Idiota! Que paranoia - Adriana riu de si mesma, fechou a cortina e voltou


para a cama.
Na noite seguinte

A Boate Fever estava lotada naquela noite, haveria um show especial da drag
queem Sunshine, a mais conhecida da noite de Londres. E haveria várias
performances de outras drags conhecidas, e também é claro o show dos mais
belos gogodancers.
Apareceram pessoas de todas as partes e também muitos jovens que moravam
e trabalhavam nos bairros vizinhos. As boates gls eram as boates mais bem
frequentadas de todo o mundo. Os melhores shows, os melhores DJs e as
melhores músicas.

Adriana trabalhava naquela boate junto com os seus inseparáveis amigos


Fernan e Gevy, que também dividiam o apartamento com ela. Graças a um
ex-namorado de Fernan, eles conheceram Martim que lhe deram o emprego
naquela boate famosa, e alugou o apartamento por uma pechincha e era um
bom apartamento com três dormitórios no Chelsea, um bairro que é mais um
reduto cultural, com o Royal Court Theatre na Sloane Square e a moderna
Saatchi Gallery na Duke of York Square. Achava-se sortuda, pois a maioria
dos estrangeiros sofria para conseguir um bom lugar para morar, e também
um bom emprego.
Mas apesar do duro que davam a noite inteira atendendo a um pedido atrás do
outro, gostavam de trabalhar naquele lugar. Tinham um esquema rotineiro
para atender, revezavam os lados, pois o bar ficava no centro da pista de
dança, bem debaixo das enormes gaiolas ondem os gogoboys dançavam. Os
três se divertiam muito trabalhando e já estavam acostumados aquela rotina
no longo de seus três anos em Londres.

- Hoje essa boate está fervendo! – disse Fernan entusiasmado e olhando em


volta analisando os clientes que não paravam de se amontoar no balcão

Adriana riu do jeito que ele disse aquilo - está mesmo! - respondeu olhando
pra cima, em direção a uma das gaiolas. Sorriu quando um dos gogoboys a
encarou de forma sedutora. Achava aquele flerte engraçado, pois eram
amigos e ele sempre fazia aquilo de propósito, pois as mulheres que
frequentavam a boate olhavam para ele naquele momento.

Fernan se aproximou e a agarrou pela cintura dando-lhe um beijo no rosto.


- Ele é louquinho por você, deveria sair com ele de novo - disse sorrindo
acompanhando o olhar da amiga.

Adriana gargalhou - somos amigos, e foi ele quem enfatizou isso - disse
virando-se para o amigo – amigos! -

-Se ele se jogasse pra mim, do jeito que se joga pra você. Gata, eu não
dispensava mesmo. E você está precisando né meu amor, quando foi à última
vez? – Perguntou num tom irônico e virou-se para atender outro cliente.

Olhou perplexa para o amigo – Fê! Não vou falar da minha vida sexual com
você, pelo amor de deus – reclamou. Mas riu achando aquele diálogo
absurdo. Sempre falavam sobre aquilo, pois seu amigo era mais preocupado
com sua vida sexual do que ela mesma. Debruçou-se para atender ao pedido
de duas garotas loiras que se deliciavam com a imagem dos dançarinos na
gaiola.

E Fernan de onde estava, continuou: Ta! Não vou te encher com isso. Mas
amigos podem beijar na boca e transar de vez em quando. Principalmente
quando o amigo em questão tem aquele corpo - respondeu com deboche
quando parou de encher o copo com vodca e o energético, e olhar para o
dançarino a quem se referiam.

Adriana balançou a cabeça em negativa, pois não ganharia aquela discussão


se continuasse - vamos mudar de assunto? – disse tentando fugir se virando
para o homem no balcão - oi! Vai beber o que? – perguntou como fazia
habitualmente. O homem a encarou em silêncio por um momento, então
percebeu o quanto ele era bonito, mas teve uma sensação estranha enquanto
ele a encarava. Mas deu de ombros, pois o bar estava lotado, e tinha que ser
rápida. Olhou em volta rapidamente analisando quantas pessoas aguardavam
atendimento, e voltou os olhos para o homem novamente.

- olá – disse o homem. Sua voz era quase musical, suave, doce, ao mesmo
tempo em que era firme e grossa. Mesmo com o barulho da música alta ela
conseguiu ouvir claramente – vinho tinto – ele disse com um sorriso que
poderia derreter o ártico.

Adriana o olhava, mas não prestou atenção no que ele disse, pois se sentiu
inebriada por um momento – O que? - perguntou confusa e pensou: o que foi
que ele disse?

O homem disfarçou o sorriso quando conseguiu a atenção dela – eu gostaria


de bebe vinho tinto – ele respondeu com um sorriso meio torto que a deixou
tonta e desconcertada ao mesmo tempo, mesmo assim, ele continuou sorrindo
daquela forma.

Adriana ficou em silêncio por um segundo, pois ainda estava confusa, pois
ele havia acabado de responder a pergunto que fez para si mesma
mentalmente. Tentou clarear as ideias, e deu um sorrisinho sem graça - vai
beber o que? - perguntou novamente, fingindo sem sucesso que não o tinha
ouvido.

- Vinho tinto, se tiver é claro! – o homem respondeu educadamente


estudando a reação dela, e ainda mantendo o mesmo sorriso.

Ela se virou e pegou a garrafa do vinho barato que serviam e despejou o


liquido no copo descartável charmosinho que imitava uma taça, tudo era
observado atentamente pelo o homem. Ela lhe entregou o copo com o
guardanapo no fundo, e antes de pegar a comanda que era um cartão
magnético e passar na maquininha e digitar o valor da bebida, ela olhou em
seus olhos rapidamente e desviou mais rápido ainda, pois ele ainda a
observava atentamente de uma forma estranha.

- Gosta do que faz? – Perguntou o homem se apoiando no balcão com o braço


esquerdo e olhando-a fixamente.
- Sim! – ela respondeu sem graça, mas somente para não ser grosseira, afinal,
era um cliente e sempre aparecia alguém querendo conversar.

- Deve ser divertido trabalhar em meio a tanta agitação, e tantas pessoas


interessantes e diferentes - disse com um sorriso mais encantador que o
primeiro, isso prendeu a atenção dela já que era o que ele queria.

Adriana começou a prestar mais atenção no homem no balcão. Suas roupas


eram impecáveis com certeza de grife, pensou. Apesar de estar todo de preto.
Era alto, muito bonito, aparentava ter no máximo 40 anos, tinha cabelos
escuros cortados num estilo militar e tinha alguns fios grisalhos nas laterais,
os traços de seu rosto eram quase perfeitos, a não ser por uma pequena
cicatriz na sobrancelha esquerda. Seu corpo era definido, com porte altivo e
imponente, parecia um modelo que acabara de sair de uma revista. Mas essa
parte imaginou mais do que viu, pois o balcão era alto e ocultava a maior
parte do corpo dele. Notou que ele parecia um pouco pálido demais,
principalmente quando as luzes refletiam nele. Mesmo assim, era de certa
forma irresistível não olhar para ele. E parecia que as pessoas em volta
também sabiam daquilo, pois não paravam de encarar o homem. Ele
percebendo que ela estava curiosa, sorriu sedutor. Então tratou logo de
responder - É muito divertido, mas é muito trabalho também – sorriu
tentando disfarçar o embaraço.

- Imagino que não deve ser fácil, trabalhar em um lugar divertido sem se
divertir – Ele afirmou e continuou olhando para o liquido que dançava dentro
do copo descartável em sua mão enquanto fazia movimentos circulares.

Olhou para a mão dele notando que ele ainda não tinha sequer dado um gole
na bebida, e depois o fitou também - no começo sim, agora é fácil. Prefiro
pensar nas contas que tenho para pagar - disse enquanto pegava a comanda de
um grupo de amigos que acabava de chegar, e teve que desviar o olhar dele
por um momento.

- Claro! – o homem concordou - Você não é inglesa! – afirmou. No primeiro


momento ela não prestou atenção. Mas ele precisava fazer aquele joguinho
antes, mesmo que não tivesse paciência para jogos.
Ela sorriu - não sou! E por isso nada é fácil mesmo - respondeu entregando as
garrafas de uísque e um balde gelo para o grupo.

- Para algumas pessoas sim! – ele rebateu voltando o olhar pensativo para o
liquido no copo, e continuou – também não sou inglês e sei que ser
estrangeiro não é fácil em qualquer parte do mundo – seu olhar se perdeu por
meio segundo e depois voltou sua atenção na moça - mas já pensou em um
destino diferente? Talvez o seu seja diferente - a olhou de forma especulativa,
para ver sua reação.

Adriana ficou em silêncio enquanto o encarava, era como se prendesse seu


olhar no dele e como se ele conseguisse entrar em sua mente. Aquilo há
perturbou um pouco, pois por um momento chegou a pensar que a voz dele
era familiar. Como a voz de alguém que cantava uma melodia que ouvira no
passado, até o seu rosto parecia familiar. Mas não conseguia lembrar-se de
onde o conhecia e se a melodia era real. De repente ele desviou os olhos e
ficou um pouco sem graça, mas se recompôs e respondeu à pergunta - todos
os dias! – disse com certo incomodo, pois sentiu uma leve dorzinha na testa.
Disfarçou rapidamente e forçou um sorriso, sabia fugir de situações
embaraçosas como ninguém - mas, minha realidade é essa! - disse com um
sorriso cumplice - Se um dia encontrar o Gênio da lâmpada por ai, não se
esquece de guardar um pedido pra mim, quem sabe assim minha realidade
não muda – respondeu de uma forma encantadora que somente ela conseguia
fazer e se afastou.

O homem ficou observando Adriana se afastar, e atender os jovens que se


debruçavam no balcão pedindo uma bebida atrás da outra. Também viu
tempo depois de se afastar do bar, quando ela subiu no mesmo balcão e
começou a dançar junto com seus amigos quando o DJ da casa ofereceu uma
música para os bartenders. Reparou a sua volta, a alegria momentânea
daqueles jovens. Alguns eram tão solitários, tristes e totalmente perturbados,
dispersos com celulares e selfies, e uma grande parte se drogava nos
banheiros. Presas perfeitas para alguém perigoso como ele se aproximar e
arrasta-los para algum lugar que ninguém os ouvisse gritar. Em qualquer
lugar do mundo, em qualquer boate, bares ou festas de rua e em qualquer
época, sempre os encontrariam. Indefesos, carentes, vulneráveis e
destrutíveis.

Mas apesar de pensar daquela forma, estava em uma era diferente. Tudo
estava mudado, e os valores não eram tão diferentes. E já tinha presenciado
festas mais terríveis do que naquele lugar. Como sempre, esperou do lado de
fora sem que ninguém percebesse sua presença nos fundos da boate que dava
para uma rua sem saída. 5 h fechariam o bar, e minutos depois eles saiam
para jogar o lixo para em seguida irem para casa. Escondido em meio à
escuridão entre o prédio da boate e o prédio vizinho a viu sair com seus
amigos e se despedir dos outros que ficavam.

Felipe não imaginou que se afeiçoaria a um ser humano novamente, quando


viu Adriana pela primeira vez. O apego paternal que tinha em relação à
humana, era algo muito complicado de se explicar, mas aquele sentimento o
dominou assim que viu seu rostinho minúsculo no berçário da maternidade e
a embalou em seus braços depois de encantar as enfermeiras que cuidavam
daquele andar. Aquele bebe trouxe à tona suas lembranças do passado, da
vida que tinham lhe roubado.

Lembrou-se de todas aquelas coisas enquanto a seguia sorrateiramente até


chegar ao prédio em que morava. Segui-la e observa-la começou a fazer parte
de sua rotina noturna nos últimos meses. E não conseguiu evitar um suspiro
pesado quando se lembrou do motivo que o fazia seguir aquela humana todas
as noites. Mas era algo que não poderia evitar, estava obcecado com aquilo e
era sua obrigação mantê-la segura. Deu outro suspiro pesado e impaciente,
pois sabia que não tinha mais tempo para esperar, na verdade não queria mais
esperar. Então tomou uma decisão repentina, já tinha tudo preparado
esperando apenas o momento certo, e não iria mais protelar. Um leve sorriso
surgiu no canto dos lábios, assim que a viu entrar em seu prédio. Depois
olhou para o céu quando sentiu que o sol já estava se levantando no
horizonte. Afastou-se andando calmamente com as mãos nos bolsos da calça
e assoviando uma música que sempre cantava para Adriana dormir, quando
ela era pequena e entrava em sua casa sorrateiramente no meio da noite e
ninguém nunca o percebia.
Capitulo 2

Os Ciganos

Mais um dia quente.

Adriana acordara sentindo o calor do sol entrando por sua janela e


preguiçosamente saiu da cama, foi para o banheiro tomar uma ducha para
desperta-la. Não havia dormido muito bem, por conta do mesmo pesadelo
que lhe atormentava todas as noites. Aquele soldado medieval, a floresta
escura, os olhos brilhantes e os lobisomens, tinha um medo irracional deles
mesmo sabendo que era apenas mitologia. Deu graças a Deus por ser noite de
folga dela e de seus amigos, pois a boate não abria nas segundas, assim
poderiam descansar e ter uma noite normal pra variar.
Quando saiu do banheiro e começou a se arrumar em seu quarto, lembrou que
não daria mais tempo de ir à biblioteca para pesquisar sobre algumas coisas
que martelavam em sua cabeça nos últimos dias. Estava obcecada sobre
passagens bíblicas que falavam da influência dos demônios sobre os humanos
no primeiro século, não somente por causa de seus pesadelos, mas gostava de
pesquisar e adquirir conhecimento, desde que havia abandonado a faculdade
faltando apenas dois semestres para se graduar em história. Queria ver alguns
documentos antigos da época da inquisição e das cruzadas também, mas
sentia-se exausta, e apesar do London British Library fechar às 20hs, não
estava tão disposta para ir até lá.
- Pensei que acordaria cedo, não tinha que ir até na biblioteca? - Fernan
gritou da cozinha, quando ouviu o barulho vindo do quarto da amiga.

Adriana enrolou a toalha na cabeça e foi até a cozinha seguindo o cheiro


delicioso do bacon. Debruçou-se no balcão que dividia a cozinha da sala.
Apoiou a cabeça no braço, levantou seus olhos preguiçosos para o amigo -
Não vou mais estou com preguiça. Mas eu queria ir - lamentou
- Com esse ânimo? – Fernan deu uma analisada na pessoa desanimada a sua
frente e riu lhe oferecendo uma xicara de café.

Gevy entrou na cozinha em seguida, sentou-se ao lado de Adriana e pegou


uma maçã da fruteira que estava em cima do balcão - Eu tive uma idéia! Já
que não vamos fazer nada hoje, podíamos ir ver os ciganos acampados ao
lado do London eye da ponte Westminster, onde tem um parque de diversão
novo. Ciganos de verdade! Que vieram do sul da França, ou Irlanda... Tanto
faz! – Disse animada concordando com a idéia.

- Por mim tudo bem! Vamos Fê? – Adriana perguntou olhando a cara de
dúvida que seu amigo fez e depois ele sorriu animado.

- Hm! Se eu for, vou ler minha sorte como uma dessas videntes ciganas!
Saber se tem algum europeu lindo guardado pra mim – disse Fernan - Aliás,
para todos nós! - concluiu achando graça de si mesmo.

Adriana fez um bico desajeitado desaprovando o comentário do amigo - Não


acredito nessa coisa de vidência, e você sabe muito bem disso! – Rebateu
saindo em direção ao seu quarto - ver artesanatos ouvir a música, tudo bem!
Mas me consultar com uma cigana, fora de cogitação – disse com veemência.

- Qual o problema? – perguntou Gevy seguindo a amiga

Adriana revirou os olhos de forma impaciente - Gente! Pelo amor de Deus. É


tudo mentira, não existe esse negócio de vidência, magia, sobrenatural.
Historicamente não passam de desculpas que os humanos sempre usaram pra
explicar algo que não entendem - rebateu gritando do quarto

- Olha só quem fala! Você lê livros sobre vampiros - Gevy zombou, parando
na porta do quarto de Adriana e cruzando os braços.

- São romances, e não quer dizer que eu acredite. Sei muito bem que não
passa de ficção e vampiros não existem - respondeu enquanto procurava uma
roupa na enorme cômoda encostada na parede ao lado da porta.
-Ah tá! - fez a amiga com deboche - Mas outro dia você disse que quando
estava lendo o livro daquela escritora lá. Qual o nome dela mesmo? - disse
olhando para o teto na esperança de que ele ajudasse a lembrar do nome da
autora.

- Anne Rice! – Adriana respondeu impaciente

- é, isso mesmo! Você disse que o jeito dela escrever, dava a impressão de
que eles existissem. E agora me vem com esse ceti... Ceti... – Gevy parou de
falar tentando lembrar a palavra

- Ceticismo! – Adriana completou a palavra mais impaciente ainda - É falei e


daí? Todo autor quer passar essa impressão quando escreve para manter o
leitor preso a trama - respondeu enquanto vestia sua calça jeans – e só porque
eu comentei isso, não quer dizer que eu vá a uma vidente, ou que saia com
estacas na bolsa achando que vou encontrar vampiros - rebateu encarando
Gevy que ria dela naquele momento.

- ué – disse Fernan aparecendo logo atrás de Gevy e indo sentar direto na


cama de Adriana – esse mundo é muito velho meu bem, nunca se sabe o que
tem nele – disse com ar de suspense – Lembra daquele cara Francês que
conheci outro dia? - disse olhando para sua amiga incrédula que balançou a
cabeça - então, ele disse que vampiros existem. Porque quando fomos ao seu
apartamento, ele me mostrou algumas coisas dizendo que seu colega que
dividia o apartamento com ele, era um maluco fanático por vampiros e que
vivia indo em um pub que era frequentado por vampiros de verdade. Disse
até que ele era cheio de marcas de mordidas. Mostrou-me um monte de
coisas, lógico que a outra coisa foi bem melhor, claro! - disse rindo, e
fazendo as amigas caírem na gargalhada.

Adriana riu - Existe louco para tudo! Mas só acreditaria em vampiros, se


visse um na minha frente e falasse com ele – rebateu – E bem gato de
preferência – riu.

- Vai saber! Talvez até já tenha conversado com um e nem se lembra – disse
Gevy sem pensar.
A encarou pensativa por um segundo, e com muita rapidez, sem querer
lembrou-se da noite anterior. Lembrou-se do estranho homem bonito no bar
da boate que pediu vinho, foi à única pessoa que pediu aquilo, no entanto,
lembrou também que ele pediu, mas não tomou. Depois sumiu deixando o
copo no balcão, e estava da mesma maneira que ela havia lhe servido, e o
vinho nem era tão ruim. Sacudiu a cabeça, pensando o quanto associar uma
pessoa a um vampiro era absurdo. Dispersou assim que Fernan levantou da
cama e voltava para a cozinha com Gevy. Ficou olhando para a porta quando
eles saíram. Talvez seus amigos tivessem razão, de repente a vidente não era
uma charlatã e lhe ajudaria em relação aos seus pesadelos, descobrindo quem
seria aquele homem que sempre aparecia neles.
Na feira cigana

Tendas, barracas de comida, carroças com cavalos, até uma fogueira rodeada
por músicos ciganos tocando suas musicas antigas, e dançarinos que
desafiavam o fogo saltando por cima dele. Tinha uma multidão de pessoas
que batiam palmas enquanto assistiam ao show. Os ciganos eram muito
animados, e era muito bonito de ver aquele povo que mantinha suas tradições
intactas mesmo nos dias atuais.

Quando chegou, logo de cara ficou fascinada por eles. Viu um monte de
crianças ciganas que corriam de um lado para o outro, gritando num dialeto
que não reconheceu num primeiro momento, mas deu de ombros. Seus
amigos Fernan e Gevy nem bem chegaram, já correram para ficar na fila em
frente à tenda da vidente. Não teve o mesmo ímpeto, preferiu andar pela feira
antes de tomar a iniciativa de ir consultar com uma vidente, e parou para ver
a dança cigana que a deixou maravilhada. Alguns deles eram rusticamente
bonitos, homens e mulheres, uma mistura que ela não conseguiu definir
olhando a primeira vez. Se pareciam com os ciganos que o seu avô materno
dizia que eram seus primos e primas, pois sua bisavó era uma cigana de uma
longa linhagem que havia passado por toda a Europa.
Alguns tinham olhos claros, alguns com pele bronzeada e outros com pele
mais clara e cabelos loiros, negros ou ruivos, mas todos eram absurdamente
charmosos. Os mais velhos pareciam ainda bem fortes, com a pele curtida
pelo sol e os cabelos um pouco grisalhos, mas não tinham a aparência de um
idoso normal. Reparou que eles eram diferentes como se tivessem uma
cultura diferente de outros ciganos que viu e conheceu uma cultura própria
que não veria em outro lugar. Achou intrigante, e estranhamente gostou
daquilo!
Continuou observando-os e até que viu um cigano muito alto e exuberante
aproximando-se animadamente da fogueira. Não deixou de notar a beleza
daquele homem, cabelos lisos e despontados na altura das orelhas num tom
louro médio, com a pele um pouco bronzeada pelo sol, alto com o corpo
escultural e com músculos fortes e salientes. Usava coturnos por cima da
calça escura e uma camisa branca aberta no peito, por cima da calça. Ele
dançava em volta da fogueira e às vezes pulava por cima dela, e as moças que
o rodeavam batiam palmas no ritmo da música, e davam gritinhos de
incentivo e quase o engoliam com os olhos. Também pudera, o homem era
magnifico!

Algumas das ciganas que o rodeava dançavam forma sensual mexendo os


quadris e batendo palmas, girando suas mãos no ar, prendendo a atenção do
público masculino que assistiam ao show quase que de forma hipnótica.
Aproximou-se mais abrindo caminho entre a multidão, e quando conseguiu
um lugar bem na frente, teve a nítida impressão de que aqueles ciganos
haviam notado a sua presença apesar da multidão a sua volta. Olharam para
ela de forma curiosa como se fosse uma pessoa muito diferente das que
estavam ali assistindo. Sentiu-se um tanto desconcertada, até que um senhor
alto, forte e bem animado que tocava violino se aproximou e parou de tocar
para lhe oferecer uma caneca de vinho. Olhou para os lados mais sem jeito do
que antes e sorriu sem graça, depois olhou para ele novamente, pois ainda
sorria de forma muito cordial e fazia um gesto para que ela pegasse a caneca
e tomasse o vinho. Seria impossível não retribuir aquele sorriso, então levou
a caneca até os lábios e sorveu um pouco percebendo que o vinho estava
quente e tinha um cheiro delicioso, mas não costumava tomar nada que
estranhos ofereciam, então devolveu a caneca para aquele senhor e agradeceu
a gentileza. Ele riu e lhe disse “slàinte” que queria dizer “saúde”, mas ela não
entendeu muito bem o sotaque carregado que não era francês, mas já tinha
ouvido aquela palavra antes, então lembrou que aquelas palavras que ele
falava era gaélico, dialeto muito usado na Irlanda e Escócia.

Continuou sorrindo sem graça, mas ficou realmente desconcertada quando o


velho de repente se vira para o belo homem loiro e o chama: “Atila” depois
apontou para ela. O belo cigano olhou na sua direção de forma curiosa,
depois percebeu que ele fixara os olhos nela de uma maneira muito mais que
curiosa, como se a conhecesse. Achou aquilo estranho, pois sem querer
lembrou-se dos pares de olhos em seu pesadelo. “Os olhos amarelos que
cintilavam em sua direção, os lobisomens” Não sabia por que, mas os olhos
dele lembrou aquilo. Não conseguia desviar o olhar daquele belo cigano, e de
repente sentiu-se estranha em relação aquilo, pois o olhar dele era quase
hipnótico. Teve um impulso repentino de sair dali, sentiu uma agitação
interna perturbadora, como se ele apresentasse algum tipo de perigo, até
sentiu um frio na espinha. Foi se afastando devagar e quando se viu fora do
círculo, quase que saiu correndo em direção à tenda da vidente, pois
provavelmente seus amigos já haviam recebido a consulta e procuravam por
ela.

Olhou para trás quando conseguiu se afastar dali e parecia que tudo havia
voltado ao normal, mas seu coração ainda estava acelerado e ainda sentia
aquela agitação interna. Teve uma impressão estranha que não conseguia
entender. Sentiu medo! Pois tinha algo naquele lugar, principalmente no meio
daqueles ciganos que cantavam e dançavam alegremente, algo selvagem
quase sobrenatural, por mais estupido que fosse aquele pensamento. Respirou
fundo para se controlar e olhou para o céu de repente. A lua havia se
levantado e o dia ainda nem tinha acabado, ainda estava bem claro. O céu
limpo e pode vislumbrar a lua cheia perfeita e enorme, quase se sentiu
hipnotizada por ela de tão magnifica que estava, e ficou olhado para cima por
alguns segundos, encantada com o fato da lua estar em um tamanho fora do
normal –- é melhor eu parar de fazer isso, está ficando esquisito! – disse pra
si mesma. Respirou fundo novamente e sacudiu a cabeça repreendendo-se por
pensar naquilo. Tinha que agir como um ser humano normal, que diabos
estava acontecendo com ela? Pensou. Virou-se para ir procurar seus amigos
novamente, mas foi de encontro com um peito viril que mais parecia um
muro de concreto, e olhou para cima para ver quem era se não estivesse no
meio de tanta gente, teria gritado com o susto. Era o belo cigano!

Ele sorriu quando percebeu o espanto da moça, e a segurou para que ela não
caísse com o impacto - Não queria assusta-la! - disse ainda sorrindo com seus
dentes muito brancos e perfeitos e sua barba rala. Ele era rusticamente
sedutor e bonito, e sabia disso.

Ficou encarando o cigano num misto de vergonha e espanto - não! – disse


sobressaltada e se afastou dele - não assustou! - respondeu sem jeito, mas
sorriu do seu próprio embaraço - Desculpa! – disse mais sem graça ainda

Ele alargou o sorriso, deixando seus dentes perfeitos à mostra - não se


preocupe! Às vezes sou assustador, mas garanto que não mordo moças
bonitas - disse de forma sedutora.

Ele era o tipo de homem que fazia qualquer mulher pensar em sexo, Adriana
pensou de repente - ah sim, Claro. Também não me assusto com frequência!
– respondeu sentindo seu coração voltar a bater normalmente, mas sentiu seu
rosto esquentar.

O cigano sentiu a agitação da moça e gostou daquilo - Parece que as pessoas


vivem assustadas nas cidades grandes. Deve ser a vida moderna - observou
estudando sua reação e suas roupas.

- Vida moderna? – perguntou achando estranho

Ele ainda sorria - Vivemos no campo com nossos costumes antigos. Meu pai
prefere manter o equilíbrio de nosso povo assim, não gosta de se misturar –
disse apontando para o homem de meia idade de cabelos loiros, meio
grisalhos e compridos, amarrado num rabo de cavalo, muito forte e mais alto
que ele.

Notou a semelhança entre ele e o homem que ainda tinha seus músculos
salientes, e curiosamente ela logo se lembrou dos vikings, era como olhar
Odin e Thor. Ficou olhando-o indo em direção da fogueira - ele é o líder do
seu povo? – perguntou curiosa.

- Sim! – o cigano afirmou seguindo o olhar curioso dela - nosso clã é bem
grande! Não está nem a metade aqui - disse-lhe - participamos dessa feira
todos os anos, há muitos anos. Uma forma de nos misturarmos ao mundo dos
humanos às vezes – disse atraindo o olhar curioso da moça de volta, mas ela
nem prestou atenção ao que dissera. Estava sendo muito fácil fazer aquilo,
pensou.

- é bom ficar longe às vezes... Adoro o campo – disse pensativa - calmo!


Lindo, longe dessa agitação e pessoas perigosas - concluiu sem pensar.
Ele a olhou como se estivesse estudando uma obra de arte. E achou a
observação dela sobre pessoas perigosas engraçada – Então está convidada a
vir nos visitar em nossa aldeia que fica na higthlands, na Escócia. Quando
for lá um dia, procure pelos ciganos e diga que é convidada de Atila, todos os
ciganos me conhecem, será muito bem recebida, lhe garanto - disse com
sinceridade.

Havia algo de estranho com aquele homem, algo no seu tom de voz, seu
sotaque acentuado e em seus olhos verdes quando a encarava. Aquilo a
perturbou novamente - quem sabe um dia! Quando eu conseguir finalmente
me livrar dessa loucura – respondeu ao mesmo tempo em que desviou o olhar
para a tenda quando um casal saiu de lá. O rapaz amparava a moça que estava
completamente abalada.

O cigano seguiu o olhar dela novamente e pensou que tinha que bolar algo
bem rápido, pois ela era inexplicavelmente observadora e o cheiro dela era
demasiado tentador - Minha irmã é a vidente, ela é ótima! Mas às vezes diz
somente o que não querem ouvir - disse-lhe com um sorriso maroto olhando
para o casal que se afastava – lhe garanto que o que ela diz 100% é verdade,
não essas farsas que tem por ai - disse ficando sério e franzindo o cenho
quando viu os olhos dela brilharem de curiosidade e incerteza quando voltou
a fita-la – se quiser te levo até ela, não precisa pagar nada! – concluiu vendo a
reação dela quase espantada com a oferta.

Adriana refletiu por um momento - não! Prefiro esperar e pagar como todo
mundo e tem uma fila – disse desconfiada com a proposta, não estava
acostumada a não pagar pelas coisas. Achou a oferta estranha.

O homem a estudou por um momento - pagar? – ele riu - você não! Venha -
disse puxando-a pelo braço até a tenda. Não podia lhe dar tempo de relutar,
tinha que leva-la até sua irmã, pois ela saberia o que fazer.

Adriana tentou se livrar dele, mas quando deu por si, já estava lá dentro
sendo praticamente arrastada pelo cigano. Ficou parada no centro, olhando a
sua volta de forma desconfiada. Não havia apetrechos como viu em muitos
filmes, nem bola de cristal. Ficou sem graça quando a mulher veio até ela e
olhou para Átila com um sorriso carinhoso.

- Onde a encontrou? – Perguntou a bela mulher ruiva de olhos verdes e corpo


escultural, que a rodeava e a olhava curiosa.

Adriana ficou apreensiva, se sentia um bichinho na vitrine de um pet shop.

Ele respondeu na mesma língua que o velho que lhe deu o vinho falara.

- Chaidh sin a lorg! - queria dizer que eles foram encontrados, mas Adriana
não entendeu, e ele percebeu e ficou olhando para a mulher desconfiada ao
seu lado.

- Venha criança! – Chamou a cigana que a fez sentar nas almofadas no chão,
enquanto ela sentava do outro lado da mesa em outra almofada.

Não viu quando o belo homem saiu, mas ele não estava mais lá. Respirou
fundo antes de falar e encarou a cigana - olha só! Eu não acredito muito
nisso, então... - começou a dizer sem jeito, mas foi interrompida.

Dê-me sua mão! - Disse a cigana já puxando sua mão esquerda ignorando o
que ela dissera antes - sabe criança, as pessoas não acreditam em muitas
coisas hoje em dia, mas deveriam. Talvez se você não fosse tão cética, seu
destino seria mais fácil - parou de falar quando olhou para a palma da mão
dela com uma expressão preocupada – Hum... - ela fez e depois continuou
quando franziu o cenho. A cigana não precisava fazer nada daquilo, pois já
sabia o que se passava e qual era o perigo, mas precisava do teatro para
deixa-la em alerta - deve ter muito cuidado com a noite. Existem coisas que
saem para se alimentar quando escurece e eles a procuram. Cuidado com
aquele que se diz amigo, pois ele lhe venderá para a morte. Confie naquele
que se aproxima, pois irá garantir sua segurança. Não tem como fugir de seu
destino, pois foi traçado antes mesmo do seu primeiro ancestral - dizia
olhando fixo para a mão dela, e de repente a encarou com os olhos verdes
esbugalhados e petrificados. Aquilo assustou a moça com certeza, pois ela
tentou se desvencilhar da sua pegada, mas foi em vão - Muitos são aqueles
que lhe querem bem, mas esquecem de que no meio deles existe o mal que
lhes acompanha e que não conseguem controlar – sua voz ficara rouca e
sombria.

A cigana apertava o punho de Adriana enquanto olhava para ela. Tentou


puxar, mas a mulher tinha uma força tremenda, parecia possuída. E continuou
a falar – o amor aguarda há muitos séculos, por não saber onde você está e da
sua existência. Mas já está na hora dele lhe encontrar – ela fechou os olhos e
inspirou profundamente, depois voltou a abri-los - não tenha medo! – disse a
mulher voltando a si - estou aqui para lhe ajudar - ela soltara sua mão e a
encarava e seus olhos verdes pareciam mais escuros e brilhantes. Achou que
era reflexo das luzes refletidas pelas velas espalhadas na tenda, e que o vinho
que o velho lhe dera começava a fazer efeito. Ficou de pé num sobressalto,
assustada com o que achou encenação da cigana - Quanto lhe devo? - disse
um pouco ofegante, pronta para sair correndo dali.

A cigana levantou a mão negando pagamento - venha para nossa aldeia, e


será muito bem protegida. Aqui não é mais seguro para você - disse ficando
de pé também, e continuou mesmo vendo o medo nos olhos assustados da
moça - tome! - disse tirando de seu pescoço uma corrente com o símbolo do
sol e a lua se unindo, e aproximou-se colocando a corrente em volta do
pescoço dela - é o símbolo de uma antiga linhagem de guerreiros de minha
aldeia, com isso poderá entrar tranquilamente nela se precisar.

Que gente maluca, pensou - não posso aceitar! – se recusou já tirando a


corrente do pescoço, mas a cigana a impediu.

A cigana apertou os olhos e a encarou de forma severa - nunca negue aquilo


que um cigano lhe der, pois nunca damos nada a ninguém. Somente quando é
realmente preciso. E hoje recebeu um presente que talvez vá precisar - disse
lhe dando as costas e saindo da tenda

Adriana ficou ali sem reação, enquanto a cigana sumia de suas vistas.
Tentava entender o que acabara de acontecer, em tudo em que a cigana lhe
contou e que a deixou assustada. Até tomou um susto com o toque do celular
em seu bolso, e foi isso que lhe trouxe de volta a realidade.

- Onde você está? - a voz de Fernan do outro lado da linha era impaciente.
- Estou na tenda! To... To. Saindo! – respondeu meio perturbada enquanto
olhava para as velas acesas a sua volta

- Estamos perto do parque! – disse Fernan rindo de algo e desligando em


seguida

Saiu quase que correndo de dentro da tenda esbarrando em uma moça que
entrava. Não olhou para trás, aquela conversa estranha a perturbara
tremendamente. Que coisa mais absurda! Pensou. Do que aquela mulher
falava? Começou a andar apressadamente na direção do parque, para se
afastar o mais rápido possível dali. E foi nesse momento que quase esbarrou
com o líder dos ciganos, ele parecia um gigante de tão alto e musculoso e a
encarou com um olhar severo, sentiu um frio estranho percorrer sua espinha,
e desviou seu olhar rapidamente e apertou o passo. O que a cigana quis dizer
com ter cuidado com a noite? Sua cabeça girava, sentiu-se tão aturdida que
teve que se sentar no banco de madeira um pouco mais a frente e recuperar
seu equilíbrio. Havia ido até lá, para esquecer-se de seus pesadelos e tudo o
que a cigana lhe dissera a fez lembrar-se de todos eles novamente, e lhe
perturbou um pouco mais. Toda aquela estranheza no meio daquela gente,
que agiam de forma sombria ao mesmo tempo em que riam e dançavam.

- Hey! Onde você estava? - reconheceu a voz da amiga que continuou a falar
- o que foi? – A voz de Gevy agora era preocupada. Aproximou-se da amiga
reconhecendo sua familiar expressão de que havia acontecido algo.

Adriana voltou os olhos para ela- esse lugar é uma loucura. Cadê o Fê? –
perguntou tentando disfarçar

- Está vindo, foi comprar uma garrafa de vinho que os ciganos estão
vendendo! – respondeu enquanto se sentava ao seu lado, estudando sua
expressão agora confusa. – O que tá pegando? Você foi ver a fogueira e a
dança, depois sumiu! – disse-lhe

Adriana a encarou por um momento, pensando se deveria contar ou não o que


aconteceu. Respirou fundo e forçou um sorriso - conheci um dos ciganos que
me levou para a tenda da vidente! – disse com ar de zombaria.
Gevy a olhou desconfiada - e o que ela disse para ficar nesse estado? - não
conseguiria fugir do assunto sem matar sua curiosidade antes.

Ela pigarreou baixou os olhos e depois voltou a encara-la - tudo o que disse
não faz sentido! Disse para eu ter cuidado com a noite, que criaturas saem à
noite para se alimentar que tenho amigos que desconheço, e um que se dirá
amigo me venderá para a morte - ela praticamente vomitou as palavras e riu
desacreditando do que contava - ta! Cuidado com a noite, amigos invisíveis,
um falso amigo - e ah! – disse mostrando a corrente com o pingente do sol -
ela me forçou a ficar com isso! E foi bem convincente - lembrou-se da força
da mulher

Gevy se curvou para olhar de perto – nossa, que lindo... - Olhou a amiga nos
olhos um tanto desconfiada - e que estranho! - dizia de forma pensativa - não
sei, mas às vezes acredito nessas coisas estranhas.

- É eu sei! Mas Gevy, estamos na Europa e coisas estranhas sempre


acontecem aqui. Não vou me preocupar com isso – disse rindo

Gevy revirou os olhos com deboche – tá! Mas me diz, o cigano era bonito? –
perguntou mudando de assunto como um raio.

Adriana riu da amiga – um espetáculo de homem, aquele tipo que faz você
tirar a roupa sem que ele peça - parou de falar lembrando-se dos olhos dele.

Gevy fez cara de lamento - O que? – pergunto com certa ansiedade - fala
mais! -

- Tem algo de diferente nesses ciganos. Os olhos dele, parecia me conhecer


de algum lugar, sei lá! Parecia ter algum poder telepático, fiquei quase tonta
de tanto olhar para ele - ela riu quando viu a reação de Gevy, quando ela fez
uma careta porque não tinha visto também.

- Ahhhh... Porque isso não acontece comigo? – Gevy fez um muxoxo

- Iria adorar! – Adriana respondeu convencida de que ela adoraria mesmo.


- Olha só o Fê! – disse Gevy apontando para o amigo - hum!- fez - e não está
sozinho, Alex está com ele - isso ela disse cantarolando e se virou para ver a
reação que causava o comentário na amiga.

Adriana revirou os olhos - Para de graça! Ele é só um amigo – rebateu de


imediato.

Gevy ainda ria zombando de sua amiga – um amigo que você pegou. Já
percebeu que ele quase sempre está em lugares que frequentamos? - o
comentário de Gevy, fez com que ela a encarasse com certa reprovação.

- Oi meninas! – disse Fernan quando se aproximou - olha só quem me


encontrou na barraca de vinhos - disse apontando para Alex que sorria para as
duas amigas.

Alex logo ele se apressou em cumprimenta-las com beijo no rosto, mas se


demorou um pouco mais em Adriana que ficou sem graça. Ainda achava que
ela agia de forma estranha, depois que passaram uma única noite juntos - E aí
meninas como estão? - perguntou analisando a reação da sua preferida.

Adriana se adiantou – bem, apesar da esquesitice dessa feira cigana – sorriu


tentando ser natural, mas com certeza sem sucesso.

Alex não queria estar ali, porque sabia bem quem eram aqueles ciganos - Ah
sim! Ciganos, são sempre místicos, misteriosos... Legal! – respondeu com um
ar de indiferença.

- Onde você estava heim? - perguntou Fernan abraçando Adriana ao mesmo


tempo em que se sentava ao lado dela.

-Você acredita que ela foi à tenda da cigana? - Gevy disse rindo.

Adriana a encarou brava - você é tão engraçadinha! – disse fazendo bico

- Não acredito que foi gastar seu dinheiro com uma cigana? - comentou Alex
incrédulo.
- Quem disse que eu paguei? – Adriana respondeu se gabando - a consulta foi
de graça, porque conheci Atila o filho do chefe dos ciganos e... - Continuou
puxando a corrente enquanto falava, para mostrar a Fernan e a Alex - ganhei
essa corrente – disse sorrindo.

Fernan tocou no pingente de cristal - que lindo! – disse analisando

Alex se aproximou e olhou mais de perto - é cristal! Ciganos nunca dão


presentes – disse enquanto a analisava olhando-a nos olhos.

- Como sabe? - Gevy perguntou desconfiada

- Todo mundo sabe! – Ele riu sem graça e se virou para Adriana novamente -
talvez seja para te proteger de algo ou de alguém - sua observação a deixou
intrigada por um momento.

- Errado! Ela disse que talvez eu viesse precisar disso, mas eu não acredito
nessas coisas - debochou.

- Deve realmente ter algum efeito, ciganos são muito supersticiosos - Alex
continuou a falar somente para lhe chamar a atenção, e conseguiu porque os
três estavam com os olhos presos nele - li muito sobre ciganos quando fiz
teatro amador na Irlanda - se justificou dando um dos seus melhores sorrisos.
Ele era o tipo de homem de tirar o fôlego. Corpo escultural, belo rosto,
cabelos castanho-claros e bem curtos, para dar um ar mais másculo enquanto
dançava na boate. Era stripper, acostumado a cuidar do corpo da pele e usar o
charme para chamar a atenção. Mas não era apenas isso, aquilo era uma das
suas facetas, pois sabia fazer muita coisa, desde marcenaria a dançarino
profissional, guia turístico. Era um caro muito inteligente, sedutor e sabia
arrancar dinheiro da mulherada quando era preciso. Morava em Londres
algum tempo, mas era irlandês de nascença e sabia exatamente o que queria.
Era ambicioso! Tinha muitos contatos, conhecia muita gente influente e tinha
uma queda por Adriana desde quando a conhecera e dormiram juntos depois
de encherem a cara de vinho - podíamos ir ao Princess Louise- sugeriu de
forma sedutora de repente.
- Verdade! – disse Fernan ficando de pé - vamos sim! Já está anoitecendo, e a
feira está acabando - disse olhando para Gevy e Adriana.

Princess Louise é um pub que melhor representa o espírito grandiloquente da


Inglaterra do século 19. E eles adoravam aquele lugar.

- Pode ser! – Adriana disse desviando o olhar para o cigano que conhecera, e
que passou por eles de repente encarando Alex de forma hostil como se o
conhecesse. Nem viu que ela estava bem ao lado. Ficou sem reação por um
momento olhando Atila se afastar.

- Foi ele que você conheceu? – Alex perguntou curioso e confuso ao mesmo
tempo ao reparar seu olhar interessado na direção do cigano.

- Ahã! Ele me levou até a tenda - respondeu confusa

- Hum! Que boy é aquele? – Fernan comentou de boca aberta quando o


cigano passou por eles – que cara de mau! Concorrência Alex – ele riu ao
dizer aquilo

Adriana fuzilou seu melhor amigo com o olhar, quando ele passou por ela de
braços dados com Gevy, indo na frente em direção ao pub.

- Não presta atenção nesses comentários, por favor! – Adriana disse para
Alex

- Relaxa! Já estou acostumado com ele-respondeu caminhando ao seu lado,


com as mãos no bolso da calça, estilo as calças que usam no exército. E
também usava uma camiseta branca e calçava tênis.

Ela sorriu um pouco sem jeito – às vezes ele não segura a língua – respondeu
um pouco sem graça

Ele a analisou antes de falar – fiquei sabendo que o Mark te chamou para sair
– se referia a outro dançarino da boate, que já tinha saído com todas as
clientes que apareciam e a metade das funcionárias da boate.
Realmente não queria falar sobre aquilo com ele – chamou, mas eu não quis -
respondeu um pouco seca.

Sorriu quando percebeu a irritação dela, mas tinha adorado a resposta – ele é
um babaca – disse.

Adriana pensou para responder, pois não estava gostando do rumo daquela
conversa – Ele é um idiota e um galinha como a maioria que dança na boate -
respondeu com certa irritação.

Alex não esperava aquela resposta - Entendo! – respondeu um pouco sem


graça

Ela olhou para o amigo e se arrependeu do comentário que fez – desculpa!


Não quis generalizar, é que... Parece meio fácil pra maioria, sendo que a
mulherada se derretem por vocês.

Ele sorriu – tudo bem! – disse – Nem todos são galinhas! às vezes é só um
personagem quando estamos ali. Somos treinados pra seduzir! – disse
olhando-a nos olhos novamente como se quisesse dizer algo além daquilo.

Ela desviou o olhar rapidamente e disfarçou. Por mais bonito e sedutor que
ele fosse não queria dormir com seu amigo de novo, já que ele a dispensou da
primeira vez dizendo que não queria estragar a amizade que tinham. E
naquele momento estava mais preocupada com outras coisas e romance não
fazia parte daquela lista. Pois toda vez que se metia em um romance,
esquecia-se das outras coisas. Ainda se sentia uma idiota por ter falado
aquilo, mas ainda tinha que responder e iria se arrepender de novo – tipo uma
farsa? – o fitou. Quando lembrou que ele sempre a olhava de forma sedutora
quando estava dançando.

A estudou antes de responder, percebendo sua intenção – nem sempre! Às


vezes eu realmente quero a pessoa que tento seduzir – foi sincero

Deixou um sorriso escapar – ah! E às vezes consegue o que quer? –


perguntou curiosa
Ele sorriu também – não do jeito que eu quero – a viu ficar um pouco sem
graça

- Ei! – gritou Fernan que andava bem mais a frente com Gevy - andem logo!
Princess Louise

Acomodaram-se na mesa que ficava ao lado da janela, fizeram seus pedidos e


conversavam animadamente. O barulho de suas risadas e conversas se
misturavam as de outras pessoas que estavam ali. O lugar era bem
frequentado, e tiveram que esperar mais ou menos meia hora por uma mesa.
La tinha uma grande variedade de cervejas e comidinhas de pub, sua
decoração ainda mantinha os azulejos originais, espelhos e bastante madeira
por todo lado, sendo uma verdadeira jóia no coração de Holborn, e Adriana
adorava aquele lugar por seu ambiente bem conservado da era vitoriana.
Conversava sobre tudo, o tempo, sexualidade, clientes da boate, dinheiro. E
nem perceberam que estavam sendo observados. Na verdade Adriana era
observada, cada gesto, cada palavra e cada gargalhada que dava.

- Adoro esse lugar - disse Adriana olhando para cima e em volta – um


patrimônio histórico maravilhoso- concluiu com um sorriso

- é uma casa velha Honey, e é um pouco cheia demais! – disse Gevy


emburrada - Não entendo de o porquê ter fila de espera nesse lugar – Ela e
Fernan sempre chamavam Adriana pelo apelido, pois ela não gostava do
próprio nome.

- Ah! É legal vai! – Adriana retrucou - cheio de pessoas interessantes olha em


volta – observou sua amiga olhando em volta, como se estivesse procurando
o príncipe encantado.
- Aqui é bem agradável - Disse Alex imitando Adriana e olhando em volta

- Tem razão, Gevy não sabe o que diz – respondeu Fernan animado e desviou
o olhar de Alex para o um homem jovem e muito belo que estava sentando na
outra extremidade do ambiente onde estavam e olhava insistentemente para
eles.

Ele tinha cabelos num tom louro, lisos todo despontado e comprido até acima
dos ombros. Sua pele parecia delicada e bem clara, lábios carnudos, barba
rala que deixava uma sombra sexy em seu rosto e pode perceber tudo isso
mesmo de longe, até o tom verde acentuado de seus olhos sensuais. Estava
muito bem vestida calça escura, coturnos pretos, camiseta branca e um,
sobretudo escuro por cima. O homem desviou o olhar para ele muito rápido
como se tivesse percebido seu interesse, tinha certo humor em seus olhos,
como se avaliasse sua mente e soubesse o que estava pensando naquele
momento. Ficou sem graça de repente, pois era como se ele realmente
soubesse o que estava pensando, mas de repente ele desviou os olhos pra sua
amiga.

Mesmo com a tagarelice de Gevy e Alex, Adriana percebeu o desconforto do


amigo e olhou na direção que ele olhava antes. No exato momento em que
olhou naquela direção, o homem a encarou de longe fazendo um
cumprimento com a cabeça como se a conhecesse. Não sabia por que, mas
teve a nítida impressão que ele lhe dissera um “olá Adriana”. Ninguém a
chamava pelo nome, e tão pouco viu mexer os lábios, e mesmo se o fizesse
não ouviria, por causa da cacofonia a sua volta. Não conseguiu desviar os
olhos dos olhos dele, e quando ele sorriu mostrando seus dentes muito
brancos que se desmanchava em um sorriso perfeito e sedutor. Ficou sem
jeito e desviou os olhos para Fernan, que a encarou confuso.

- Deve ser da boate! – seu amigo comentou de forma que somente ela ouvisse

- é deve ser! Ele não para de olhar para cá - disse tentando não olhar naquela
direção novamente, mas parecia impossível ignorar e olhou. Ele ainda estava
lá, e encarando com o mesmo sorriso.

Alex percebendo seu embaraço seguiu seu olhar ao mesmo tempo em que
Gevy, mas ao contrário dela ele ficou perturbado e o sorriso morreu em seus
lábios - voltou -se para seus amigos e forçou um sorriso - me dêem licença
por um momento, vou cumprimentar um conhecido - disse levantando-se e
indo na direção da mesa onde estava o homem que olhava na direção de
Adriana. Deu uma olhadela para trás e viu que Adriana ainda olhava curiosa
para o seu estranho conhecido.

Adriana percebeu que aquele homem ainda a olhava de forma curiosa e com
aquele meio sorriso sedutor nos lábios. Mas ele desviou os olhos quando
Alex se aproximou de sua mesa e o cumprimentou. Ele somente fez um
aceno com a cabeça de uma maneira totalmente formal. Ficou observando os
dois porque simplesmente não conseguia evitar sua curiosidade, e viu o
homem fazer um gesto com a mão para ele se sentar na cadeira a sua frente.
Mas reparou que seu amigo estava desconfortável com tal presença, um
desconforto quase que parecido com medo. Porque enquanto conversavam de
forma reservada, Alex olhava para os lados de forma totalmente desconfiada.

- Quem será? – indagou Fernan curioso olhando para eles.

- Sei lá! Alguém conhecido. Ele vive dizendo que é muito bem relacionado -
disse Gevy – alias, ele se gaba disso, não é? - concluiu com desprezo

Adriana manteve-se em silêncio, pois tentava lembrar-se de onde conhecia


aquele homem. Ficou observando enquanto Alex parecia somente ouvir o
que o homem dizia, como se lhe desse algum tipo de ordem. Não pela forma
que o homem dizia, pois ele não esbravejava. Pelo contrario, tinha uma
postura imperturbável, elegante e discreta. Mas mesmo assim, era explicito
que se tratava de alguém imponente e com grande poder aquisitivo e
controlador, pois Alex tinha uma atitude quase que submissa em relação ao
homem. Viu ele lhe dar alguma coisa, mas não viu o que era, e depois Alex
se afastou da mesa e voltou sorridente. Pensou no quanto o teatro não havia
lhe ajudado, pois ele sorria, mas dava para notar em seus olhos o quanto
aquilo o incomodou.

Quando voltou a olhar para a mesa do homem, ele não estava mais lá.
Adriana varreu o café com os olhos e o viu na porta indo embora. E foi nesse
momento que ele deu uma olhadela para trás e lhe deu um meio sorriso
novamente, como se soubesse que estava procurando por ele e que estava
muito curiosa. Ficou desconcertada por ficar olhando insistentemente para
um desconhecido, principalmente quando ele fez um leve aceno com a cabeça
e saiu em seguida.

- Um velho conhecido! – disse Alex justificando sua ausência temporária,


quando se aproximou.

- Percebemos! - disse Gevy irônica

- Ele veio aqui por acaso, e aproveitou para nos fazer um convite! - disse
animado jogando quatro convites na mesa. Era bem feito, todo preto com um
brasão do sol e a lua se unindo em dourado, e no interior do convite estava
informando o tipo de traje que era a fantasia e o local.

- Uau! É em uma Mansão em Yorkshire? – Fernan perguntou animado


demais, pois adorava tudo que representava ostentação.

- é! E o traje é a fantasia, estilo século XVII. Vamos arrumar isso onde? -


Adriana estava curiosa, mas com certa reprovação em seu tom de voz.

- Eu arrumo o transporte, e a fantasia é fácil de arrumar - disse Alex sorrindo


animadamente depois de piscar para ela.

Adriana sorriu - pode ser legal! – concordou com certa dúvida no olhar ainda
– se você vai arrumar o transporte, ok. - Concluiu

- Ah! Qual é? Precisamos badalar, sem ser onde trabalhamos. Porque lá a


gente só trabalha - disse Gevy com ar de cansada - em falar em trabalhar,
vamos embora? Porque amanhã temos que trabalhar, e eu quero descansar o
que resta dessa folga - disse já convencendo a todos.
Capitulo 3

O Guardião

Mais uma noite agitada na velha Londres. Noite quente, e as baladas, pubs e
bares estavam lotados. A boate Fever estava muito cheia aquela noite
novamente, e o bar bombava em um pedido atrás do outro. Por mais que
agilizassem o atendimento, chegavam mais e mais clientes entre grupos de
amigos e casais.

Havia um grupo de rapazes aparentemente héteros, bem-apessoados e que


pelo jeito que agiam e se vestiam, pareciam jovens e ricos. Claro que
procuravam diversão, mas faziam muita algazarra, brincadeiras bobas uns
com os outros, assediavam as mulheres que ali estavam para ver os
gogoboys, fazendo comentários sexualmente grosseiros. Mas o alvo preferido
daquela noite era a bartender Gevy, que por mais que estivesse se irritando,
tinha que os atender com um sorriso falso nos lábios e forçar sua paciência,
pois era estrangeira.

Regra número um da casa (não maltratar os clientes). Por este motivo ela
engolia a seco cada piadinha de mau gosto, e fingia sabiamente que não
estivam falando dela. Adriana atendia os clientes da outra ponta, por este
motivo ficou longe das piadinhas, e Fernan atendia o centro. A cada musica
que o DJ tocava, eles pulavam, gritavam, impediam que outras pessoas
chegassem perto do bar para fazerem seus pedidos. Dois seguranças já
tinham ido até eles e pediram para que se controlassem mais, o que não
adiantou, pois depois que os dois se afastaram dali, a bagunça continuou.

Quando Adriana viu a irritação da amiga, aproximou-se dela - vamos trocar


de lugar um pouco? Hora de revezar os lados – disse no ouvido da amiga, que
a olhou agradecida.

- Que merda! Olha para esses babacas! - reclamou olhando na direção deles -
Cuidado ta? - disse Gevy indo para o outro lado muito agradecida, pois sabia
que sua amiga sabia lidar com aquele tipo de situação.

- Deixa! Qualquer coisa chamo a segurança de novo - respondeu sorrindo.

Um dos rapazes que era sardento e tinha cabelos loiros arrepiados, se


debruçou no balcão e agarrou o pulso de Adriana puxando-a com força para
perto de si. Ele estava visivelmente alterado e com certeza havia mais do que
bebida ali. Ele conseguiu fazer com que ela se aproximasse o suficiente para
que sentisse o seu bafo e disse: Eae gostosa? Se eu pegar a bebida mais cara,
você vem de brinde? - disse rindo e olhando para trás para participar os
amigos da piada sem graça.

Adriana irritada puxou o braço com tanta força que quase fez o infeliz cair
para o lado de dentro do bar. Ele ficou num misto de surpresa e irritação e ela
riu da reação dele - olha só! - pigarreou - você pode pedir a merda da bebida
que quiser, mas se me tocar de novo, seu lindo nariz sardento vai parar na sua
nuca - disse apoiando as mãos no balcão e encarando o rapaz com um sorriso
nervoso, enquanto ele ainda a encarava sem reação.

- Que gata brava! - disse um amigo dele de cabelos pretos, que era mais alto e
encorpado.

Ela bufou quando o outro se aproximou e os encarou - e então, como vai ser?
Do meu jeito ou do jeito de vocês? - perguntou com a expressão severa.

- Do nosso jeito! – respondeu o moreno que afastou o amigo sardento para


trás e ficando na frente com uma postura protetora e arrogante - é só a
atendente do bar da boate, acha que está na posição de reclamar? Você sabe
quem eu sou? - perguntou com desprezo

Riu irritada e o mediu de cima a baixo e depois o encarou novamente, odiava


aquele tipo de pergunta - não me interessa quem você é - respondeu - Aqui
você é só mais um cliente, e se arrumar confusão serão expulsos como
qualquer outro que arruma confusão - rebateu encarando-o.

Ele a encarava com os olhos faiscando de raiva, mas tinha um sorriso


estranho nos lábios - essas vadias mexicanas – disse o rapaz se virando para
os amigos que riram do comentário.

- Esses otários xenofóbicos! É Brasileira baby – Adriana o corrigiu e depois


se virou para Fernan que se aproximava e riu do comentário dela.

O rapaz se virou e a encarou irritado com o que ela dissera – o que você disse
vadia? - provocou aos risos sendo acompanhado por seus amigos que
gritavam atrás dele com mais insultos na direção dela. E as pessoas ao redor
começaram a prestar mais atenção no que acontecia.

- Óh! No entendiste pendejo? – disse arranhando o espanhol com deboche


levando a mão ao peito de forma dramática – Own - fez um beicinho depois
de um sorriso debochado – eu entendo toda essa raivinha reprimida. Imagino
o quanto é difícil assumir o que são toda essa negação fingindo ser machão.
Mas aqui você pode se sentir em casa, estamos em um lugar livre de pré-
conceitos - ela riu do próprio comentário, mas estava nervosa. Havia uma
platéia ao redor do bar que já estavam aglomerados antes, mas que passaram
a prestar atenção nela e nos rapazes. Alguns até a incentivavam a continuar
zombando deles, e outros os xingavam de enrustidos.

O rapaz não entendeu o comentário e a olhou confuso – do que está falando?


– perguntou irritado

Adriana olhou para Fernan e Gevy que riam antecipadamente esperando o


que sairia de sua boca. Ela sorriu com deboche e virou-se para o rapaz
fazendo cara de inocente – ué me enganei? Não são gays? – e continuou –
vocês entram aqui, desrespeitam cada pessoa que está aqui para se divertir,
assediam as moças, xingam, e ainda perguntam se eu sei quem você é? Eu sei
sim, você é mais um babaca hétero, branco, rico e que acha que está acima da
lei, e que papaizinho vai te livrar das tuas merdas. Aqui não!

A platéia em volta explodiu em gritos e palmas na sua direção, e o rapaz


irado ficou olhando ao redor um pouco desconcertado. Seus amigos pararam
de rir imediatamente acompanhando o olhar dele. E devido à quantidade de
frequentadores assíduos do local, sentiram-se intimidados. Ela lhe deu as
costas e foi ajudar seus amigos atenderem aos clientes afoitos.

E o grupinho continuava ali ainda, mas não estavam mais procurando


encrencas, nem bagunçando. Nem perceberam que eram observados do andar
de cima, por um expectador oculto entre os freqüentadores da casa, que
prestava atenção em cada gesto e cada palavra que diziam e pensavam e
principalmente o que tramavam.

Depois de uma hora e meia atendendo a um pedido atrás do outro, Adriana


foi surpreendida pelo mesmo rapaz, que voltara novamente. Ele subiu no
balcão e pulou para o lado de dentro, a puxou com força pelo braço torcendo-
o para trás até ela gemer de dor, sem lhe dar tempo de reagir. A empurrou
contra o balcão e segurou sua cabeça contra ele para impedir que fizesse
qualquer movimento brusco. A pancada da sua cabeça contra o balcão doeu
muito, pois ela gemeu outra vez.

- E agora vadia, fala aquilo de novo? - sussurrava em seu ouvido - não é tão
valente agora não é mesmo? - continuou

Fernan e Gevy se alarmaram. O rapaz estava bem alterado e raivoso e ria


excitado como se aquilo fosse uma travessura infantil, pois seus amigos
encostaram-se ao balcão e o incentivavam e continuar castigando Adriana.
Quando Fernan se aproximou para tira-lo de cima da amiga ele o empurrou
com o braço livre para afasta-lo, mas Gevy que se jogou em suas costas e lhe
dava tapas na cabeça e rosto, mas ele era um rapaz forte e muito robusto, e
não conseguiu fazer com que soltasse sua amiga.

Adriana sentia dor no braço que ele torcia e no rosto esmagado no balcão, e
quando ele puxou seu cabelo com violência para encara-lo. Juntou toda sua
força, e se livrou dele virando o corpo com tudo e empurrando-o com mais
força ainda. Fez com que o ele perdesse um pouco do equilíbrio e fosse
forçado a se apoiar no balcão. Mas devido à ira que ela sentiu com seu
atrevimento, pegou uma das garrafas do bar e bateu na cabeça dele, quando
ele se voltou contra ela novamente. Depois acertou o joelho direito entre suas
pernas e o fez cair no chão urrando de dor. E não satisfeita, partiu para cima
dele com chutes e socos – maldito! Vai aprender a nunca mais bater numa
mulher – gritava enquanto o esmurrava.

Foi uma confusão e tanto, e precisou de todos os seguranças para apartar a


briga, pois os amigos do rapaz invadiram o bar, mas os dançarinos pararam
de fazer o que estavam fazendo e também partiram para briga para proteger
Gevy, Fernan e Adriana. E quando finalmente conseguiram apartar aquela
briga, e tirar Adriana de cima do causador de tudo aquilo, podiam ver o
estrago que ela fizera no rosto do rapaz. A cabeça e o nariz dele sangravam
em profusão, ele estava vermelho como um pimentão e todo desgrenhado.
Mesmo assim ainda a xingava e a ameaçava, enquanto ele e seus amigos
eram arrastados para fora da boate.

Adriana foi levada para a enfermaria e depois para o escritório de Martin


Stuart o dono da boate. E depois de uma hora de sermão, saiu de lá com um
saco de gelo na mão e muito puta da vida.

Alex a esperava do lado de fora do escritório que era ao lado do camarim dos
strippers - vi o estrago que você fez naquele cara. Aliás, eu vi você surrando
ele - disse achando graça das próprias palavras, o que ela não achou.
Mediante seu silêncio, ele continuou - você está bem? O que foi que Martin
disse? - sua pergunta agora soava preocupada

Ela o encarou impaciente - estou bem! E não surrei ele, ele me machucou.
Minha mão esta doendo, sorte não ter quebrado um osso com aquela cabeça
dura - disse olhando para a própria mão fazendo careta de dor - e minha
cabeça também dói – tocou o alto da cabeça, lembrando-se do puxão de
cabelo depois dele ter batido ela contra o balcão – Martin disse que se acaso
ele tentar processar a casa, tem câmeras e testemunhas que provam o que ele
fez. E depois riu e disse que eu sou uma fera quando sou provocada, e que eu
deveria ser segurança e não bartender - respondeu inconformada.

Alex riu divertido, depois pareceu preocupado novamente - me espera para ir


embora - advertiu - tem que tomar cuidado na hora sair, eles podem estar lá
fora te esperando - disse preocupado.
- Não estou preocupada com isso, que venham! Não tenho medo de nada,
nem de ninguém. – respondeu desafiante, tirando o gelo da mão e dando para
ele segurar um pouco.

- Não precisa passar por isso sabia? Precisa de alguém para te proteger. –
disse pegando a mão dela e colocando o gelo em cima novamente.

- Eu sei me cuidar Alex - sua resposta saiu seca - Não se preocupe! – disse
encarando-o - mas valeu a preocupação! – e afastou-se voltando para o bar.
Pois faltava algum tempo ainda para a noite acabar, e ainda tinha algumas
coisas para fazer.

Fernan foi o primeiro a correr para ver como ela estava. Em seguida Gevy
largou o que estava fazendo e se aproximou com a expressão de quem se
sentia culpada - se eu soubesse que iria dar tanta confusão, não teria trocado
de lugar com você – disse com remorso.

- Meu bem - disse Fernan olhando sua mão - olha sua mão como ficou. –
disse preocupado e rindo em seguida.

- Ele me provocou, e era um cara enorme. Você viu o que ele fez? -
respondeu e respirou fundo para controlar a ira.

Fernan torcia uma mão na outra em sinal de angustia e preocupação - Nunca


vi você daquele jeito, ninguém conseguia te tirar de cima dele. De onde veio
tanta raiva e tanta força? O cara era bem maior que eu.

- Não sei! - Adriana respondeu um pouco séria.

- Então meu bem! Vou por uma plaquinha na porta do apartamento. “cuidado
com minha amiga, ela morde” – disse Fernan desenhando a plaquinha no ar.
E rindo. Os três caíram na gargalhada com o comentário do amigo.
Do lado de fora...

Ouviu o celular do amigo sardento tocar e se irritou – desliga essa porra


Dany! Não quero que saibam que estamos aqui. Porque vou esperar aquela
vadia sair e vou acabar com ela - disse o rapaz com o rosto inchado e
segurando algo no nariz para estancar o sangue que não parava de sair.

- Qual é Stu? Vamos embora cara. Deixa isso pra lá - disse o rapaz sardento

Ele encarou o amigo de forma furiosa - deixar pra lá? Ela me humilhou na
frente de todo mundo - ele bateu com força e raiva no capo do carro com o
punho fechado.

Eles estavam na porta dos fundos da boate, esperando dar o horário da saída
dos funcionários. Não havia seguranças ali, pois somente os funcionários
saiam por aquela porta. A única parte iluminada era a luz que ficava acima da
porta de ferro que iluminava boa parte da rua. Mas no fim dela era totalmente
escuro não se enxergava um palmo à frente do nariz.

O outro amigo negro e troncudo se aproximou dele - ta pensando em fazer o


que? - perguntou um pouco agitado enquanto olhava ao redor

- O que sempre fazemos Jay? - ele se virou com um sorriso diabólico –


vamos nos divertir um pouco, só isso amigão! Você nunca teve problema
com isso antes – disse apertando o ombro do amigo musculoso que era maior
que ele.

Jay pareceu não gostar muito da idéia, e dois dos amigos já haviam ido
embora no meio da confusão. Restando apenas Stu e seus três amigos, Dany,
Jay e Claude que só observava a discussão enquanto roía as unhas numa
reação nervosa.

- Talvez não seja boa ideia mexermos com essa! Você viu o tanto de gente
que ficou do lado dela? Os seguranças os outros barmans. Não sei não cara –
Jay disse com um tom preocupado

Stu se aproximou do amigo de forma ameaçadora - quem vai fazer alguma


coisa? Ta vendo alguma testemunha? Ta vendo alguma câmera aqui? - riu de
forma nervosa - Eu só a quero humilhada como ela me humilhou. Acha que
alguém vai aparecer e proteger uma coisinha insignificante? - ele ria alto de
forma nervosa como se não tivesse muita certeza do que estava falando

- E quem vai te proteger? - A voz ecoou do meio das sombras no fim da rua
sem saída.

Todos se viraram ao mesmo tempo e sobressaltados. Stu forçou a vista para


tentar enxergar melhor e até se curvou um pouco, mas só pode vislumbrar um
par de olhos brilhantes saindo das sombras até tomar forma de um homem
alto e atlético com cabelos curtos e negros. Pareceu bem imponente indo
devagar em sua direção e não teve um bom pressentimento enquanto olhava
aquele estranho homem - o que? – disse confuso

- No entendiste pendejo? – respondeu o homem com um sorriso de canto -


parece que está bastante obstinado em fazer mal a uma mulher. Seria uma
luta injusta não acha? Quatro homens contra uma mulher, quanta covardia -
foi se aproximando andando lentamente enquanto estudava as quatro
criaturas a sua frente. Até que de repente sumiu diante de seus olhos e surgiu
logo atrás deles.

Dany olhou em volta assustado e quando deu de cara com o homem o mediu
com espanto - como? – disse olhando para ele e depois para o outro lado
confuso

- como o que? – perguntou o homem aproximando-se mais do rapaz de


sardas, e aparecendo do outro lado - como eu fiz... Isso? - ele sorriu
calmamente sabia o quanto impressionava suas vítimas quando fazia aquilo
em outra época, mas não tinha o mesmo humor de outrora, preferia agir
rápido, pois sua falta de paciência o impedia de brincar.

Jay deu um pulo com o susto que tomou quando o viu fazer aquilo de novo -
quem é você? - perguntou levando a mão ao peito quando se assustou.

Arregalou os olhos com ironia - o bicho papão! Porque todo mundo pergunta
isso? - e olhou para o que estava com o nariz sangrando, sentia o cheiro do
sangue que escorria em profusão ainda. Ele havia respondido com tamanha
calma que o rapaz somente riu tentando disfarçar o medo.

Stu se aproximou dele, mas mantendo uma distância ainda considerável - ta


bom cara! Você deve ser um maluco qualquer que sabe fazer uns truques -
dizia - mas somos quatro, e você um - disse confiante demais, como se aquilo
fosse assustar o tal homem – dois coelhos numa noite só, você e a vadia –
disse rindo quando se voltou para seus amigos.

Felipe fechou os olhos como se estivesse tentando se controlar, como se as


palavras do rapaz lhe causassem um efeito imediato para sua raiva surgir.
Quando abriu os olhos novamente, eles eram totalmente negros e brilhantes, e
quando ele sorriu de forma diabólica, suas presas estavam proeminentes. E
sem que esperassem, partiu para cima deles sem lhes dar tempo para fuga.

Primeiro Jay, que estava mais próximo naquele instante. O pegou pelo
pescoço e o apertou até começar a esmagar sua traqueia, fazendo o rapaz se
debater desesperado tentando se livrar da mão que o apertava. Depois o jogou
com muita força contra a parede podendo ouvir o estalar dos ossos
quebrando, caminhou até o rapaz novamente pegando-o pelo pescoço
novamente e o jogou como um boneco de pano para cima do prédio vizinho.
Aquilo levou os outros três ao pânico. Então Dany correu para o final da rua
na tentativa de saltar o muro e alcançar o outro lado, mas quando deu por si,
Felipe o puxava de cima do muro e o jogava no chão, o chutou jogando-o
longe e em seguida o atacou rasgando sua garganta sem piedade. O rapaz
nem sequer teve tempo de se debater como o amigo.

Stu e seu outro amigo magrelo Claude, tentaram entrar na boate pela porta
que dava acesso para o beco, mas estava trancada. E no desespero, correram
em direção ao carro estacionado na esquina. Claude não teve tempo de chegar
ao destino, foi lançado para além do muro que ficava no final do beco.
Stu conseguiu entrar no carro, e tentava por a chave na ignição, mas não
conseguia, pois suas mãos tremiam e ele não parava de gritar apavorado.
Quando conseguiu ligar o carro, acelerou e disparou fazendo os pneus
derraparem fazendo um barulho alto quando fez uma curva forçada, ele
deslizou quase perdendo o controle. Quando viu que tinha ganhado distância
de alguns quarteirões da boate, olhou para os lados e não vendo o que tinha
matado seus amigos parou na esquina de uma rua pouco movimentada, pegou
o celular e tentou ligar para a policia, mas seus dedos se atrapalhavam com as
teclas, pois seus olhos estavam nublados com as lágrimas devido ao pânico
que sentia – PORRA! – ele berrou batendo o aparelho no painel do carro.
Depois parou e respirou fundo, tentando se controlar. Enxugou suas lagrimas,
baixou sua cabeça encostando-se no volante junto de suas mãos. Tentou fazer
a respiração que as grávidas fazem na hora do parto para se controlar e tentar
se convencer de que aquilo não era real. Mas então ouviu duas batidas no
vidro e quanto levantou a cabeça bem devagar para ver quem era o vidro foi
despedaçado e ele arrancado para fora do carro.

Aquele cheiro era excitante e às vezes era impossível controlar seu impulso.
Gostava da sensação de ter que caçar suas presas, e quando as escolhia não
tinham como escapar. Deleitou-se ao ver o medo nos olhos daquele rapaz e
sentir seu pânico bombear seu sangue freneticamente para seu coração, dava
para ouvi-lo bater rápido e descontrolado. Mas o fato de matar a criatura que
queria fazer mal a sua protegida fazia com que o ato se tornasse mais que
prazeroso. Não se importava com quem ele era e nem a que família ele
pertencia, nem que a policia iria investigar em vão, pois não encontrariam
suas digitais ou qualquer vestígio que levasse a ele. Foi fácil, muito fácil
porque quis mata-lo assim que ouviu o que pretendia fazer com ela.
Vislumbrou o olhar de pavor do rapaz que arregalou os olhos e percebeu o
que ele era realmente. Então lhe disse próximo ao seu ouvido - isso é
totalmente pessoal! - O arrastou para a rua escura, e depois de suga-lo
quebrou-lhe o pescoço e o jogou displicentemente no chão como se fosse um
recipiente vazio. Sumiu por entre as ruas da velha Londres enquanto
assoviava a melodia da sua música preferida.
04h20min da manhã

O Movimento na boate era consideravelmente menor devido ao horário.


Adriana resolveu levar o lixo para fora, já que Fernan com certeza poderia
dar conta sozinho de atender aos poucos clientes que restavam na boate,
aqueles que insistentemente ficam até às 6hs da manhã. E como de costume,
resolveu chamar Gevy para ajudá-la a levar os quatro sacos de lixo com
copos descartáveis, garrafas vazias e restos de cascas de frutas e outras coisas
usadas nas bebidas. Ela saiu na frente arrastando os sacos de lixo e como eles
não eram pesados, não teve dificuldades para destravar a porta e empurra-la
para o lado de fora para que abrisse. Passou e ficou segurando a porta com o
pé esquerdo para sua amiga passar com mais dois sacos de lixo.

O beco sem saída era pouco iluminado e deserto, só tinha movimento na hora
em que a boate fechava, pois todos os funcionários saiam por aquela porta.
Gevy foi até o fim do beco onde ficava a caçamba de lixo que seria recolhida
pelo lixeiro na tarde seguinte, jogou os dois sacos sem muito esforço e ficou
provocando a amiga.

- Para de ser molenga, garota! Joga logo isso! - brincou

- Haha! Para de graça, eu sempre faço isso primeiro que você - Adriana
respondeu rindo.

Gevy foi na frente, mas parou no meio do caminho quando ouviu algo pesado
cair de cima do prédio vizinho fazendo um estrondo quando atingiu o chão.
No primeiro momento não pode ver o que era, mas se assustou e ficou imóvel
- Honey? - chamou a amiga sem tirar os olhos do local.
- To indo – Adriana respondeu enquanto jogava o último saco, sem olhar para
trás.

- Honey? - chamou novamente, seu tom de voz tinha certa urgência, o que fez
Adriana olhar na direção da amiga.

- O que? - disse se virando e olhando para a amiga vendo sua expressão


assustada, e seguiu o olhar dela.

- Uma coisa caiu de lá de cima! – Gevy disse apontando para cima e depois
para o local onde caiu.

Adriana aproximou-se de Gevy e forçou a vista para tentar identificar o que


era. Estava um pouco escuro o que impedia que identificasse o que tinha
caído de cima do prédio - O que é isso? - perguntou se curvando para
enxergar melhor.

- Não sei! Só sei que caiu de lá de cima - disse Gevy olhando para cima
novamente.

Adriana andou devagar na direção da coisa que havia caído, pegou o celular
do bolso esquerdo de sua calça jeans e acionou a lanterna do seu celular,
esticou o braço e chegou cautelosamente mais perto - Merda! – disse
sobressaltada quando viu o corpo de um jovem negro ensanguentado, com os
olhos arregalados num misto de terror e dor. Sentiu suas pernas vacilarem de
pavor e seu coração parecia que iria saltar de sua boca. Então numa reação
mecânica e mesmo sem gritar, ela levou a mão na boca para abafar o grito
que não sairia.
Viu que pelo estado do corpo parecia que estava com o pescoço esmagado,
ou melhor, o corpo inteiro quebrado. Pois seus braços e pernas estavam em
uma posição que não ficaria se não estivessem quebrados - merda! Merda! –
disse quando saiu correndo e parando ao lado da amiga.

- O que foi? O que foi? – Gevy perguntou entrando em pânico também,


mesmo sem ver o que era.
- Não vai lá! – discou o numero do chefe da segurança da boate - Jack? Vem
aqui no fundo e chama a polícia. Tem um cara morto aqui no fundo - ela nem
terminou de falar e ele já tinha desligado.

Quando Gevy ouviu a frase “um cara morto” não resistiu e foi se certificar
de que havia mesmo alguém morto ali. Voltou correndo, assim que
comprovou - tem um cara morto ali! Tem um cara morto ali! - disse em
pânico sacudindo as mãos num acesso nervoso.

- Eu disse para não ir lá! – Adriana berrou irritada sabendo como ela reagiria.

- Quem é aquele cara? - Gevy perguntou esfregando os próprios braços e


encarando a amiga que ficou pálida de repente.

Adriana olhou na direção do corpo caído e sentiu um calafrio de repente – a-


acho que é um daqueles caras que arrumaram encrenca comigo! - respondeu
quase num sussurro

Gevy fez um ó mudo com a boca e arregalou os olhos desacreditando no que


ouviu - Como é? - disse assustada em seguida.

Em menos de dez minutos o beco deserto parecia um formigueiro de


policiais, seguranças da boate, e clientes curiosos. Tanto Adriana, quanto
Gevy relatavam aos policiais o que viram. Mesmo sendo apenas duas pessoas
que acharam o corpo e não testemunhas oculares de um crime. Mesmo assim
eles insistiram para ver passaportes e vistos. Logo, Martim Stuart o dono da
boate apareceu para prestar assistência as duas, que além de funcionárias
eram amigas dele.

- você disse que ele estava com um grupo de amigos ai dentro, e que além de
arrumarem encrenca com a senhorita bebiam muito e faziam algazarra? -
interrogou o detetive Gelinhall, um homem de mais ou menos 45 anos, alto
magro e loiro e um pouco grisalhos, com olhos astutos num azul acinzentado
um tanto sombrios, seus cabelos eram cuidadosamente penteados para trás de
uma forma que parecia que nenhum fio sairia do lugar, mesmo com um vento
forte. Fumava um cigarro de filtro vermelho, e cheirava a loção pós-barba.
Ele analisava a reação de Adriana enquanto anotava tudo o que ela falava.
Não simpatizava com estrangeiros, e sempre desconfiava que a maioria dos
crimes em sua cidade vinha dos estrangeiros, e que todos eram ilegais ali -
não conseguiu ver se tinha mais alguém com a vitima? - perguntou
perscrutando seus olhos de forma muito desconfiada.

Adriana bufou impaciente – detetive - respondeu tentando manter a calma -


não vimos nada além de alguma coisa cair de lá de cima - apontou para o
prédio - até pensamos que poderia ser um tapete velho que estaria pendurado
e caiu por acidente - concluiu desviando o olhar dos olhos insistentes e
desconfiado do detetive.

Ele a analisou por um instante, depois desviou o olhar para o alto do prédio,
de onde o rapaz havia caído. O prédio tinha 10 andares, era antigo, não tinha
escadaria de incêndio, onde descartava a idéia do rapaz ter ido parar no alto
do prédio por vontade própria.

Quando o outro detetive se aproximou, esse mais jovem que o primeiro. Uns
30 anos, negro de cabelos castanhos e crespos, que usava num corte militar.
Olhos castanhos, traços fortes e alto. Usava um terno muito bem cortado,
nem parecia policial. Ele olhou atentamente para as duas amigas grudadas
uma no braço da outra e sorriu simpático - Logo irão para casa! Se quiserem,
podemos deixa-las em casa. Sei que estão muito assustadas com o que viram
– disse tentando ser gentil

Adriana apenas o olhou e balançou a cabeça concordando, e ele continuou a


falar de forma atenciosa - Estarei logo ali perto, se precisarem de qualquer
coisa meu nome é detetive Samuel Crowley - disse lhe dando um cartão - se
lembrar de mais alguma coisa - concluiu enquanto fitava as duas como se
estivesse tentando jogar charme.

Quem pegou o cartão foi Fernan que estava ao lado delas e percebeu o olhar
furtivo e insistente para suas amigas - se elas se lembrarem de algo,
ligaremos! Obrigada! - disse puxando-as de canto aborrecido com a forma
que ele falava com suas amigas.

O detetive ficou olhando-os se afastarem, até o detetive Gelinhall se


aproximar e começar seu relatório, tirando sua atenção das duas moças - Não
existe escada de incêndio que dê para o terraço desse prédio. E também não
abre a possibilidade de a vitima ter entrado e usado à escada interna e ter
saltado de lá de cima. Pois o prédio está todo trancado, e o zelador disse que
ninguém entrou - disse o detetive Gelinhall que olhava para cima.

O detetive Crowe seguiu seu olhar - Está dizendo que... -Ele pensou um
pouco antes de continuar - que ele foi lançado para cima do prédio? -
Questionou olhando incrédulo para o parceiro

- Impossível! – refletia – deve ter morrido na queda. Corpo do jovem rapaz


está quase moído, vários ossos de seu corpo foram quebrados e seu pescoço
foi esmagado. E acabei de receber a informação que mais um corpo foi
encontrado perto daqui, totalmente drenado e pescoço quebrado - ele bufou.
Com certeza teria uma longa noite, e com certeza sua semana seria um
inferno, até achar quem teria feito aquilo.

- Esses malucos! Alguém está querendo chamar a atenção. Mas logo aqui nos
fundos de uma boate? - comentou Crowe tentando fazer uma piada, mas ficou
sério quando viu que seu parceiro não havia achado graça nenhuma e o
olhava com certa reprovação.

- Malucos ou não, eles podem atacar qualquer um e em qualquer lugar.


Dentro de uma boate pode acontecer de tudo - concluiu.

- detetive Gelinhall! - chamou um policial de cima do muro no fim do beco -


tem outro corpo aqui! - gritou gesticulando e depois saltou para o outro lado,
sendo seguido por mais três policiais - hei espera! - gritou ao se aproximar do
jovem caído no chão e que gemia - ele esta vivo. Só muito machucado,
chamem o resgate! -gritou

Gelinhal subiu correndo no muro e saltou para o outro lado, enquanto


Crowley chamava o resgate e foi com os outros policiais dar a volta do
quarteirão para chegar ao outro lado.

Após todo o alvoroço por encontrarem uma vitima com vida, e o levarem
para o hospital para a unidade de tratamento intensivo. Começaram uma
investigação minuciosa para descobrirem quem causara tanto terror sem
deixar rastros. O que provavelmente deixaria a boate interditada por um
tempo, até Martin dar um jeito de abri-la novamente. Até lá, todos que
trabalhavam na boate e recebiam por semana, teriam que achar outra forma
de ganhar dinheiro.

Quando Adriana e Gevy foram liberadas pelos policiais, logo foram rodeadas
pelos amigos que faziam milhares de perguntas. E quando voltaram para
casa, já passava das 7hs da manhã. Alex se sentiu na obrigação de
acompanha-los, já que era um amigo intimo. Assim que entraram no
apartamento, Fernan correu para fazer um chá para acalmar os nervos das
amigas. Somente Gevy estava em choque, pois Adriana manteve sua frieza,
pois não se sentia abalada, por mais que tivera sido uma cena nada agradável
aos seus olhos, chocante até. Mas não era o tipo que se abalava facilmente
como sua amiga Gevy que era mais sensível, pois se dizia sensitiva e que
captava coisas fora do comum, aquilo não havia sido nada comum e nem
assalto, sim um ato de vingança.

- Quer um calmante amiga? - ofereceu Fernan a Gevy que aceitou de cara.


Depois ele se virou para Adriana que negou com a cabeça - Que coisa
horrível! Bem perto da gente. Fiquei até com medo do jeito que aconteceu,
três caras mortos e um quase morto de uma forma tão esquisita. - comentou
Fernan que se sentava na cadeira com uma expressão quase assustada.

- Isso acontece todos os dias, é que não nos damos conta até acontecer perto
da gente. - disse Alex tentando ser natural

- Do jeito que fala parece muito normal. É que você não ouviu o impacto do
corpo do cara com o chão. - Gevy estremeceu ao se lembrar.

- Mas imagino que deve ter sido assustador! - concordou

- Você não imagina o quanto foi assustador para mim. Adriana que foi
corajosa e foi olhar de perto. Nem gritou! - disse olhando para a amiga que
bebia sua água em silêncio e olhava de uma forma estranha para a janela da
cozinha.
- O que foi? - perguntou Alex olhando na direção que ela olhava e ficou
preocupado.

Adriana não olhou pra ele de imediato - Só fico imaginando quem teria tanta
força para fazer tudo isso, e tão rápido – e de repente parecia sair de um
transe.

- Tem razão! - disse Gevy de repente - não vimos ninguém. Tão estranho -
comentou pensativa.

- Querida! Isso foi coisa de gangue! - disse Fernan - devem ter sido esses
malucos homofóbicos que acharam que aqueles filhinhos de papai eram gays,
tem muito disso no mundo inteiro, esqueceu? - disse contrariado

- Sem dúvida tem sim! Mas não acho que tenha sido uma gangue de
homofóbicos – Adriana disse intrigada, tentava pensar em algo que pudesse
ter alguma lógica para ela.

- Talvez algo sobrenatural! - disse Alex de repente chamando a atenção dos


três amigos para ele.

Fernan começou a rir nervosamente - ah qual é? Isso não existe, a gente sabe
disso - disse Fernan incrédulo.

- Sobrenatural? - disse Gevy um pouco assustada. Ela fez uma pausa quando
teve um flash back da cena do rapaz morto e sua expressão de horror e medo
- algo que deixou o pobre coitado apavorado e que parecia estar com raiva o
suficiente para quebrar ele inteiro - concluiu. Nem se deu conta da reação
espantada dos amigos que a encaravam.

- Que absurdo! – Adriana disse um pouco irritada - deve ter alguma outra
explicação - disse ficando nervosa e levantando da cadeira

- Absurdo? - você mesma disse que deveria ser alguém muito forte. Quem
teria sido o incrível Hulk? - rebateu Gevy com certa indignação

- Alguém com muita raiva faz qualquer coisa, e tira força de onde não existe.
Adrenalina talvez – Adriana concluiu

- é a gente sabe! Você socou o cara que morreu dentro da boate, fez um
estrago no nariz dele - disse Fernan rindo e depois parou ficando sem graça.

- E agora o cara ta morto! - Adriana disse num tom de lamento.

Todos olharam ao mesmo tempo para ela, e ficaram em silêncio por alguns
segundos.

- Talvez você tenha um protetor secreto até para você! – Alex disse só que
desta vez para ver sua reação.

Adriana o encarou de forma muito séria. Sentia que havia algo estranho o
tempo todo a sua volta ultimamente. Mas um protetor secreto para ela seria
um absurdo até imaginar. - Não costumo acreditar no que não posso ver -
rebateu friamente e lhe deu as costas para ir para o quarto.

Seus amigos ficaram observando-a entrar no quarto. Fernan ficou um pouco


preocupado, sabia que por trás daquela mulher durona existia alguém
sensível, mas que não deixaria transparecer. - Deixa! - disse olhando para
Alex - ela vai ficar bem, principalmente depois que dormir - concluiu.

Alex ficou olhando para a porta fechada do quarto e pensou que aquelas
mortes com certeza era coisa "deles" que com certeza acharam um bom
motivo para fazer. Proteção? Sem duvida. Mas ela não gostaria de saber o
que "eles" fizeram para protegê-la. Mas independente dela gostar ou não, eles
tinham tudo planejado, inclusive tê-lo enviado para se tornar seu amigo
íntimo. Seria a desculpa perfeita para se aproximarem dela. Sentiu-se um
pouco enjoado com o aquilo tudo, pois haviam se tornado grandes amigos e
com isso se sentiu um traidor. Lembrou-se das palavras de Felipe.

“Temos um grande motivo para que tudo seja desta forma. tudo é para a
proteção dela, desde o começo. Não se intrometa além do limite, se quiser
continuar a respirar”.

Aquilo sempre o incentivava a fazer o que pediam sem se sentir culpado às


vezes. E ainda mais sabendo o que eles eram realmente, e o que eles não
eram "humanos". Talvez ela entenda algum dia, ou talvez o odeie para
sempre.

- Gato! Relaxa. Ela vai ficar bem sim - Disse Fernan percebendo o olhar
silencioso e preocupado de Alex.

- Tenho que ir! - disse forçando um sorriso - volto mais tarde! - deu um beijo
no rosto de Gevy e apertou a mão de Fernan que sorriu preocupado. Depois
saiu.
Capitulo 4

Os guardiões

- O conhece muito bem, meu caro amigo! Morgan não aceitará assim tão
fácil, não como nós - disse Miguel, que estava impecavelmente vestido com
um terno cinza que lhe caia muito bem – Se aparecer, tenho certeza de que
não vai aceitar a descende de Kaimel – avaliava seu amigo que acabara de
chegar.

Felipe riu com desdém - ela é diferente de todas que um dia cruzou o
caminho dele - disse sentando-se na poltrona em frente à lareira no salão de
visitas da mansão em Londres.

Diego entrou de repente – não pude deixar de ouvi-los. Quem é tão diferente?
- perguntou depois de deixar sua acompanhante esperando na outra sala
quando entrou, fazendo um sinal para que a moça morena lindíssima o
aguardasse no corredor.

Felipe e Miguel se entreolharam com certo humor.

Ele parou no meio da sala e os encarou divertido - apenas uma


acompanhante! - se justificou - somente uma diversãozinha rápida, não
deixarei rastros. Faço isso como ninguém. - Concluiu com um sorriso

- A sua habilidade para fazer certas coisas é impressionante - disse Miguel


enquanto se servia de um pouco de uísque e sorria com malicia.

Diego também sorriu da mesma forma - Isso porque não costuma reparar em
si próprio, não é mesmo irmão? Não prefere algo fresco? - sugeriu indicando
com um gesto com a cabeça o lugar onde a morena estava.

Miguel virou-se para o amigo - Talvez mais tarde! - respondeu agradecido

- Pode ser uma noite divertida! – Diego disse - Posso pedir para que ela
chame algumas amigas - disse olhando de soslaio para Felipe que tinha a
expressão severa - São bem limpas, sem doenças! Não que isso venha nos
matar – fez uma cara sugestiva e depois sabendo o que ele diria, murchou.

- Acho melhor dispensar à prostituta e a festinha - disse Felipe autoritário -


temos algo muito mais importante para discutir.

Diego olhou para a morena parada no meio da outra sala e fez uma cara de
lamento. Foi até a moça, tirou algumas notas graúdas do bolso, pagou e
depois se despediu lhe informando que chamaria o taxi e que ele pagaria.
Ficou olhando a moça se afastar depois dela fazer um beicinho infantil para
ele insistindo em ficar – hummmmm que pena! - disse ao voltar para a sala
tempo depois. Ele analisou a expressão séria de Felipe e depois olhou para
Miguel.

- você pode fazer isso depois, pense na boa ação que fez essa noite lhe
poupando a vida - disse Felipe.

Deu de ombros. Sabia que ele estava de mau humor, não discutiria – então, o
que seria tão importante? - perguntou sentando-se na outra poltrona, fugindo
do assunto.

Felipe o analisou calmamente por um momento - não fomos os únicos a


encontrar a herdeira. O clã de Kaimel a encontraram também, mas desconfio
de suas intenções – estava extremamente aborrecido - infelizmente a
habilidade de eles encontrarem seus descendentes é inexplicável - disse
ficando de pé e andando impaciente pela sala.

Diego o olhou confuso - mas disse que estava tudo sob controle - lembrou ao
amigo.
- E estava! - disse olhando para Diego de forma impaciente - mas sabe que
tudo pode mudar de uma hora para outra, e as coisas nesse século são mais
rápidas. Provavelmente acham que podem controla–lá para usar a espada,
assim como nós achamos. Mas talvez Kaimel queira mata-la, velho
vingativo! - disse indo até a janela que ia do chão até ao teto, e ficou de
costas com uma das mãos para trás e a outra massageando sua têmpora direita
como se sentisse uma enxaqueca que não estava lá.

Diego notou seu aborrecimento e percebeu o quanto ele não tinha as coisas
sob controle como achava que tinha - como eles souberam da existência de
outra herdeira? Como a encontraram?

Miguel bufou impaciente, pois nem ele acreditava que o clã de Kaimel era
inteligente o suficiente para saber que haveria outra descendente - você
esqueceu como eles têm grande influência telepática? E por outro lado, ela
trabalha em um lugar frequentado por milhares de pessoas que entram e saem
o tempo todo. Mora no centro perto de Westminster onde o clã se instalou.
Acho que para os ciganos que são grandes conhecedores da bruxaria, não
seria difícil, e eles têm uma bruxa poderosa naquele clã - Miguel gesticulava
enquanto falava, e depois bebeu todo o uísque de seu copo - não seria difícil
encontrar alguém que genealogicamente faz parte de sua árvore - concluiu.

- Não me preocuparia tanto com eles - disse Diego agora mal humorado não
suportava os ciganos. Mas não mais que Miguel, o único sobrevivente de um
vilarejo que foi atacado por Kaimel, quando ainda era um bebe.

Felipe tinha o olhar perdido para a lua cheia – Atila a abordou naquela feira
cigana, com certeza acha que pode cuidar dela melhor do que nós. Afinal, nos
culpa pelo que aconteceu a Helena - ele deu um suspiro de lamento ao se
lembrar, mas não era aquele o motivo que o deixava preocupado – e ela é
somente uma humana, não sabe de nada do que a aguarda e nem do que
aqueles selvagens são capazes – ainda tinha o olhar perdido mirando a lua.

Miguel riu - o que quer dizer, que pretende traze-la pra cá? Irá sequestra-la?
Teremos que conviver com ela? - perguntou incrédulo.

Felipe voltou os olhos para encarar o amigo - não será difícil! Tenho certeza
que consegue suportar a presença dela, já tem força o suficiente para
conseguir resistir. Se os garous cismarem, podem pega-la. Eu não quero
aquelas criaturas perto dela - disse passando a mão pelo cabelo de forma
nervosa sabia que eles eram instáveis.

Diego o encarou preocupado, pois não entendia aquele apego que Felipe
tinha em relação à humana - É meu amigo, será um grande problema- disse
Diego preocupado – Se os Argus estão envolvidos, será algo difícil. São
criaturas violentas e podem até mata-la. Mas nós também podemos fazer isso,
tem noção do que está nos pedindo?

- Sim! Mas podemos nos controlar, e eles não. Eles fariam qualquer coisa
para nos afastar dela, e o nosso informante já foi identificado. Então
obviamente já sabem que estamos por perto - respondeu irritado - eles são
espertos demais, você sabe disso Diego – concluiu Felipe ainda mais
irritado.

Miguel riu debochando - mas na lua cheia tornam-se insuportáveis, quem


poderia controla-los? Tão violentos e famintos quando transformados –
provocou.

- Oh sim! E não queremos que nada aconteça com ela, muito menos enquanto
estiver conosco - Felipe o encarou friamente, pois sabia que Miguel era mais
suscetível a não aguentar a presença da humana do que qualquer outro, e viu
o sorriso do seu amigo murchar - temos inimigos em todos os lugares -
continuou depois de uma pausa – e a primeira coisa que irei fazer é trazê-la
para que tenha a nossa proteção - concluiu virando-se para Miguel e Diego
que o olhavam atentos.

- Você fala como se ela pudesse se defender de criaturas como nós e como
eles. Está arriscando demais. Seria mais fácil deixa-la onde está – Diego disse
preocupado.

Felipe baixou a cabeça e olhou para os sapatos notando pequenas gotas de


sangue neles, depois voltou o olhar para eles de forma confiante – não! Farei
o que tenho que fazer – respondeu indo em direção as escadas.
Diego balançava a cabeça em negativa, mas em silêncio, e Miguel fez um
brinde sozinho com o copo cheio de uísque novamente, em seguida bebeu de
uma vez e sorriu satisfeito.

- A propósito... - disse Miguel lembrando-se de algo - ontem levou mais


tempo em sua vigília - disse estudando a reação de Felipe, havia notado seus
sapatos, mas não diria que já sabia o que ele tinha feito, assim como Diego.

- Apenas fiz o que tinha que fazer! - Felipe respondeu sem olha-lo e
continuou andando

- óh! - fez Diego de repente, quase se divertindo – Então foi você - disse
depois de se lembrar do noticiário do ataque e morte de Três jovens, no
noticiário.

Felipe parou no meio da escada, olhou para trás - os rastros não chegarão até
aqui, nunca irão descobrir quem ou o que fez aquilo - disse dando as costas
novamente - não se esqueçam de que amanhã ela estará conosco em
Yorkshire - sumiu pelo corredor.

Miguel e Diego se entreolharam - isso pode ser um problema - disse Diego


bufando um tanto contrariado.

- Não consegue se controlar meu amigo? - disse Miguel o provocando

Diego olhou para seu amigo de forma preocupada, pois o conhecia muito
bem - Nunca recebemos humanos nessa casa por muito tempo. O tempo que
passamos perto deles geralmente é para nos alimentar - refletia

- Não me preocuparia com isso - respondeu Miguel – já convivemos com eles


antes, na corte, lembra? Não será difícil.

Diego o mediu de baixo a cima - ah claro! Há centenas de anos atrás. Hoje é


bem diferente... se bem que – ele sorriu - seria interessante observa-la de
perto.

Miguel balançou a cabeça e riu em seguida - talvez! Mas me intriga esse


interesse obsessivo de Felipe por ela, essa coisa paternal estranha que ele tem.
Eu a vi - disse lembrando-se do pub.

Diego o encarou – o conhece bem meu amigo. Felipe é a criatura mais


misteriosa que já me deparei em séculos de imortalidade. Mas ele faz tudo
por aqueles que ama, sabe disso, ele o criou desde pequeno – disse dando um
tapinha camarada nas costas do amigo – ela também é bonita como Helena e
suas irmãs? – perguntou curioso

Miguel ficou pensativo por alguns instantes – É bonita sim, mas não parece
tanto com elas. Mas essa tem uma energia diferente. Tem alguma coisa
diferente e muito familiar naquela mulher, mas não consigo identificar o que
pode ser, mas não tem a ver com linhagem de Kaimel – estava sério enquanto
falava, mas depois sorriu.

- Não consigo imaginar o que possa ser meu amigo. Mas consigo imaginar a
cara de Morgan quando a ver, ele irá saber de imediato o que Felipe fez -
disse Diego se lembrando de Morgan - vamos ver o quanto vamos suportar a
presença constante de uma humana, seria um ótimo desafio - disse Diego
com um sorriso.

Miguel riu alto - sem duvida! - concordou olhando para o amigo de forma
sugestiva – poderíamos apostar... Seu carro? - sugeriu com um sorriso
malicioso.

Diego ficou pensativo por um segundo – se você resistir mais que eu, o carro
é seu. Agora se eu vencer meu amigo pensará em algo para tirar de você!
Agora... vamos ouvir os planos de Felipe - respondeu subindo as escadas
sendo seguido por Miguel.
A Viagem

Adriana acordou de um sono sem sonhos, mas quando se mexeu na cama


teve a sensação de que havia levado uma surra, pois tudo doía. Espreguiçou-
se e fez um esforço enorme para abrir os olhos. Reconheceu a pessoa sentada
na cadeira perto da janela - o que faz aqui? - perguntou se sentando com
dificuldade - ficou de vigília? - perguntou bocejando.

Alex sorriu - cheguei agora a pouco, fiquei preocupado com você! E trouxe
noticias de Stuart - disse o rapaz que sorria para ela.

Ficou um pouco sem graça quando lembrou que havia deixado falando
sozinho na noite anterior - Alex! Não precisava se preocupar comigo, estou
bem-disse um pouco sem graça.

Ele sorriu novamente – eu sei! Sabe aquele meu amigo no pub? - disse
tentando faze-la se lembrar.

Ela pensou por um instante e se lembrou de repente. Mas ainda estava


sonolenta - aquele que parecia um anjo de tão bonito? - perguntou sorrindo e
colocando as pernas para fora da cama lentamente, pois estava com preguiça.

Alex riu com a comparação que não tinha nada a ver. Só se fosse o anjo da
morte, pensou! - sim! Eles têm uma casa de campo, na verdade uma mansão
bem legal. E ontem quando estava com eles, nos fizeram um convite tentador
- ele disse.

Olhou pra ele desconfiada por um momento - hm. continua - disse

Ele respirou fundo antes de continuar, porque teria que ser bem convincente.
Sua vida dependia daquilo - esse tempo que vamos ficar sem trabalho,
poderíamos ficar por lá uns dias. Ele nos convidou, e já que o baile de
máscaras será no mesmo lugar - ele disse animado - seria legal ficarmos lá
por esses dias. Tem um jardim magnifico, você se apaixonaria pelo lugar - ele
falava olhando de soslaio para ver sua reação.

Ela riu sem ânimo - tentador! Mas esqueceu? Temos que arrumar outra coisa
para fazer e compensar esses dias que ficaremos parados - respondeu
lamentando.

- Então... - ele disse de repente coçando a cabeça - Martin vendeu a boate


para esses meus amigos. Eles disseram que não tem problema algum e que
vocês receberão mesmo não trabalhando, já que a boate passará por reformas
– realmente era o último recurso o qual Felipe lhe disse para usar para
convencê-la.

- O que? Não, perai! – Adriana disse ficando de pé sobressaltada - como


assim Martin vendeu a boate? - perguntou alarmada e mais desconfiada
ainda.

- Ele já iria vender a boate para eles, estavam em negociação. A boate estava
atolada em dividas - ele tentava lhe explicar de forma convincente - eles
compraram, pagaram todas às dividas da boate, regularizaram os
documentos. Isso seria passado hoje, se não houvesse acontecido o que
aconteceu ontem – tentou lembra-la da noite anterior.

Adriana o olhava em silencio, boquiaberta e depois disse: Estou


completamente confusa! - disse passando a mão pelos cabelos.

- Martin deixou uma carta para cada funcionário explicando os motivos que o
levaram a se ausentar com tanta urgência - disse esticando a mão para lhe
entregar o envelope. Respirou fundo quando lhe entregou aquilo, pois eles
nem desconfiaram que Martim Stuart fosse um deles, e que a boate já
pertencia àqueles vampiros.

Adriana pegou o envelope da mão de Alex - para onde ele foi? - perguntou
curiosa ao pegar a carta.

- Ele voltou para Dublin, nossa cidade natal na Irlanda. Passará uma
temporada por lá e acho que abrir um bar - respondeu ficando de pé com as
mãos no bolso da calça e olhando para amiga que rasgava o envelope e
depois começava a ler a carta rapidamente.
Adriana arregalava os olhos e abria a boca em uma reação de incredulidade.
Sentou-se novamente na cama e pôs a mão na boca, coçou a cabeça e depois
riu - parece mentira! - disse - ele vendeu a boate, vendeu esse prédio e agora
tudo pertence a uma empresa com nome de Drako Corporation, nome
estranho – tentou lembrar-se de onde conhecia aquele nome, mas depois deu
de ombros - aqui diz que ganhamos um ano de aluguel, devido ao transtorno
causado pelas reformas. Tudo oferecido pela a empresa que adquiriu tudo -
disse lendo a parte que informava aquilo - E teremos o pagamento normal -
ela olhou pasma para Alex por alguns segundo e depois saiu correndo do
quarto para falar com Fernan e Gevy que estavam na cozinha. Depois que leu
a carta novamente, ficaram em silêncio para digerirem o que ela havia lido e
o que Alex lhes acrescentava. Depois de uns cinco minutos pensando,
Fernan, Gevy e Adriana se entreolharam e começaram a gritar e a pular
comemorando.

Alex riu satisfeito com o resultado. Não desconfiaram - Então, vamos ou


não? – perguntou torcendo para que aceitassem e salvassem sua pele.

Adriana voltou os olhos especulativos para ele - perai! Será que Martin tinha
algum problema com a policia, por isso que vendeu tudo num ato de
desespero? – estava curiosa com o fato de ele vender a boate que amava tanto
tão facilmente – se você foi incumbido de trazer a noticia, então você deve
saber – disse encarando Alex por um momento.

Alex teve que pensar rápido- Não acho que seja isso! Só acho que ele estava
afogado em dividas, e o dinheiro que lhe ofereceram era impossível de não
aceitar – explicou de forma convincente, vendo que ela ainda o olhava de
forma desconfiada – então, vamos ou não? - perguntou novamente.

Adriana sorriu – mas é claro, meu bem! – fazendo um biquinho imitando as


drags que faziam show na boate.

Ele soltou um suspiro aliviado - então vão arrumar suas coisas! - disse
apressando-os

- Agora? E suas coisas? _ perguntou Gevy curiosa

- Já estão no carro que está aí embaixo. Só faltam vocês! - disse pegando


Adriana pelo braço levando-a gentilmente para o banheiro - Tome um banho
rápido, tome café e depois arrume suas coisas, daqui a pouco eu volto - disse
saindo com pressa.

- Aonde você vai? - perguntou parando no batente da porta do banheiro, já


tirando o pijama esquecendo de que Alex não era gay. Ele a olhou e fez uma
cara de que estava gostando do que estava vendo. Ela o olhou envergonhada,
e parou imediatamente - esqueci que você não é gay! – deu um sorrisinho
sem graça

- é eu sei! – sorriu divertido e lhe deu as costas - já volto - disse saindo.

Fernan estava eufórico - que tudo gata! Vamos para uma mansão no campo -
gritou Fernan fechando a porta logo depois que Alex saiu.

Gevy se apressou - estou louca para conhecer esses novos donos - disse
animada tirando a mala do guarda roupa.

- Nem acredito que vamos ter umas feriazinhas forçadas e pagas – Adriana
gritou do banheiro

- é, mas, é meio esquisito! - disse Gevy, parando de jogar suas coisas na mala
de repente, como se percebesse algo estranho naquela historia - tudo assim,
de uma vez... sei lá! – em um segundo ela dissipou aqueles pensamentos,
excitada demais para dar tanta importância - mas vamos aproveitar né, quem
recebe um convite assim todo dia – suspirou e voltou às malas.
- Sempre disse para vocês, é só conhecer a pessoa certa, que conhece todas as
pessoas certas - disse Fernan de seu quarto.
O encontro

- Felipe - disse a voz vacilante do outro lado da linha.

- Espero que tenha ocorrido tudo como o planejado - respondeu Felipe

- Sim! Ela está indo comigo – fez uma pausa e respirou fundo para tomar um
pouco de coragem e continuar – mas tive que convidar seus amigos também -
se explicou.

Felipe sorriu um pouco – Isso já era esperado. Muito bem então! Receberá o
que lhe foi prometido. Mas por enquanto, ainda vou precisar dos seus
serviços. Pelo visto, ela confia em você - disse suavemente.

- Sim! – sua voz quase não saia - sim, confia! Estarei aí para o que precisar –
ouviu-o desligar o telefone e ficou olhando para o seu, como se estivesse se
arrependendo do que tinha acabado de fazer.
A Viagem foi calma. E conforme iam se afastando da cidade, Adriana
vislumbrava com um sorriso satisfeito a paisagem verde e deslumbrante,
cheia de montes, bosques e árvores, poisYorkshire é conhecida pela herança
romana e viking, pelos castelos normandos e pelos mosteiros medievais. E
com certeza agradecia por aquela folga a cada segundo. Apoiou seu braço
direito na janela do carona onde estava, o rosto na palma da mão e observava
a paisagem em silêncio. Havia sol o bastante para fazer um pouco de calor e
quando desviaram para a estrada de terra, ficou boquiaberta com o que via de
longe - uau! - disse maravilhada quando avistou a enorme mansão rodeada
pelo campo verde e um suntuoso jardim.

Alex parou o carro na entrada da propriedade por um instante, antes de


continuar pelo caminho circundado por enormes árvores - é! É linda mesmo -
disse olhando para a expressão maravilhada de Adriana. Deu a partida
novamente e continuou até chegarem ao pátio e estacionar o carro na porta de
entrada.

Todos desceram do carro ao mesmo tempo em que olhavam em volta,


ficando automaticamente boquiabertos. O jardim era minuciosamente bem
cuidado e daria para se perder nele, seus arbustos eram cortados
simetricamente e formavam um símbolo gigante no formato de um eclipse.
Viraram-se quando uma voz animada com sotaque afrancesado ecoou de
dentro da mansão, logo após revelando o seu interlocutor que sorridente ia
recebê-los com alguns funcionários que se apressaram para tirar as bagagens
do porta malas do carro.

- Bem vindos! – o belo homem elegante aproximou-se de Adriana - meu


nome é Isaiah, sou o advogado dos Drakos - ele era bonito, de pele escura,
alto, não era muito musculoso, mas seu corpo era bonito e a camisa e calça
social não esconderam seus atributos, também era muito charmoso. Seu
sorriso perfeito e branco, e seus olhos castanhos brilhantes chamou a atenção
não somente dela, mas também de Gevy e Fernan.

- Oi! - Adriana respondeu sem graça, estendendo a mão para apertar a dele,
que antes disso fez uma mesura, mas depois estendeu a mão a ela de forma
educada e simpática.

- Bem-vinda a mansão Drako! Que bom que pode vir, eles estavam ansiosos
para conhece-la – Isaiah foi muito simpático, mas falou sem pensar e depois
percebendo que ela não estava sozinha, virou-se sorridente para os outros -
todos é claro! – e os conduziu para dentro da mansão.

Fernan e Gevy foram à frente seguindo Alex que já era familiarizado com o
lugar e se adiantou sem esperar as formalidades do advogado.

Adriana ficou parada na porta por um segundo olhando para o hall de entrada
espaçoso e bem decorado, sentindo-se de repente fora de seu habitat.
Instintivamente olhou para trás, pois tinha o estranho pressentimento de que
algo mudaria para sempre assim que botasse seus pés para dentro daquela
mansão.

Isaiah estava parado logo atrás de Adriana, e a analisou com cuidado


escolhendo as palavras certas para dizer - algo errado? - perguntou
preocupado.

Adriana o encarou por um instante - não! Desculpe. Não estou acostumada


com essas formalidades, e lugares... assim - respondeu com cuidado.

Ele sorriu um pouco desconcertado, porque sabia que a protegida de Felipe


não fazia à mínima idéia de quem ela era ou o que estava fazendo ali - não se
preocupe! Tenho certeza que irá se acostumar em breve - respondeu
simpático.

Ela sorriu um pouco sem graça com o comentário - acho que sim! - disse
seguindo-o assim que entraram, e ele gentilmente a conduziu pelo hall até
onde seus amigos os aguardavam.

Isaiah virou-se animado para os convidados e disse - Suas coisas foram para
os quartos de hóspedes que serão indicados pelos nossos funcionários. Felipe,
logo estará aqui. Miguel e Diego, também - disse rapidamente - Por favor,
fiquem à vontade - disse indicando o bar que ficava dentro da grande sala de
visitas, olhou rapidamente para Alex que já estava por ali segurando um copo
cheio do que parecia Uísque, e que bebeu tudo de uma só vez enquanto o
encarava.

Fernan e Gevy olhavam maravilhados a arquitetura suntuosa no estilo Tudor


com enormes janelas, a riqueza de cada peça antiga que chamou a atenção de
Fernan e as analisava com cuidado. Adriana foi até a janela que ia do chão ao
teto e se virou para Alex que se aproximou com um copo de uísque -
Podemos beber? - ela sussurrou olhando em volta procurando pelo advogado
que não estava mais por ali.

Alex estava ansioso, mas de certa forma o álcool já estava ajudando, então
achou engraçadinho o jeito que ela lhe fez a pergunta, e se inclinou para ela -
podemos! - Sussurrou de volta e riu.

Adriana riu um pouco – esse lugar é... é... Maravilhoso! - sussurrou


novamente.

- Você não viu nada ainda! - disse ele animado e ela riu novamente – Por que
estamos sussurrando? - ele perguntou

- Ah sei lá! Para o anfitrião não ouvir? – Adriana riu dela mesma

Por um momento Alex havia se esquecido do que tudo aquilo se tratava, mas
a figura imponente que surgiu de repente, fez com que tudo viesse à tona e
um frio percorresse sua espinha, e aquilo fez com que o seu pensamento
soasse alto - Como se adiantasse! – e ficou olhando ele se aproximar
sorridente e com olhos brilhantes.

Adriana seguiu os olhos de Alex e quase engasgou com a bebida que ele
havia lhe dado. Sentiu seu coração disparar e teve um flash back do pesadelo
que teve. "a mão esticada que tentava lhe alcançar, as roupas de um soldado
medieval a espada a fera e os pares de olhos, a cicatriz na sobrancelha”
voltou a si rapidamente. Quase perdendo o equilíbrio quando viu que ele
parecia o soldado de seu pesadelo. Tomou outro gole do licor, enquanto ele
cumprimentava primeiro Gevy e Fernan que pareciam embasbacados demais
com sua presença. Logo em seguida foi até Alex, mas os olhos dele a
miravam curiosos naquele momento.

- Alex – Felipe disse cumprimentando-o sem muito entusiasmo.

- Felipe! - Alex retribuiu o gesto com um sorriso contido. Em seguida o viu


virar-se para Adriana, e teve um vislumbre muito rápido da emoção de
Felipe. E aquilo de certa forma o perturbou um pouco mais.

Era a primeira vez que Felipe ficava frente a frente com quem ele protegera
por 30 anos, sem ter que se preocupar em se passar por outra pessoa - você
deve ser Adriana - disse segurando suas mãos e a analisando dos pés à
cabeça, como se acabasse de conhece-la - ouço muito falar de você! - beijou-
lhe a mão com delicadeza e a segurou entre as suas por um tempo.

Adriana estremeceu ao toque das mãos dele, sentiu-se um pouco nervosa.


Mas de certa forma, era como se o conhecesse e reparou nele rapidamente,
seus cabelos negros que quase não dava para ver os fios brancos. Traços
perfeitos, corpo perfeito, roupas perfeitas, até a cicatriz na sobrancelha
esquerda era perfeita. E de repente se lembrou. Ele já havia estado na boate,
então sorriu - Sim! Sou Adriana. E acho que já nos vimos antes - disse ao se
lembrar.

- Ah sim! No bar da boate, no dia em que fui falar com Martin - Felipe
respondeu piscando rapidamente - você tem boa memória - sorriu.

- Eu deveria ter imaginado porque me fazia tantas perguntas! -respondeu


sorrindo como se acabasse de cair em uma pegadinha, e acabou relaxando um
pouco.

- Não tinha como, era um assunto meio secreto! - respondeu quase


sussurrando.

Ela baixou os olhos envergonhados, depois olhou para Alex que os olhava
tentando disfarçar o mal estar que sentia naquele momento.
- Acho que devem estar cansados da viagem! - disse Felipe de repente depois
de analisar Alex rapidamente - passarão dias muitos calorosos, relaxantes e
festivos aqui - disse olhando para Adriana novamente.

- Que ótimo! Não tiro férias acho que desde... - Ela olhou para ele confusa -
desde sempre! - concluiu rindo – e agradeço por seu convite, esse lugar é
maravilhoso.

- Obrigada, criança! - agradeceu sinceramente - ele é todo seu! - disse quase


se esquecendo de que ela ainda não sabia o motivo de estar ali.

Ela olhou para Fernan e Gevy que quase não conseguiam se conter de tanta
ansiedade.

- Vou pedir para que sejam conduzidos os seus aposentos, depois nos
reuniremos para uma conversa agradável até a hora que conseguirem ficar
acordados. Lógico é claro, depois de apreciarem o banquete que foi
preparado especialmente para vocês - disse piscando novamente para
Adriana, e saiu em seguida.

- isso vai ser bem divertido! - disse Fernan sorrindo animado quando grudou
no braço de Adriana.

- com certeza! – Adriana concordou. Quando ele sumiu pela porta, ela se
virou para Alex um pouco ansiosa demais, e ele a olhava como se já
esperasse que fosse lhe contar algo – isso foi estranho! - ela disse confusa.

- O que é estranho? - ele perguntou curioso, mas com certo cuidado.

- Essa coincidência! Eu atendi esse cara no bar da Fever, nunca iria imaginar
que ele seria o novo dono. Quem bom que ele é assim tão simpático e legal -
ela disse encarando o amigo.

Ele sorriu friamente - a afinidade foi imediata, geralmente ele não se


aproxima de ninguém a ponto de ter alguma afinidade – respondeu
lembrando-se do que ele era realmente, e não conseguindo disfarçar o mal
estar saiu em direção ao seu quarto.

Adriana percebeu o desconforto do amigo e quando fez menção de ir atrás


dele, Isaiah apareceu na porta todo sorridente fazendo com que abandonasse
aquela idéia.

– Eu mesmo terei que lhes mostrar os aposentos! - Isaiah disse fazendo o


gesto costumeiro de quem vai conduzi-los a algum lugar – estamos sem
mordomo no momento, e os novos funcionários estão completamente
atarefados. Mas posso tomar algumas providencia rápidas – ele sorria
animadamente percebendo o olhar atento de Adriana enquanto subiam as
escadas, depois se virou para Fernan e Gevy quando alcançaram o primeiro
andar – Os aposentos do lado direito são os de vocês, um ao lado do outro.
Alex com certeza já foi para o quarto que está acostumado a ficar – disse
olhando em volta e não vendo o humano capacho de Felipe. Não gostava
muito do rapaz. Virou-se novamente para Adriana - e você - disse com
satisfação - vou mostrar seus aposentos, fique tranquila que ficarão no
mesmo corredor - concluiu.

Alex surgiu ao pé da escada enquanto eles se afastavam, ficou olhando


Adriana e Isaiah sumirem pela extensão do corredor do primeiro andar.
Pensava no verdadeiro motivo que o fez leva-la até eles. Porque a queriam
tanto e faziam tanta questão de que ela não soubesse? Nunca lhe contaram
nada, somente pediram para que fizesse. E devido ao medo e ao dinheiro que
lhe ofereceram, acabou fazendo. Até aquilo acabar, seria realmente uma
tortura continuar presenciando aquele teatro macabro.

Os aposentos eram muito parecidos com o que eles imaginavam de um hotel


cinco estrelas iguais aos filmes. Adriana entrou no quarto que havia sido
destinado a ela e apenas sorriu com satisfação, contendo a vontade de gritar
toda empolgada como faria normalmente, mas estava na frente de Isaiah e
segurou a emoção. Era como estar em um filme antigo e aquele fosse o
quarto da mulher rica. A cama com dossel com suas cortinas delicadas e
claras recolhidas, as paredes brancas com quadros em florais para combinar
com o ambiente. Vários livros que dividiam o espaço em uma enorme estante
que ia do chão ao teto. Um telão pendurado na parede, e quando viu o
banheiro quase que engasgou – uau! - disse sem pensar.
Isaiah olhou para o rosto maravilhado de Adriana, e imaginou o quanto
Felipe havia pensado nos detalhes para fazê-la se sentir à vontade como se
fosse em sua casa. Sem querer lembrou-se das bonecas que ele comprava
todos os anos, e guardava no quarto que havia montado para ela na Escócia.
Ele sempre planejou leva-la pra lá desde quando pôs os olhos nela.

- Esse banheiro é maior que o meu quarto - ela disse aos risos, quando olhou
para Isaiah.

- é todo seu - ele disse sorrindo

Ela o analisou achando graça do que ele dissera - mas não moro aqui! -

- Hm- fez pensativo - mas com certeza irá voltar. Espero que tenha gostado
realmente e que fique à vontade - foi em direção a uma enorme porta que
abria dos dois lados e as abriu para que ela visse que a sacada dava para o
jardim.

- A sacada dá para o jardim! - ela disse surpresa e sorrindo.

- Felipe disse que gostaria dessa vista, então pediu para que separassem esse
em especial! - respondeu despertando sua curiosidade

Adriana o encarou confusa - como ele sabia que eu iria gostar? - perguntou
um pouco intrigada

Isaiah deu o seu melhor sorriso – tenho certeza de que Alex tenha dito algo
do tipo para ele.

Era impossível não sorrir para Isaiah, pois ele tinha um sorriso lindo e
iluminado. Então Adriana se convenceu daquela resposta – Com certeza! Sou
apaixonada por jardins, todos os meus amigos sabem disso – fico ali parada
na sacada olhando o jardim gigantesco, mas tinha uma sensação estranha
sobre tudo aquilo. Mas quando Gevy e Fernan entraram em seu quarto de
forma eufórica, aquilo se dissipou de repente.
-Você tem que ver nosso quar... to! - Fernan parou no meio quarto e ficou
boquiaberto - Meu Deus! Olha esse quarto - girava sob os pés de um lado
para o outro para ter uma visão ampla. Gevy fez o mesmo e depois olhou
para Isaiah que se afastava e suspirou. Adriana riu do comportamento da
amiga que a encarou divertida.

- O que foi? - Gevy perguntou

Adriana levantou as mãos em sinal de rendição e continuou rindo, sentando-


se na sua cama.

Gevy revirou os olhos ficou pensativa apenas por um segundo – Homens


lindos, lugar espetacular, férias do nada. Cara, eu não vou reclamar, mesmo
achando tudo muito estranho. E quando eu vi aquele Felipe fiquei totalmente
tonta, que cara lindo de morrer – disse com entusiasmo, mas depois ficou
séria - mas ele tem uma vibração estranha sabe antiga. E deu a impressão de
que te conhecia, achei mais estranho ainda. Preciso ficar mais perto para
saber direito o que se passa com esse cara. Estou bem sensível ultimamente -
ela disse fazendo um bico desajeitado.

Fernan riu com desdém - sei! Se ficar perto de um bofe daquele você vai ficar
sensivelmente abalada, isso sim. Toda platônica imaginando um romance
com casamento e filhos – ainda gargalhava quando se sentou ao lado de
Adriana.

Elas riram achando graça do amigo.

- Imagina passar uns dias ao lado desse cara... meu pai! – Fernan continuou e
se abanou fazendo movimentos rápidos com a mão direita – em falar em bofe
escândalo, cadê o Alex? – olhou de Gevy para Adriana

- Sei lá! Ele ficou meio estranho quando o Felipe chegou - disse Gevy que
olhou de relance para Adriana que deu de ombros - acho que ficou com
ciúmes - ela riu vendo a reação da amiga.

Adriana revirou os olhos - Ah para! Ciúmes do que? - ela disse rindo


- Do que? Ta! Ok, Alex é lindo e tudo mais. Mas ele do lado do tal Felipe,
parece tão comum... - disse Fernan

Adriana riu alto - que? Não achei o Felipe tudo isso – disse encarando os dois
amigos que a olhavam duvidando do que ela falava – ok! Ele tem uma coisa,
um charme anormal! Ta! Ele é tudo isso sim. Mas o Alex ficar com ciúmes,
não rolou nada assim. - ela não conseguia explicar - e outra, não tenho nada
com Alex, a não ser amizade - explicou um pouco aborrecida.

Depois de quase duas horas todos se encontraram novamente no quarto de


Adriana e depois com Alex que os aguardava no topo da escada. Ele sorriu
quando os viu, seu humor havia voltado finalmente, e quando eles se
aproximaram pegou Adriana pela mão e permaneceu segurando ela até
chegar à sala de jogos. Talvez aquela era uma forma estupida de demonstrar
que se importava com ela de verdade, e amenizar o sentimento de culpa por
leva-la até aquele covil.

Adriana achou estranha a atitude de Alex, e quase começou a dar razão para
Fernan que a olhou com cara de “não te disse?” quando os viu de mãos
dadas, e apenas disfarçou depois de fazer uma careta pro amigo que ria dela
enquanto seguiam para a sala de jogos que estava completamente preparada
para eles. Havia um Buffet cheio de queijos, petiscos e docinhos, mesa para
jogos de cartas, sinuca, pebolim, fliperama e mesa de xadrez. Fora que era
um lugar totalmente acolhedor, espaçoso e arejado com poltronas
confortáveis espalhadas pelo salão, e uma lareira aconchegante. Soltou da
mão de Alex lentamente para andar pelo lugar, depois se aproximou dele,
Fernan e Gevy que já estavam bebendo e beliscando.

40 minutos depois um rapaz com uniforme de copeiro entrou para anunciar o


jantar. Eles se viraram para olhar - o jantar está servido! - ele disse indicando
o caminho. Todos o seguiram porta a fora. Adriana virou-se para o rapaz -
onde está Felipe? - perguntou curiosa.

- Bem aqui! - a voz familiar ecoou pelo corredor e todos se viraram para
olhar - Desculpe minha querida, tive que me retirar por algumas horas. Mas
não deixaria de acompanha-los de forma alguma - ele sorriu encantador de
uma forma que a deixou quase tonta, quando se aproximou.
Ela pouco sem graça - Pensei por um momento que houvesse saído – disse

Ele lhe ofereceu o braço todo galante e lhe conduziu até o salão de jantar - de
maneira alguma, que tipo de anfitrião eu seria? – piscou para ela - não faria
isso! Vocês eram esperados, e posso resolver muitas coisas por telefone - ele
concluiu indicando o lugar ao seu lado direito na mesa, puxando a cadeira
como um cavalheiro. Ela se sentou e olhou para os amigos que ocupavam os
lugares indicados.

- Não acredito que não nos esperaram - a voz já ecoava do hall de entrada e
fez com que todos se virassem para olhar quem vinha chegando. E quando
entraram, um abriu um largo sorriso encantador, e o outro apenas sorria
satisfeito.

Diego se adiantou na frente de Miguel para cumprimenta-los - desculpem!


Estivemos atarefados a tarde toda - disse cumprimentando Fernan, Gevy e
depois Alex. E quando chegou em Adriana ele se demorou mais tentando
disfarçar um tanto sua curiosidade - não me disseram que era tão
encantadora! - disse piscando e percebeu quando ela enrubesceu.

Adriana olhava para o homem divino a sua frente, ele era o charme em
pessoa - obrigada! - respondeu sem graça

- Mas é claro que eu disse! - Miguel abriu caminho para cumprimenta-la e


beijou a mão dela imitando Diego, e percebeu que ela ficou um pouco
nervosa. Automaticamente lançou um olhar para Felipe que sorria satisfeito -
Apenas desculpem o atraso, e também comemos na rua – disse olhando
atenciosamente para os convidados - mas vamos ficar a mesa e desfrutar de
ótima companhia. Faz tempo que não recebemos pessoas tão encantadoras -
disse sentando-se ao lado de Adriana - já nos vimos antes, no café. Lembra?
– estudou sua reação dela por um segundo.

Adriana ficou pensativa por um momento, mas reconheceria aquele rosto e


corpo em qualquer lugar - sim, lembra Fê? – lançou um olhar cumplice para o
amigo ao lado de Alex que estava a sua frente.
Fernan estava extasiado demais para prestar atenção nela. Mas lhe dirigiu um
olhar meio confuso que tentou disfarçar com um sorriso bobo - é verdade!
Lembro-me dele - respondeu olhando para Miguel como se fosse algo de
comer.

Adriana percebendo a gafe do amigo pegou taça de vinho a sua frente e deu
um gole generoso para segurar a risada que insistia em sair. Felipe percebera
sua reação, e para ajuda-la, tentou desviar a atenção de Fernan. Sabia muito
bem o efeito que eles causavam nos humanos. E Miguel mais que os outros,
chamava muito a atenção.

Isaiah estava à mesa também e observava os empregados, enquanto o copeiro


supervisionava o que era posto a mesa. Na maior parte do tempo ele ficava
em silêncio observando.

Adriana suspirou sem pensar quando olhou para o banquete farto quer era
servido com pães recém-assados, perdizes assadas, e cordeiro assado com
ervas finas, purê de batatas e batatas assadas, e o cheiro maravilhoso da
comida fez o seu estomago roncar. E assim que foram servidos, ela e seus
amigos comeram sem cerimonias. Mas notou que apesar de Diego e Miguel
disserem que já haviam jantado, Adriana percebeu que Felipe nem tocara em
sua comida.

Felipe, Miguel e Diego somente olhavam satisfeitos, enquanto bebiam o


vinho e falavam sem parar, eles comiam comida humana, mas a maior
necessidade deles era o sangue. Então Diego percebeu que Adriana os
observava atentamente enquanto comia - Como veio parar na Inglaterra? –
ele perguntou. A pergunta era apenas para desviar a sua atenção.

Ela bebericou o vinho antes de responder - bom, a oportunidade. Precisava de


dinheiro. Aliás, nós três – disse olhando para Fernan e Gevy e depois voltou
os olhos pra ele - tivemos a oportunidade através de um ex-namorado do Fê,
que conhecia o Martim, de quem vocês compraram a boate - ela respondeu.

Diego olhou rapidamente para Felipe, pois havia esquecido o detalhe


referente à boate que sempre fora um bem do clã, adquirido por Felipe. Mas
disfarçou bem – Sim, sim! Martin o irlandês. Deve ter sido difícil, país
diferente, longe da família, frio - ele comentou interessado.

- é foi sim! Principalmente o frio, foi bem difícil - Adriana disse revirando os
olhos depois sorriu.

Felipe sorria enquanto a observava - diferente do Brasil é claro - disse de uma


forma suave.

- Sem dúvida! - ela rebateu – apesar de não me dar muito bem com o calor.
Às vezes passo muito mal e não aguento ficar muito tempo no sol – percebeu
que Diego a analisava como se estivesse avaliando cada centímetro de seu
corpo, mas não com malicia. Olhou seus cabelos, suas mãos, rosto, era como
se estivesse procurando alguma coisa. Ele fazia aquilo discretamente, mas
percebeu mesmo assim e ficou sem graça.

Diego percebeu o desconforto dela quando percebeu sua curiosidade. Estava


intrigado com aquela criatura, também notara assim como Miguel, que havia
algo diferente nela, mas não conseguia identificar. Era diferente e familiar ao
mesmo tempo – eu não conseguiria viver no Brasil. Na verdade, o clima não
ajuda. Quente demais! – ele sorriu e deu gole no vinho.

Felipe percebeu o que seu amigo fazia, sabia que ele ficaria curioso com ela.
Era difícil para eles disfarçarem o que eram por muito tempo, e ela despertou
a curiosidade deles totalmente. Tentou desviar a atenção de Adriana quando
se virou para seus amigos - e vocês? – disse para Fernan e Gevy - O que
acham da Inglaterra? - ele os encarou por um momento examinando-os.

Fernan atropelou Gevy que começara a falar - acho um luxo! - ele disse já
quase inebriado pelo vinho, pois já havia bebido duas taças sem perceber,
tamanho era sua ansiedade. Mas não era apenas por causa do vinho, mas
também a presença daqueles homens a mesa.

- No geral não gosto tanto tem muito preconceito por aqui - Gevy disse em
seguida, depois lançou um olhar reprovador para o amigo – não todos é claro!
Gosto do país e do clima, mas sempre temos que voltar de tempos e tempos e
renovar o visto. Acho desnecessário, xenofóbico demais até - conclui.
Felipe sorriu – não são calorosos como os brasileiros. Então, concordo com
você - disse Felipe levantando a taça para Gevy, que ficou olhando para ele
com os olhos brilhantes, na verdade ela não sabia para qual deles olhava.

Miguel olhou para Adriana que estava ao seu lado. Se a olhasse pela
perspectiva de predador ela era tentadora para ele. Humana, quente e cheirava
muito bem. Mas conseguiria reprimir aquilo por um tempo - pretende ficar
muito tempo? –perguntou a ela de repente olhando diretamente para seus
olhos, e sabia muito bem o efeito que aquilo causava.

Por um momento quando fitou Miguel não conseguiu desviar o olhar, pois
parecia que a prendia de alguma forma - não sei ainda! - disse rindo para
disfarçar o embaraço quando ele desviou os olhos para a taça de vinho que
ele segurava, a sensação foi estranha de repente, como se ao desviar o olhar
quebrasse a atração - o futuro a Deus pertence nada sei sobre ele. Prefiro
viver um dia de cada vez, contanto que minha família esteja segura e bem, o
resto não me importa - ela concluiu.

Miguel sorriu um pouco - mesmo se você tivesse um destino que viesse lhe
valer a vida? Bastaria só que sua família estivesse bem e segura? - perguntou
de forma mais que curiosa

- Sim! – afirmou um pouco intrigada com a pergunta dele - não me importo


com o que aconteça comigo, somente com minha família, meus amigos -
disse.

Diego olhou para Miguel que olhava Adriana um tanto embasbacada - um


brinde a isso! - disse levantando sua taça atraindo a atenção de todos que o
imitaram, e aquilo encerrou a provocação de Miguel.

Felipe forçou um sorriso para disfarçar sua tensão quando percebeu a


curiosidade insistente de Miguel. Trocaram olhares rapidamente e depois
desviou sua atenção para Alex, quando ouviu sua mente gritante de remorso
por tê-la levado até eles. Ele disfarçava o terror que sentia de ver que ela
estava se enturmando muito bem com Miguel e Diego. Olhava para os três
como se fosse vomitar a qualquer momento - a comida esta sem sabor Alex?
- perguntou para o rapaz que virou sobressaltado para ele.
Sentiu um frio na barriga quando Felipe se dirigiu a ele. Tinha que pôr em
prática o que havia aprendido e disfarçar melhor seus sentimentos - ah não! A
comida está ótima. Estou entretido com a conversa de vocês não quis
atrapalhar – Alex respondeu forçando um sorriso.

Adriana ouviu o que seu amigo dizia a Felipe e olhou para ambos – está tudo
bem? – viu o amigo balançar a cabeça afirmamente, mas sabia que algo o
incomodava – relaxe – disse tentando lhe passar um pouco de ânimo.

- Isso! - disse Miguel que olhou para Alex de uma forma estranha - participe
de nossa conversa. Afinal, ninguém aqui vai te morder. Não é mesmo? - disse
com um sorriso debochado.

Alex o encarou disfarçando sua irritação, pois aquele vampiro em especial era
o mais irritante e provavelmente já tinha percebido seu interesse por Adriana.
Tinha que ter cautela, pois aquele era perigoso, e se não fosse cuidadoso
poderia sair de lá morto. Forçou outro sorriso - claro! - olhou para Adriana
quando ela o olhou e sorriu o encorajando.

Felipe pode sentir o que se passava na cabeça de Alex. Estava interessado


demais por ela, e poderia por tudo a perder. Não poderia deixar aquilo
acontecer de forma alguma, já que a proteção dela dependia deles. Afasta-la
não ajudaria já que o clã dos ciganos estava atrás dela também.

- A casa de vocês é expendida, amei! - disse Fernan voltando-se para Felipe,


lhe tirando a atenção de Alex e Adriana por um instante.

- Ah sim! E insisto que se sintam à vontade. Isaiah pode deixar ordens para
prepararem a diversão necessária para vocês de dia, pois temos muito
trabalho fora às vezes - ele disse olhando para Fernan e Gevy, e depois para
Isaiah que meneou a cabeça concordando.

Gevy olhou um pouco curiosa a sua volta de repente. A história da energia


estranha não tinha sido uma brincadeira, podia sentir realmente e aquilo a
estava incomodando. Então começou a prestar mais atenção na conversa
entre sua amiga, Diego e Felipe. Sabia que Adriana fazia amizade muito fácil,
ela conversava com qualquer um que puxasse assunto. Mas a atenção que
eles despejavam para cima dela era absurda, como se a conhecessem há
muito tempo, pareciam familiarizados com ela de uma maneira
estranhamente à vontade demais, como se fossem velhos amigos.

Miguel percebeu o desconforto da humana amiga de Adriana - algo a


incomoda chérie? - perguntou de forma que somente ela ouviu, pois os outros
estavam entretidos com suas conversas.

Gevy virou-se confusa para ele se deparando com os seus olhos brilhantes
demais, sua pele clara, mas de alguma forma um pouco rosada nas bochechas
- Não! – disse com certo embaraço forçando um sorriso – Nada! - ela
respirou fundo sem perceber.

Miguel bebericou o vinho e deu um sorriso cúmplice, pois estava se


divertindo com o constrangimento dela. Deparou-se com algumas pessoas
como aquela jovem. Sensíveis a presenças de não humanos, mas que nunca
tinham certeza do que eram realmente, mas que ficavam alertas o tempo todo.

Gevy acompanhou o movimento suave e quase em câmera lenta que ele fez
ao beber o vinho. E acabou falando sem pensar – Às vezes sinto coisas que
outras pessoas não sentem energias diferentes, uma presença diferente, é
como se fosse um sexto sentido.

Miguel ainda a encarava - é mesmo? Isso é muito bom. Nunca se sabe o que
pode cruzar o seu caminho - disse arregalando os olhos de forma debochada e
riu, liberando a mente da humana.

Gevy prendeu o ar por um dois segundos e depois soltou, quando aquele belo
homem desviou a sua atenção dela. O que foi que ela tinha dito mesmo? Não
se lembrava o que tinha acontecido há meio minuto. Olhou pra Fernan e
Adriana, esperando que a olhassem também, mas não foi o que aconteceu.
Mas então o gentil Isaiah encheu o seu copo e acabou iniciando uma conversa
com ela sobre xenofobia.

Quando terminaram o jantar, foram direto para o salão de jogos. A lareira


estava bem alimentada e distribuía um calor agradável. Sentaram-se nas
confortáveis poltronas e iniciaram uma conversa descontraída, desde o
tempo, até musicas e filmes. A cada minuto, tanto Felipe quanto Diego e
Miguel despejavam Adriana de perguntas e analisavam sua reação. Às vezes
ficavam somente observando ela rir e conversar com os outros presentes, e
muitas vezes participavam da conversa e riam divertidos.

- Alex! Devia tê-la trazido antes para nos conhecer - disse Diego provocando,
não gostava nada dele. Sempre achou que havia algo de errado com o rapaz,
mas Felipe nunca o ouvia.

Ele o encarou um tanto desafiante, sabia que nada lhe aconteceria enquanto
Adriana fosse sua amiga - se houvesse oportunidade antes, claro que já teria
acontecido. Mas seria difícil, ela só pensa em trabalhar – Alex disse colando
do lado dela quase que de maneira quase possessiva, depois de lhe servir uma
taça de vinho, tentando disfarçar a tensão dos olhares inquisidores dos
anfitriões.

- Claro! - disse Miguel percebendo sua intenção - havendo oportunidades,


quem nos impediria de conhecê-la? - estudou a reação desconfortável do
rapaz, mas foi pura provocação.

- Ninguém, a não ser ela mesma - disse Alex tocando na perna dela. Mas
tirou a mão no mesmo instante, quando percebeu os olhares dos três vampiros
seguindo seu movimento.

Adriana nem havia percebido a tensão entre eles naquele momento - na


verdade sim! Se não fosse oportunidade como essa agora, talvez nunca
acontecesse - ela disse.

- Talvez tivesse que acontecer hoje! - disse Gevy de repente atraindo a


atenção de todos.

- Claro! - respondeu Felipe - existem coisas que não podemos evitar, não
concorda Gevy? - perguntou sorrindo e dando a volta na poltrona de Adriana,
mas com os olhos presos na amiga dela.
- com certeza! - ela concordou evitando olha-lo diretamente.
A voz de Adriana cortou o ar - não acredito em destino! - disse

- Não? - Miguel perguntou incrédulo

- Só acredito em Deus! – rebateu – mas não acredito que ele tenha traçado um
plano para cada individuo - afirmou convencida do que dizia.

- Honey não acredita em nada! - disse Fernan - somente naquilo que se pode
tocar - concluiu

Adriana ficou sem graça com olhar incrédulo de Diego - ficaria surpresa com
o que pode ver e tocar – ele disse atraindo o olhar surpreso dela

- O destino é uma coisa que foi escrita antes de existirmos nesse mundo. E o
que está escrito, não se pode apagar. Se tiver que acontecer, não importa o
tempo que leve, vai acontecer - Felipe disse aquilo suavemente.

- Está tentando me convencer? – Adriana perguntou disfarçando o sorriso.

- Não! Você já está convencida, só finge não acreditar - ele rebateu sorrindo –
No fundo você sabe que existe algo além do que pode ver crer em Deus, por
exemplo, é algo baseado na fé, você não o vê diretamente, mas acredita nele
mesmo assim. – ele piscou quando finalizou a explicação

Adriana riu como se aquilo fosse um absurdo – O fato de acreditar em Deus é


por ser obvio demais. Tipo: alguém deve ter nos criado e criado todo esse
universo que vemos e tocamos - respondeu piscando de volta

Felipe riu mais relaxado, quando ela piscou de volta. Achava Adriana
esperta, mas de alguma forma havia um bloqueio que a fazia se fechar para o
que não era naturalmente explicado. Uma cética que acreditava em Deus, mas
não achava que qualquer outro ser pudesse existir.

Alex andava pela sala enquanto ouvia a ladainha de Felipe sobre Deus e
ceticismo, mas parou ao lado da lareira para observar o desenrolar daquele
diálogo - sabia que Adriana adora livros de vampiros? Ela adora essas
coisas, vive pesquisando - disse provocativo, vendo a reação calma de Felipe,
de Diego alerta e Miguel ficar tenso enquanto o encarava como se fosse
mata-lo.

Felipe virou-se curioso para Adriana ignorando Alex- ah é? E qual conclusão


chegou? - perguntou

Ela limpou a garganta antes de falar - que bobeira Alex, são apenas romances
- repreendeu o amigo e ficou sem graça, pois achava que homens como
Felipe, Diego, Miguel e Isaiah, jamais lessem tal estilo de literatura - já li
Anne Rice, Bran Stoker e alguns outros - respondeu desviando o olhar tímido
pra Felipe.

- E qual gostou mais? - ele perguntou curioso

Adriana sorriu achando que o interesse de Felipe era apenas um gesto


educado, mas ele tinha uma expressão realmente curiosa - Dos dois, de
formas diferentes. Anne Rice faz com que seus personagens pareçam reais,
enquanto Bran Stoker parece criar o personagem de um pesadelo, tornando a
versão do cinema melhor que o livro - ela concluiu.

Felipe riu alto - nunca ouvi descrição tão perfeita, eles pareciam saber do que
falavam. Se bem que Bran descreveu bem a natureza de um ser endemoniado
pela visão da época a qual ele vivia, o que naturalmente seria a visão do
folclore e da histeria de algumas culturas da mesma época - ele riu mais
divertido - é o que realmente acha? - ele perguntou mais curioso - acredita em
vampiros? - acrescentou

Adriana pensou por um momento e riu em seguida - não! - foi uma resposta
sem tanta certeza. E ficou olhando-o nos olhos por um bom tempo
identificando dúvida naquele olhar - Na verdade racionalmente pensando
vampiros não existem! Não consegui chegar a nenhuma explicação lógica
para a lenda ser real. Todas as informações que li, foram folclores
obviamente, e uma desculpa da religião para a bestialidade humana, ou,
citações de humanos bebedores de sangue que eram assassinos em série, não
passa disso – percebeu que ele ainda prestava atenção no que falava - mas se
existissem, eu gostaria de conhece-los - ela concluiu.
Felipe a olhava de uma forma pensativa e séria, aquela resposta lhe deu um
pequeno abalo interno, pois o ceticismo dela não era tão notório, era algo que
usava como escudo. Ela acreditava tanto que havia pesquisado sobre aquilo,
lia livros sobre. Mas ela aguentaria a verdade? Aquilo o preocupou um pouco
– hum! Eu poderia dizer que tenho centenas de citações antigas em nossa
biblioteca na Escócia, que com certeza tem um dos melhores acervos
históricos sobre folclore, no mundo. E insisto em dizer que nesse mundo já
existiu muitas coisas. A Bíblia da várias citações sobre criaturas não humanas
e as escrituras sumérias também. Aliás, em toda civilização antiga tem uma
citação sobre criaturas da noite, bebedores de sangue e outras coisas – viu
aqueles olhos curiosos brilharem quando citou o acervo.

- Nefelins, filhos dos anjos com humanas? Anunakis? A versão cristã e


suméria? - ela perguntou curiosa conhecia a história.

- Vejo que lê a Bíblia! E também pesquisou sobre os sumérios – ele sorriu


satisfeito – sim, os chamados filhos da desobediência. Naquela época as
coisas eram diferentes de hoje. Versões cristãs da história tentam apagar as
versões originais – todos pareciam prestar atenção no que ele dizia.

Adriana apertou os olhos - Está usando isso como possibilidade de criaturas


não humanas existirem? – ela perguntou confusa – mas eles foram dizimados
com o dilúvio, e não existe uma prova cientifica que prove a veracidade do
fato. Não da pra se basear apenas em escritos antigos e hieróglifos se
fisicamente não há nada que prove a existência, tipo ossadas antigas, múmias
etc... - contestou

Diego riu e se aproximou – deixe-me participar dessa conversa interessante –


disse ficando em pé ao lado de Adriana – Houve o dilúvio conforme
informações arqueológicas e bíblicas. A história conta sobre as criaturas que
foram dizimadas com um dilúvio, certo? Mas se você avançar para a história
do rei Davi verá que ele expulsou os descendentes dos Nefelins para as
montanhas, o povo de Golias o gigante que ele matou. Existe uma falha na
versão cristã o que não a torna uma fonte segura – ele explicava de forma que
prendera sua atenção e a dos outros também – então entende-se que é
provável que existam outras criaturas, de formas diferentes. Mas conforme o
avanço das civilizações, o quanto de provas você acha que teriam
simplesmente sumido? Por exemplo: os templários descobriram muitas
coisas, e a santa igreja tomou isso deles. Mas seria uma aula de Teologia,
história e arqueologia muito longa – ele sorriu de lado fazendo despontar a
covinha que tornava aquele charme matador.

Adriana olhava para Diego com admiração e retribuiu o sorriu, pois ele
parecia saber muito bem do que estava falando. Lindos e inteligentes pensou!
– sou muito curiosa, amo história... só gostaria de ter mais tempo para
estudar. Mas não sou obcecada com isso – disse gesticulando e voltou o olhar
para Felipe.

- Claro que não! –Felipe disse e tocou suavemente em sua mão, e se afastou
em seguida indo sentar-se ao piano. Quando começou a tocar uma melodia
suave voltou os olhos para Adriana - talvez eles existam! - sorriu suavemente.
Adriana acompanhou seus movimentos com os olhos, e depois recostou na
poltrona para ficar mais confortável enquanto ele tocava uma musica antiga
que apenas fluía de lembranças antigas.

Adriana não percebeu quanto tempo se passou provavelmente alguns poucos


minutos apenas enquanto estava absorvida pelo som do piano e os demais
conversavam. Fechou os olhos e os manteve fechados por um tempo. Sentiu-
se um pouco sonolenta pois havia bebido muito vinho, quando voltou a abrir
os olhos e ele já havia parado de tocar. Bocejou disfarçadamente, não
imaginou que estava tão relaxada a ponto de cochilar. Ela nunca baixa a
guarda!

- Parece cansada criança! – Miguel disse de repente quando se inclinou na


direção de Adriana.

Ela olhou para ele confusa e balançou a cabeça concordando.

- Talvez queira ir descansar um pouco? - Ele sugeriu estudando a expressão


cansada dela.

- Acho que vou ficar mais um pouquinho. na verdade, não estou acostumada
a relaxar, sempre estou ligada no 220w - ela se justificou. Na verdade, não
queria estragar a noite indo dormir cedo por beber vinho demais, e jamais
conseguia relaxar em um ambiente que não fosse o seu e estranhou aquilo.

Diego olhou curioso para ela - acho que você precisava realmente de férias,
com certeza trabalhar a noite desgasta um pouco – disse se aproximando e
lançando um olhar sugestivo para Miguel, que logo foi percebido por Felipe
que ainda estava ao piano inciando outra melodia, mas parou quando ouviu o
que disse.

Miguel sorriu animado – também acho que a vida noturna tem te desgastado
um pouco. Bom, - fez fingindo pensar - precisamos de uma assistente
conosco, temos que ficar fora sempre e resolver alguns trabalhos
burocráticos. Isaiah anda um pouco sobrecarregado e uma assistente seria
perfeito - ele fez uma pausa - você poderia trabalhar aqui, resolvendo
algumas burocracias junto com ele. Inclusive da nossa nova aquisição. A
boate! - ele concluiu sorrindo

Isaiah que estava mais entretido na conversa com Gevy novamente, se


manifestou assim que os ouviu – ah eu agradeceria imensamente por uma
ajuda. E sabemos que você é de confiança, esperta e focada. Martin só teceu
coisas boas de vocês três – concluiu atraindo a atenção de todos de repente.

Adriana ficou boquiaberta sem saber o que responder, pois era tudo o que
queria. Um emprego justo com horário normal e que pagasse bem.

Felipe parou de tocar e acrescentou - claro que a renumeração será bem


satisfatória, e você poderia morar conosco, ao invés do pequeno apartamento
- disse se levantando e indo a sua direção, sem olhar para Fernan e Gevy que
a olhavam esperando alguma reação da amiga. Adriana olhou para ambos de
repente sem saber o que responder. Fernan balançou a cabeça em sinal
positivo, e Gevy ficou na dúvida se concordava ou não. Então ela se voltou
para os quatro a sua frente, com um olhar cheio de dúvidas.

- Preciso pensar! - ela disse quase que se arrependendo da resposta, pois era
uma chance única na vida.

- Terá tempo para avaliar a proposta, querida! - disse Felipe - mas pense, irá
coordenar nossas vidas. Prometa que vai pensar e me dizer logo - ele
concluiu com um sorriso torto, que quase a fez deslizar da poltrona para o
chão.

- Prometo! - ela levantou a taça e sorriu.

-ótimo! - ele disse pegando as taças da bandeja que era servida pelo
funcionário contratado que passou por Isaiah, Diego, Miguel e logo todos os
outros presentes, pegaram as suas taças também.

Mais tarde, mais ou menos às 4 da manhã, Fernan e Gevy já mostravam sinal


de cansaço e pediram licença para se retirar. Adriana aproveitando a deixa fez
o mesmo. Alex resolveu ficar conversando um pouco mais.
No quarto enquanto trocava de roupa para uma mais confortável para dormir,
Adriana ouvia Fernan sem parar, ele a repreendia de não ter sido clara na
resposta do emprego e dizia que tinha sido uma chance em 1 milhão, e que a
proposta incluía morar na Escócia e cuidar de seus orçamentos bilionários.
Ela ficou ouvindo o amigo falar, enquanto Gevy mantinha-se em silêncio.
Notou que nas últimas horas, sua amiga havia ficado mais calada que o
normal.

- Ta Fe! Amanhã eu dou a resposta! - disse impaciente enquanto se sentava


na cama e cobria suas pernas com o grosso edredom - mas você sabe, teria
que me mudar pra Escócia e ficar mais tempo longe de vocês - Adriana
concluiu vendo o amigo fazendo um beicinho e depois rir.

- O que importa? - ele fez - você vai ganhar rios de dinheiro inglês! - ele
concluiu gesticulando

Ela lançou um olhar para a amiga parada aos pés de sua cama.

- Não acha tudo isso estranho? - Gevy disse de repente com cara de mistério

- Tipo o que? – Fernan perguntou impaciente e revirando os olhos

- Está muito fácil! - ela disse se virando com o olhar desconfiado - pareceu
convidativo demais para você! -ela fez uma pausa - pareceu até que tudo isso
foi somente para atrai-la até aqui - ela fitou a amiga por um instante.

Adriana fez o mesmo em seguida riu alto - para de maluquice! Ta parecendo


aqueles diálogos de filme de suspense. Por que fariam isso afinal? Quem sou
eu na fila do pão para que caras como esses tramem contra a minha vida? -
zombou - quantas vezes uma oportunidade dessas apareceu na minha vida?
Você sabe amiga, zero! Então eu posso pelo menos me dar o luxo de pensar
sobre o assunto? - ela concluiu aborrecida

Gevy nunca tinha visto sua amiga tão ansiosa e confiante como nas últimas
horas, e estava achando aquilo estranho demais - você me conhece amiga!
Sabe que quando cismo com uma coisa. - Ela dizia gesticulando e já dando as
costas para sair do quarto.

Adriana revirou os olhos novamente – apenas relaxe! Estamos de férias -


disse confiante e se deitou - apaguem a luz, por favor - disse para Fernan que
foi o ultimo a sair do quarto.
Capitulo 5

Perto do perigo

Naquela manhã depois de uma noite tranquila sem sonhos, Adriana acordou
sentindo-se totalmente descansada, olhou para o relógio em seu pulso, era
exatamente 9hs. Bocejou com preguiça e achou que a cama era tão macia que
não dava nem vontade de levantar, teve que fazer um esforço enorme para
sair do meio do edredom. E depois de tomar uma ducha e escovar bem os
dentes, pôs um vestidinho tomara que caia branco que ia até a altura dos
joelhos, uma jaquetinha jeans e calçou suas botas de cano curto, decidiu ir
atrás de algo para comer. Desceu as escadas passando pelo enorme hall de
entrada, seguiu até encontrar um corredor largo e extenso.

Enquanto andava pelo corredor pode perceber a riqueza daquele lugar, viu
algumas obras conhecidas que com certeza não eram cópias, mas parou em
frente a um quadro que lhe chamou muito a atenção. Olhava para quatro
guerreiros altos, fortes, másculos e imponentes, que tinham aos seus pés
centenas de criaturas mortas e algumas delas dava para ver presas e garras,
pareciam demônios. Estavam parados em frente a um enorme símbolo do
eclipse solar, e também estavam em posições diferentes usando roupas de
soldados medievais e empunhando espadas. No rodapé onde havia a
assinatura do artista, datava exatamente a época 1101. Chegou um pouco
mais perto, pois reconheceu três daquelas figuras, mas a figura que estava na
frente e parecia o líder, não sabia quem era. Achou que o artista que pintou
aquele quadro deveria conhecer bem Felipe, Diego e Miguel, pois se as
figuras que estavam no quadro não fossem eles, realmente eram muito
parecidos. Mas quem seria o quarto homem? Seus pensamentos foram
interrompidos quando ouviu a voz de Isaiah – Bom dia, Adriana! – Ela se
virou assustada e viu que ele estava parado no meio do corredor.

Isaiah se aproximou parando ao dela e sorriu – Desculpe por tê-la assustado!


Mas acredito que esteja com fome, e o café da manhã já está pronto nos
esperando - ele disse tentando não rir devido ao susto que ela levou.

Ela riu disfarçando o embaraço – não foi nada! Eu estava distraída com os
quadros. E sim, estou com fome.

Ele ainda sorria – são obras magnificas, não acha? – disse olhando para os
quadros também.

O analisou rapidamente – divinas! – sorriu novamente

Isaiah a analisou também e sorriu um pouco animado – eles adoram obras de


arte e coisas antigas de valor.

- Ah! - Adriana fez tentando imaginar o custo daquele tipo de vida – um


estilo de vida bem caro - disse

Isaiah a mediu sem que ela percebesse. Sabia que Felipe não a mantinha
financeiramente e que não era acostumada com aquele estilo de vida - sim!
Mas eles se saem muito bem em todos os investimentos que fazem - rebateu
– se aceitar trabalhar conosco, logo ficará familiarizada com tudo e achará
esse estilo de vida normal.

Ela riu depois de encara-lo incrédula – bom, nunca vou conseguir me


imaginar num estilo de vida desses. E muito menos acharia normal gastar
tanto com um quadro ou um objeto antigo, isso é totalmente fora da minha
realidade. Vim de uma família que acha comida e um teto confortável mais
importante que objetos de valor - concluiu

Ele ficou um tanto surpreso com a resposta dela, mas não demonstrou.
Lembrou-se de sua vida de escravo séculos antes, e não gostava de se lembrar
daquilo, pois antes de ser escravo teve uma vida feliz e próspera na África –
uma vida simples às vezes é mais feliz que uma vida rica e ostensiva – ele fez
um gesto para que o seguisse até a sala de jantar.
- Também acho - ela concordou sem graça enquanto o seguia, mas de repente
o segurou - espere! - ela disse

Ele se virou curioso e seguiu o olhar dela para o quadro.

- Esses são Miguel, Diego e Felipe? - perguntou curiosa

- Sim! - ele respondeu já esperando a pergunta seguinte e antecipou a


resposta - uma sátira aos quatro amigos chamados de os quatro guerreiros da
aliança - ele enfatizou

Ela olhou pensativa para o quadro novamente e apontou para o quarto


homem, que não reconheceu - este... - ela foi interrompida

- Lorde Morgan, ele é filho do fundador do clã Drako. E os quatro são


praticamente inseparáveis, mas Morgan está viajando - ele se virou
novamente e indicou o caminho.

Adriana o seguiu em silêncio, mas olhou para trás novamente para dar a
ultima olhadela no quadro. Ficou pensando no nome que ele dissera até
chegar à mesa.
Quando entraram no salão viram que Alex já estava sentado tomando uma
xicara de café e lendo um jornal. Ele estava com olheiras escuras por não ter
dormido na noite anterior. Ele apenas levantou os olhos do jornal e a fitou -
Bom dia aos dois - ele disse com um sorriso amistoso.

- Bom dia! - Adriana disse sentando-se no lugar indicado por Isaiah que se
sentou ao seu lado, em frente ao seu amigo - está com uma cara péssima -
disse analisando a expressão cansada de Alex.

- Não dormi direito à noite! Uma cama enorme para dormir sozinho-
respondeu com certa malicia sugestiva enquanto a encarava.

Deu de ombros o que ele dissera - eu dormi muito bem, apesar de nunca
conseguir dormir a noite inteira – respondeu pensativa e olhou para as duas
funcionárias de uniforme azul claro que entraram e começaram a servir os
dois hóspedes. Adriana notou a ruiva, pois pareceu conhecê-la de algum
lugar, e lembrou-se da vidente na feira cigana, e automaticamente levou a
mão a corrente em seu pescoço, movimento que foi acompanhado pela moça
ruiva enquanto essa lhe servia o café. Ninguém além de Adriana percebeu,
pois somente ela vira a vidente. Achou estranho, mas não tinha certeza se
poderia ser a mesma pessoa - Obrigada! - disse. Mas percebeu que a moça
baixou os olhos como se não quisesse ser reconhecida. Mas deixou passar,
pois Alex não parava de falar e Isaiah também.

- Alex poderia leva-la para conhecer o haras hoje – Isaiah sugeriu. Sabia que
Adriana gostava de cavalos, pois Felipe havia lhe contado sobre aquilo anos
atrás.

Ela pensou por um instante - seria ótimo! - percebeu o sorriso de


contentamento dele e olhou para Alex.

- E como! – Alex disse enquanto mordia uma torrada com geleia.

Isaiah não disfarçou o olhar de reprovação que lançou para Alex quando esse
fez o comentário malicioso. Sabia que era provocação, ele não ousaria fazer
aquele comentário na frente de Felipe. Mas Alex sabia que ele o vigiava e o
encarou de forma estranha como se o tivesse desafiando. Então apenas o
ignorou naquele momento.

Adriana passava geleia em uma torrada quando viu a forma estranha de Alex
encarar Isaiah, havia uma tensão pesada entre eles. Então virou-se para Isaiah
de repente para quebrar aquele clima estranho - onde estão Felipe, Miguel e
Diego? -

Alex cruzou os braços e se recostou na cadeira estofada e um sorriso


desdenhoso começou a se desmanchar em seu rosto - é Isaiah, onde estão
seus patrões? - a pergunta tinha um tom irônico.

Isaiah não se abalou com a pergunta, e continuou enchendo sua xicara de chá
- logo estarão aqui! Eles não dispensariam sua companhia agradável -
respondeu com um sorriso para Adriana – eles geralmente são muito
ocupados de dia, e alguns negócios necessitam da atenção direta deles e não
da minha, embora logo mas eu tenha que ficar preso ao telefone.

- Pensei que poderia tomar café com eles também, que pena! - ela disse com
uma pontada de decepção na voz.

- Não se preocupem com certeza eles fazem questão de estar com você e seus
amigos– respondeu com um sorriso

- é mesmo? – o comentário despertou sua curiosidade

- Sim! Alex sempre que nos visita fala de você e seus amigos - forçou um
olhar cortês para Alex que mantinha o sorriso debochado.

- Sempre! - Alex disse virando-se para ela de repente, como se esperasse


algum agradecimento especial por aquilo. Mas a atenção dela voltou-se para a
entrada animada de Fernan e Gevy.

- Bom dia! – Adriana disse sorridente

- Bom dia! - Respondeu Gevy com certa ansiedade e já se sentando ao lado


de Alex.

- Bom dia amore! - disse Fernan dando a volta na mesa e indo beijar Adriana
na testa.

Após tomarem um café da manhã, foram dar uma volta pelo terreno da
mansão que era composta não só da casa, mas o jardim extenso, um haras
com cavalos esplêndidos e o campo magnifico. Alex lhes mostrava tudo
enquanto passavam pelo perímetro do Jardim, eles admiravam a beleza do
lugar e conversavam animadamente sobre o baile de mascaras que
aconteceria em alguns dias.

- Imaginem um baile de máscaras nesse lugar! - comentou Fernan olhando


em volta e depois na direção da mansão.

- é verdade gente! Olha esse lugar... um sonho! - disse Gevy olhando na


mesma direção.
- é talvez. - Alex sussurrou de maneira que somente Adriana ouvisse, pois ele
caminhava ao seu lado.

Ela o olhou surpresa! – por que diz isso? - sua pergunta foi como um soco

Ele olhou desconcertado para ela - por nada! É que... - ele pensou para falar
antes de soltar algo errado.

- é que. - Ela fez impaciente

- Eles são bem excêntricos! Não são pessoas normais - ele tentava não olhar
para ela quando respondeu.

- Bom! Quem é normal hoje em dia? - ela riu do que ele falou

- é verdade! – tentou deixar o assunto de lado. Pararam no cercado para ver


os cavalos que os tratadores estavam cuidando com exercícios.

- Nossa que lindo! - Adriana admirava o cavalo árabe todo preto

- Devem ser bem caros - disse Fernan admirado

- São mesmo! - disse Alex - eles negociam até o sêmen porque são de raça,
alguns clientes pagam milhões por isso - concluiu encostando na cerca.

- Pena que não sei montar! – Adriana disse com os olhos presos nos cavalos

Alex a olhou por um momento e imaginou que mesmo que a desejasse do


fundo do seu coração, não poderia tê-la nem por um segundo. Eles não
permitiriam que tentasse nada, principalmente naquele lugar com eles em
volta. Por que eram observados a todo o momento. Qualquer movimento,
sorriso, palavra que esboçasse, seria usado contra ele depois. Não era
permitido ultrapassar o limite além da amizade comprada por eles. No
entanto, a sua vontade aquele momento era de quebrar todas as regras
imposta e beijar a mulher a sua frente, e depois manda-los para o inferno -
você pode aprender! - disse de repente - mas acho que está armando uma
chuva! - fez um muxoxo ao olhar para o céu.

Adriana acompanhou o seu olhar e lamentou.

- Podemos andar por ai e conversar mais! - ele sugeriu com um brilho ansioso
no olhar.

- Claro! - Adriana concordou

- Ah não gente! Não vou não, vai chover! - disse Fernan que olhou para Gevy
de forma sugestiva e ela entendeu rapidamente

- é eu também não vou... se não a chuva nos pega no caminho nos molhamos,
não quero molhar os meus cabelos – Gevy disse olhando animada para
Fernan.

- Tudo bem! - disse Alex que começou a andar ao lado de Adriana que olhou
para trás para ver os amigos que lhe davam tchauzinhos e riam, e que depois
voltavam apressadamente para a casa. Ela balançou a cabeça não querendo
acreditar que eles faziam aquilo para deixa-los sozinhos.

Começaram a caminhada em silêncio, olhando em volta apreciando a beleza


do local. Adriana na verdade queria evitar aquele tipo de situação com Alex,
pois o considerava apenas um amigo, apesar de todo seu encanto e sedução.
Eles haviam concordado em serem apenas amigos.

Alex a olhava de soslaio a todo momento para avaliar sua reação ou se ela
demonstraria algum tipo de interesse além da amizade. Queria que ela
demonstrasse aquilo, mesmo sabendo que tinha que cumprir com o
combinado e não tentar nada.

- Quer me dizer alguma coisa? - Adriana o surpreendeu com a pergunta

Ele ficou sem graça por ser pego de surpresa - nossa! - disse levando a mão
ao peito como se levasse um susto - você é muito direta! - disse sem graça

Olhou para ela curiosa e sorriu com sua reação - estamos andando faz 15
minutos em silêncio e você parece querer falar alguma coisa, e procurando a
coragem em algum lugar.

Alex se iluminou com seu sorriso - você tem uma astúcia inexplicável! -
analisou - sim eu queria dizer algo! - ele respirou fundo e enfiou as mãos nos
bolsos da calça jeans como sempre fazia quando estava desconfortável.

- Pode falar! - ela não voltou a olhar para ele e continuou a andar

- Você já deve ter percebido que tenho sentimentos em relação a você! - ele
dizia olhando-a de soslaio novamente - eu sei que talvez eu esteja sendo
precipitado e não quero forçar a barra - ele parou e ficou olhando-a parar
lentamente e se virar para ele.

- Mas você deixou claro que seriamos apenas bons amigos, certo? Pois é o
que eu sou, uma boa amiga e o considero um bom amigo – respondeu
deixando claro o seu sentimento atual.

Ele a olhava naquele momento com a expressão um pouco contrariada, pois


não queria ouvir aquilo. Os motivos que o levou dizer aquelas coisas a ela
foram às ameaças de Felipe – eu sei o que eu disse na época, mas eu gosto de
você e não consigo mais conter isso - disse um pouco agitado.

Adriana respirou fundo - A oportunidade passou Alex e agora eu não quero


um relacionamento, somos apenas amigos - tentou se justificar, mas ele
rebateu não lhe dando chance.

- por quê? - sua pergunta era de alguém que não aceita um não

Ela o olhou confusa – partiu primeiro de você, e agora não quero isso! -
respondeu com calma e sem graça - talvez eu tenha medo de me envolver
com você, sei lá! Ou com qualquer homem que me dispense depois, como
você fez - ela olhou para os pés para evitar o olhar inquisidor dele e
começava a ficar nervosa com aquela situação - acho melhor voltar! - disse
voltando pelo mesmo caminho que haviam pegado para circundar o haras.
Mas ele a alcançou e lhe barrou a passagem ficando bem perto, praticamente
com corpo dele encostado-se ao dela. Aquela aproximação era tudo o que ela
queria evitar naquele momento, pois Alex era tentador e a chance dela ceder e
se decepcionar depois era enorme.

Alex olhava para ela num misto de decepção e culpa - Acha que um dia
poderia mudar de ideia? - perguntou segurando nos ombros dela, para
impedi-la de se afastar novamente.

Adriana estava confusa naquele momento - Não sei! - disse com a voz
vacilante e olhou para o céu, mas como Alex era um pouco mais alto que ela,
se deparou com seus olhos castanhos claros a encarando muito perto. Piscou
por causa dos pingos finos da chuva que começou a cair e Alex segurou o seu
rosto com as duas mãos e a beijou não lhe dando chance de impedi-lo. No
inicio não teve reação, mas depois correspondeu por um momento, mas parou
de repente. Conseguiu se livrar dele e começou a andar com pressa em
direção à mansão, mas ele a alcançou novamente e a puxou de volta para si.

Alex ficou analisando a confusão de Adriana e adorou aquilo, mas sabia que
com certeza seria punido. Então já que estava condenado ao inferno, ele a
beijou novamente e pensaria no castigo depois. Mas ela lutou contra e o
empurrou, mas não conseguiu afasta-lo e acabou cedendo ao beijo
novamente. Mas daquela vez esqueceram de onde estavam e nem ligaram
para a chuva que havia aumentado, tamanha foi a explosão do desejo que
reprimiram há tempos. Então parou de beija-la e a abraçou de repente - não
fuja de mim, por favor! - sussurrou em seu ouvido.

Adriana não respondeu, e alguns segundos depois pode sentir afrouxar o


abraço e a deixar se afastar. Antes de olhar para ele novamente, suspirou
pesadamente e quando o fitou viu a frustação em seus olhos que depois
endurecerem de forma estranha. Mas ele não olhava para ela, olhava por cima
de seus ombros, para algo atrás dela.

- Atrapalho? - a voz ecoou por todo o campo, pois a chuva havia aumentado e
tom saiu um pouco mais alto e parecia zangado.

Adriana não sabia de onde ele havia surgido, mas enquanto olhava para Alex
viu que ele parecia disfarçar o pânico que os seus olhos transmitiam naquele
momento. Automaticamente se virou para ver quem era, viu Felipe e Isaiah
parados segurando guarda-chuvas. Felipe tinha um olhar frio que mirava
Alex como se ele estivesse fazendo algo de errado. Por um momento ficou
paralisada e depois surpresa por ele estar ali, e nem notara que havia
começado a tremer de frio, pois os pingos começaram a ficar mais fortes e
insistentes.

Felipe mudou a expressão contrariada para uma suave e foi ao auxilio de


Adriana que já estava toda ensopada. Ofereceu-lhe o braço enquanto a outra
mão segurava o guarda-chuva que era grande o bastante para protegê-los dos
pingos.

Adriana não conseguiu falar nada na hora, pois ficou sem graça. Viu Isaiah
entregar um guarda-chuva para Alex que o pegou e saiu apressado em
direção a casa deixando-a ali com Felipe. Respirou fundo quando ele sumiu
de suas vistas. Lançou um olhar sem graça para Felipe que a encarou com um
olhar amistoso, mas não disseram nada enquanto voltavam para a casa.

Felipe ouvia o conflito dos pensamentos de Adriana, a conhecia o suficiente


para saber que ela estava confusa e envergonhada naquele momento. Mas não
conseguiu ouvir os pensamentos de Alex, por algum motivo ele conseguiu
bloquear seus pensamentos. Mas pela sua expressão corporal, sabia que ele
desejava o que era proibido para ele e com certeza sabia que pagaria por tal
afronta. Quando chegaram à porta de entrada da casa que era protegida da
chuva, ela o fitou com um sorriu sem graça - Não se preocupe! - disse
tentando lhe passar um pouco de confiança.

Adriana sorriu sem graça - foi constrangedor! - respondeu desviando o olhar

Felipe a analisou por um segundo - não precisa se sentir desta forma! Creio
que ele está mais perturbado que você – disse tentando não transparecer sua
irritação - não se deve forçar uma situação com uma mulher que não deseja o
mesmo - disse tentando reconforta-la.

Adriana não entendeu aquilo e achou que aquele homem agia como se
pertencesse a outra época - Mas ele não forçou nada, eu até retribui - disse
forçando um sorriso sem graça novamente - ele é meu amigo! - agora estava
confusa novamente.
Felipe fez um gesto para Isaiah entrar e deixá-los sozinhos e esperou até ele
se afastar - é natural que se sinta perturbada! Ele com certeza confundiu as
coisas, falarei com ele – disse num tom firme de quem iria punir um vilão.
Percebendo que ela se esforçava o máximo para agir normalmente.

- Não precisa se incomodar! Eu mesma dou um jeito nisso! - ela endurecera a


expressão não entendeu porque ele se incomodava tanto com o que havia
acontecido entre ela e Alex.

- Como quiser, então – Felipe concordou ao perceber que ela começava a


ficar intrigada com sua atitude - mas espero que não se sinta constrangida. Se
quiser posso manda-lo embora - ele demonstrou ser protetor novamente.

- Não! Por favor - disse sobressaltada - não foi um crime, foi somente um
beijo – disse defensiva. Percebeu que ele estava incomodado demais com a
atitude de Alex, mas percebeu também que sua preocupação com ela era
estranhamente sincera.

- Claro! Mas não hesite em nos dizer se algo a incomodar, ou se ele tentar
alguma outra coisa – disse muito sério.

- Não se preocupe, acho que ele não irá tentar mais nada - ela enfatizou e
sorriu suavemente.

- Bom! - ele disse olhando para as roupas ensopadas da moça - creio que
queira tirar essas roupas molhadas. Faça isso, mandarei alguém subir com
algo quente para beber - ele sugeriu com um sorriso.
Alex estava preso em seus pensamentos na claridade de seu quarto, depois de
uma série de ameaças e regras impostas por Felipe. Pensava na atitude
desastrosa que tivera e começou a achar que não deveria ter feito aquilo.
Deixar se levar por um ímpeto de desejo desenfreado, que acabou sendo
assistido por ninguém menos do que o próprio Felipe. Se continuasse agindo
daquela maneira, com certeza as consequências seriam bem piores.
Principalmente agora que ela estava debaixo das asas deles. “Deles” porque
tanto Miguel, quanto Diego não gostavam nem um pouco dele, e faziam
questão de que soubesse que poderiam mata-lo a qualquer momento. Se fosse
qualquer um dos dois e não Felipe, talvez naquele momento não estivesse no
quarto para pensar.
Agradeceu por ter aprendido a dominar sua mente e bloquear seus
pensamentos. Precisava agir rápido, ou seria tarde demais.

Ainda estava irritado demais por causa das ameaças de Felipe, sequer poderia
dar o fora dali e sumir para sempre. Mas os seus pensamentos foram
interrompidos com o toque de seu celular - Pronto! – ele disse num tom de
mau humor quando atendeu– por que está me ligando? - sussurrou

- Não! – ele quase deu um berro, mas se conteve e continuou sussurrando -


não é hora, eu não sei qual é o motivo dela estar aqui - sua voz agora estava
carregada. Ele foi até a porta a abriu devagar enquanto falava e espiou para
ver se tinha alguém no corredor.

- Eles nem desconfiam, mas você os conhece melhor que eu, não é? - falava
enquanto fechava a porta atrás de si. E foi até a janela - não é seguro me ligar
enquanto eu estiver aqui. Veremos-nos no baile então - desligou. Ficou
olhando o celular na sua mão um pouco trêmula, aquela ligação o deixou
atordoado.
Um frio passou por sua espinha de repente, era como se tivesse vendido a
alma para o diabo, em troca de algo que o mundo inteiro gostaria de ter se
soubessem a verdade. Não via a hora de aquilo tudo acabar, receber seu
dinheiro e sumir.

Podia ouvir as vozes ecoando no andar de baixo, quando saiu do quarto em


direção ao corredor que levava a escadaria, e quando chegou ao topo da
escada, deu de cara com Fernan, Adriana e Gevy que iam em direção ao salão
onde era servido o almoço. Ele lançou um olhar cheio de culpa na direção da
sua amiga que retribuiu o olhar e depois sorriu – está tudo bem? – ela lhe
perguntou preocupada. Disfarçou o embaraço sem sucesso e respondeu
delicadamente – está sim! Eu estava em uma ligação importante - ele sorriu –
sobre um novo trabalho! – concluiu

Fernan o analisou – vai nos deixar? – perguntou curioso

Alex apenas sorriu – não agora! Ainda tenho algumas coisas para fazer e
Felipe me pediu para ficar por um tempo – tentou disfarçar o incomodo ao
mencionar aquela parte.

Os anfitriões mais uma vez não estavam ali, cada estava tratando de assuntos
diferentes, e um deles era referente ao grande baile. A visita na mansão
tratava-se dos decoradores que foram até lá tirar as medidas do suntuoso
salão de festas, decidir os artistas que seriam contratados para anima-la, DJ,
músicos e Buffet. E a outra visita era a estilista que fora a pedido de Felipe
até a mansão para tirar as medidas de Adriana e sua amiga, pois ele decidira
sem ela mesma saber, que lhe daria um vestido deslumbrante para o baile de
máscaras.

Após o almoço, Isaiah as avisou que a estilista esperava por elas juntamente
com Felipe. Adriana e Gevy quase surtaram quando ficaram sabendo que ele
lhes daria vestidos para a grande ocasião. Adriana inicialmente recusou o
presente, mas Felipe não aceitou a recusa e com facilidade que só um
vampiro tem, conseguiu persuadi-la a aceitar.
Capitulo 6

O baile de máscaras

Após uma semana inteira de chuvas, ela resolveu dar uma trégua e no dia do
baile estava tudo exatamente perfeito. O sol brilhou o dia inteiro e secou o
esplêndido jardim, facilitando o serviço do Buffet e os decoradores que
corriam para deixar tudo perfeito.

Adriana havia andado pela mansão, curiosa com os preparativos da grande


festa. Tentou arrancar informações dos empregados contratados. Mas foi em
vão, porque foram orientados a não revelarem nada. Acabou desistindo e foi
para o jardim curtir um pouco do que restava do sol no fim daquela tarde
antes do baile.

Alex se aproximou devagar. Ela tirou os olhos do livro que tentava ler e
virou-se para ele quando se sentou ao seu lado - Oi! - Disse ao ver que ele
ainda ofegava devido à corrida.

Alex deu um gole na água que estava na garrafinha plástica que segurava,
estava de agasalho e tênis, pois havia caminhado pela propriedade para
descarregar um pouco do stress da semana. Queria que aquela noite fosse
perfeita, mas estava um pouco nervoso e sem graça.

Ela deu uma risada divertida - Temos nos evitado a semana inteira, acho que
já chega – disse tentando deixa-lo à vontade.

Ele retribuiu o sorriso e a fitou sério de repente - Me desculpe! Desculpe-me!


Eu não devia ter forçado a barra - ela o interrompeu
Virou-se completamente para ele e pegou na sua mão - relaxa! – depois de
tanto pensar nele, estava decidido deixar as coisas rolarem se ele tentasse
algo novamente, só pra ver no que daria – Vamos apenas tentar nos divertir
hoje ok? – sorriu novamente. Mas viu algo estranho nos olhos dele, havia
algo errado acontecendo e ele com certeza tentava disfarçar, algo que não
tinha haver com sexo e romance e aquilo a fez murchar um pouco. Respirou
fundo para disfarçar a decepção e pensar racionalmente porque não era o tipo
de mulher que ele se envolvia, porque não tinha dinheiro e não tinha como
bancar seus luxos e também não era o tipo de mulher que sustentava homens.

Jamais sairia com vida se tentasse se envolver com ela. Felipe mesmo daria
um fim nele, e o temia mais do que os outros. Teve que forçar um sorriso –
Vamos deixar acontecer – mas aquela noite iria embora dali e sumiria no
mundo.

Adriana sorriu sem graça quando percebeu a perturbação dele – ok –


respondeu com um suspiro.

Como queria ter coragem para contar tudo a ela, mas era covarde demais para
fazer aquilo - Nunca vou me esquecer de você! – disse dando-lhe um selinho,
depois pegou as mãos dela beijou uma e depois a outra e a fitou em silêncio.

As palavras dele fez com que prestasse mais atenção nele. Ele a olhava de
forma carinhosa e triste e o que tinha acabado de dizer tinha o tom de
despedida. E ela não entendeu. Alex era um péssimo mentiroso, mas alguma
coisa o perturbava naquele momento.

Quando entraram na mansão já estavam mais descontraídos. Ouviram o DJ


testando o som no salão onde seria o baile, e tocava somente as músicas que
tocavam na boate. Adriana teve que se despedir do amigo, pois ainda teria
que fazer as unhas e tinha uma manicure e um cabelereiro que iriam arruma-
las para o baile. Serviços contratados por Isaiah que havia pensado em todos
os detalhes.
O Salão de festa estava exuberante e decorado com muito bom gosto.
Convidados chegavam a todo o momento, e os manobristas se agitavam para
atendê-los com seus carrões. Isaiah estava elegantemente vestido e os recebia
com muita cortesia na entrada da mansão e depois os arlequins contratados os
conduziam até o salão e distribuíam as máscaras que só poderiam ser
retiradas após a meia noite.

Ao entrarem davam de cara com o esplendor do ambiente todo decorado


estilo século XVII. Arlequins, colombinas, mímicos, músicos, contorcionistas
que faziam pirofagia entretendo os convidados que eram servidos com o que
tinha de melhor. A música do passado regida por músicos que se misturava a
música do futuro que era regida por um DJ de Londres, tudo muito bem
organizado e harmonioso.

Felipe, Diego e Miguel recebiam os convidados no próprio salão. As festas


organizadas por eles já eram bem conhecidas pela nata da sociedade a qual
mantinham negócios, como artistas, incluindo astros da musica, cinema e
moda. Na realidade eles mantinham negócios de todos os tipos, e alguns
desses negócios eram até inescrupulosos. Mas nas festas que realizavam para
manter o bom convívio com seus parceiros de negócios, também
frequentavam vampiros que tinham os mesmos procedimentos de convívio
humano como eles. Mas a maioria dos humanos nunca notava o que se
passava a sua volta, ou por estarem sempre correndo com suas vidas muito
ocupadas, ou por achar tudo normal demais.
Adriana demorou para se arrumar, ficou olhando um longo tempo para o seu
vestido carmim de cetim antes de vesti-lo. E quando o vestiu, ficou perfeito.
Era um tomara que caia que se modelava perfeitamente ao seu corpo,
modelando sua cintura e deixando as costas nuas, dando-lhe um toque
sensual. Agradeceu por ter emagrecido bastante naqueles últimos meses. Ele
descia por seu corpo em uma única camada que cobria o sapato que era do
mesmo tom. Os cabelos foram arrumados de lado, caindo como uma cascata
dourada em cima do peito.
Havia outro presente em cima da cama quando saiu do banho. Ela abriu a
caixa preta de veludo depositada ao lado de seu vestido e nem notara o
bilhete. Quase engasgou com a própria saliva quando viu o conteúdo da
caixa, era um conjunto de colar e brincos em formato tribal, todo em ouro
branco encrustado de pequenos diamantes, nunca havia visto nada igual!
Olhava pasma para a jóia em sua mão, tanto que nem viu quando Gevy
entrou no seu quarto, ela quase que não presta atenção em como sua amiga
estava vestida. Pôs a joia de volta na caixinha e olhou para sua amiga com
atenção.

Gevy estava com um vestido cetim turquesa, comprido até os pés, apertado
no busto igual às damas da corte do século XVII, era sexy, tinha os cabelos
cuidadosamente presos. Uma olhou para a outra e começaram a rir divertidas.

- você está maravilhosa, amiga! – Adriana a elogiou

Gevy deu um sorriso quase contido - e você está esplêndida! – respondeu -


olha esse vestido que escândalo de lindo - ela rodeava Adriana analisando seu
vestido e parou - Porque o seu tem que parecer com o de uma princesa e o
meu como uma dama de companhia? Você sabia que somente a realeza usava
vermelho, né?– depois começou a rir do próprio comentário - você tem que
ver o Fê e o Alex, estão lindos! Parecem dois lordes da corte da rainha
Elizabeth I -
Adriana riu com a idéia de todos parecerem estar em outra época - to louca
pra ver isso! – disse excitada. Depois pegou a caixa em cima da cama
novamente - mas antes, olha isso aqui! - disse estendendo a caixa para Gevy
ver

Gevy ficou muda por alguns segundos e com uma expressão de choque - Fala
sério, é seu? - perguntou boquiaberta quando pegou a caixa aberta das mãos
da amiga– isso é diamante? - ela quase gritou quando disse aquilo, depois
pegou o colar com cuidado e ficou olhando com cara de espanto – isso é
diamante Adriana, de verdade! Oh meu Deus...- disse eufórica

Adriana levantou as sobrancelhas - eu fui tomar banho, quando eu voltei já


estavam aí - disse apontando para a cama.

Gevy olhou na direção que ela apontou - tem um cartão aqui! – disse
cantarolando de forma divertida enquanto pegava o cartão em cima da cama.

- Leia! – Adriana disse curiosa e depois respirou fundo um tanto ansiosa.

Gevy deu um risinho malicioso - adivinhaaaaaa?- cantarolou de novo

- Leia logo! – disse impaciente

Gevy riu da amiga por que estava ansiosa para saber quem havia deixado a
jóia em seu quarto - vamos lá! Minha querida notamos que não usa joias além
de um colar simples. E nossa convidada de honra não poderia ficar apagada
em um evento grandioso em nossa casa. Fala sério! – Gevy levantou os olhos
do bilhete para a amiga, com um sorriso de deboche e continuou - Aceite
nosso presente, para que possa te iluminar mais nessa noite. PS: Não
aceitaremos a devolução. Ass: Felipe, Diego e Miguel.

- Olha só gata! – Gevy disse provocando - está arrasando corações. Os três


caras mais lindo que já vi em toda a minha vidaaaa...- ela falava com exagero
eufórico, vendo a cara da amiga que oscilava entre o sem graça e contrariada
- ah para! – disse - você não vai morrer se usar uma noite, vai? - ela
empurrou Adriana para frente do espelho e a ajudou a colocar a joia.
Adriana ficou olhando o efeito do colar e os brincos, quando se olhou no
espelho - não! – disse e sorriu começando a gostar da idéia de usa-las - mas
vou devolver depois! – virou-se e fez uma pose para ver se a amiga aprovava
as joias nela.

- Arrasou amiga! Agora vamos causar nessa festa! E paquerar uns duzentos
homens expendidos que estão aqui hoje, quem sabe arrumo um marido rico
dessa vez - disse animada e batendo palmas para apressar sua amiga – vamos!
Vamos! -

Quando chegaram ao corredor podiam ouvir a música que vinha do salão, e o


murmurinho no hall de entrada. As duas desceram as escadas quase que
correndo, pois estavam ansiosas demais. O fato de estarem ali, serem
convidadas de honra em uma mansão, participar de um baile cheio de pessoas
famosas, ricas e interessantes, as deixavam excitadas e eufóricas. Mas não
faziam idéia de que uma parte daquelas pessoas poderia oferecer um perigo
mortal.

Quando chegaram hall e se depararam com Isaiah, ele as recebeu com um


sorriso satisfeito e bateu até palmas. Depois lhes entregou as máscaras que
protegia somente os olhos. Cada uma recebeu a mascara que combinava com
a cor de seus vestidos. Gevy parou na frente dele e fez uma mesura, e ele
somente lhe lançou um olhar cheio de interesse. Isaiah estava incrivelmente
mais bonito naquela noite e como advogado dos anfitriões, também tinha
muito prestigio entre os convidados. E claro que a beleza exuberante de Gevy
não passou despercebida para o advogado, e desde o início os dois flertavam
discretamente.

Adriana e Gevy logo se misturaram entre os convidados, que curiosos se


viravam para olha-las quando abriam passagem. Adriana estava radiante entre
eles, adorava aquele tipo de coisa, festas, fantasia, gente bonita e muitas
daquelas pessoas eram famosas, e a deixou mais excitada com a ideia de se
divertir ali entre eles. Quando ouviram o DJ dominar as pick-ups e tocar algo
mais animado para agitar, elas vibraram! Principalmente quando ouviram a
música que começou a tocar.
- Isso que é música meu bem! Arrasou DJ - Gevy gritou na direção ao DJ,
jogando os braços para cima – Uhuuuuuuu.

- Amo essa música. Anna Moly! Anna Moly! - Adriana cantava junto com a
música da banda Íncubos, e depois começou a balançar a cabeça no ritmo das
batidas e ria, realmente já estava começando a se divertir.

Felipe as vislumbrou de longe, ficou observando de onde estava por alguns


minutos enquanto as duas curtiam a musica que tocava. E quando a música
acabou, foi ao encontro delas. Lógico que elas o reconheceram mesmo com a
máscara. E Adriana abriu um enorme sorriso quando o viu se aproximar -
Está fantástica! - ele elogiou fazendo uma mesura antes de lhe beijar a mão e
sorrir esbanjando todo o seu charme. Depois fez o mesmo com Gevy, que
ficou se abanando depois. Ele riu ao perceber o efeito que havia causado na
amiga de sua protegida.

Adriana riu divertida, depois percebeu dezenas de olhares curiosos dirigidos


na direção de onde estavam. Sabia que deveria ser por causa de Felipe e não
delas, pois ele era um dos anfitriões e era um gato. Lembrou-se do colar e o
tocou, e lhe disse um obrigado mudo. Ele sorriu satisfeito.

Gevy estava num misto de excitação e ansiedade, pois estava no meio de


centenas de pessoas ricamente vestidas e as máscaras facilitavam o flerte,
pois ocultava quem a usava e criava um clima de sedução. E era tudo o que
queria – tudo está tão magnifico! – disse sem olhar para Felipe ou Adriana –
roupas perfeitas, pessoas perfeitas, comida perfeita e bebida sensacional –
disse quando pegou a taça com champanhe e sorveu um pouco. Observou as
mulheres com vestidos lindos e exuberantes, e fez comentários maldosos de
algumas que exageraram um pouco em suas joias e vestidos – vestido lindo,
mas aquele parece à cortina da casa da minha mãe, horroroso! Meu pai,
aquela jóia no pescoço daquele... - ela fez uma pausa – aquilo é uma mulher?
– o comentário fez com que Adriana risse alto e Felipe olhasse curioso na
direção que ela olhava.

Felipe analisou a pessoa em questão – sim! É uma mulher, embora não


pareça com uma – ele riu e as duas amigas gargalharam.
Miguel se aproximou todo galante. Estava vestido quase como Felipe, que
estava de túnica preta com dourado. A sua era com o mesmo corte, mas era
branca com detalhes dourados também o que realçou sua beleza absurda e
seus olhos verdes escuros por baixo da mascara que combinava com a roupa.
Eles conversavam animadamente e lhe apresentavam todos que se
aproximavam curiosos, para saber quem era a linda mulher de vermelho e sua
linda amiga de turquesa. Felipe fez questão de apresentar Adriana como sua
protegida e ela achou aquilo um pouco estranho. Mas ele informou que o fez
para que ela tivesse certo prestigio na sociedade, pois todos que estavam ali
tinham negócios com eles, e fazendo aquilo a respeitariam e poderiam lhes
abrir muitas portas.

Diego surgiu depois de alguns minutos e estava acompanhado de uma mulher


alta, exuberante e de cabelos encaracolados compridos vermelhos
alaranjados. Quando ela se aproximou do grupo, mediu Adriana e Gevy dos
pés à cabeça, e seus olhos eram puro desprezo.

Diego olhou para Adriana e Gevy, e as cobriu de elogios. Principalmente


Adriana que parecia ficar quase sem graça, pois ele tinha um charme
diabólico. Em seguida ele apresentou sua acompanhante para as duas. A
Mulher voltou o olhar para Adriana e a mediu com desprezo novamente e
virou-se para Felipe com ar de deboche – Lembro-me dessas duas na boate
do Martin. Agora trazem a ralé para esta casa? Achei que a criadagem
participava das festas só para servir a comida - ela falava voltando o olhar
para seu alvo como se soubesse quem ela era.

Adriana a mediu da mesma forma, e mesmo um pouco chocada pela ousadia


daquela mulher, jamais se deixaria intimidar por ninguém, muito menos por
alguém que se achava superior. Quis manter a calma e a classe, mas a mulher
não parava de encarar, então a encarou também e já estava pronta para lhe dar
uma resposta a altura. Mas antes mesmo de abrir a boca para responder,
Felipe pôs-se ao seu lado de forma quase que possessiva e lançou um olhar
para a ruiva que faria qualquer um se ajoelhar de medo.

- Marguerite... – Felipe começou dando um sorriso frio – não aprendeu a ter


educação na casa de Melked? Refreie essa língua, pois não se trata de alguém
da ralé, nem muito menos nossa criada. Essa é a minha protegida Adriana e
aquela criatura adorável ao seu lado é a amiga dela. E esse tipo de atitude que
acaba de tomar não será tolerado em minha presença. Cuidado a quem dirige
o seu veneno! - Ameaçou a moça que o encarava num misto de surpresa e
medo, mas em seguida ela lançou um olhar frio na direção de Adriana, e essa
tinha um sorriso torto de satisfação esboçado nos lábio devido à resposta de
Felipe ao seu favor.

Diego começou a rir se divertindo com a situação e se desembaraçou de


Marguerite que imediatamente se afastou do grupo aborrecida e pisando
firme. Ele pegou Adriana pelas mãos e beijou ambas - Está tão maravilhosa
Lady Adriana, que está causando inveja nas convidadas! - ele falava em voz
alta para que todos que estavam em volta pudessem ouvir. Ela enrubesceu
novamente.

Adriana riu sem graça - Obrigada milorde! – respondeu fazendo uma mesura.
Como se estivesse entrando num personagem de época, de acordo com o
tema da festa.

Diego retribuiu o gesto - Por favor, desculpem Marguerite. Ela é uma antiga
conhecida, não leve as coisas que ela disse em consideração. Foram apenas
ciúmes, ela não suporta quando alguém chama mais atenção que ela. Prometo
que isso não ira se repetir - disse-lhe

Adriana e Gevy riram do comentário - já estamos acostumadas com essas


dondocas emburradas e ciumentas.

Felipe riu do comentário, mas no fundo estava um pouco apreensivo, tanto


que não relaxaria mais no decorrer da festa, teria que ficar alerta e por perto.
Ele sempre a apresentava principalmente Adriana a alguém que parecia ser
importante na sociedade, ou a algum artista da música, arte e cinema. E todos
que se aproximavam a analisava de forma curiosa e às vezes com certa
malicia como se ela fosse uma acompanhante contratada. Aquilo a irritava,
pois se sentia como uma aberração exposta no circo de horrores e eles se
aproximavam para lhe jogar amendoins, ou cutuca-la com alguma coisa.

Gevy por outro lado, relaxava mais a cada taça de champanhe. Tanto que
conversava eloquentemente com cada pessoa que se aproximava, às vezes
dava voltinhas pelo salão para se servir de alguma bebida, enquanto Adriana
estava entretida conversando com Felipe, Miguel e Diego que se
desmanchavam em atenções para ela.

Quando finalmente Fernan apareceu, Adriana o olhou e fez um ó mudo com a


boca, numa expressão espantada - quem é você, e o que fez com a minha
amiga? – Fernan disse divertido

Adriana o olhou impaciente - Continuo aqui! Onde você estava? Sempre


some nas festas – disse aborrecida

Ele sorria um pouco bêbado - tente se divertir! Olhe para esse lugar -
respondeu abrindo os braços e girando - olha quanta gente bonita,
interessante e... - Ele fez uma pausa quase que teatral - ricas! Até a
champanhe que estão servindo é cara. E eu gata... – ele fez uma pose... -
estou me divertindo muito. Sumi por que conheci um cara magnifico e
estávamos em um lugar discreto – dessa vez ele sussurrou em seu ouvido e
apontou para o cara que havia acabado de ficar.

Ela deu uma gargalhada e se virou para ver o rapaz e ele era lindo, constatou
que já tinha visto ele em alguma propaganda de perfume – gato! – disse
quando viu o rapaz olhar para seu amigo, e dar um tchauzinho discreto para
ele. Riu novamente quando viu aquilo e olhou a sua volta, quando puxou o
amigo se afastando um pouco dos anfitriões para conversar mais a vontade -
me apresentaram tanta gente, mas não me lembro do nome de ninguém - ela
parou de falar quando viu Fernan boquiaberto olhando para as joias que ela
usava. Ele levou à mão a boca. Tentou fingir que não via o que ele fazia, mas
não adiantou - Não fala nada. Vou devolve-las - ela sussurrou para que seus
novos amigos não ouvissem o que dizia.

Ele se aproximou e tocou suavemente no colar - gata! Você causou ótima


impressão, não é? To vendo que alguém não vai terminar a noite sozinha –
provocou.

Ela o olhou zangada - para de graça ta! Não tem nada a ver.

- Hum! - ele fez - se você não agarrar um desses três bofes, vai ficar com o
Alex que não tem nada. O máximo que ele vai fazer é te pedir dinheiro
emprestado - debochou

- Para. Que maldade – o repreendeu - não tem nada a ver. Somos todos
amigos, e eles são extremamente atenciosos - ela disse - não quero saber de
piadinhas, nem suas, nem da Gevy - advertiu.

- Ta! Ta! Não falo mais nada... - concordou, mas ele ria quando disse aquilo.

Ela o encarou e depois revirou os olhos – você precisava ver a bruxa que o
Diego me apresentou... uma mulher com nome de bebida - ela dizia

- Cuidado com ela! – Alex se aproximava devagar e parou logo atrás dela, e
sorriu quando ela se virou para olha-lo ficando muito próximos.

Ela o encarou divertido com a aproximação repentina – por que, ela morde? -
sua pergunta atraiu alguns olhares que estavam bem próximos.

Alex riu baixinho - e como! – respondeu quando percebeu os olhares


curiosos.

Ela deu de ombros – não to nem aí pra ela, que bruxa! – ela se zangou

- Deixa a bruxa pra lá, e vamos nos divertir! - Alex disse tentando mudar de
assunto - olha pra você, está linda! - esbanjou um dos seus melhores sorrisos
quando disse aquilo.

- Sem graça! – Adriana riu da provocação. Depois viu o sorriso de Alex


morrer em seu rosto quando Miguel se aproximou.

Miguel passou por Alex e o ignorou – estão se divertindo? – perguntou


olhando para Adriana e Fernan que o mediu de baixo a cima e depois
suspirou.

Adriana riu percebendo a reação do amigo, e achou que já havia bebido


demais – e como... Ele também está – respondeu por seu amigo
Miguel apenas sorriu achando aquilo engraçado e depois se virou para ela
novamente – e porque não está na pista dançando? – viu a cara de espanto
dela surgir de repente.

Ela arregalou os olhos – por enquanto não - respondeu sem graça

Miguel a analisou por um instante – mas vai desperdiçar tudo isso? Está linda
nesse vestido, a festa está maravilhosa e divertida, a música está no nível. O
que está esperando, um convite? – lançou um olhar para Alex que o encarou
como se soubesse o que ele pretendia. Depois voltou os olhos para ela
novamente – então se está esperando um convite, eu posso fazê-lo – disse
esbanjando todo seu charme para cima dela. Ele olhou na direção do DJ - eu
pedi para o meu amigo, tocar uma musica especial para você. Você tem que
dançar e contagiar essas pessoas chatas que estão aqui - ele a virou na direção
do DJ que mandou um beijo para ela de onde estava.

Adriana voltou os olhos para Miguel - não espera mesmo que eu dance, não
é? -disse sem graça

Ele a olhou surpreso - claro que sim! - afirmou abrindo um sorriso largo - não
acha mesmo que vou perder essa oportunidade, não é? Nem pensar. Vá até lá
com os seus amigos e divirtam-se até não aguentarem mais - a incentivava
com seu poder hipnótico.

Ela olhou para ele novamente e sentiu-se estranha por um momento.


Percebeu que não iria adiantar resistir, pois ele era tão encantador que ela não
conseguiria lhe dizer não, mesmo se quisesse dizer. Sem pensar foi em
direção à pista, sem saber direito o que estava fazendo, mas fazia. Começou a
dançar olhando para ele, depois sorriu de forma sedutora e fez sinal para que
fosse dançar com ela.

Miguel deu um sorriso malicioso e depois olhou para Alex de forma


provocativa, foi na direção de Adriana, dançou com ela de maneira que atraiu
muito atenção na direção dos dois que pareciam se divertir com aquilo. Ele se
insinuava para ela, que correspondia fazendo a mesma coisa e depois ria.

Alex olhou para Miguel vendo que ele estava adorando flertar com Adriana, e
ela nem sabia o que ele era. Com certeza ele não seria punido por flertar
daquele jeito com a protegida de Felipe. Com certeza ele fazia aquilo para
que soubesse que não poderia competir ou até mesmo tentar nada a respeito.
Mesmo que tenha sido somente uma única musica, aquilo serviu para que não
esquecesse que estava sendo observado e qual era o seu devido lugar na
cadeia alimentar.
Mas como aquela era sua última noite fez questão de acabar com a tentativa
de sedução de Miguel. Chamou Fernan para juntarem-se a eles e quebrar a
influência hipnótica do vampiro que percebeu o que tentava fazer e
abandonou a pista de dança depois de sorrir de forma debochada e dar um
beijo no rosto de Adriana.

O DJ trocou a música por outra mais caliente e começaram a dançar no ritmo


sensual. Adriana, Fernan e Alex formaram um trio e ela ficou bem no centro.

Miguel ficou olhando de longe satisfeito com o que via, e por ter dançado
com alguém de quem não iria se alimentar depois. Para ele era estranho fazer
algo como dançar com uma mulher humana que não fosse uma presa. Era a
primeira vez em toda a sua existência que começava a observar um ser
humano que não podia matar. Achou intrigante e simplesmente sorriu ao
pensar naquilo, porque estava gostando da idéia.

Diego se aproximou dele e o analisou por um segundo, depois sorriu ao


seguir seu olhar. Fez a mesma cara de contentamento – a humana de Felipe é
bem bonita e intrigante! – disse

Miguel nem se deu o trabalho de voltar os olhos para ele - com certeza! - deu
um suspiro carregado de lamento – a tentação bem ao lado.

- é – concordou Diego prestando mais atenção nela – parece que vou vencer a
aposta.

Miguel riu quando olhou para ele – acha mesmo que eu seria capaz? Por mais
tentadora que seja não meu amigo, você não vai vencer dessa vez - disse
triunfante.

Diego estava com um ar de deboche - mas eu vi você dançando com ela. Não
aguentou e sem perceber foi atraído pela tentação – provocou

Miguel bufou – quem resistiria? – disse voltando o olhar para a moça que se
divertia na pista de dança

- Mas terão que resistir! -

Ambos se viraram sobressaltados quando reconheceram a voz.

- Nem sequer pensem nisso! – Felipe tinha um olhar severo quando os


advertiu. O comentário simplesmente o irritou tremendamente.

Diego e Miguel se entreolharam e riram divertidos.

- Sabemos disso, relaxe! Mas não pode negar que sua afilhada, protegida,
enfim... É tentadora - observou Miguel com um sorriso malicioso.

Felipe o encarava sério, depois olhou para a pista de dança constatando o que
eles falavam. Ela realmente chamava a atenção com seu charme e beleza.
Embora não a enxergasse da mesma forma que eles a enxergavam. Tinha
uma visão paternal em relação a ela, e o comentário o irritou – contenham-se!
– ele os advertiu novamente

Diego sorriu para ele, sabia o que se passava na cabeça de seu velho amigo -
acalme-se, não precisa se preocupar conosco! - disse pensativo olhando na
mesma direção ainda

Felipe o encarou sério – não preciso lembra-los o que ela significa pra mim e
para esse clã - disse

Diego percebeu o quanto estava aborrecido - relaxe meu velho! Ela já


arrebatou nossos corações imortais, jamais a machucaríamos – Diego riu do
próprio comentário tentando amenizar a tensão de seu amigo.

Felipe percebeu o próprio exagero - ótimo! – concordou ficando mais


tranquilo, sabia o quanto eles estavam curiosos em relação a ela e achava que
era o suficiente para que eles resistissem, mas não podia se apegar apenas
naquilo – Se Morgan estivesse aqui, seria o único que me preocuparia
realmente – ficou pensativo.

- É... Ela é uma descendente bem mais excitante que Helena! - disse Miguel
imaginando que o irmão acharia a mesma coisa que ele. Mas ao mesmo
tempo ficou pensando sobre aquilo e se preocupou, pois outras que apenas
lembraram Helena não haviam sobrevivido a sua sede. E ele adorava brincar
com suas presas antes de abatê-las.

Adriana estava adorando tudo aquilo, pois estava se divertindo de verdade.


Somente o vestido que não ajudava muito para dançar, então segurava a barra
e a suspendia deixando às pernas a mostra. A pista estava abarrotada de
pessoas de todos os tipos que dançavam e que também se divertiam. Muitos
se aproximaram para dançar junto com ela e seus amigos. Ela sempre sorria
com todo o charme, e se afastava quando tinha a oportunidade se virando
para Alex ou Fernan. E sempre que podia dava uma olhadinha para os novos
amigos que eram os anfitriões da festa, e eles acenavam para ela todas as
vezes que percebiam que ela os observava. De vez em quando os via se
misturando aos convidados ou ficavam juntos em uma roda de conhecidos. E
aqueles conhecidos estranhamente assemelhavam-se a eles e chamavam
atenção como eles, alguns até tão bonitos quanto, mas também enigmáticos.

Marguerite estava acompanhada por dois jovens e dançava entre os dois de


forma muito sensual, assim como Adriana havia dançado com seus amigos
minutos antes. Mas a forma que aquela ela dançava era mais provocante,
mais ousada, de maneira que esfregavam seus corpos no ritmo da musica
como se fosse quase um ato sexual. Ela tinha a plena noção do quanto aquilo
atraia atenção para si, pois até Diego se aproximou da rodinha que se formou
a sua volta, e sabia que ele estava adorando vê-la se exibindo daquela forma.

Adriana viu a cena da dança provocativa de Marguerite, mas virou-se de


costas ignorando-os e continuou a dançar com seus amigos, e tentou não
olhar mais naquela direção. Queria aproveitar aquela festa maravilhosa até o
último momento sem se preocupar com nada. Até se misturou a um grupo de
amigos muito animados quando o DJ trocou de música “please dont stop
music” da cantora Rihanna, começou a pular no meio deles que começaram a
imita-la e logo toda a pista pulava contagiados por eles e pela música.
Ficou tão relaxada que nem percebeu que aquela mulher se aproximava com
os olhos fixos nela. Somente se deu conta de sua aproximação, quando sentiu
uma mão muito fria e forte tocar seu ombro e aperta-lo enquanto a virava
facilmente. Ficou confusa quando viu que estava cara-a-cara com a ruiva
arrogante. Ela era alta e esguia, seu rosto tinha traços delicados e era bonito,
mas tinha uma expressão cruel. Seu vestido era vermelho, assim como o seu,
mas diferente das outras convidadas e do seu o dela era totalmente colado ao
corpo quase uma segunda pele. Seus cabelos vermelhos alaranjados e
encaracolados pareciam perfeitos sem nenhum fio fora do lugar, suas
sobrancelhas eram muito bem desenhadas e claras e os olhos tinham um tom
de verde claro e vivo, notou que eles tinham algo de anormal mesmo por
baixo daquela mascara vermelha com uma pena do lado. Aquilo a perturbou
por um segundo, pois se sentiu confusa com a proximidade e tentou se afastar
dela, mas a estranha mulher a segurou em seu queixo, fazendo com que se
mantivesse facilmente no mesmo lugar.

Marguerite analisava a criatura loira a sua frente, estava curiosa para saber o
motivo que levava o poderoso macho ameaça-la por causa daquela humana -
É bem bonita! – disse virando o rosto de Adriana de lado para o outro – mas
com certeza não foi o motivo deles a quererem tanto. Não entendo os motivos
de Felipe não querer que te toquem - ela deu um sorriso e se aproximou mais
de Adriana que tentou se desvencilhar em vão novamente - Não tenha medo
cherié, eu só quero dançar com os seus amigos e os meus dançarem com
você. Somente diversão, se é que me entende! - ela deu uma piscadela e
depois a soltou com cuidado como se pudesse quebra-la se fizesse um
movimento brusco.

Quando Adriana percebeu já havia sido encurralada pelos rapazes que


dançavam com Marguerite antes, a rodearam e ficaram muito próximos.
Tentou sair dali e ir para junto dos seus amigos, mas Marguerite já se
esfregava neles como uma cobra vermelha, e ambos Alex e Fernan pareciam
em transe dançando com ela enquanto acompanhavam os seus movimentos.
Ficou sem entender o que acontecia ali, e porque eles agiam daquela forma
como se estivessem drogados ou hipnotizados. Voltou os olhos alertas para
os rapazes a sua volta quando um deles se aproximou o suficiente para roça-
la e percebeu que eram gêmeos um tinha os olhos bem azuis e o outro os
olhos bem verdes e eram bonitos, mas muito pálidos.

Quando o gêmeo que tinha os olhos azuis aproximou-se mais, sentiu-se


totalmente zonza e tentou se livrar dele virando-se para o outro lado, não
queria dançar com eles. Mas o outro de olhos verdes bloqueou sua passagem
e quando olhou nos olhos dele sentiu que havia alguma coisa de muito errada
com aqueles dois. Começaram a se esfregar nela, se insinuavam e passavam
as mãos em sua cintura e quadril, chegando a tocar até seus seios. Aquilo a
irritou muito e tentou sair novamente, mas o de olhos azuis a virou com tudo
puxando-a para junto de seu corpo, segurando-a pelos cabelos da nuca
forçando-a a encara-lo. Ele sorriu com malicia e com um movimento muito
rápido que não deu tempo de ela reagir, roçou seu pescoço com a ponta do
nariz e a beijou suavemente nos lábios, voltando a encara-la com aquele
sorrisinho malicioso. O outro que estava as suas costas, beijou sua nuca e
depois passou a língua em seu pescoço, enquanto movimentava seu corpo no
ritmo da musica, aquilo a perturbou muito. Tentou se livrar dos dois
novamente e encarou o de olhos azuis de forma zangada, pois a segurava com
força e quando ele sorriu vislumbrou o que pareciam presas, mas foi muito
rápido. Assustou-se e sentiu um frio passar por sua espinha, o empurrou com
toda a sua força e conseguiu se livrar dele. Afastou-se rapidamente dos dois,
abrindo caminho entre os convidados que parecia não prestar atenção neles.
Olhou em volta procurando seus amigos, mas não os viu por perto. Não
conseguia nem ver seus novos amigos que eram os anfitriões da festa. Não
estava gostando do que estava acontecendo – merda! – Xingou baixinho,
varrendo todo o enorme salão com os olhos, mas o lugar era imenso e estava
lotado.

Os gêmeos a cercaram novamente.

- Não conseguirá fugir de nós! - disse o de olhos azuis enquanto a media de


baixo a cima, com os olhos injetados pela excitação. Chegou a passar a língua
nos lábios como se estivesse umedecendo-os.

O outro riu baixinho depois de olhar em volta rapidamente - somos ótimos


caçadores! – parou atrás dela para impedir que fugisse novamente, caso
tentasse.
Adriana ficou onde estava e prendeu a respiração por um segundo, pois
ninguém além dos gêmeos olhava para ela. Tentou se controlar, mas seu
radar de perigo não parava de alerta-la que algo estava errado, muito errado.
Automaticamente ela olhou na boca daquele que minutos antes viu presas
pontiagudas. Pensou que poderia ser sua mente lhe pregando uma peça, pois
não as viu novamente. Respirou fundo – é, parece que vocês não desistem! –
Disse tentando forçar um sorriso. Os dois irmãos se entreolharam e sorriram
de forma maliciosa e ela percebeu que tramavam algo. Olhou em volta
novamente para se certificar de que estava num lugar visível o suficiente para
desencoraja-los de fazer algo.

- Você tem dono? Não vejo marcas em você – perguntou o de olhos azuis e
depois ele olhou para o outro. Eles começaram a andar devagar a sua volta
como dois animais famintos que espreitam sua presa antes de ataca-la.

O outro de olhos verdes disse: Acho que sim, irmão! Mas gosto dela e fico
até excitado - dizia ainda -... se não tiver dono, poderíamos ficar com ela.
Marguerite não irá se opor – esse riu excitado com a idéia.

Adriana sentiu-se confusa e irritada, muito irritada. Começou a olhar em


volta novamente, a procura de um de seus amigos, qualquer um que a tirasse
dali. Não sabia por que, mas sentiu medo mesmo estando irritada. Eles
falavam dela como se não estivesse ali, como se fosse um simples objeto –
que tipo de conversa é essa. Não sou de ninguém. Não falem de mim como
seu fosse um brinquedo - disse de repente num tom irritado.

Os dois irmãos se entreolharam e riram caçoando dela - Mas é exatamente o


que você é! Um brinquedinho suculento, prazeroso e saciante - disse o de
olhos azuis que se inclinou um pouco em sua direção e passou a língua de
forma vulgar nos lábios - da vontade até de comer. - disse de forma que seus
olhos brilharam estranhamente.

Ela deu um passo para trás e o fuzilou furiosa. Sua vontade era de enchê-lo
de socos por tanta ousadia – porra! Era só o que me faltava.

- O que poderia fazer? - perguntou o de olhos verdes como se adivinhasse o


que ela queria fazer, somente lendo sua expressão.
Ela novamente respirou fundo e tentou se controlar mais uma vez. Odiava
aquele tipo de coisa, mas por consideração a Felipe, Diego e Miguel, se
esforçou.

- Diga o que você poderia fazer para nos impedir... - Repetiu o rapaz
aproximando-se cada vez mais.

Nesse momento Adriana o encarou e não saiu do lugar - Tente me tocar, que
você vai saber – ameaçou.

- É melhor não tentarem NADA! – Felipe disse surgido de repente e parando


logo atrás dos gêmeos. Viu Adriana virar-se para ele com certa urgência,
tanto que até soltou a respiração, aliviada quando os viu. Apesar de falar
calmamente, havia ameaça no tom de sua voz e seu olhar para os gêmeos
demonstrava sua intenção de mata-los naquele momento.

Os gêmeos se sobressaltaram quando viram Felipe e também Diego e Miguel.


O medo se instalou - Ela pertence a vocês? - perguntou o de olhos azuis com
uma calma contida, mas seus olhos estavam alertas, pois desviavam de Felipe
para Diego e depois para Miguel muito rápido.

- Não tocamos nela! - disse o de olhos verdes que imitava o outro. Mas esse
estava mais em posição de sair correndo – não tocamos nela - repetiu

Felipe olhou para Adriana que dava a impressão de querer correr para perto
dele. Percebeu que havia certa urgência em seus olhos, mas ela ficou onde
estava. Nesse momento ele se aproximou e tocou seu ombro com cuidado, ela
tremia - você está bem? - sua voz era baixa, mas firme.

No inicio ela estranhou a pergunta, pois aquilo parecia um absurdo. Por que a
machucariam? Mas mesmo assim, sentiu-se aliviada por ele estar ali ao seu
lado, porque por algum motivo sentia medo naquele momento - Sim! – ela
respondeu confusa – apenas típicos babacas de festa tentando se dar bem –
lamentou internamente por aquela situação.

Na hora tanto os Drakos quanto os gêmeos perceberam que ela não sabia do
que aquilo tudo se tratava.

- Tem certeza, cherié? – Diego perguntou com os olhos grudados de forma


fria nos gêmeos, quando percebeu o medo dela.

Ela seguiu o olhar dele - E-eu to legal! Deixa pra lá! - respondeu se virando
para Felipe que em seguida sorriu para ela com certo esforço. Somente para
que ela relaxasse, não deixou perceber o sinal que fez para Diego tira-la dali.

- É mesmo meu caro! - disse Diego entendendo seu sinal - Esqueça! Venha
querida - pegou Adriana pelo braço e começou a afasta-la dali. Mas ela
olhava para trás insistentemente enquanto se afastava, pois nem Felipe e nem
Miguel os acompanharam.

Adriana viu que Felipe falava de forma muito zangada, mas sua postura
mantinha-se inalterada como se não quisesse que o restante dos convidados
percebesse o acontecido. Sentiu a tensão entre eles e como a música estava
alta, somente via suas bocas se mexendo muito rápido.

- Não se preocupe criança! - disse Diego quando chegaram do outro lado do


salão. Ele pegou duas taças da bandeja de um dos garçons mascarados que
passavam de um lado para o outro, ofereceu uma a ela e ficou com a outra.
Ela olhou para ele com se tivesse um ponto de interrogação enorme
estampado na sua cara, e ele riu encantador - Não se preocupe, é sério - disse
novamente

Adriana estava muito tensa ainda - Estou acostumada a lidar com esses
tipinhos o tempo todo, lá no bar da boate. Mas esses dois pareciam tão
estranhos, como se não fossem humanos. Sei lá! – disse depois de dar um
enorme gole no champanhe que borbulhava na taça de cristal na sua mão. Viu
Diego acompanhar os seus movimentos com atenção e sorriu sem graça –
certeza de que é apenas algo da minha cabeça essa parte. Mas acho que
estavam alcoolizados - concluiu

Diego a olhou preocupado - Não os conhece - disse ficando um pouco sério -


são perigosos! Eles gostam muito de ameaçar mulheres indefesas – ele
esboçou um sorriso contido depois, e acompanhando o olhar interessado dela
na direção de Felipe e Miguel - Aqui está em segurança! Deixe que cuidemos
desses tipinhos para você – concluiu.

Olhou para ele tentando não deixar transparecer seu desconforto com aquilo -
Aprendi a me defender muito cedo, não se preocupe comigo - disse com um
sorriso - já virou reflexo, acontece automaticamente quando minhas
anteninhas de perigo me alertam - riu dela mesma ao falar, pois se sentia
meio idiota naquele momento.

Diego acompanhou sua risada e se interessou mais no que ela falava - como
assim muito cedo, e o seu pai? - perguntou de repente para tirar a atenção
dela de onde estava Felipe. Notou a expressão dela mudar quando voltou o
olhar para ele, como se tivesse tocado num assunto que ela não queria falar.

Ela hesitou antes de falar e bebeu todo o liquido da taça de uma vez - É um
pouco delicado - ela dizia desviando o olhar para o copo - Meu pai morreu
quando eu tinha sete anos – forçou um sorriso quando voltou o olhar para ele.

Diego a analisou por um segundo - Deve ter sido difícil para você aprender a
se defender sozinha - percebeu seu desconforto aumentar com aquela
conversa - mas saiu-se muito bem até aqui - ele sorriu de maneira sedutora.

Ela sorriu de volta – Quando entramos na vida adulta, encaramos os medos


da infância de outra forma. Alguns traumas nos deixa afiados na defesa.

- É um reflexo - Diego afirmou e depois continuou – a vida acabou moldando


uma guerreira - Ela lhe ofereceu um sorriu um pouco mais relaxado, e ele
continuou - e ainda digo. Não, eu afirmo! - ele riu – aqui estará sempre
segura, ninguém saíra impune se apenas pensar em te fazer algum mal - a
expressão de Diego estava divertida, somente para fazê-la relaxar e esquecer
as lembranças que a torturavam. E quando passou outro garçom, ele trocou as
taças novamente entregando outra para ela.

Adriana o analisou rapidamente quando pegou a taça e percebeu como ele era
bonito e ainda por cima com um charme irresistível, principalmente quando
sorria e duas covinhas despontavam - de certa forma... - ela dizia ao bebericar
o champanhe - me sinto inexplicavelmente segura aqui. A ponto de até
conseguir dormir a noite inteira, e isso nunca havia acontecido antes desde
quando eu era criança – ela suspirou pensativa por um momento. Realmente
era inexplicável conseguir dormir, sem acordar com pesadelos ou
sobressaltada achando que alguém entrava no seu quarto, lembrou-se daquilo
sem querer, e não era algo que gostava de lembrar.

Diego ouvia os pensamentos dela naquele momento, e só pode imaginar o


que seria aquele medo. Na verdade, era o que ela lembrava e que gritava na
sua mente. Ficou muito incomodado com o que havia descoberto, sentiu uma
raiva inexplicável daquilo. Porque essa parte Felipe não lhe contara? Pensou!
Não era muito dado a se sensibilizar com os problemas humanos, mas com
ela passou a ser diferente desde que soubera que Felipe a encontrara.
Estava olhando para uma mulher adulta e forte, mas se prestasse um pouco
mais de atenção, dava para vislumbrar uma garotinha assustada escondida
atrás da carcaça de mulher. Teve que se esforçar para disfarçar sua revolta e
voltar a sorrir - Pense em nós como os seus guardiões! - Voltou a dizer.
Queria dissipar as lembranças ruins chamando sua atenção. Inclinou-se um
pouco em sua direção para falar, pois a musica havia aumentado, se
esquecendo completamente do efeito que eles tinham sobre os humanos.

Ela riu divertida, mas depois se sentiu como se fosse enfeitiçada - Meus
guardiões? - ela disse um pouco inebriada. Sacudiu a cabeça, pois parecia que
uma força magnética a puxava fazendo uma estranha pressão na testa e nos
olhos, como se uma energia saísse deles. Piscou algumas vezes, pois achava
que o champanhe havia subido muito rápido, e tentou disfarçar - e quem vai
proteger vocês? - Perguntou de repente fazendo Diego arregalar os olhos
surpreso com sua pergunta, mas de forma muito animada.

Ele refletiu e acompanhou o raciocínio dela - ah milady! Devo dizer-lhe que


talvez pudesse nos dar essa honra? - ele fez uma mesura todo elegante e
charmoso. E ela gargalhou.

- Então faremos um trato! - Adriana disse pegando a taça da mão dele e


trocando junto com a sua, quando chamou o garçom.

Miguel surgiu muito rápido e muito animado - que trato? - perguntou


tomando a taça de Diego que ficou olhando para a mão vazia, enquanto seu
amigo tomava seu champanhe.

Ela riu achando graça dos dois.

- Perdi alguma coisa? - perguntou Felipe com um largo sorriso quando se


aproximou dos três e colou ao lado dela que olhou para cima, pois era bem
mais alto.

Adriana olhou para os três um seguido do outro, e os achou realmente muito


protetores de perto – acabo de selar um trato com Diego. Ele me ofereceu o
cargo de protetora dos três – ela riu se achando estupida demais.

Felipe levantou a sobrancelha esquerda num sinal de surpresa - Nada mais


justo, milady! - ele disse - somos seus guardiões agora e quem irá nos
proteger? - a pergunta de Felipe a fez o olhar com surpresa, pois dissera
aquilo minutos antes a Diego.

- É verdade! - disse Miguel de repente - ninguém melhor que a mais nova


integrante do nosso clã - ele colou do outro lado e passou o braço envolto dos
ombros de Adriana – brindemos a nossa amizade, lealdade e a nova guardiã!
- concluiu com um sorriso encantador para ela e depois para os amigos.

Felipe se servira de duas taças e deu uma a Diego e levantou a dele primeiro
- Um brinde a aliança! - ele disse com um sorriso charmoso.

Miguel levantou a sua e ainda segurava Adriana que sorria encantada com os
três
- Um brinde aos amigos e novos amigos! - e piscou para ela

Diego foi o último. E olhando para Adriana com admiração, sorriu - um


brinde a lealdade à mudança, a Adriana e os guardiões da aliança! - Bebeu
todo o liquido de sua taça de uma vez assim como Felipe e Miguel.

Adriana olhou para eles sentindo-se estranha, mas também se sentia


genuinamente protegida por eles, por mais absurdo que lhe parecesse naquele
momento. Eles eram íntimos e cuidadosos e gostava daquela sensação de
proteção.

Felipe ficou satisfeito com aquilo, pois era exatamente o que ele queria que
ela fizesse, relaxasse e se sentisse realmente protegida por eles. Virou-se para
ela e pegou sua mão esquerda - Como seu guardião - ele dizia depois de
beijar sua mão - peço que se divirta como nunca nessa festa, pois ela é toda
sua – percebeu seu olhar atento ao que dizia como se adivinhasse o que ele
pretendia. Sorriu e continuou - Já que o seu aniversário já passou e fiquei
sabendo que não teve nenhuma comemoração - ela olhou para ele confusa
nesse momento. O aniversário dela já havia passado fazia quase um mês e já
era 21 de junho.

De repente Adriana olhou para Diego e Miguel que a olhavam como se


estivessem aprontando alguma coisa. Felipe olhou na direção do palco, onde
tinha uma banda cover pronta para tocar.
O vocalista aguardava bem no centro com os outros músicos. O DJ parou de
tocar assim que Felipe fez um sinal para ele e pediu atenção dos convidados.
Ela olhou em volta mais confusa ainda. E quando o DJ disse os votos de feliz
aniversário, dois arlequins abriram caminho entre os convidados com um
enorme bolo com 30 velas e pararam na sua frente. Ela riu e ficou olhando
para o bolo sem saber o que dizer e teve que respirar fundo para conter o
nervosismo.
Viu Gevy, Fernan e Alex entre os convidados e eles sorriam para ela.
Gargalhou achando tudo aquilo um absurdo e o máximo ao mesmo tempo. E
quando apagou as velas todos os presentes bateram palmas e alguns até
deram gritinhos de feliz aniversário. ficou muito sem graça e agradeceu as
felicitações, depois ficou quase da cor do seu vestido. Estava emocionada.
Não sabia o que dizer quando se virou para os três. Levou alguns segundos
para controlar a emoção e não começar a chorar, mas seus olhos estavam
cheios de lagrimas

- Obrigada! Não sei o que dizer, nem... nem como agradecer. Realmente não
esperava por isso! Uau! Pareço uma idiota – disse com a voz um pouco
embargada devido à emoção. Riu e depois respirou fundo para se controlar.
Passou a mão esquerda no rosto para enxugar uma lágrima teimosa.

Felipe quase se emocionou com ela, e pegou sua mão colocando entre as suas
- não é uma idiota! Queríamos um motivo para uma festa, e você já
agradeceu! - disse vendo que ela ainda reprimia a emoção – Seus olhos
falaram por você, e isso já basta! - ele era sincero ao falar, estava satisfeito
com a reação dela. E quando viu seus olhos brilharem pela emoção, não
soube decifrar o que sentiu. Somente que estava satisfeito com aquilo, pois
era a primeira vez que dava algo para ela sem ter que se explicar por aquilo
com ninguém. E sabia que ela estava feliz.
Ela tentava reprimir suas emoções às vezes, mas era nítido em seu rosto que
estava realmente feliz. Depois delicadamente a virou em direção à pista de
dança, e a fez olharem para o palco onde viu uma banda e o vocalista
acenando para ela - veja! - ele dizia fazendo-a olhar para eles e falava quase
ao seu ouvido - aqui, você pode fazer o que quiser. E ninguém, eu disse
ninguém, fará nada contra você. Aqui será sempre tratada como deve ser - ele
dizia acompanhando o olhar dela que varria o enorme salão. Ela parecia
enfeitiçada por sua voz suave que ecoava em sua mente - volte a se divertir
minha criança! Está segura.

Adriana virou-se para Felipe e o encarou em silêncio. Sentiu-se um pouco


inebriada novamente, achou que de repente poderia ser o efeito do álcool, ou
seriam os olhos escuros enigmáticos dele? Reparou na sobrancelha esquerda
e a cicatriz e lembrou-se do soldado medieval em seus pesadelos, ele sempre
tentava lhe alcançar e Felipe se parecia com ele. Riu ao pensar naquilo
porque não era possível, simplesmente por que não o conheceu antes.
Desviou seus olhos para Diego e Miguel que a olhavam curiosos assim como
Felipe.

- Estaremos aqui! – disse Diego – vá se divertir com seus amigos

Ela fez uma mesura e voltou para a pista de dança. No meio do caminho,
longe da influencia dos olhos de Felipe, começou a pensar nas palavras que
ele havia lhe dito referente à festa “queríamos um motivo para uma festa”
será que havia sido premeditado? Pensou intrigada. Mas quando estava diante
de seus amigos eufóricos, esqueceu o que estava pensando. Também não
lembrou mais daquilo, principalmente depois de ficar de frente para o palco e
começar a assistir o show da banda cover do Live.
O retorno do príncipe

Adriana juntou-se aos seus amigos e começaram a dançar e a pular quando


começaram a tocar “PAIN LIES BY RIVER SIDE”. Ela acompanhava a
letra e o vocalista interagia com ela e seus amigos. Adorava aquela musica.
Olhou para trás para ver seus novos e misteriosos amigos, e eles estavam ali
parados observando.

“Pain lies on the riverside. And pain will never say goodbye. Pain lies on
the riverside. Put your head in the water. Put your soul in the water. And
join me for a swin tonigtht”

Cantavam ao mesmo tempo em que pulavam ao som da música, assim como


todos os convidados que estavam na pista.

Depois de alguns sucessos tocados pela banda, o DJ voltou a tocar e ela


excitada demais dançava sem parar com seus amigos e às vezes ela e Alex
dançavam um bem perto do outro. Começou a fantasiar um fim de noite
interessante com ele, principalmente quando ele se insinuava para ela
fingindo que a beijaria. Riu daquele pensamento, mas todas as vezes que
tentava se aproximar mais dele decidida a deixar que a beijasse ele olhava ao
redor com receio e se afastava, e mesmo ele tentando disfarçar, percebeu. De
certa forma aquilo há magoou um pouco e acabou desistindo dele no decorrer
da noite, e não iria deixar que aquela atitude estranha dele estragasse aquela
noite divertida.

Ficou feliz por ver seus amigos se divertirem tanto e eles estavam adorando
flertar com os convidados que se aproximavam deles com interesse. Nem
prestavam muito atenção no que acontecia em volta. Teve um momento que
Gevy se afastou com Isaiah, depois dele ficar dançando um pouco com eles, e
Fernan também sumiu com o tal modelo novamente. Mas depois eles
voltaram sorridentes e mais bêbados que antes.

Felipe ficou ali parado olhando Adriana se divertir, sentiu que ela realmente
estava feliz naquele momento, e pensou jamais deixaria elas sair debaixo de
suas asas. O baile de máscaras estava sendo realizado para deixar que os
vampiros presentes a vissem e soubessem que era sua protegida e protegida
do clã Drako. Assim nenhum vampiro de outro clã se atreveria tocar nela, era
algo parecido como os antigos bailes onde os pais apresentavam seus filhos à
sociedade. Alguns clãs vampiros faziam aquilo para seus humanos de
prestigio, ou apenas os marcavam como escravos, o que era mais comum.
Por outro lado, talvez estivesse se arriscando demais fazendo aquilo, e
atraindo a atenção já que se tratava do clã real. E assim como Marguerite e
seus Gêmeos, outros vampiros não seguiam regras e se arriscariam em
desafia-los se aproximando de Adriana ou de seus amigos.

- Acha que ela percebeu alguma coisa? - Diego olhava na mesma direção que
Felipe.

Felipe tinha uma expressão dura e pensativa – não. Se percebeu algo vai
pensar como os outros humanos quando vêem algo assim. Acham que a
mente lhe prega peças ou que bebeu demais - respondeu sem olha-lo.

Diego sorriu – acho que ela ingeriu muito champanhe. Será que ficará bem? -
parecia se divertir com a provocação, pois sabia que Felipe odiava os
exageros dela.

Felipe o encarou, mas não demonstrou a reação que seu amigo esperava.
Sabia que no fundo de certa forma ele parecia se importar com aquilo
também, ou não comentaria - Ficará sim! Deixe-a se divertir. Agora que está
aqui, está tudo bem - ele dizia olhando na direção dela como se estivesse
aliviado - embora, ela passe mal depois. Se acontecer, já orientei os
funcionários a darem algo para aliviar o mal estar - concluiu.

Miguel o observava com certa curiosidade, ainda achava estranho o


sentimento paternal que Felipe tinha em relação à Adriana. Mas o que o
perturbava um pouco, era quando ela descobrisse a verdade - Acho que ela
viu algo de perturbador nos gêmeos de Marguerite! - disse observando o
salão atentamente.

- Por que diz isso? - perguntou Felipe que o encarou de repente

- Não sentiu? – Miguel parecia surpreso com a pergunta - ela estava com
medo deles porque viu algo neles que a assustou.

Felipe não tinha se dado conta daquilo, por que no momento em que a
encontrou encurralada pelos gêmeos, só pensava em protege-la – Marguerite
passou dos limites! – disse em voz baixa quando um casal passava por eles e
os cumprimentavam.

Diego bufou - Talvez seja o momento de mostrarmos nossa autoridade


novamente, lembra-los de quem somos – disse enquanto sorria para uma bela
jovem que passava por eles.

- Não agora! - disse Felipe - depois que tudo estiver do jeito que planejamos!
Não quero intriga-los mais a respeito de Adriana – ele sorria pensativo
olhando para sua protegida.

- Marguerite não faz idéia de quem seja Adriana! Mas tenho certeza de que
ela conspira contra nós, assim como muitos outros que estão presentes aqui
com seus escravos particulares. Acho que Marguerite está apenas intrigada
por causa da nossa proteção em relação à humana - disse Miguel que olhava
em volta. Ainda mantinha a antiga antipatia por outros de sua raça – mas o
mais irritante é que não confio no seu lacaio humano, sei que ela irá persuadir
o humano a lhe contar o que sabe já que são sexualmente envolvidos – ele se
referia a Alex - não acha estranho o interesse insistente de Marguerite por
ele? Sabe que ela pode manipular o humano que estiver sexualmente
envolvido com ela - se virou para o amigo que olhava fixo para Alex que se
insinuava para Adriana enquanto dançavam.

Felipe o analisava o humano atentamente enquanto ouvia Miguel, sentiu


irritação em pensar que ele fazia aquilo porque Marguerite o havia mandado
seduzir Adriana. E também que seria muita ingenuidade dele pensar que Alex
não o faria - Sei que eles mantêm certo interesse sexual. Mas tenho outras
preocupações agora. Então vocês podem cuidar disso – virou-se para Miguel
que assentiu com a cabeça e depois para Diego que pareceu mal humorado
com a idéia, já que não gostava de Alex de jeito nenhum - mas somente... –
disse fazendo uma pausa olhando para Diego -... Somente façam algo, se
tiverem certeza de que ele passa informações importantes da nossa casa para
ela – advertiu - afinal, ele foi muito útil e não quero que nenhum humano
ligado a nós apareça morto, seria uma aporrinhação lidar com isso – sentiu a
irritação de Diego aumentar, quando lhe vetou o direito de matar Alex.

Diego bufou contrariado - claro! - disse com ironia – pela quantia que foi
paga a ele, teria que ser mesmo útil fingindo ser amigo dela. Mas seduzi-la
estava na sua lista? – ele riu nervoso deixando claro sua irritação – Se eu
descobrir que Marguerite o ensinou a bloquear seus pensamentos para nós,
por que conspira. E que ele distribui informações ao clã de Melked, eu o
mato! - Diego ficou aborrecido e se virou para sair, mas parou abruptamente
como se sentisse alguma coisa. Teve uma sensação forte e estranha, uma
pressão em seu peito como um golpe que pudesse lhe tirar o ar de repente,
mas sem fazê-lo. Olhou em volta como se procurasse de onde vinha aquele
poder. Então se virou de volta para seus amigos, e um sorriso de
contentamento desmanchou-se em seu rosto.

Era quase meia noite, era quase a hora de tirarem suas máscaras. A música
não parava e muito menos a agitação dos convidados que dançavam e bebiam
sem parar, assim como Adriana e seus amigos. Quando Adriana pegou outra
taça de champanhe e brindou com Alex, Fernan e Gevy, que estavam bem
mais animados, sentiu-se tonta e com calor depois do gole que deu na bebida.
Precisava de um pouco de ar e foi se afastando dizendo que iria dar uma
volta.

Alex a alcançou - vou com você! - disse atencioso

Virou-se para ele com um sorriso - Eu já volto ok? – viu que ele tinha
entendido então lhe deu as costas e saiu. Passou pelos convidados que
estavam muito animados e embriagados. Alguns a cumprimentavam pelo
aniversário, outros a puxavam e falavam alguma gracinha tentando flertar
com ela, levava na brincadeira e sorria ou gargalhava, devido ao efeito do
álcool. Estava se divertindo muito e não sentia mais medo ali, precisava
somente de um pouco de ar. Esvaziou sua taça de uma vez, e quando passou
por um garçom, a colocou completamente vazia na bandeja dele e sorriu. Um
dos arlequins começou a segui-la e a imitar seus gestos tentando brincar.
Achou engraçadinho e depois chato, pois ele a seguia tentou ignora-lo e ele
desistiu de persegui-la pelo salão. Estava com pressa em chegar até a enorme
sacada que dava para o jardim e tomar um pouco de ar, não queria passar mal
e estragar tudo aquilo. Mas no momento em que se livrou do arlequim e se
virou para continuar, esbarrou em alguém que com o impacto a fez cambalear
e quase cair para trás, mas a pessoa a segurou com firmeza pelos ombros
impedindo que se estabanasse no chão. Riu desconcertada da situação e olhou
para o rosto do homem que a segurava com firmeza, e ele não usava máscara.
Por um instante ficou sem reação quando olhou para ele e sua voz não queria
sair para se desculpar, sentiu seu coração tão acelerado naquele momento que
até sentiu um frio na barriga. Ele era a criatura mais linda que já tinha visto
em toda a sua vida. Perfeito!

Ele por outro lado a encarava como se visse uma assombração, como se não
acreditasse no que estava vendo. Conhecia aqueles olhos, e aquele perfume
dela o deixou completamente desnorteado.

Adriana percebeu todos os detalhes mesmo estando um pouco inebriada pelo


álcool. Ele não sorria e parecia muito surpreso enquanto a encarava com
aqueles olhos azuis. Seus cabelos negros eram curtos um pouco ondulados, o
rosto tinha traços perfeitos com um queixo firme quadrado com um leve
furinho no meio, o que lhe dava um charme devastador mesmo estando com
aquela expressão assombrada que depois ficou sombria. Tinha o porte altivo
e firme, era alto com ombros largos, corpo com músculos fortes visíveis
mesmo com as roupas que usava. Havia a imponência de um rei nele.
Teve que fazer um esforço enorme para se recompor. Pois nunca em toda sua
vida, tinha sentido algo tão forte por alguém. Principalmente em um esbarrão
com um desconhecido, que parecia que a conhecia de algum lugar. Pois além
de parecer perturbado quando a viu, não a soltava.

Ele ficou confuso olhando para aquela mulher, podia jurar que conhecia
aqueles olhos castanhos, e só de pensar aquilo um frio passou por sua espinha
- Eu a conheço? - disse de repente levando a mão em direção à máscara que
ela usava, na intenção de tira-la.
Adriana segurou a mão dele para impedi-lo - A-acho que não! - Fez um
movimento suave para se livrar de suas mãos. Era como se saísse de um
transe de repente - Desculpe! - disse se afastando e segurando a barra do
vestido correu em direção à varanda. Conseguiu alcança-la, depois de passar
por um monte de pessoas. Não ousou olhar para trás e ver o tal homem
novamente, ficou perturbada com aquilo – não fantasie! Não fantasie! Você
está bêbada e acha todo mundo bonito quando está assim – disse para si
mesma quando se apoiou no parapeito e olhou para o jardim. Queria tirar a
máscara, pois já estava incomodando, mas tinha que esperar. Faltavam
poucos minutos para meia noite e todos poderiam tirar suas máscaras e
revelar suas identidades. Foi respirando devagar até se controlar e seu
coração voltar a bater normalmente.

Ouviu a música parar e alguém gritar do salão - Meia noite! - Fez-se uma
algazarra no salão, todos gritavam e a música começava novamente, parecia
ano novo. Bexigas coloridas e papeis brilhantes caiam do teto. Não conseguia
ver o que acontecia lá dentro quando voltou para a porta da sacada. Queria
voltar, mas as pessoas pareciam aglomeradas e não abriam caminho e
resolveu ficar onde estava. Foi então que sentiu um puxão em seu braço que a
virou completamente e deu de cara com o homem sem máscara novamente.

Aquela mulher o perturbou completamente, e resolveu segui-la para tirar


satisfação, pois queria saber de quem realmente se tratava. A aglomeração e a
bagunça que se seguiu quando deu meia noite, não ajudou muito, mas quando
a alcançou a puxou contra si e tirou sua máscara para ver seu rosto. Seu
coração por alguns segundos bateu forte e rápido, e ficou sem conseguir falar
por um momento. A analisou por alguns segundos e depois tocou seu rosto
com as pontas de seus dedos suavemente, tocou seus cabelos e o inspirou
profundamente fechando os olhos quando se aproximou para fazer aquilo.
Era como se algo inexplicável dentro dele se ligasse de repente e o fizesse
agir daquela forma, e não conseguisse controlar o impulso. Precisava ter
certeza, mas não conseguia pensar direito por causa do choque que teve ao
ver aquela mulher. Afastou-se alguns centímetros de forma confusa sem tirar
os olhos dela. Viu uma tatuagem em seu braço esquerdo e a tocou.
Aproximou-se mais ficando a meros centímetros de seu rosto, era somente
parecida.
Adriana sentiu que o ar começava a falhar, e começou a ofegar. Ficou sem
reação, pois ele a assustava e a excitava ao mesmo tempo. O que ele estava
fazendo? Quem era aquele homem? Pensou!

Ele se afastou um pouco, mas ainda a segurava pelos ombros e a olhava de


baixo a cima. Depois a encarou vendo o espanto nos olhos dela - você me
lembra ela! - disse com a voz baixa e rouca.

- O que? - ela disse confusa e um pouco tonta. E não era a bebida.

Sabia que havia se enganado de novo, mas estava muito confuso naquele
momento – disse que lembra alguém que conheci, seu nome era Helena -
disse mantendo seus olhos nos dela para ver se ela dava algum sinal de que
reconhecia aquele nome.

Adriana o encarava com espanto - Não! Não sou Helena, sou Honey! – disse
seu apelido e o empurrou, mas era inútil. Era o mesmo que empurrar um
muro, ele não se moveu um centímetro. E por algum motivo misterioso
sentia-se atraída por ele.

A farejou - como pode ter até o cheiro dela? – sua expressão ficou torturada,
era como se sentisse alguma dor insuportável que não estava lá – não! É mais
acentuado – queria dizer mais tentador, o que o deixou mais confuso que
antes.

Adriana começou a pensar que aquele cara estava drogado - me solta, por
favor! - disse tentando se desvencilhar dele. Ele a segurou por um tempo
ainda e depois a soltou de forma brusca, como se estivesse com raiva de ter
se confundido.

Ela cambaleou e quase caiu, mas conseguiu se equilibrar e o fitou irritada -


ou eu estou muito bêbada, ou você é um maldito troglodita estúpido - ela
quase berrou irritada com a forma que a soltou.

Ele a mediu ignorando sua ladainha, tentando descobrir o porquê dela estar
ali - quem é você? - perguntou curioso, mas era uma ordem – é alguma
brincadeira do Felipe? – disse irritado.
Ela o olhava sem acreditar no que ouvia. Ele estava mesmo lhe dando uma
ordem? - já disse, o meu nome é Honey! Que merda pensa que é para me dar
uma ordem? - Respondeu perplexa enquanto o media também.

Ele riu baixinho ao perceber a irritação dela - que tipo de nome é esse? - disse
com desdém - diga por que está aqui - ordenou novamente encarando-a de
maneira arrogante.

Adriana pensava no quanto queria dar um soco na cara dele - Escuta aqui seu
maluco de merda - dizia muito irritada com o dedo apontado na sua direção –
Não tenho que te contar porra nenhuma e sai da minha frente, não tenho
paciência nenhuma com machinhos escrotos como você - disse tentando
passar empurrando-o em vão novamente e bufou contrariada.

Ele ria. Começou a se divertir com a irritação dela.

Ela o encarou e pôs as mãos na cintura de forma impaciente, esperando que


ele saísse por vontade própria.

Ele parou de rir e somente sorria - É muito petulante mesmo! - disse com
ironia

Ela o olhava abismada com suas palavras, achando tudo aquilo um absurdo -
E você é um... um.. Um doido. Então estamos quites – rebateu cruzando os
braços.

Ele ainda sorria - você não faz ideia de quem sou? - ele perguntou curioso,
quase rindo da reação confusa dela.

Agora ela o encarava impaciente, revirou os olhos, descruzou os braços e pôs


as duas mãos na cintura novamente quase rosnando de raiva – ai que merda!
– xingou mais irritada que antes - Eu deveria? Ah, perai... você vai me contar
- ela debochou.

Ele a analisou e soube naquele momento que ela não fazia idéia de quem ele
era, ou o que ela fazia ali, ou quem seriam seus anfitriões e a maioria de seus
convidados. A puxou novamente ficando a meros centímetros de seu rosto
novamente simplesmente por que não conseguia conter o impulso de toca-la.
E disse - você não faz ideia do que eu sou - ele sorriu mostrando a perfeição
de seu sorriso. A soltou com delicadeza daquela vez e depois de analisa-la
novamente, afastou-se dali entrando no salão e passando pelas pessoas que
lhe abriam caminho, e algumas até lhe fizeram uma saudação respeitosa.

Adriana ficou ali parada, chocada e confusa olhando a reação de alguns


daqueles convidados diante da presença daquele estranho como se fosse
algum tipo de realeza local. Então entrou no de volta no salão e continuou
olhando ele se afastar indo na direção dos anfitriões que o receberam com
abraços alegres, e gargalhadas, como se realmente estivessem felizes com a
chegada repentina daquele homem maluco – merda! – disse pra si mesma.
Lembrou-se do quadro e a figura que Isaiah lhe contou algo sobre, mas não se
lembrava do nome. Sentiu náuseas e sentiu-se mais tonta ainda, e quando ele
se virou e olhou para ela novamente mesmo de longe, sentiu novamente o
mesmo frio na barriga e desviou os olhos. Suas pernas tremiam, mas
conseguiu manter-se firme. Repreendeu a si mesma, por se sentir daquela
forma por causa dele, parecia uma adolescente e teve vontade de vomitar.

Sua volta fora uma surpresa e tanto para seus velhos amigos que o receberam
com tremenda alegria. Aqueles que sabiam quem ele era abriam passagem e o
cumprimentava com discrição e respeito. Reconheceu alguns velhos
conhecidos, mas a maioria eram jovens criados depois dele desaparecer. Eles
não o conheciam, mas podiam sentir sua força e foi o suficiente para que
mantivessem distância. Sentiu-se feliz em ver seus velhos amigos novamente.
Também ficou muito intrigado com a mulher que acabara de cruzar o seu
caminho, imaginando o motivo que levara Felipe mantê-la ali tão perto deles
e de outros vampiros. Soube imediatamente que eles a mantinham hospedada
com amigos na mansão e que também não pretendiam alimentar-se dela. Que
não se tratava de nenhum talento patrocinado por Miguel, e nem nenhuma
namorada humana de Diego. Era alguém escolhida por Felipe, que tinha o
total apoio dos outros dois. Só não entendia qual seria o propósito dele com
aquilo tudo. Ela era o pêssego entre as maçãs, pensou com um sorriso
malicioso. Só conseguia olhar na direção daquela humana e ouvir seus
pensamentos confusos por sua aproximação e pelo álcool. E naquele exato
momento ela achava que estava bêbada demais e vomitaria. Sua mente estava
uma bagunça. Viu um criado se aproximar dela para lhe dar alguma coisa
para beber, constatando que Felipe estava sendo bem cuidadoso com ela.
Voltou o olhar interrogativo para seu velho amigo que estava ao seu lado e
olhava para mesma direção.

- Temos muito que conversar meu amigo! - Disse Felipe que o fitou sério e
tocou seu ombro de maneira camarada.

- Imagino que tenha uma boa explicação para a presença daquela humana -
ele fez um sinal com a cabeça em direção a Adriana.

Felipe olhou para o local indicado - Morgan! Sabe que não faço nada sem ter
um bom motivo - respondeu com um sorriso sincero

Morgan sorriu de maneira fria - Com certeza não! - disse ao analisar seu
amigo

Diego aproximou-se e abriu os braços como se estivesse lhe apresentando o


salão - Velhos costumes nunca se perdem - disse com um sorriso jovial, e se
voltou na direção de Adriana - Muito menos boas ações – e lançou um olhar
para Morgan que olhava para ela novamente.

Miguel percebeu sua confusão - Ela não faz ideia, meu irmão! Nem desconfia
– disse

Ele sorriu - Eu sei! - virou-se para ele - e o que pretendem fazer a respeito?
Imagino que tenham pensado nisso -Perguntou intrigado.

Miguel o olhou atentamente - Daremos as pistas em breve. Mas terá que ser
com cautela, não queremos assusta-la – respondeu vendo sua expressão
mudar e ficar um pouco contrariada. Sorriu animadamente para mudar de
assunto - Não imagina como é bom vê-lo - disse rindo alto e abraçando-o.

Morgan tentou relaxar e depois sorriu ao abraçar seu irmão - é muito bom vê-
los novamente meus amigos - ele disse tocando o ombro de seu irmão e
depois se voltando aos amigos.
- O tempo pode até ser outro, mas continuamos os mesmos - disse Diego
vendo sua reação.

Morgan o fitou e sorriu - sempre - disse

Felipe sorriu satisfeito e tocou no ombro de Morgan com uma mão e no


ombro de Diego com a outra, que tocou no de Miguel e esse fechou o circulo,
tocando no ombro de seu irmão - Agora o clã está completo! – disse rindo
animado. Realmente sentiu-se satisfeito com tudo o que tinha acontecido até
ali. Enfim, estava cercado das únicas pessoas que amava no mundo. Seus
fieis amigos e aprendizes, e sua protegida humana que nem desconfiava o que
eles eram.

Adriana sentiu-se melhor com a água tônica que lhe deram. O resultado não
foi tão imediato, mas sentiu-se bem melhor que antes. Havia recebido auxilio
de forma muito discreta a pedido de Felipe, e esse pediu para que não
ingerisse mais bebia alcoólica, e naquele momento realmente não tinha a
intenção de ingerir mais nada. Agradeceu o rapaz antes de voltar para pista,
mas esperou mais alguns minutos até sentir-se melhor completamente.
Reencontrou seus amigos e voltou a dançar. Mas a todo momento olhava na
direção em que estavam seus novos amigos e o tal homem irritante. Sentiu-se
interessada, irritada por ficar interessada, confusa e curiosa sobre aquele
estranho homem. Viu que ele também voltava os olhos em sua direção a todo
momento, mas desviava todas as vezes que ela o pegava olhando. “babaca”
pensou!
Lembrou-se novamente do quadro e dessa vez do nome que Isaiah lhe
contara, “Morgan” Ela sussurrou ao se lembrar, e nesse exato momento ele
se virava para olha-la novamente, mas os outros também se viraram. Pode ver
Felipe, Diego e Miguel olharem com atenção para ela, e teve a nítida
impressão de que falavam dela. Desviou os olhos e virou-se para seus amigos
novamente, ficando muito sem graça. Se tivesse um buraco ali naquele
momento com certeza se enfiaria nele. Controlou-se e fingiu não ser com ela,
começou a dançar com Fernan que parecia bêbado demais para continuar
dançando, assim como Gevy. Lamentou não poder contar para eles o que
tinha acontecido, porque eles não lhe dariam atenção naquele estado. O único
que parecia sóbrio era Alex, mas esse parecia muito preocupado, mesmo
tentando se divertir. Olhou para ele, e ele a olhou como se quisesse lhe contar
algo e hesitava em fazer. Tentou se concentrar nele para esquecer aqueles que
a observavam - o que foi? - perguntou vendo sua expressão preocupada.

Alex a olhou em silêncio com aquela sua expressão ficou indecifrável. Mas
se aproximou pegando suas duas mãos e ficou olhando para elas, tentando
encontrar sua coragem em algum lugar. Havia tomado uma decisão, uma a
qual achou segura para ele, pois era um covarde. E tinha prezava demais sua
integridade física - Me perdoe! - seus olhos brilhavam tristes. A impediu de
falar, quando ela fez menção de abrir a boca – somente me perdoe! Apenas
isso – sua tristeza era genuína. Mas que escolha haveria para ele? Havia se
afundado além do limite naquilo, não tinha volta.

Adriana o olhava sem entender e se preocupou um pouco, havia algo errado


com Alex.

Ele a abraçou forte e permaneceu abraçado com ela como se ninguém


pudesse toma-la de seus braços, depois sussurrou em seu ouvido-Tenha
cuidado! - segurando seu rosto entre suas mãos e beijou seus lábios
suavemente, depois a soltou devagar e foi se afastando, deu-lhe as costas e
sumiu no meio da multidão que pulava e dançava.

Ficou parada no meio da pista olhando-o se afastar, pensando no quanto


àquela noite com certeza havia sido repleta de coisas confusas e estranhas, e
por um momento sentiu-se triste por causa de Alex. Mas seus pensamentos
foram interrompidos por Fernan e Gevy que riam bêbados sem parar, olhou
para eles sobressaltada e quando voltou o olhar para a direção que Alex havia
tomado, ele já havia sumido. Só pode respirar fundo lamentando por seu
amigo ser tão estranho às vezes.
Esforçou-se para não olhar na direção em que Morgan estava. Mas parecia
que tinha um imã que a forçava olhar para ele, e sentia aquela mesma
sensação quando estava com Diego, aquilo a puxava e puxava até que olhou.
Ele a encarou no mesmo instante que olhou e depois ele se virou para seguir
Diego pelo salão. Então já que o Senhor arrogante tinha saído de perto de
Felipe resolveu ir falar com ele. Mas se agitou quando percebeu que a única
maneira de chegar até Felipe, seria passando por Morgan e Diego. Como
odiava homens arrogantes, pensava. Resolveu que a melhor maneira de lidar
com aquele tipo, era ignora-lo. Então o encarou desafiante já que ele não
parava de olhar, mas ele tinha a expressão maliciosa e divertida.

Felipe assistia a cena de longe, sorriu quando percebeu o tamanho do


interesse de Morgan em Adriana. Mas logo sua atenção foi dispersa por um
convidado que parou para cumprimenta-lo.

Morgan passou por ela bem devagar e ainda a encarava, prendendo seu olhar
de propósito. Queria saber até onde ela iria com aquela postura desafiante e
resolveu provoca-la.

Adriana sentiu-se presa naquele azul enigmático e profundo, era como se ele
pudesse força-la a olhar, nem se quisesse conseguiria desviar os olhos dele.
Quando passou por ele sentiu a mão dele pegar a sua e aperta-la de leve, mas
como se fosse uma provocação. Puxou a mão bruscamente e ele sorriu de
canto deixando claro que foi para provoca-la.

Na verdade, não conseguiu controlar o impulso de pegar a mão dela. Mas não
a forçou a parar, pois não teria o que dizer. E também com a sede que sentia e
o cheiro irresistível que exalava dela, poderia não resistir à tentação. Não
pensou para fazer aquilo, somente fez. Só queria toca-la de novo.

Adriana se afastava ainda olhando para trás, sem conseguir desviar o olhar.
Mas de repente foi liberta daqueles olhos e ficou confusa por alguns
segundos sentindo uma leve dor na cabeça, mas foi muito rápido. Mas ainda
podia sentir o toque da mão de Morgan e a sacudiu na tentativa de parar de
sentir aquilo. Quando chegou perto de Felipe, parou ao seu lado ficando num
silêncio confuso.

Felipe analisou o rubor e a perturbação de Adriana, pois ela estava muito


ansiosa naquele momento. Viu que tinha o olhar insistente na direção de
Morgan, e sabia que ela não estava gostando nada daquilo - Está se
divertindo querida? - Perguntou

Lá estava ela olhando aquele homem de novo, vendo que ele e Diego se
juntavam a Miguel e um pequeno grupo de convidados do outro lado do
salão. Virou-se de repente para Felipe como se fosse desperta de um transe,
ele sorria para ela - Desculpa! - disse confusa - Sim estou me divertindo
muito! - respondeu com um sorriso sem graça tentando disfarçar o embaraço.

Felipe disfarçou o sorriso achando graça do embaraço dela - o nome dele é


Morgan. É um grande amigo - Disse acompanhando o olhar dela para seu
amigo

Virou-se sobressaltada e mais embaraçada que antes, mas tentou disfarçar -


Seu grande amigo é bem mal educado e meio maluco – respondeu aborrecida.

Ele riu - ah! – fez divertido - já o conheceu? - fingiu não ter visto a cena

Ela bufou - Sim! - respondeu - ele me confundiu com outra pessoa - disse a
contragosto.

Felipe refletiu por um momento - talvez devessem ser devidamente


apresentados - respondeu - Não o interprete mal minha criança. Ele odeia
festas, mas verá que ele pode ser adorável - disse quase rindo.

Adriana o encarou com certa indignação e ele sorriu mais divertido ainda –
não se incomode em apresenta-lo, não faço questão! Juro, de verdade – disse
levando a mão ao peito.

Felipe ainda sorria do comentário dela – Nosso clã foi fundado pelo pai dele.
Eu o conheço desde que nasceu – explicou.

Começou a perceber que o tal Morgan parecia ser alguém importante para
eles, e que não adiantaria reclamar. Tentou mudar de assunto - porque se
denominam um clã? - perguntou curiosa.

Ele não se surpreendeu com a pergunta, vendo que ela tentava mudar de
assunto – Porque um clã é uma família. Nos ajudamos, nos protegemos. E
agora você também faz parte desse clã. É uma aliança antiga, que passou de
geração a geração, gostaria de saber da história? – sabia que ela gostava de
histórias antigas e que se interessaria por aquela história em especial.

Adriana ficou curiosa, e sem querer começou a perceber que tinha algo de
diferente em Felipe. Mas achou que era bobeira de sua cabeça e ficou
interessada na história do clã - Com certeza adoraria saber daquela história.

Felipe percebeu que ela havia notado algo de diferente nele, mas que não
sabia o que era. Depois sorriu quando dispersou rapidamente se interessando
na história do clã - Combinado! Amanhã lhe contarei toda a história - disse.

O DJ que tocava depois do Show da banda, havia parado de tocar para dar a
chance aos músicos renascentistas que foram contratados. Começaram a tocar
as baladas mais alegres. Formaram-se os casais de dançarinos contratados
para animar mais ainda a festa e aumentar a realidade da época. Estavam
ansiosos para a contra dança.

Adriana olhava atenta para os casais que dançavam, e riu achando aquilo
incrível – Isso é muito legal! – ela disse para Felipe. Diego se aproximou
ficando ao seu lado e ela nem percebeu quando ele, Miguel e Morgan
juntaram-se a eles.

Felipe olhou para Morgan e sorriu ao ver sua reação carrancuda de fachada,
pois não tirava os olhos de sua protegida sem que ela visse. Virou-se para ela
- Adriana! - A chamou.

Adriana virou-se para olhar para Felipe e viu Morgan parado ao lado dele.
Ficou um tanto incomodada com aquele homem que não parava de encarar,
mas tentou não demonstrar o quanto a perturbava.

- Quero lhe apresentar Morgan Drako, nosso aliado e amigo - Disse virando
para.
Seu amigo que lhe lançou um olhar fulminante - Essa é Adriana de Argolo, e.
Entre seus amigos é conhecida como Honey - concluiu a apresentação, vendo
a reação de Morgan que tentou disfarçar o mau humor, e de Adriana que era
mais transparente que um cristal, pois fez uma cara de poucos amigos para
ele.

Ela estendeu a mão educadamente para cumprimenta-lo já que ele ainda a


encarava em silêncio e sem se mover do lugar. Mas era um gesto quase que
forçado. Alguma coisa em seu intimo dizia que aquele homem lhe oferecia
algum perigo, pois a olhava de forma estranha enquanto a media.

Morgan olhou para a mão estendida em sua direção, e depois de alguns


segundos a segurou com cuidado e com um sorriso mais que malicioso num
gesto charmoso a beijou como um verdadeiro cavalheiro, enquanto
sustentava seu olhar por um instante até ela desviar os olhos. Sabia que
aquilo a perturbaria mais do que já estava, e iria adorar fazer joguinhos com
ela somente para vê-la desistir quando descobrisse a verdade. Continuou
segurando sua mão após o beijo, até que ela a puxou quase que bruscamente
quando percebeu sua malicia.

Todos perceberam o desconforto de Adriana e o divertimento nos olhos de


Morgan. Diego lançou um olhar preocupado para Miguel e depois para Felipe
que entendeu sua preocupação.

Adriana teve que se esforçar para desviar os olhos que prendiam os dela
novamente, e olhou para os casais que paravam de dançar com o término da
música e começavam a dançar novamente com inicio da outra. Eles gritavam,
riam e batiam palmas de forma animada, chamando os convidados para
participarem das danças. Tentou não olhar na direção do homem enigmático
próximo dela, mas era praticamente impossível não olhar, pois ele era
inexplicavelmente mais atrativo que os outros. Não apenas por sua incrível
beleza de um astro de cinema bad boy, mas também seus olhos que pareciam
ler seus pensamentos e come-la viva. E todas as vezes que olhava na direção
dele, esse se virava com um sorriso torto e malicioso.

Morgan sentiu-se um pouco mal humorado, não gostava das extravagâncias


de seus amigos em dar festas e reunir humanos e vampiros que se misturavam
a eles disfarçando o que eram realmente. Mas o que o preocupava, era o fato
de que se sentia terrivelmente perturbado pela a presença da humana
protegida de Felipe.

Adriana viu quando Miguel sussurrou algo para Morgan, que antes de olhar
para a direção da pessoa que se aproximava, lhe lançou um olhar que ela não
conseguiu identificar.

Marguerite se aproximava com um sorriso lascivo e parou diante de Morgan


fazendo uma breve mesura – Alteza, ainda não fomos apresentados! - ela lhe
disse esticando a mão e o medindo de cima a baixo, enquanto aguardava que
ele a beijasse.

Morgan a analisou friamente e não pegou sua mão, e também não lhe
proferiu coisa alguma, e ela então continuou. Inclinou para frente
aproximando-se mais dele e tocou em seu rosto. Ele não se moveu um
centímetro, mas lhe disse algo que a fez recuar e o olhar sobressaltada.

Adriana não entendeu a linguagem que ele usou com ela quando o tocou, mas
sentiu que ele disse algo que a deixou com medo e a fez recuar
imediatamente.

- Mantenha distância! Não me toque - ele disse num tom de ameaça no


dialeto dácio antigo.

Marguerite se afastou sobressaltada e fez um barulho com a garganta como se


fosse um gato assustado. Depois olhando a sua volta retomou sua postura
como se nada fosse capaz de perturba-la.

Adriana olhava para a cena com interesse e achou muito esquisito.

- Alteza! - fez Marguerite com ar de deboche e depois riu - deve estar


deslocado, sendo que entre nós não exista mais os antigos modos
monárquicos - ela fez um gesto muito rápido com a cabeça como se chamasse
os outros que vampiros presentes na festa, que logo se aproximaram. Ela
queria testemunhas.

Felipe, Diego e Miguel tinham a postura inalteradas ao lado de Morgan. Mas


seus olhares eram atentos e ferozes.

Morgan a olhava para Marguerite com desprezo – não me importo com os


antigos modos, mas lhe garanto que ainda posso fazer valer as antigas leis da
raça - respondeu mantendo a mesma posição, somente seus olhos pareciam
estudar a reação da fêmea a sua frente – não preciso do trono para mostrar o
que posso fazer - disse.
E novamente Marguerite usava a mesma linguagem antiga - São antigos
demais! - ela dizia com um sorriso perturbador. E os que estavam a sua volta
não esboçaram reação.

Ele sorriu de maneira sombria - Então deveria tomar mais cuidado e refrear
sua língua ferina! Sou mais velho que você – respondeu dando um meio
sorriso de desdém.

Marguerite levou as mãos a cintura de forma desafiadora e gargalhou. E


mesmo estando com certo medo daquele macho, não queria transparecer
aquilo, pois a sua natureza não lhe permitia. Olhou em volta como se
procurasse por alguém, e quando a viu lançou um olhar perverso na direção
de seu alvo que a encarou um tanto desafiante.

Morgan seguiu o olhar Marguerite e entendeu o motivo que a fez olhar para a
humana ao lado deles, ela era totalmente alheia ao que acontecia ali. E
percebeu que seu amigo havia errado em expor sua protegida para aquele
covil. Pode sentir a tensão de Felipe quando percebeu a intenção da vampira
ruiva.

Marguerite voltou o olhar desafiador para Morgan e riu de forma nervosa -


Não se esqueça, eles são muito frágeis – disse apontando para Adriana com a
cabeça.

Todos olharam na direção de Adriana, e essa os olhava sem entender o que


acontecia.

Felipe naquele momento não conseguiu se controlar avançou na direção de


Marguerite, e agindo de forma muito rápida e colérica a pegou pelo pescoço e
mostrou suas presas mortais de forma ameaçadora para ela. Essa por sua vez
entrou em pânico tentando se livrar da mão de aço que apertava sua garganta
sem piedade - Não me provoque Marguerite! - disse entredentes e pareceu
rosnar com raiva – Não hesitarei em matar igual nesse momento, nem com
toda essa gente aqui.

Morgan olhava para a humana que arregalava os olhos assustada e


boquiaberta, parecia não acreditar no que via. Então lhe bloqueou a visão
ficando na sua frente de forma muito rápida.

Miguel olhava de forma cruel para os outros vampiros que estavam próximos
de Marguerite e que olhavam para eles em alerta, como se estivessem com
medo deles. Diego se pôs ao lado de Adriana e começou a puxa-la para o
outro lado, enquanto ela encarava Morgan assustada e completamente sem
reação.

Marguerite já estava engasgando e seus olhos se arregalaram de forma


desesperada como se fosse saltar de sua órbita quando entrou em pânico.

- Se ousar se ousar olhar ela ou tocar nela eu te mato, e mato todos os seus
seguidores e as suas crias – Felipe sussurrou ameaçadoramente para ela -
sabe muito bem do que sou capaz - depois a soltou de forma brusca e ela caiu
de forma displicente no chão como se fosse uma boneca de pano. Mas se pôs
de pé muito rápido e sumiu no meio dos convidados, assim como os outros
que estavam por perto. Depois ele Morgan e Miguel, olhavam em volta para
terem a certeza de que somente os vampiros notaram o que havia acontecido,
e se deparou com os olhos assustados de Adriana na sua direção.

Adriana havia se esquivado de Diego, pois queria ver o que se passava e


ficou parada no meio do caminho olhando petrificada para os três, pois não
tinha certeza de que o que viu, realmente havia acontecido. Viu a discussão
depois Marguerite no chão e Felipe que a olhava de forma ameaçadora como
se fosse um animal com olhos escuros que brilhavam. E logo depois ela não
estava mais ali. Sentiu a mão suave de Diego em seu braço esquerdo e ele a
virava para que o olhasse, o encarou de maneira assustada sem conseguir
pensar em nada para lhe dizer. Sua mente naquele momento fervia e começou
a constatar as coisas que havia ignorado até então. A beleza hipnótica deles, a
riqueza a atenção excessiva com ela, as presas de um dos gêmeos, a forma
que a ruiva agia e se movia. Mas aqueles pensamentos pareciam absurdos
demais para tais coisas serem reais.

- Relaxe, criança! - Disse Diego com seus olhos incrivelmente brilhantes e


intensos - não se preocupe com nada! – ele sorriu sabendo o efeito que aquilo
causaria nela.
Adriana olhou para aqueles olhos brilhantes e depois para sua boca com
sorriso perfeito, voltou para os olhos castanhos esverdeados. Sentiu-se
inebriada de repente - estou relaxada! - disse sem tirar os olhos de Diego.

Com certeza aquilo a fez esquecer o que tinha acontecido. E ele pensou que
realmente era muito fácil fazer com que os humanos fizessem exatamente o
que eles queriam - ótimo! – ele disse depois de desviar os olhos para seus
amigos, de forma muito rápida. - Vamos nos juntar aos nossos amigos agora -
disse conduzindo-a pelo salão, não sem antes gira-la entre os casais que
dançavam para quebrar o efeito inebriante dele.

Adriana teve uma sensação estranha como se houvesse cochilado por um


segundo e havia sido despertada por alguém. E naquele momento sentiu seu
corpo girar e ir de encontro com o de Diego – o que está fazendo? –
perguntou confusa e ele sorriu abertamente, então olhou em volta e percebeu
o que ele intencionava, tentou escapar. Não queria dançar e nem se expor ao
ridículo. Mas Diego foi mais rápido e a deteve segurando-a pelo braço. E a
fez encara-lo
Novamente.

- confia em mim? - ele piscou após a pergunta - Prometo que não fará papel
de ridícula! – disse enquanto aguardava os músicos tocarem novamente. Eles
pareciam aguardar suas orientações, então ainda prendendo os olhos curiosos
de Adriana nos dele, disse alto - La volta! - E em meio gritinhos animados e
palmas, ele a conduzia para se juntar aos outros casais.

- Meu Deus! - Adriana disse embaraçada com aquilo, mas logo depois
começou a rir e esqueceu completamente o que tinha acontecido.

Diego era um demônio sedutor quando era necessário. Persuadia qualquer um


a fazer exatamente o que ele queria e quando queria. E naquele momento ele
queria desviar a atenção dela para outra coisa que não fosse o fato de achar
que tinha visto vampiros na festa.
A sede

O Restante da noite percorreu sem maiores conflitos. As pessoas se divertiam


se embebedavam e dançavam. Diego passou a maior parte do final da noite
entretendo Adriana com danças e conversas interessantes. Seus jogos de
palavras prendiam a atenção dela com uma conversa inteligente e bem-
humorada, fazendo-a rir a todo o momento. Felipe por outro lado, ficou tenso
no decorrer da festa e não saiu mais de perto dela, preocupado se teria mais
alguma ameaça contra sua vida. Mesmo quando ela voltou para a pista de
dança, ficou por perto como um verdadeiro guardião.

Morgan olhava em silêncio para a mesma direção que Felipe, e notou que ele
parecia nutrir algum tipo de sentimento paterno em relação à humana, era o
mesmo jeito afetuoso que olhava para ele e Miguel, pois os conhecia desde
crianças - você não vai desistir, não é? - disse um pouco aborrecido.

Felipe virou-se na sua direção o analisou muito rápido, depois olhou para a
pista de dança - Você sabe melhor que ninguém, que não! - Sua resposta saiu
de forma pensativa, mas firme.

Morgan não disfarçou seu aborrecimento - Se apegou a uma família


humana? - Sua expressão mudara de tranqüila para outra indignada.

Felipe refletiu sobre sua pergunta por um momento - não é uma família
qualquer e não me apeguei a toda uma família. Somente a uma integrante
dela, que é descendente da casa de Kaimel - ele disse sem olha-lo novamente.

Morgan se irritou com sua resposta - Não está fazendo comparações não é
mesmo? – Perguntou indignado

Felipe o encarou com a perplexidade de um pai desrespeitado. Somente ele


tinha tal afinidade com o líder do clã a tal ponto - Não gosto de comparações!
- ele respirou fundo controlando sua irritação

Ele sorriu friamente - muitas surgiram iguais a essa, e nenhuma sobreviveu -


Morgan rebateu em voz baixa e controlada, pois haviam pessoas em volta
ainda.

Felipe o encarou um pouco irritado - muitas! – se aproximou mais dele - não


era essa - disse – você tentou achar algo de Helena nelas, mas não encontrou.
Por isso as matava - continuou - E Adriana é diferente, e sei que percebeu
isso também. Ela não é Helena e nem se parece com ela - concluiu

Morgan enrijeceu o corpo devido à raiva - como ousa? - ele encarou seu
amigo que o olhava perplexo.

- Como ouso? - Felipe explodiu de forma contida - Acompanhei geração a


geração enquanto você sumia para longe remoendo sua dor. Sendo que você
melhor que qualquer outro sabia que sempre haveria descendentes entre eles.
E que a possibilidade de outra herdeira da espada era totalmente possível - ele
se controlou e retomou a postura altiva. Percebeu que suas palavras forçavam
Morgan a aceitar.

Morgan desviou o olhar novamente – eu não creio nessa possibilidade, e


também não me importo - ele fez uma pausa se esforçando o máximo para se
controlar – mas se acha que isso seja verdade, terá que provar.

Felipe o analisou - o que você teme meu nobre amigo? - perguntou de


maneira fria

Morgan o encarou novamente - não há nada para que eu possa temer! -


respondeu contrariado novamente

Felipe começou a se preocupar com sua postura - ela passará muito tempo
conosco. Espero que não faça nada. Você é o nosso líder! – disse quase como
uma suplica. Mas depois endureceu a sua expressão – Mas ela é a minha
protegida! – Viu os olhos de Morgan o encararem de forma dura, pois
entendia muito bem o que aquilo significava, mas depois ele desviou os olhos
como se ponderasse por um instante.

Ninguém ousaria falar com ele daquela forma, mas Felipe era como um pai e
o único que falava com ele com tal liberdade sem se preocupar se o agradava
ou não talvez seja bem interessante ver até onde sua preciosa humana poderá
aguentar a verdade - ele riu como se tramasse algo e saiu de perto de Felipe.

Felipe ficou observando o nobre amigo sumir de suas vistas. Preocupou-se


um pouco, pois não sabia se ele passaria dos limites. Achou melhor observar
de perto, pois Adriana não era como as outras mulheres que cruzaram seu
caminho. Ela era impetuosa e agressiva em suas palavras e com certeza o
enfrentaria, se ele a provocasse. E Morgan não gostava de ser confrontado
por humanos, ele poderia ser cruel com ela.

Mais tarde

Era quase 05h30minhs da manhã e Adriana já estava exausta. Procurou por


Fernan e Gevy, mas não os encontrou. Despediu-se de Diego e Miguel e
depois Felipe quando o encontrou pelo caminho e foi em direção à escadaria.
Tirou os sapatos que pareciam esmagar seus pés – até que enfim! – disse
aliviada. Pegou-os nas mãos e continuou pelo corredor. Isaiah estava no hall
se despedindo de alguns convidados que estava indo embora, em seguida ele
se aproximou dela todo sorridente e fez um gesto para que um dos
funcionários fosse ajuda-la - milady! – o rapaz foi em sua direção para pegar
os sapatos de suas mãos, como se aquilo pesasse quilos.

- Não se preocupe! Obrigada - Adriana impediu o rapaz que parou no meio


do caminho, sorriu e voltou a fazer o que fazia antes. Ela respirou fundo e
sentou-se nos degraus da escadaria – Que festa legal! Muito, muito legal
mesmo – disse quando ele sentou-se ao seu lado.

Isaiah ainda sorria quando respondeu – é! Eu também me diverti muito – deu


uma piscadela
Adriana ficou observando o elegante advogado por um momento, e teve um
estalo. Ele e Gevy haviam sumido e ficaram um bom tempo sem aparecer.
Balançou a cabeça - Sei! – ela riu - você viu Gevy e o Fernan? - perguntou de
repente.

Isaiah riu também, pois ela havia percebido - sim! Pedi para que levassem
seu amigo para o quarto dele e Gevy eu mesmo a levei – Na verdade ela ficou
dormindo depois de ficarem juntos por um tempo.

- Sério? – disse divertida enquanto o encarava e viu ficar sem graça por um
breve momento.

- Mas não se preocupe! Ficarão bem - observou a expressão divertida dela


quando se pôs de pé e virou-se para subir as escadas.

- Obrigada Isaiah! Você é sensacional - disse parando e se se virando para


olha-lo. Depois subiu os degraus com preguiça. Quando chegou ao corredor
onde ficava seu quarto, viu que a porta do último quarto do corredor ao lado
estava entreaberta, pois havia luz lá dentro. Se demorou na porta de seu
quarto na esperança de ver quem era, pois não havia ninguém ali
anteriormente. Vislumbrou um homem de costas que falava com um dos
funcionários da mansão, e quando ele virou e viu que era o Morgan, entrou
apressadamente no seu e fechou a porta.
Respirou aliviada e olhou com preguiça para sua cama e se jogou nela com
vestido e tudo, não sem antes largar seus sapatos no chão. Deu um suspiro
profundo de satisfação e começou a relembrar dos acontecimentos da festa
com um sorriso. Sentiu algo nas suas costas e sentou-se para ver o que era,
viu um envelope branco escrito seu nome. Ela o abriu curiosamente, não
reconheceu a caligrafia e começou a ler.

Honey

Ficarei longe por um tempo, fiz uma coisa ruim e tenho que me retratar, pois
trai a confiança das pessoas erradas. Mas juro! Não sabia que fazendo o que
fiz você correria perigo. Me enganei!
Fique junto deles.
Com amor...

Alex

Sentiu seu coração bater tão forte, que pensou que ele saltaria por sua boca.
Levou a mão ao peito num sinal de angustia. Do que ele estava falando?
Pensou. Ficou tão perturbada com aquilo que procurou por seu celular em sua
bolsa jogada em cima da cama. Quando o encontrou começou a discar para o
número de seu amigo, esperou e depois ouviu a mensagem da caixa postal –
Merda! - xingou em voz alta. Simplesmente não sabia o que fazer, sentia-se
com as mãos atadas. Saiu da cama e andou de um lado para o outro, depois
tentou ligar novamente, e caiu direto na caixa postal. Deixou o celular de lado
e respirou fundo tirou as joias que usava com cuidado e as colocou no criado
mudo. Ajeitou os travesseiros na sua cama se recostou neles. Olhou para o
celular novamente, o pegou e tentou fazer a ligação mais uma vez, em vão.
Deitou-se e tentou ligar várias vezes para seu amigo. Ficou muito
preocupada, pois de alguma forma sentia que realmente ele poderia estar
encrencado. Mas acabou cansando e pegou num sono profundo, com o
celular em uma mão e a carta na outra.

No quarto de Morgan

O cheiro da humana o perturbava tanto que teve que pensar mil vezes antes
de seguir seu rastro pelo corredor quando o sentiu por perto. E aquilo o
torturava muito! Chegou a pensar em dar um fim em tudo aquilo, o que talvez
lhe desse certa paz. Toma-la para si e beber seu sangue, acabando com mais
uma que reavivava suas lembranças ruins. Blasfemou! Blasfemou várias
vezes.
O problema era o seu instinto primitivo que o movia naquele momento,
principalmente depois de ficar tempo demais sem se alimentar. Saiu de seu
quarto como se estivesse ligado no automático e começou a andar devagar
pelo corredor. Hesitou por um segundo e depois continuou pelo caminho que
era um pouco extenso. Parou em frente o quarto dela e ficou olhando fixo
para a porta fechada, pensando se deveria invadi-lo ou não. Sua garganta
ardia torturada pela sede e então fechou os olhos na tentativa de se controlar.
Sentiu o cheiro dos pêssegos ultrapassar a proteção da porta trancada e
inspirou profundamente, podia ouvi-la dormindo e o compasso de seu
coração batendo calmamente. Encostou a testa na porta e já ofegava de
desejo.

- Algum problema Morgan? – Isaiah parou próximo a escada quando se


deparou com Morgan parado na porta do quarto de Adriana. E pode ver o
quanto ele lutava para controlar sua sede.

Morgan virou-se lentamente e olhou para o homem parado próximo a ele. Se


fosse qualquer outro e não Isaiah, o teria atacado. Esse por outro lado se não
o conhecesse teria ficado com medo, pois se deparou com a expressão cruel
do vampiro torturado pelo desejo do sangue, e não era nada agradável de ver.

Isaiah aproximou-se dele e o olhava de forma compassiva, sabia que a


presença daquela humana o perturbaria a ponto de fazê-lo perder o controle.
Embora a casa estivesse cheia de humanos. Mas a história de Morgan com a
ancestral de Adriana era muito complexa e qualquer pessoa que o fizesse se
lembrar do passado com ela, com certeza iria pagar de alguma forma.

Morgan respirou fundo antes de responder - Não! – sussurrou

Isaiah olhou para a janela do corredor e viu que o sol avançava - Acho
melhor o ir descansar, o sol está avançando e parece precisar descansar -
disse de forma sugestiva para afasta-lo da porta daquele quarto – precisa se
alimentar? Posso pedir para o clã Dubois enviar alguém - perguntou

Morgan percebeu a intenção daquele macho. Felipe era esperto demais, não a
deixaria sem proteção enquanto ele estivesse na casa. Deixou os braços
penderem pesadamente ao longo de seu corpo e abaixou a cabeça de forma
frustrada – não preciso me alimentar! - Respondeu seguindo em direção ao
seu quarto - Diga a Felipe que vou para casa assim que anoitecer, e que os
aguardo com... - ele fez uma pausa quando se virou para falar -... com a
protegida dele - ele sumiu muito rápido.

Antes de Isaiah seguir para o seu próprio quarto, ficou olhando a luz do dia
invadir o corredor pelas janelas espalhadas em sua extensão. Parecia que
Felipe havia adivinhado que ficaria tentado a fazer com sua protegida,
quando o mandou verificar se ela estava bem. Sabia o quanto seria difícil para
o líder daquele clã conviver com aquela mulher.
Capitulo 7

O plano de Felipe

is dias se passaram após o baile. E nesses dois dias tudo transcorreu de forma
tranquila. Porém, somente Adriana mantinha-se inquieta devido à carta de
Alex e a falta de noticias dele, pois o celular ainda estava dando caixa postal.
Não comentou com ninguém sobre a carta, muito menos com Gevy e Fernan.
Acabou aceitando proposta de trabalhar diretamente com os Drakos, mas teve
que se separar de seus amigos Fernan e Gevy, que tiveram que voltar para
Londres já que a parte burocrática para reabri-la havia sido resolvida, e o
chefe de policia deu um jeito dos detetives Gellinhal e Crowe saírem do pé de
Felipe e Isaiah. Mas agora Fernan e Gevy tinham a responsabilidade de
gerenciar a boate enquanto os donos mantinham-se ocupados. Aquilo foi
animador de certa forma, pois tiveram um aumento considerável de salário e
não precisariam mais ficar no bar da boate.
Mas já era terça-feira e como eles abririam na sexta, seus amigos tiveram que
partir o antes do previsto e eles passaram a manhã arrumando suas coisas
para o retorno e estavam super animados e agitados. Adriana ficou um pouco
desanimada e triste em se separar de seus leais amigos, passou a maior parte
do tempo enfurnada no quarto acessando a internet. Nem desceu para tomar
café, os funcionários que levaram seu desjejum para o quarto enquanto ela
conversava com sua família por telefone, contanto a novidade do novo cargo
e que partiria para a Escócia.

No final da tarde seus amigos partiram e não sabia quando os veria


novamente. A despedida foi um pouco emocionada, seria a primeira vez
desde que foram para a Inglaterra que se separavam. Quando estava tudo
pronto e suas coisas foram levadas para o carro eles fizeram um silêncio
inquietante antes de entrarem nele. Os três amigos se olharam emocionados,
depois Gevy e Fernan abraçaram sua amiga ao mesmo tempo desejando boa
sorte e que sentiriam sua falta. Adriana ficou olhando eles entrarem no carro
com um aperto no coração, como se algo lhe dissesse que talvez nunca mais
fosse vê-los novamente.

Antes do motorista fechar a porta do carro, Gevy a segurou impedindo que


ele a fechasse, meteu a cabeça para fora e disse: - Essa não é a vida que
sempre quis?... - Ela riu feliz por voltar para casa, enquanto Fernan em
lagrimas dava um tchauzinho sem graça.

Ficou ali parada olhando o carro partir até ele sumir pela estrada que levava a
Londres. Sentiu que a partir daquele momento sua vida mudaria para sempre.
Sempre desejou mudar de vida, viver aventuras emocionantes, conhecer
pessoas interessantes. E naquele momento estava começando a viver aquilo,
mas sentiu-se estranha a respeito, em como era difícil abandonar sua vida
antiga, para viver coisas novas. Deu um suspiro pesado por não saber o que a
esperava, mesmo sabendo o quanto aquilo de certa forma a excitava. Olhou
para trás e se deparou com Felipe parado alguns metros dela, ele aparecera
sem que o visse chegar.

- Sei que sentirá saudades deles, minha criança! Mas terá muitas coisas para
ocupar seu tempo na Escócia, iremos para as terras altas - ele dizia tentando
afastar sua tristeza.

Não conseguiu disfarçar sua tristeza - Eu sei! Mas ainda me preocupo com
essa idéia de ir para um castelo sem saber ao certo o que vou fazer - ela o
especulou com os olhos quando disse aquilo.

Ele percebeu que ela estava um pouco desconfiada - não precisa se


preocupar, terá muitas coisas para fazer. Principalmente colocar nossos
documentos em ordem, temos muitas propriedades, empresas... - ele parou de
falar quando ouviu o barulho do helicóptero pousando atrás da casa e olhou
para ela com um sorriso.

Ela arregalou os olhos - não vamos voar, não é? - ela perguntou


sobressaltada, pois tinha certeza de que a viagem seria de carro.

Ele piscou logo após outro sorriso maroto.

Arregalou os olhos – eu odeio voar– ela disse demonstrando medo. Morria de


medo de altura.

- é mais seguro que um carro! - ele disse quando ela se aproximou e a


conduzia para dentro da casa.

- Tenho medo de altura Felipe, e essa estatística não é verdadeira– ela


respondeu suspirando em seguida.

Miguel surgiu de repente no hall de entrada- medo de altura? – ele disse


incrédulo.

Adriana virou-se para ele assustada, não tinha visto quando ele surgiu e parou
ao seu lado. Eram tão silenciosos que se ninguém os visse nunca perceberiam
que estariam ali. Ele a encarou de forma divertida e disse - imagine! Terá
uma vista privilegiada de cima, verá uma terra rica cheia de histórias – ele
falava de forma que prendesse sua atenção e ignorando seu espanto.
Seguiram para o pátio lateral onde o helicóptero os aguardava e a olhou de
soslaio - verá as terras em que Willian Walace lutou. Eu sei! Sou muito
patriota – concluiu rindo em seguida

Adriana arregalou os olhos surpresa como ele sabia que gostava daquela
história, abandonou completamente o que acontecera segundos atrás - fala
sério! – ela fez

- Sério! - ele respondeu e riu - é verdade! Imagine vendo tudo àquilo de cima
- ele com certeza queria faze-la imaginar para distrai-la.

- ta! – franziu o cenho - está tentando desviar minha atenção para me


convencer a entrar naquilo – ela apontava para o helicóptero - não tenho
alternativa e vocês surpreendentemente conseguem me convencer a fazer o
que eu não quero - reclamou olhando para ambos imaginando o quanto
conseguiam manipular situações e pessoas ao favor deles. Depois desviou os
olhos para os rapazes que colocavam suas coisas no Helicóptero.

Eles riram.

Felipe a ajudou subir no helicóptero e sentou-se ao seu lado. Isaiah já estava


como piloto e Miguel sentou-se a sua frente cruzando os braços sobre o peito,
enquanto analisava a cara impaciente da humana que se atrapalhava em por o
cinto de segurança, o que fez com que a ajudasse, e riu quando viu que ela
parecia se petrificar no banco, sem mexer um milímetro sequer devido ao
medo - relaxe! - ele dizia enquanto levantava voo. E ele não estava preso a
nenhum cinto de segurança.

Adriana fechou os olhos e cravou as mãos no banco

Felipe olhou para a mulher que mais parecia uma estatua ao seu lado - nada
vai lhe acontecer, criança! Pode abrir seus olhos – disse divertido.

- Não consigo! Não consigo! - ela disse baixinho como se aquilo evitasse o
helicóptero cair. Pura paranóia.

Felipe riu - consegue! Olhe para mim - ordenou quando segurou em sua mão

Ela abria os olhos devagar, primeiro um depois o outro e olhou direto nos
olhos castanhos escuros de Felipe - fique calma, e relaxe. - ele disse com um
sorriso encantador e olhos brilhantes

Ela não sabia por que, mas aquilo teve um efeito incrível e relaxou
imediatamente sentindo a mesma coisa que sentiu quando conversava com
Diego, aquela pressão nos olhos e testa e depois como se aquilo estivesse
saindo por sua testa. Desviou os olhos e olhou pela janelinha ficando relaxada
até o fim da viagem, era como se estivesse drogada. E quando o helicóptero
aterrissou tentou lembrar o que tinha tomado para ficar tão sonolenta, mas
não se lembrava então se espreguiçou e bocejou quando desceu e olhou
embasbacada a sua volta. Sua reação foi exatamente a reação esperada por
eles. Ficou totalmente maravilhada e boquiaberta com aquele lugar. A beleza,
imensidão e riqueza a deixou extasiada

Os funcionários se apressavam em pegar suas bagagens, enquanto ela ficou


parada no pátio do castelo girando sob os pés para ver a beleza natural que o
cercava. Podia sentir a brisa suave que vinha do mar e soprava em seu rosto,
dava para enxerga-lo de onde estava. Não pode evitar suspirar e sorrir parecia
um daqueles castelos que tinha visto em filmes, árvores por toda a parte, um
jardim labirinto que era duas vezes maior que o da mansão, e também havia
um chafariz que ficava bem no meio do pátio. Viu o vilarejo que ficava
depois de uma estradinha de terra onde havia uma capela, riu sozinha –
parece um sonho! Se o Fernan visse isso – balbuciou para si mesma.

Felipe se aproximou dela depois de observa-la por alguns minutos, enquanto


captava sua emoção e pensamentos. Miguel fez a mesma coisa, ficando do
outro lado olhando para ela e depois para onde ela olhava, como se a emoção
que captava dela fosse algo que não se lembrasse de mais como era, e com
ela ali ao seu lado era como se estivesse reavivando suas antigas lembranças
humanas. Felipe o observou discretamente tentando imaginar o que se
passava na cabeça dele, já que não conseguia entrar na mente de nenhum
integrante do clã. Mas pela reação dele poderia deduzir que estava encantado
o que poderia ser mais tentador para Miguel. E no caso dela, ficariam todos
juntos e tinham que tomar cuidados para que ela não percebesse o que eram
até o momento certo. Tinham que ter o cuidado de se alimentarem de outra
pessoa, quando se sentissem tentados demais. O que não era o seu caso, mas
Diego, Miguel e principalmente Morgan sim.

Adriana nem sequer olhou para os lados quando eles se aproximaram,


continuou em silêncio e virou-se na direção da floresta, pois as árvores
pareciam mais agitadas naquela direção, era como se alguém as sacudissem,
pois não havia vento o suficiente para causar aquele efeito.

Felipe olhou na mesma direção, só que muito antes dela se virar para olhar, e
ele endureceu sua expressão. Miguel olhou para Felipe e voltou o olhar para
ela que saiu do meio deles e olhava com mais interesse naquela direção como
se estivesse tentando ver algo. Adriana teve a forte impressão de que alguém
os observava de lá, mas não viu ninguém. Felipe quebrou o encanto tocando
suavemente em seu braço direito - Venha criança, já está esfriando – ele a
conduzia para dentro do castelo e Miguel os seguia em silêncio, pois parecia
preocupado.

Ela o acompanhou, mas olhou para trás um tanto curiosa.

- Poderá conhecer tudo o que quiser por aqui! – ele continuou chamando-lhe
a atenção - mas não deve sair sozinha! – Felipe alertou.
Ela o olhou surpresa - um lugar tão lindo, não acho que me aconteceria
alguma coisa!

Analisou sua reação repentina - Dentro das imediações do castelo, estará


segura com certeza - ele parou de andar e apontou para a floresta - mas nunca
na floresta! - alertou de forma séria.

- Principalmente lá! - acrescentou Miguel vendo a expressão de dúvida dela.

Ela o encarou curiosa- Por quê? -

Felipe percebeu que ela ficou intrigada, e não queria lhe passar um
sentimento de medo e desconfiança. Mas seria sensato mantê-la longe do
perigo, até prepara-la para enfrenta-lo. Ela ainda esperava por sua resposta e
teve que pensar rápido para lhe dar algo convincente, pois sabia que ela tinha
um espirito desbravador bem curioso e poderia se embrenhar naquele lugar
quando estivessem recolhidos - Por que... -ele olhou de relance para Miguel –
porque naquele lugar tem criaturas selvagens. É muito perigoso para você! –
disse

- Hum! - ela fez pensativa – que...

Miguel interrompeu sua pergunta com a resposta - lobos! Enormes! -


respondeu mais que depressa.

Adriana olhou para Miguel e depois em direção a floresta novamente e os


seguiu para dentro do castelo em silêncio. Adorou as paredes de pedras
rochosas e seus detalhes únicos, assim como as tapeçarias que eram novas e
os moveis que pareciam restaurados. Sentiu-se em plena idade média e ficou
fascinada com tudo que via. As obras espalhadas por todos os lugares, os
móveis antigos e restaurados se misturando aos outros mais modernos, a
iluminação harmoniosa afastando a aparência pesada de um castelo velho
mal-assombrado. Era um pouco frio podia admitir, mas era agradável. Estava
curiosa com tudo a sua volta, mas o que mais lhe chamou a atenção foi uma
pintura na parede que ia do chão ao teto, o símbolo do sol e da lua se unindo
formando um eclipse solar. Aproximou-se e parou em frente à pintura
analisando o desenho, nem percebeu que Miguel estava parado do seu lado
com as mãos para trás analisando a mesma coisa. Começou a achar que ele
adorava fazer aquilo, aparecer do nada.

Miguel a olhou e esboçando um sorriso cheio de charme - é o símbolo da


aliança do nosso clã! - lhe disse – essa pintura é muito antiga, mas o seu
propósito perpetua até hoje – concluiu vendo que ela voltava a olhar para a
pintura de forma mais curiosa que antes.

- é linda! Gostaria de saber mais sobre o clã! – ela disse - e. - ela fez uma
pausa quando viu Felipe se aproximar depois de trocar algumas palavras com
Isaiah - já que estamos aqui, gostaria de saber mais sobre o que exatamente
irei fazer para vocês – acrescentou.

Felipe disfarçou um sorriso e a pegou pelo braço delicadamente - No


momento - ele dizia - sua função será ir até o seu quarto, cuidar de suas
coisas. Depois discutiremos o que fará exatamente - disse ao mesmo tempo
em que a conduzia até a escadaria onde Isaiah a aguardava.

Enquanto subia a escadaria, sabia que tanto Felipe quanto Miguel a


observavam. Ela olhou para trás para ter certeza daquilo e Miguel fez um
gesto para ela se animar. Virou-se rapidamente depois de forçar um sorriso e
seguiu o advogado pelo corredor.

Felipe olhou para Miguel e esse se virou com o olhar divertido para ele e
disse - Acho que ela está começando a desconfiar de algo, meu amigo - disse-
lhe.

Felipe refletiu sobre o que acabara de ouvir - Ela é um pouco desconfiada, e


tem um temperamento muito forte, mas sei lidar com ela - disse confiante.

Miguel realmente duvidava daquilo e balançou a cabeça em negativa - Como


acha que vai ser a reação dela quando ver o quarto? Vai acabar assustando-a
com essas coisas que você e Diego compraram para ela – sua expressão
mudara de divertida para preocupada.
Ele o encarou por um momento antes de responder – não estou preocupado
com isso, não seria essa minha função? cuidar para que ela se sinta segura e
feliz? – estava convencido de que estava tudo saindo do jeito que havia
planejado.

Miguel bufou contrariado, pois Felipe parecia não querer entender o óbvio -
não ponha a carroça a frente dos cavalos, meu caro! Ela não sabe quem você
é – advertiu - trata-se de uma mulher adulta e não uma garotinha, e você não
é o pai dela - concluiu.

Estava muito confiante para se importar com aquele comentário- Não me


importa! Agora ela esta finalmente debaixo das minhas asas, farei o que for
necessário para fazer com que ela confie em nós - respondeu-lhe.

- Se ficar agindo de forma descontrolada, antes mesmo de contar-lhe a


verdade, ela irá fugir – alertou. Viu a expressão dele mudar e ficar pensativo.
Isaiah conduzia Adriana em silêncio pelo corredor pois queria manter um
certo ar de suspense. Viu que ela fez menção umas três vezes de perguntar
alguma coisa, mas desistiu. Ele parou em frente a uma porta que se dividia
em duas partes e que essas partes abriram quando as empurrou. Parou do lado
de dentro e ficou surpreso quando viu duas funcionárias que usavam
uniformes todo branco, elas se agitar quando ele entrou e uma ao lado da
outra - Esse é seu quarto – disse voltando-se para Adriana.

Adriana entrou e olhou em volta. No inicio ficou sem reação, depois piscou
umas dez vezes ou mais, sem ter certeza de que aquilo era real. O quarto era
digno de uma rainha, a cama de dossel era enorme, de madeira maciça escura
com detalhes dourados entalhados nela e as cortinas presas ao lado eram
claras e novas. Foi à primeira coisa que viu quando entrou. Depois reparou
em todos os outros detalhes andando pelo quarto, viu os detalhes do entalhes
no teto e nas paredes, a penteadeira de madeira maciça como a da cama, e o
espelho que era imenso. Havia todo o tipo de coisas na penteadeira, perfumes
importados, cremes, uma pequena valise com maquiagens, um pequeno baú
todo encrustado de joias, não quis abrir com receio de ver o que tinha dentro.
Tocou em tudo com cuidado, depois foi até a uma estante que ficava ao lado
da porta do closed e ficou fascinada com o monte de bonecas que estavam
arrumadas uma ao lado da outra. Todas elas eram de porcelana e de todos os
lugares do mundo. França, Holanda, Brasil, México, Inglaterra, Escócia,
Irlanda, China, Japão, Rússia, Roma, Finlândia, África, Egito e vários outros
lugares. Percebeu por causa dos detalhes das roupinhas. Eram tão delicadas e
cheia de detalhes nas expressões dos rostinhos, que teve medo de toca-las e
acabar quebrando alguma – são tão lindas! – disse encantada.

Isaiah a observou atentamente nesse momento sabia o motivo delas estarem


ali. Foram adquiridas em épocas diferentes desde quando Felipe viu Adriana
pela primeira vez. Ele sempre foi obcecado pela ideia de leva-la para aquele
lugar, por isso ela tinha um quarto desde que nascera. Lembrou-se quando ele
lhe disse uma vez que iria sequestra-la, quando ela tinha cinco anos e depois
desistiu com medo de que pudesse ser morta na mão de algum inimigo que a
descobrisse ali. Ele sempre planejava fazer as coisas, mas depois desistia e
ficava frustrado consigo mesmo. Podia imaginar o que seu mentor estava
sentindo com ela finalmente por perto.

Logo depois ela continuou a explorar o quarto, tocou na mesinha de canto


onde tinha um vaso com flores frescas. Olhou a lareira já alimentada com um
fogo acolhedor na outra extremidade onde tinha uma aconchegante poltrona,
gostou daquilo. Quando entrou no banheiro, ela riu. Havia uma sauna, uma
banheira grande que ela pensou que caberia sua família inteira nela. Do outro
lado tinha o banheiro para uso intimo normal como qualquer outro, onde
tinha um Box com um chuveiro de jato forte. Ela voltou para o quarto, olhou
para Isaiah e para as duas criadas que a olhavam ansiosas e riu novamente.
Seus olhos brilhavam - eu posso me perder nesse quarto e demorar uma
semana para encontrar a saída, sabia? - ela disse em tom de brincadeira, para
lhe passar a emoção que sentia naquele momento.

Isaiah riu e as duas criadas davam risinhos contidos. Depois a olhou de forma
cumplice – ainda falta a outra parte - disse apontando para a antecâmara.
Quando ele empurrou a outra porta, ela ficou pasma. A antecâmara fora
transformada em closed com enormes prateleiras cheias de roupas e sapatos
de todos os tipos. Sandálias, sapatos, botas. Jaquetas, vestidos, calças, blusas
de todas as formas e tudo no seu manequim e número, fora os acessórios.
Sentou-se boquiaberta na poltrona fofa no meio do closed enquanto olhava
para as coisas que estavam ali. Depois de alguns segundos do choque ela
resolveu falar –o. O. O que é isso? De quem são essas coisas? - balbuciou
confusa ao mesmo tempo em que apontava

Isaiah a analisou, pois aquela reação desconfiada não era esperada – são suas
– disse - e essas duas moças gentis, são suas auxiliares. Tudo o que precisar
poderá pedir a elas. Estarei no escritório que no andar debaixo - ele deu um
sorriso satisfeito e saiu para não lhe dar chance de um interrogatório.

Assim que Isaiah saiu, as duas criadas se apressavam em atendê-la. Mas


continuou sentada imaginando como eles conheciam seus gostos, número que
calçava e até seu manequim, porque até gaveta com lingeries tinha. Ela
pensou, pensou. Pôs-se de pé, olhou para as duas paradas ao seu lado - não é
estranho? - perguntou confusa.

A moça loira apressou-se em responder - o que senhora? - perguntou com


seus olhos amendoados grandes e gentis.

Adriana a olhou intrigada - tudo isso! É muito estranho. Essas coisas... Esse
quarto - ela falava com certa confusão - tantos presentes!

A moça ruiva analisava sua confusão - não era para ser assim, milady? –
perguntou.

Adriana não prestou atenção no que ela disse, porque pensava consigo
mesma naquele momento - não posso aceitar essas coisas! – disse – é demais!

- Não pode aceitar o que? - a voz ecoou do quarto e ela a reconheceu e foi ao
seu encontro.

Quando olhou para ele tentou sorrir, mas não conseguiu - pensei que não o
veria mais! - disse indo cumprimentar Diego que entrara no quarto e olhava
para tudo de forma animada.

Ele sorria satisfeito - Achou mesmo? Não irá se livrar fácil assim – respondeu
com seu sorriso sedutor, abraçando-a com cuidado logo após beijar-lhe a
testa rapidamente - afinal... - continuou - eu moro aqui também - disse

As duas criadas o observavam, uma encantada a outra não parecia render-se


ao seu encanto anormal.

Adriana respirou funda - tudo isso é um exagero! – ela dizia olhando em


volta e sem graça.

Ele a encarou surpreso - não gostou dos nossos presentes? - sua pergunta
tinha um tom de decepção, mas sabia o que ela queria dizer.

Ficou sem graça – Não... quer dizer, esse é o problema – ela dizia depois
sorriu - eu os amei! Só não entendi porque fizeram isso – falou de maneira
cuidadosa para não parecer grosseira.

Ele percebeu seu desconforto - queríamos deixa-la confortável, sentir-se parte


desse clã - tentava lhe explicar - não sabíamos ao certo do que gostava de
usar, então compramos tudo o que eu achava que poderia lhe agradar -
explicou.

Ela riu. Sabia que não ganharia aquela discussão - vocês são inacreditáveis!
Isso foi um exagero isso sim - disse-lhe

Ele riu alto - Ótimo! – e a analisou rapidamente – não precisa ficar tão
desconfiada - disse isso franzindo o cenho.

Ela se virou para encara-lo - não estou acostumada com isso é estranho pra
mim – disse fazendo uma pausa - ninguém nunca fez algo parecido. Algumas
pessoas, geralmente fazem coisas com propósitos em mente – disse
desconfiada enquanto o analisava.

Ele deu um dos seus sorrisos estonteantes - não se sinta pressionada a fazer
nada por isso! – dizia - é um presente sem propósitos inescrupulosos. Ou seja,
é algo que demos a você, sem esperar nada em troca - explicou.

Ela ainda o analisava - não acha que é um pouco demais para alguém que
contrataram apenas como assistente? - sua pergunta soou desconfiada
novamente

Ele olhou em volta depois voltou olhar para ela - Não! - afirmou com um
sorriso encantador deixando as covinhas surgirem nas bochechas - nunca
tivemos assistentes antes. Alias, nunca trouxemos ninguém para nossa casa
antes - dizia pensativo - no entanto, se lhe faltar algo, por favor, me diga - fez
uma cara preocupada.

Ela arregalou os olhos perplexos - pelo amor de Deus! Nunca vou saber se
faltar algo – desacreditava do que ouvia - Acho que tem coisas aí, para eu
usar pra sempre – achando a indagação dele um absurdo.
Ele achou graça naquilo. Mas ao mesmo tempo parecia sentir certa empatia
por ela, imaginando uma vida regrada sem luxo e até fome, por isso achava
aquilo um absurdo. Não conseguia imaginar tal situação para a criatura
encantadora a sua frente, e não conseguia entender porque Felipe permitiu tal
coisa. Sabia das suas dificuldades e a admirava por ter superado aquilo
bravamente.

Adriana notara sua expressão pensativa e séria que mudou muito rápido
quando percebeu que ela o olhava preocupada – estou me sentindo um tipo de
cinderela de 30 anos. E isso é meio esquisito – ela riu

Ele riu de seu comentário – não se parece nada com a Cinderela, não faz o
estilo coitadinha. E... Não está pensando em mim como a fada madrinha, não
é? – perguntou divertido

Ela riu alto dessa vez - não, não tem cara de fada madrinha! E também não
acredito em príncipe encantado... -

Ele sorriu novamente – ele não existe! E se existisse, seria um chato


narcisista e você ficaria entediada com ele porque ele olharia nos seus olhos
apenas para ver o próprio reflexo.

Ela riu - com certeza! – concordou, sabia que ele tinha razão. Era como se a
conhecesse muito bem, e começou a prestar mais atenção.

Ele deu uma gargalhada e pegou em sua mão levando-a aos lábios sensuais.
Diego era extremamente sedutor - ótimo cherié! Agora que está em casa –
percebeu que ela começava a prestar mais atenção nele, e começou a usar seu
charme anormal com ela - iria nos agradar muito se relaxasse e se sentisse na
sua própria casa - ele consertara o que dissera antes, pois a criada ruiva o
olhava de forma fria como se o analisasse, e aquilo o deixou intrigado, pois
não conseguia captar seus pensamentos. Ele a olhou com mais atenção e ela
desviou a atenção para a mala da convidada em cima da cama e começou a
desfaze-la - eu a conheço senhorita? - perguntou intrigado para a moça ruiva
que parou o que estava fazendo e o olhou de forma quase que desafiadora.
Adriana notou o interesse repentino de Diego, mas achou que era somente
pelo fado da moça ser bonita. Ela também notou o rubor nas faces da moça
loira, mesmo ele não se dirigindo a ela. Pensou no quanto era sedutor e
quantas mulheres deslumbrantes ele conquistava, pois era bonito, charmoso e
rico.

A ruiva olhou para Adriana quando ela apertou os olhos e a olhava de


maneira como se estivesse recordando de algo - não monsieur! - a moça
negou baixando os olhos.

Ele continuou olhando de forma especulativa - hum! – fez desconfiado -


poderia jurar que a conhecia de algum lugar - virou-se para Adriana
novamente, com um sorriso sedutor - talvez seja de alguma família da aldeia
e não me recorde. Ah sim! Você estava na casa de Londres. Lembrei-me -
percebeu o olhar confuso de Adriana para a moça - Ah! – ele fez de repente
parecendo lembrar-se de algo, fazendo uma cara de quem fosse lhe dar uma
má notícia. Depois deu um sorriso em seguida sabendo o efeito que aquilo
causaria disse - Temos mais um integrante na casa. Aliás... - fez uma pausa -
retornando a casa –

Adriana o encarou em silêncio, sabia a quem ele se referia e não gostou.

Então ele continuou - Morgan! - ele esperou uma reação negativa ao dizer o
nome do seu líder e amigo, mas ela continuou em silêncio. Porém, não
passou despercebida a perturbação que aquilo causou.

Ela ficou sem graça quando percebeu o olhar divertido de Diego - Legal! –
Ela disse sem entusiasmo algum.

- Relaxe! – ele disse passando o braço envolta de seus ombros para lhe passar
ânimo.

Ela levantou os olhos - Não tenho problemas com ele, desde que fique longe
de mim – Viu que ele disfarçou um sorriso ao ouvi-la e começou a mudar de
assunto.

- Amanhã poderíamos dar uma volta pelo campo, para você conhecer as
imediações do castelo, a vila e ver o mar de cima do monte - ele sugeriu de
forma animadora ficando satisfeito com o efeito que lhe causou.

Ela abriu um largo sorriso dissipando o mau humor - claro! – respondeu


animada. Depois se afastou em direção ao closed e ficou olhando a
quantidade de coisas que lhe deram, pensando no que iria vestir.

Diego se aproximou parando ao seu lado - posso? - perguntou olhando para


ela de soslaio.

Adriana virou-se para ele achando aquilo quase que impossível, um homem
escolhendo suas roupas – à vontade milorde! – desafiou com tom de deboche,
achando que ele escolheria coisas aleatórias.

Ele levantou a sobrancelha esquerda com indignação pelo deboche – acha


que não consigo fazer isso? - sorriu - posso surpreendê-la sabia.

-Hum! – ela fez - vá em frente, vamos ver do que é capaz! – debochou de


novo

- Tenho um ótimo senso de moda, melhor que de meus amigos! Namorei


algumas modelos – piscou e foi em direção as roupas com segurança do que
escolheria para ela vestir.

Adriana apenas observava suas escolhas e ria achando aquilo engraçado


demais. Não duvidava de que ele namorou modelos, era só olhar para ele para
ter certeza daquilo. Ficou de boca aberta poie ele escolheu exatamente algo
que ela escolheria.

Diego sabia exatamente do que ela gostava. Aliás, tudo que continha naquele
quarto era exatamente o que ela escolheria para si mesma. Conheciam todos
seus gostos e seu estilo e o que não gostava também. Mas ele trapaceou! Pois
enquanto ela pensava no que gostaria de vestir, ele a ouvia e escolhia as
peças. Como a calça jeans escura de cintura baixa, uma blusa de manga
comprida com um decote (escolha típica dele mesmo) e a bota de couro preta
com saltos altos e a jaqueta. Quando depositou as peças na poltrona e virou-
se para olhar sua reação. Ela olhava para a roupa e as botas com a expressão
de indignação.
Aprovara sua escolha. Era perfeita! Estava um pouco frio. Ele riu alto,
lembrando-se do que ouvira em sua mente. Ela dizia para si mesma (a
jaqueta, a bota de couro).

- Você é perfeito demais Diego - ela disse enquanto tocava na jaqueta -


parece que lê meus pensamentos. Que mulher resistiria aos seus encantos? -
ela riu alto e olhou para a moça ruiva que entrara no closed e parou ao seu
lado aguardando instruções.

Ele sorriu satisfeito - sou um homem cheio de truques, mas não perfeito - deu
uma piscadela para Adriana e desviou o olhar rapidamente para a moça.

- Não é justo! – disse fingindo estar desconfiada dele - mas aceito a


justificativa! - concluiu

- Não é mesmo! - ele concordou com um sorriso largo sedutor e voltou olhar
para a moça novamente. Mas dessa vez Adriana percebeu, ele estava
interessado na ruiva, mas ela não parecia interessada.

Teve que disfarçar. Sabia o efeito que causava nos humanos, de preferência
nas mulheres. Mas a moça ruiva parecia imune aos seus encantos e parecia
incomodada com sua presença. Ficou intrigado, mas não disse nada a respeito
e voltou sua atenção para Adriana. Estava adorando a companhia dela, era
extasiante vê-la fazer coisas completamente humanas, e também conversar
com ela. Adriana era radiante e contaminava a todos a sua volta com sua
força e vida. Para criaturas como ele, essas coisas consideradas
insignificantes aos humanos, eram irresistíveis aos seus olhos. Ficariam
horas, anos observando-os seguindo o curso de suas vidas até envelhecerem e
morrer.
Depois de um bom tempo conversando com ela, deixou o quarto para que ela
se organizasse e tomasse um bom banho e relaxasse.
Capitulo 8

Resistindo a paixão

Adriana se enfiou na banheira e ficou lá um bom tempo relaxando, aquilo era


bom demais para ser verdade. Dispensou as duas assistentes depois de insistir
que não precisaria de mais nada.

Sophie, a assistente ruiva, esperou a hóspede entrar na banheira e dizer que


não precisaria de mais nada, para retirar com a outra para providenciar o
jantar. Enquanto se afastava do quarto da moça, ficou pensando na atenção
exagerada que era direcionada para a recém-chegada, pensou em como eles
eram ardilosos e no quanto ela estava encantada demais com eles para
perceber a intenção.

Adriana vestiu a roupa que Diego escolhera, secou os cabelos. Ficou


olhando-se no espelho analisando sua pele, agradecendo por não aparentar
nada a idade que tinha. Usou somente rímel e um gloss clarinho. Analisou o
efeito por mais uns minutos, borrifou o perfume que estava na penteadeira e
saiu. O corredor era bem iluminado e deu graças a Deus por aquilo, pois o
caminho era bem extenso e a noite ele parecia meio sombrio devido suas
paredes de pedra. Andava calmamente tocando a parede com o dedo
indicador enquanto passava pelo corredor e olhava os quadros antigos com
figuras que julgou serem da idade média por causa das roupas.

Seguia despreocupada até vê-lo na outra ala do castelo, e ele ia para a mesma
direção que ela. Hesitou um pouco quando o viu, mas depois continuou
decidindo que não seria intimidada pela arrogância dele novamente. Ele por
outro lado, manteve-se firme e não pareceu se abalar com sua presença. Não
sabia por que ficava daquela forma, pois teve aquela famosa sensação de
friozinho na barriga, e viu que ele a encarava com sua expressão dura, e
aquilo a deixou apreensiva.

Quando ambos se aproximaram antes de entrarem no corredor que levava


para a escadaria. Pararam e se cumprimentaram educadamente mantendo
certa distância.

Morgan a fitou e esboçou um meio sorriso, mas seus olhos eram frios -
Adriana - disse-lhe com um aceno com a cabeça.

Notou a frieza dele e xingou em pensamento antes de responder “que merda”


- olá! – respondeu forçando um sorriso que estava na cara que era falso.

Quando Morgan a viu no corredor ficou surpreso, havia esquecido que ela
estaria ali também. Pensou em passar rápido para evita-la, pois seria o melhor
a fazer e evitar aborrecimentos com Felipe. Mas depois quando sentiu a
agitação dela, não resistiu e mudou de idéia preferindo se divertir um pouco
as suas custas.
Quando se aproximou a mediu de cima a baixo sem que ela percebesse e sua
expressão era de puro divertimento, quando ouviu em sua mente “que
merda” quando disse “Adriana” para cumprimenta-la, quase riu, mas
conteve-se. Captou que ela não gostava do nome, porque era o nome da
bisavó paterna e ninguém havia gostado muito da velha. Mesmo assim, seu
pai lhe dera o nome em homenagem a ela. E de tanto a mãe lhe contar o
quanto a velha havia sido perversa com os netos, preferia ser tratada por seu
apelido.

Adriana ficou em silêncio por um segundo olhando para ele que ainda a
fitava. Depois pigarreou para disfarçar o embaraço, e tentou fingir que ele
não lhe afetava com aquela frieza - por favor, pode me chamar de Honey! –
disse andando na frente, mas ele a alcançou e caminhava ao seu lado.

Morgan disfarçou o sorriso – esse nome novamente! Porque devo chama-la


por esse nome se não é o seu verdadeiro nome? - perguntou de forma
debochada.
Ela virou a cabeça para olha-lo enquanto andavam, e se irritou de imediato
com o jeito debochado de ele lhe perguntar aquilo - por que eu... não...por
que eu prefiro – estava tentando não ser grossa com ele.

Ele riu baixinho percebendo sua irritação - Que tipo de nome é esse? - ele
começava a se divertir com a provocação.

Engoliu aquilo a seco - o tipo de nome que te dão, pega e você se acostuma.
Isso é chamado de apelido por algumas culturas – foi irônica porque não
conseguia evitar. Mas estava tentado ser paciente. Não o olhou novamente,
mas sabia que ele olhava para ela.

Ele continuou rindo porque era fácil irrita-la - Acha que combina com você?
– a pergunta era uma provocação - digo você não me parece tão doce assim
como o apelido que lhe deram, ou estou enganado? - ele sorriu de maneira
maliciosa.

Ela o encarou e se esforçou para não demonstrar sua indignação com aquela
provocação. Sentiu o coração acelerar, pois ele tinha uma expressão divertida
e debochada e a irritou. Tinha quase certeza de que ele sabia o que ela sentia
naquele momento - É, está enganado - respondeu de forma que daria entender
que aquele assunto estava encerrado. Já estava começando a desejar que ele
lhe desse alguma desculpa para sumir dali.

Morgan não queria encerrar o assunto assim como ela. Queria provoca-la
mais - quem te deu esse apelido, seu namorado? – ele sabia que começava a
perturba-la com aquilo e já contava seu batimento cardíaco, pois ele acelerou
quando perguntou - aquele do baile de máscaras, eu vi vocês dois juntos -
continuou - para ter um nome assim, teria que combinar com ele. E
provavelmente ele saberia por que, devendo ser doce como o mel. Eu por
outro lado, adoraria saber o gosto que você tem. Assim poderia julgar por
mim mesmo – concluiu dando um sorriso sedutor, mas aquilo tinha um duplo
sentido bem maldoso, porque se referia ao sangue dela e ela nem sabia.

Adriana parou no topo da escada e ele um degrau abaixo do seu quando ela
parou - você é sempre idiota desse jeito? - ela perguntou irritada – porque não
tenho paciência e você é já me irritou mais uma vez.
Ele endureceu seu olhar, mas mantinha o sorriso malicioso - tem uma língua
bem afiada, cuidado! – advertiu

Ela riu nervosa – devo começar a tremer? – rebateu a ironia - não vou te dar
linha, esqueci que você é meio maluco! - respondeu fazendo menção de
continuar a descer a escada.

Morgan impediu a passagem ficando a sua frente e bem próximo - é uma


linguagem muito grosseira para uma bela mulher, devo lhe ensinar boas
maneiras? - ele disse se aproximando mais, mas bem devagar.

Adriana o encarou indignada, achava aquela situação um absurdo - minha


linguagem é grosseira? Você é o que o fiscal do bom comportamento? Não,
não, você é um babaca, grosso, atrevido e sem noção. Às vezes acho que
você saiu de uma caverna qualquer ou é algum tipo de ogro mitológico -
disse tentando passar por ele indo para o outro lado, mas ele a impediu
novamente e ela o encarou zangada.

Ele a encarou desafiante – não sai de nenhuma caverna e ogros não existem –
a mediu de baixo a cima - agora sei o que meus amigos viram em você,
apesar de toda essa postura agressiva. Foi à beleza que os convenceu, não o
intelecto. Mas olhando bem de perto - Ele dizia ao mesmo tempo em que a
segurava pelos ombros e a empurrou devagar contra a parede de pedra para
deixa-la acuada - e apesar de todo o atrativo, você ainda não me convence –
disse aquilo com seu rosto bem próximo do dela.

Ela podia até sentir seu hálito doce de tão próximo que estava, ficou tonta e
sem reação por um momento. Morgan era totalmente sexy e provocante
apesar de irrita-la, despertou algo irracional nela e nem entendia por que. Não
sabia se olhava para seus olhos azuis ou seus lábios sensuais com aquele
sorriso malicioso. Parecia brincar com ela fazendo aquilo – uau! Quanto
floreio para chamar alguém de burra – debochou – e do que você está
falando? Meu atrativo? Te convencer? Não tenho que te convencer de nada,
seu doido – disse um pouco irritada e confusa por causa da proximidade.

Ele riu zombeteiro, mas mantinha os olhos presos nela. Agora ele olhava para
sua boca enquanto ela falava. Gostou da resposta que ela lhe deu, estava
adorando aquele duelo.

Adriana desviou os olhos dele e olhou em volta para avaliar suas opções de
fuga. Mas voltou os olhos pra ele novamente - Você é algum drogado? –
perguntou tentando se afastar novamente – me deixa passar agora – quase
berrou.

Ele riu ainda mais se divertindo com sua reação, pois ela não fazia idéia do
que ele era, e não demonstrava um pingo de medo - me acha um louco? -
perguntou pressionando seu corpo contra o dela - você não tem noção do que
eu sou - sussurrou quase que roçando seu nariz no dela. Havia começado
aquela provocação somente para se divertir as suas custas. Mas depois que
fez aquilo, começou a sentir um desejo enorme por aquela criatura acuada a
sua frente, a criatura que há minutos atrás ele desprezava. Queria seu sangue,
seu corpo, seus lábios, queria tudo. Talvez não conseguisse se controlar o
suficiente para resistir, porque ela estava tão perto, tão quente e zangada, que
era excitante demais para ele. Mas por outro lado, tinha algo que o fazia
resistir.

Adriana tentou clarear a mente e tomar uma atitude, mas ele pressionou o seu
corpo contra o dela e apoiou a mão direita na parede para impedi-la de sair
dali. E ainda a olhava nos olhos, ofegou um pouco devido à proximidade
provocativa e o magnetismo. E corpo dele pressionado no seu, fazia outras
sensações despertarem violentamente. Ele era puro sexo – sabia que posso te
processar por assédio? Eu vou gritar! – disse dando um sorriso desdenhoso,
mas sua voz falhou e quase não saiu.

Ele sorriu de maneira sarcástica – hum assédio! Seria assédio se você não
estivesse gostando. Pelas batidas do seu coração, sua voz ofegante, seu cheiro
e o jeito que me olha nesse momento, eu diria que despertei sensações
conflitantes em você - sussurrou enquanto inalava o perfume dos cabelos
dela, e percebeu quando voltou olhar para seu rosto, que ela quase teve um
colapso, pois realmente o desejava, podia sentir do quanto o queria. Não
conseguiu evitar outro sorriso provocador.

Estava perdida nos olhos azuis de Morgan, não conseguia parar de olhar para
ele - o que você quer? – ficou confusa com aquela situação. Ao mesmo tempo
em que sentia o perigo que vinha daquele homem, sentiu desejo por ele. Era
como se a tentação estivesse acompanhada do perigo e estivesse prestes a
ceder.

Morgan a encarou em silêncio, depois roçou o rosto dela com o seu e desceu
para seu pescoço, segurou seu queixo com a outra mão e a forçou encara-lo.
Viu confusão e desejo em seus olhos e gostou daquilo.

Adriana o encarou confusa e depois desafiante – se vai me beijar, beija logo,


ou me deixar sair daqui – provocou e viu suavizar a expressão dura e
maliciosa e seus olhos pareciam ardentes e sedutores. Quando ele acariciou
seu rosto suavemente, ofegou novamente. Ele era a criatura mais tentadora
que se deparara na vida, e nem sabia o porquê tinha dito aquilo pra ele. Que
diabos estava acontecendo com ela? Era uma mulher adulta, resolvida e
sempre soube controlar suas emoções.

Morgan sorriu quando ela lhe disse aquilo, mas não iria atendê-la. Queria
brincar com ela, pois quebraria aquele orgulho de dona da situação, ela fingia
que brincava com ele, sendo que na verdade o desejava mesmo que estivesse
irritada.

- Me solta! – Adriana sussurrou. Viu que ele olhava para sua boca como se
estivesse pronto para fazer o que ela desejava. Sentiu ele a pressionar ainda
mais, depois sentiu as mãos dele em seu quadril enquanto a puxava contra o
dele, e ele estava bem excitado.

- Não posso! – ele sussurrou voltando a olhar nos olhos.

- Por quê? – perguntou acompanhando os olhos dele para seu decote e depois
voltando a olhar para seus olhos. Sentiu uma das mãos subir por sua cintura e
estomago.

Morgan encostou os lábios no pescoço dela e subindo disse-lhe no ouvido -


não consigo! – A sentiu estremecer quando a pegou pelo quadril e a puxou
mais para si, estava adorando aquilo e mesmo que quisesse parar, não
conseguiria. Então retirou a mão e a pegou pelos cabelos e a beijou sem
pensar. Seguiu somente seu instinto, seu desejo.

Tentou empurra-lo e tirar sua mão de seu rosto, mas não conseguia. Ele era
inexplicavelmente forte e seus lábios eram totalmente irresistíveis. Era inútil
lutar contra aquele homem, então acabou retribuindo aquele beijo, pois
também era impossível lutar contra o desejo que sentia naquele momento.

Morgan desejava tanto possuir aquela mulher que se esqueceu de quem se


tratava e qual era seu propósito se não provar a Felipe de que ele estava
errado. E mesmo tendo lembrado daquilo de repente não conseguia frear seu
impulso, e não conseguia se afastar dela. Quente, terna, viva, tentadora, era
como brincar com o fogo o único elemento que poderia mata-lo. Iria arrasta-
la para o primeiro quarto que encontrasse e a possuiria como um selvagem,
invadiria cada centímetro daquele corpo e tomaria seu sangue e depois... e
depois? Ele pensou! Tentou achar o controle de seu instinto e parou o que
fazia devagar, controlando-se ao máximo, lembrando-se novamente de seus
motivos. Olhou confuso para aquela mulher que o fez perder o controle, e ela
estava ofegante ardendo de desejo. Tinha que deixa-la, mas suas mãos
teimavam em mantê-la presa contra seu corpo.

Adriana o encarava confusa, sentindo que poderia desmaiar a qualquer


momento. O que foi aquilo? Pensou. Nunca sentiu nada igual. Nenhum
homem que havia conhecido e se relacionado, havia conseguido despertar um
desejo tão forte. Não sabia o que lhe dizer, ficou desorientada por alguns
segundos. Só conseguia pensar que queria muito transar com ele, não
conseguia pensar em outra coisa.

Morgan estava se sentindo o louco que ela achava que ele era. Mas olhou
para os olhos confusos que o encaravam como se implorasse para fazer
aquilo, depois os lábios tentadores que havia beijado e pensou: somente mais
um beijo, e depois trataria de repreender aquele desejo para sempre. A pegou
de repente pelos cabelos da nuca, fazendo com que o encarasse novamente e
seus lábios apenas encostavam nos dela, mas ainda a segurava em seus braços
relutantes em se separar. Inalou o perfume de seus cabelos dela fechando os
olhos como se sentisse alguma dor, pode sentir seu sexo reclamar enquanto
exigia que o libertasse. Voltou a encara-la em silêncio e afastou-se de
repente, virou as costas e desceu as escadas com pressa.
Adriana ficou ali parada, sem reação. Nem sequer conseguiu olhar para ele
descendo as escadas. Respirou fundo para recobrar o folego, enquanto estava
apoiada na parede. Tinha que recuperar o controle de seus movimentos
novamente e parar de tremer – porra! - Xingou baixinho repreendendo-se.
Estava se sentindo uma idiota, por ficar em tal estado por causa de um
homem arrogante e extremamente irritante. Respirou fundo mais uma vez
antes de descolar da parede para saber se conseguia se mexer sem desabar no
chão. Quando se virou para descer, viu que Sophie estava parada ao pé da
escada, olhando na sua direção de forma preocupada. Se assustou com a
imagem da moça e ficou sem graça.

A moça disfarçou um sorriso - Monsieur Felipe mandou ver porque


demorava.

Adriana tentou se recompor antes de começar a descer as escadas. “merda!


Ela viu” pensava - sim! Já estou indo - respondeu sem graça. Ainda sentia as
pernas moles e o corpo em brasa e tremendo levemente. Quando conseguiu
descer todos os degraus olhou para Sophie – você? - disse se referindo ao que
tinha visto.

- Não se preocupe! – a moça respondeu depressa

- Obrigada! – disse ainda sem graça

- Agora precisa se recompor, pois eles a aguardam ansiosos - dizia enquanto


indicava o caminho.

“ansiosos!” - ok! – respirou fundo e seguiu em frente. Sophie não a


acompanhou, somente mostrou o caminho.

Adriana quase correu. Parou umas três vezes para se recompor, antes de
Isaiah aparecer no meio do caminho e conduzi-la até onde eles estavam.
Quando entrou no suntuoso salão onde ele estava, nem reparou nos ricos
detalhes de tão perturbada que estava. Felipe foi ao seu encontro, e quando
olhou para ele, de imediato ele percebeu que havia algo errado com ela, mas
sabia que ele disfarçava. “ótimo! Agora só falta me perguntar. E o que vou
responder? - Tipo, óh! Não foi nada, apenas seu amigo gostoso que me tarou
na escada” pensava consigo mesma quando sorriu pra ele com certo
embaraço.

Felipe não conseguiu evitar ouvir o que ela pensava e lançou um olhar severo
na direção de Morgan que estava na janela e o encarou de volta - venha
criança! – disse fingindo não perceber sua perturbação - sente-se perto de
mim – ele sorria de forma acolhedora.

- Desculpe a demora – Adriana desculpou-se olhando para Felipe, Miguel e


Diego quando esses se aproximaram juntando-se a eles. Viu que Morgan
também estava ali, mas disfarçou e tentou não olhar mais para aquele homem.

Miguel a analisou antes de sentar-se próximo a ela e de imediato percebeu


que havia algo de errado, o cheiro de Morgan estava nela. Olhou rapidamente
para Felipe e depois voltou os olhos para a moça - relaxe! – disse com um
sorriso – gostou de seu quarto? - despejou a pergunta muito rápido.

Ela sorriu um pouco desconcertada - amei! Muito obrigada – agradeceu,


depois olhou para Felipe - é incrível como sabem tudo sobre mim, é tudo tão
maravilhoso! Um pouco exagerado, tenho que dizer, e me assustei um pouco
– pode perceber o brilho nos olhos dele quando lhe disse aquilo.

- Perdoe o meu exagero! Mas fico feliz que tenha gostado! Todos nós –
Felipe disse com um sorriso largo e sincero.

Estavam sentados perto da lareira e Adriana não conseguiu evitar e olhou


para Morgan que estava em pé ao lado da janela, ele estava em silêncio
olhando a escuridão que se abatia do lado de fora. Não iria esquecer tão cedo
o que havia acontecido na escada, e quando ele voltou os olhos na sua
direção, disfarçou e olhou para a lareira sentindo seu rosto queimar. Mas
Diego parecia saber algo, e correu ao seu auxilio sentando-se no braço da
poltrona que ela estava sentada. E lhe disse – e então, minha escolha foi
aprovada? – Ele perguntou curioso, referindo-se as roupas.

Ela sorriu aliviada – ficaram perfeitas – respondeu com sinceridade


- Que ótimo! O que achou do castelo? – ele queria continuar a conversa, pois
percebeu que Morgan a olhava com olhos de predador e se preocupou. Ouviu
a discussão mental entre ele e Felipe.

- Achei o castelo maravilhoso, mas tem tantos corredores – disse relaxada, o


nervosismo havia sumido. Miguel parecia concentrado em algo, mas deu de
ombros.

Miguel ouviu claramente quando Felipe havia perguntado a Morgan o que ele
havia feito para deixa-la perturbada daquela forma, mas Morgan não
respondeu à pergunta dizendo para deixa-lo em paz. Seu irmão estava tendo
uma guerra interna e sabia o quanto ele se esforçava. Olhou para Adriana e
sorriu, não gostaria que seu irmão fizesse algo que a machucasse, não gostou
sequer de pensar naquela possibilidade. Começou a participar da conversar
entre ela e Diego, e não pararam mais de falar.

Felipe teve que dar o assunto por encerrado entre ele e Morgan, pois ele não
responderia suas perguntas. Mas pediu para que se controlasse e não
machucasse Adriana, pois atingi-la seria como atingi-lo diretamente.
Imaginou naquele momento que talvez respeitasse seu pedido, e tentou
relaxar naquele momento. Foi até uma vitrola antiga e muito bem conservada,
que ficava na estante ao lado de muitos discos de vinil, escolheu um e o
colocou no aparelho. Era uma musica clássica muito suave, gostava daquele
tipo de musica apesar de preferir o rock dos anos 70. Voltou-se para seus
amigos que conversavam com Adriana de forma animada. E sentando-se ao
lado dela, pode perceber o esforço que ela fazia para não olhar para Morgan,
que fazia um esforço sobrenatural para não olhar mais para ela - já pensou no
seu passeio de amanhã? - perguntou curioso

Adriana olhou para ele enquanto dava um gole no suco de laranja - já - ela
respondeu – mas antes preciso saber quando começo a exercer minha função
- essa pergunta fez até Morgan se virar para olhar a reação de seu amigo. E
em seguida olhou para o rosto luminoso da moça ao lado dele que o olhava
curiosa.
O diário

Felipe sorriu animado - antes de começar - ele dizia enquanto se levantava e


ia em direção a uma mesa de canto onde haviam três livros em cima. Pegou
um deles e voltou a se sentar na poltrona - gostaria que lesse isso! – disse
entregando-lhe o livro, que automaticamente atraiu os olhos curiosos de seus
amigos - vai saber tudo sobre nós. Nossos negócios, nossas vidas, tudo o que
precisa saber para trabalhar para esse clã.

Adriana olhava curiosa para o livro que lhe foi entregue - o que é um livro
caixa? - perguntou curiosa.

Felipe percebeu que aquilo deixou seus amigos apreensivos, e que olhavam
para ele em silêncio esperando por uma resposta. Os ignorou completamente
- Não minha criança, é um diário - respondeu com um sorriso.

Miguel e Diego olharam automaticamente para Morgan, que olhava para o


livro nas mãos da protegida de Felipe, e que depois desviou os olhos
apreensivos para eles.

Aquele diário continha todas a informações sobre eles, desde o começo. E


eles não sabiam da existência dele até aquele momento. Felipe o mantinha há
muito tempo e às vezes ficava horas escrevendo naquele caderno, e queria
que ela fosse a primeira pessoa a ler o que continha naquelas linhas. Esperava
que lendo seu diário, viesse a compreender e aceitar a verdade.
Adriana ficou curiosa com o conteúdo, e não parava de olhar para a ele
enquanto conversavam. Tinha a sensação de que iria descobrir muitas coisas
ali. Evitou os olhos de Morgan a todo custo, mas os sentia sobre ela a todo o
momento. E todas as vezes que o olhava disfarçadamente, encontrava seus
olhos e isso durou muito tempo. Quando se sentiu cansada demais para
continuar acordada, subiu para seu quarto acompanhada por Felipe que a
conduzia gentilmente até a porta, e lhe deu boa noite com um beijo na mão.

- Boa leitura! – disse-lhe antes de voltar pelo mesmo caminho

Ela agradeceu e fechou a porta atrás de si. Respirou fundo, e relaxou.


Finalmente estava longe dos olhos insistentes de Morgan! “delicioso
Morgan” pensou com um sorriso. Que noite louca! Pensou em ligar para seus
amigos e lhes contar tudo, mas desistiu. Lembrou-se da carta de Alex, mas
não tentaria ligar, pois desde aquele dia seu celular dele estava fora de área.
Pôs o diário em cima de sua cama, trocou suas roupas pelo pijama e foi para
o banheiro. Escovou os dentes e quando terminou e se olhou no espelho,
ouviu um barulho em seu quarto.
Caminhou apreensiva até a porta e entrou devagar olhando em volta se
deparando com Morgan parado próximo a porta do quarto e virando a chave
para tranca-la. Ela sorriu com malicia, mas disse – ta fazendo o que aqui? –
perguntou mais curiosa do que zangada. Mas ele não respondeu somente
avançou na sua direção e a agarrou com tudo, nem sequer um houve um
protesto de sua parte. Ele a pegou no colo e depois a jogou na cama.

Ficou em choque por um momento vendo o que ele estava fazendo e


imaginou o que ele faria em seguida. Gostou daquilo e se animou não
conseguindo disfarçar o quanto aquilo a deixou excitada, e o olhava como e
fosse algo de comer, e depois antes mesmo que viesse reagir, ele avançou e
arrancou-lhe toda a roupa deixando-a nua. Foi tudo tão rápido que apenas
deixou que acontecesse. sentiu os lábios e as mãos dele por todas as partes de
seu corpo e quanto mais gemia, mais ele se excitava e ofegava como um
animal, até arrancar as próprias roupas e possui-la como um selvagem. Sentiu
a pressão do sexo dele entre suas pernas, mas ele esperou que lhe desse
permissão para penetra-la, então ela soltou um - ah, por favor, continue! – em
meio aos gemidos. Não houve palavras carinhosas como a de um amante.
Mas gostou daquilo porque era exatamente o que queria, pois também o
desejava mesmo que não o suportasse, e deixou que acontecesse e a possuísse
loucamente.

Houve um momento estranho enquanto estavam atingindo o clímax, ele a


olhava nos olhos enquanto ainda estava dentro dela e sentiu-se tonta e com
mais tesão que antes. E quando ele lhe beijou o pescoço, sentiu uma dor
aguda no lugar que ele beijava e depois uns puxões doloridos e prazerosos,
que a fez gemer de dor e ter mais um orgasmo depois do primeiro que havia
tido. Depois sentiu que os puxões haviam parado e que ele a lambia seu
pescoço e gemia louco enquanto gozava mais uma vez. Depois de algum
tempo ele parou e controlava a respiração, enquanto acariciava seu rosto e a
olhava em silêncio. Depois se deitou ao seu lado e ficou olhando para o teto
voltando a respirar normalmente. Sentia-se satisfeita, muito satisfeita e
relaxada e olhava para ele sem acreditar que aquilo realmente havia
acontecido entre eles, então sorriu, pois havia sido a melhor experiência
sexual da sua vida – isso foi totalmente insano – disse quebrando o silêncio.
Ele somente sorriu em silêncio e ainda a encarava, passou a mão suavemente
em seu rosto e a beijou lentamente, em seguida saiu da cama.

Sentou-se recostada na cabeceira e puxou o edredom para se cobrir, olhou seu


pijama e sua lingerie no chão, ambos estavam aos pedaços. Depois voltou os
olhos para o homem vigoroso ao lado da cama e o observou vestir suas calças
e calçar os coturnos em seguida. Analisou os músculos poderosos das costas
largas dele enquanto ele se movimentava para calçar os coturnos. Nem
acreditava que tinha acabado de transar com aquele homem. O analisou por
mais alguns segundos e depois respirou fundo, mas de repente pensou:
porque ele estava agindo como se acabasse de comer uma prostituta? Só
faltava jogar as notas na cama antes de sair. Ficou um pouco irritada, porque
ele não falava nada. “que merda! Pensou. Acabei de fazer sexo com o cara
mais gostoso do mundo, e agora ele fica mudo” sentiu uma dorzinha no
pescoço de repente e passou a mão no local, mas não havia nada, achou
estranho!- então... – disse quando ele se virou e sentou-se ao seu lado,
esperou que dissesse algo – vai falar al. - ele a interrompeu com um beijo
ávido e depois a fitou.

Morgan deu um sorriso malicioso - é deliciosa, mulher! – disse vendo a


reação de contentamento que ela tentava ocultar por trás da expressão
confusa. Aquela humana era a coisa mais deliciosa que havia experimentado
em toda a sua existência, nos dois sentidos. Era melhor do que havia
imaginado e estava sendo difícil se afastar dela, mas tinha, pois não queria
que Felipe o caçasse como um louco porque se achava o pai dela.
Tinha que admitir que seria muito difícil conviver com ela naquele lugar, sem
poder toca-la novamente – maldição! Não devia tê-la tocado - blasfemou e
ela arregalou os olhos para ele como se estivesse pronta para usar o
vocabulário que sempre usava quando estava possessa. Mas a beijou mais
uma vez, antes que começasse a xinga-lo. Depois encarou os olhos castanhos
daquela mulher que já estava perturbando sua cabeça – não irá se lembrar de
nada do que aconteceu entre nós essa noite, apenas que foi um sonho. Vou
sair do seu quarto e você tomará um longo banho e fará o que havia planejado
que faria essa noite – disse devagar segurando o rosto dela entre suas mãos,
vendo que havia surtido efeito, pois ela o encarava com os olhos vidrados e
distantes.

Lamentou por fazer aquilo, mas fez. Nunca mais a tocaria novamente, pensou
consigo. Pegou os pedaços das roupas dela que havia rasgado, foi até o
banheiro pegou o roupão dela e o depositou estrategicamente em cima da
cama. Afastou-se e saiu do quarto fechando a porta depois de olhar para ela
sentada na mesma posição e com o olhar fixo para o nada.

Adriana sentiu um frio percorrer seu corpo e levou um susto, pois estava nua
e enrolada no edredom, ficou confusa com aquilo. Não lembrava por que
estava ali e daquela forma. Olhou ao redor como se procurasse por algo que a
fizesse lembrar o motivo que a fez se despir para dormir, porque nunca
dormia sem roupas. Viu seu roupão em cima da cama ao seu lado – não me
lembro que iria tomar banho! Será que peguei no sono? – suspirou pensativa.
Vestiu o roupão, e fez um movimento para sair da cama e sentiu uma dor leve
entre suas pernas, uma dor típica de quem acaba de fazer sexo depois de
alguns meses sem fazer – mas... - disse confusa abrindo as pernas e tocando-
se quando sentiu que estava úmido demais. Olhou para seus dedos,
comprovando que aquela quantidade se daria apenas se houvesse acontecido
o ato em si, estava lembrando-se de algo estranho e olhou para sua cama
novamente – não é possível! – disse incrédula. Estava com a sensação de que
tinha acabado de fazer sexo com alguém, porque havia vestígios daquilo nela.
Olhou em volta um tanto assustada e confusa – o que aconteceu? – disse
confusa e pensou, não! Ninguém havia entrado ali e também não tinha um
vibrador, e porque estava com aquela sensação? Sacudiu a cabeça e foi para o
chuveiro, ficou um bom tempo debaixo do jato de água tentando lembrar o
que havia acontecido com ela, mas não conseguia. Saiu do chuveiro, vestiu
seu roupão e voltou para o quarto. Pegou o diário de Felipe e sentou-se na
cama. Sentiu um perfume diferente do seu subir quando se sentou, era fraco,
mas era bom. Deu de ombros – to ficando maluca! - abriu o diário e pôs-se a
ler.
Outubro

Dia 6

O mar esta agitado. Recebi uma grande quantia em moedas de ouro de um


romano que gostaria de seguir viagem em meu navio. Nunca carregaria um
entranho muito menos um romano. Sou filho bastardo de um general
romano, treinado e criado por ele depois de me tomar da minha mãe, uma
bretã originalmente celta.
Tornei-me um corsário, não um filantropo. Estamos voltando para casa,
para as terras de minha mãe, para Bretanha. Não vejo a hora de ver minha
família, minha esposa Claudia e minha pequena Lucia.

Dia 8

Passaram-se dois dias, e ainda não vi aquele romano com aparência doentia,
desde que subiu a bordo do Escarlate. Bati em sua porta hoje cedo para lhe
dar o desjejum improvisado, mas não me atendeu. Não insisti, pois tenho
outros problemas com meus homens. Eles sofrem! Metade da tripulação
sofre de algum mal que os empalidecem e os fazem emagrecer e secar até
morrer. Impressionante! Pois há dois dias gozavam de excelente saúde.
Nunca vi bárbaros acostumados nas arenas morrerem por doença alguma! A
maioria dos serviços está fazendo sozinho. Meu imediato, também está de
cama.
Dia?

Acordei em um lugar frio e úmido que era iluminado por uma vela. Estranho
que meus objetos pessoais, inclusive meu diário estejam comigo nessa
prisão. Não tenho a mínima noção de que dia é hoje. Sinto uma dor
lancinante em meu pescoço e pulso, tem uma espécie de corte. E agora que
estou aqui escrevendo, e clareando minhas idéias, depois de ficar horas
gritando por ajuda e ninguém aparecer, lembrei-me de que estava sozinho no
convés, quando fui atacado por aquele viajante que tinha um olhar
ensandecido, ele parecia um animal louco, pois me mordeu. Sinto-me muito
fraco. Escrevo devagar, pois minhas forças estão minando.

Adriana começou a se interessar mais pelo que lia. Chegou até pensar que
seria um livro de terror e suspense. Então continuou sua leitura.

Ele me olhava! Seu olhar era de um alucinado e me deu medo. Lutei! Mas
devido minha fraqueza, ele me dominou. Parecia ter a força de dez homens
apesar da aparência frágil, pois sugava o que sobrara de minha vida. Depois
de alguns minutos senti o gosto acre em minha boca. Deu-me uma gota,
apenas uma gota de seu sangue. E disse-me que com aquilo eu viveria muito
tempo. Não faço idéia de quanto tempo se passara até aqui, mas parece que
estou aqui há séculos, acho que se não houvesse esse diário eu
enlouqueceria, é estranho que ele tenha pegado o meu diário e deixado
comigo. Isso parece um pesadelo horrendo! Será que Claudia sabe o que
aconteceu? Será que minha pequena Lucia está bem?

Ele me soltou de meu calabouço, ainda estava amanhecendo. Deixou comida


e vinho para saciar minha fome, mas não o vi durante o dia. Ele sumiu!
Andei por todo o lugar fétido e sujo. Tentei encontrar um meio de escapar,
mas foi inútil. Todas as janelas e portas eram revestidas com grossas grades
de ferro e fora trancada por fora. Maldito seja aquele demônio! Andei por
todos os cômodos ricamente decorado com moveis intocados e coberto por
uma grossa camada de poeira. Encontrei um salão onde havia milhares de
crânios. Vomitei devido o cheiro de carne podre que ainda pendiam de
algumas cabeças. Ele se alimenta do sangue de inocentes. Que tipo de
bruxaria ele usa? Que criatura demoníaca é essa? Tenho que encontrar
algo que eu possa mata-lo, tenho que descobrir seu segredo imundo.

Encontrei uma sala com um altar que continham dezenas de cabeças


humanas, rodeadas por velas postas em pratos com sangue, e em volta deste
altar haviam símbolos desenhados no chão, eram marcas sulcadas por algum
instrumento perfurante que deixou aquelas marcas. Na mesa encontrei um
livro que dizia bem o que ele era e também falava sobre o fogo. Nascido de
parto seco, filho do filho de alguma entidade que não entendi o nome, com o
dom de evocação e dominação, e o sangue é o alimento que o mantém vivo,
jovem e forte. Mas precisava ser sangue humano para que se concretize o
seu intento. Nenhum ferro, metal, cobre, ouro poderia mata-lo. Mas a prata o
fere e o fogo o mata.

Depois de meses de tortura sem fim. Hoje é o dia em que me vingarei dessa
besta emergida do inferno. Preparei o óleo e deixei a lareira alimentada.

Eu o matei! O peguei de surpresa. Enquanto ele sorvia o pouco do que me


restava. Meti o atiçador em seu peito, e o imobilizei. Fiz um corte em sua
jugular com o punhal e tomei de volta o que me roubara de tanto ódio que
senti daquele demônio, agi como um louco, um animal descontrolado e
vingativo porque bebi grande quantidade de seu sangue. Mas ele mesmo se
debatendo ria, mas não conseguia sair dali. Então ateei fogo em seu corpo
até ele virar apenas cinzas. A criatura era tão bestial, que mesmo queimando
e gritando de dor, ele gargalhava e dizia “está marcado para sempre”.
Nunca soube seu maldito nome, proscrito do inferno.

Agora eu entendo o motivo de suas gargalhadas. Eu não sabia o efeito que


me causaria quando tomei seu veneno. Agora sinto tanta dor, que não
consigo sequer respirar direito... dor...eu sinto uma dor insuportável. E antes
que eu morra, espero que alguém encontre meu diário junto aos meus restos,
e compreenda o que me matou. Deve haver mais desses filhos da perdição
espalhados pelo mundo.

Quando Adriana virou a pagina amarelada e frágil com cuidado, parecia que
havia se passado muito tempo até ele voltar a escrever novamente.

Sou um vampiro! Um maldito assassino igual àquele que me roubou a vida.


Por mais que eu tome a vida de outras pessoas, mais eu quero. Tornei-me
algo vil, sem controle e com uma sede sem fim. Vivo da noite, pois o dia pode
me destruir. Mas ainda não perdi minha razão, pois ainda posso escrever
para amenizar minha dor e tentar ter alguma sanidade. Tenho vivido
escondido em tumbas antigas e fétidas, onde nenhum humano vai visitar os
entes que os deixaram. Quando a noite começa a cair, saio rumo às cidades
cheias de vida e do alimento que me mantém aqui. Não faço idéia de que
maldição é essa. Mas sei que com ela vem à força a velocidade, o
magnetismo, e o poder de controlar a mente humana e de animais, a
superinteligência, a violência e a solidão.

Demorei em lembrar quem eu era antes de ser o que sou agora. E quando me
lembrei de entrei em pânico. Um desespero sem fim me dominou. Fui atrás
da minha família, mas elas não estavam mais lá, somente o cheiro que me
lembrava delas. Havia se passado tempo demais e Claudia morreu dois
meses depois de receber a noticia de que o Escarlate afundara e não deixara
sobreviventes. Morreu de tristeza! Era insuportável saber que minha doce e
amada esposa morrera. Mas não se comparava a dor de perder minha
pequenina Lucia. Havia sido levada para ficar com os avós maternos em
Roma, mas no caminho pegara uma doença incurável que afetou seus
pulmões e morreu. Deus! Como aquilo foi insuportável. Quando não havia
mais lágrimas, somente a dor e a tristeza tornaram-me uma criatura cruel e
cacei os humanos, até outros como eu começarem a me caçar.

Valérius me caçou e me poupou a vida. Ele é o rei dos vampiros, nessas


terras! Existem códigos, éticas e leis para essa condição em que estou.
Vivemos em um mundo paralelo aos humanos e estamos no mesmo lugar,
mas não nos percebem, pois passamos despercebidos. Eu era um humano
tempos atrás, e nunca suspeitei até um vampiro me encontrar. Minha
sentença foi à absolvição, por não conhecer esse mundo. E pelo fato de não
conhecer nada, o grande rei Valérius me ensinou como deveria viver e evitar
os guerreiros do grande Davi. Devido o meu talento como corsário e como
um grande guerreiro, cuido do herdeiro do trono vampírico, seu nome é
Morgan Drako. Uma criança prodígio, nascida do ventre de uma humana
que morreu quando ele completou cinco anos. Sua força é cada vez maior,
ele aprende rápido. Estou orgulhoso! Pois está crescendo muito forte.
Quando encontramos Miguel ainda bebe, soube que esse também ficaria aos
meus cuidados. Ele foi mais lento, pois nunca tomamos sua vida humana,
mas é muito inteligente e ja é um homem, e a pouco se tornara um de nós. É
como se fossem meus próprios filhos, eu os vi crescer e tudo o que o meu
líder me ensinou, repasso a eles. Não gosto da palavra vampiro, embora o
sangue seja nossa única fonte de sobrevivência.

Adriana lia tudo como se fosse engolir o diário, leu várias passagens escritas
por ele. Anotações de ensinamentos de luta com espada, que foram ensinadas
para Morgan e Miguel sob sua tutela. Mencionou Diego mais a frente, mas
várias vezes. Dizendo que Morgan fora descuidado transformando-o. E
depois dizendo que Diego tinha uma habilidade incrível com a espada e que
tinha a persuasão de um demônio sobre os humanos quando queria. Isso ela
ficou pensando, ele tinha mesmo! Não achou que aquela era a verdadeira
história de seus anfitriões, apenas uma estória que os usavam como
personagens e que Felipe enganou-se dando outro tipo de livro. Leu que eles
haviam sido nomeados os guardiões da aliança, e contou em detalhes como
essa aliança fora criada. Mencionou as pessoas que fizeram parte dela e a
criança herdeira da espada forjada pelo Arcanjo Miguel.
Leu sobre a chegada de uma guerreira que se chamava Helena, junto com sua
comitiva de guerreiros e amigos. Ele ressaltou a parte que falava da beleza,
força, determinação e coragem. E a parte “era uma grande guerreira” foi
mais destacada.
Ficou mais interessada quando ele mencionou o romance entre ela e Morgan
e sua morte. Até respirou fundo quando leu essa parte. Pois era cheia de dor,
por seu amigo.
E continuou

Ela simplesmente conseguiu matar Tyros. Uma façanha que ninguém


conseguiria. Cumpriu sua missão, entregando sua vida para isso. Salvou a
muitos, mas não a si mesma do desespero. A corajosa Helena se foi! Com ela
nossas esperanças, com ela a aliança também se fora. Os ciganos nos
querem longe e Morgan está desolado, desesperado, com ódio. Renunciou o
trono após a morte de seu pai. E a morte de sua amada lhe trouxe uma
tristeza sem fim. Lamento por meu amigo, pois ele deseja morrer, posso
sentir. Isso me preocupa! Ele busca por sua morte todos os dias, mas não
encontra maneiras de concretizar seu feito. Não pode morrer facilmente.
Chega ser insuportável vê-lo sofrer. Não sei quanto tempo isso pode durar,
mas sei e entendo a dor que ele sente. Helena se entregou a morte e levou
consigo o fruto desse amor e da guerra.

Morgan desapareceu! Não o encontramos em parte alguma. Na verdade, ele


não quer ser encontrado. O povo de Helena partiu da Bretanha. Mas sei
para onde estão indo, pois sinto que essa guerra ainda não acabou, e que a
qualquer momento um herdeiro ou herdeira irá surgir. Sei que nossos
inimigos se multiplicam como ratos de esgoto. Pois sumiram, mas deixam
seus rastros onde passam.
As cinzas de Helena foram enterradas aqui e sua espada entregue aos
ciganos novamente. Os únicos que poderiam guardá-la e protege-la, assim
como ela gostaria que fosse. Não temos mais aliados e tudo não é mais como
antes e o príncipe ainda chora.

- O príncipe ainda chora! – repetiu em voz alta para ela mesma e ficou ali
pensando. Ligando os nomes as pessoas. Não seria possível! Que história
bem elaborada. Ela fechou o diário, depois de marcar a pagina o colocou no
criado mudo ao lado da cama. Cobriu-se, apagou a luz do abajur e tentou
adormecer, mas ainda estava com aquela sensação de que havia feito sexo
com alguém. Acabou adormecendo.
Minutos depois de Felipe deixar Adriana em seu quarto, voltou para o salão
de visitas para juntar-se novamente com seus aliados. Nem bem entrou no
salão e ja se deparou com os olhos acusadores que os encaravam.

- O que pensa que está fazendo? - Miguel estava contrariado - tem um diário?
- disse se aproximando de Felipe que o encarou com paciência

- Sim! – respondeu

Morgan também se aproximou - espero que saiba o que está fazendo! - disse-
lhe

- Sim! Eu sei exatamente o que estou fazendo - respondeu - ela vai achar tudo
um absurdo! Vai rir pesquisar, ligar uma coisa a outra - ele dizia de forma
como se soubesse exatamente os passos que ela daria.

- Vai nos odiar! – disse Diego sentado em sua poltrona perto da lareira.
Temia que ela descobrisse a verdade sobre eles. E de repente se pôs de pé e
foi na direção de seu mentor - ela vai fugir de nós. Irá nos temer! - estava
mais contrariado que Miguel.

Felipe o encarou com a mesma paciência - talvez! Mas não acredito que seja
por muito tempo. Ficará mais curiosa do que com medo! - respondeu
analisando o grau de perturbação de seus amigos.

Morgan o olhava incrédulo - você não sabe o que diz! Está obcecado com a
idéia de tê-la por perto. Ela não é a sua filha! – seus olhos eram frios naquele
momento.
Felipe agora endurecera sua expressão - você está enganado, alteza! – disse-
lhe - não penso assim. Sabe os meus motivos, os quais deveriam ser seus
também – rebateu.

Morgan ficou a sua frente e o encarou irritado – Espero que se responsabilize


com as conseqüências que isso vai trazer! - Advertiu

- já não me responsabilizo por tudo? Fique tranquilo que ela é meu problema
– Felipe rebateu

- O que tem no diário? - Morgan perguntou curioso

- Tudo! – ele foi direto

- Contou tudo, tudo sobre o clã? - sua pergunta parecia vacilante

- Tudo alteza! – respondeu Felipe percebendo que sua dor voltara

- Porque me tortura com essa história de que ela é a herdeira de Kaimel? -


Morgan baixou os olhos contrariados e apertou os punhos junto ao corpo.

Felipe o analisou por um instante, sentiu empatia por ele - está na hora de
superar, Morgan! Você é o nosso líder. Você nasceu para liderar. E um líder
não foge de suas responsabilidades - dizia ao tocar com firmeza em seu
ombro - Ela é quem é esta mais que provado, e você sabe bem disso! Sabe
por que sentiu – agora dizia bem próximo ao seu ouvido - e não somos os
únicos, a saber, disso! – disse-lhe atraindo sua atenção silenciosa.

Diego e Miguel olhavam para eles. Morgan os olhou como se procurasse


achar em seus olhos a mesma esperança que Felipe. E a encontrou. Eles
também acreditavam na mesma coisa. E encarou seu velho amigo novamente.
- Espero que esteja certo disso! – disse

Felipe sorriu para ele - Estou! – afirmou. Viu seu amigo se afastar dali às
pressas e com raiva.
Capitulo 9

A revelação, o medo e a verdade.

Teve um sonho conturbado e estranho, onde havia tido uma noite de sexo
intenso com Morgan, e havia gostado. Mas o sonho foi interrompido assim
que ouviu passos no quarto, se deparou com a claridade que vinha da sacada.
Viu Sophie pegando suas roupas e botas do chão.

- Bom dia Milady! – disse a moça sorridente.

Ela olhou para seu relógio no pulso e sentou-se sobressaltada na cama -


nossa! 11 da manhã! – pulou da cama e correu para o banheiro para suas
necessidades matinais, depois ligou o chuveiro e de lá mesmo conversava -
eu iria levantar cedo! Diego prometeu me mostrar às imediações do castelo. –
dizia

Sophie balançou a cabeça contrariada com o que ouvia. E enquanto estava


arrumando a cama de Adriana sentiu um cheiro peculiar e irreconhecível -
está chovendo milady! – disse-lhe - terá tempo para fazer o que quiser depois
- continuou enquanto arrumava sua cama. Estava preocupada com a moça,
pois ela não fazia ideia de onde estava metida. Viu três gotas de sangue no
lençol, achou estranho e respirou fundo preocupada.

Adriana tomou uma ducha rápida, e enquanto estava debaixo do chuveiro


sentiu dores no corpo como se houvesse feito esforço ou transado, pensou.
Abandonou aquela idéia e escovou os dentes. Estava frio. Então se meteu em
uma calça jeans, e uma blusa de lã grossa larga e comprida, calçou suas botas
com sola emborrachada e baixas. Fez um muxoxo quando olhou pela sacada -
a garoa está fininha, mas insistente. Como chove por aqui - disse com
decepção na voz

- Mas é passageira. Logo o sol voltará - Sophie tentou anima-la - vamos! –


chamou a moça - Marie fez alguns wafes maravilhosos para você.

Adriana sorriu para a moça que estava sendo gentil e atenciosa com ela -
Sempre tomo café sozinha! – reclamou enquanto já desciam as escadas. Mas
lembrou-se do diário e voltou correndo pelo corredor, voltando em poucos
minutos com ele nas mãos - o diário, quer dizer o livro de Felipe! – disse a
Sophie

- Livro? - perguntou a moça de forma especulativa - sobre o que é? -


perguntou

- Vampiros! - disse vendo a expressão da moça endurecer, mas deu de


ombros.

Quando entraram na cozinha. A cozinheira se virou afoita e a cumprimentou.


E os outros que estavam à mesa tomando um cafezinho levantaram-se para
sair, depois de cumprimenta-la.

- Não! – Adriana disse quase rindo - por favor, fiquem! - insistiu vendo a
reação sem graça deles enquanto relutantes sentavam-se novamente em seus
lugares.

- Não vai comer no salão de refeição senhora? - perguntou Marie com a


bandeja na mão.

- Sozinha? – Adriana disse - nem pensar! Ficarei aqui

Todos a olhavam de forma animada e curiosa.

Isaiah entrou na cozinha logo em seguida e olhando para todos de forma


inquisidora. Virou-se para Adriana - poderá to mar seu desjejum no salão se
preferir - disse-lhe de forma sugestiva já indicando o caminho – desculpe-me
por não ficar por perto, mas tenho outras coisas para organizar. Vou resolver
alguns assuntos agora e volto por volta da 16hs, mas todos ficarão a sua
disposição – disse desculpando-se.

Um a um, os funcionários foram se dispersando. Menos Sophie, Marie, a


cozinheira e suas ajudantes.

Adriana olhou para ele impaciente - tudo bem Isaiah, sei que é bem ocupado
– respondeu - odeio tomar café sozinha. Poderia pelo menos toma-lo comigo
aqui? – pediu.

Ele sorriu de forma acolhedora - já tomei meu café – respondeu

Ela havia levantado tarde e ficou sem graça – perdi a hora – disse sem graça

Ele alargou o sorriso e sussurrou – não se preocupe! Pode fazer o que quiser
aqui –piscou e saiu em seguida. Parou no meio do caminho como se houvesse
lembrado de algo e voltou - a propósito, temos uma biblioteca vasta neste
castelo e como está chovendo muito, talvez queira passar algumas horas
agradáveis lendo - sugeriu.

Ela o fitou quando mordiscou a torrada com mel - claro! Estou lendo o livro
que Felipe me emprestou! - respondeu com outro sorriso delicado, e deu uma
tapinha na capa do diário.

Ele olhou para o diário em cima da mesa, franziu o cenho preocupado. Não
aprovava a maioria dos exageros que Felipe tinha em relação a ela - claro! –
ele sorriu - Marie é mais antiga aqui e lhe mostrará a biblioteca após seu café
- e saiu

Ela praticamente devorou café da manhã e seguiu Marie até a biblioteca. A


moça acendeu a lareira enquanto Sophie colocava uma garrafa com vinho e
uma taça em cima da mesa de mogno escuro e saiu sendo seguida por Marie.

Adriana andou pela biblioteca dando-se conta do quanto era grande e bem
equipada com milhares de livros. Olhou vários deles e em várias línguas as
quais não conseguia traduzir. Depois se sentou na aconchegante poltrona
vermelha em frente à lareira, recostou e retomou sua leitura. Abriu a página
marcada.
Adormecemos por muito tempo. Tivemos que faze-lo, regra natural de nossa
natureza. Não morremos ou adoecemos, e nos regeneramos em uma
velocidade impressionante. Porém, de tempos e tempos, temos que nos
recolher para um lugar seguro e deixar o mundo dos humanos por um tempo.
Quando acordamos estávamos mais fortes e mais sedentos. Morgan estava
aqui nos esperando. Uma era diferente das outras em que vivemos tudo era
novo, tivemos que nos adaptar ao novo mundo, então evoluímos com os
humanos. Quando acordamos, muitos já não estavam mais entre nós. Foi
desolador! Nona se fora, estava velha demais. E até Stefan sucumbira ao
mundo dos humanos de forma cruel, caçado e morto pelos guerreiros de
Davi. Adaptamos-nos, aprendemos sobre seus novos hábitos e tecnologias.

Sinto que Morgan não suporta ficar aqui. Ele foi embora novamente, e desta
vez não o seguimos. Pois podemos nos comunicar mesmo a distância agora.
Ele nos deixou tomando conta de tudo, enquanto ainda tenta encontrar o
remédio para sua dor sem fim. Investimos em todos os tipos de negócios,
alguns até inescrupulosos posso dizer. Triplicamos a fortuna de nosso clã.
Agora somos somente quatro, os quatro guardiões da aliança quebrada.

Fiz uma investigação delicada sobre a família das irmãs de Helena. Tomou
um tempo considerável, mas tive ajuda de Miguel e Diego. Soube que eles
migraram para a França. De lá foram para Roma, Espanha, Portugal e
agora Brasil. Conheci os novos descendentes. Pessoas interessantes. Claro
que desconhecem tudo, nem sonham com história de seus antepassados. Eles
parecem seguir os velhos instintos herdados por Kaimel, pois a maioria dos
agora Argolos são ciganos.

Passou-se muito tempo desde os ciganos. Segui uma família no Brasil, país
insuportavelmente quente, uma temperatura sufocante até quando cai à
noite. O qual a maior parte do tempo, fico recluso, pois o sol em alguns
lugares é escaldante e o calor insuportável. Um dos últimos descendentes
dos ciganos teve uma Familia muito numerosa. E entre tantos filhos, vi uma
menina que me lembrava de Helena, somente lembrava seus traços.
Acompanhei seu crescimento e as peculiaridades daquela Familia numerosa.
Quando a menina se mudou de cidade e casou-se com um homem muito
interessante de nome José, passei a observar mais. Eu sabia que seria
através daquele casal, que um herdeiro ou herdeira da espada surgiria.

Quando Adriana leu aquela parte em particular, suspirou e começou a ficar


tensa. Era o nome de seu pai, e parecia que falava de seu avô materno antes,
pois mencionara seu sobrenome “Argolo” era seu sobrenome do meio. Era o
nome de sua bisavó que coincidentemente era cigana.

Logo me aproximei de José e contratei seus serviços para uma casa alugada
em São Paulo, sua cidade. Tornamos-nos amigos. E não demorou em que lhe
revelasse meu segredo o qual ele mostrou-se muito compreensivo e
prestativo em me ajudar. Contei-lhe sobre os herdeiros de Kaimel, e que
sentia que a segunda criança que sua esposa esperava era uma menina a
verdadeira herdeira e ele não aceitou muito bem. Pareceu nervoso com isso,
chegou a me ameaçar com sua arma de fogo, mas percebendo que não
funcionaria comigo, acabou entendendo.

Eu a visitei no berçário do hospital sem que ninguém me visse. Pude sentir


sua força! Ela é a herdeira sem duvida. Ela cresce e eu a observo sem que
ninguém saiba. Quando a meu pedido, seu pai a trouxe para que pudesse vê-
la me emocionei ao olhar para ela. Tudo nela lembrava-me minha pequena
Lucia. Tão inocente! Seus olhinhos curiosos percorriam tudo a sua volta. Ela
adorava correr por entre as árvores ao lado do estábulo, os cavalos a
deixaram encantada. Quis lhe dar um, mas seu pai disse-me que não saberia
como explicar o animal, para a esposa.

José nega qualquer ajuda, mas o ajudo mesmo assim. Outro dia ele me fez
jurar que cuidaria dela, caso lhe acontecesse qualquer coisa. Não entendi o
motivo de tanta agitação, e por outro lado não procurei saber, pois estava
obcecado em cuidar daquela criança. Logo ele caiu doente e foi
hospitalizado, tão jovem e forte, não entendi o que poderia ter acontecido a
ele, talvez os excessos. O visitei no hospital, e antes que viesse a falecer me
fez prometer novamente! Fez-me jurar que seria o protetor dela. Mas que só
interferisse quando ela já fosse adulta o suficiente para que não viesse a
enlouquecer. Entregou-me uma carta, para comprovar a veracidade de nossa
ligação.

Ele se foi!
A vigio, a protejo a influencio mentalmente. Ela cresceu se desenvolveu, e
tornou-se uma bela mulher. Mas demora a amadurecer. Agora aguardo até
que ela esteja pronta. E quando isso acontecer, a trarei para debaixo de
minhas asas. Se Morgan a visse!

Falei com ela na boate que já era nossa, e ela acredita que a compramos. É
forte, decidida e muito desconfiada de tudo e todos, mas muito segura de si.
Aquele humano Alex foi muito útil ao tornasse seu amigo a atraindo até nós.
Mas o humano fugiu correndo para o clã de Melked atraído por Marguerite.

Ela está aqui! Agora podemos finalmente intervir em sua vida. Treina-la e
deixa-la forte. Prepara-la para ser melhor que Helena.

Aquela foi à última página.

Adriana fechou o diário, sentiu um frio passar por sua espinha e sua carne
estremecer. Só de pensar em tal possibilidade, a deixava em pânico. Não!
Não poderia ser verdade. Vampiros não existem! Não existem! Pensava.
Passou as mãos pelos cabelos e pôs-se de pé, olhando para a lareira que
crepitava. Deixou o diário na poltrona, foi até a mesa de mogno abriu as
gavetas, procurando vestígios de que o que ele contava em seu diário era real,
depois parou de fazer aquilo como se sua atitude fosse absurda – Isso é
loucura! – disse a si mesma. Olhou para a gaveta novamente e quando esticou
sua mão para tocar o puxador, ela tremia. Puxou a gaveta com tudo, tirando-a
do lugar fazendo com que as coisas que estavam dentro caíssem no chão.

Viu um envelope grande e pardo. O pegou, despejando seu conteúdo na


mesa. E viu o que não queria ver. Centenas de fotos suas, bebe, criancinha,
adolescente em várias fases, adulta, e em Londres. Deixou-se cair sentada na
cadeira, estava perplexa. Começou a sentir seu coração acelerar e sentir que
sufocava em seu desespero enquanto olhava aquelas fotos. Não poderia ser
verdade! Não era verdade! Pegou o envelope novamente e viu seu nome
escrito nele, o sacudiu novamente e caiu um pequeno envelope amarelado de
dentro dele. Olhou e hesitou antes de pega-lo, imaginando o que poderia ser.
Estava tremendo quando o pegou, e também havia seu nome escrito em um
garrancho que reconheceu quem deveria ser o autor.
Não o abriu de imediato. Pensou que aquilo era uma brincadeira de muito
mau gosto, muito cruel! Quem eram aqueles homens que a tratavam cheios
de gentilezas, presentes e sorrisos gentis? Que eram ricos lindos e inebriantes
como aquele que a beijou? Como era possível? Vampiros não existem, ela
balbuciava e olhava em volta sem saber o que fazer. Ficou ali olhando
aquelas fotos e o envelope fechado na sua mão durante alguns minutos.

Soltou o envelope lembrando-se do que Diego havia lhe dito algumas noites
atrás em Yorkshire “temos várias citações sobre vampiros em nossa
biblioteca na Escócia” ou algo parecido, pensou. Começou a vasculhar a
biblioteca atrás dessas informações, mas estava agitada demais e lia o que
conseguia entender sem ter o cuidado de devolvê-los ao seu lugar tamanho
era sua perturbação, somente os jogava no chão. Foi para o computador
procurar na internet sobre lendas, acontecimentos recentes, e achou em um
site de coisas bizarras algo sobre desaparecimentos sem explicações e corpos
drenados, e também falava sobre um ataque contra um grupo de quatro
amigos e a morte de três deles em Londres e havia o depoimento do único
sobrevivente. Ele dizia que tinha a certeza de que o que os atacou tinha sido
um vampiro e que dois de seus amigos tinham sido totalmente drenados na
sua frente. Entrou em pânico quando reconheceu quem era o tal rapaz, e
lembrou-se dos rapazes que arrumaram encrenca com ela na boate – MEU
DEUS! - Se afastou da mesa com a mão na boca para abafar um grito. Depois
correu até a porta e a trancou, afastou-se dela olhando-a enquanto tremia
compulsivamente, como se algo fosse entrar por aquela porta e pega-la.
Voltou até a mesa e olhou para o envelope amarelado como se fosse um
bicho. E quando teve coragem o pegou rasgou a lateral e começou a ler a
carta.
Agosto de 1984.

Minha filha,

Não sei como essa carta a encontra. E se está em suas mãos quer dizer que
está pronta e que Felipe cumpriu com o prometido. Sei que minha ausência
em sua vida não será fácil e não estava em meus planos morrer tão cedo.
Tinha tantas coisas planejadas para essa Familia, tanta coisa para dizer e
que não foram ditas, tantas coisas a lhe ensinar. Mas infelizmente sofro de
um mal que em breve me levará. Mas quero que saiba que me arrependo do
sofrimento que causei a sua mãe e seus irmãos. Amo-os profundamente, mas
tive dificuldades em demonstrar meu amor.
Peço que entenda o motivo dessa carta. Você é a herdeira de um destino
selado e escolhido por Deus, e que eu ainda acho cruel e não consigo
aceitar. Mesmo que você tenha se perdido um dia, sei que achará o caminho
de volta para o que estava guardado para você. Felipe cuidará disso eu
tenho certeza, confie nele porque ele pode te proteger. Embora seja quem é e
o que é não cabe a você julgar. Estou partindo, mas deixo todo meu amor a
você, sua mãe e seus irmãos.

José

- O que é isso? – Adriana disse confusa com as mãos na cabeça e olhando em


volta. Depois ela caiu de joelhos. Chorou! Chorou! Como aquilo a magoava.
Por que faziam aquilo com ela? Por que tocavam em sua ferida que levou
anos para se fechar? Por que queriam tortura-la? Que pessoa cruel inventaria
uma mentira como aquela e brincava com seus sentimentos? Ela se encolheu
no canto com medo de que poderia ser verdade, pois sentia que poderia ser
algo no seu intimo gritava que era. Mas sua forma racional de pensar
nocauteava a parte que acreditava em mistérios e coisas sobrenaturais. Ficou
ali agarrada a carta, como se ninguém pudesse arrancar aquilo dela. Chorava
tanto que soluçava. Aquilo doía muito, como se acabasse de levar uma
punhalada no peito, atingindo sua alma, matando tudo o que acreditava em
sua mente. Não escutou que batiam na porta e também nem viu que a
arrombaram tamanho era o seu desespero. Encolhera-se mais se agarrando
aos joelhos com a carta nas mãos, não conseguia ouvir nada e nem ninguém,
apenas chorava desesperadamente.

Felipe entrou com tudo na biblioteca depois de facilmente arrebentar a porta


com uma pesada. Vasculhou a biblioteca com os olhos e a encontrou
encolhida no canto, balançando o corpo para frente e para trás enquanto
soluçava sem parar. Ficou perturbado ao ver seu estado de desespero. Viu as
fotos espalhadas na mesa e no chão, os livros jogados no chão e quando
olhou para as mãos dela, ela segurava a carta. Teve um choque inesperado
com aquela visão. O que ele fez? Pensou!

Miguel entrou logo depois de Diego e se depararam com a criatura encolhida


no canto como uma bola, e em pleno estado de choque. Felipe fez sinal para
Diego ficar onde estava, quando este fez menção de ir à direção dela, pois
ficara preocupado com o estado da moça.

Felipe se aproximou devagar se agachando na sua frente. Ela levantou o rosto


e se encolheu mais num sinal de medo. Ele ficou sem reação, pois tudo o que
queria naquele momento, era que ela sentisse medo dele - Querida! – ele
disse suavemente - deixe-me explicar - ele dizia devagar

Ela abaixou a cabeça e somente soluçava.

Felipe sentiu um golpe no peito, quando olhou para a carta amassada em sua
mão. E lembrou-se do que Diego lhe dissera (ela fugirá de nós!) a morte de
José era algo muito delicado para Adriana, a falta que ele fez em sua vida
toda a marcou de várias formas, principalmente quando era uma criança - Me
perdoe! – sua voz saiu fraca e com pesar, vendo que ela voltava os olhos para
ele. Seus olhos estavam inchados e vermelhos e ela ainda soluçava. Sentiu-se
um monstro.
As lagrimas corriam soltas pelo rosto de Adriana, mas tentou achar uma
forma de se acalmar e então suspirou, olhou para cima e depois voltou a fitar
os olhos escuros de Felipe - É verdade? – sua voz era quase inaudível em
meio aos soluços - essa carta foi... - ela tentou segurar o choro, mas sua voz
tremia - foi meu pai? - segurou mais uma vez, mas o soluço escapou pela
garganta e as lágrimas escorreram novamente. Quando Felipe fez menção de
toca-la ela se afastou de sua mão - não me toque! – disse com medo - só me
responde se essa carta foi ele quem escreveu? – perguntou novamente.

Felipe parecia chocado demais para responder, pois não imaginou que
encontraria as fotos e a carta - sim! – respondeu sentindo-se culpado - tudo o
que leu o diário a carta! Tudo é verdade - ele esperava o pior naquele
momento, pois sentia ela se enfurecer com suas palavras. A conhecia bem
sabia que estava vulnerável.

Quando ele confirmou e pode ver a verdade em seus olhos. Ela baixou a
cabeça novamente e chorou copiosamente por alguns minutos – isso não é
possível! - Queria saber por que sentia como se seu mundo estivesse
desmoronando, ou por que simplesmente não se levantava e saia correndo
dali. Não conseguia controlar as lagrimas e os soluços. Nunca chorava! Mas
aquilo era demais para ela com certeza. A carta do seu pai era como tirar a
casquinha de uma ferida. Respirou fundo e pôs-se de pé se afastando dele e
indo em direção à mesa. Olhou para Diego e Miguel e viu algo parecido com
surpresa e confusão começar a brotar nos olhos de cada um deles. Sabia que
esperavam que ela aceitasse tudo aquilo, por que havia ânsia daquilo nos
olhos de ambos. Colocou-se de pé e olhou as fotos em cima da mesa.

Felipe se aproximou, mas ela se afastou novamente de forma brusca.

- por que fez isso? – Adriana perguntou magoada

- Não quis magoa-la! – ele respondeu parando de se aproximar

Ela riu nervosa enxugando as lagrimas - vampiros não existem! – ela disse
em voz alta como quisesse convencer a si própria daquilo.
Ele olhou para ela como se ela acabasse de lhe enfiar uma estaca e respirou
fundo - Não me odeie! Por favor, eu não suportaria! – ele abaixou a cabeça
sentindo-se impotente - não sinta medo de mim - voltou a encara-la de forma
suplicante.

Ela olhava para ele com medo – por quê? - sua voz estava embargada
novamente. E aquela pergunta parecia bem clichê e a situação mais ainda,
parecia coisa de filme de terror e riu nervosa novamente – isso é ridículo! -

Miguel se apressou em responder – tente entender, Adriana! Existe um


motivo para isso. Sei que está com medo, mas está aqui por que temos que
protege-la. Tudo tem um motivo e acredite nada disso aconteceria sem a
permissão de Deus - ele disse com cuidado tendo o cuidado de não se mover
para perto, para não piorar a situação.

Ela o encarou perplexa - Deus? - disse ficando contrariada – por que ele
criaria criaturas como vampiros? - explodiu - o que querem de mim? Por que
me vigiam, me seguem, o que querem de mim? – berrou ao mesmo tempo em
que pegava as fotos da mesa e jogava na direção de Miguel e Diego, mas
somente viu os olhos de ambos olharem para as fotos que caíram aos seus
pés. Felipe que a olhava estarrecido com sua fúria - você! – ela se aproximou
com o dedo em riste como se o medo fosse substituído pela raiva - você me
observou durante anos, por quê?- ela dizia magoada e diminuindo o tom de
voz, fechou os olhos por um segundo para tentar se controlar - onde você
estava quando... - ela não continuou. Não conseguia dizer. Toda aquela
situação reavivou lembranças muito ruins da sua infância. Inspirou
profundamente tentando se controlar.

Felipe arregalou um pouco os olhos quando capitou na mente dela o que ela
lembrava naquele momento, conhecia perfeitamente toda história. A reação
dela não foi à esperada. Ela sentia raiva, frustração, medo, magoa naquele
momento, e pela primeira vez não sabia o que fazer a respeito. Mas
aproximou-se dela de repente e segurou seus ombros - Me perdoe! Me
perdoe! Eu não cheguei a tempo de te proteger - ele dizia de forma
suplicante, mas ela afastou-se dele lentamente. Deu um suspirou aflito com a
rejeição dela - Adriana! - disse

Ela olhou para ele num misto de vergonha e raiva, pois descobriu ali que ele
sabia o que tinha acontecido com ela – eu não entendo - disse como se
acabasse de levar um choque e estivesse lembrando dos fatos, relatos -
pesquisei, reli seu diário, olhei livros, lembrei das histórias do meu avô - ela
estremeceu depois tentou se controlar e olhou novamente para ele - eu até
desejei que existisse e que me levassem embora quando...- ela parou
novamente e suspirou – quando sentia medo que ele entrasse em meu quarto!
Desejei que ele morresse na mão de um vampiro - ela baixou a cabeça e
começou a se enfurecer com a lembrança e riu de forma nervosa em seguida -
por isso todo o cuidado, presentes, atenção, o baile, até meu amigo era
comprado! – disse com raiva - era tudo falso, uma armadilha para me atrair –
Ela olhou para Diego que abaixou os olhos, evitando seu olhar confuso e
frustrado, principalmente o medo que sentia deles naquele momento – eu cai
como uma idiota deslumbrada! Que clichê, parece até coisa de livro de
romance sobrenatural.

- Nada era falso! – Felipe disse - sempre a tive como uma filha! – disse com a
voz quase desesperada - daria tudo para não a ver sofrer, e nem que tenha
medo de mim.

Ela riu como se não acreditasse no que ouvia - filha? - Disse como se ainda
não acreditasse na história de vampiros. Ela parou de rir e de falar de repente
ficando em silêncio, enxugando suas lágrimas teimosas – uma brincadeira
bem cruel.

Nesse mesmo momento Morgan entrava na biblioteca olhando para a


bagunça e depois para as expressões sérias de Miguel, a culpada de Diego e
desesperada de Felipe. Automaticamente olhou para a criatura chorosa que se
afastava em direção a janela quando o viu, ela exalava medo. Não precisava
lhe contar o que acontecia, sabia muito bem que lhe contavam a verdade e
que ela estava apavorada. Não gostou muito daquilo como havia planejado
antes. O medo que viu nela o perturbou.

Felipe olhou na direção de Morgan quando viu a reação de Adriana - não


vamos machuca-la! – se apressou em dizer para ela - não precisa ter medo –
tentou acalma-la.

Morgan olhou para ela em silêncio e preferiu não dizer nada, poderia ser pior,
ainda mais depois do que acontecera entre eles. Poderia trazer as lembranças
à tona com toda aquela emoção. Então recostou na parede e cruzou os braços
depois de inspirar com força, analisando a reação perturbada e confusa
daquela mulher, e a reação quase desesperada de Felipe na tentativa de lhe
convencer de que não a machucaria.

- Eu. eu vou embora! – Adriana disse de repente desviando os olhos de


Morgan - vou voltar para minha casa. Isso aqui é ridículo! Sou uma mulher
adulta, e não vou me deixar convencer por um bando de... de egocêntricos
apegados há algum tipo de alter ego – corrigiu a postura e respirou fundo.

Felipe arregalou os olhos em pânico, pois tudo o que tinha planejado ia por
água a baixo - não! – ele protestou contrariado - não pode! Corre perigo –
disse-lhe

Ela o encarou confusa – O único perigo que vejo, está aqui! Sabe-se lá o que
farão comigo. Não passam de um bando de malucos. Não quero participar de
nada disso, por que não acredito. Volto amanhã mesmo, não vou ficar no
meio de um monte de excêntricos que se dizem vampiros – gesticulava
nervosa enquanto falava com mais calma, como se estivesse tentando ser o
mais racional possível.

- Por favor, reflita! Sei que é difícil entender, mas tente - disse Diego de
repente, pois até então não havia manifestado sua opinião.

- Não! - ela disse - não tem o que entender, porque essa merda não é
concebível! Não é – teimou novamente tentando se convencer do que ela
mesma dizia.

Morgan desencostou da parede e lentamente começou a se aproximar, dando


a volta cautelosamente para que ela não se assustasse. Mas ela percebeu e o
olhou um tanto assustada - não pode sair dessa casa! – ele disse calmamente
enquanto perscrutava seus olhos. Não queria assusta-la, mas percebeu pela
expressão dela que teria que ser duro, pois a única forma de fazê-la ficar seria
através do medo.

Ela se virou num sobressalto e ficou praticamente imóvel, quando se lembrou


do sonho e no sonho sentiu como se ele houvesse mordido seu pescoço.
Olhava para ele de forma apreensiva, como se qualquer movimento brusco o
fizesse ataca-la - não pode me forçar a ficar! – respondeu quase sem voz.
Tremia de medo.

Morgan a analisou quando ela disse aquilo, podia sentir que estava com medo
dele, muito medo - a questão é - dizia lentamente - podemos força-la, mas
não queremos faze-lo. Não tem noção do que podemos fazer. Mas por
incrível que pareça, a única coisa que... Eles... Desejam, é te proteger – o
medo exalava através dos poros dela, e mesmo assim, ela ainda o encarava
como se não o sentisse.

O medo de Adriana aumentou quando ele a ameaçou - já provei o que podem


fazer para terem o que quer! Inventam mentiras, roubam nossa atenção,
compram nossos amigos, criam todo um deslumbramento, mas na real era
uma armadilha – rebateu enquanto o encarava - eu quero ir embora! Porque
se me mantiver contra a minha vontade, será cárcere privado – ele disse.

Ficou extremamente irritado com as palavras arredias daquela mulher. Nunca


teve problemas com humanos que não conseguisse resolver ou que não se
livrasse deles para não ter problemas. Mas aquela humana o levava ao limite
em tudo, principalmente da paciência – você não entende mulher! Mas se
preferir ficar num cárcere, eu posso providenciar sua estadia – ele provocou.

- Pretende me manter presa? - ela perguntou assustada

- Talvez mereça isso, até conseguir entender que está mais segura aqui, do
que em qualquer outro lugar! – ele sabia que mesmo com medo, ela o
enfrentaria. Não sabia de onde ela tirava toda aquela impetuosidade, teimosia
e coragem.

Adriana ficou irritada quando percebeu o contentamento nos olhos dele -


talvez isso o agrade! Seu maldito maluco sádico - esbravejou
Ele se aproximou mais e deixou algo como um rosnado baixinho escapar da
garganta, e ela se afastou dele lentamente com medo. Mostrou-lhe as presas -
talvez eu devesse ser seu carcereiro! - disse ao mesmo tempo em que seus
olhos escureceram.

Ela arregalou os olhos assustada quando viu mudar, principalmente quando


as presas aparecerem. Teve um flash rápido do sonho novamente, ele
sugando seu pescoço, e aquela dor estranha no pescoço mesmo sem ferida ou
marca alguma. Deu um passo para trás quase caindo sobre o próprio traseiro.

- Morgan! – Felipe o repreendeu aproximando-se dos dois, quando ela levou


a mão na boca num sinal de perplexidade e medo.

Morgan olhou para o amigo e depois para Adriana, e praticamente se


arrependeu do que havia feito, então recolheu suas presas. Felipe não queria
afugenta-la dali e sim convence-la que eles não lhe ofereciam perigo e que
poderiam protegê-la, e ele não estava ajudando.

Ela ainda olhava fixo para a boca de Morgan e viu suas presas diminuírem as
vistas – Meu Deus é verdade – estava em choque.

Felipe ficou ao seu lado e a olhava como se houvesse sido derrotado em um


campo de batalha – é verdade! - disse com o olhar triste percebendo que ela
ainda estava com medo, pois quando tentou se aproximá-la se afastou
bruscamente.

Morgan baixou os olhos para que ela parasse de olhar para ele como se fosse
uma aberração. Estava certo de que ela o temia e que achava que era como
um demônio, assim como Helena achou – entenda de uma vez humana, não
me importo se você quer ficar ou não. Mas será mais fácil cuidar de você
aqui, que segui-la por aí - já estava se irritando com aquela situação, e com
ele mesmo por ter que agir daquela forma.

Ela balançou a cabeça enquanto ainda o encarava - não quero sua proteção! –
sua voz estava baixa e trêmula.

Ela era tão teimosa e metida à durona, que mesmo a ponto de desmaiar de
pavor ela ainda o enfrentava. Era como se estivesse vendo a própria Helena
através daqueles olhos castanhos e apavorados, e estava odiando olhar para
ela naquele momento - espero que não dê trabalho para os meus homens, pois
se o fizer irá se arrepender! – ele a alertou.

Ela o encarou contrariada, mas o medo ainda estava lá - fiquem longe de


mim! Fiquem longe de mim! - disse passando por Felipe, depois Diego e
Miguel. Saiu às pressas da biblioteca e correu para se afastar dali.

Todos a observavam em silêncio, mas não a seguiriam.

Felipe ficou parado onde estava sentindo-se impotente pela primeira vez na
vida. Era mais difícil do que esperava. Era o culpado por aquilo, pois não
imaginou que sua reação seria daquela forma. Ela tinha razão sobre tudo e a
carta do pai dela foi o golpe de misericórdia. Toda aquela informação foi
demais e humanos geralmente reagiam de forma negativa e alguns até
enlouqueciam quando descobriam algumas coisas - fiquem aqui! Vou
resolver isso - saiu antes que qualquer um dos três lhe dissesse qualquer coisa
ou fizessem qualquer movimento para ir atrás dela.

Adriana entrou no quarto com tudo, sentia um desespero tão grande que ficou
olhando para os lados sem saber o que fazer. Pensou em ligar para seus
amigos em Londres, em fugir, mas eles a alcançariam. Pensou em pedir ajuda
para os empregados, mas quem acreditaria nela? Ninguém acreditaria naquele
absurdo e provavelmente a internariam como se fosse uma louca ou drogada.
Então procurou por sua mala, e começou a socar as coisas de qualquer jeito.
Tinha que sair dali o mais rápido possível.

Felipe estava parado na soleira da porta do quarto de Adriana e observava o


acesso de fúria, enquanto ela jogava as coisas que trouxera consigo para
dentro da mala.

-Veio dar o golpe de misericórdia? – disse Adriana quando percebeu a


presença de Felipe.

Ele entrou devagar no quarto, e ela voltou a socar as roupas de qualquer jeito
na mala. Aproximou-se devagar e passou o braço direito envolta dos ombros
de Adriana, enquanto o esquerdo a fazia parar de jogar as roupas na mala -
por favor, pare! - pediu suavemente. Pode senti-la começar a tremer e voltar a
chorar, pois ela estava apavorada.

Ele a virou para si devagar - agora me ouça! – pediu gentilmente.

Ela não queria olhar para ele de forma alguma, olhava para os lados, para o
chão, mas não fitou seu rosto, sentia apenas as mãos que a seguravam.

- Olhe para mim, Adriana! – ele pediu com mais suavidade ainda. Ela não
olhou -por favor! – suplicou

Adriana olhou lentamente para ele e encontrou seus olhos escuros e calmos

-Não tenha medo de mim, não vou machuca-la – ele dizia suplicante.

- Quem me garante isso, você? – enxugou as lágrimas teimosas. Estava


apavorada, mas tinha que manter sua sanidade a qualquer preço.

Ele se afastou ao constatar seu medo, não queria deixa-la mais assustada do
que já estava - sei que se sente confusa, magoada, e também com medo -
disse afastando-se alguns centímetros apenas.

Ela respirou fundo, quase que sem pensar - como achou que seria a minha
reação? – disse – isso... - hesitou antes de continuar e respirou fundo – é
assustador!

Ele a olhou de maneira compreensiva antes de responder – eu entendo! Não


tenho o que dizer para tentar convence-la a ficar, porque é algo difícil de
aceitar normalmente – colocou ambas as mãos atrás das costas.

Ela o encarava como se fosse um anormal – e existe alguém que ache isso
normal? - começava a ficar indignada com aquilo - cresci acreditando que
talvez pudesse existir, mas não para ter a certeza. Desculpe se estou sendo
grosseira, mas eu não consigo... – parou de falar de repente quando se
lembrou da carta de seu pai – a carta, aquilo foi cruel! - disse
Sabia o peso que aquela carta teve e as lembranças que aquilo trouxe para ela
– perdoe-me! Mas, não havia maneira melhor de fazê-la descobrir e entender
o que somos, e o que está a sua volta. Mas da forma que foi – ele fez uma
pausa analisando a expressão confusa dela – sou um vampiro Adriana! Sou
real! Assim como Morgan, Miguel, Diego e muitos outros antes de nós e
depois – ele fez uma pausa novamente quando se aproximou - tudo o que leu
em meu diário é verdade, aconteceu.

Adriana estava ofegante novamente – e espera que eu entenda o que são, que
eu os aceite? – sua pergunta saiu quase que num tom débil

- Sim! - disse com frieza

Ela se afastou devagar indo para a sacada, precisava de ar. Ficou olhando a
noite que começava a cair. Estava começando a sentir que sua antiga asma
começava a voltar, sempre acontecia quando estava muito abalada
emocionalmente e fazia tempos que não atacava - sou uma prisioneira agora?
– perguntou sem olhar para ele – o que pretendem fazer comigo? - sua
pergunta novamente tinha o tom de medo.

- Não é uma prisioneira Adriana. E meus planos para você sempre foi apenas
protege-la - sua expressão suavizou.

O encarou como se não acreditasse no que estava ouvindo “caralho! Ele


tinha planos para ela agora, pensou” - eu não... - iria dizer que não queria
participar daquilo, mas parou - preciso de um tempo! – sentia que a qualquer
momento poderia perder os sentidos, estava com muita falta de ar. “maldita
debilidade” pensou com raiva.

Ficou preocupado com a falta de ar dela e começou a contar seus batimentos


para ter certeza de que não era nada mais sério – claro! – disse - mas se
conseguir compreender nossos motivos, saberá que assim como Marguerite a
viu, outros também a viram. E será perigoso para você! – Tentou explicar
quando pegou o pulso dela, pois seus olhos estavam ficando sem brilho.

Adriana puxava o ar com dificuldade quando se lembrou da mulher que a


ofendeu no baile e virou-se para ele - Ela também? - perguntou subitamente
sentindo seu corpo todo estremecer quando se lembrou dos gêmeos que a
acompanhavam e que tinham lhe encurralado no baile, quase tinha virado
comida de vampiro e nem sabia – eu realmente as vi! – disse pensativa
lembrando-se das presas.

- Sim, viu - ele ainda segurava o pulso dela, enquanto a fitava - existimos há
muitos e muitos anos, vivendo entre os humanos e imitamos seu estilo de
vida. Mas existem outros que não são confiáveis e muitos são cruéis,
vingativos e sádicos - ele fez uma pausa novamente e a levou até a cama para
que se sentasse – ainda usa algum remédio para asma? – perguntou
preocupado, pois ela estava pálida.

Olhou para ele pensando se ele sabia tudo sobre ela – não mais, porque fazia
anos que não atacava – disse com dificuldade.

Felipe se agitou um pouco – como não me lembrei disso! – repreendeu a si


mesmo e foi até a porta do quarto e gritou por Isaiah, e voltou em seguida –
pode aguentar algum tempo? – perguntou e ela assentiu com a cabeça.

Notou a preocupação dele e não conseguia entender porque ele se importava


tanto com ela, pois com certeza poderia matá-la facilmente – estou...
Tentando digerir o. que acabei... De saber e ver – disse pausadamente
enquanto puxava o ar – eu... eu preciso.... De um tempo... Para pensar...
Sobre tudo isso – fez uma pausa longa e continuou – Estou... Me...
Sentindo... Em um filme de terror.

A observava atentamente enquanto ela tentava falar mesmo com e a falta de


ar – tudo bem! Mas não se agite, respire devagar – falou suavemente de
maneira que ela relaxasse e se sentisse menos apavorada com ele, faria
qualquer coisa para que aquela falta de ar passasse. Quando Isaiah apareceu
na porta do quarto, foi até ele e pediu para que fosse até o laboratório e
procurasse algo para falta de ar, e ele saiu apressado em seguida.

Adriana olhava para aquele homem um tanto agitado na sua frente, e que
perguntava a todo o momento se estava bem. Realmente estava preocupado, e
começou a se acalmar devagar e a respirar menos agitada – vai me contar por
quê? - perguntou devagar

Felipe ficou um longo tempo olhando em silêncio para ela e quando Isaiah
voltou com as mãos vazias se agitou mais que antes, mas tentou disfarçar o
nervosismo. Arrumou os travesseiros na cabeceira da cama e fez com que ela
se encostasse ali para ficar mais confortável – eu volto logo! – disse em
seguida, saiu do quarto como um raio. Voltou depois de 20 minutos com um
pacote da farmácia nas mãos. Tirou a caixa do pequeno pacote da farmácia,
abriu e depois leu a bula – é uma bombinha de asma, puxe duas vezes! –
disse entregando a bombinha na mão dela.

O encarou por um instante desacreditando que ele havia ido até a vila, para
comprar seu remédio. Pegou a bombinha da mão dele – por que se importa? –
perguntou quando espirrou e puxou duas vezes. Sentiu que agia lentamente e
voltava a respirar normalmente.

Não esperava aquele tipo de pergunta – me importo por que é preciosa para
mim – respondeu quando percebeu que ela começava a respirar normalmente.

Adriana respirou fundo quando finalmente conseguiu – não vou fazer


milhões de perguntas idiotas, mas quero saber claramente por que minha
permanência aqui é tão importante – ele balançou a cabeça afirmamente.

Felipe começou a contar os pontos mais importantes da história de sua


família, desde Kaimel. E ela prestou atenção a tudo atentamente e não o
interrompeu nenhuma vez. Mas algo nos olhos dela dizia que não estava tão
crente naquela história que contava, dizia que não via razão para tanto
mistério, pois ela queria encontrar uma explicação lógica para tudo aquilo.

Adriana pensou por alguns minutos depois de Felipe fazer tantas revelações a
ela e depois achou toda aquela história de guardião absurda – Não acho que
me ensinar lutar com uma espada agora vá adiantar – disse irritada - não acha
que é um pouco tarde pra isso? Essa porra toda é um absurdo! - Disse depois

Era mais difícil do que ele imaginava e ela falava tantos palavrões – mas
precisa aprender, para se proteger. Acha que tudo isso é um filme, um
fingimento, uma mentira? Com o que pensa que está lidando? Não imagina o
poder e a violência no meio de tudo isso – disse de forma dura, pois estava
ficando impacientes também – essas criaturas acham que a humanidade não
passa de um gado inteligente.

Ela sacudia a cabeça – se é tudo verdade, por que não apareceu antes? –
bufou contrariada – isso é muito esquisito, não consigo pensar racionalmente
agora.

Estava preparado para aquela pergunta - seria impossível manipular alguém


tão instável e suscetível as drogas - disse ao mesmo tempo em que a via
começar a se constranger - acabaria matando alguém ou se matando -
concluiu

Adriana baixou os olhos, sabia sobre o que ele falava. Sua vida antes de ir
morar em Londres tinha sido um caos. Festas, bebidas, drogas, namorados
errados e mais festas e drogas. Fora as confusões que vivia se metendo.

- Você era completamente rebelde, Adriana! Tinha rompantes de fúria e


confusão da própria identidade. Tinha apego às pessoas erradas. Era volúvel
às vezes, e muitas vezes agressiva - ele fez uma pausa quando viu a reação
desconfortável dela – apesar de todo o seu talento e astucia fora do comum,
não era o momento - agora parecia endurecer enquanto falava - você era tão
frágil emocionalmente falando, que eu não saberia molda-la - ele sorriu como
se aquilo fosse fácil, assim como para um ator - agora é diferente, está
madura - concluiu.

Ela começou a rir como se ele houvesse lhe contado uma piada sem graça -
drogada, volúvel, sem personalidade, obrigada por sua sinceridade. Mas está
errado. E para sua informação eu só usei drogas algumas vezes, e não era
uma viciada - parou de rir, pois estava nervosa demais com a situação.

Felipe endureceu sua expressão – não quis ofende-la, perdoe-me! – disse –


mas se quiser viver, terá que fazer o que estou dizendo – ele a viu voltar a
murchar e ficar sem graça - tem noção do que um vampiro pode fazer? – sua
pergunta saiu um tanto quanto áspera.

- Não! Eu nem sabia que existiam antes – rebateu desanimada


Ele andava pelo quarto, tentando pensar em algo que demonstrasse a
gravidade da situação. Ela acompanhava seus movimentos com os olhos
atentos, esperando que lhe dissesse mais alguma coisa - lembra-se dos jovens
que te atacaram na boate na noite que encontrou aquele corpo? - refrescou
sua memória com a lembrança e sorriu friamente enquanto a analisava.

Ela fez um ó mudo com a boca - foi você? - disse perplexa - você fez aquilo?
Você matou aqueles caras? – ela quase caiu quando tentou sair da cama e
sentiu seu estômago embrulhar.

Ele a encarou muito sério - se eu fiz aquilo para te proteger, imagine o que
outro vampiro faria para te matar – agora ele a assustava de verdade -
imagine criaturas poderosas como nós vampiros, ou até furiosas como os
lobisomens, unirem-se somente para dominar os humanos, unirem-se para te
pegar – ele mexia com sua imaginação.

-Deus! – realmente ficou assustada - mas... - ele a interrompeu

- Vamos protegê-la! – foi sincero

- Não tenho escolha? - estava preocupada

Ele cruzou os braços sobre o peito - Não! - foi firme – agora que já sabe de
quase tudo, entende que não posso me dar o luxo de perdê-la? Terá que se
esforçar para lidar com tudo o que está sentindo agora, entendo que para um
humano tudo o que é diferente da sua natureza o apavora.

Suspirou aflita – acho que estou dentro da porra de um pesadelo mesmo! -


Ela abaixou os olhos em sinal de frustração e confusão, levando as duas mãos
a cabeça.

Ele se aproximou muito rápido, mas de forma suave. E ela só percebeu,


quando sentiu ele pega-la pelos pulsos para abaixar seus braços e depois
segurou seu queixo para fazer com que o encarasse.

- Mas é forte! - disse-lhe - lembre-se de quem você é! O sangue que corre em


suas veias é poderoso. Helena era apenas humana, mas era uma guerreira
extraordinária. Ache a força que acompanha sua genealogia.

Não estava nada confiante - acho que vou ter que me esforçar muito, para
encontrar! – ela respondeu desanimada

Entendia sua confusão, mas não tinha tempo para passar a mão em sua
cabeça - é apenas um detalhe! Quando entender a importância de tudo isso,
será fácil - ele deu um leve sorriso.

Ela desviou os olhos como se soubesse o efeito inebriante que causava olhar
demais para ele. E ainda se sentia magoada - mas mesmo assim, quero um
tempo para digerir. Não é simples ouvir tudo isso e achar que é uma coisa
normal, você sabe - ela dizia se afastando.

Felipe acompanhou seus passos com os olhos atentos - te dou uma semana
para pensar! – ele disse de repente - levaremos você para Londres, e
ficaremos em nossa casa em Yorkshire. Assim que estiver pronta, voltaremos
para cá - ele lhe disse de forma que lhe deu a impressão de que aquilo havia
sido planejado antes, e que não lhe daria a opção de escolha. Ela parou no
meio do quarto enquanto ouvia o que ele lhe dizia, e sentiu parar ao seu lado -
agora descanse – foi em direção à porta do quarto e parou para olha-la
atentamente - amanhã cedo Isaiah a levará, estaremos por perto - alertou -
uma semana, e depois irei busca-la entendendo ou não – advertiu e saiu do
quarto.

Sentiu-se sem alternativa, não poderia escolher se queria fazer parte daquilo
ou não. Se irritou, pois não estava acostuma com ninguém vigiando seus
passos e decidindo nada por ela. Estava com medo deles, porque não os
conhecia e imaginar que por trás de tanta delicadeza, beleza e sedução,
escondiam-se assassinos sedentos como num filme de terror, era o suficiente
para ter pesadelos o resto da vida. Então como se aquela atitude fosse
adiantar alguma coisa, trancou a porta. Depois foi até sua cama, sentou-se
abraçando os joelhos e ficou olhando para ela, como se alguém muito
perigoso fosse entrar ali a qualquer momento. Mas depois, acabou cedendo
ao sono e ao cansaço e dormiu pesadamente. Acordou quando Isaiah entrou
pela porta de repente, com um molho de chaves nas mãos.
Ela sentou-se na cama assim que entrou de repente, Isaiah não pode evitar
reparar na aparência doentia dela naquela manhã. Lamentou no seu intimo,
pois lembrou como era o choque de saber que um vampiro acabava de entrar
na sua vida. Ela somente o olhou um tanto apática e saiu da cama, se olhou
no espelho ignorando sua presença totalmente. Pensou em dizer alguma
coisa, mas sua posição não permitia se envolver demais naquele assunto por
que era pessoal. Pegou a bolsa de viagem que estava no chão e ela ainda se
olhava no espelho, como se estivesse entorpecida pela própria imagem.

Adriana se sentia sonolenta ainda, mesmo depois de dormir tantas horas


seguidas deixando-a com os olhos inchados, mas a olheira era por que estava
bem abatatida devido à preocupação. Bufou depois de passar a mão nos
cabelos – pareço uma panda! – disse quando Isaiah estava saindo e uma das
criadas entrava no quarto.

Isaiah parou na porta no instante que ela falou e forçou um sorriso – lamento
por tudo o que aconteceu! – disse antes de sair do quarto.

Olhou para o advogado que se afastava, depois foi para o banheiro e se


trancou – eu também lamento – disse quando trancou a porta pelo lado de
dentro.

Sophie entrou e olhou para e na hora percebeu algo de errado, mas ficou em
silêncio enquanto arrumava sua cama e Adriana ia para o banheiro quase que
se arrastando de tão desanimada. Preocupou-se com a moça, provavelmente
já havia descoberto o que havia de errado com eles e estava em choque. Mais
tarde disse para ela e Marie que estava indo para Londres e que voltaria
depois de uma semana, e que aproveitassem aquela folga com suas famílias.
Capitulo 10

Decisão

Quando Adriana entrou no antigo apartamento que dividia com seus amigos,
sentiu-se um pouco aliviada por estar longe dos vampiros, mas ao mesmo
tempo estava preocupada por que não podia contar para ninguém. Primeiro,
porque ninguém acreditaria nela. Segundo, porque não colocaria a vida dos
seus amigos em risco.

Gevy analisou a amiga depois de abraça-la – por que voltou? Aconteceu


alguma coisa? - perguntou sentando-se a sua frente na sala.

Adriana riu sem graça - não aconteceu nada Gevy! Só vim buscar algumas
coisas, aí me deram a semana de folga - respondeu evitando o olhar
especulativo da amiga.

- Sei! – Gevy disse desconfiada

Fernan também a olhava preocupado - o que estão fazendo lá? Sugando sua
energia? Está abatida e pálida - observou

Adriana riu novamente sem graça quando ouviu o “sugando”. O amigo não
sabia de nada, e o fato de estar abatida era devido à situação não sabia o que
fazer a respeito. Tantas coisas estranhas viam a tona em sua mente o tempo
todo, quando tentava lembrar o motivo de nunca ter percebido nada. A única
coisa que sempre lembrava era do sonho que teve com o Morgan e
automaticamente levou a mão ao pescoço disfarçadamente, e pensou consigo
“não era possível que houvessem feito aquilo na realidade”. Mas achou
aquela possibilidade ridícula e voltou a sorrir para os seus amigos, porque
ainda a encaravam como se estivesse escondendo algo. Realmente estava, era
como se houvesse cometido um crime e não pudesse contar – é cansativo
ficar naquele castelo enorme com a cara no computador o dia inteiro
organizando documentos antigos. Acreditem, parece que eles nunca
digitalizaram nada na vida – era a melhor mentira que tinha naquele
momento.

Mas logo dispersaram porque Fernan ficou tão animado com sua presença
que correu para a cozinha e fazer algo para alimenta-la. Ela apenas ficou na
frente da Tv mudando de canal e pensando se iria enlouquecer com aquilo, e
por ironia, estava passando entrevista com o vampiro na TV aberta naquele
momento, mas a desligou automaticamente como se Lestat fosse saltar da tela
para cima dela, mesmo sabendo que era o Tom Cruise. Tomou quase toda a
garrafa de vinho sozinha na hora do delicioso talharim do amigo, depois se
deitou em sua cama e apagou.

Os dias em que passou com os seus amigos sempre eram da mesma forma, e
passou tão rápido. Não queria fazer mais nada, além de comer e dormir.
Sequer cogitou sair do apartamento com medo de tudo o que Felipe havia lhe
dito sobre outros vampiros. Ele ligava todas as noites, só que não atendia.
Não era por birra nem nada, mas toda aquela revelação foi demais para ela.
Fora que o fato dele ter uma carta escrita por seu pai, e ler aquela carta foi
algo muito pesado. Algumas pessoas camuflavam dores e traumas, nunca
procuravam por ajuda profissional para lidar com aquilo, e seguiam
normalmente com suas vidas. Mas em algum momento aquilo vinha à tona,
bastava algo como “uma carta” para reavivar tudo outra vez. Estava em um
momento extremamente ruim e sabia que eles apareceriam a qualquer
momento para busca-la, afinal era o 7º dia e aquilo era gritante em sua mente,
era como se estivessem lhe enviando um sinal mental que estava lhe dando
dores de cabeça, logo começaria a ficar maluca.

Estava sozinha no apartamento e sua tensão aumentava conforme o tempo


passava. Seus amigos estavam ocupados demais para lhe darem atenção, e
estavam na boate naquela tarde. Acabou se agitando tanto que tomou
coragem e resolveu dar uma volta para descarregar um pouco do stress. Foi
para o parque onde achava que estava a feira cigana que conheceu semanas
antes. Imaginou que talvez conseguisse alguma ajuda já que o que a vidente
lhe dissera começava a fazer sentido.

Andava calmamente pelas ruas de Londres curtindo o sol que surgira tímido
naquela tarde. Parecia que a cada passo dado ela respirava mais aliviada,
como se o sol estivesse arrancando o peso que sentia naquele momento, como
se fosse impossível qualquer um ou qualquer coisa lhe alcançar enquanto o
sol estivesse andando com ela. Tentou relaxar desligando da mente tudo o
que havia sido revelado até ali, respirou fundo e mais aliviada e continuou
seu caminho até o London Eye na ponte Westminster.

Viu um grupo de góticos na calçada próximo ao parque quando estava se


aproximando, e pensou se eles sabiam da existência real dos vampiros. Ficou
olhando um tanto curiosa para aquele grupo enquanto se aproximavam dela,
mas desviou os olhos assim que eles passaram por ela. Eles riam entre si e
pareciam se divertir com seus olhos e cabelos pintados, roupas pesadas, como
se fossem vampiros de verdade. Parou no meio da calçada e ficou olhando
para eles, até eles se afastarem para bem longe. Depois como se alguém a
tirasse de um transe, voltou para seu caminho.

A feira cigana não estava mais lá, então se sentou desanimada no banco e
ficou olhando para algumas caixas vazias que haviam sido abandonadas e que
aguardavam seu recolhimento – to ferrada! - Lamentou baixinho. Pensou que
sua única esperança de se ver livre do desconhecido, havia ido embora para
bem longe. Tentou até lembrar o lugar que eles estavam acampados, o lugar
que o cigano bonitão havia lhe dito, mas não conseguia lembrar. Começou a
ficar nervosa novamente, pois a hora passava e logo teria que voltar para
casa. Ficou algum tempo sentada ali até sentir que o sol começava a ir
embora e tinha que voltar para casa, mas não queria, não queria mesmo.
Estava decepcionada porque os ciganos não estavam lá, e achava que nem
eles acreditariam em sua história de vampiros. Levantou-se desanimada e
lentamente foi em direção ao metrô de st. Jaime park, andando como se
carregasse toneladas de pesos novamente. Decidiu que iria ao shopping em
Sloane Square e passaria o tempo que fosse suficiente, até ficar muito tarde.
Desceu a escadaria que levava ao metrô para ser mais rápida, mas havia
esquecido que aquela estação tinha um túnel extenso logo após a escadaria, o
que não a agradou em absoluto. Mas era o único caminho até as catracas que
davam para as plataformas. Havia poucas pessoas indo e vindo e sem querer
começou a lembrar de todos os filmes de terror que já tinha assistido,
principalmente da cena do lobisomem americano em Londres, exatamente a
cena do metrô. Parou de andar e respirou fundo, tentando controlar o
nervosismo e continuou – isso é paranóia! – disse baixinho para si mesma
tentando se convencer que já estava enlouquecendo. Seus pensamentos
pareciam uma tortura sem fim, já começava a ficar com mau pressentimento.
Ainda achava um absurdo ter guardiões vampiros, e maior absurdo eles
existirem.

Apressou um pouco o passo enquanto passava pelo o corredor, a paranoia


surgia em sua mente novamente e pensou que se continuasse daquela forma
seria internada – caralho! – xingou baixinho. Olhou para trás percebendo que
estava sozinha descendo a escada rolante e ninguém subia pela outra, tentou
aliviar a tensão estalando o pescoço, mas não adiantou. E quando chegou ao
final e olhou para as catracas, viu algumas pessoas saindo e um homem
descomunalmente alto e musculoso entrando. Ele olhou para ela enquanto
passava por uma das catracas ao lado, e achou estranho o jeito que a olho.
Então institivamente diminuiu seus passos enquanto ele andava
apressadamente na frente e entrava na plataforma. Em seguida fez o mesmo e
seguiu para o lado oposto de onde ele estava, e só estavam os dois ali – isso é
paranóia! – disse baixinho e inspirou profundamente. Mas olhou para o
homem discretamente percebendo mesmo de longe, que ele era intimidador
com todo aquele tamanho e músculos. Aparentava ter uns 2,10 metros mais
ou menos, usava uma barba naquele estilo hipster, tinha os cabelos abaixo
dos ombros num tom loiro avermelhado no mesmo tom que a barba, e usava
os cabelos presos num rabo de cavalo, roupas pesadas e coturnos, tatuagens.
Ele olhou para ela e ela sem querer se assustou, pois ao mesmo tempo em que
ele a encarou, o trem parava e fazia um barulho ensurdecedor ao seu lado.
Desviou o olhar rapidamente e quando a porta do trem abriu entrou com
pressa e sentou-se num banco de dois lugares, ao lado da janela. Iria descer
duas estações duas estações depois.

O homem entrou no mesmo vagão que ela e sentou-se três bancos a frente do
seu, e mesmo mantendo certa distância ele ainda a encarava de forma curiosa,
não teve um bom pressentimento daquilo e ficou um pouco inquieta. Pegou
seu Ipod o ligou e pôs os fones no ouvido para tentar se distrair, depois olhou
em volta. Haviam pouquíssimas pessoas ali sentadas, alheias e
despreocupadas. Fechou a cara e desviou o olhar para o túnel escuro,
evitando olhar para ele novamente enquanto prestava atenção na música que
ouvia.

Havia um senhor sentado no banco a sua frente e ele lia o jornal do dia, mas
quando o trem parou na próxima estação, levantou-se e saiu assim como
algumas outras pessoas. Três homens entraram naquele vagão e dois deles
estavam juntos. Suas roupas eram impecáveis, mas tinham um
comportamento estranho e olharam diretamente para ela. Mas deu-se conta
daquilo somente quando um sentou-se ao seu lado, e o outro a sua frente.
Olhou automaticamente para o que estava a sua frente, e ele a encarou, mas
não lhe deu atenção, continuou ouvindo sua musica. Mas aquilo não causou o
efeito esperado, pois ambos continuavam olhando de forma estranha para ela,
então olhou para um e depois para o outro e reparou na aparência, pareciam
cera. Então por instinto levantou-se e foi para o banco do outro lado. Mas um
dos homens também se levantou e a seguiu, movimentou-se lentamente como
um gato e isso chamou a atenção de meia dúzia de pessoas que estavam ali.

Ele meteu a mão dentro do casaco marrom como se fosse tirar algo dali de
dentro, Adriana se assustou e ficou olhando para ele e depois para sua mão
dentro do casaco. Tirou os fones do ouvido e o encarou como estivesse se
preparando para um ataque. Mas algo aconteceu muito rápido, pois o homem
enorme que estava na plataforma, apareceu na sua frente de forma protetora
ficando entre ela e o homem de casaco marrom. As pessoas começaram a se
agitar dentro do vagão imaginando que seria um assalto ou algum ato
terrorista, e o outro homem que estava junto do de casaco marrom sacou uma
arma grande com quatro canos, então o grandalhão começou a rosnar.
Afastou-se assustada e lembrou-se do que Felipe lhe dissera “se eu fiz para te
proteger, imagina o que fariam para te matar” Os dois homens
escancararam a boca e suas presas pontudas despontaram na direção do
grandalhão que tremia e que se virou de repente para ela e disse com sua voz
gutural - saia daqui! - seus olhos estavam esbugalhados e amarelos.

O trem parou na estação Victoria e quando as portas se abriram as pessoas


que estavam naquele vagão correram para fora, pois com certeza só
conseguiriam ver a arma que um dos homens sacou. Correu na mesma
direção para sair dali também, mas parou para olhar para trás, então sentiu
uma mão puxa-la com força para fora do vagão. Com a confusão e o falatório
das pessoas que saiam alheias de outros vagões, não via quem estava lhe
arrastando para longe da plataforma. Mas quando finalmente parou e pode se
virar para olhar, vislumbrou o rosto do homem que a puxava e o reconheceu,
mas não conseguia dizer nada.

A expressão dele era severa enquanto a analisava - você corre perigo aqui! –
A advertiu de maneira que a assustou.

Adriana o olhava confusa - o que? Por quê? - disse em pânico

Atila percebeu o quanto aquela humana estava apavorada - sinto muito que as
coisas sejam dessa maneira - ele disfarçou quando os guardas do metrô
correram em direção ao trem que ainda estava parado. Continuava puxando-a
para o canto para sair do campo de visão das câmeras - não está segura aqui!
– repetiu

Adriana apenas olhava para Atila enquanto ele a conduzia para longe da
plataforma. Deram de encontro com o homem e a defendeu no vagão, e se
assustou novamente com ele, pois parecia intimidador demais de perto.

Atila desviou o olhar para o Vlad que era mais alto que ele, e que olhava por
cima de seus ombros de forma nervosa – temos que ir Atila! – o homem lhe
disse nervoso.

Adriana percebeu que o cara do vagão começava a tremer novamente. Ficou


com medo, pois ele realmente parecia muito ameaçador e não sabia o que
esperar. Seguiu o seu olhar e olhou para trás vendo os dois homens pálidos
novamente. Seu coração acelerou novamente e o cigano a colocou atrás dele
de forma protetora, mas teimosamente se colocou ao lado dele e ele segurou
seu braço.

- Só queremos a moça! Pense filho de Kaimel, se fizer alguma coisa será


filmado pelos humanos – disse o vampiro.

Atila apenas riu sem divertimento algum e começou a apertar o braço de


Adriana, pois ainda o segurava. Ela tentou se desvencilhar, pois o aperto
começava a machucar e ele nem percebia o que estava fazendo porque olhava
para os dois vampiros - vem pegar já que é tão valente seu chupador
desgraçado! Acha que me importo com o que os humanos vêem? – Atila o
provocou com um sorriso debochado.

Adriana tentava se soltar da mão que a prendia, sentiu que a qualquer


momento ele fosse esmagar seu braço, pois aquela pressão tornou-se
dolorida. Pensou em gritar por ajuda, pois seu pânico aumentou, mas sua voz
não saia. Não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que aqueles dois
homens pálidos eram vampiros, pois mostraram suas presas novamente e
apontavam armas de fogo na sua direção e na direção dos ciganos. Mas o que
os ciganos tinham a ver com o que estava acontecendo?

Atila olhou para o seu parceiro e Adriana acompanhou seu olhar, vendo que o
homem não parava de tremer e ofegar, seus olhos eram ferozes pareciam que
saltariam das órbitas a qualquer momento. Atila a empurrou em direção à
catraca - saia daqui, corra e não olhe para trás rápido - berrou.

Ela o encarou enquanto era empurrada - vamos encontra-la onde estiver não
se preocupe – disse e quando a encarou seus olhos estavam mais claros que
antes - corra! Corra para longe e não olhe para trás - ordenou autoritário
novamente e a empurrou quase que a derrubando, antes de se virar e correr na
mesma direção que o grandalhão correra. Eles foram para o túnel por onde
passava o trem, seguindo os dois vampiros.

Adriana correu sem olhar para trás, até passar a catraca como um raio.
Somente parou de correr quando chegou à rua e estava longe da escadaria do
metrô. Pode ouvir os uivos que vinham do túnel do trem, e sentiu um calafrio
passar por seu corpo. Pensou em dizer às pessoas que desciam as escadas
para não entrarem ali. Mas quem acreditaria nela? Massageou o braço, pois
sentia uma dor horrível, com certeza o seu ombro estava deslocado. Mas
tentou se controlar o máximo que pode – Meu Deus! Meu Deus! - Disse em
pânico e sentia uma dor desgraçada no ombro, com certeza estava deslocado.
Tremia incontrolavelmente quando pegou o celular e tentou ligar para o
número de Felipe, mal conseguia acertar as teclas. Deu um suspiro profundo
quando ele atendeu, antes mesmo de terminar o primeiro toque - eu não
queria ligar, mas aconteceu uma coisa e estou com muito medo – disse
chorosa e já sentia um pouco de falta de ar. Pegou a bombinha na bolsa e
puxou duas vezes.

Felipe se agitou do outro lado da linha - onde você esta? - a pergunta era
urgente e preocupada.

Adriana sentiu lágrima escorrer em seu rosto - não! Me esperem no


apartamento! – disse

Ouviu falando rapidamente com alguém - vou busca-la! Onde você esta? –
disse não lhe dando ouvidos – por favor, Adriana, diga onde está – pediu.

Enxugou as lagrimas - por favor, me espere no apartamento - ela insistiu.

Ele falava novamente com outra pessoa - já estamos aqui! – ele disse

Revirou os olhos de forma impaciente. Claro que já estavam lá esperando por


ela, era o sétimo dia - estou indo! – desligou. Ficou parada encostada na
parede da saída do metrô, tentando recobrar o fôlego e o controle de sua
carne que ainda tremia.
Adriana entrou no apartamento depois mais ou menos 30 minutos, e quando
entrou deu de cara com Morgan e Felipe conversando animadamente com
Fernan e Gevy, que estavam inebriados demais com eles para prestarem
atenção nela. Pôs o molho de chaves no balcão da cozinha e tirou a bolsa
com certa dificuldade devido à dor no ombro. Todos olharam para ela.

- Adriana! – Felipe disse animadamente quando foi ao seu encontro. Passou


os olhos rapidamente por cada centímetro de seu corpo para se certificar que
não estava machucada, e notou que havia algo errado, pois o coração dela
estava agitado e ela suava um pouco. Mas a expressão dela quando o encarou,
era de dor, a qual ela tentava disfarçar.

Adriana forçou um sorriso - Felipe! – disse quando ele foi ao seu encontro
um pouco ansioso demais. Ele pegou sua mão e a beijou alegremente e
depois de leva-la aos lábios, franziu o cenho e endureceu os olhos depois de
disfarçadamente a avaliar de baixo a cima como se tivesse algum raio-X nos
olhos. Percebeu quando ele lançou um olhar muito rápido para Morgan, que
de imediato se aproximou e pegou sua mão e a beijou também. Depois sorriu
de forma estranha e olhou para o amigo como se falassem somente pelo
olhar. Queria muito saber o que eles falavam em código através daqueles
olhares.

Morgan a mediu também e depois a fitou - Adriana – ele disse com seu
charme irresistível enquanto ainda segurava a mão dela.

Ela puxou a mão bruscamente, pois ele demorava em solta-la e tinha um


sorriso torto cheio de malicia estampado na cara. Não sabia por que, mas
todas as vezes que olhava para aquele homem, era como se houvesse
acontecido algo entre eles e não lembrasse.
Felipe estava perturbado naquele momento, e olhava para a janela da sala que
estava aberta para que os outros humanos não percebessem a tensão. Depois
se virou para ela forçando um sorriso - Viemos busca-la, já estamos partindo
novamente para casa na escócia - disse-lhe.

Adriana olhou por um tempo para ele e pode ouvir em sua cabeça “corre
perigo aqui” franziu o cenho, pois não esperava por aquilo, foi estranho ele
falar com ela sem mexer a boca, mas respondeu – ok! – Então sem pensar
levou a mão até o ombro o sentia latejar, parecia ter deslocado, pois doía
demais e não conseguia mexer o braço por causa da dor. Disfarçou uma
careta que estava prestes a fazer para que não percebessem nada, mas parecia
que nada passava despercebido por eles, pois Morgan a encarou como se
acabasse de ouvir o que ela pensava e rapidamente acompanhou a mão que
massageava o braço dolorido. Ele franziu o cenho aborrecido e desviou o
olhar para Gevy que parecia babar quando lhe perguntou algo.

Adriana olhava para eles, mas era como se não os ouvissem. Um monte de
coisas passava em sua cabeça naquele momento, principalmente nas dezenas
de possibilidades de se ferir com aquela história, pois pior do que ela se
machucar com aquilo tudo, seria sua família e seus amigos se machucarem ou
até morrerem por sua causa. E um já havia sumido misteriosamente. Foi até o
seu antigo quarto - minhas coisas já estavam arrumadas mesmo – disse
quando se afastou.

Felipe observou ela se afastar, sentindo aquele aroma do medo infestar o ar.
O medo dela não era por ela, e sim por sua família e seus amigos. E estava
machucada também, mas disfarçava e ficou furioso, pois sentiu outro cheiro
nela, o cheiro dos ciganos. Sentiu-se culpado por não estar por perto para
protegê-la. As coisas começavam a ficar complicadas e perigosas para a
humana, e teria que começar a ser mais rigoroso com a sua segurança.
Capitulo 11

Enfrentando o medo

Adriana ficou em silêncio quase que o caminho inteiro. Ela insistiu para que
pegassem o trem para Edimburgo, pois queria evitar a viagem de helicóptero
a todo custo. Felipe cedeu ao seu capricho e pegaram o Inter city Express até
a cidade. Tentou arrancar alguma coisa dela depois que deixaram o
apartamento, mas ainda estava abalada com o que tinha acontecido naquela
tarde, e só lhe dava respostas vagas. Ficou algum tempo apenas observando-
a, enquanto ela tinha o olhar perdido para fora da janela. E Morgan também a
observava em silêncio. Queria examina-la para ver a extensão de seu
machucado, mas tinha receio de que ela não deixasse.

Soltou um suspiro depois de ficar muito tempo olhando para fora pensando e
pensando, sem saber o que fazer. Adriana virou-se para Felipe de repente -
qual a possibilidade de eu me safar nessa história? – o encarou, mas os olhos
dele eram insondáveis.

Felipe ainda a olhava, pois ouvia sua mente naquele momento e estava
preocupado com seu braço - não tem como escapar de seu destino, Adriana! –
foi sincero – mas estaremos ao seu lado para te ajudar. Mas não será fácil,
então certas regras terão que valer a partir de agora, para a sua segurança. Até
nós podemos machuca-la sem querer – viu respirar fundo, e seu coração
naquele exato momento acelerava.

Ela riu nervosa e voltou a olhar para além da janela, imaginando o que seria o
“sem querer” – morrer? – disse sem olhar para ele.
Ele enrijeceu quando ouviu aquilo, não gostava daquela possibilidade -
também! – disse após suspirar – somos muito fortes, por ser o que somos.
Apesar de sermos antigos e ser fácil ter controle – ele sentiu o olhar
desconfiado dela, quando essa se virou para encara-lo novamente - mas para
um vampiro jovem, é praticamente impossível controlar. Como aqueles no
baile! Podem machuca-la facilmente, e até mata-la - explicou.

Lembrou-se dos dois homens no metrô, depois olhou para Morgan. Mas
desviou os olhos dele rapidamente, pois a encarava e queria evita-lo o quanto
pudesse.

- Senti um cheiro peculiar em você hoje, conte-me o que aconteceu no metrô


– Felipe disse atraindo sua atenção novamente.

Ela o olhou confusa - como assim? Que tipo de cheiro? – perguntou um


pouco irritada.

Ele a fitou - algo como cachorro molhado! – respondeu não conseguindo


disfarçar sua irritação em mencionar aquilo.

Ela apertou os olhos enquanto o olhava, e levantou o braço e o cheirou - não


estou cheirando a cachorro molhado! – Disse zangada

Ainda a encarava - você não pode sentir como nós sentimos! – explicou

- Quem estava com você no metrô? – quem fez pergunta foi Morgan que a
olhava desconfiado. Ele sabia quem havia sido e estava odiando a
possibilidade da aproximação de Atila.

Já estava sentindo mal-estar por causa da dor no ombro e não gostou do jeito
que Morgan perguntou aquilo, não entendia sobre o que eles falavam - eu
estava sozinha! – iria cruzar os braços, mas doeu e mordeu o lábio inferior
para disfarçar a dor e aquilo a deixou impaciente. O encarou, odiava o jeito
arrogante dele principalmente quando percebeu sua vulnerabilidade naquele
momento.

Morgan a encarava muito sério - não minta! Sabemos quando um humano


mente.

Ela arqueou a sobrancelha direita em sinal de impaciência - Eu estava


sozinha, por que eu mentiria? – rebateu se exaltando um pouco, depois
refletiu quando lembrou o que eles eram e olhando para os lados abrandou a
voz – não estava com ninguém, mas surgiu um cara enorme e assustador no
mesmo vagão que eu. E eu tive a nítida impressão que ele estava me seguindo
antes – explicava - depois entraram dois caras bem vestidos e um pouco
pálidos. Eles queriam me pegar com certeza, mas o grandão me defendeu e
quando eu vi já estava sendo arrastada para fora do vagão pelo o cara da
feirinha cigana. Depois estávamos na plataforma, o grandão começou a
tremer e seus olhos ficaram... - ela hesitou quando começou a se lembrar do
que vira e falou devagar, como se estivesse vendo a cena novamente - seus
olhos eram selvagens, amarelos, e parecia que seus ossos se quebravam por
inteiro ai eu corri para fora do metrô e ouvi o uivo – ela parou de falar e
olhou para Felipe e depois Morgan, e ambos olhavam para ela em silêncio
como se fossem estátuas. Achou aquilo esquisito.

Felipe controlou a ira e olhou para seu amigo - o clã de Kaimel sabe onde ela
está! – disse para Morgan que a fitava de forma curiosa, como se a estudasse.

Ela o ignorou - que tipo de vampiro fica daquele jeito? – sua pergunta parecia
inocente e confusa ao mesmo tempo.

Morgan riu achando a pergunta absurda - vampiros não! Garous, lobisomens


para ser exato. E não estou falando de um lobo gigante com cara de mau - ele
se inclinou na sua direção ao falar, para que os outros passageiros não
ouvissem – e estão atrás de você – tentou assusta-la.

Adriana sentiu náuseas ao ouvir aquilo, e por causa da dor que se


intensificava por causa do frio - que merda! Esqueci que estou presa no meu
filme de terror particular – disse lembrando-se de como era a imagem de um
lobisomem.

Morgan a farejou – por que está tão abalada? Apreciou a companhia do


monstro – provocou
Ela o encarou irritada – fala isso porque é um esquisito que nem eles –
rebateu – sou grata pela proteção e os vampiros pareciam com medo deles.

Morgan não gostou da resposta – claro que estavam com medo! Aqueles
vampiros são fracos para aqueles lobisomens, já devem estar em pedaços -
Morgan parecia mais aborrecido que antes, odiava o atrevimento das
respostas daquela humana - por isso cheira a cachorro molhado.

Ela deu de ombros o comentário provocativo e virou o rosto - pareciam gentis


na feira cigana – ela disse sem pensar e disfarçou outra careta de dor.

Felipe ouviu o debate entre Adriana e Morgan e ficou impaciente com a


simpatia dela pelos Argus - Claro! Saem-se melhor que nós no disfarce, mas
quero que fique longe deles! – disse de forma autoritária e percebeu o quanto
ela tentava disfarçar aquela dor.

Adriana o encarou achando o fato de ele lhe dar uma ordem, absurdo – por
quê? – perguntou com indignação, depois refletiu por um segundo porque
estavam falando de lobisomens e não pessoas. Morgan sentou-se ao seu lado
e pegou seu braço direito e gemeu quando sentiu a dor absurda, ao mesmo
tempo em que ficou na defensiva quando ele a tocou.

Morgan levantou a manga da blusa da humana e mostrou-lhe a marca perfeita


dos dedos de Atila que já estavam roxas - isso! – ele disse - provavelmente
ele não mediu a força que usou quando apertou seu braço quando estava
começando a se irritar! – explicava olhando nos seus olhos - se ele se
enfurecesse poderia arranca-lo com facilidade sem nem ao menos perceber e
não apenas desloca-lo – percebeu a tentação que era tocar naquela mulher e
ficou na dúvida se deveria colocá-lo no lugar ou não. Então o pegou seu
ombro de repente com a mão esquerda, enquanto a outra fazia um movimento
brusco colocando-o no lugar. Fez aquilo muito rápido para não lhe dar tempo
de se debater, protestar e gritar.

A dor aguda que Adriana sentiu quando ele colocou seu ombro no lugar, foi
tão intensa que teve vontade de gritar, mas abafou o grito com a mão e
inclinou o corpo para frente quando ele a soltou. Ficou naquela posição até a
dor passar, e se esforçando para não chorar parecendo uma fraca, mesmo
assim seus olhos estavam cheios de lagrimas e seu rosto vermelho. Depois de
alguns minutos sentiu a mão de Felipe nas suas costas e ele perguntou algo,
mas não ouviu. Apenas se endireitou no seu lugar e vestiu sua jaqueta,
sentido que o seu ombro estava apenas dolorido, mas não sentia mais a dor
aguda no local. Olhou para Felipe lentamente que a olhava de forma
preocupada e depois olhou rapidamente para Morgan – Obrigada! – disse sem
graça sem conseguir desviar os olhos dele.

Felipe olhou para o braço dela e depois fitou seu rosto. Ficou furioso por
terem machucado ela daquela forma - fique longe deles! – ordenou
novamente controlando o nervosismo quando pressionou sua têmpora direita
com os dedos. Era como se sentisse uma dor de cabeça que não estava lá –
não os conhece, são perigosos, ferozes e incontroláveis. Podem tanto protegê-
la, como minutos depois de protegê-la, devora-la - concluiu.

Ela ainda olhava para os olhos de Morgan que a fitavam em silêncio. Pode
começar a vislumbrar certa preocupação com ela neles. Baixou os olhos em
silêncio, e depois voltou os olhos para Felipe – é meio estranho, porque se
quisessem me matar realmente teriam feito hoje no metrô. Vocês não estavam
lá – achou que os olhos dele brilharam estranhamente quando lhe disse
aquilo.

Felipe ficou contrariado com sua resposta - já assistiu algum filme de


lobisomens? - perguntou

Ela o olhou como se fosse contar uma piada sem graça – não sou uma
criança, não vai me assustar com isso. E vocês não são assim, e nos filmes...
– parou de falar quando percebeu que falava aquilo como se fosse uma coisa
normal, e não era.

Morgan deu um risinho contido e depois lhe disse - não nos romantize
humana! Não sabe do que somos capazes de fazer com alguém como você,
somos criaturas cruéis. Não existe romance algum no nosso mundo – alertou
de forma sombria, atraindo seu olhar novamente.

Ela abaixou a cabeça sobrepujada por sua imponência e arrogância. E teve a


certeza de que ele se achava superior a qualquer outra raça, e que não
adiantaria discutir com nenhum dos dois.

Felipe se inclinou um pouco em sua direção - preciso que entenda que está
lidando com criaturas muito perigosas. Até mesmo nós somos perigosos. Mas
a diferença entre nós e os outros, é que estamos aqui para te proteger - disse
tocando em suas mãos apoiadas na perna.

- É a única humana que pode se sentir segura conosco! Mas não abuse da
sorte – Morgan alertou. Mas parecia se divertir quando sentiu o olhar
zangado dela voltando-se para ele.

Adriana estava indignada – como espera que eu lide com tais criaturas?
Sendo que como Morgan mesmo disse, sou apenas humana? – aquilo soou
com um pouco de magoa.

Felipe repreendia Morgan com os olhos - Lhe ensinarei tudo o que eu sei, e
irei protegê-la. Mas é primordial que confie em mim – ele ansiava por sua
confiança, mas Morgan não ajudava com aquela atitude arrogante.

Ela apenas o olhou por um longo tempo em silêncio e depois desviou os


olhos para a escuridão que já havia caído. E Morgan ficou em silêncio
olhando para ela, até chegarem a seu destino.
Quando chegaram no castelo já estava totalmente escuro. Adriana estava
aborrecida com tudo o que acontecera até ali. Ficou horas sentada em um
trem, somente discutindo seu destino e sobre quem seriam seus inimigos, ou
eram inimigos deles? Pensou. Não estava acostumada a regras, e não gostava
de ninguém controlando sua vida, e parecia que já estavam fazendo tudo
àquilo sem ao menos lhe consultarem antes.

Quando entraram não viu suas ajudantes por ali, lembrou-se de que elas
voltariam somente pela manhã como haviam combinado. Mas ouviu risadas
femininas e música alta quando estava seguindo para a escadaria. Parou para
prestar atenção quando ouviu as risadas novamente, e seguiu o som em
direção ao salão de jogos. Pensou que provavelmente Miguel e Diego
estavam se divertindo. E pensou naquele momento que realmente precisava
de uma bebida muito forte naquela noite ou não dormiria.

Enquanto seguia naquela direção, percebeu que Felipe parou de falar com
Morgan e Isaiah que os recebeu, para ver o que ela fazia. Depois ele se
apressou em alcança-la antes que se aproximasse da porta e a chamou. Achou
sua atitude estranha e o ignorou, e quando abriu a porta e olhou para o
interior da sala e parou estarrecida.

Diego estava sentado na poltrona com uma moça loira de cabelos longos e
seminua, sentada em seu colo. Miguel estava entre as pernas de uma moça
negra sentada na mesa de sinuca. Havia outra moça que parecia desmaiada
em cima da poltrona de dois lugares e outra debruçada na mesa de cartas.
Quando viu aquela cena ficou perturbada de tal maneira, que só não gritou,
pois já sabia a verdade sobre eles, mas sua carne começou a tremer
involuntariamente.
Diego acariciava as coxas da moça com uma das mãos, enquanto a outra a
segurava firme pelos cabelos da nuca. Seu rosto estava aninhado no pescoço
dela e ela já estava branca como o mármore. Ele fazia um movimento
estranho com a boca e a moça gemia, pode vislumbrar um fio vermelho
escorrer, e se deu conta de que ele se alimentava dela e que aquilo que
escorria era sangue. Deu um suspiro pesado e automaticamente olhou para
Miguel e a moça que estava com ele. Ele estava movimentando seus quadris
para frente e para trás entre as pernas dela, enquanto sugava seu pulso e ela
sequer percebia o que ele fazia. Não pareciam mortas e sim bêbadas ou
inebriadas demais, pois ainda gemiam como se sentissem algum tipo de
prazer. Seu instinto dizia para olhar para a moça no sofá, e quando a
observou atentamente teve a certeza que aquela estava bem morta, pois
pendia imóvel no lugar como se fosse uma boneca de pano com os olhos
abertos. Começou a ofegar horrorizada com aquela cena, olhou para a moça
debruçada sob a mesa de cartas e os dois pulsos tinham ferimentos de
mordidas, então sim, também estava morta.

Miguel e Diego pararam o que faziam quando sentiram o cheiro de Adriana,


e olharam ao mesmo tempo para a moça paralisada na porta. Nem se deram
conta de como estavam. Seus olhos escuros, suas bocas sujas de sangue,
presas e as moças mortas, viram o pavor nos olhos dela.

Diego que ainda estava segurando a moça em seu colo tentou limpar a boca
com a manga da camisa, pois o sangue ainda escorria pelo canto da boca.
Ficou sem reação quando viu o medo nos olhos da humana.

Miguel olhou para ela meio desnorteado, logo depois parecia sair de um
transe e se agitou e ficou sem saber o que fazer. Apressou-se em limpar a
boca e levantar as calças arriadas, depois de soltar a moça e ela cair mole em
cima da mesa de sinuca.

Felipe ao parar logo atrás dela, ficou furioso com o que via. Ela estava
aterrorizada, e não queria que tivesse visto aquilo, sabia que ela entraria em
choque.

Quando Adriana percebeu que Morgan estava ao seu lado, olhou assustada
para ele e viu sua expressão mudar, era como se aquilo o excitasse, pois não
tirava os olhos daquela cena. Viu cerrar os punhos junto ao corpo como se
estivesse tentando conter sua natureza. Sentiu medo dele, pois se lembrou do
sonho que vinha tendo com ele há alguns dias, faziam sexo e sentia algo
sugando seu pescoço e sempre sentia umas fisgadas naquele local, era
estranho. E pensou que talvez houvesse realmente acontecido e ele apagava
sua mente depois. Assustou-se quanto ele a encarou. Sua reação foi apenas se
afastar dele devagar, e depois sair correndo em direção as escadas.

Morgan se esforçou muito para resistir aquilo, pois estava ali disponível e era
só pegar e tomar. Mas apenas abaixou a cabeça quando encarou os olhos
assustados da humana que depois saiu correndo assustada e com medo. A
reação dela em relação a ele, e a cena que vira o incomodaram. Blasfemou
antes de sair dali o mais rápido que pode. Pois teve certeza de que aquela
cena a fez lembrar-se do que havia acontecido entre eles.

Diego soltou a moça que estava em seu colo no chão, e tentou se explicar -
Não achávamos que ela voltaria facilmente, então... - Ele parou de falar
mediante o olhar zangado de Felipe, que depois lhe deu as costas e saiu.

Felipe correu para alcançar sua protegida, mas ela entrou no quarto com tudo
e bateu a porta na sua cara. Ele ainda pode ouvi-la trancar e apoiar alguma
outra coisa para obstruir sua passagem. Ficou olhando para a porta fechada -
Adriana abra a porta! Deixe-me lhe esclarecer algumas coisas - ele dizia

- Eu já entendi tudo, Felipe! Como vocês vivem como se alimentam. Não


precisa me explicar nada. Não quero saber – ela disse do outro lado.

Não sabia o que dizer, ela não era uma idiota - São prostitutas! Fazemos isso
quando precisamos nos alimentar com mais urgência - ele tentava explicar

- Prostitutas! Mas elas são pessoas. Isso. Isso é um pouco demais no


momento - berrou de volta.

Ele olhou para a porta e ficou ali. Tentou explicar durante uns trinta minutos,
mas ela estava relutante em abrir a porta e realmente não abriria. Viu Diego
se aproximar dele – ela precisa de um tempo – disse num tom que somente
ele ouviu, e saíram.
Claro que Adriana tinha resistência sobre a verdade. Depois de se trancar no
quarto, sentou-se na cama e ficou pensando nas coisas que descobrira, nas
verdades que não queria acreditar e no que tinha acabado de ver. Nunca
imaginou que pudesse ser real. Nunca imaginou que por trás daqueles rostos
lindos e gestos gentis, se camuflavam criaturas cruéis que sugavam a vida até
a morte para manter a própria imortalidade. Achou que aquilo só existia nos
filmes e livros, não na vida real. Deitou-se e ficou pensando em milhares de
formas de se safar daquilo. Mas no fundo sabia que eles não a deixariam
partir, principalmente depois de saber tanto. Principalmente Felipe, que agia
como se fosse seu guardião, que a seguiu a vida toda e sabia cada detalhe de
sua vida desde que nascera principalmente onde encontrar sua família.
Achava aquilo bizarro demais! Parecia que estava presa em um pesadelo.
Não tinha o que fazer somente aceitar e ponto. Não conseguiu dormir naquela
noite, tinha medo de pegar no sono e acordar com um deles ali.

Na tarde do outro dia, depois de passar a manhã inteira trancada no quarto e


recusar abrir a porta até para Isaiah. Resolveu encarar aquilo de uma vez por
todas e sair para dar uma caminhada sozinha e pensar um pouco, para tentar
se acalmar. Lembrou-se da capela na estrada de terra que dava para a vila, e
foi para lá que seguiu. A porta estava aberta, mas não havia ninguém,
somente seus bancos de madeira lustrosos, uma cruz dourada vazia, e um
púlpito sem imagens. Ficou parada na porta hesitando em entrar por alguns
minutos, e logo após entrou devagar olhando em volta, sentou-se no ultimo
banco da fileira a sua esquerda.

Olhava para a cruz vazia e tentava em vão lembrar-se das passagens da bíblia,
mas não conseguia se lembrar de nenhuma. Nunca tinha sido uma pessoa
religiosa, muito pelo contrário, sempre fora cética. Sentiu uma angustia
terrível, porque não sabia lidar com aquela situação e estava com medo.
Imaginar um vampiro se alimentando de um ser humano ou ver em um filme,
é uma coisa. Mas ver ao vivo, sendo verdade, era aterrorizante. Tinha medo
de ser a próxima fonte de alimentação deles se não encontrassem outra.
Apoiou as duas mãos no banco da frente e encostou sua cabeça nelas. Iniciou
uma oração bem baixinha, com medo de que alguém da vila entrasse ali e a
ouvisse - Meu Deus – disse baixinho e de forma confusa, tentando encontrar
as palavras corretas, nunca tinha feito aquilo na vida adulta, somente quando
era criança – não sou o tipo que ora ou pede alguma coisa! – suspirou – mas
estou com medo. E ninguém vai acreditar em mim... é... – Fez uma pausa
antes de continuar -... nem eu acredito! - ficou em silêncio em seguida, como
se aguardasse que deus lhe respondesse em voz alta. Mas havia somente
aquele silêncio dentro da igreja, e o barulho dos pássaros lá fora no campo.
Depois de alguns minutos de espera, sentiu paz por um momento, mas em
seguida chorou até sentir que o peso de seus ombros era aliviado de alguma
forma, e aquilo foi a acalmando devagar, mas ainda ficou ali com a cabeça
apoiada nas mãos até as lágrimas cessarem. E então sentiu que alguém
sentava ao seu lado e lentamente levantou sua cabeça e olhou. Suspirou
pesadamente.

Ele olhava para a cruz e parecia perdido em suas lembranças enquanto a


olhava, como se aquilo fosse um hábito. Pensou como seria possível ele estar
ali dentro sem ser destruído, e como sabia que ela estaria ali. Então ele olhou
para ela com uma expressão serena e disse – Eu costumava ter mais fé! – sua
voz era suave e despretensiosa e um sorriu foi se formando em seu belo rosto
com covinhas – não posso ser destruído por estar aqui dentro – ele piscou.

Enganaria qualquer um, ela pensou! - como sabia o que eu estava pensando?
- perguntou um pouco confusa

Diego deu um largo sorriso quando percebeu sua confusão - é uma habilidade
que poucos de nós temos - respondeu

Ela olhou para a cruz vazia novamente e ficou em silêncio, ele ficou olhando
para ela e teve um desejo enorme de tocar em seus cabelos quando percebeu
que havia chorado. Mas conteve-se, como se aquele gesto a fizesse correr
para longe dali. Pensar naquilo lhe incomodou - peço-lhe perdão pelo o que
viu ontem! – disse com certo constragimento - jamais faríamos aquilo com
você, ou para que você visse – ele parou de falar ao ver seus olhos
desconfiados.

Ela não respondeu, apenas virou o rosto para ele e sorriu com certo esforço,
avaliando se deveria confiar ou não neles, aceitando o que eles eram e o que
ela era. Por algum motivo sabia que eles não a machucariam, percebeu que se
quisessem já o teriam feito. Realmente ela era a única a se dar esse luxo, pois
eles não demonstraram a mesma consideração para moças da noite anterior.

Ele retribuiu o sorriso com outro aliviado - ouvi sua oração! – ele disse de
repente

Ela riu como se aquilo fosse um absurdo.

Ele continuou a falar olhando para a cruz novamente -a única coisa que é
mais poderosa que qualquer arma, a fé – ele deu um suspiro pesado e cheio
de lembranças. Depois se levantou lentamente para sair

Ela o seguiu com os olhos - acredita em Deus? O Deus dos humanos? -


perguntou quase abismada com aquela possibilidade.

Diego a fitou calmamente - sim! – respondeu - e você? – perguntou

Ela ficou confusa com a revelação - sim! Mas... - ela desviou o olhar dele
para as mãos – é como se tudo o que eu sabia não valesse nada agora.
Acredito em Deus e no Diabo, céu e inferno, fui educada para acreditar nisso.
Mas agora de repente me vejo no meio de algo extremamente diferente. É
estranho vivenciar algo além do que eu lia em livros ou assistia na TV. Não
fomos preparados para vivenciar essas coisas, você acreditar porque ouviu
falar, ou porque acha que possa existir é uma coisa. Mas descobrir que
realmente existe é outra – voltou os olhos para ele – eu fico confusa e sinto...
- ela parou de falar com receio de continuar.

Ela a olhava compreendendo o que sentia - sente medo do que não consegue
entender! – ele completou a frase - sabia que Deus disse 365 vezes na Bíblia,
para que o ser humano não tivesse medo. Uma vez para cada dia, o medo
destrói a alma e a carne – ele suspirou e depois estendeu a mão para ela que
olhou para sua mão e hesitou, mas depois a pegou – venha, está escurecendo
e esfriando. Não gostaria que ficasse doente nem nada – disse com um sorriso

Caminhavam pela a estrada de terra de volta para o castelo, e ela o olhava


com atenção. Atentando-se em sua pele muito pálida, seus lábios carnudos
sensuais, até suas covinhas quando sorria, seus olhos perspicazes que mesmo
não olhando-a diretamente ela sabia que ele percebia seu olhar especulativo.
Seus gestos educados, seu charme fora do comum e seu estilo de um astro de
rock sofisticado. Até percebeu uma mancha suavemente escura em volta dos
olhos claros e vivos demais. Ela queria lhe perguntar algo, mas relutou um
pouco.

Ele percebeu e sorriu, mesmo sem olhar para ela.

Ela sorriu sem graça - como é possível? – ela perguntou – ainda é dia.

Ele ainda sorria - temos certos horários os quais podemos nos expor. A partir
do cair da tarde, por exemplo, e em alguns lugares como a escócia em que o
sol não é tão agressivo e sempre chove – respondeu fazendo menção à chuva
que iria começar logo.

Ela parecia pensar sobre aquilo e deu um suspiro - como isso começou? –
começava a relaxar.

Ele olhou para ela de forma compreensiva - Existem várias versões e vários
pontos de vista em diversas culturas. Mas ninguém chegou a uma conclusão.
A explicação mais plausível que encontrei se da aos filhos da desobediência.
Conhece a história, certo? – disse

Ela meneou a cabeça – está falando da raça dos Nefelins? - respondeu

- Se irmos a fundo percebera outras coisas – disse – bom, nossos registros


revelam que antes do clã Drako, existiram vários outros clãs. Na macedônia,
nos povos antigos sumérios, Acadianos - ele atraia a atenção dela. E ela
tentava imaginar.

- E como é possível que você consiga ler a Bíblia e entrar na igreja sem ser
destruído? - sua pergunta era curiosa

Ele riu alto levando a mão ao peito como se fosse um velho hábito. Como
alguém que ri muito e sente falta de ar - qualquer um pode ler a Bíblia! –
respondeu
- Mas você é um vampiro! Não deveria pegar fogo, esse tipo de coisa? –
estava realmente curiosa com aquilo

Dessa vez ele gargalhou divertido - minha criança! – disse - não sou um... -
Ele hesitou como se não tivesse tanta certeza do que iria dizer -... Demônio,
como muitos caçadores acham. E mesmo os demônios conhecem e lêem a
Bíblia. Entram em igrejas, tocam nas cruzes e não lhes causam nada -
explicou – todas essas coisas sem a fé, não valem de nada. O Cinema e os
livros folclóricos destoam da realidade.

Ela pensou por um momento - fé? É estranho ouvir isso de alguém como
você – disse

Ele sorriu – criaturas como nós já estavam aqui antes da humanidade, e eles
sempre tiveram fé. Acha estranho porque você é humana, e humanos...
bem...os humanos sempre duvidam de tudo. E quando tem fé, basta acontecer
algo ruim com eles para perdê-la. Estão sempre insatisfeitos! – percebeu o
desconforto dela com suas palavras – eu já fui humano e sei que é assim que
acontece - esclareceu

Ela parecia indignada com o que ele lhe dissera - como sabe tanto sobre
Deus, fé? - olhava para ele incrédula.

Ele pareceu suspirar - sempre acreditei nele, e procurei estudar sobre as


coisas de Deus. Mas o julgamento dos homens me trouxe aqui – ele pareceu
triste ao falar isso, mas depois olhando lentamente para ela abriu um sorriso
tão encantador, que ela até pensou que ele poderia ser confundido com um
anjo - é uma longa história, um dia eu lhe contarei tudo - e continuou- mas
falávamos de medo, dúvida... - ele dizia

Adriana lembrou-se do episódio do metrô - fiquei com muito medo no metrô!


Nunca senti tanto medo na vida – confessou e depois riu dela mesma – e
todos os outros dias, fiquei com medo de vocês. Mas aquele dia no metrô eu
poderia ter morrido. Nunca imaginei ser perseguida por vampiros. Fiquei
apavorada! Os outros que me ajudaram, tremiam como se tivessem
convulsões e rosnavam como animais – deu um suspiro pesado – isso me fez
lembrar das histórias que meu avô e minha avó me contavam e que depois
que cresci, deixei de acreditar – disse sem pensar.

Diego endureceu a expressão com a revelação, e parou de andar, e ela parou


em seguida. Já estavam no hall do castelo – eles são mais perigosos que nós!
Aqueles vampiros e os homens que te ajudaram – advertiu

Ela pareceu duvidar daquilo - está falando dos homens que me salvaram -
perguntou de forma curiosa

Ele percebeu - sim os lobisomens! São instáveis, cruéis e assassinos.


Atacariam a própria mãe quando transformados – ele percebeu a expressão
assustada dela - sentem o cheiro do medo há quilômetros, porque fica mais
fácil caçar quem sente medo – ele gesticulava ao falar.

- é assim que caça suas vitimas também? - perguntou analisando a expressão


dele mudar de alegre para sombria.

- Não as caçamos, as atraímos! E iníquos são sempre suscetíveis a nós - dizia


friamente - às vezes abrimos exceções em caso de necessidade - desviou os
olhos para o grande pátio e depois voltou a fita-la - Mas os lobisomens não
escolhem suas vitimas por deficiência moral, pega o que estiver no caminho -
concluiu.

Ela abaixou os olhos e depois balbuciou vacilante – lobisomens! Quando


ouço essa palavra, lembro quando passou o vídeo clipe do Michael Jackson
no meu país e eu era pequena. Meu pai nem queria me deixar ver, mas chorei
e ele deixou. No outro dia eu não ficava em nenhum cômodo da casa sozinha
e não podia ouvir a musica porque tinha medo dela - ela estremeceu

Ele sorriu quando ela lhe contou aquilo e a imaginou como sua vida humana
era cheia de lembranças queridas, pois seus olhos brilharam quando lembrou
daquele momento com o pai. A conduziu até o banco do enorme jardim –
Lobisomens não são apenas monstros, são monstros inteligentes e obstinados.
Kaimel foi o primeiro lobisomem do clã dele, e é o líder até hoje. Ele foi um
guerreiro berserker em sua vida humana há muitas eras atrás. Esses guerreiros
se camuflavam com peles de animais, e cada tribo de guerreiros era
identificada pelas peles que usavam. Ele vinha da tribo que usava a pele dos
enormes lobos do norte gelado. Todas as tribos independentes de suas peles
juntavam-se para lutar as guerras de outros reis e as venciam facilmente -
dizia – Nas histórias dos vikings, eles eram homens grandes e descomunais,
com força extraordinária e poder de combate incrível, mas na verdade eles
tomavam uma bebida que lhes deixavam muito violentos em batalha -
continuou - Kaimel migrou para cá seguindo a trilha de um assassino que
nenhum guerreiro conseguiu matar. Esse assassino era considerado um
demônio muito antigo, e ele devastou partes de muitos lugares com sua sede
sem fim, e de acordo com as histórias matou a família inteira de Kaimel.
Quando Kaimel chegou em nossas terras, teve auxilio do povo daqui, isso
aconteceu antes da invasão viking - ele gesticulava enquanto falava -
humanos e vampiros, uniram suas forças e começaram a caçar esse demônio.
Mas mesmo assim, tudo o que faziam ainda era inútil para destruí-lo. Então
dizem que um anjo forjou uma espada e escolheu a Kaimel para mata-lo, pois
era um guerreiro justo, valente e nunca havia perdido uma batalha. Mas algo
saiu errado naquela noite, pois Tyros os emboscou e o capturou. Como a
criatura poderosa que ele amaldiçoou a Kaimel usando seu poder herdado do
anjo caído. E dizia assim - ele fez uma pausa para se lembrar das palavras
exatas - Assim como a couraça do animal que usa, assim também será a vós.
Metade lobo, metade homem, metade besta. Se alimentará da carne e do
sangue dos homens e dos animais, e será caçado assim como caças a mim. E
isso se seguirá até a sua quarta geração. Deu-lhe de seu sangue demoníaco,
forçou ele a beber cada gota. E tudo isso aconteceu porque ele teve medo de
Tyros - ele fez uma pausa quando viu a reação de espanto de Adriana - vejo
que consegui lhe prender a atenção - sorriu e depois continuou a falar – Tyros
sumiu e Kaimel fugiu depois de devastar toda uma aldeia e metade de outra, e
aqueles que sobreviveram ao ataque, tornaram-se lobisomens. Ele
desapareceu durante um bom tempo, dizem que foi viver com os ciganos
romenos que viviam por aqui e que eles lhe ensinaram a controlar a fera
dentro de si. E quando voltou ensinou os outros a controlarem também, e se
tornou o líder, migrando com os ciganos para vários lugares, criando seu
próprio clã de guerreiros lobisomens, até a sua quarta geração. E depois o
restante de sua descendência que nasceram sem a maldição, deixaram o clã e
viraram ciganos sem paradeiro fixo. Kaimel de Argus! – ele disse e isso
atraiu sua atenção mais ainda.
- Argus - ela repetiu pensativa

- Sim! Argus, que com a migração para outros paises tornaram-se Argurius,
Argolos. São os mesmos! – Disse olhando para os últimos raios de sol que
batia no monte mais alto.

Adriana engoliu em seco e seus olhos se arregalaram por um momento.

Ele continuou – ele não pode mais usar a espada, e ela tornou-se sua
responsabilidade. Sendo assim, ninguém que não for de sua descendência,
poderá usar a espada do anjo. Mas somente a descendente que não tiver a
maldição e que for escolhida pelo próprio anjo para usa-la. Por isso está aqui
– viu Miguel se aproximar lentamente, indo até eles pelo jardim.

Adriana ficou incomodada com aquela história - sou descendente de um


lobisomem? Aquele cigano da feira cigana era um lobisomem... e eu estava
flertando com ele...Ai meu Deus! – Ela disse como se sentisse um mal estar
repentino, e passou a mão pelos cabelos.

Diego balançou a cabeça e tocou em seu ombro para lhe passar ânimo –
flertou com ele? – o jeito que perguntou a fez rir e ele também – espero que
isso tenha feito mudar de ideia em relação ao cigano – debochou.

Ela riu – pensando nisso agora, me deixa um pouco apavorada- o fato de lidar
com criaturas sobrenaturais lhe deixava aflita - mas se Helena matou o
demônio, assim como está escrito no diário de Felipe, por que eu tenho que
continuar? O que ela fez de errado que ele ainda vive? - Perguntou confusa e
ficou de pé andando de um lado para o outro.

Miguel se aproximava lentamente, mas antes os observou de longe antes de


tomar a inciativa de se aproximar. Ele a avaliou antes de falar – Felipe disse
que estariam aqui.

Adriana se virou sobressaltada quando ele parou ao seu lado, ficou um pouco
tensa com sua presença repentina, mas depois relaxou. Mas ele percebeu seu
desconforto e se afastou um pouco - perdoe-me! – disse parecendo
constrangido por assusta-la, sabia que ainda tinha um pouco de medo deles,
por mais que tentasse mostrar que não. Ficou fitando seu rosto por um
segundo e depois desviou os olhos.

Adriana sentiu-se uma idiota por agir daquela forma – não, tudo bem, só... –
disse sem graça, e viu voltar os olhos para ela novamente e não conseguiu
decifrar a maneira que a olhava – eu só estou tentando digerir tudo... isso –
parou de falar e viu ele sorrir da forma que sempre fazia e percebeu que ele
sem dúvida era o mais belo de todos.

Miguel sabia o tamanho de sua confusão e de seu medo, e que para uma
humana estava sendo muito corajosa. Ele sorriu meio sem jeito – eu estava te
procurando para falar sobre ontem. Jamais... – ele parou de falar quando ela
pegou sua mão direita e a colocou entre a suas. Pode sentir o calor que vinha
delas, era um gesto sincero de uma mulher humana que sabia o que ele era e
mesmo assim quis toca-lo. Estranhamente não soube definir o que estava
sentindo naquele momento e então a fitou e pode ver a sinceridade em seus
olhos, e num ímpeto segurou suas duas mãos e as beijou suavemente – não a
merecemos! – disse docemente olhando em seus olhos.

Adriana percebeu o quanto eram encantadores quando queriam e soltou a


mão dele suavemente, mas sabia o quanto estavam incomodados pelo fato de
ter visto os dois se alimentando das prostitutas, e percebeu que não estavam
acostumados a lidar com uma humana sem usar o encanto anormal deles, e
que não fosse se alimentar dela. Olhou para Diego de relance e ele os
observava com um sorriso nos lábios, como se estivesse aliviado por ela não
ter saído correndo. Sabia que acabava de ganhar dois amigos e que talvez
pudessem lhe ensinar muitas coisas, e que principalmente se importavam com
o que estava sentindo – só tenho que me acostumar com tudo isso. E peço
desculpas por toda a minha histeria nesses últimos dias - disse embaraçada e
suspirou.

Diego se aproximou e ficou ao seu lado – não! Não nos deve nada... - ele
tocou seu rosto suavemente – Acho que aqui nasce uma grande amizade – ele
sorria relaxado.

Adriana olhou para Miguel novamente – acho que sim! Eu quero confiar em
vocês e não ficar com medo. E gostaria que me explicassem tudo isso, porque
Felipe disse que eu não tinha mais tempo – se afastou dos dois e voltou a se
sentar no banco e ficou olhando para eles.

Diego concordou com certo alivio, nunca tinha conhecido ninguém como ela
e era maravilhoso ter um ser humano perto deles sabendo o que eles eram.
Isaiah não contava mais e com Adriana seria uma experiência nova - não
TEMOS muito tempo realmente, você não está sozinha... onde paramos? –
disse disfarçando o contentamento que sentiu sobre aquilo. Voltou a sentar-se
ao lado dela.

Adriana deu um suspiro pesado - Lobisomens, descendência, anjos,


demônios... absurdo! - ela dizia um pouco incomodada por dizer – Por que a
admiram tanto essa tal de Helena? Ela até parece uma divindade no mundo de
vocês. E ainda não entendo porque tenho que fazer o que ela fez, se ela matou
o tal do demônio - perguntou um pouco intrigada.

Miguel riu da sua observação – não é bem assim! – havia um pouco de


desdém quando disse aquilo – Helena foi uma peça importante na história
naquela época, foi criada para usar aquela espada – ele aproximou-se mais e
sentou do outro lado, deixando-a entre ele e Diego – ela foi essencial, mas
não indispensável! Ela não queria a nossa ajuda, achava que não precisava e
nos repudiava – disse com rancor - você nasceu com a mesma missão porque
descende de Kaimel, assim como ela foi. Não sabemos explicar como esse
anjo a escolheu e porque a escolheu, mas tem que estar pronta para usar a
espada. Ravengar sumiu e sabemos que ele sorveu uma pequena quantidade
do sangue de Tyros - ele continuava a falar - Se realmente causou o que ele
esperava, ele terá parte de seu poder. Não como ele, mas poderoso o
suficiente para nos matar e juntar os clãs inimigos, e a única coisa que mata
algo como ele é a espada- ele sorriu para ela como se estivesse forçando
aquilo, e ficou olhando para ela esperando alguma reação.

Ela ficou pensativa com o que Miguel contou – pensar nessa coisa de missão
me dar dores de estômago – disse baixinho esquecendo que eles estavam ali
com ela - Então esse Ravengar é como esse tal de Tyros? – perguntou
olhando para um e depois para outro.

- Não! Mas é um servo dele, sabe como traze-lo de volta - Diego concordou
cruzando os braços.

- Então ela não o matou – Adriana falava ao mesmo tempo que refletia sobre
aquilo - E por que ele ainda não fez o que queria? - ela voltou o olhar
interrogativo para ambos.

-Talvez esteja adormecido ou preso. Willian é muito astuto. Não faz nada
sem ter um motivo - Miguel respondeu.

- Você é a única que poderá usar a espada do anjo, esse é o ponto. Ninguém
mais pode toca-la. Por isso tem que se empenhar em perder seu medo, e
aprender a usar uma - Diego vislumbrou receio em seus olhos, quando ela se
virou para ele.

- como eu vou fazer isso? É. É muita informação. Como se eu estivesse


dentro do seriado da Xena ou Buffy – disse ao encara-lo com desânimo –
nunca peguei numa espada antes, isso realmente é muito surreal.

- Eu sei minha criança! Mas não temos tempo e vamos te ajudar. Porque isso
não é um seriado de TV – Diego respondeu.
Capitulo 12

Aceitando o destino

Naquela noite trancou-se no quarto novamente, sabia que eles não lhe fariam
mal. Mas se enfiou debaixo das cobertas e ficou ali custando a pegar no sono,
pois todas as vezes que cochilava, se assustava e acordava. Temia ter que
enfrentar algo que desconhecia e o fato de saber da existência de vampiros a
deixava apavorada, mas saber que também existiam lobisomens e demônios a
deixou em pânico. O que sabia sobre demônios a não ser o que estava na
Bíblia? E qual era o intento deles desde a criação da humanidade? De acordo
com o que tinha aprendido era acabar com a criação de Deus. Tinha que saber
mais, tinha que aprender tudo sobre tudo. E como eles lhe disseram, não tinha
tanto tempo. E como iria conseguir lidar com aquelas criaturas tão fortes e
poderosas? Não tinha a mínima idéia, porque era humana isenta de qualquer
poder. Ficou brigando com o seu sono, até ceder ao cansaço.

Acordou com as batidas insistentes de Isaiah na porta, olhou para o seu


relógio e viu que era cedo demais para alguém que não dormiu a noite inteira.
Saiu da cama, tirou a cadeira da porta e a abriu.

Ele entrou, olhou em volta a analisou e balançou a cabeça - bom dia! – disse

Ela estava sonolenta ainda - bom dia! – respondeu sem graça.

Isaiah analisou o estado de Adriana - acha mesmo que trancar a porta vai
adiantar? – perguntou com deboche.

Adriana estava confusa, pois tinha acabado de acordar. Então olhou para ele
dos pés a cabeça, pois estava trajado de moletom e tênis.
Isaiah lamentava por tudo o que ela tinha passado até ali, mas estava disposto
a ajuda-la. Respirou fundo antes de falar - A partir de hoje levantará às 6hs
para treinar. Serei seu instrutor, mestre, sensei, tudo isso. Precisa ficar mais
forte e aprender a lutar – disse-lhe estudando-a atentamente - os guardiões
não podem lutar todas as suas batalhas, tem que aprender a lidar com isso o
mais rápido possível – disse de forma dura.

Ela olhou para os lados e coçou a cabeça ainda confusa.

- Aguardo lá embaixo! – Isaiah disse dando-lhe as costas

- Para que? – Adriana perguntou mais confusa ainda

- Treinar! – ele respondeu do corredor mesmo

Adriana lavou o rosto, escovou os dentes. Achou sua roupa de ginástica no


meio de sua mala, calçou o tênis e desceu. Fez um rabo de cavalo nos cabelos
enquanto descia as escadas. Isaiah a aguardava no pé da escada com um copo
de vitamina. O olhou desconfiada, mas pegou o copo e bebeu a vitamina
assim mesmo. Em seguida o seguia para o pátio do castelo. Parou no meio do
caminho enquanto ele começava a se alongar e o imitou, depois de uns 15
minutos ele começou a correr.

- Vamos! Se quiser ser uma boa guerreira, tem que ter pernas fortes e
aprender a respirar direito - ele corria pela estradinha de terra.

Adriana o seguiu, mas reclamava achando aquilo ridículo. Foram sentido as


montanhas, depois desceram em direção à vila, e voltaram. O caminho era
um pouco longo e a cansava, porém, a paisagem a deixava extasiada. Quando
retornaram para o castelo após uma hora, ele a levou para uma parte externa
do castelo que ela não conhecia. Era um enorme salão, que fora transformado
em uma academia muito bem equipada. Apenas disse ofegante - uau!

Isaiah começou a lhe ensinar vários exercícios para os braços, pernas, bíceps,
tríceps, abdômen, e claro que foi debaixo de vários protestos dela que dizia
que era muito puxado, e ele insistia que seria daquela forma todos os dias e
que era para se acostumar e parar de ser mole. Ele realmente parecia um
general. Pararam somente para o café da manhã e mais tarde o almoço,
retomando os exercícios em seguida, e depois no dia seguinte debaixo de
mais protestos de dores e cãibras.

- Eu tenho certeza de que não vou conseguir me mexer mais! – Adriana


reclamava para Isaiah enquanto o analisou de baixo a cima. O homem era
grande e tinha músculos poderosos, nem imaginava que o inteligente
advogado dos vampiros era daquele jeito.

Isaiah a encarou sem se deixar sensibilizar com a reclamação – A dor faz


parte do processo da transformação. Não pode parar de treinar, nunca.
Mesmo depois de estar em plena forma, o que... - ele a analisou de baixo a
cima -...não está agora. Aposto que nunca levantou um peso na vida - criticou

Ela o olhava boquiaberta com o atrevimento – quem te pôs como meu


carcereiro, heim? Aposto que nem sabe o que ta fazendo - reclamou

Ele apenas riu – sou exímio espadachim, sou mestre em kenjutsu, kung fu,
muay tai e outras coisas, por isso serei o seu mestre. Por que acha que sou o
guardião diurno deles? Somente por causa da minha inteligência e beleza?

Adriana revirou os olhos e depois ficou encarando-o sem saber o que dizer.
Por fim, acabou fazendo todos os exercícios que ele mandava, até Felipe
aparecer no final da tarde vestindo uma roupa apropriada para treinar.
Primeiro lhe ensinou coisas como a força a ser aplicada tanto no ataque,
quanto na defesa. Passou-lhe muitas informações sobre o controle da fúria,
sobre a paciência, pois sabia que era algo que ela não conseguia controlar.

Os golpes de defesa que lhe ensinava, eram praticados com Isaiah, não com
ele. Pois segundo Felipe, ele era muito forte e poderia lhe quebrar um osso.
Mas mesmo assim, Isaiah lhe derrubou centenas de vezes e ela xingou várias
outras. A cada palavrão, Felipe lhe repreendia e ela se irritava mais - só estou
desabafando minha raiva! – ela rebateu entredentes.

Felipe a encarou ao se aproximar – desabafe sua raiva derrubando ele e não


xingando, isso é um tanto desagradável – disse apontando para Isaiah que já
estava pronto para outra, ela o olhava como se quisesse soca-lo e riu – fazer
cara de mau e xingar não adianta – debochou ao ver a cara que ela fazia.

- Grrrrrrr... eu odeio isso! – disse indo em direção a Isaiah – odeio me


machucar! – reclamou enquanto tomava a posição de defesa, mesmo sabendo
que seria derrubada mais uma vez.

Na maioria das vezes durante vários dias de treinamento que se seguiram,


Diego apareceu e ajudou fazendo demonstrações lutando com Felipe,
relembrando tantas vezes que lutaram juntos e todas as vezes que ele lhe
instruiu quando entrou para o clã. Ela achou incrível a velocidade que eles
usavam e a força que aplicavam em seus golpes, e começou a se empolgar
mais com os treinamentos que Isaiah lhe dava, mesmo achando que se lutasse
contra um vampiro inimigo fosse morrer. Miguel sempre assistia os
treinamentos dando suas opiniões na esgrima, e às vezes criticava a maneira
deles lutarem e acabava juntando-se a Felipe e Diego.

Morgan aparecia uma vez ou outra e ficava apenas observando em silêncio,


para ver se a humana estava evoluindo. Negou o convite para juntar-se a eles
várias vezes, e acabava virando alvo das provocações de seu irmão e Diego.
Mas ele sempre dava de ombros e se afastava.

Adriana treinava o dia inteiro, todos os dias, e quase sem parar. Eles lhe
ensinavam tudo, como se a tivessem moldando novamente. Levantava bem
cedo para treinar, e depois do almoço respondia os e-mails, fazia algumas
ligações de vez em quando para sua família no Brasil, e logo retomava o
treino até seus guardiões acordarem. Quando o treino com espada se tornou
mais intenso, Felipe tornou-se mais duro e exigente com ela. Parecia um
general, e quando errava mandava-a repetir os movimentos até ficarem de
acordo com o que achava perfeito.

Enquanto Isaiah e Felipe lhe mostravam na pratica. Diego e Miguel lhe


mostravam na teoria. Diego a levou até o salão de guerra lhe explicava cada
arma que ali continha e a maioria delas pareciam com armas de gladiadores.
Miguel a fazia estudar estratégia de guerra e a história por trás da história do
clã Drako, mas ocultando muitas partes. Chegaram a leva-la numa pequena
viagem até o muro de Adriano que ficava na fronteira entre Escócia e
Inglaterra, e ficaram andando sobre ele, enquanto lhe contavam as grandes
batalhas que foram travadas ali entre romanos e celtas, e ela adorava aquelas
histórias.
Ela e Isaiah também se tornaram grandes amigos e ele chegou a lhe revelar
que vivia há muito tempo e tinha sido um grande guerreiro em sua terra, até
todos serem capturados, vendidos e escravizados como animais, e adorava
quando ele começava a contar as histórias de sua terra.

Passados alguns dias, Felipe apareceu com uma espada romana de madeira
que era do tamanho exato para ela, e Adriana começou a treinar com Isaiah
que usava uma espada igual, treinaram com elas até ele aparecer com espadas
de verdade. No começo ele desferia golpes fracos, que não doíam tanto sua
mão. Mas quando Felipe disse para desferir golpes mais fortes, ela deixou a
espada cair várias vezes, pois machucava sua mão. Felipe a forçava ser mais
firme, fazendo com que treinasse até a exaustão. Suas mãos já tinham bolhas
e não conseguia segurar mais a espada direito. Protestou várias vezes, mas ele
mantinha a mesma postura dura.

- Não seja fraca! – ele disse com firmeza – se hesitar seu inimigo te mata -
dizia - se deixar a espada cair em um combate real você morre! – estava
sendo duro.

Adriana bufou impaciente se irritando com seu autoritarismo e o achava


muito manipulador - não seria mais fácil atirar? – estava irritada com aquilo –
isso é ridículo! Não somos gladiadores para usar espadas - jogou a espada no
chão e massageou a mão.

Felipe virou-se para ela - não! – respondeu impaciente e a pegou pelo pulso
devagar e olhou para suas mãos machucadas – quando se está diante do
inimigo não se tem tempo para massagear suas feridas, ele sempre tentará
encontrar uma forma para te matar. Então, mate-o primeiro – ele podia sentir
o quanto ela se irritou com ele, pois realmente estava sendo duro demais, e
ela nunca havia pegado numa espada antes.

Adriana puxou o braço bruscamente – não estou numa arena e nem na idade
média! Depois que inventaram a pólvora as espadas foram aposentadas –
disse irritada - aqueles que estavam no metrô tinham armas de fogo, não
usavam espadas – isso atraiu a atenção de Felipe e dos outros.

- Armas de fogo? – Miguel perguntou interessado, pois estava perto


observando.
Ela assentiu em silêncio e viu ele e Diego trocarem olhares pensativos – com
certeza não eram balas comuns – Miguel disse.

- Prata? - disse Diego incrédulo

Adriana observava os dois – prata mata lobisomens nos filmes! – disse com
deboche.

Felipe riu, mas disfarçou quando ela olhou para ele - O que mata lobisomens
é arrancar-lhe a cabeça com a espada – disse pegando sua espada do chão e
entregando a ela novamente – e você terá que usar uma espada, lembre-se
disso.

- Não acha meio arcaico? – Ela perguntou um pouco desanimada quando a


pegou.

- Pode ser – ele disse – mas nesse caso, foi à arma que o anjo forjou para ser
usada no nosso mundo.

- Seu mundo evoluiu também, pense sobre isso - ela rebateu e piscou.

Naquele dia Adriana descobriu que vampiros também eram alérgicos a prata.
Não por superstição, mas tinha a ver com a falta de algum componente em
seu sangue, assim como nos lobisomens. Até alguns humanos tinham alergia
a prata, as jóias e até pomadas anti-inflamatórias que tinham o nitrato de
prata. Descobriu também que em dias de chuva, eles ficavam acordados de
dia, pois não havia luz do sol o suficiente para incomoda-los ou deixa-los em
estado letárgico.

Começou a apreciar as caminhadas pelo campo com Miguel e Diego, quando


a chuva estava fraca. Eles mostravam vários pontos em que lutaram juntos
com outros guerreiros, e as aventuras particulares de cada um. Sempre lhe
ensinavam algum golpe diretamente, escondidos de Felipe que temia que a
machucassem, apesar de serem extremamente cuidadosos com ela. Eles
corriam pelas árvores para mostrar sua velocidade e a lutar um com o outro,
mas ela praticamente não os via se mover. Começou a acha-los o máximo e a
admira-los ainda mais. Tornaram-se um trio quase que inseparável.

Diego sempre lia alguma coisa para ela, quando acabavam os treinos. Sempre
se sentavam no grande salão de visitas em frente à lareira, e Felipe
participava fazendo suas ressalvas. Enquanto Morgan os observava sempre
em silêncio e nunca dava sua opinião, às vezes arrumava alguma desculpa
para se ausentar do castelo por algumas horas e quando voltava à primeira
coisa que fazia era ver onde a humana estava, mas quando algum deles
percebia que estava observando, ele se afastava novamente.

Adriana havia descoberto depois de fazer um interrogatório a Diego, que eles


não dormiam em caixões, e que seus quartos tinham proteção especial contra
o sol e a temperatura era mais baixa que o normal. Mas somente quando não
estavam em uma das muitas casas que tinham pelo mundo e se sentissem
ameaçados. Mas quando havia ameaça encontravam um terreno seguro e se
enterravam bem fundo até o fim do dia. Felipe sempre dava um jeito de não
lhe responder aquelas perguntas, e ela sempre recorria a Miguel e a Diego
quando ele não estava por perto. Felipe era protetor demais a ponto de lhe
esconder várias coisas, com medo de que ela ficasse enojada ou atemorizada,
e ela sabia.

Morgan começou a observar a humana todos os dias, e a achar que ela era
muito intrigante, esperta e persuasiva, e que aprendia tudo muito rápido. Mas
que ainda era humana, qual seria sua chance de sair viva? Em três meses já
era nítido sua força e determinação. Os musculo dos braços e pernas estavam
timidamente evidentes. Emagrecera com tanto treino, mas sua musculatura
estava definida e bonita, sem deixa-la masculinizada. Ela estava ótima na
esgrima e luta, já até cansava Isaiah que era exímio espadachim e um ótimo
mestre em artes marciais. Talvez Felipe tivesse razão, ela parecia ter nascido
para fazer aquilo. Chegou a trocar poucas palavras com ela durante esse
período, e trocavam muitos olhares insistentes e curiosos.

- Não acha que ela está ótima, Morgan? – Felipe perguntou certa vez,
enquanto ela lutava com Isaiah. Ele estava animado com a evolução dela e
quando se aproximou, quis mostrar o quanto estava enganado sobre ela.
Maldita hora em que parou para observar novamente, antes tivesse tomado
seu caminho e evitado tudo aquilo. Mas a mediu de baixo a cima quando ela
parou de lutar e se aproximou deles junto com Isaiah – evoluiu muito –
respondeu friamente e depois se virou para Felipe – mas ainda não é o
suficiente para o nosso mundo, e ainda acho que ela não irá sobreviver – viu
a preocupação nos olhos de seu amigo, mas ele se apegava naquilo com uma
força incrível, mesmo sabendo que na verdade ela realmente não era forte
para criaturas como eles. “sabe que é verdade” disse mentalmente a Felipe.
Em seguida lhe deu as costas e saiu.

Adriana se irritou com o comentário, pois achava que ele torcia para que ela
morresse e sentiu que havia algo a mais no olhar que lançou para Felipe, pois
viu que seu imbatível protetor disfarçou sua perturbação. Aquilo a irritou
mais e não aguentou ficar calada - talvez queira me mostrar o que é
suficiente, então – disse em voz alta enquanto o arrogante vampiro saia, o viu
parar no meio do pátio quando ouviu sua provocação.

Felipe olhou para ela sobressaltado, devia ter imaginado que aquela postura
de Morgan a teria irritado e que ela jamais ficaria calada. Mas ela não fazia
ideia o quão perigoso era provocar um vampiro poderoso – claro que não! –
ele a repreendeu e olhou para Morgan que se virou para encara-la, sentiu toda
a tensão dele – você não esta pronta para lutar com um de nós, e ele é o mais
forte de nossa raça, pode machuca-la seriamente somente se empurra-la com
força – repreendeu.

Morgan a analisou e depois a Felipe vendo o pânico nos seus olhos – você
não está pronta, humana! – disse para ela de forma debochada.

Irritou-se mais com o jeito que ele falou “humana”, era como se fosse
inferior a ele ou como a palavra fosse um palavrão – Helena também era
humana – rebateu e viu os olhos dele faiscarem, pode até sentir a tensão de
Felipe aumentar. Sabia que aquele comentário surtiria algum efeito, pois
lembrou que no diário contava que ele e Helena tiveram um caso.

Felipe colocou-se ao lado dela - pare Adriana! – repreendeu novamente.


Sabia o quanto Morgan odiava ser confrontado por humanos. E o quanto a
lembrança de Helena o deixava perturbado.

Ela o encarou indignada - parar? – disse irritada – estou cansada de ouvir as


piadinhas dele, toda essa arrogância de ser superior. Dizendo que sou humana
e que sou fraca para seu mundo - ela deu alguns passos na direção de Morgan
que a encarava friamente enquanto falava – desculpa meu querido! Se não
suporta tanto a minha raça, então por que teve um caso com uma humana,
Senhor hipocrisia? – o encarava na mesma intensidade que era encarada.

Morgan se aproximou dela, parando alguns centímetros a sua frente – está


tentando me dar uma lição de moral? Quem acha que é para me chamar de
hipócrita? Já disse e provo o quanto é fraca para o nosso mundo, e. - ele a
analisou antes de falar, olhou para os lados vendo que Diego se aproximava e
ficava perto deles, provavelmente achando que a atacaria – de onde veio toda
essa coragem? Dias atrás estava chorando apavorada com seu destino, e com
medo de todos nós. Você não sabe nada do que pode vir a enfrentar, e nem do
que criaturas como nós somos capazes de fazer com humanos como você.
Não conhece nosso mundo e nem está pronta para enfrenta-lo. Se acha tão
valente, mas está morrendo de medo, tanto que posso sentir o cheiro dele
daqui – ele dizia aquilo de forma ameaçadora, para ver se ela recuava.

Apesar de sentir o perigo ainda o encarava - é isso o que acha? Que não sou
capaz e que estou com medo? – ela perguntou encarando-o.

Ele sorriu friamente – acho que não está pronta! Não nasceu para fazer isso,
desista. Volte para o seu mundinho humano. Viva, seja feliz e envelheça –
sua feição voltou a ficar sombria.

Adriana sentiu seu corpo estremecer devido à proximidade de ambos, sentiu


o perfume dele quando ficaram próximos e ficou confusa por um instante,
tinha certeza que já tinha sentido aquele aroma antes. Mas não iria recuar,
pois seu orgulho não permitiria e continuou encarando-o, mesmo que de certa
forma as palavras dele tenha lhe magoado.

Felipe se aproximou mais dos dois - Morgan já chega! – puxou Adriana pelo
braço, para afasta-la dele.
Morgan percebeu seu gesto cuidadoso em afasta-la, estava com receio de que
pudesse feri-la - eu não a machucaria, Felipe! Nunca a machucaria ou lhe
faria mal, sabe disso – olhou para a mulher que era arrastada por seu amigo e
depois se virou para se afastar.

Adriana sentiu-se humilhada por ele, porque parecia odiá-la como se


houvesse feito alguma coisa ruim contra ele. Não conseguia entender aquilo,
pois os outros eram cuidadosos, delicados e gentis com ela, mesmo Felipe
com todo o autoritarismo - Hey conde Dracula! – ela se esquivou da mão de
Felipe e chamou Morgan mais uma vez, e ele se virou e a encarou impaciente
com o jeito que o chamou – o que me faz menos que Helena? Ela era humana
também – perguntou analisando a expressão carrancuda dele enquanto se
aproximava.

- Adriana! – Felipe a repreendia novamente, mas Morgan já havia se movido


rápido demais para intimida-la.

Morgan engoliu em seco e depois sorriu com deboche – embora tenha a


mesma descendência que ela – ele fez uma pausa e se aproximou dela usando
sua velocidade vampírica – não são a mesma pessoa e são diferentes em
vários aspectos, e um deles é porque ela era uma ótima guerreira e você não é
– viu os olhos dela faiscarem quando ficaram bem próximos e ela levantou os
olhos para encara-lo porque ele era bem mais alto – e você não passa de
comida! – viu a fúria surgir nos olhos dela e ela exalava ódio naquele
momento, tanto que sentiu o tapa ardido que ela deu no lado esquerdo de seu
rosto.

Adriana sentiu-se ultrajada por ele, e seu sangue ferveu de ódio quando ouviu
o que ele disse. E simplesmente não conseguiu conter seu impulso e deu-lhe
um tapa no rosto com tudo, e se arrependeu depois quando sentiu a dor no
pulso - nunca mais me chame de comida, seu monstro! - sentiu a onda de
fúria passar sobre ela como um tsunami, nem se importava se ele fosse
quebrar o seu pescoço ou algo parecido, provavelmente nem sentiria mesmo
por causa da raiva que sentia naquele momento, e continuou enquanto ele a
encarava com os olhos arregalados surpresos e depois furiosos – Se Helena
era tão boa, por que não está aqui agora? Maldito ogro! – disse entredentes e
viu os olhos dele escurecerem, e sentiu a tensão de Felipe e Diego crescerem,
pois se colocaram na sua frente – eu estou aqui, eu fui escolhida e te garanto
que eu vou terminar o serviço que ela não terminou... realmente não sou
ela...porque eu sou melhor do que isso – o encarava cheia de raiva naquele
momento, depois lhe deu as costas e saiu pisando firme. Ficou com tanta
raiva dele, que pode sentir as lágrimas escorrem por seu rosto sem nem ao
menos fazer força. Quando entrou no castelo, subiu a escadaria correndo até
chegar a seu quarto e ficou massageando sua mão e pulso.

Ficou muito irritado com a humana, mas somente trincou os dentes tentando
se acalmar e a olhava se afastar. Sua vontade era ir atrás daquela mulher e lhe
dar uma lição por se atrever em lhe dar um tapa. Mas na verdade, estava em
choque e ficou sem reação. Ela tinha se tornado bem impertinente, quando
percebeu que Felipe, Diego e Miguel fariam qualquer coisa para protegê-la e
que ele nunca levantaria um dedo contra ela. Era esperta, por que sabia
daquilo. Ganhara a confiança e os corações bobos de seus aliados, e faria o
que bem queria com eles. Mas não imaginou que ela o enfrentaria daquela
forma, tinha que admitir que ela era valente, mas era irritante. Olhou para
Felipe e depois para Diego e Isaiah, e eles o olhavam com reprovação então
se afastou em seguida.
Depois do episódio com Morgan, tentou evita-lo todas as vezes que o via.
Inclusive quando estava em um lugar e ele entrava, ficava muda e depois se
retirava para evitar qualquer tipo de confusão com o líder dos vampiros.

Morgan por outro lado, todas as vezes que a viu não lhe dirigiu a palavra,
mas ficava observando as conversas entre ela e os outros guardiões, ou com
Isaias e até mesmo com as criadas contratadas que a ajudavam. Chegou a
ouvi-la chorando no mesmo dia que discutiram, mas ela chorava de raiva e
chegou a reclamar sozinha que tinha vontade de lhe dar um chute no traseiro
e não apenas um tapa na cara. Achou engraçado! Mas ficou com um pouco de
remorso de ter provocado a briga. A partir daquele dia, começou a observa-la
melhor quando tinha oportunidade. Já conhecia suas manias, e quando estava
irritada ou entediada, cansada, qual era sua música preferida e que quando a
ouvia em seu quarto, ela cantava junto.
Sabia quase tudo referente à humana e chegou até mexer nas suas coisas
quando ela não estava no quarto. Uma tarde quando estava no pátio, e iria
sair de carro com Miguel para resolver assuntos do clã. Sentiu o perfume dela
e olhou na direção da sacada de seu quarto e pode vê-la. Ela estava de braços
abertos e olhos fechados, recebendo o último raio solar do dia que batia
somente em sua sacada. Ficou extasiado com a visão, tanto que nem ouvia
Miguel lhe chamando para entrar no carro.

Adriana amadurecera rápido e já aceitava seus amigos protetores com


naturalidade. Mas ainda tinha muito cuidado, como não sofrer nenhum tipo
de acidente que a fizesse sangrar perto deles. Tinha pavor de parecer uma
tentação ambulante pelos corredores do castelo. Mas tinha que admitir que
parecia outra pessoa. Forte, rápida, ágil, mas ainda humana. Tinha que
encarar aquela realidade, e começou a achar que Morgan tinha razão,
precisava ser melhor que aquilo. Tentou manter sua vida num ritmo normal,
ou, quase normal. Fazia as transferências via internet para sua família, uma
parte da generosa mesada que Felipe lhe dava. Tinha que transparecer que
tinha um emprego normal, e que trabalhava para pessoas muito ricas,
importantes e generosas. Às vezes ia até a vila, acompanhar Sophie e Marie
nas compras. Era a única coisa que fazia quando não treinava, e era o lugar
mais longe que poderia ir sem eles.
A primeira coisa que eles faziam quando acordavam, era procura-la pelo
castelo, e já sabia o horário que eles levantavam quando o sol brilhava o dia
inteiro.
Era difícil se acostumar com os cuidados deles, pois eram obcecados com sua
saúde, alimentação e seu bem-estar. Faziam de tudo para que se sentisse
confortável, e se por acaso ficasse resfriada ou com febre, não saiam do seu
lado até melhorar, achava aquilo um exagero.
Havia pegado Morgan observando-a algumas vezes, tinha medo dele e ainda
achava que ele poderia tentar matá-la. Mas de alguma forma ele a atraia e se
irritava com ela mesma.
Capitulo 13

Reatando a aliança

Adriana teve uma folga naquele dia e juntou-se com Sophie e Marie para ir a
vila fazer compras, como faziam toda a semana. O que não era nenhum
evento fora do comum. Comprou jornais e revistas para Felipe e Diego, pois
ele adorava ler sobre as noticias no mundo, não gostavam muito da internet,
nem televisão como Miguel que adorava tecnologia. Também comprou
algumas coisas diferentes para o jantar, tinha programado algo fora da rotina
que adotara, para se sentir uma humana normal. Iria assistir filmes no telão e
havia convidado Sophie e Marie, pois eram as únicas funcionárias que
dormiam no castelo. Dispensou a companhia de seus guardiões naquela noite,
sugerido pelo próprio Felipe, para que não ficasse tão estressada já que eles
iriam a uma reunião de um clã aliado. No caminho de volta, passaram pela
vila olhando o artesanato local, depois de passarem pela única doceria da vila
e comprarem sorvete. Pareciam animadas com a idéia de uma noite de folga,
onde somente elas estariam presentes. Mas notou que Sophie parecia um
pouco agitada, por algum motivo que não identificou de inicio.

- Devemos voltar logo! – disse Sophie que não conseguiu disfarçar sua
agitação.

Adriana e Marie a olharam confusas

- Por que Sophie? Está tão legal aqui – disse Marie com um sorriso gentil

Adriana começou a prestar atenção na atitude estranha de Sophie, percebendo


que ela olhava para trás a todo o momento, e ficou muito agitada de repente.

- Vai chover! - disse Sophie novamente para disfarçar seu comportamento


agitado naquele momento.
Marie olhou para o céu e sorriu satisfeita - não vai chover! Esta um lindo dia
hoje, e o sol está maravilhoso – disse.

Adriana riu achando graça do jeito sonhador de Marie.

Sophie ficou mais alterada e começou a puxar a moça pelo braço de forma
quase agressiva e urgente, fazendo o mesmo em seguida com Adriana - vai
chover sim! Eu sinto essas coisas.

- Hey! – fez Adriana ficando brava com sua atitude – qual é o problema? -
Livrou-se dela.

Sophie a encarou sobressaltada – Alguém está nos seguindo – sussurrou

Imediatamente Adriana olhou em volta procurando por tal seguidor, mas não
viu ninguém. Mesmo assim sentiu o típico calafrio do perigo, principalmente
quando se lembrou do que Felipe lhe dissera (se eu fiz aquilo para te
proteger, imagina o que fariam para te matar) e depois se lembrou do que
Morgan lhe disse sobre ser fraca para o mundo deles. Entendeu a urgência de
Sophie e apertou o passo, porque não iria arriscar a vida das duas novas
amigas, nem queria arriscar a sua também. Passaram pela a velha capela e
pegaram a estradinha de terra que levava ao castelo. Mas pararam
sobressaltadas no meio do caminho, quando viu um homem alto e estranho
parado no meio da estrada.

Ele observava as moças se aproximarem, e elas pararam subitamente quando


o viram. Movimentou-se lentamente aproximando-se das três moças. Tinha
um palito de dente pendurado no canto da boca e um olhar sombrio e
ameaçador. Suas roupas estavam empoeiradas e suas calças sujas de lama, ele
usava coturnos por cima delas, também usava um sobretudo que ia até abaixo
dos joelhos, por cima de uma camiseta preta com o símbolo da anarquia. Seus
cabelos eram negros bem lisos e escorridos até os ombros. Seus olhos eram
cruéis e tinham um tom amarelo como de um lobo, e sua barba estava rala.
Ele era bem alto, com mãos grandes e suas unhas estavam pretas de sujeira.

Adriana notou o que parecia sangue em suas roupas, e ele percebeu o


desconforto que causou nas três e sorriu de forma maliciosa - Senhoras! –
Ele as cumprimentou olhando uma de cada vez.

Naquele dia o sol estava a pino, então Adriana imaginou que não poderia ser
um vampiro, não era nem pálido e parecia vivo demais até. Pois mesmo
debaixo daquela sujeira, notava-se sua pele bronzeada como as dos ciganos.
Depois lembrou que lobisomens não tinham problemas com o sol, e um frio
percorreu sua espinha.

Sophie pôs-se na sua frente de forma protetora - O que faz aqui? – ela
perguntou como se o conhecesse.

Ele a olhou com desprezo - meu assunto não é com você, é com a loirinha ali
– ele respondeu apontando para Adriana.

- Não é bem-vindo aqui! - Sophie rebateu se irritando com ele.

Adriana tomou a frente de Sophie - o que quer? – perguntou ao mesmo tempo


em que percebeu a semelhança dele com os homens da feira cigana que lhe
ajudaram a escapar no metrô. “é um lobisomem, sem dúvida! To fodida”
pensou. Tinha algo de cruel nele, o homem exalava perigo, e com todo aquele
tamanho a única coisa que poderia fazer era gritar se ela a atacasse. Ele a
encarou e farejou o ar em sua direção, depois rosnou como um animal. Isso a
fez recuar assustada institivamente, e Marie saiu em disparada pegando o
caminho de volta a vila.

Ele riu ao ver a moça correr - essa é a sua proteção? - ele perguntou com
deboche apontando para Marie.

Sophie se aproximou dele, não parecia intimidada com o tamanho e nem o


perigo que ele representava – não! Aquela é a criada, eu sou a proteção dela.
Afaste-se Aquiles! - ela rosnou de volta para ele, e seu corpo inteiro vibrou.

Adriana olhou confusa para Sophie, pois sua voz começara a mudar ficando
grossa e intimidadora, seus olhos perderam o tom verde e ficavam amarelos e
ameaçadores - o que ta acontecendo? - disse praticamente para si mesma,
pois não pareciam que iriam lhe responder. Pois um começou a rosnar para o
outro de forma furiosa, ele se virou na sua direção e lhe mostrou os dentes
afiados e ameaçadores, e Sophie pulou em cima dele e os dois se atracaram
violentamente. Pode ver que ele desferia golpes poderosos, pois quando errou
seu alvo, acertou em uma das árvores arrancando um enorme pedaço do
tronco.

Sophie se defendia e o golpeava de volta, mas ele era bem maior e bem mais
forte que ela - corra Adriana! Corra - Sophie gritou para ela – volte para o
castelo, agoraaaaaaaaaa – ordenou.

Aquiles pegou Sophie pelo pescoço e a suspendeu no ar. Adriana ficou sem
reação por um segundo ao ver aquilo, mas no segundo depois olhou em volta
a procura de algo que pudesse usar como arma. Não viu nada que fosse
grande o bastante para ele, mas viu algumas pedras que se as jogasse com
força contra aquele brutamontes, seria o suficiente para causar algum estrago,
então às pegou e as jogava com força. Acertou-lhe uma em sua cabeça o que
fez com que ele voltasse os olhos furiosos para ela, e depois mais duas em
suas costas. Ele soltou Sophie e se virou contra ela e foi muito rápido,
pegando-a puxando-a pelo braço quando tentou escapar e depois pelo
pescoço apertando-o com força, começou a se debater, pois já estava
sufocando, mais um segundo e ele esmagaria sua garganta. Mas antes que
isso pudesse acontecer algo muito forte bateu com tudo nele derrubando-o
violentamente no chão, e ela caiu junto com ele e saiu rolando para fora da
estrada, se machucando inteira. Demorou alguns minutos para recobrar o
fôlego e se recuperar da queda. Estava toda machucada e quando tentou se
levantar Sophie já estava ao seu lado para lhe ajudar, mas olhava
preocupados para os dois homens que lutavam ferozmente com mordidas e
golpes.

Ficou estarrecida com a cena, esquecendo imediatamente de seus


machucados. Mas o homem de cabelos pretos acabou fugindo, quando o
outro que era bem maior e mais forte o atacou. Olhou em seguida para Sophie
e pôs a mão no pingente do colar que ganhara da cigana e ficou boquiaberta -
eu sabia! – disse ofegante.

Sophie a analisou apreensiva, pois seus cotovelos, joelhos e mãos estavam


sangrando, e seu pescoço estava vermelho com a marca perfeita da mão de
Aquiles.

- Eu disse que estaríamos por perto para ajuda-la – Sophie respondeu - já


conhece o meu irmão, Atila! – ela estendeu a mão para o homem exuberante
de cabelos louros, que pegou sua mão ao se aproximar - você está bem, meu
irmão?

Ele assentiu com a cabeça e depois olhou para Adriana - se machucou muito?
– Perguntou preocupado, vendo seus machucados sangrando.

Ela olhou para os joelhos ralados que sangravam, e o cotovelo esquerdo e


depois suspirou, nem ligava para eles mediante o que tinha acontecido -
somente alguns arranhões! - e voltou a olhar para o moço que parecia curioso
e a encarava desconfiado.

- Ela tem que voltar sozinha, Sophie! – Atila disse para a irmã sem olha-la,
tinha os olhos presos em Adriana que parecia confusa sustentando o olhar
dele – eles vão saber quem você é, mesmo que os engane com sua bruxaria.
Podem matá-la por causa disso.

Adriana se agitou com as palavras do homem - não! – berrou contrariada


quase caindo quando deu um passo a frente na direção de Atila, sentiu que
seu tornozelo doía - eles não farão isso! - disse

Atila olhou muito zangado para ela ao constatar que mentira sobre o
ferimento - não sabe do que vampiros são capazes! É exatamente o que irão
fazer – rebateu - depois que virem seus machucados, irão nos culpar e podem
até vir atrás de nós- disse.

- Eles não fariam isso – Adriana protestou novamente.

- Voltaremos! – Sophie se aproximou - voltarei com a comitiva de meu pai,


ele vai querer tomar providencias a respeito disso – disse-lhe – até lá, tente
convence-los a receber-nos de forma pacifica – orientou.

- O que? Como vou fazer isso? – Adriana perguntou perturbada


Ela olhou para a humana com preocupação, pois a única forma de convencê-
los era por imposição, e só conhecia uma forma para aquilo dar certo -
Convença o líder e convencerá os outros, se ele se decidir Felipe não irá se
opor. Sei que pode conseguir convence-lo, ele a estima - não lhe daria tempo
de protestar - vou interceder em nossa aldeia. Agora vá para o castelo,
alguém já está procurando por você - ela disse isso e correu muito rápido
sumindo entre as árvores embrenhando-se na floresta. Logo depois Atila foi
atrás da irmã, após se certificar de que a mulher ficaria bem.

Adriana ficou olhando eles se afastarem e sumirem entre as árvores. Depois


se virou para seguir pela a estrada até chegar ao castelo. Foi criado um
alvoroço por Marie, que havia dado a volta pela vila e correu para o castelo
para pedir ajuda, dizendo que um ladrão tentava ataca-las na estrada. Aquilo
fez com que o servente, o jardineiro e Isaiah saíssem do castelo armados com
espingardas indo atrás de Adriana e Sophie, mas acabaram encontrando
somente Adriana no meio do caminho, toda machucada e mancando. Claro
que ninguém além de Isaiah sabia de quem provavelmente se tratava o ladrão.
E vendo os machucados dela se agitou e dispensou a ajuda dos dois homens,
enquanto a levava para dentro do castelo o mais urgente que pode, dizendo
que ele mesmo cuidaria de seus ferimentos. Mas foi apenas questão de
poucos minutos enquanto preparava os medicamentos para os cortes, que
Felipe surgiu como um tufão, como se soubesse o que havia acontecido com
sua protegida - o que foi isso?– perguntou de forma autoritária para Isaiah
que quase se encolheu, vendo a expressão severa de Felipe.

Adriana tomou a frente se atropelando nas palavras para lhe contar o que
tinha acontecido, porque se assustou com o jeito possesso de Felipe quando
se aproximou deles. Ele prestava atenção na forma que ela tentava abreviar
tudo, e considerava aquilo um defeito terrível nela, pois nunca contava tudo.
Sempre deixava fugir ou escondia alguma coisa. Quando ela terminou aquele
breve relato, ficou em silêncio por alguns minutos enquanto fitava o chão.
O silêncio dele causou certa inquietação nela, e começou ficar impaciente,
mas também com receio daquela expressão zangada e quieta dele.

Felipe virou-se para ela de repente – você está bem? Ele te machucou? –
Perguntou olhando-a de cima a baixo.
- Estou bem! – respondeu com receio e depois olhou para o cotovelo, as
palmas das mãos que ardiam devido os arranhões quando caiu, e forçava mais
o pé direito que o esquerdo – foram apenas alguns arranhões quando eu cai, e
uma torsão – respondeu um pouco rouca devido o apertão na garganta.

Ele pegou seu braço automaticamente sem que ela visse seu movimento
rápido e suave. Avaliava a ferida, depois analisou a mancha de dedos em
volta a seu pescoço, que já começavam a ganhar a tonalidade verde e ficou
espantado com a mancha, pois por pouco ele não teria esmagado a garganta
dela. A encarou por alguns segundos enquanto a examinava e bufou
contrariado quando começou a examinar seu tornozelo esquerdo. Enfureceu-
se com aquilo - onde está a outra criada? – perguntou desconfiado enquanto
tentava controlar sua fúria.

- Então... - Ela fez como alguém que acabasse de ser pega fazendo alguma
coisa errada – eu ia te contar agora...- ela vislumbrou os olhos incrivelmente
inteligentes de Felipe ficarem impacientes.

- Nem precisa dizer já me é tão claro como o dia já foi – ele respondeu antes
mesmo que ela lhe contasse – quanta esperteza dos ciganos, enviar uma bruxa
de sua aldeia para investigar nossa casa, e com certeza planejar seu sequestro
– disse pensativo.

- Não foi nada disso que aconteceu, parece que não ouviu sequer uma palavra
que eu disse – ela protestou e já estava ficando – ela me defendeu daquele
cara esquisito! - disse

Ele a encarou impaciente como se tratasse de uma criança respondona - lhe


defendeu? – ele parecia indignado e depois irritado com a revelação.

- é! – afirmou – ele apareceu do nada!- ela parou de falar quando se lembrou


de Atila – o cara da feirinha cigana, Atila, me salvou de novo – ela encarou
Felipe nessa hora – acho que Morgan tem razão, com certeza não vou
conseguir me defender sozinha de uma coisa daquela, ele era enorme e
extremamente forte e poderia ter me matado se apertasse minha garganta
mais um pouco – ela começava se exaltar ao se lembrar do homem que havia
agarrado seu pescoço e a suspendeu facilmente no ar. Levou a mão ao local
dolorido e estremeceu com a lembrança.

Agora Felipe olhava para ela de forma totalmente paternal, examinou


novamente as marcas dos dedos no seu pescoço, e entendeu o motivo que a
fez ficar grata aos lobisomens – vou lhe dar um remédio para dor, isso ficará
dolorido por alguns dias – a viu concordar com ele. Estava a ponto de
explodir de tão furioso que ficou com aquele ataque, e lamentou
profundamente porque ela aceitava tudo tão bem, e aquilo o deixava louco de
raiva, porque quase havia sido morta por um lobisomem - e para onde eles
foram? – perguntou suavizando a expressão. Mas mesmo assim, seus olhos
eram frios.

- O cara esquisito tomou uma surra e sumiu. Sophie e Atila, voltaram para a
aldeia deles - ela ficou em silêncio em seguida.

Entendeu o que ela sentia, mas não tinha mais tempo a perder e teria que
tomar providencias, teria que convocar uma reunião entre eles, para decidir o
que seria feito - vou convocar uma audiência com eles, não será fácil, pois
são muito hostis! E você não saia mais de casa– advertiu autoritário.

Adriana notou que ele ficou muito perturbado com o ataque e se preocupou,
pois geralmente ele era muito controlado, mais que os outros até. E naquele
momento parecia tão abalado com o que aconteceu com ela, que não
conseguia disfarçar sua raiva. Ele não suportava o fato de os ciganos estarem
sempre por perto quando ela estava em perigo e não ele - parece que eles
pensaram a mesma coisa que você! – disse

Ele a encarou – Por que diz isso? – perguntou intrigado

Ela o analisou antes de responder – Porque eles também disseram que se


reuniriam com o líder deles – respondeu

Ele arregalou os olhos num acesso controlado de fúria - então eles pretendem
tira-la daqui! – disse exaltado pela ira, lhe deu as costas e saiu da cozinha.

Ela ficou olhando Felipe sair e disse – Por que não refazem a aliança? Não
precisamos da espada? Acho que seria viável, já que eu tenho que usa-la. Não
pode me proteger 24hs por dia, por que não aceita essa realidade? - isso fez
Felipe parar no meio do caminho, mas não se virou para olhar para ela
novamente.

- Porque é impossível! – ele continuou e ela ficou muda vendo sumir pelo
corredor.

Isaiah aproximou-se dela e ficou olhando na mesma direção – acho melhor


ter alguma coisa em mente se não pretende ver um massacre. Felipe é o pior
de todos, ele não vai deixar isso barato, e se ele enfrentar o líder dos ciganos
será um caos – disse preocupado.

Adriana o encarou apreensiva – Merda! – xingou – tenho uma coisa em


mente sim, mas não gostaria de ter que fazer isso – respondeu.

- Então deveria fazê-lo, antes que seja tarde demais! – Isaiah era muito sábio
e captava as coisas no ar, e sabia que a única solução naquele momento era
ela tentar convencer o mais forte a fazer o que era certo. Se não poderia ter
um confronto terrível e desnecessário naquela noite.
Adriana contou para Isaiah o que pretendia conversar com Morgan longe dos
outros, buscando apoio para reatar a antiga aliança que Felipe insistia em
dizer que não existia mais. Combinou tudo com ele, e esperou no salão de
armas. Estava sentada no parapeito da enorme janela olhando
impacientemente para a noite que começava a cair. Sentia aquele velho frio
na barriga por ter que falar a sós com Morgan, principalmente depois da
última vez que falou com ele no pátio. Não conseguia lidar com ele, pelo
simples fato de ser mais difícil que os outros, pois ele sempre tentava
provocar, intimidar e a desafiava com seu olhar malicioso e sedutor. Fora o
fato de que ele despertava coisas que os outros não despertavam. Seu coração
deu um pequeno salto quando a porta se abriu.

Morgan olhou para ela friamente quando entrou, ficou surpreso quando Isaiah
bateu na porta de seu quarto e lhe disse que ela precisava falar urgentemente
com ele. Ficou muito curioso com a convocação. Deu um sorrisinho torto
quando ela ficou de pé de forma sobressaltada quando entrou e fechou a
porta.

Ela manteve certa distância dele, o suficiente para não lhe dar a chance de
deixa-la tonta com aquele olhar sedutor. Respirou fundo e tentou manter a
postura durona depois de vergonhosamente se sobressaltar quando ele entrou.

Morgan analisou a reação cautelosa e desconfortável dela, e lhe lançou um


olhar divertido percorrendo os olhos por seu corpo, pois sabia exatamente
que ela ficaria mais desconfortável ainda. Simplesmente não conseguia evitar
- o que quer Adriana? – perguntou suavemente – Isaiah disse que tinha
urgência em falar comigo. Pensei que depois do combate daquele dia, estaria
esgotada para duelar comigo novamente, tem me evitado todos esses dias -
provocou. Mas estava curioso e já sabia em detalhes o que tinha acontecido
com ela naquela tarde.
Ela pigarreou, estava um pouco tensa. Evitava olhar diretamente nos olhos
dele, pois todas as vezes que olhava lembrava-se do sonho que teve, e
também que tinha agredido ele - sim! - Disse dando de ombros o comentário,
já esperava por aquilo – eu o chamei aqui, porque preciso de sua ajuda!
Provavelmente já sabe o que aconteceu hoje – ela foi direta. Não conseguiu
evitar os olhos curiosos dele e o fitou.
Ele apertou os olhos estudando sua reação. Depois sorriu e começou a andar
pelo salão lentamente e a mexer nas armas – eu fiquei sabendo! Disse que
precisa da minha ajuda, que tipo de ajuda? – perguntou sem olhar para ela
naquele momento.

Percebeu que ele começava a se divertir com aquilo – que me ajude a reatar a
antiga aliança - ela foi mais firme dessa vez.

Ele virou-se na sua direção sem demonstrar surpresa, sabia o que ela queria.
Seus pensamentos eram muito fáceis de captar e depois de provar o sangue
dela, a conhecia muito bem - Porque eu faria isso? – perguntou com certo
desdém.

Engoliu aquilo em seco – Por que você é o líder? E a aliança começou com a
sua família e você também faz parte dessa aliança – ela pensou rápido
naquela resposta.

Ele começou a se aproximar lentamente sem que ela percebesse. Como um


gato a espreita do rato – a aliança está morta humana, já sabe disso! – disse
secamente

Percebeu que ele já estava ficando próximo demais e disfarçadamente foi se


afastando - Não está morta, por que vocês estão aqui ainda – rebateu com a
voz controlada.

- A única aliança que conheço é entre eu e os meus aliados – seu olhar


acompanhava os movimentos nervosos dela, quando prendeu os cabelos atrás
das orelhas e respirou fundo.

- Mas não era assim antes! - retrucou ao mesmo tempo em que parou de se
afastar para encara-lo.

Ele sorriu novamente quando percebeu que ela não iria desistir facilmente –
Não sabe nada sobre isso, a aliança acabou quando Helena morreu – havia
um pouco de magoa em sua voz.

Ficou muito irritada com sua resposta e insistiu - mas o motivo da aliança não
era proteger o seu povo, raça, sei lá. Lutando juntos, pois seriam mais fortes,
não era esse o intuito? Ou vai ficar usando sempre uma mulher morta como
desculpa? – rebateu.

Ele arregalou os olhos contrariados surpresos pela ousadia, mas depois de


alguns segundos sorriu como se estivesse satisfeito com sua resposta - muita
astúcia de sua parte, tenho que admitir que seja bem inteligente. Acha que
posso convencê-los – ele observou – mas não me importo mais – o sorriso
sumiu de seu rosto, mas sem irritação.

Ela o olhava indignada com sua frieza – maldito egoísta! – disse com revolta

Morgan aproximou-se devagar enquanto a fuzilava com aqueles olhos azuis -


Quem pensa que é para me chamar de egoísta? Já estou cansado desse seu
atrevimento – sua voz era contida, mas havia tensão nas palavras. Ele
começou a se aproximar mais – você é só alguém que Felipe viu crescer e se
apegou, por que acredita que seja a herdeira de Kaimel – ele estava sendo
cruel de propósito – pode até lembra-la, copiar seus movimentos, mas não é
como ela, não tem o mesmo talento. Pode ser descendente de Kaimel, mas
acha realmente que ele terá alguma consideração com você? – disse e riu
friamente.

Ela andava de costas tentando se afastar dele até sentir encostar na mesa que
a impedia de prosseguir. E naquele momento não tinha Felipe para fazê-lo
parar - nunca disse que era ela – rebateu contrariada ao mesmo tempo em que
o encarava – e nem quero ser, odeio comparação ainda mais quando me
comparam com um fantasma. Sou melhor do que isso, mas infelizmente
preciso da sua maldita ajuda - ela prendeu a respiração quando ele ficou bem
perto dela de forma ameaçadora.
Morgan novamente brincava com fogo, não tinha mais forças para resistir
àquela mulher e não a tocar. Mas mesmo assim queria dar-lhe uma lição por
tanto atrevimento. Olhava para a criatura frágil e acuada a sua frente, mas que
mesmo assim o encarava de forma desafiadora e aquilo o excitou. Realmente
era excitante vê-la acuada, sem saber o que fazer, mas ela nem sabia o poder
incrível que tinha sobre ele - tenho que admitir que seja muito corajosa! Mas
não o suficiente para o nosso mundo como já havia lhe dito antes, você viu o
que um homem lobo é capaz mesmo sem estar na forma aterrorizante – ele
dizia enquanto passava as pontas dos dedos suavemente nas marcas de dedos
em seu pescoço. Depois fitou seu rosto – se quer sobreviver e reatar uma
aliança que já foi quebrada terá que se esforçar mais e talvez eu a proteja
deles – provocou.

Aquelas palavras lhe causaram sensações estranhas - e o que você quer? –


perguntou com a voz trêmula. Olhou para os olhos azuis que tanto lhe
perturbavam, e não viu gentileza neles somente desejo. Lembrou-se do sonho
que teve com aquele homem, da forma que a possuiu e que a levou a loucura.
Eram os mesmos olhos.

Sorriu suavemente quando percebeu que ela reavivava as lembranças do


momento que passaram juntos - o que eu quero? – perguntou analisando-a de
cima a baixo e se aproximando mais – você não tem nada que eu queira, a
não ser que queira me alimentar – ele respondeu vendo que a expressão dela
era algo parecido com decepção e depois medo.

Suspirou e nem percebeu – então porque veio? – agora ela o analisava e


vendo sua atitude forçou um sorriso para tentar demonstrar coragem.

Percebeu sua intenção - não me provoque, por que no final vai querer correr –
ele ameaçou.

- Acha que tenho medo de você? – agora ela o provocava mais como se a
coragem começasse a surgir do nada.

Ainda a encarava - acho! E acho também que tem uma visão muito romântica
do nosso mundo. Está lendo muitos livros – ele se aproximou mais tentando
intimida-la – acha que sou o tipo de criatura que aparece nos filmes e livros?
Que se apaixonam por uma humana e lutam para tê-la eternamente ao lado?
A realidade é diferente, acredite! Você não sabe com o que está lidando, já
disse para desistir – ele queria ver até onde ela iria com toda aquela coragem
forjada.·.

Ela sorriu com deboche – acho que não sou a única a ler romances –
provocou. Mas ainda tentava manter o controle, por que ele aproximou-se
mais e parecia que ele estava gostando daquele joguinho.

Ele disfarçou um sorriso - você é como as outras, no final sempre gritam,


correm e morrem. Helena foi a primeira a morrer – ele disse – eu poderia dar
um fim em você facilmente - ele tocava em seu rosto e ela tentou repudiar seu
toque, mas depois pareceu ceder – sei que me quer longe de você, disse que
não queria minha proteção lembra? Isso anula qualquer compromisso de
proteção que eu teria em relação a você – ele não conseguia controlar o
próprio impulso.

- Óh! – ela fez com deboche, mesmo estando com receio dele – o Conde
Drácula é rancoroso!

Ele a puxou para si com força prendendo-a pela cintura de forma rude - não
faça comparações ridículas! Seria muito fácil fazer isso agora – ele tinha a
voz intensa como seus olhos, e fazia um enorme esforço para resistir ao seu
desejo real.

Ela gemeu devido à força que ele usou, mas o encarou - ta esperando o que
então? – Provocou e se arrependeu, pois ele segurou em sua garganta com a
mão direita de repente sem aperta-la, apenas a segurava.

Queria somente assusta-la e conseguiu. Prendeu seus braços com facilidade


atrás das costas com a outra mão. Roçou seu pescoço com o seu rosto, e
rosnou baixinho em seu ouvido de forma ameaçadora. Sentiu-a estremecer.
Prazer ou medo? Ele riu baixinho um pouco excitado com a ideia.
Ela já começava a ofegar devagar - o que acha agora? Está com medo? –
sussurrou em seu ouvido, soltou seu pescoço e acariciou as marcas deixadas
pelo agressor que a atacou de dia, queria mata-lo por ter feito aquilo com ela
– maldito cigano! – disse sem pensar. A encarou com seus olhos escuros e
excitados. E ela parecia ficar tonta com o contato. Tentou se livrar, mas a
manteve firme ali - responda! Está com medo? – exigiu.

Arregalou os olhos com espanto por que estava, mas não diria que sim – N-
não! Agora me solta! – disse com dificuldade.

Ele sorriu de forma sedutora, por que gostava quando ela tentava ser durona -
você não quer isso! – afirmou ao encara-la.

- Você que não quer me soltar – ainda estava presa aos seus olhos que
voltavam a retomar o azul profundo e pelas mãos fortes que a prendia.

Ele sabia que ia cair na própria armadilha novamente - não me importo com
você – disse. Mas havia humor nos seus olhos – os ciganos podem te levar se
quiserem.

O olhou confusa - então me solta assim posso arrumar as minhas coisas –


rebateu. Mas no fundo, realmente não queria que ele a soltasse e odiou sentir
aquilo por que seu corpo a traia, e ele sabia o que pensava com certeza.

Ele riu divertido e não a soltou.

- Você não vai me ajudar então me larga - se irritou ao ver que ele se divertia
as suas custas. Tentou se livrar de seus braços fortes, mas era impossível.

- Não! Ainda não me decidi, e eu estou no controle no momento – ele roçou


seu rosto com os lábios – não sei se a deixo ir, ou se a beijo e sacio o desejo
que está me atormentando há meses novamente – ele a soltou, pois ela não
oferecia mais resistência – é tão tentadora, irresistível e irritante, que não
consigo me decidir entre doma-la ou mata-la – agora a prendia pelos cabelos
da nuca, somente para força-la a continuar olhando para ele e viu os olhos
dela se arregalarem.

Teve um impulso de esmurra-lo quando ouviu o “novamente” – aconteceu,


não foi um sonho! Foi real, você e eu... - estava em choque por que teve
certeza de que o sonho havia sido real e de alguma forma ele havia apagado
sua mente – seu cretino! – o empurrou e deu-lhe um tapa com tudo no rosto
novamente, mas sabia que não causaria efeito algum, pois estava claro em
sua expressão que esperava por aquilo e que estava se divertindo – Acha que
me humilhar por ser mais forte vai adiantar? Não vai conseguir o que quer de
novo, não passa de um maldito filho de uma puta, cretino! - disse com raiva

Ele riu divertido – você tem a boca tão suja! E não está em posição de decidir
– ele a provocava, pois sabia que ela também queria o mesmo que ele,
mesmo que o odiasse naquele momento por descobrir a verdade – posso
sentir quando me deseja! – disse com um sorriso malicioso.

Estava começando a se arrepender de ter pedido a ajuda dele - Não pode me


forçar a saciar seus desejos! – respondeu ainda tentando manter o controle.

Ele endureceu o olhar – Não preciso força-la, porque você deseja também
como naquele dia – ele sabia o que estava falando.

O olhava sem acreditar no que ouvia, pois não se lembrava de nada do que
havia acontecido, era como se fosse apenas flashes de um sonho confuso.
Como estava odiando aquele diálogo, ainda mais por ser verdade.

A libertou de seus braços de repente, e ela saiu de perto dele quase correndo
indo em direção à porta. Estava furiosa, podia sentir sua fúria. Ficou olhando-
a se afastar mantendo o sorriso malicioso nos lábios. Não queria que o
odiasse - vou ajuda-la! – disse.

Ela parou no meio do caminhou e se virou para ele. Engoliu todo o seu
orgulho ferido e se esforçou porque realmente precisava dele – obrigada! –
agradeceu e lhe deu as costas novamente, indo abrir a porta. Quando segurou
na maçaneta e a puxou, Morgan já estava as suas costas, pois surgiu muito
rápido e a fechou, e depois ficou apoiado nela impedindo que tentasse abri-la
novamente. Ele ficou colado nela e encostou os lábios em seus cabelos,
sentiu seu corpo inteiro se arrepiar - ainda não acabei! - ele sussurrou.

“Inferno, como o desejava, pensou” permaneceu de costas para ele, e


inspirou profundamente para tentar se controlar. Pensou que se ele quisesse
poderia matá-la facilmente, Felipe mesmo havia lhe dito milhares de vezes
para evitar confronta-lo – o que? – perguntou vacilante, pois seu medo se
misturava confusamente ao seu desejo por ele.

Morgan a virou devagar para olhar em seus olhos – eu decidi! – disse


pressionando-a contra a porta.

Sabia que ele não deixaria barato, já esperava por aquilo de alguma forma,
pois ele queria descontar os dois tapas que havia lhe dado - decidiu o que? –
perguntou desafiante.

Ele não respondeu, mas lhe deu um beijo cheio de desejo prendendo-a em
seus braços, e ela não ofereceu resistência, pois correspondeu na mesma
intensidade. O mundo poderia acabar naquele momento, e os dois nem
perceberiam. Aquele beijo era cheio de desejo e um sentimento que não
conseguiam entender e nem controlar e que ainda era conflitante.

Quando Morgan a soltou podia sentir que o perfume dela fixara nele, mas
também ainda podia sentir o calor dos seus lábios e seu gosto. Estava confuso
com aquela mulher ficou olhando para ela, ofegante, como se tentasse resistir
a uma tentação muito grande, enquanto ela tentava recobrar o fôlego e
controlar suas emoções.
Adriana sentia o mesmo que ele, não era tão imune quanto tentava
transparecer. Sorriu satisfeito - pode ir agora, você já me convenceu! – disse
para provoca-la pela última vez. Sentiu o olhar intenso de a paixão enfurecer-
se e o fuzilar. Divertiu-se com aquilo, adorava provoca-la. E sem dúvida a
desejava mais do que imaginava.
- Você não presta mesmo! – Adriana xingou abrindo a porta e saindo.

Ele riu, e esperou alguns segundos. Depois a alcançou quando já estava no


corredor e a puxou pelo braço para impedir que continuasse - você não
percebeu ainda mulher? Você é minha, ninguém a fará sentir o que sente por
mim agora – ele a encostou na parede fria de pedra – Pode espernear, me
odiar, me xingar, até me bater novamente se quiser. Mas vou fazer isso
sempre, até você admitir que me quer também – disse encostando sua boca na
dela. Ela o empurrou, ou tentou em vão, pois não se movia.
O encarou furiosa - não sou sua, nem muito menos seu objeto para usar
quando quiser trepar e depois apagar minha mente novamente – protestou
enquanto lutava para se livrar dele – o que você quer? – disse quando desistiu
de lutar. Ele deu um sorriso sedutor que só ele conseguia fazer – eu quero
você! – respondeu divertido e depois a soltou e acariciou seu rosto
suavemente – e dessa vez eu não apagarei sua mente – os olhos dela
suavizaram e o encaravam um tanto confusos, sabia o quanto a desejava e ele
também sabia que ela o desejava.
Então sem pensar muito, a pegou pela mão e puxou pelo enorme corredor
indo para a ala que ninguém quase ia. Haviam quartos de hóspedes que
estavam sempre prontos para as visitas que nunca iam ao castelo e ela se
deixou levar sem protestar. Entrou no primeiro quarto quando alcançaram a
ala oeste. Trancou a porta depois de acender a luz, ficou olhando para a
mulher parada na sua frente como se fosse uma visão, a queria suavemente
para sentir seu calor e sua doçura, sua paixão.
Antes mesmo que avançasse ela se aproximou surpreendendo-o com sua
ação. Tocou seu rosto, seus cabelos, os músculos de seus braços e depois
começou a despi-lo devagar. Fechou os olhos e se entregou aquele toque
suave e quente, enquanto ela tirava sua camisa e acariciava seu peito – Eu
gosto – ela disse com a voz um pouco rouca e o olhava como se estivesse
sedenta. Como estava adorando sua nova atitude, deixou se levar e quando
ela o beijou devagar deixando que sentisse seu calor e sabor, achou que seu
coração saltaria de seu peito e a puxou mais para si, queria mais, muito mais.
Queria estar nela, queria senti-la queimar enquanto a tocava e a possuía,
queria ouvi-la gemer por ele. fez um movimento para arrasta-la até a cama,
pois não poderia esperar mais, mas ela o surpreendeu novamente e trocou de
lugar com ele empurrando-o contra a cama e entendeu o que ela queria. Ela
tirou suas botas e suas calças e o beijava em todas as partes, e quando tocou
seu sexo com a boca quase enlouqueceu e deixou escapar um gemido alto.
Então voltou a posição dominante e arrancou-lhe as roupas retribuindo as
caricias enquanto ela gemia junto com ele, até não aguentar mais e possui-la
devagar e depois freneticamente.
Após alcançarem o primeiro orgasmo, a possuiu outra vez e outra vez. depois
deitou-se ao seu lado e a puxou para aninha-la em seu peito, enquanto ela
ainda recobrava o folêgo – ainda me acha um cretino? – perguntou quando
percebeu que ela estava silenciosa demais.

Adriana nem acreditava que aquilo havia acontecido de novo. Provavelmente


se arrependeria por deixar se levar por aquele vampiro arrogante, que
provavelmente a ignoraria depois. olhou para ele – vai apagar minha mente
de novo? – perguntou quando ele a encarou e levantou a sobrancelha direita
para ela e sorriu. “Deus, ele era perfeito!”

Tocou o lábio inferior dela com a ponta do polegar – quer que eu faça isso?
Está arrependida? – perguntou ficando sério de repente.

Tentou imaginar o que se passava na mente dele, porque não achava que
fossem viver algum tipo de romance – não! não gostaria que apagasse minha
mente novamente – respondeu com sinceridade – só achei que provavelmente
quisesse fazer isso – disse se afastando e sentando-se na cama, olhou para o
longo do corpo perfeito dele e sentiu arrepios de prazer. Ele era perfeito em
todos os aspectos físicos e a performance dele na cama era fantástica, ainda
mais com um membro poderoso como aquele. Puxou o lençol para se enrolar,
pois sentiu um pouco de frio. Ele acariciou sua coxa esquerda enquanto se
sentava também e recostava na cabeceira.

Sentiu a insegurança dela, ainda estava confusa em relação a ele. Não


esperava que o aceitasse, mas gostaria – Por que eu faria isso? – perguntou
quando olhou nos olhos dela.

Desviou os olhos e depois voltou a encara-lo – não sei como agem no seu
mundo. Mas no meu mundo, quando um homem tenta evitar uma mulher, é
porque realmente não quer manter vínculos. E achei que me desprezava por
eu ser humana e por isso apagou minha mente - disse

Ele sorriu divertido por ouvir tal absurdo – não sou humano, mas no meu
mundo as coisas não são tão diferentes. Mas não é o seu caso, e também não
te desprezo como acha, só não queria...- ele hesitou por um instante – achei
que você poderia me odiar ou me temer, eu não queria isso. Você é um tanto
imprevisível – ele riu e ela também riu e balançou a cabeça concordando –
uma hora estava apavorada, e agora a vejo por aí agindo como se tudo fosse
normal.-

Adriana riu achando o comentário engraçado, pois era a pura verdade - sou
adaptável! Mas para ser sincera, eu só aceitei porque temia o que poderia
acontecer com minha família e os meus amigos. Mas gosto daqui, gosto
disso, entende? – mordeu o lábio inferior porque ele a olhava pensativo, ficou
com um pouco de receio e depois ele alargou o sorriso perfeito e seus olhos
brilharam diferentes.

Não esperava ouvir aquilo, ela era perfeita, adorável aos seus olhos e
sentidos. E ela não estava assustada e nem com medo dele, e estava dizendo
que estava gostando estar no meio deles. A puxou para junto de si novamente
e a beijou – Felipe vai me matar se souber o que fiz – disse um tanto
divertido.

Não pode evitar de rir – é! Ele é meio obsessivo as vezes, não consigo me
acostumar com esse jeito paternal que ele tem – disse acariciando o rosto
perfeito que a analisava.

Morgan apertou os olhos enquanto a analisava – mas somos obsessivos com


quem amamos, não podemos evitar isso. E ele tem toda a razão de agir assim
com você, é perigoso para você agora. eu faria pior! – disse virando-a para
deita-la e prende-la ficando por cima de seu corpo – ainda vou matar o cigano
que fez isso com você – disse acariciando as marcas roxas com o formato de
dedos que estavam no pescoço dela, beijou os dois lados do pescoço e a
ouviu gemer – viu! Agora será mais um obcecado com sua segurança.

A sensação de tê-lo junto dela era maravilhosa, ainda mais dizendo aquilo.
Mas não podia se deixar levar, não podia se apaixonar por ele pois com
certeza se a magoasse nunca se recuperaria. Nunca quis se apaixonar por
ninguém, sempre evitou aquilo para não se magoar. Mas começou a achar
que estava perdendo aquela batalha contra Morgan, ele a enfeitiçava
completamente – então não tenho para onde correr! – disse quando ele a
beijou.

- Não! – ele sussurrou debaixo dos beijos que dava em Adriana. Teve que
controlar o impulso de morde-la novamente, pois estava machucada e não
queria fazer aquilo com ela a não ser que ela pedisse – e se correr a
acharemos! – riu quando ela franziu o cenho – tarde demais para reclamar.

O analisou tentando ficar séria, mas não conseguia - hum! Acho melhor não
contar isso para o Felipe, não gostaria que brigassem – disse mudando de
assunto de repente.
Ficou em silêncio por alguns segundos, porque era o que faria assim que
saíssem daquele quarto – mas falarei com ele, porque pretendo... – ele fez
uma pausa longa e suspirou, e ela o olhava curiosa.

Riu quando parou de falar – pretende continuar transando comigo? –


perguntou divertida e ele pareceu ficar chocado, mas depois ficou sério.

Saiu de cima dela e voltou a se sentar e a encara-la sério – fazer sexo, sim!
Mas não será do jeito que imagina. Se me aceitar, vou deixar claro que será
minha. sei que ele vai entender – ela o olhava como se estivesse falando algo
totalmente maluco.

Coçou a testa e o encarou quando se sentou também – o que quer dizer


quando diz, será minha? – perguntou curiosa.

- Quando digo minha, quer dizer que se outro tentar se aproximar com a
mesma intenção irá morrer, e preciso do consentimento dele para que seja
minha. porque ele cuida de você como um pai – disse enquanto analisava o
espanto dela.

- Não, perai! Vai matar alguém somente por se aproximar de mim com a
mesma intenção? É doentio! – balançou a cabeça.

- Não é doentio no meu mundo! vampiros não medem consequências quando


outro vampiro tenta tomar suas fêmeas – disse cruzando os braços sobre o
peito, vendo que ela o encarava um tanto zangada.

- Não sou uma fêmea! E essa conversa é estranha agora. estamos nos
conhecendo ainda e sei lá...é estranho. Acho melhor nos conhecermos
melhor, para depois decidir essa coisa toda de ser sua – riu ao pensar no que
estava falando.

Não viu o mesmo humor naquilo, porque estava falando muito sério. Não
suportaria se outro se aproximasse na intenção de tê-la como a teve minutos
atrás – você é uma fêmea, humana – riu quando viu a sobrancelha dela
arquear – muito tentadora, e claro que outros tentarão se aproximar com essa
intenção. E já a conheço muito bem, e já estou decido, mas você não.... -
Parou de falar e saiu da cama devagar para começar a se vestir. Não gostou
muito daquela conversa – se quiser pensar a respeito eu entendo, eu sei como
é difícil para uma humana ter que decidir ficar com uma criatura como eu.
Mas a desejo desde o momento que a vi, não posso evitar é mais forte que eu.
Mas se não me aceitar, não a forçarei... – sentiu a mão dela em seus lábios na
tentativa de faze-lo parar de falar, ela havia sido bem rápida.

Teve que silencia-lo, porque ele achava que não o queria por quer era um
vampiro – não! não é isso Morgan. É porque eu não o conheço direito e tenho
medo de que possa me magoar, sempre fui assim. Nunca me envolvi! – ele
tomou seu rosto entre suas mãos e a encarava, ele tirava seu folego com
aqueles olhos.

- Eu jamais a magoaria, a machucaria ou trairia seus sentimentos. Não sou


assim! Mas se quiser tempo para descobrir o que quer, eu lhe darei tempo. E
até lá, manteremos segredo para os outros – A beijou nos lábios

Não resistiu aquilo, era bem capaz de dizer que já estava decidida ali naquele
momento e que queria ficar com ele para sempre, mas tinha que ser racional –
só quero ter certeza de que me quer, e não reavivar lembranças de Helena –
disse olhando-o nos olhos, e ele não vacilou.

- é incomparável mulher! Não é ela. Não existe a menor possibilidade disso


acontecer – sorriu quando viu o sorriso de contentamento nos lábios de
Adriana.

- Adoro quando fala assim! – disse brincando – como faremos referente a


esse segredo?

- Segredos! – ele bufou e depois fez um bico desajeitado enquanto se vestia e


ela também – Não gosto disso! Mas vamos mantê-lo por enquanto, se
conseguirmos – antes de saírem se beijaram apaixonadamente e depois
seguiram pelo corredor. Quando chegaram ao ponto que iriam se separar,
ficaram se olhando em silêncio. A pegou de repente e a beijou mais uma vez
– va para o seu quarto, se alguém a encontrar agora saberá que esteve
comigo. Farei o mesmo – disse e depois relutante se separou dela, a deixou ir
e ficou olhando ela se afastar com pressa. Agora estava decidido, a queria e a
teria, mesmo que ela brigasse. Queria ver até onde ela iria resistir.
Capitulo 14

Reatando a aliança

Adriana reuniu-se com os guardiões, mas nem sequer olhou para Morgan
direito. queria evita-lo ao máximo, pois ele a desconcentrava principalmente
quando lembrava daquela tarde que passaram juntos. Inicialmente quando
chegou ao salão de reunião houve um interrogatório sem fim sobre o que
havia acontecido naquela tarde, como era o homem que a atacou? como os
outros apareceram? Mas o que mais intrigava os quatro guardiões era o fato
de ter uma integrante do clã dos ciganos dentro do castelo, sem que
percebessem o que ela era.

- Eu sabia que tinha algo de errado e muito semelhante nela – Diego parecia
muito zangado com a descoberta – conseguem se passar por humanos
facilmente usando magia – ele sorriu pensativo – se bem que, para uma
integrante do clã dos ciganos ela é bem atraente.

Adriana olhou para ele e riu, balançando a cabeça.

- Muito perigosa eu diria – disse Felipe – conseguiu se infiltrar como uma


simples criada. Poderia esperar qualquer coisa dessa gente, menos isso –
parecia muito aborrecido enquanto falava.

Morgan o fitou – E por que está tão indignado com isso? – disse atraindo a
atenção de todos – o clã de Kaimel sempre teve a magia a seu favor desde
que ele se juntou com os ciganos romenos. Por que está tão surpreso? – disse
com certo humor.

Felipe não demonstrou o mesmo humor que Morgan – realmente não é o


caso, meu caro. Eles querem leva-la, você sabe que não vou deixar isso
acontecer – disse virando-se para Adriana.

- Que? – ela fez sobressaltada – me levar pra onde? – ficou assustada com o
que Felipe dissera.

Miguel bufou mediante a revelação. Odiava pensar naquilo, conhecia muito


bem a violência de Kaimel – não pensam em ceder a vontade dele, não é? –
perguntou olhando de Morgan para Felipe – não existem humanos na aldeia
por um motivo muito obvio, sabem muito bem como reagem a presença de
humanos quando transformados – disse um pouco perturbado porque as
lembranças sempre o assombravam. Embora fosse um bebe de não mais de
dois anos, surpreendentemente conseguia se lembrar dos gritos das vítimas e
dos uivos das feras que acabaram com sua aldeia.

Morgan aproximou-se de Miguel e tocou o ombro do irmão – Não esqueci de


nada meu irmão. E ninguém a levará daqui – disse voltando os olhos para
Adriana.

Ela olhou para Morgan um pouco impaciente, pois não entendeu sobre o que
eles falavam – não me responderam, me levar pra onde? – perguntou
novamente

Morgan puxou o ar com força, pois somente a ideia de Kaimel arrastando-a


para a aldeia o deixava perturbado pois sabia que ela não duraria uma noite
naquele lugar – Para a aldeia dos ciganos. Não é uma aldeia qualquer, eles
não são ciganos comuns, vivem na floresta na parte mais distante e sombria
porque não podem viver entre os humanos por causa da besta que carregam
dentro de si. São assassinos, são violentos e ferozes – sentiu o medo dela – E
a presença de Kaimel aqui pode dificultar as coisas, pois como seu ancestral
ele pode reivindicar o direito de protege-la – viu o medo dela novamente em
seus olhos castanhos que estavam arregalados enquanto o encaravam. Queria
conforta-la, mas prometeu a ela que esperaria. Então desviou os olhos para
Felipe que se aproximou dela.

Adriana ficou em silêncio por alguns minutos sem reação, porque aquilo a
deixou com medo – agora estou apavorada – disse quando viu Felipe se
aproximar e a olhar um pouco preocupado – Não quero ir pra esse lugar.

Felipe sentiu ela estremecer quando tocou em seu braço suavemente - O


medo é o seu pior inimigo no momento! – a advertiu – eles sentem e gostam
do cheiro do medo que os humanos exalam. então tente ser a mais fria que
puder quando eles chegarem. Temo por ti Adriana, porque não confiamos
neles. Eles matam por qualquer coisa, já lhe disse isso. Você nunca viu um
em total transformação – disse um tanto duro demais.

Não conseguiu evitar de olhar para Morgan, pois os olhos dele estavam em
cima dela. Estava apreensiva e o encarou por alguns segundos. Teve que
desviar a atenção para outra coisa - mas Helena teve a proteção deles. Se são
tão perigosos por que me protegeram daquela coisa que me atacou? – disse
aquilo, porque simplesmente não conseguia entender.

- Embora você seja descendente, é descendente bem distante de Kaimel. Eles


não protegeram Helena, eles protegiam a espada - Miguel tentou simplificar –
tentaram mata-la quando ela foi reivindica-la.

- Por que? – perguntou assustada

-Por não confiarem a espada a ninguém. Atila foi quem tentou matá-la a
mando de Kaimel – Miguel respondeu vendo sua reação de espanto e depois
decepção.

Felipe deu um suspiro - aquele que te atacou era um deles. Também é filho
de Kaimel – disse aborrecido constatando sua decepção. Depois detectou
outra coisa e olhou disfarçadamente para Morgan, havia acontecido algo
entre eles.

Ela não queria acreditar naquilo - Mas Sophie e Atila, me defenderam. Não
consigo acreditar que ele tenha tentado matar Helena e que queira me matar
também – ela rebateu indo em defesa deles mais uma vez – não faz sentido,
me proteger e depois me matar.

- Mas não mataram aquele que tentou te matar! – agora Felipe estava
impaciente – e sabe por que? – perguntou – porque ele é da família, eles
estranhamente prezam a família, a linhagem, as tradições, mas entre os
iguais. Você não é igual.

Ele conseguira fazer com que ela pensasse sobre aquilo de uma forma muito
ruim e sanguinolenta, e só aumentava sua ansiedade e medo. Mesmo assim
tinha que fazer o que tinha prometido a Sophie - ouçam o que eles têm a
dizer, antes de ter a certeza de que ele vai me arrastar daqui – ela sugeriu.

Felipe tocou em seus cabelos com delicadeza – eles não irão arrasta-la para
lugar algum. E se tentarem, já sabemos o que fazer – disse – o que acha
Morgan? – ele se virou para o líder que o olhou com a expressão séria, que
antes olhava para Adriana, percebendo desejo, ciúmes, preocupação.

Morgan tentava imaginar porque ela teimava em confiar nos ciganos,


principalmente quando mencionou Atila. Não conseguiu evitar sentir ciúmes.
Encarou Felipe - vamos ouvir o que eles têm a dizer, mas fiquem alertas a
qualquer sinal de hostilidade – respondeu dirigindo o olhar para Adriana que
o olhou ansiosa demais, não conseguiriam ir longe com aquele segredo, ela
tentou disfarçar, mas não conseguiu.

O relógio na parede do salão de reunião marcava 23hs. Foi o mesmo horário


em que ouviu os uivos sombrios que emergir fora dos muros do castelo.
Adriana ficou de pé sobressaltada e com medo porque aquilo congelou sua
espinha e acelerou seu coração.

Diego se aproximou e tocou seu ombro suavemente – relaxe cherié! Eles só


estão anunciando sua chegada, gostam disso.

Olhou para ele que mesmo estando com a expressão séria parecia seguro de
si. Começou a prestar atenção nos quatro a sua volta, pareciam prontos para
matar ou morrer. Expressões carrancudas e olhares sombrios. Morgan a olhou
rapidamente e lhe pareceu bem tenso.

Os quatro ficaram de pé quase que ao mesmo tempo, como se fosse algo


sincronizado e como se esperassem algum tipo de ataque. Morgan foi o
primeiro a sair em direção ao hall, e Felipe o seguiu. Diego e Miguel ficaram
para trás com Adriana e pareciam atentos a qualquer coisa que se movesse.
Depois seguiram para o mesmo caminho, e Miguel segurava suavemente no
braço dela enquanto a conduzia, pois em sinal de um ataque ele tinha ordens
de tira-la dali o mais rápido possível.

Isaiah já estava parado na porta e olhou para Morgan que lhe fez sinal para
abri-la. Ele puxou a enorme porta e deu passagem para uma comitiva que já
esperava na soleira.

O homem que estava à frente era mais velho que os outros que o seguiam.
Era bem mais ameaçador imponente e maior. Ele parou e olhou diretamente
para Morgan - Morgan! – ele disse em sinal de respeito, fazendo um gesto
com a cabeça.

- Kaimel – ele respondeu com o mesmo respeito

O enorme homem esperou alguns segundos antes de continuar a falar - faz


muito tempo! – disse quando olhou em volta e depois parou os olhos nos
outros e fez o mesmo sinal

- Tempo o bastante! – Morgan parecia simpatizar com o líder dos ciganos e


esse com ele.

Por um segundo Kaimel parecia que iria sorrir, mas não sorriu - sim! – ele
respondeu com um olhar perdido, depois voltando à realidade rapidamente –
venho tratar de um assunto importante. E creio que esse assunto seja
importante para ambas as partes – perscrutou os olhos de Morgan.

Morgan analisou cada movimento da expressão de Kaimel, pois era o alfa,


mais poderoso que qualquer outro que já havia conhecido. Era antigo e não
tinha a paciência e diplomacia que os da nova geração eram obrigados a ter.
E sabia também que não havia sequer uma criatura naquele salão capaz de
mata-lo – sim! – ele respondeu – creio que esse assunto é de grande interesse,
para todos nós.

Ele também analisava o líder dos vampiros e não parecia nada intimidado
com sua presença, era um traço muito familiar. De certa forma, aquilo o
agradou - venho reivindicar o direito de proteção de Adriana – ele foi direto –
já que sou o membro mais antigo da velha aliança, e eu sou seu ancestral –
sua voz era firme como um enorme tronco de uma figueira.

Adriana o analisava. Lembrou-se dele na feira cigana. Olhou em seguida para


Atila que estava ao lado dele e que retribuiu o olhar dando um meio sorriso
contido para ela. E isso não passou despercebido para Morgan que a olhou de
soslaio, para se certificar que ela olhava para ele também. E sim, ela sorria da
mesma forma, tentando disfarçar. Sophie logo surgiu ao lado dele e as duas
trocaram olhares confiantes, pois era exatamente o que tinham planejado.

Felipe olhava para Kaimel com desprezo, não o temia mesmo ele sendo o
poderoso líder dos garous - não poderá simplesmente leva-la daqui! - disse de
forma contrariada.

Kaimel somente o fuzilou com os olhos ferozes. Nunca se dirigia a ele,


sempre se dirigia a Morgan por ser o líder dos Drakos e não suportava a
arrogância e intervenção daquele vampiro. E aquilo o irritou - não poderá me
enfrentar, Felipe! Seja razoável e aceite – controlou o seu temperamento
fazendo um movimento com a cabeça e estalando o pescoço para diminuir a
tensão.

O clima ficou mais tenso

Morgan deu um passo à frente, ficando entre eles - creio que podemos chegar
a um acordo – disse tentando amenizar os olhares ferozes que Felipe e
Kaimel trocavam. Continuou – visto que assim como vocês, nós também
temos a preocupação com a próxima guardiã – ele olhou na direção de
Adriana que o fitou apreensiva, parecia mais tensa que todos eles. Sabia que
ela estava com medo naquele momento e lamentou por não poder conforta-la
e lhe dizer que a protegeria de qualquer um, até de todos aqueles garous – sei
que não mediria esforços para isso, Kaimel. Conseguiu fazer com que sua
filha se infiltrasse em minha casa sem que fosse notada – ele dirigiu o olhar
agora para Sophie que o encarou desafiante. Sem dúvida Adriana era herdeira
deles, tinha a mesma arrogância no olhar e a pose imponente - tenho uma
proposta que talvez seja a única saída para ambas às partes – concluiu. Agora
analisava a reação desconfiada de Kaimel.
Kaimel o fitou - o que propõe? – havia a característica arrogância na pergunta

- Uma nova aliança! – respondeu com firmeza

Kaimel refletiu - com que propósito? – Ele perguntou em seguida como se


ele quisesse ludibria-lo

Morgan o fitou – Nenhum motivo escuso além da proteção de Adriana –


respondeu com firmeza

Felipe aproximou-se de Morgan - Não pode barganhar com ele, Morgan! -


disse irritado

Morgan virou-se para encara-lo – Sei o que estou fazendo! – ele rebateu
quase que sussurrando

Kaimel lançou um olhar furioso em direção a Felipe, que o encarou na


mesma intensidade novamente.

Morgan percebendo a enorme tensão que havia entre eles novamente


resolveu tomar a frente - trataremos então no antigo salão da aliança – disse
fazendo um gesto para que Kaimel o seguisse, e esse o seguiu junto com sua
comitiva. Felipe seguiu logo atrás com os outros. Adriana quase não
conseguia se mover do lugar por causa do medo que não conseguia evitar,
ficava olhando para aqueles homens enormes imaginando como seria a forma
deles como lobisomens. Miguel a conduzia novamente, enquanto seguiam
para o salão da aliança, respirou fundo e tentou ser corajosa o suficiente para
acompanha-los.

O salão da aliança estava exatamente da mesma forma em que era na época


de Valérius. Morgan entrou primeiro, logo após abrir a enorme porta dupla de
madeira maciça entalhada com ouro. Ele ocupou o lugar que era de seu pai,
na cabeceira. Ainda havia o símbolo da aliança pintado na parede logo atrás
de sua cadeira. Morgan indicou os lugares a sua esquerda para Kaimel e seus
homens e o da direita para o seu clã e Adriana, que ao entrar ali ficou mais
tensa enquanto analisava os homens a sua frente. Pois se houvesse um
confronto entre eles, não teria para onde correr. Sentou-se ao lado de Miguel,
que tocou em sua mão rapidamente para lhe passar um pouco de conforto e
depois a soltou.

Kaimel lançou um olhar especulativo para ela que praticamente encolheu-se


em seu lugar, quando percebeu que ele a encarava. Mas mesmo assim ela o
olhava diretamente nos olhos. Balançou a cabeça quando notou a semelhança
com os seus, em seguida os desviou para Morgan - como pretende reatar a
aliança? O que propõe – perguntou curioso, como se aquilo fosse
praticamente impossível.

Morgan o fitou - na verdade, a idéia de reata-la foi da própria guardiã. A


pouco descobriu sobre nós e o seu destino – ele olhou para ela quando falou
aquilo.

Todos se viraram para olha-la, uns indignados, outros curiosos e Felipe


zangado por ela tramar com Morgan em segredo.

Adriana sentiu seu coração acelerar e um frio passar por sua espinha quando
ele a mencionou, e começou a achar que aquilo estava acontecendo com
muita frequência, e se continuasse teria um enfarto aos 30 anos. Tentou
disfarçar seu medo. Olhou em volta constatando que estava cercada de
criaturas extremamente poderosas, que as assustavam na infância e que
poderiam mata-la rapidamente. Olhou para Morgan e ele fez um gesto para
que se manifestasse - É! – ela fez e ficou de pé e olhou para o líder dos
ciganos – Pra mim isso tudo é muito fantástico, estranho e devo admitir que
estou com medo – respirou fundo porque Kaimel a analisava atentamente
como os outros – Mas não sou covarde, nunca fui, e se tiver que encarar isso,
que seja de uma vez.
E embora eu ainda esteja digerindo toda essa loucura, estranhamente estou
me adaptando. Não faço idéia do que vem pela frente, do que estou
enfrentando, mas sei que se estão sentados aqui hoje é porque se importam e
podem me proteger. li que o verdadeiro motivo da aliança era proteger o
guardião da espada, que antes era o senhor, depois a tal da Helena e agora sou
eu... – Ela suspirou e começou a andar devagar rodeando a mesa – Por que
não reatar a antiga aliança? – ela olhava para eles como se esperasse que
alguém se manifestasse, e como não teve retorno continuou – Por que se
tornaram inimigos? – perguntou

Atila foi quem se manifestou primeiro - Porque eles desconfiam de nós como
se fossemos uma praga. Conseguiram nos manter longe de propósito até
agora - ele deu um sorriso debochado – como se adiantasse esconde-la de
nós.

Morgan o encarou contrariado não gostando do tom - vocês tomaram a


decisão de se manterem a distância quando Helena morreu – rebateu

Atila o fitou irritado - não faria sentido ficarmos todos unidos, faria? –
provocou - sendo que o verdadeiro motivo da aliança havia morrido. Nunca
nos procuraram. Mesmo sabendo que havia outra herdeira, e essa herdeira ser
nossa descendente, ter o nosso sangue, pertencer a nossa linhagem e não a de
vocês - agora encarava Felipe.

Felipe sentiu-se ultrajado - realmente não fazia sentido antes, e tão pouco faz
agora - respondeu num tom provocativo - Não precisamos que fiquem nos
rodeando como se fossem abutres, voando a cima da carniça antes de devora-
la. Não concordo com isso, e muito menos deixa-la perto de vocês. Quem nos
garante que não vão tentar mata-la também? - havia um brilho estranho no
seu olhar e Adriana percebendo estremeceu.

Atila iria saltar em cima dele a qualquer momento, essa era sua vontade -
como ousa chupador? – berrou furioso ao mesmo tempo em que se colocava
de pé e batia com força na mesa, o que a fez tremer – nos acusa como se a
natureza que os acompanha os impedissem de mata-la também.

Felipe se pôs de pé em protesto e Vladimir que era enorme como Kaimel, se


pôs ao lado de Atila de forma protetora, ao mesmo tempo em que ele. Diego
e Miguel também se colocaram de pé afastando suas cadeiras
displicentemente, quase que as derrubando.
Eles batiam boca e se acusavam furiosamente, falando todos ao mesmo
tempo. Adriana olhava para eles horrorizada. Morgan e Kaimel mantinham-
se inalterados sentados em seus lugares observando a discussão. Adriana
estava sem reação, apavorada olhando para eles que quase se atracavam por
cima da mesa. Ficou em choque no primeiro momento, estavam muito
alterados e eram violentos. Sabia que tinham uma rixa antiga, olhou para
Morgan e ele encarava Atila que batia boca com Felipe.
E quando Sophie se aproximou dela e lhe disse para chamar a atenção deles e
não ter medo. Ela a encarou, depois olhou para eles novamente, enfiou os
dois dedos na boca e assoviou e depois berrou - HEY! - Atraiu a atenção de
todos – eu não sei qual é o motivo dessa rixa, mas o inimigo realmente está
aqui dentro? – eles pararam de discutir e olharam silenciosos e zangados para
ela. Sentiu-se um pouco segura quando viu que havia conseguido atrair a
atenção deles.

Aproximou-se de Felipe, Diego e Miguel e tocou em seus ombros, um de


cada vez para que voltassem a se sentar e eles obedeceram. Lançou um olhar
para Atila e os outros ao seu lado, pois relutavam e ainda encaravam os
vampiros furiosamente. Mas Atila a fitou por um momento e sentou-se em
seguida, sendo imitado por Vladimir e os outros.

Kaimel observava a cena muito interessado com a forma que ela conseguiu
lidar com aquela situação.

Todos os presentes olhavam interessados para ela, esperando que continuasse


e teve que respirar fundo novamente – essa contenda entre vocês é ridícula e
não levará a lugar algum. E eu não sou Helena! Não me importo com o
passado de vocês. O que eu quero é acabar logo com esses caras... – olhou
para Felipe, pois não se lembrava dos nomes.

- Ravengar e Willian – ele respondeu prontamente, e já estava mais tenso só


deles estarem olhando pra ela com atenção.

- Isso! Quero acabar logo com isso e voltar para minha vida humana e normal
- ela sorriu um pouco tensa também - não tenho força como vocês, e não sei
nada sobre tudo isso. E como me disseram uma vez, talvez eu nem sobreviva
– ela fez uma pausa e olhou de soslaio para Morgan que a olhava com certa
curiosidade. Percebeu também que os outros prestavam atenção nela, mas
pareciam não se importar sobre com o que falava, e bufou - A lógica seria um
de vocês usarem essa espada e não alguém como eu. Mas suponho que sejam
mais fortes que eles, mas todos juntos - ficou em silêncio esperando alguma
reação. Voltou para o seu lugar ao lado de Miguel que virou a cabeça para
olha-la e piscou em sinal de que a estava apoiando. Ela inspirou
profundamente olhando para ele e tentou relaxar.

Morgan olhou para ela pensativo e disfarçou o sorriso. Felipe baixou a cabeça
e depois olhou para Kaimel que fitava sua protegida com os olhos brilhantes
e indecifráveis. Um frio passou por sua espinha quando viu aquilo, Kaimel
não era dado a sentimentos e imaginou se tentaria mata-la como Atila tentou
matar Helena.

Kaimel abriu um largo sorriso satisfeito de repente para a humana – apenas


humana, mas sei que estou olhando para minha verdadeira herdeira. Tem a
coragem, a sabedoria e a impetuosidade de um Argus. Não vejo a hesitação
da outra – ele se pôs de pé sendo imitado por Morgan e todos os outros.
Virou-se para Morgan e estendo o braço para ele - aceitamos a aliança! -
disse com firmeza. Morgan fez o mesmo e apertando o antebraço dele e
selando a nova aliança.

Mas ao segurar seu braço disse - ainda tenho uma condição - disse para
Morgan

Felipe parecia engolir aquilo em seco.

Morgan o avaliou por um segundo – qual? – perguntou já imaginando que


não gostaria da resposta dele. Rapidamente olhou para Felipe que parecia
reprimir sua ansiedade. Com certeza ele não deixaria que Kaimel a levasse,
muito menos ele deixaria. Voltou o olhar sério para Kaimel.

- A condição é que Atila e seus homens possam vigia-la de dia, e Sophie


possa visita-la para ensinar-lhe algumas coisas. Sabem da rebelião em nossa
aldeia, e sabem que um dos meus filhos foi o responsável pelo ataque a
Adriana. Se bem o conheço, ele tentara contra a vida dela todas as vezes que
houver oportunidades, principalmente nos horários que estiverem recolhidos.
Aquiles é perigoso e cruel, usa de sua herança para destruir - ele dizia aquilo
com pesar e seus olhos pareciam muito tristes. Atila tocou o ombro de seu pai
que o olhou - eles poderão protegê-la, até que esteja pronta - ele lançou um
olhar ansioso para Morgan que olhou para Felipe percebendo que havia
relaxado, e depois para Diego e Miguel que assentiram um após o outro com
um sinal com a cabeça de que concordavam.

Morgan o encarou com um ar mais amistoso - Aceitamos! - disse ao mesmo


tempo segurava o antebraço de Kaimel novamente fechando assim o acordo
entre eles. Sabia que eram os únicos que poderiam protegê-la de dia, quando
não estivessem por perto – mas ela não sairá da propriedade do castelo. Sua
floresta ainda é perigosa! - disse

Kaimel assentiu – entendo sua preocupação, que assim seja! - virou-se para
Felipe que o fitou e fez o mesmo gesto que havia feito com Morgan, esse
aceitou - comemoremos então a nova era dos guardiões da Aliança. -

Adriana relaxou em sua cadeira quando viu que Kaimel e Felipe selavam a
aliança entre eles. Olhou para Morgan que a fitava e sorriu em agradecimento
e ele sorriu de volta. Mas ficou tensa quando Kaimel se aproximou e parou a
sua frente bloqueando a visão anterior. Ficou de pé rápido demais
demonstrando todo seu medo, e ele parecia um gigante perto dela. Olhou
apreensiva para ele e ainda achava que lhe dava calafrios olhar para ele. Mas
estranhamente ele sorriu de forma serena e tocou o alto de sua cabeça,
poderia esmaga-la se quisesse, pois, sua mão era enorme.

– Não tenha medo! Se existe uma coisa que respeitamos e prezamos, é a


família, o laço, e posso sentir que tem mais de mim do que a outra antes de ti
– ele a mediu e voltou a fita-la - há bondade em seu coração. Isso é bom! Isso
é bom! – afastou-se em seguida.

Adriana ficou olhando ele se afastar indo em direção ao pátio e depois Atila
que lhe sorriu de forma sedutora antes de se afastar com o pai, junto com os
outros de sua comitiva. Não conseguiu evitar suspirar aliviada quando ele se
afastou, e olhou para trás percebendo que os vampiros estavam bem atrás
dela como se realmente estivessem lhe protegendo.

Felipe se aproximou mais – Ele não foi assim com Helena, mas não se anime
querida. Essa é só a face humana dele, se ele se irritar a face torna-se bem
assustadora e ele não costuma reconhecer aliados, entendeu? Tenha sempre
cuidado! – disse um pouco apreensivo
Apenas ouviu o que ele disse, mas não levou aquilo em consideração, pois
não via a mesma coisa que ele. Então, preferiu não responder.
Os ciganos sabiam festejar e isso era um fato. Era somente ter um bom
motivo para fazê-lo. Todos eles esperavam por um novo guardião, por um
herdeiro da espada de Kaimel, e sabiam que quando surgisse um poderiam ter
esperanças novamente. E oficializar a chegada da nova guardiã com uma
festa, era um bom motivo. Fizeram uma enorme fogueira no pátio do castelo,
pegaram seus bandolins e violinos e tocavam uma balada alegre e sensual,
cantarolavam suas músicas e dançavam.

A comitiva de Kaimel havia se reduzido com o passar do tempo, e depois da


rebelião de seu filho mais novo Aquiles, alguns homens corrompidos por ele
e sua obsessão em dominar os humanos, fugiram após um violento confronto
que custou a vida de seu segundo filho Ephrain pai de Vladimir, e também
custando à vida de vários outros guerreiros da sua aldeia. E ainda morriam
outros em violentos confrontos com os rebelados quando os encontravam
pelo caminho.

E embora a antiga aldeia estivesse sendo reconstruída, ainda havia a sombra


do último ataque e por este motivo tornaram-se mais cuidadosos.
Reconstruíam novamente para ser como era antes da rebelião, quando
finalmente Kaimel conseguiu controlar a besta e fixou moradia naquelas
terras que já lhe pertenciam. Era isolado o suficiente dos humanos, então era
considerado o paraíso particular deles e o defendiam com a própria vida se
precisasse.

Atila tornara-se o mais forte, por ser o primogênito de Kaimel. Seria o líder
natural no lugar de seu pai, quando a guerra enfim terminasse. Atila já tinha
15 homens abaixo de suas ordens e todos foram escolhidos por sua força e
autocontrole. Eram imponentes assim como os vampiros que estavam ali, só
que visivelmente eram bem mais ameaçadores, por seu tamanho, suas
expressões cruéis e olhares ferozes.

Adriana os observava atentamente e ainda não conseguia enxerga-los como


bestas gigantes. Afinal “O que sabia sobre os lobisomens?” pensou. Só sabia
o que tinha lido em quadrinhos antigos, livros e visto em filmes. E claro, das
histórias de seu avô materno. Nunca imaginou em toda a sua vida que teria tal
descendência, mesmo que muito distante. Não conseguiu notar a semelhança
com a família de sua mãe, mas estava ali em algum lugar, o formato dos
olhos talvez, imaginava. Passavam-se por humanos facilmente, riam,
comiam, bebiam, dançavam e tinham necessidades básicas fisiológicas como
a de um humano.
A única coisa que os diferenciavam era a maldição que os transformavam
numa enorme fera violenta e assassina e o mesmo magnetismo que os
vampiros, tinham audição e olfato dez vezes mais aguçadas que de um lobo
natural, a agilidade e a incalculável força. Alguns até mais que um vampiro.
Pelo menos imaginou que seria daquela forma, pois nos filmes eram, e
também se lembrou do jeito que Atila a deixou tonta como se falasse em sua
mente.

Quando Felipe colou ao seu lado, ficou em silencio durante alguns minutos e
parecia um pouco aborrecido, e de repente começou explicar sobre as
peculiaridades daquele povo, enquanto ela os observava. Alertou-a sobre a
forma aterrorizante deles mais uma vez, dizendo que transformados eram
monstruosos e ferozes, e muitas vezes incontroláveis. Mas Sophie também se
aproximou e lhe explicou que somente os mais jovens eram incontroláveis.
Explicou também que os que sobreviviam a algum ataque geralmente eram
escolhido assim como os vampiros faziam, e eram mantidos separados do
restante e em um lugar onde não tinha a possibilidade de um humano passar.
Disse também que sempre reconheciam seus iguais pelo cheiro, e que no caso
dela, mesmos transformados a reconheceriam a quilômetros de distância. Ela
estremeceu e suspirou ao pensar naquilo.

Felipe riu friamente ao ouvir aquilo – ela não é igual! – encarou a cigana que
o fuzilava com aqueles enormes olhos verdes.

Sophie já esperava por aquele comportamento dos vampiros - Talvez não


para você vampiro, ela descende de meu povo – rebateu com certa arrogância
e desprezo.

Ele riu novamente – não sabe nada sobre a descendência dela. E pelo que
sabemos bruxa, nunca se importaram em procurar antes – ele deu o assunto
por encerrado e a fitava friamente.

Adriana pigarreou incomodada por aquela provocação – qual é gente?


Acabamos de selar uma nova aliança, relaxem! – disse olhando de Felipe
para Sophie que ainda se encaravam com certa hostilidade.

Sophie desviou os olhos do vampiro e sorriu para a Adriana – tem razão!


Talvez nossos inimigos não estejam aqui – disse voltando os olhos para a
fogueira.

Adriana voltou os olhos para a fogueira também – não, creio que não! – Disse
um pouco séria demais e grudou no braço de Felipe quando alguns dos
ciganos começaram a uivar em volta da fogueira, aquilo congelou seus
nervos. Mas eles apenas comemoravam enquanto dançavam e bebiam,
mesmo assim a assustou e grudou no braço dele.

Felipe não gostou muito daquela exibição e olhou um tanto irritado para
Morgan que conversava com Kaimel. Voltou os olhos para Adriana quando
ela grudou em seu braço num reflexo de medo quase infantil, mas ela fez
aquilo sem pensar – eles estão aqui para te proteger, mas não se esqueça do
que eu disse antes – cochichou para ela que o olhou e forçou um sorriso.

Sophie sorriu ao ver a forma carinhosa que ele olhava para sua protegida, e
percebeu que a intenção dele desde o começo era mantê-la fora do perigo, por
isso tinha receio do encontro dela com seu clã – nunca faríamos nada para te
machucar Adriana, sabemos quem você é, somos uma família e não se
esqueça disso também – sorriu para Felipe que entendeu o que ela queria
dizer e manteve a cara fechada para ela.

Adriana ficou incomodada com aquilo – na verdade Sophie estou me


lembrando dos inimigos, seu irmão Aquiles também é como vocês – sabia
que sim, mas queria ter a certeza, porque ele lhe pareceu bem perigoso e
violento, e muito obstinado em lhe matar.

Lembrar que seu irmão era um espinho entalado na garganta de sua aldeia,
era lastimável. Ainda mais ele querendo matar a guardiã e todos na aldeia –
sim! São como nós. Mas ele tem algo que o motiva mais, ele é sádico e cruel,
é uma criatura de natureza má e usa a maldição a seu favor. Mas estaremos
aqui para te proteger dele, principalmente Atila e seus homens não se
preocupem – disse confiante.

Ficou em silencio pensando no quanto saber aquilo não era reconfortante,


tentava ver o lado positivo, mas não conseguia, sendo apenas humana morrer
seria inevitável.

- Não tenha medo Adriana – Sophie sorriu para lhe passar um pouco de
confiança – sei que é difícil para um ser humano entender tudo isso, não estão
preparados para conviver com criaturas como nós, porque tudo o que temem
tendem a matar. Ainda bem que hoje em dia não acreditam em nada.

- é verdade! – concordou Felipe - dificilmente prestam atenção aos


acontecimentos ao seu redor – ele inspirou profundamente como se dizer
aquilo para ela fosse muito difícil – Esse agora é o seu mundo e terá que ser
forte para lidar com ele - disse seguindo o olhar perdido de Adriana para a
fogueira novamente.

- Eu sei – disse voltando os olhos para ele e tentou sorrir novamente.

Sophie olhou intrigada para Adriana e depois para Felipe, mas quando o
vampiro a encarou sério, desviou os olhos – você não é apenas uma humana
comum, creio que terá habilidades o suficiente para encarar isso tudo - disse
com um sorriso.

Adriana olhou para ela e apertou os olhos como se a estivesse analisando –


não como você suponho! – sorriu ao dizer

Sophie deu uma gargalhada alta, chamando a atenção dos que estavam a sua
volta. Achava que ninguém pensaria mais sobre o assunto, mas Adriana era
perita em se lembrar das coisas e percebe-las quando ninguém mais percebia.
- Sim tenho algo a mais que os outros de meu clã! Posso prever as coisas às
vezes, e fazer outras coisas, sou uma bruxa - disse olhando para Felipe com
um sorriso cúmplice – percebo muitas coisas – disse com ironia.

Ele apenas a olhou em silêncio, ainda teria que se acostumar com aquela nova
proximidade dos ciganos. Ainda mais com Adriana encantada por eles, e tão
próxima de sua nova amiga.

- Eu gostaria de ter tido esse tipo de poder - disse de repente - imagina o que
eu não conseguiria – deu um sorriso malicioso

Sophie a olhou com certa repreensão – Pela deusa, claro que não! – disse -
você poderia causar diversas confusões e sofrer com as conseqüências. Tudo
tem um preço.

- Também acho! - disse Felipe - sendo apenas humana, conseguiu criar


grandes confusões e ludibriou varias pessoas com sua astúcia imagine se
tivesse o dom de seus ancestrais - ele sempre a fazia pensar sobre o que as
atitudes erradas causavam depois.

- Não pode esquecer meu passado um pouco - disse num tom brincalhão para
Felipe que sorriu timidamente - vamos curtir essa festa! - disse

Felipe preferiu ficar onde estava, e disse para se divertir com sua amiga
cigana. Mesmo não gostando dos ciganos, eram os únicos que poderiam
protegê-la de dia e teria que controlar seu gênio e se acostumar com a
presença deles por um tempo. Ficou parado observando-a se afastar,
pensando no quanto Adriana era astuta, era uma ótima negociante e
conseguia fazer com que qualquer um fizesse o que queria, mas era humana e
temia pela vida dela.

Diego surgiu ao seu lado dissipando seus pensamentos – aliviado? –


perguntou seguindo o olhar de Felipe que se virou calmamente para ele.

- Talvez, por hora - ficou sério novamente e viu que Miguel e Morgan
juntavam-se a eles também - não temos como relaxar, mesmo com os
lobisomens do nosso lado novamente. Qual será a extensão do clã de
Ravengar e Willian? – agora tinha o tom preocupado.

Morgan olhava na mesma direção que Felipe, assim como Diego e Miguel.
Pensou na mesma coisa, tinha certa preocupação também, ainda mais depois
que descobriu que sentia algo pela a humana. Pensar naquilo até lhe fazia
sentir mal-estar, não queria que ela tivesse o mesmo fim de Helena - Teremos
que confiar em nós mesmos. Juntos somos mais fortes que eles - disse
confiante, e sorriu quando seus amigos olharam para ele com admiração.
Realmente com ele por perto sentiam-se mais confiantes, juntos eram sempre
indestrutíveis, juntos eram mais fortes. E agora com a nova aliança com os
ciganos, contavam com mais uma ajuda. Mas ninguém nunca foi páreo para
os quatro guardiões da Aliança.
Ravengar

Havia um luxo sombrio na mansão que era bem protegida por cães das raça
pitbull e rottweiler e os seguranças armados que os conduziam. Dentro
daquela mansão nada era o que aparentava ser, o ambiente luxuoso era
pesado como se algo vagasse assombrando todos os cômodos apesar de não
ser visto.

Ele entrou pisando firme, pois era arrogante por natureza, vestia uma roupa
toda preta e impecável, e usava um sobretudo de couro preto o que o deixava
mais parecido com a criatura que era, mas para os padrões modernos. Sua
expressão ainda era cruel e fria, mas havia se adaptado muito bem ao século
presente e gostava das tecnologias destrutíveis humanas, usava até as redes
de relacionamento para atrair suas vítimas e sua aparência também ajudava,
mas adorava tecnologia.
Enquanto seguia pelo corredor era escoltado por dois de seu guardas
vampiros, que seguravam suas armas israelenses com novas adaptações para
o tipo de munição que utilizavam. Entraram num cômodo extenso, cheio de
outras armas de fogo e alguns homens que estavam sentados envolta a uma
mesa jogando cartas e gritando seus palavrões de forma grosseira uns para os
outros. Ficaram de pé imediatamente um tanto sobressaltados quando o
viram, fitavam o chão em sinal de respeito. O homem lhes lançou um olhar
ameaçador - Onde está aquele maldito cão? Onde está Aquiles? – vociferou
autoritário.

Um dos homens apontou para a sala ao lado, para onde ele seguiu e se
deparou com o homem muito a vontade esparramado em um sofá de três
lugares, com uma vampira seminua de cada lado que o acariciavam. Bufou
irritado e mostrou suas presas ameaçadoras para as duas que se encolheram e
depois se afastaram apressadamente.

- Que desagradável Willian! – Aquiles sorriu de forma maliciosa, enquanto


massageava seu pênis insatisfeito – colocou-se de pé em seguida e encarou o
vampiro com desdém.

- Qual a dificuldade em cumprir uma ordem, e acabar com uma simples


humana? – perguntou entredentes.

Aquiles ficou sério de repente e o encarou de forma hostil, não recebia ordens
de um vampiro e aquele em especial o irritava muito, só estava ali por
conveniência porque não iria conseguir a aldeia sozinho.

- Se acha que pode fazer o que quiser, está bem enganado. Ou você cumpriu
uma ordem com sucesso, ou sofrerá as conseqüências que você já conhece –
seus olhos eram cruéis e um sorriso maquiavélico se desmanchava em seu
rosto.

Aquiles se aproximou de repente, parecia ser muito ameaçador com seus


olhos que eram num tom amarelado e sua aparência desleixada e forte - Não
se esqueça que vim para o seu lado com meus homens de livre e espontânea
vontade, chupador - respondeu desafiador.

William grudou em seu pescoço muito rápido e não lhe deu tempo de reagir,
pois ele apertava com força, paralisando-o - houve uma época e, que eu temia
a sua raça insuportável. Mas passou muito tempo, e agora sou muito mais
forte. Não me confronte filho de Kaimel, porque a unica coisa que evito em
vocês é o mau cheiro - ele soltou o macho e deu uma risada sombria.

- Eu tentei! - disse Aquiles massageando o pescoço - mas Atila e Sophie


estavam com ela - ele estava de joelhos, pois cairá quando Willian soltou o
seu pescoço e o empurrou com força. Olhou com ódio para o vampiro quando
ficou de pé novamente, e viu o vampiro se enfurecer com a sua revelação.
- Há! - ele fez com uma ira controlada - A MALDITA ALIANÇA - explodiu,
depois voltou a se controlar - vamos ver como eles se sairão. Tenho planos
para todos eles - disse saindo sem olhar para trás. Entrou em um laboratório
bem equipado, tinha toda a tecnologia moderna a seu favor. Um homem
baixo de meia idade e roliço apressou-se em recebê-lo quando entrou.

- Lorde Willian! - ele disse vacilante. Em seu olhar atrás das lentes grossas
dos óculos havia medo – conduziu o vampiro para uma sala toda branca e
cheia de equipamentos de última geração. No centro havia um enorme tambor
de vidro, e dentro dele havia um liquido viscoso e avermelhado e envolto
aquele liquido havia uma criatura horrenda e toda enrugada, com os dedos
das mãos longos e os cabelos bem brancos e compridos. Havia vários tubos
de borrachas bem finas com agulhas enfiadas em seus braços e pernas magros
demais. Willian aproximou-se do vidro e o tocou, havia um brilho ansioso em
seus olhos.

- O sangue de Tyros foi demais para ele - dizia para si mesmo - mas logo irá
acordar. E tenho muitos planos para o sangue que corre em suas veias - ele
sorriu e depois se virou para o homem que quase levou um susto quando
olhou para o vampiro - já pegou a quantidade suficiente? – perguntou.

- Sim lorde Willian! – respondeu com a voz tremula - já estou criando o que
o senhor me pediu, estamos progredindo e finalizando os testes - disse aquilo
de forma que parecia esperar por algum reconhecimento.

Willian passou a mão suavemente no rosto do homem que fechou os olhos


atemorizado - No final, vocês humanos sempre fazem o que queremos,
mesmo que depois morra por isso - ele riu depois de medir o homenzinho e
saiu.
Lobisomens

Adriana entrou na roda dos ciganos e tentou acompanhar os mesmos


movimentos que Sophie e as outras ciganas faziam com os quadris. Os
homens ciganos as rodeavam as incentivavam batendo palmas e dando
gritinhos animados.

Morgan observava a cena de longe, reparando os detalhes dos traços e beleza


de Adriana. Achou realmente que ela tinha muita semelhança com seus
parentes distantes, tanta vida em uma só pessoa, pensou! Mas fechou a cara
quando viu que Atila surgiu na frente dela e a instigava para dançar pra ele.
Atila era um homem muito bonito, apesar de ser selvagem, e Morgan sabia
que isso chamava a atenção dela. Aquilo o aborreceu muito, porque até ela
decidir que seria dele, não poderia dizer nada a respeito ou sair espantando os
machos a sua volta, se irritou.

- Parece que ela gostou dele - a voz de Felipe tinha um tom de ironia

Morgan o encarou mal humorado - do que está falando? – perguntou seco

Felipe sorriu divertido - ele a salvou duas vezes, e ela o admira por isso -
Sabia que Morgan estava bem interessado em sua protegida, mas tentava
disfarçar.

Ele fechou a cara – isso não quer dizer nada! - disse irritado

Felipe riu zombeteiro - hum! Acha que ele não tem chance de conquista-la?
Pois vou lhe dizer o que acho. Ela não parece preocupada com o fato dele se
transformar em um monstro, porque ele não lhe mostra perigo algum – viu os
olhos dele lampejarem irritados quando lhe encarou – mas você a instiga e
ameaça toda vez que tem oportunidade, enquanto ele mostra o quanto se
preocupa com sua segurança - foi direto no ponto, mas tinha um sorriso
malicioso quando disse aquilo.

Morgan riu contido - você sempre ouve os pensamentos dela? – rebateu a


provocação

Felipe ficou sério de repente - somente quando está em estado alarmante de


perturbação e tenta disfarçar – respondeu olhando para ela dançando,
enquanto Atila, Vladimir e as ciganas batiam palmas – me preocupo com ela,
sabe disso. Adriana não é Helena - sua voz tinha certo tom de acusação.

Morgan o analisou - tenho que pedir sua permissão, milorde? – agora ele era
irônico.

Felipe o encarou novamente - depende de sua intenção, Alteza. Se quer


apenas brincar para satisfazer seu desejo, peço que pare. Apesar de ela ser
adulta e se decidir sozinha – disse colocando as mãos para trás - Morgan, o
ensinei e treinei desde que nasceu, para se tornar o que é hoje. E assim faço
com Adriana, eu a conheço muito bem. A vi nascer e crescer sei que me
entende. Mas vou lhe dar um conselho. Se sente algo real por ela, é melhor
demonstrar de outra forma e não a afugentar, ou ela acabará nos braços dele.
E nem eu poderei fazer nada a respeito - sorriu mediante o silêncio de seu
líder que olhava aborrecido para a cena da dança. Mas sabia que já se passava
algo entre eles, era nítido no jeito que se olhavam e sorriam um para o outro e
a mente de Adriana era gritante, era fácil ouvi-la mesmo que algumas coisas
não fossem tão claras.

- Tenho sua permissão, milorde? – Morgan perguntou novamente depois de


dois minutos em silêncio.

Felipe disfarçou um sorriso – se ela o aceitar, sim! – disse tocando no ombro


de Morgan. Sabia que seu sentimento era sincero, ele só tinha que conquistar
a confiança dela.
Uma semana se passara após aquela noite, e todas as noites Adriana se
encontrou com Morgan secretamente em seu quarto e ele saia antes do sol se
levantar. Naquela noite estava quieta aconchegada nos braços de Morgan –
Não acho que esses treinos irão servir de alguma coisa – disse de repente.

Morgan olhou intrigado para ela – está insegura a respeito do que terá que
enfrentar? – perguntou enquanto acariciava o rosto dela – Não fique meu
amor, posso protegê-la. Já olhou a sua volta e viu quantas criaturas
extremamente fortes lhe protegem? Até mesmo os ciganos – apertou-a em
seus braços.

O encarou por um segundo – eu sei! Estou tentando ser otimista, mas é um


pouco difícil. Talvez se eu não tivesse que empunhar uma espada contra um
possível demônio vampiro poderoso e obviamente mais forte que eu. Me
sinto como se fosse um pinscher enfrentando um pitbull – o comentário fez
Morgan rir – não ria, você mesmo me disse... - ele a interrompeu

- Esqueça o que eu disse antes! Disse apenas para magoa-la – ele a beijou de
forma sensual no pescoço nos lábios – humana ou não, você terá uma arma
poderosa nas mãos que somente você poderá usar – não permitiu que ela
respondesse, pois a beijou de maneira apaixonada e ela se entregou
completamente. Ela gemeu porque ele a instigava – A propósito, Felipe deu
seu consentimento – parou de beija-la e riu quando viu a cara de espanto dela
– disse que a decisão agora é sua – aquilo soou como uma cobrança, e queria
que ela se decidisse logo porque haviam muitos machos em volta, embora
somente um deles realmente o preocupasse.

Acariciou o rosto dele e sorriu suavemente – decidirei em breve – ela


provocou e viu o sorriso dele surgir no canto dos lábios.

- Já é minha, mulher – a beijou novamente – só minha!


Capitulo 15

O ataque

Os incessantes treinos continuaram, mas agora tinha uma plateia cativa que
incluía Atila e Vladimir, e eles eram muito críticos quanto ao cuidado que
Isaiah tinha para não machuca-la. Sophie ensinava outras coisas como fazer
remédios com as ervas que encontravam no campo, quando caminhavam ao
ar livre e apreciavam o sol. Ela lhe mostrava as plantas e lhe falava para que
serviam, aproveitavam esse tempo quando os vampiros não estavam por
perto. Pois quando estavam, eles só podiam observar.
Felipe era rigoroso e não admitia que outra pessoa a treinasse. Por várias
vezes Adriana quis andar ao ar livre e olhar para o céu azul, respirar fundo e
sentir a brisa suave somente para esquecer o verdadeiro motivo de estar ali.
Mas até as caminhadas tinham a supervisão dos três guardiões do clã dos
ciganos, pois nunca a deixavam caminhar pelo campo sozinha.

Atila era mais duro que Felipe em seus treinamentos, a forçava lutar com ele
mesmo, mas não usava sua verdadeira força, mesmo assim ela não gostava do
jeito agressivo que fazia aquilo. A ensinou a se esquivar e a ficar mais alerta,
mas ainda a surpreendia com seus golpes e a derrubava no chão facilmente,
depois a forçava a ficar de pé. Claro que debaixo de vários protestos e
xingamentos irritados dela, que o faziam rir divertido e dizer que ela tinha a
boca suja demais.
Houve vários arranhões, hematomas e torções, mas dizia principalmente a
Felipe e Morgan que eram devido aos treinamentos com Isaiah. O próprio
havia lhe orientado a fazê-lo, para evitar uma guerra entre os clãs.

Todo o treinamento que havia recebido até ali, a deixara mais rápida, mais
ágil, e a manifestar uma força que desconhecia. Porém, mesmo assim ainda
era fraca para um confronto com os seres noturnos. E Atila a lembrava
daquilo todos os dias, principalmente quando começava a treinar antes com
Vladimir, e também quando ficava sem camisa deixando à mostra a perfeição
dos músculos poderosos, principalmente quando se movia como um deus,
chamando muito a sua atenção sem dúvida. Ele era uma tentação loira
ambulante e enorme e que sempre dava um jeito de se insinuar para ela.
Mas apesar de todo charme e beleza, às vezes podia vislumbrar sua
preocupação em seus olhos quando a fitavam. Se saia para dar uma volta com
Sophie, ele ia junto e Vladimir também, se quisesse ir à vila comprar algo,
também. E aquilo já estava irritando. Então teve que fingir que estava doente
para conseguir escapar deles e ter um tempo sozinha.

Naquela manhã havia feito sua rotina como sempre. Café da manhã,
treinamento com Atila, e-mails, almoço, treinamento com Atila novamente.
Mas quando era quase 3 da tarde, disse que estava cansada demais e que não
se sentia bem. Sophie achou estranho, mediu até a sua temperatura e lhe deu
um chá de ervas. Quando estava longe dos olhares protetores deles, inclusive
da supervisão dobrada de Isaiah, saiu de seu quarto indo para a outra ala do
castelo onde haviam os quartos de hospedes que estivera com Morgan. E lá
tinha uma saída pelos fundos. Ninguém a viu. Então quando se viu fora dos
muros, livre para dar uma volta sozinha e pensar, respirou fundo de tão
aliviada de estar finalmente sozinha. Precisava de um tempo e de privacidade,
o que era quase impossível, principalmente depois do ataque que sofrera. Já
estava estressada, irritada, rodeada de pessoas que a seu ver eram
sobrenaturais demais. Queria ver seus amigos e sua família, e não podia, pois
os colocaria em risco era fato, alguém poderia segui-la e saber onde estavam.

Tentava esvaziar a mente andando pelo campo durante um bom tempo. Tinha
levado consigo uma garrafa descartável com água e um pedaço de pão, que
havia pegado na noite anterior, quando a cozinheira deixou o castelo para sua
casa na vila. Escondeu o pedaço de pão em seu quarto, sem que nenhum
deles visse.
Quando o sol estava bem alto, sentou-se na grama verdinha no alto do monte,
de onde conseguia ver o mar, o castelo e a vila. Estava um pouco longe, mas
adorou ficar ali sozinha sentada e curtindo o sol. Depois se deitou de costas
na grama e ficou olhando o céu azul, e pensou que poderia ficar ali daquela
forma até ele resolver ir embora. Pensava em milhares de coisas, mas todos
os seus pensamentos era de como iria se safar daquilo sem morrer, isso
quando não fechava os olhos e vinha à imagem de Morgan em sua mente.
Pensou em Atila também e começou a compara-lo a Morgan. Eram tão
diferentes! Lindos, enigmáticos, sensuais, tentadores e perigosos, muito
perigosos, sequer conseguia imaginar a forma da besta de Atila, não
conseguia porque ele era tão radiante que não conseguia imagina-lo numa
cena como a do filme “Rowling”. Mas embora ambos lhe agradassem
aparentemente, somente um deles a fazia perder o folego e deixar suas pernas
bambas, depois de enlouquecê-la de irritação e ama-la como ninguém. E esse
era o mais perigoso, sem duvida, Morgan! Odiava admitir aquilo, pois ele
sempre a irritava com aquele jeito arrogante e superior, e depois a possuía
cheio de desejo e palavras apaixonadas e a pressionava perguntando se havia
se decidido. Riu sozinha de novo, diria àquela noite que o aceitaria e que
seria dele e de mais ninguém, mas deixaria claro que não a sufocasse, pois
enlouqueceria com ele novamente.

Fechou os olhos sentindo o calor gostoso do sol. E sabia que naquele


momento, provavelmente estavam tendo um ataque por não estar no castelo,
e com certeza a procuravam. Relaxou os músculos e até cochilou alguns
minutos. Mas depois de algum tempo despertou devagar, porque sentiu que
algo estava errado com o sol, ele não estava mais em seu rosto, e não havia
dormido o suficiente para dar tempo de ir embora, somente uns 10 minutos.
Então abriu os olhos e quase engasgou com a própria saliva, quando viu o
que obstruía sua luz.
- AI MEU DEUS! - berrou levando a mão ao peito e sentando-se
sobressaltada - que merda Atila, por que você fez isso? – xingou irritada

Ele olhava para ela com uma calma impressionante. Havia sentado ao seu
lado, sem fazer nenhum barulho sequer e ficou ali com a aquela expressão
debochada enquanto ela se colocava de pé muito irritada.

O encarou - qual o seu problema? – ela perguntou enquanto limpava a poeira


de sua roupa.

Ele cruzou os braços quando ficou de pé e analisava sua reação - o que acha
que você está fazendo? - rebateu calmamente - é perigoso que ande sozinha
por aqui. Esqueceu-se do que aconteceu? – tentou refrescar a memória dela.
Quando percebeu que havia algo errado com a atitude daquela mulher quando
disse que não se sentia bem, suspeitou de sua intenção e pediu para que
Sophie verificasse o quarto dela, e quando sua irmã voltou afoita dizendo que
ela não estava lá, saiu seguindo o rastro da fugitiva.

Ela observou os músculos de suas pernas tencionados por baixo da calça


jeans surrada, e os músculos dos seus braços também. Não pode evitar olhar
ele era enorme, quando ele a olhou ela desviou o olhar para o castelo - parece
que não vou ter sossego, não é? – disse pegando sua garrafinha de água do
chão retirou a tampa e bebeu. Atila deu um sorrisinho quando percebeu sua
irritação.

- Do que está falando mulher? Sabe do risco que corre. Às vezes age de
forma mimada e birrenta, e você já é uma mulher bem adulta – provocou.

Adriana revirou os olhos, bufou e depois o encarou impaciente – Não acho


que querer um pouco de liberdade seja birra ou mimo. Entenda que sou uma
humana que foi literalmente jogada para tudo isso, sem nem ao menos ter a
chance escolher se eu queria ou não. Isso ainda é conflitante pra mim –
rebateu secamente – e eu sei que sou uma mulher bem adulta! Que grosso –
reclamou em seguida e virou o rosto.

Ele riu dela – ok! De certa forma você tem razão. Humanos não foram feitos
para viverem no nosso “mundo” – disse de forma mais ponderada, pois ela
tinha razão – Mas isso não interessa agora. Deixou todos preocupados. Está
sob nossa responsabilidade de dia, e os seus vampiros dariam tudo para uma
briga, não que eu não vá aceitar uma boa briga – ele sorriu com malicia –
mas... acabamos de selar uma aliança! Vamos voltar - disse estendendo a mão
para ajudá-la a descer da parte mais alta de onde estavam e seguirem pela
estrada de volta para o castelo, mas ela recusou a ajuda e desceu sozinha
muito aborrecida. Ele ainda sorria - você é bem geniosa – ele provocou ao
mesmo tempo em que abria um largo sorriso – uma característica bem
familiar das fêmeas da família.

Ela acabou rindo um pouco. Realmente era verdade, ela se excedia às vezes, e
havia sido imprudente – eu sei!
Ele a analisava de cima a baixo – meu pai acha que você vai mudar o rumo
de nossa história, ele disse que teve uma visão com você anos após a morte
de Helena – ficou sério e suspirou – eu também acredito nisso! Você é
diferente, até os chupadores sabem disso... - ele a olhava de forma intensa –
eu quero apenas te proteger, então não saia por aí sozinha. Sei que você é a
verdadeira guardiã, mas eu sou seu guardião, entendeu? – estava muito sério
quando disse aquilo.

Ela olhou para ele sem graça, pois não esperava ouvir aquilo e os olhos dele
eram duros. Atila aparentavam ter no máximo uns 30 anos, e era exuberante
do tipo homem belo e rústico e bem maduro - obrigada! - disse com
sinceridade. Olhou para o longo da estrada de terra por onde seguiam. Mas
sentia os olhos dele em cima dela. Pegaram o caminho de volta e andavam
devagar.

Ele ainda olhava para ela, aquela mulher parecia ter um maldito ímã e às
vezes não conseguia parar de olhar ou pensar nela. Mas tinha que manter o
controle e se focar na sua missão e não nela - gosto de poder te proteger – ele
disse

Ela olhou para ele virando somente a cabeça, e ele parou. Ela parou em
seguida virando-se totalmente para ele e olhou para cima, ele era um pouco
intimidador de perto.
Mas notou que a olhava de uma forma que ela conhecia bem. Desejo!
“pensou! Merda. era tudo o que Morgan não queria um rival”. Pensou no
que ele lhe disse sobre matar os rivais, não gostou daquilo, pois Atila parecia
um rival à altura.

Ficou confusa com sua própria atitude, pois quando ele se aproximou mais e
tocou seus ombros com aquelas mãos fortes e calejadas, não conseguiu se
mover e sabia que ele a beijaria. Mas a questão era que se deixasse que ele a
beijasse, seria o caos. Ficou sem reação quando viu que ele baixava a cabeça
na sua direção, ficou olhando para a boca dele sem conseguir desviar,
imaginou toda aquela força viril dominando-a e se arrepiou por inteiro, não
conseguia controlar seus pensamentos ele deixou sua mente totalmente
nublada.
Ele chegou perto demais e já estava tocando seus lábios, mas parou no exato
momento que a beijaria algo estava errado. Olhou confusa para ele enquanto
aqueles olhos verdes a encaravam, só que prestando atenção em outra coisa e
não nela, ele ouvia algo que ela não podia ouvir. Apertou mais seus ombros e
a afastou um pouco, depois olhou para um lado ao longe e para o outro em
seguida, farejou o ar e a soltou. Sua expressão endureceu de tal forma que
teve a nítida impressão de que ele se transformaria a qualquer momento.
Ficou apreensiva com sua atitude e olhou em volta também. Sentiu medo! - o
que foi? O que foi? – ela perguntou alerta olhando em volta, mas não ouvia
nada. Desejou ardentemente ter o mesmo poder que ele, e poder ouvir o que
ele ouvia.

Atila não respondeu de imediato e olhou de forma sombria para ela - vamos
sair daqui agora! – havia uma urgência terrível em sua voz. A única coisa
que pode fazer naquele momento foi pega-la pelo o braço e arrasta-la pela a
estrada de forma rápida.

Adriana quase não tocava os pés no chão com o jeito que Atila a arrastava.
Entrou em pânico - o que foi? - ela perguntou quase gritando de tão assustada
que ficou. Olhou ao redor e não viu nada.

Ele parou de repente - estamos cercados! – disse em alerta ao mesmo tempo


em que ofegou com raiva e ficou na frente dela de forma protetora. Temia
pela vida da guardiã, e a vida dela naquele momento dependia dele.

- MERDA! - ela xingou quando viu dois homens altos e fortes saírem de
dentro do bosque e pararem no meio da estrada. Não tinha percebido que
havia se afastado tanto do castelo e estava perto demais do local onde Miguel
e Felipe lhe disseram para não ir, nem chegar perto. Era o esconderijo
perfeito, pensou – eles estavam aqui? – ela perguntou gaguejando.

Atila olhou para ela rapidamente e depois voltou a encara-lo - não estavam
aqui antes, eu sentiria. Mas acharam seu rastro agora, como eu achei. Vou
despista-los e você corre o mais rápido que puder, ao meu sinal. Não pare e
nem olhe para trás, apenas corra até chegar ao castelo. Entendeu? - disse
voltando o olhar para a mulher assustada ao seu lado que balançava a cabeça
efusivamente concordando, mas os olhos dela estavam presos nos dois que se
aproximavam. Rosnou furioso quando os encarou.
Adriana olhava assustara para os homens que pararam e tomaram posição de
ataque quando Atila rosnou para eles, depois olhou em volta em sinal de
desespero e se deu conta de que não podia com eles e Atila era somente um.
Olhou para o céu, deveria ser mais ou menos 04h30 da tarde, pois o sol
estava indo embora. Talvez Felipe, Morgan e o outros já estivessem
procurando por eles.

- Entregue a moça, Atila! – ordenou um dos homens negro e musculoso com


a cabeça raspada e que usava um cavanhaque – está em desvantagem! Ela é
só uma humana sabe que não durará muito tempo – ele sorriu confiante
demais.

Atila riu de forma nervosa e ofegou mais ainda. Ficou de prontidão - vem
buscar! – seus olhos faiscaram de raiva - CORRA! - Ele ordenou a humana
sem olha-la e saltou ferozmente na direção dos dois homens.

Correu sem olhar para trás sem prestar atenção para onde estava indo, e
acabou entrando na floresta sem perceber. Continuou correndo por entre as
árvores, quando ouviu o rosnar violento de Atila lutando. Parou ofegante
olhando em volta sem saber para onde continuar correndo, aquela floresta era
sinistra, apesar da luz do sol que entrava por entre as enormes árvores.
Começou a entrar em pânico, não estava preparada para aquilo, não estava –
Merda! Merda! - xingou alto sem saber que caminho tomar, levou às mãos a
cabeça num sinal de desespero. Tinha que pensar rápido. A falta de ar havia
voltado junto com o seu desespero.

Ouviu o barulho de galho se partindo e se assustou. Controlou sua respiração


e um frio percorreu sua espinha. Virou-se sobressaltada quando ouviu outro
galho se partir novamente, e deparou-se com o mesmo homem que a atacou
na vila.
Ele saia pacientemente de trás de uma árvore com um tronco muito grosso.
Ela deu um passo para trás, pois estava com medo. Então ele a encarou com
um sorriso diabólico e farejou o ar na sua direção - sinto o cheiro do seu
medo! – disse ainda com o mesmo sorriso.

Ela não conseguia falar, ficou sem reação com medo até de mexer um
músculo, sabia o que ele faria. Ele deu um passo à frente, e novamente por
reflexo ela dava outro passo para trás sobressaltada.

Ele riu mais uma vez ao perceber seu pavor - belo dia, não acha? O sol é um
grande aliado dos lobisomens, mas não dos vampiros – Sua voz começou a
ficar gutural, seus olhos ficaram intensamente amarelos, e seus dentes
pontiagudos. Ele tirou o, sobretudo que usava e o jogou no chão, ficando nu
da cintura para cima, estalou o pescoço e os braços musculosos e parecia ter
controle absoluto sobre o que era - sabe qual a vantagem de ter essa
maldição? – ele perguntou enquanto a fitava

Ela não respondeu, somente o olhava em pânico sem conseguir se mexer.

- É que com o tempo, você controla e usa quando quiser - ele estalava todos
os ossos de seu corpo ao mesmo tempo, como se estivessem se quebrando e
gemia cada vez que isso acontecia. Sua voz engrossou tornando-se um
murmúrio sombrio enquanto gemia - seu medo é excitante! – disse enquanto
ofegava e seus olhos lunáticos estavam presos nela, como se ela fosse algo de
comer - me faz lembrar da garotinha na floresta e sua avó – ele gargalhou
bestial – adivinha quem é o lobo mau? – ele começou a se contorcer e a
gargalhar, pois inclinou o corpo para frente e depois para trás tornando-se
muito maior. Pode ver seus braços e pernas tornarem-se maiores e enquanto
aumentavam de tamanho e seus ossos estalavam ao mesmo tempo, eles
tomavam outra forma e pelos surgiam por todos os lados. Ele jogou o corpo
novamente para frente e depois se esticou ficando ereto e seu rosto ficar em
forma de focinho, e esticou seus braços na direção dela.

Seu pânico era tamanho quando viu mudar, que a falta de ar piorou e quase
chorou quando olhou em volta sem saber o que fazer. Então começou a
correr, correu o mais rápido que pode, avançando mais e mais para dentro
daquele bosque, e não sabia para onde estava indo. Não ficou para ver no que
ele havia se tornado, mas ouviu o uivo ensurdecedor e sinistro que congelou
seu sangue. Continuou correndo, pois sabia que estava em seu encalço sentia
o chão tremer debaixo de seus pés, e ouvia o rufar da respiração forte e
colérica dele. Então chorou ao mesmo tempo em que corria, porque não
conseguia evitar, pois sabia que ele a pegaria. Mas viu ao longe uma cabana
de pedra e correu para lá, seria o abrigo perfeito até alguém ir busca-la,
pensava enquanto corria naquela direção, então olhou para trás e pode vê-lo.
Era uma criatura enorme, mais ou menos três metros de altura com pelos
castanhos. Realmente se parecia com os do filme que assistiu só que ali era
muito mais aterrorizante porque era real. Começou a perder o fôlego, e seu
pulmão já ardia e doía devido ao esforço que fazia para respirar, e a qualquer
momento iria desmaiar.

Alcançou a porta da cabana e tentou abri-la em total desespero - MEU


DEUS! MEU DEUS! – gritava e chorava em pânico, a porta não abria, estava
emperrada. A forçou novamente e quando a abriu e entrou, ele já estava em
cima dela. Tentou fecha-la, mas ele enfiava as garras pela abertura, rosnava
enlouquecidamente e era tremendamente forte. Gritava e gritava enquanto
lutava para empurrar a porta, mas não podia com aquela criatura. Com uma
pancada a porta cedeu e bateu, contudo nela derrubando-a violentamente no
chão, e caindo por cima de seu corpo. O lobisomem entrou na cabana e subiu
na porta ficando de quatro.

A fera era muito pesada e a esmagaria, e sabia disso, mas quería tortura-la
antes de devora-la. Ele olhou para cima e uivou tão alto que ela fez uma
careta, pois aquilo machucava seus tímpanos. Estava prestes a desmaiar, pois
sua visão já estava embaçada devido à asma e a pressão do peso do
lobisomem em cima da porta. Somente a visão daquela criatura a faria perder
os sentidos, não era possível que aquilo estava realmente acontecendo e que
fosse real. Sua visão já estava falhando, e já não havia força para lutar.

O lobisomem a encarou e ela pode vislumbrar toda a sua bestialidade, antes


de finalmente perder os sentidos. Nunca em toda a sua vida imaginou que tal
criatura existisse de verdade, e ele parecia ser uma criatura muito consciente
do que fazia. Avançou abrindo a bocarra em direção a sua cabeça, mas
conseguiu virar o corpo e ele agarrou seu ombro direito e parte de seu peito e
costas, rasgando-lhe a carne com seus dentes afiados e enormes.

De repente a dor lancinante a despertou, deixando-a totalmente consciente do


que acontecia, e berrou de dor e horror. Pensou naquele momento que
morreria ali. Toda a sua vida passava em sua cabeça como um filme, até ver o
outro animal um pouco maior que aquele e com pelos escuros e espessos,
rosnar e saltar, contudo, para cima daquele que a prendia em sua bocarra.
Quando o outro saltou para cima de seu agressor, a besta soltou seu corpo
jogando-o para o outro lado, ela caiu de bruços no canto de uma parede
úmida e suja. Não desmaiou, mas também não conseguia se mover. Sentiu
algo inundar a sua volta, achou que havia caído em uma poça. Mas na
verdade a poça era de seu próprio sangue que esvaia da carne rasgada de seu
corpo. Não conseguia falar, gemer, ou gritar e também não imaginava a
extensão da ferida causada pelo monstro. Sabia que estava morrendo. Viu as
criaturas se atracando ferozmente e depois caindo uma por cima da outra para
fora da cabana. Ela chorou sem ao menos fazer força, as lágrimas escorriam
em profusão de seus olhos. Teve uma serie de espasmos, calafrios e visões
distorcidas.

Ouviu um grunhido de animal ferido e gritos urgentes e aflitos de homens.


Viu outro lobisomem enorme e musculoso entrar e rosnar na sua direção,
pronto para terminar o que seu companheiro havia começado. Tentou se
mexer, mas não conseguia. Achou que estava no inferno e aquela era sua
perturbação eterna. Fechou os olhos, pois já estava perdendo os sentidos. Mas
tinha que lutar por sua vida, não poderia acabar daquela forma. Abriu os
olhos novamente e alguém agarrava o monstro pelo pescoço e arrancava sua
cabeça.

Quando Morgan ouviu os gritos desesperados dela, correu sem nem ao menos
pensar no que fazia, seguia o som de sua voz desesperada. E depois que
entrou na cabana e a viu envolta a uma poça enorme do próprio sangue, com
a carne toda rasgada nas costas. Sentiu uma fúria incontrolável o dominar. O
monstro estava pronto para ataca-la novamente para terminar o serviço,
quando se virou para ele e rosnou ferozmente. Ele lhe mostrou as presas. E
um foi de encontro ao outro, ele lhe acertou uma pesada potente no peito e
depois grudou em seu pescoço com uma das mãos e com a outra segurou seu
braço. Era bem mais forte que o lobisomem. Depois o lançou para o outro
lado, e a criatura caiu de pé. Pegou sua espada, girou sob os pés acertando um
golpe forte, separando a cabeça do corpo.

Correu para Adriana, ela estava viva, mas entrava em colapso, pois estava
morrendo. O cheiro de seu sangue infestava o ar, mas ele era forte e
conseguia resistir. Tinha que ser rápido ou ela realmente morreria, não
poderia deixar a mulher da sua vida morrer. Sentiu que ela lutava contra a
própria morte, pois o olhava em pânico e depois seus olhos foram perdendo o
brilho e fechando – não vai morrer, abra os olhos! – berrou quando a pegou
nos braços com cuidado – Deus! Abra os olhos Adriana – insistiu.

Atila surgiu na porta estava machucado, mas já na forma humana e se


recuperando. Havia se atracado primeiro com dois e conseguiu matar um,
quando alcançou a cabana de caça, Aquiles já havia atacado Adriana, só pode
saltar para cima dele para que não a partisse ao meio. Naquele momento só
queria ver se ela estava viva. Ele estava ofegante e nu e olhava para ela caída
na poça do próprio sangue e o vampiro tentando mantê-la consciente - tem
que tira-la daqui rápido! Tem que salva-la – ele berrou em desespero.

Morgan olhou para ela que abriu os olhos novamente e olhou diretamente em
seus olhos – aguenta, não fecha os olhos! -

Adriana viu o rosto preocupado de Morgan, mas não tinha certeza se era ele -
vou morrer! – balbuciou

Ele a pegou nos braços num movimento muito rápido – eu não vou deixar! –
disse olhando para ela enquanto saia desesperadamente da cabana de caça, o
sangue dela deixava rastros no chão. O estrago havia sido muito grande.

Felipe surgiu logo atrás de Atila, e seu terror era visível em sua expressão
quando se deparou com sua protegida semi-morta nos braços de Morgan -
Meu Deus! – ficou estático, mas o seguiu até o castelo.

Morgan usou sua velocidade vampírica para retornar ao castelo. Ela gemia,
enquanto seu corpo dava solavancos, pois estava entrando em colapso, estava
morrendo. Em poucos segundos estavam em seu quarto e a colocava na
cama, rasgou sua blusa para ver a extensão da mordida, e quando viu se
assustou com a violência. O animal conseguiu rasgar-lhe a carne
profundamente de tal forma, que rasgo se estendia de cima de seu peito, para
o ombro e parte de suas costas, dava para ver os ossos de suas costelas.
Começou a gritar em desespero para Isaiah buscar água, pois estava ao lado
da cama dela apertando as mãos em pânico sem saber o que fazer. Sophie
quem tomou a frente agilizando as coisas. Não sabia por onde começar, e
tinha medo de dar seu sangue e acelerar sua morte por causa da mordida do
lobisomem.

Adriana começou a agonizar e expelir sangue pela boca, seu corpo


continuava a ter espasmos tremendo de forma violenta. Felipe desnorteado
em seu desespero arregaçou as mangas de sua camisa e estava pronto para
cortar seu pulso e dar seu sangue a ela, mas Morgan o deteve segurando-o.

- NÃO! ELA IRÁ MORRER MAIS RÁPIDO – berrou em pânico

- ELA VAI MORRER! – Felipe gritou colérico soltando-se da mão de seu


amigo de forma brusca – DEUS! É MINHA CULPA. POR FAVOR! –
berrava desnorteado. Seus olhos estavam marejados e arregalados em pânico.

- Um lobisomem a mordeu, se der seu sangue de vampiro ela entrará em


choque – Morgan sabia que não tinha tempo para discutir – não sei o que
fazer - ele mesmo já estava entrando em desespero, pois não sabia o que fazer
para salvar a vida dela.

Sophie se aproximou dele - o sangue misturado - disse olhando em seguida


para a expressão de dor de Felipe, e a desesperada de Morgan. Logo o quarto
estava cheio com os outros guardiões - existe um jeito! – disse olhando para
Felipe ainda – você sabe.

Felipe parecia não ouvir o que Sophie falava, apenas olhava para Adriana que
se contorcia de dor e lutava para respirar. Ele passava a mão em seus cabelos.
Não conseguia pensar naquele momento - ela está morrendo. FAÇA
MORGAN! – gritou para o amigo.

- não! – Sophie berrou puxando o braço dele com violência - junte o sangue
dos guardiões mais fortes e conseguirão salva-la – sabia do que estava
falando

Felipe a encarou – NÃO! – respondeu desconsolado

Sophie voltou os olhos para o líder dos vampiros – é a única coisa que poderá
salva-la, sabem disso! - olhou para Diego e Miguel, que surgiram junto com
Atila no quarto.

Um olhou para o outro.

Miguel se aproximou ficando do outro lado da cama - não vai funcionar! –


disse ajoelhando-se ao lado da cama e olhando para a expressão agonizante
da humana - o coração dela está fraco, ela não vai aguentar. Faz alguma coisa
você é nascido Morgan, o seu sangue é o mais forte! – disse sobressaltado
olhando para seu irmão.

Sophie olhou para o punhal na mão de Morgan. Isaiah sabia a que ela se
referia e pegou a taça de cima da mesinha ao lado da lareira e lhe entregou.
Morgan cortou o pulso e deixou cair o próprio sangue na taça, foi uma atitude
por impulso, mas faria qualquer coisa para salvar Adriana. Passou o punhal
para Felipe, que também fez sem pensar, em seguida Miguel que o fez
prontamente e por último Diego, que fitou Sophie por um segundo e o fez em
seguida. Atila estava observando da porta do quarto, já não tinha mais os
arranhões e estava envolto a um lençol.

Sophie aproximou-se dele e agarrou seu pulso - o que está fazendo? –


perguntou puxando-o com força.

- é o primogênito de nossa raça, e o mais forte! Tem que ajudar a salvar a


guerreira, tem que misturar seu sangue ou ela morre e você é um guardião -
não tinha tempo para explicações, então pegou sua mão novamente, e a
cortou, deixando seu sangue de lobo escorrer para dentro da taça. Fechou
seus olhos e disse algumas palavras que ninguém entendeu, era uma reza
antiga, voltou-se apressadamente para Felipe e entregou a ele.

Ele hesitou, olhou para sua protegida que já perdia os sentidos, e rapidamente
antes que o coração parasse, despejou o liquido em sua boca. E o que sobrou
em suas feridas que ao contato com o sangue se fechavam instantaneamente.
Ficou ali sentando ao seu lado esperando o efeito, no início não teve certeza
de que funcionaria. Mas depois pode ouvir seu coração ganhar força e
acelerar cada vez mais. Ela arregalou os olhos que escureceram
completamente, enquanto sua boca se abria numa expressão muda e puxava o
ar como se acabasse de voltar a respirar. Em seguida fechou os olhos
entrando em um coma profundo.

– Ela vai sobreviver! – Morgan disse aliviado – vai sobreviver! – suspirou


sem pensar. Olhou para Felipe que ainda estava paralisado olhando para ela.

Felipe estava em choque e ainda segurava a taça sem acreditar no que tinha
acabado de fazer para salva-la. Conhecia bem aquela mistura e conhecia
melhor ainda os efeitos que causavam se fosse misturado com sangue de um
garou nascido e poderoso como Atila. Baixou os olhos por um momento e
lamentou consigo mesmo, aquilo poderia tê-la matado, seu corpo já estava
em choque por causa da maldita mordida da besta. Não conseguiu se mover
para longe dali, queria esperar, queria saber se ela realmente viveria ou se
ficaria em coma para sempre. Era o maldito responsável por tudo aquilo, e
achava que ela estaria a salvo perto deles, se enganou.
Capitulo 16

A transformação

72 horas depois Adriana ainda estava em um sono profundo. Felipe


praticamente não saiu de perto de seu leito. Pensou em até transferi-la para os
seus aposentos, pois era protegido do sol, mas Sophie o convenceu de que
não seria necessário, ainda mais depois da forte febre que teve e que fez bater
os dentes de tanto frio. Muito a contra gosto ele aceitou, e quase não se
retirava nem quando era dia.

Morgan também não conseguia se afastar do quarto, estava muito agitado e


preocupado. Pensou que se não houvesse aparecido a tempo ela não teria
chance, e o perturbou pensar que não estava perto dela quando aconteceu,
poderia tê-la protegido melhor e evitado o ataque dos lobisomens. Quando
perceberam o que estava acontecendo, e que haviam armado uma emboscada
para pega-la, correu o mais rápido possível para chegar a tempo. Mas a merda
já havia acontecido bem debaixo dos seus narizes, nunca se perdoaria por
aquilo. Sabia muito bem o que acontecia com um mordido, a mordida de um
lobisomem quando não matava, transformava. Achou que mesmo após beber
o suco vida (como era chamado à mistura do sangue dos guardiões) talvez
morresse, e se não morresse, ela mudaria drasticamente e se preocupava, pois
não sabia a verdadeira extensão daquilo.
Passou várias vezes no quarto onde Adriana estava, e todas as vezes que
apareceu, Felipe estava sentado na beira de sua cama olhando fixo para ela,
captando o que se passava em sua mente. O macho se culpava profundamente
por tê-la levado para o meio deles.

Felipe percebeu a chegada silenciosa de seu amigo - ela tem nossas


lembranças agora! – disse olhando-a fixamente.
Morgan que estava parado na porta entrou devagar - eu sei! Ela tem parte de
nós - ele também olhava para ela – Se a mistura deu certo, isso será uma
bagunça na sua mente.

Felipe inspirou profundamente – isso é perigoso! - disse - E se ela perder o


controle e não compreender o que vê? E se ela enlouquecer? – estava
angustiado.

Morgan tinha os olhos perdidos em Adriana – É muito poder, mas creio que
ela consiga controlar - parecia captar algo da mente dela também.

- Acho que vamos ter que esperar! – respondeu – mas sabe isso me assusta! –
confessou sem olhar para o seu líder.

Morgan olhou lentamente para Felipe, nunca tinha ouvido tal confissão dele
antes, ele era tão controlador e seguro de si, sempre soube lidar com qualquer
coisa, qualquer um, e naquele momento viu algo que nunca pensou que veria
medo.
O Quarto estava vazio àquela hora. Sophie havia deixado a cortina e a porta
da sacada abertas, para deixar um pouco do restante do sol entrar no quarto e
areja-lo. Verificou a temperatura de Adriana notando que estava mais quente
que o normal, mas lembrando-se de que tinha misturado o sangue de seu
irmão ao dos vampiros, ficou pensando se era o efeito da mistura. Decidiu ir
buscar algumas ervas para aplacar a febre, mas antes, certificou-se de que
nenhuma das criadas humanas entrasse no quarto.

Isaiah já tinha tomado algumas precauções referentes aos criados contratados,


pois soube dos burburinhos pelos corredores de que a moça havia sido
atacada por lobos na floresta perto do castelo.

Adriana se mexeu e gemeu baixinho, sentiu dores em todos os seus músculos


ao se mexer. Seu estômago também doía, e sua boca estava amarga, a
garganta seca. Sua cabeça girou mesmo com os olhos fechados e quando os
abriu tudo a sua volta não passava de um borrão. Forçou um pouco e sua
visão começou a ficar mais nítida, o quarto parecia girar e sua cama parecia
ter vida própria pois se mexia, olhou para o teto, e ele parecia tão próximo
que poderia toca-lo. Ficou tão enjoada com isso que se sentou com
dificuldade, pois ânsia era tanta que vomitaria, sentiu falta de ar com o
esforço que fez. Tudo doía, formigava e ardia - Meu Deus! - gemeu baixinho.
Caiu da cama quando perdeu o equilíbrio, na tentativa de colocar as pernas
para fora dela mesmo sentada, e não conseguindo segurar, vomitou. Nada
saiu além do liquido amarelado da bílis.
Apoiou-se no chão com os joelhos e as palmas das mãos, sentindo seu corpo
começar a esquentar, até parecer queimar. Tentou ficar de pé, mas se
desequilibrou e teve que se apoiar na cômoda que estava no meio do caminho
e depois nas paredes, tateando até alcançar o Box do banheiro. Notou que
estava somente de calcinha e seu peito estava todo enfaixado. Meteu-se
debaixo do chuveiro, mas não conseguia ficar de pé. Sentou-se no chão
mesmo, e apoiou as costas na parede azulejada. Com dificuldade, foi
colocando as idéias em ordem.
A falta de ar já estava passando, mas seu corpo ainda queimava um pouco.
Olhou para suas mãos e analisou os calos, tentando se lembrar o que tinha
causado aquilo, e lentamente lembrou-se de que fora causado pelos
treinamentos com a espada. Passou as mãos trêmulas no rosto e nos cabelos,
e tudo estava muito sensível. A água que batia no chão fazia um barulho alto
e doíam seus tímpanos, gemeu ao mesmo tempo em que tapava os ouvidos
com as mãos. Mas foram os flashes que surgiram de repente que a assustou,
lembranças que não lhe pertenciam. Viu as lembranças de Felipe nitidamente,
como se fosse ele com a sua família em Roma antes de se tornar o que era, o
amor que sentia pela esposa e a filha. Sacudiu a cabeça confusa com aquilo,
mas as visões continuaram e começou a sentir a agonia dele com a dor da
transformação e da sede, a perda de sua família, chorou sem entender, mas
parou de repente quando teve outra visão. A emoção de ver o bebê, e a forma
que olhava para ele na maternidade, ele sorria enquanto o segurava nos
braços e cantava baixinho. Viu Felipe observando o crescimento daquela
criança, ele sorrateiramente entrava na casa quando o seu pai viajava e sua
mãe estava dopada de remédios para dor e dormia pesadamente. Em outro
flash ele cantava uma canção bem baixinho quando a criança parecia doente e
dormia agitada em seu berço. Reconheceu a música e repetiu um trecho da
letra como se ele mesmo estivesse ali cantando a música (Stairway to heaven,
do Led Zeppelin), então percebeu que aquela criança era ela. Teve uma série
de espasmos após aquela visão, e outras lembranças surgiam.

Viu Morgan com Helena e depois com ela e o que ele sentiu quando a viu no
baile de máscaras, quando fazia amor com ela e que sempre a observava sem
que percebesse sua presença. Ele a desejava mais que qualquer outra coisa, e
não admitiria que outro se aproximasse. Viu Diego em uma igreja e depois
sendo julgado a morte por ter um caso com uma mulher casada que disse que
ele a enfeitiçava para ter relações com ele, seria queimado em público, mas
ele foi solto por Morgan que se alimentou dele e o transformou. Viu Miguel
aprendendo as regras dos vampiros, se empenhando para o mundo dos seres
noturnos, ele implorando ao seu pai que o transformasse. A confusão dele
quando viu que ela estava na porta, vendo ele e Diego se alimentando das
prostitutas, ele sentiu vergonha.

Ela teve mais espasmos a cada lembrança, mas quando chegou às lembranças
enfurecidas de Atila, sentiu medo. Encolheu-se no canto do Box, debaixo do
chuveiro ligado e tremia assustada. Viu ele criança encarando um lobisomem
enorme e enfurecido que rosnava de forma intimidadora pra ele, mas não
atacava. Tentou ficar de pé, mas perdia o equilíbrio e quando tentou se apoiar
nos azulejos molhados, suas mãos escorregaram e ela caiu. Começou a ofegar
pesadamente, pois as lembranças de Atila não paravam, principalmente
quando teve a visão dele se transformando e sentiu aquilo de uma forma
muito intensa, parecia que era ela quem sofria aquela transformação e gritou
até aquela visão parar.

Quando as visões cessaram estava ofegante, tentou se acalmar e olhou para as


bandagens que envolviam seu peito e as arrancou. Havia manchas de sangue,
mas não havia ferida alguma. Lembrou-se do ataque e da sensação da
mordida da fera. Olhou em volta em pânico - o que fizeram comigo? - ela
saiu correndo do chuveiro seminua e vomitou novamente.

Teve mais espasmos em seguida, com as lembranças de Felipe, pois pareciam


mais fortes que as outras. Ele se enfurecia, perseguia e atormentava o parente
que a molestou. Aparecia para ele como se fosse um fantasma, lhe mostrava
as presas para deixa-lo louco de medo. O fez sentir o mesmo terror que
causou a ela quando tinha apenas oito anos de idade. Depois o atacou, surrou,
quebrou suas duas pernas e o enterrou vivo para que morresse lentamente.
Lembrou-se desse episódio quando esse parente apareceu depois de dias que
havia desaparecido.
Trabalhadores de uma fazenda de cacau o encontraram, mediante a gritos de
terror que ouviam depois que ele conseguiu cavar até a superfície. Levaram-
no para um hospital e conseguiram salva-lo. Nunca descobriram quem tinha
feito aquilo, e ele nunca mais voltou a perturba-la. Felipe sempre estava por
perto para protegê-la.
Sentia-se uma fera quando tentavam algo contra ela, assim como um pai
vingativo que protege seus filhos de pessoas ruins. A confusão que sentia era
tão grande e a fúria por aquela lembrança a deixava perturbada, enojada, e
começou a socar as paredes do banheiro e a gritar furiosa. Gritava e gritava
de ódio, queria mata-lo e correu para seu quarto, e furiosa quebrava tudo o
que via pela frente. Os socos que dava nas paredes deixavam buracos devido
à força que tinha adquirido e nem se dera conta. Sua força era imensa, era à
força de pelo menos 20 homens fortes. Quando se cansou de quebrar as
coisas, parou no meio do quarto ofegante e confusa. Fechou os olhos como se
aquilo fosse um pesadelo, depois os abriu novamente vendo o estrago que
havia causado, e olhou para si mesma vendo que estava seminua e seu corpo
tremia involuntariamente. Foi em direção ao closed fechando a porta atrás de
si, pegou seu roupão e o vestiu de forma descoordenada e confusa, era como
se conseguisse fazer milhares de coisas ao mesmo tempo, mesmo sem pensar
naquilo, como se seu corpo tivesse vontade própria.

Sentou-se tampando os ouvidos, pois ouviu a agitação no castelo, e os


barulhos que faziam a incomodou, até o bater das asinhas de uma mosca que
voava em sua volta a perturbava e aquilo prendeu sua atenção, acompanhava
seu movimento rápido como se fosse em câmera lenta e depois ouviu alguém
se aproximar.

No momento em que Sophie entrou no quarto se assustou com o estrago e


correu até o closed abrindo a porta para se certificar de que ela estaria ali.
Ficou realmente assustada com o que Adriana tinha feito no seu quarto, teve
até receio de se aproximar. Lentamente aproximou-se dela - precisa se
acalmar- disse baixinho.

Adriana a olhava tentando reconhece-la. Depois fechou os olhos buscando


alguma lembrança – Sophie! O que está acontecendo? - olhou para o lado
muito rápido como se alguma coisa prendesse sua atenção, era o barulho das
vozes que vinham da cozinha e que pareciam muito próximas. Farejou o ar
sentindo vários cheiros diferentes.

Sophie a observava em silêncio assim como Atila. Parecia um recém-nascido,


mas um que aprendia tudo ao mesmo tempo e evoluía em uma velocidade
impressionante, como se cem anos estivesse se passando em um minuto.

Adriana podia sentir a mudança de seu corpo, seus órgãos pareciam entrar em
conflito ao mesmo tempo. Seu coração batia tão rápido que teve a impressão
de senti-lo querer rasgar seu peito a qualquer momento. Seu estômago
queimava e sua pele queimava como a queimadura da insolação que teve na
praia uma vez. Seus ossos pareciam esticar ou estalar, não sabia por que
doíam demais. Começou a choramingar, pois sua cabeça latejava tanto que
parecia o rufar de milhares de tambores africanos. Então caiu de forma débil
no chão quando tentou ficar de pé.

Atila correu para pega-la e coloca-la de volta na cama.

Sophie ficou aflita, pois não sabia o que fazer, nunca tinha visto nada igual, e
não tinha noção de que a sua bruxaria teria aquele resultado, apenas arriscou
algo que fora feito apenas uma vez no passado, mas com alguém que fora
atacada por igual. Realmente não sabia o que fazer a não ser entoar um feitiço
para que ela voltasse a dormir - calma! Respire! Durma! – dizia em gaélico.

Agora Adriana sentia o seu corpo esfriar baixando a temperatura de forma


descontrolada e começou a tremer - está frio!

Atila pegou o edredom de sua cama e a cobriu, e começou a entrar em pânico


junto com ela. Mas de repente ela parou como se parasse de respirar. Ele
ficou em choque - o que aconteceu Sophie? – Atila ficou de pé sobressaltado
e aproximou seu rosto do dela para ver se respirava – não respira! -

- Não sei! Não sei! – ela se aproximou para ver se não respirava mesmo – não
respira! – ela disse arregalando os olhos na direção do irmão.

Isaiah entrou pela porta como um furacão e olhou em volta assustado, depois
olhou para Adriana de olhos fechados e imóvel – o que fizeram com ela? -
Perguntou de forma ríspida.

Atila o encarou com seu olhar furioso - somos os protetores dela, o que acha
que fizemos? - respondeu

Isaiah o encarou enquanto a examinava - Afastem-se dela agora- ordenou


autoritário.

Sophie não obedeceu tão pouco Atila. Jamais admitiriam receber ordens de
um humano, e não se afastariam dela naquele momento.

Isaiah se assustou quando Adriana abriu os olhos de repente, mas ficou


catatônica olhando para o teto. E assim como os ciganos olhava para ela em
silencio sem conseguir definir o que ela era apenas tinha a certeza de que ela
não era mais a humana. Ela era uma mistura que não a deixou nem vampiro,
nem garous e nem humana. Tentou chamar sua atenção passando a mão na
frente de seus olhos e estalando os dedos, mas ela não reagiu.

Quando Felipe sentiu quando Adriana despertou, saiu de seus aposentos


como um raio para vê-la. E assim que entrou em seu quarto ficou olhando
boquiaberto o estrago que ela fizera, depois olhou para ela imóvel em sua
cama como se fosse uma boneca que não mexia os olhos – Adriana –
balbuciou quando se aproximou, mas ela olhou para ele assim que parou
diante de sua cama.

Adriana não conseguiu controlar aquele impulso quando sentiu a presença de


Felipe, não entendeu aquilo, mas sabia que era ele, então o encarou e ele
parecia tão diferente. Sentou-se sem tirar os olhos dele e inclinando-se em
sua direção ficando muito próxima de seu rosto, disse: – eu conheço você! –
era como se acabasse de recuperar sua memória - Não sabia que era assim! –
analisava cada traço de sua expressão, e cada poro de sua pele. Passou a
ponta dos dedos delicadamente em seu rosto somente para sentir sua textura.

Ele notou a diferença assim que ela se aproximou, era absurda a mudança que
sofrera. Sua beleza se acentuara de uma forma esplêndida, estava radiante
demais, sem rugas ou manchas. Seus olhos eram brilhantes a ponto de
enganar a qualquer um e dar a impressão de que eram claros como as
amêndoas. Seus cabelos eram muito brilhantes e macios, e formavam ondas
perfeitas nas suas costas. Sua pele tinha um brilho saudável. Mas havia algo
errado com sua mente. Seus olhos eram brilhantes e lindos, mas eram
perturbadores, pois pareciam furiosos e confusos ao mesmo tempo, como se
fosse uma bomba relógio sem aviso prévio para explodir. Sentiu-se
angustiado com aquela mudança - Preciso explicar o que aconteceu com você
– disse acompanhando o movimento suave dela, quando desceu da cama e
parou ao seu lado. Ficou andando a sua volta analisando suas roupas
impecáveis, depois ela fez um movimento com a cabeça como um cão
quando sente um cheiro e fareja o ar, mas fez isso em sua direção ao mesmo
tempo em que muito rápido pegava sua mão e a cheirava.

- Você tem um cheiro bom! Doce – ela disse analisando-o

Ele entendeu sua reação - está mudada agora! – ele olhou para os presentes
no quarto e fez um sinal para que os deixassem a sós. Eles concordaram,
saindo em seguida. Precisava de um tempo a sós com ela para lhe explicar o
que havia acontecido. Agora ela tocava suas roupas, e seus cabelos como se
visse algo que nunca tinha visto antes. Ele pegou suas mãos e a fez parar de
fazer o que fazia, e olhar para ele. Mas ela parou e olhou para a boca dele,
tudo desviava sua atenção.

Olhou para os dentes de Felipe procurando suas presas - não estou como
você! – ela disse de forma confusa tocando os próprios dentes, depois olhou
na altura de seu coração – meu coração ainda bate – disse baixando a cabeça
para ouvir o próprio batimento cardíaco.

Felipe tentou disfarçar sua angustia - não! Não é como eu, nem qualquer
outra criatura – ele a sentou na cama e sentou-se ao seu lado, ela olhou para
ele virando somente a cabeça na sua direção.

- Então eu sou o que? – perguntou. Mas depois mudou sua atenção para outra
coisa na varanda de seu quarto e foi até lá, ele a seguiu curioso. Ela olhava
em direção a estrada que levava a vila.

Olhava para ela preocupado – você... – pensou antes de falar, olhou na


mesma direção que ela -... você é como se fosse uma mistura de todos nós, e
não sei ao certo o que isso pode ter lhe causado - hesitou - você estava
morrendo! Era a única coisa a fazer e que poderia te salvar. E foi a mistura de
nosso sangue – sentia-se pesado e culpado e ela percebeu, pois se virou para
fita-lo - tornou-se uma criatura poderosa. Mas ainda é muito jovem. Não sei o
que o sangue do garous possa ter lhe dado além da fúria. E se sofrerá mais
mudanças.

Ela olhava e olhava para Felipe. Tudo era novo e diferente de tal forma que
ela podia até sentir o medo dele. O medo que tinha de magoa-la novamente.
Entendeu que havia mudado, mas aquilo por hora lhe perturbava, e a dor que
sentiu não tinha sido nada agradável. Sentia o cheiro de todos eles que ao
mesmo tempo, se misturavam ao cheiro delicioso que vinha da cozinha,
cheiro de carne assada o que fez seu estômago roncar. Mas sentiu outro
cheiro que a excitou, um cheiro doce que dava água na boca, não um cheiro
enjoativo como se fosse algo de comer, aquele a deixava excitada e ansiosa
era como se já houvesse provado e soubesse o sabor daquilo. Foi em direção
à porta, mas parou no meio do quarto e ficou somente olhando para porta
aberta. Felipe a seguiu e olhou na mesma direção em que ela olhava ansiosa
demais.

Morgan surgiu na porta do quarto e olhou diretamente para ela com certa
curiosidade notando de imediato sua mudança. Olhava-a de cima a baixo,
percebendo tudo em segundos. Ela se movimentou tão rápido para ele, que
ficou surpreso quando ela parou ao seu lado. Felipe ficou sobressaltado com
aquilo, pois não esperava que se movesse tão repentinamente.

Adriana farejava Morgan como se fosse um animal, o rodeava olhando todos


os detalhes de sua roupa preta e sobretudo escuro, seus cabelos negros a pele
clara do seu rosto o qual ela tocava delicadamente e afastava a mão como se
não tivesse certeza se poderia toca-lo. Ele acompanhava seus movimentos
com os olhos, ficou analisando a reação dela e lançou um olhar confuso para
Felipe.
Mas de repente ela se afastou como se estivesse lembrando-se de alguma
coisa. Manteve os olhos presos nele e encostou-se na parede e sua expressão
ficou assustada.

Adriana começou a ter os flashs das lembranças de Morgan em sua mente.


Ele gritava em desespero e chorava com o corpo inerte de Helena nos braços.
Ficou horrorizada com aquela visão e caiu sentada no chão – Eu não sou ela!
Eu não morri, não morri – dizia fechando os olhos – não consigo controlar o
que vejo.

Morgan se aproximou e olhava preocupado – está mudando, mas está viva! É


o que importa – a ajudou a ficar de pé novamente, depois afastou a parte de
cima do seu roupão para verificar o ferimento que não estava mais lá, o
fechou em seguida – ficará bem! – ele a encarou e viu sua confusão.
Ela o encarava confusa - não estou bem... estou...diferente – tocou o próprio
rosto com as pontas dos dedos, o olhar ficou perdido como se estivesse
tentando prestar atenção em alguma coisa que não estava ali - ouço as vozes
que vem da estrada, da cozinha, os ratos que estão no porão do castelo, até os
passos arrastados das formigas – disse com o olhar perdido ainda e falava
bem devagar - as vezes vejo coisas que não lembro de ter visto antes, e
mesmo assim, parece que eu estava lá. Lembranças que não são minhas –
disse voltando à sacada, mas parou ao lado de Felipe e o encarou – posso
ouvir até os seus pensamentos – ele a encarou sobressaltado - acha que me
tornei algo incontrolável porque não sabe o que eu sou – ela sorriu devagar –
é incrível! - disse com entusiasmo.

Felipe a olhava horrorizado - por este motivo precisa aprender a se controlar


– lhe disse quase que a repreendendo por sorrir gostando daquilo – ela o
olhou zangada, mas ele continuou – não é tão simples quanto pensa que é
criança! – ele suavizou e estendeu a mão para toca-la, mas ela se afastou
bruscamente como se não quisesse ser tocada.

Olhou para a mão dele estendida na sua direção, mas a ignorou - me sinto
forte agora – disse olhando para a estrada novamente – não consigo lembrar
direito o que aconteceu comigo, mas tenho a sensação de que foi muito ruim
– disse indo em direção ao closed.

Felipe estava sem reação enquanto ela falava e agia de forma confusa, deixou
até o roupão escorregar para o chão e ficar seminua enquanto escolhia suas
roupas, sem se importar que ele e Morgan estivessem ali. Desviou os olhos
constrangidos rapidamente para Morgan que disfarçou um sorriso quando o
encarou. Ficou esperando sem saber o que fazer, até que ela saiu de lá vestida
e passou por eles como se não estivessem ali, indo para o banheiro. Depois de
alguns minutos saiu do quarto em direção ao corredor e a seguiu - Aonde vai?
– ele perguntou enquanto a seguia pelo corredor e Morgan ficava para trás.

- Comer! – ela respondeu quase que o ignorando - parece que não como há
séculos. – Já descia as escadas com pressa.

Morgan ficou olhando a bagunça que ela fizera no quarto, praticamente havia
destruído tudo porque havia se enfurecido. Ficou preocupado, pois nunca
conheceu ninguém que havia sofrido aquele tipo de transformação. Ficou
pensando se teria sido a mistura com o sangue dos garous, ou se aquilo havia
desencadeado algo que já estava escondido em seu interior, pois era muito
poder para um ser humano e sua personalidade já era forte e decidida, mas
misturada a personalidades como a dele, Felipe, Diego, Miguel e até Atila
poderia ser perigoso.
Ficou olhando em volta preocupado, porque ela nem sequer deu sinal de que
se lembrava de que eram amantes.
Adriana comia como se nunca houvesse comido antes na vida, devorou a
carne em seu prato rapidamente e já repetia novamente. Tomou quase que
uma garrafa de vinho e parecia que não se saciava. Felipe e Isaiah apenas
observavam curiosos e preocupados ao mesmo tempo.

- Coma devagar! – dizia Felipe calmamente sentando na cadeira a sua frente


– devagar – disse impedindo-a de continuar enfiando comida na boca, quando
segurou seu braço.

Ela o encarou assustada – mas estou faminta! – respondeu com boca cheia de
carne.

Ele a encarava - se continuar a comer dessa forma, sentirá uma dor horrível
no estômago – alertou vendo que ela engolia o ultimo pedaço de carne – não
pode mais comer como antes, apenas pequenas porções.

Olhou para o prato na sua frente quando Felipe soltou seu braço. Dor era algo
que com certeza sabia o que era e não gostaria de sentir novamente.
Começava a discernir o que havia acontecido e o encarou - vai ser sempre
assim agora? – Temia ouvir a verdade.

Felipe inspirou antes de responder - sim minha querida! –respondeu de forma


suave.

Compreendeu a gravidade da sua situação e deu um suspiro pesado - estou


com medo de tudo isso, e ainda estou confusa – Viu Diego e Miguel entrarem
na cozinha, assustou-se e levantou-se sobressaltada até conseguir reconhece-
los. Correu para o outro lado da mesa onde Felipe estava sentado, ficando
atrás dele. Depois balançou a cabeça ao recordar de seus amigos – não
consigo controlar isso – confessou ajoelhando-se na frente de Felipe e
agarrando seus joelhos, pousando sua cabeça em suas pernas como se fosse
uma criança - tenho medo do que posso fazer! – disse.

Felipe se surpreendeu com a insegurança dela e de como ela buscava


proteção nele, acariciou os cabelos dela e lamentou profundamente o que
estava acontecendo, sentia-se miseravelmente culpado. Não havia previsto
aquilo e ela estava diferente de tudo que já tinha conhecido - tem medo do
que pode fazer minha criança, a quem? - ele perguntou quando o encarou.

Ela endureceu sua expressão de repente - as outras pessoas – disse vacilante


com própria confusão como se aquilo que dissera não fizesse sentido – vou
ter que mata-las também? – era como se lembrasse do dia em que viu Miguel
e Diego se alimentando das mulheres no salão de jogos.

Felipe ficou em silêncio e depois encarou os dois amigos que o olhavam


preocupados.
Capitulo 17

Abandonando a velha criatura

Demorou apenas 24hs para Adriana se acostumar as novas sensações, mas


ainda não era o suficiente e não se acostumaria por completo tão cedo. A
audição muito aguçada, o olfato apurado, a leveza e agilidade de seu corpo,
até a forma como conseguia captar os pensamentos dos outros era tudo muito
intenso, intrigante e perturbador. Não conseguia mais ouvir a mente de Felipe
e de nenhum dos outros guardiões, somente os humanos. De certa forma
aquilo a irritou e começou a fazer daquela habilidade um jogo, e tentar
descobrir o que as pessoas pensavam.

Descobriu que Marie havia ficado muito abalada depois que Aquiles as
interceptou na estrada, e pediu dispensa permanente dos seus serviços no
castelo e iria para a casa de seu irmão na França.
Descobriu que as faxineiras falavam mal dela pelas costas devido à bagunça
que fez em seu quarto e que tiveram que arrumar a chamavam de estrangeira
porca e bagunceira e que os patrões deveriam se livrar dela. Ficou possessa
com aquelas fofoqueiras e começou a perturba-las, as assustava aparecendo
de repente enquanto elas fofocavam, aparecendo nos corredores do castelo
como se fosse um fantasma. As olhava com um sorriso frio e um olhar
vidrado e elas saiam apressadas para longe.

Todas as vezes que entrava na cozinha a cozinheira fazia o sinal da cruz e


balbuciava que ela tinha pacto com o demônio, pois era a única que
suspeitava do ataque de lobisomem. Ela também pediu demissão, pois as
faxineiras lhe contaram que ela perambulava pelo castelo como se fosse uma
assombração. Assustava também o servente que era um homem muito
curioso e sempre tentava entrar nos cômodos que foram proibidos por Isaiah.
Uma das ajudantes da cozinheira também se assustou quando deu de cara
com ela nos fundos do castelo enquanto estendia os panos de prato que usava.
Isaiah relatou tudo para Felipe que se preocupou com aquilo e a Morgan que
achou engraçado, mas depois se preocupou também tendo que dar uma boa
quantia para cada um dos empregados quando foram embora do castelo.

Adriana passava muito tempo sozinha e não conseguia dormir, sempre se


esquivava de Felipe e dos outros quando tinha oportunidade. Trancava-se em
seu quarto e ficava horas na internet lendo os noticiários de violência contra
crianças, pois estava obcecada com aquilo e Felipe começou a vigia-la de
perto a obrigando a retomar os treinamentos, e depois de uma discussão
acalorada entre os dois e sobrepujada pela a autoridade de Felipe, obedeceu
mesmo ficando furiosa com ele.
Nada conseguia faze-la se acalmar, andava muito perturbada qualquer
lembrança que a torturasse a fazia mudar de humor nos treinos, e não
conseguia se concentrar em nada além de quebrar coisas. Não conseguia
parar e prestar atenção no que ele dizia e ele não conseguia lidar com sua
atitude furiosa. E também não quis ceder à oferta de Atila para treina-la
sozinho, sem sua presença. Atila o criticou depois de observa-los dizendo a
Felipe que a sua influência era muito forte sobre ela, e que ela se irritava com
aquilo, pois ele era cuidadoso demais, e ela se via forçada a obedece-lo
sempre.

Com toda a mudança, Morgan convocou uma reunião entre eles e os ciganos
novamente e sem a presença de Adriana. Forçou Felipe a contar o que sabia
sobre a vida dela para os ciganos, explicando o que poderia ter desencadeado
sua fúria, e a revelação sobre aquilo não foi nada agradável.

Atila odiou saber sobre que ela havia passado pelo terror da perseguição de
um homem adulto, quando era apenas uma criança. Ficou pensando naquilo
durante dias, imaginando como havia sido difícil para ela lidar com aquilo
todo aquele tempo. A observou de longe durante algum tempo, enquanto ela
o aguardava no pátio do castelo. Queria poder dizer alguma coisa para que
soubesse o quanto se importava com ela, mas preferiu se aproximar em
silêncio.
O humor de Adriana estava péssimo e tornara-se extremamente irritadiço.
Atila estava parado alguns metros distantes dela em silêncio, somente
olhando na sua direção enquanto ela o encarava impaciente - vai ficar aí
somente me olhando? – perguntou irritada - estou cheia disso! Cheia de todos
vocês me espionarem e me seguirem, como se fossem minha sombra - disse.

Ele deu de ombros sua queixa e começou a despejar uma porção de perguntas
- o que anda te irritando tanto para quebrar coisas, xingar e agir dessa forma
descontrolada? – perguntou permanecendo no mesmo lugar. Ela não
respondeu, mas já começava a bufar irritada - é o que você lembra que te
deixa furiosa? Seu passado? Sua infância? A falta de seu pai? – ele soltava as
perguntas de forma debochada para irrita-la de propósito, pois tinha um
objetivo ali - deve ser a falta do seu pai, apesar de ser uma mulher bem adulta
- ele a encarou.

O fuzilou com os olhos apertando-os enquanto tentava se controlar - não tem


nada melhor para fazer do que ficar me irritando? Porque numa cava um
buraco por aí, talvez ache um osso para brincar – o advertiu enquanto o
encarava furiosa.

Ele a fitava com aqueles olhos verdes maliciosos. Fez um movimento brusco,
que a deixou em alerta. Mas apenas arrancou sua camiseta, ficando nu da
cintura para cima por causa do calor que fazia.

Olhou confusa para o macho percebendo que ele queria dar a entender que a
enfrentaria se o atacasse. Parecia que fazia aquilo de propósito, e se enfureceu
com ele.

Voltou os olhos para ela novamente - eu consigo controlar o que sou desde
que entrei na puberdade, quando isso se manifestou a primeira vez – ele dizia
– não é impossível para você. Se não se controlar, não poderá sair daqui para
qualquer outro lugar. Todos os humanos foram embora com medo de você! –
disse – Ou prefere ser como um fantasma arrastando correntes em um castelo
velho? – debochou mais uma vez.

Ela ofegou mais, pois a voz dele a irritava. Somente o encarava em silêncio.
Ele continuou - controle! – ele ordenou – ou é incapaz de controlar sua fúria.
Vai se esconder como fez para se proteger daquele verme? – ele esperou sua
reação.

Ela fechou os punhos junto ao corpo num sinal de fúria contida. E tudo isso
era observado por Isaiah do segundo andar do castelo, e Vladimir que
também estava no pátio e observava em silêncio - CALE A BOCA! - ela
berrou colérica e deu um passo à frente – você não sabe de nada – disse.

Atila pode sentir sua raiva – sei sim! Ele iria pega-la e machuca-la porque era
mau e perverso - continuou a falar.

Sentiu toda a carne de seu corpo tremer devido o ódio que sentiu por ele
força-la se lembrar do que queria esquecer. Aquilo era um péssimo gatilho
para ela.

Ele continuou a falar devagar - Pequena, vulnerável, inocente – ele mesmo


não queria dizer aquilo sobre seu passado, não queria ter sido forçado a
descobrir o motivo de tanto descontrole. Ele mesmo ficou furioso com aquela
revelação.

Adriana tapou os ouvidos com as mãos - PARE! CALE ESSA MALDITA


BOCA! – berrou. Mas depois foi na direção dele decidida a fazê-lo calar a
boca e parar de provoca-la.

Ela avançou muito rápido, mas Atila teve tempo de desviar do golpe, e lhe
acertou um que a fez cair de bruços no chão. Ela gritou furiosa, batendo no
chão com os punhos fechados, depois ficou de pé bem rápido voltando a
ataca-lo com tremenda força. E ele não esperava por tanta força desferida, e
segurou seus braços para obriga-la a parar – você me bateu! – ela gritava –
me bateu seu merda! – esperneou quando ele a imobilizou.

Ela tentava se livrar de seu abraço - você mereceu! Agora controle –


Ordenou. Ela ainda se debatia em suas mãos - precisa aprender a controlar –
dizia ainda segurando seus braços. Ela conseguiu se desvencilhar e o
empurrou acertando uma série de golpes, que ele defendia tendo que usar
uma força maior. Estava descontrolada e furiosa, e teve que imobiliza-la mais
uma vez, prendendo seus braços para trás forçando-a a não se mexer mais -
controle! – ordenou as suas costas e bem perto do seu ouvido.

Ela sacudiu o corpo tentando em vão se soltar de suas mãos fortes - NÃO! –
gritou – QUERO MATA-LO! SOLTE-ME.

Ele forçou mais - você não quer me matar, não sou aquele verme – ele dizia -
O verme não está aqui. Controle! – dizia

- NÃO CONSIGO- Gritou mais alto. Mas os seus olhos já estavam cheios de
lágrimas furiosas e frustradas por estar imobilizada e não conseguir se livrar
dele.

- Pense em algo bom – Atila disse – sua família! – dizia – se controlar sua
fúria poderá vê-los novamente. Se controlar, poderá fazer o que quiser.

Ela sacudia o corpo novamente - NÃO! NÃO! NÃO - gritou

- Respire junto comigo! – ele a apertou junto ao seu corpo musculoso e


quente, e a mantinha de costas presa aos seus braços musculosos – tente
Adriana – dizia. Sentiu que sua agitação diminuía e relaxou um pouco o
aperto, deixando apenas uma mão prendendo seus braços e a outra prendendo
seu corpo em um abraço pela a cintura. Começou a inspirar profundamente e
expirar - faça! – ele dizia e repetia o exercício.

Ela tentou controlar as lágrimas que desciam teimosas – eu... não consigo –
disse finalmente, como se estivesse desistindo de lutar contra Atila por ele ser
mais forte.

- Inspire fundo e solte! Pense em algo bom. Sua família, sua casa, seus
amigos. Tudo o que vale a pena lutar - sussurrava e ela parecia começar a
obedecer e a se acalmar, pois imitava o que ele fazia acompanhando o
movimento de seu peito, e devagar ele soltou seus braços e sua cintura. Mas
ficou ali, grudado nela como se algo o forçasse a ficar. Ele era bem mais alto
e bem mais forte, mas mesmo que ela fosse menor e mais fraca, havia algo
nela que o dominava. Sentia-se totalmente atraído por ela. Pensou que talvez
fosse por ter seu sangue em suas veias e tentou desviar sua atenção para o
treinamento - Respire! Controle! – ele disse novamente – Ninguém pode te
machucar agora. Você está no controle. Você é a mais forte. Você pode fazer
o que quiser – dizia baixinho

Sentiu-se enfeitiçada pela voz de Atila que sussurrava em seu ouvido, e que
mexia com sua mente. Ela era mais forte, ninguém poderia machuca-la,
estava no controle e poderia fazer o que quisesse. A voz dele ecoava na sua
mente como se estivesse muito longe e gostava do que ouvia, pois era
verdade. Ela podia controlar. E continuou ouvindo o que ele dizia - Ele não
pode tentar te machucar novamente, você é quem pode machuca-lo, ele agora
a teme mais do que qualquer coisa. Porque você está no controle. Controle. –
E suas lágrimas cessaram e se acalmou.

Atila mudou de posição ficando na frente dela e ela o fitou - Está no controle!
Use sua fúria a seu favor – disse olhando em seus olhos. Ela prestava atenção
e enxugou o rosto molhado pelas lágrimas enquanto o encarava, e depois
assentiu dando a entender que iria fazer o que ele estava dizendo. Começou a
se afastar dela pegou sua espada que estava no chão e jogou para ela, que
agilmente a pegou ainda no ar – lute e controle sua fúria – ela analisava os
seus movimentos premeditando seu ataque – vai fazer o que estou dizendo? –
perguntou quando farejou o ar na sua direção e a analisou.

Ela também o analisava um tanto desconcertada - é tudo o que tenho que


fazer? – perguntou.

Começaram a praticar aquele mesmo exercício todos os dias. Atila era


paciente com ela e lhe explicava que a raiva poderia ser usada a favor se a
despejasse em seus golpes, mas que não deixasse domina-la. Ela começou
praticar o que dizia e ficou mais calma. Aceitava os exercícios e já não se
irritava facilmente. Voltou a ter paciência em ouvir o que Felipe lhe dizia
quando a aconselhava e não tratava ninguém com grosseria ou deboche
exagerado. Sempre conversava muito com Atila e já imitava seus
movimentos com perfeição. Mas às vezes por algum motivo desconhecido ela
se irritava, como se alguma coisa despertasse sua lembrança e desencadeasse
sua fúria. Mas Atila começou a perceber que aquele descontrole não era
apenas por causa das lembranças, mas era também por causa do poder da
mistura que foi usada para salva-la.

Passavam muito tempo juntos treinando, e começou a considera-la uma forte


candidata para ficar ao seu lado no clã dos ciganos já que seu pai vivia
falando que já estava na hora de ter uma família. Mas era uma coisa que teria
que aprender a lidar, pois era nítido o interesse dela por Morgan, e a
preocupação dele por ela e o jeito que a olhava, deixava claro o quanto o
vampiro a desejava também. Aquilo o irritou, pois sabia que o único motivo
de Morgan se aproximar de Adriana era a possibilidade de ela poder procriar
e dar continuidade a linhagem dos Drakos.

Atila havia tirado sua camisa e aquilo começou a tirar um pouco da


concentração dela, mas tentava disfarçar. Ele era muito atraente, forte e
másculo, e isso não passava despercebido. Estavam lutando com as espadas
quando sentiu aquele cheiro familiar, sabia exatamente de quem era, pois
aquele cheiro a instigava. Gostava do cheiro amadeirado e rústico de Atila,
mas aquele que sentia era tentador demais para ela e sorriu, virando-se de
imediato na direção de onde vinha. Viu Morgan parado do outro lado do
pátio olhando para os dois, e parecia um pouco aborrecido. Ele encarou Atila
e esse o encarava de uma forma quase que hostil, sentiu no ar a rivalidade
entre eles. Teve um estalo de repente e lembrou-se de que ela e Morgan
tinham uma ligação antes de sofrer o ataque de Aquiles, mas com toda aquela
confusão havia se esquecido. Não pode evitar sorrir.

Morgan desviou os olhos para Adriana e a estudou por um breve momento.


Não gostou da cena do controle que Atila usou com ela, sabia que era
exagero e que se tratava de um jogo de sedução barata e não treinamento.
Tirando a camisa e mostrando seu físico sabendo que poderia atiçar a libido
dela. Aquilo o irritou! Atravessou o pátio na direção dos dois e parou diante
deles.

Atila acompanhou a aproximação de Morgan com os olhos, quase riu quando


percebeu seu ciúmes estampado na cara do macho.

Morgan não sabia exatamente o que iria dizer, mas se aproximou assim
mesmo- Você está bem? - perguntou olhando Adriana nos olhos, pois ela o
olhava surpresa e um pouco ansiosa.
- Sim! – ela respondeu um sorriso malicioso que começava a surgir em seus
lábios, pois percebeu que a atitude dele era possessiva.

- Ele a machucou? – perguntou ignorando Atila

- Não! – ela respondeu de imediato

Atila riu com deboche – estava ensinando algumas coisas a ela, já que parece
uma atividade difícil para vocês ensina-la a ter controle – provocou.

Morgan riu de forma irritada – Controle ham? Esqueceu-se de quem é para


falar de controle? – provocou – vocês foram o culpados por ela quase morrer,
então protege-la é a sua obrigação.

Adriana encarou Atila quando ele trincou os dentes tentando se controlar.


Colocou-se entre eles, pois começavam a se aproximar de forma ameaçadora
- estávamos treinando! – Ela disse olhando para um e depois para o outro –
Mas acho que já treinei o suficiente - Concluiu analisando suas reações. E
parou o olhar em Morgan que a encarou. Ele era mais forte que Atila, então
por instinto desviou sua atenção somente para ele, esquecendo que ele
também despertava algo mais forte nela.

Atila entendeu o olhar dela para Morgan, percebendo que se tratava de um


olhar apaixonado. Então se afastou aborrecido, pegou sua camiseta e saiu
dizendo que voltaria pela manhã.

- Acho que seu treinamento acabou! – Morgan disse de repente quando viu
que Atila havia se afastado.

- é! – Adriana disse virando-se para ele com um olhar especulativo. Ele não
entendeu aquele olhar, mas sorriu mesmo assim – você tem um dom para
afugentar as pessoas – provocou.

- Decepcionada? – perguntou enquanto a rodeava

Ela sorriu quando percebeu o joguinho dele - E você? – rebateu


- Muito! – disse com um sorriso torto malicioso – técnica de treinamento
exibicionista interessante. Gosta daquilo que ele faz? - perguntou enquanto a
rodeava.

Ela riu zombeteira - Se preocupa com a proximidade de Atila? – sua pergunta


foi provocativa, pois o acompanhava com os olhos espertos e mais maliciosos
que os dele.

- Já disse que você é minha uma vez – disse parando muito próximo a ela.

Afastou-se um pouco – E eu já disse que não sou o seu brinquedo, uma vez –
rebateu voltando a encara-lo e depois riu - Não pode tomar posse de pessoas,
e não sou mais humana. Agora posso me defender de você – ela o provocou
novamente e ele se aproximou mais dela.

- O fato se ser humana era tentador e você já era minha antes. E o fato de
estar diferente agora não muda isso – ele rebateu com um olhar intenso.

Ela o estudou e não desviou os olhos - Então ainda não sou sua e posso fazer
o que eu quiser – ela começou a se aproximar mais quase colando o seu corpo
no dele, somente para provoca-lo.

Ele sorriu - Você já é minha - repetiu confiante

Afastou-se lentamente - Veremos! – Disse com um sorriso

- Prefere o cigano? – ele perguntou olhando-a se afastar – Por que ele te atrai
mais? Posso até sentir o cheiro dele em você – provocou com um sorriso
debochado.

Ela riu provocante e viu seus olhos começarem a escurecer quando endureceu
sua expressão – Ele realmente é um gato e gosto do cheiro dele, mas prefiro o
mais perigoso, porque talvez seja mais tentador - Ela rebateu.

Ele sabia que se referia a ele, era mais forte que Atila então automaticamente,
tornava-se o mais perigoso. Por isso ela falava daquela forma, e sabia que ela
queria somente provoca-lo – acho que criamos um monstro – ele sorriu
novamente.

Ela revirou os olhos de forma impaciente - Aliás, o que veio mesmo fazer
aqui? – ela perguntou desviando o assunto – Anda me vigiando Conde
Drácula? Está com medo que eu quebre todo o seu castelo? – debochou

Ele a analisou por um momento e riu baixinho – Não monstrinha, estava


passando apenas quando me deparei com a cena erótica sua e do cigano e
resolvi parar – o sorriso se desmanchou com a lembrança.

- Um voyeur! Gosta de observar então? – Ela gargalhou ao mesmo tempo em


que o cutucava - quanto exagero de sua parte, meu caro. Não tinha nada de
erótico em meu treinamento, ele como sempre apenas me ajudava – o
encarou e cruzou os braços.

Ele apertou os olhos quando percebeu que ela zombava dele, mas não
respondeu e resolveu não prolongar mais aquela discussão. Passou por ela
com a intenção de se afastar, mas ouviu seu pensamento, ainda era fácil
capta-lo. Voltou-se para ela de repente quando viu o sorriso debochado se
desmanchar - Nem pense em tentar nada – alertou - Você pode estar forte e
cheia de truques. Mas eu, ainda sou o mais forte – Ficou a meros centímetros
do rosto dela, e ela nem sequer se abalou.

Ela sorriu sedutora – Uhhhhhh... Agora me deixou excitada! - provocou –


está com medo, por que agora estou apta para o seu mundinho sombrio? -

Morgan a encarou perplexo e depois deu um meio sorriso enquanto a


analisava

Ela continuou - Não se esqueça Conde Drácula, que recebendo o sangue de


vocês, certas características peculiares também são herdadas. Como por
exemplo – ela começou a rodeá-lo como ele havia feito com ela minutos
antes – sua ousadia irônica e cruel - agiu muito rápido e o derrubou com uma
rasteira e montou nele prendendo-o entre suas pernas e seus braços a cima de
sua cabeça.

Foi pego de surpresa, ela pensou. Mas Morgan sabia exatamente o que ela
faria, e deixou - e agora rei dos vampiros, quem é a presa? – ela provocou
roçando a boca dele com a sua.

Ele estava adorando a brincadeira - mediante a posição excitante em que me


encontro, realmente prefiro ser a presa – respondeu fazendo uma cara
maliciosa – Já passamos por isso antes, por que não pulamos as preliminares
e vamos direto ao ponto.

Ela soltou os braços dele e o analisou, percebendo que ele gostava do que
estava fazendo - Você é mesmo um cretino! – disse brava e fazendo menção
de se levantar.

Ele a impediu e foi mais rápido ainda, trocando de lugar com ela prendendo-a
entre as suas pernas - Agora você voltou a ser a presa. Mesmo estando apta
para o meu mundinho sombrio, eu sempre serei o mais forte - a beijou
deixando-a sem fôlego.

Ela o empurrou e conseguiu afasta-lo e ficou de pé bem rápido, mas estava


ofegante - vamos ver quem consegue ser mais rápido então – provocou
pegando sua espada jogada no chão e em seguida o encarou - se conseguir me
vencer, poderá fazer o que quiser comigo e serei finalmente sua - Fez uma
mesura e ficou em guarda em seguida esperando a reação dele.

A encarou disfarçando sua surpresa, mas gostou da proposta – vamos ver o


que aprendeu - disse andando devagar na direção dela. Tinha uma postura um
tanto ameaçadora, mas seu sorriso excitado o entregava - está sem saída - ele
disse.

Ela gargalhou divertida - acontece milorde, que para ter o que quer terá que
lutar de verdade – deu uma piscadela e sorriu balançando a outra espada que
Atila havia usado para treinar com ela, e a jogou na direção de Morgan e ele
muito rápido a pegou e partiu para cima dela para desarma-la. Defendeu-se
do golpe desferido arregalando os olhos surpresa, pois não esperava. Deu um
sorriso maldoso e partiu pra cima dele usando sua nova agilidade.
Começaram a lutar com determinação, mas era puro divertimento, pois riam.

Ela arregalou os olhos quando ele partiu para cima, usando sua velocidade -
errou conde Dracula! – debochou quando desviou do golpe e ele acertava o
pilar, que apoiava a parte coberta do pátio. Faziam movimentos
sincronizados, mas eram rápidos e nem perceberam a chuva que começou a
cair.

- Não vou errar novamente! – Ele sorriu de forma sedutora

Ela riu mais ainda - veremos! – suas espadas tilintavam e às vezes até saiam
faíscas devido à força que utilizavam – não irá me vencer, milorde! –
provocou

- Está confiante demais milady! Cuidado. Sou muito bom em tudo que faço –
seus olhos percorreram o corpo dela com malicia.

Ela sorriu da mesma forma - você é muito previsível e arrogante também –


ela respondeu correndo em direção ao jardim adentrando no enorme labirinto
– e muito irritante... - ela gargalhou

Morgan saiu em seu encalço e a chuva começou a cair com mais insistência e
força, e mesmo encharcados não pararam.

- Posso ser irritante, arrogante, mas não previsível – Morgan disse sumindo
por um dos corredores do labirinto e ficando em absoluto silêncio. Depois
surgiu na frente dela desferindo um golpe forte que a fez ir para trás. Ela
arregalou os olhos e depois deu um sorriso uma tanto surpresa, e equilibrou-
se sem deixar a espada cair.

Ela usou sua velocidade sumindo e surgindo do outro lado para surpreendê-
lo. Mas ele era um vampiro antigo e um soldado, e conseguia acompanhar
seus movimentos como se fossem os movimentos de um humano. Então
Morgan foi mais rápido desarmando-a e fazendo com que sua espada voasse
para o alto, e ele a pegar com a outra mão.
Adriana ficou surpresa e o encarou - Não vou ceder a sua vontade facilmente
- Sorriu com a sua astúcia, mas correu pelo labirinto atravessando-o sem
olhar para trás, mas suas risadas a entregavam. Viu a antiga pérgola em
formato de túnel, e estava coberta por trepadeira glicínia brancas e roxeadas,
que estavam espessas e derramavam-se como enormes cachos deixando
aquele lugar completamente charmoso. E foi ali onde se abrigou da chuva e
Morgan surgiu logo atrás. Ficou parada no centro analisando suas roupas
encharcadas, e sorriu quando o viu da mesma forma. Ele se aproximou bem
devagar - renda-se! – disse apontando a espada no seu peito arfante.

Olhou para a espada em seu peito, depois voltou os olhos para ele - já me
rendi há muito tempo pelo que lembro - respondeu com um sorriso excitado.
Se renderia aquele homem na sua frente de qualquer forma, pois o desejou e
se apaixonou assim que o viu.

Morgan soltou a espada deixando-a tilintar no chão e se aproximou mais


pegando sua mão delicadamente, a encostou em seu rosto molhado e fechou
os olhos ao contato com sua pele quente - Nunca senti nada igual antes! –
dizia enquanto acariciava a mão dela com seu rosto - O seu cheiro que me
perturbava, seus olhos, sua voz, seu sorriso. Quando me dei conta, já estava
louco por você e não conseguia controlar - beijou a palma de sua mão.
Depois a puxou devagar, aproximou-se mais até seus corpos ficarem colados
e tocou nos cabelos molhados dela e depois no seu rosto – Nunca desejei
tanto alguém quanto desejo você – sua voz era doce, suave, apaixonada e
cheia de desejo. Ele sorriu ao dizer aquilo.

Seu sorriso era tão perfeito e sincero, que ela chegou a imaginar se ele era
real. Sorriu ao pensar naquilo, pois ele estava ali na sua frente e se declarando
e podia até toca-lo. Sorriu novamente e deixou escapar um suspiro - xiiiiiiiii!
– sibilou de repente tocando os lábios dele com as pontas de seus dedos e
tocou seu rosto perfeito e o beijou apaixonadamente.

Ele a abraçou enquanto a beijava cheio de desejo, louco para fazer amor com
ela e sentir sua pele e seu gosto novamente. Mas não queria apenas ter alguns
momentos de prazer, não com ela, a queria por inteiro e pra sempre. Então a
puxou para trás interrompendo aquele beijo, segurando-a pelos cabelos da
nuca delicadamente para encara-lo. Quando encarou aqueles olhos castanhos,
sentiu seu mundo estremecer novamente fazendo seu peito arder como se
estivesse em chamas, estava loucamente apaixonado por ela e não tinha como
brigar com aquele sentimento.

- Eu já disse que era sua antes – ela disse quase que sussurrando enquanto
ainda ofegava por causa dos beijos, e ele a beijou com mais tesão ainda
quando disse aquilo e com um movimento rápido a suspendeu para que se
encaixasse em sua cintura e entendendo o que ele queria obedeceu.

Ele a levou até mesa de pedra onde ficavam as trepadeiras mais espessas, pois
bloqueavam um pouco a visão de quem olhava de fora. A colocou sentada ali
e se afastou alguns centímetros para olha-la e sorriu de forma sedutora.

Começou a tirar a parte de cima de sua roupa bem devagar enquanto o fitava
e ele sorria. Mas ele apressou-se em se aproximar dela novamente, e ele
mesmo tirou sua blusa de forma impaciente. Adriana começou a lhe tirar a
camisa também, com a mesma impaciência que ele havia tirado a sua, e em
poucos minutos os dois estavam nus.

Trocaram caricias sem ligar para o vento frio que batia em seus corpos. E
nem muito menos as várias gotas que caiam das trepadeiras em cima deles
quando já estavam encaixados. O desejo que sentiam era tão intenso, que não
se importaram com o lugar desconfortável onde estavam, nem o frio ou
qualquer outra coisa. Queriam ficar juntos novamente e não ter que se separar
nunca mais. Entregaram-se um ao outro de uma forma sensual e cheia de
desejo em meio a gemidos e murmúrios de prazer.

Ouviu Morgan sussurrar em seu ouvido várias vezes que ela lhe pertencia e
que ele pertencia a ela, que a amava que era louco por ela, e que nunca
deixaria ninguém a machucar novamente. Também declarou seu amor eterno
por ele, enquanto estava aninhada em seus braços fortes. E depois como se
nada fosse capaz de destruir aquele amor, adormeceu.
Ficou observando a mulher adormecida em seus braços, pensando em como
foi capaz de desejar matá-la somente porque lhe trazia lembranças que lhe
perturbavam e lhe causavam dor, seria incapaz de machuca-la ou de lhe
causar qualquer tipo de sofrimento. Mas lembrou-se também das vezes que se
amaram antes do ataque e a angustia que sentiu com a possibilidade de perdê-
la. Sorriu suavemente enquanto fitava o rosto dela e depois a beijou
suavemente para não a despertar – Vou ama-la para sempre! – disse
encostando seu rosto no dela e fechando os olhos.

Adriana despertou sobressaltada, estava amanhecendo e pode sentir que


amanhecia e foi uma coisa bem estranha poder sentir aquilo. Sentiu que os
braços de Morgan ainda a envolviam e relaxou depois se virou para ele. Ele
abriu os olhos como se estivesse esperando que ela acordasse - está
amanhecendo! – disse suavemente - você precisa voltar, é perigoso - tocou no
rosto dele e o beijou.

- Vale a pena o risco somente para viver isso com você novamente! – ele
respondeu ainda com os lábios encostados nos dela e com a sua mão
segurando seu rosto – A amo com todo o meu ser, minha alma e com todo o
meu coração – dizia fechando os olhos e inspirando profundamente.

Ela sorriu – Eu também o amo! E por isso não quero que morra, e podemos
continuar no quarto dentro da casa – ela disse fechando os olhos como se
estivesse em um sonho que não quisesse acordar, e até riu daquilo – ta
parecendo um daqueles romances que você repudia - brincou.

Ele gargalhou ao lembrar-se do episódio em que lhe disse aquilo – não!


Nossa realidade é diferente... é perigosa, mas é melhor! - Ele ficou olhando
para ela em silêncio, faria qualquer coisa por aquela mulher. Deu-lhe vários
beijos, nos olhos, na ponta do nariz, no queixo, no pescoço e até rosnou
baixinho para provoca-la. Depois beijou seus lábios ternamente.

Voltaram de mãos dadas para o castelo, depois de vestirem suas roupas ainda
úmidas. Estava tudo silencioso, somente a porta da frente destrancada. Foram
para seu quarto e trancou tudo com cuidado, a porta da sacada, as janelas,
fechou todas as cortinas, depois puxou as cortinas do dossel para proteger seu
amado da luz, enquanto ele arrancava as roupas molhadas ficando nu. Em
seguida ele entrou debaixo do edredom e ela o imitou. Amaram-se mais uma
vez e adormeceram abraçados.
Capitulo 18

A incontrolável fúria

Adriana acordou perto do meio dia pois sentiu fome, ainda tinha as
necessidades humanas normais, e pelo visto as teria pra sempre. Mas segundo
Felipe, mudaria um pouco a cada dia. Saiu da cama com cuidado, fechou as
cortinas novamente, não sem antes olhar para o macho espetacular ao lado
que dormia em sua cama, sorriu e foi tomar um banho.

Vestiu uma roupa seca e confortável, pegou o celular em cima do criado


mudo e viu que tinha uma ligação perdida de seu amigo Fernan. Pensou em
ligar para ele depois e desceu para a cozinha. Não viu ninguém quando
desceu as escadas e a cozinha estava vazia, não estranhou já que não tinham
mais os funcionários humanos, então pegou uma maçã da fruteira em cima da
mesa e foi em direção ao pátio. Sentiu a presença de alguém de repente,
farejou o ar e sorriu – Por que está tão silencioso? - Perguntou ao se virar em
direção à parte coberta do pátio, vendo Atila encostado no pilar onde dava
para ver a sacada de seu quarto.

Atila moveu-se lentamente na direção dela, respirou fundo e voltou os olhos


para a floresta desejando não ter ido ao castelo – Por que escolheu ele? – a
pergunta apenas saiu de sua boca, não se preocupou em disfarçar seus
ciúmes.

Olhou surpresa para ele e não respondeu, sua pergunta a irritou um pouco.
Deu uma mordida na maçã e desviou os olhos para o chão.

Ele a olhava esperando uma resposta e como não teve, continuou - achei que
tínhamos algum tipo de ligação, que fossemos compatíveis, o que mudou? –
insistiu.

Ela o analisou confusa por um segundo - vocês sempre tiveram algo na voz e
no olhar, tipo hipnótico. Talvez tenha se confundido com a reação que causou
ao usar esse artifício em mim, eu sei que usou – disse olhando para o rosto
decepcionado de Atila, teve que desviar os olhos novamente – No dia que fui
atacada, usou esse artifício comigo, lembra? – disse sem olhar para ele, não
queria encara-lo naquele momento.

Ele sorriu satisfeito ao perceber o erro dela – Não usei nada para influencia-la
naquele dia. Ficou atraída sem precisar da minha influência pra isso, você
sabe disso, mas se prefere negar.

O encarou sem saber o que dizer, porque sabia que ele tinha razão. Estava
prestes a ceder a ele naquele dia, mas foram interrompidos quando foram
atacados – não sei do que está falando – desviou os olhos dele novamente.
Atila riu de forma fria – sabe sim! – ele se aproximou devagar – não
aconteceu porque fomos interrompidos – Parou na frente dela e inspirou
profundamente para se acalmar – não sou homem de meias palavras, gosto
das coisas claras. Eu nunca a trataria da forma que esse vampiro te tratou. Ele
a desprezava quando era humana e de repente se interessa por você do nada.
Acho que entendi o que acontece aqui, ele vai fazer com você a mesma coisa
que fez com a outra, vai te usar só pra dar continuidade à linhagem dos
Drakos. Foi assim com Helena, com a mãe dele e agora ele vai fazer com
você – disse irritado.

Adriana o encarava com certo espanto – Aonde quer chegar com essa
conversa sem sentido? Eu nunca pude ter filhos, sempre fui estéril. Somente
um milagre me faria engravidar – ela parou de falar quando o celular tocou
novamente, e Atila a encarava um tanto surpreso. A ligação caiu. Não
reconheceu o número no identificador. Tocou novamente e ela atendeu
prontamente e era seu amigo Fernan aos prantos. Sentiu um calafrio passar
por sua espinha – Fê? – ela disse com a voz carregada em preocupação.

- Amiga – o amigo disse choroso do outro lado da linha - aconteceu uma


coisa.

- O que? O que aconteceu? – perguntou sobressaltada. Ele lhe contava tudo, e


conforme lhe contava, sentiu sua carne tremer por inteiro. Fernan lhe contava
que sua amiga Gevy havia conhecido um rapaz na boate e estava saindo com
ele há alguns dias. Só que o malandro, como Fernan se referiu ao rapaz, era a
pior espécie de pessoa que existia. Ele aplicava vários golpes, inclusive havia
cometido alguns crimes de estelionato e estupros seguido de roubos, usando o
velho artifício do boa noite Cinderela. Escolhia as vitimas, sempre com o
mesmo perfil. Sempre mulheres acompanhadas de amigas, e que fosse fácil
de aproximar, ou homossexuais sozinhos. Era um velho golpe, colocava um
tranquilizante que era utilizado em animais de grande porte que agia como
um sedativo potente que paralisava suas vitimas do pescoço para baixo.
Muitas vezes essas vitimas apagavam e quando acordavam dois dias depois,
havia acontecido diversas coisas com elas.

Gevy tinha sido a última vitima do canalha. Ele dizia aos prantos que quando
havia chegado em casa depois de passar um fim de semana com o novo
namorado, a encontrou sem suas roupas, toda paralisada e que toda sua
economia havia sumido. Estava no hospital com ela naquele momento.
Quando ele desligou após pedir que fosse para Londres. Ficou em choque por
alguns segundos depois começou a se enfurecer, olhando para o chão
tentando achar uma forma de se acalmar.

- O que foi? –Atila perguntou preocupado

Ela o encarou sem conseguir disfarçar sua raiva – Preciso ir para Londres –

Ele a olhava confuso – Por quê? O que aconteceu? – perguntou

Contou tudo muito rápido e ele se ofereceu para ir com ela, e sem pensar
muito aceitou - Vá até a garagem e pega o Porsche preto, depois me espera
aqui com o motor ligado. A chave está no chaveiro na parede - Ela deu as
coordenadas e entrou correndo no castelo. Cruzou com Isaiah no meio do
caminho, mas não lhe disse nada. Entrou no quarto com cuidado, pegou uma
mochila jogou algumas coisas dentro, como documentos e algumas peças de
roupas. Vestiu uma jaqueta por cima da regata branca, meteu-se numa calça
jeans e calçou as botas pretas. E quando passou pela escrivaninha onde estava
o notebook, arrancou uma folha limpa do caderno de anotações e deixou um
recado para Morgan e os outros guardiões. (volto assim que resolver o que
tenho para resolver preocupem. Com amor. A) Foi até sua cama, abriu a
cortina do dossel com cuidado e ficou alguns minutos olhando para Morgan
que ainda dormia profundamente. Inclinou-se e beijou seus lábios
suavemente. Em seguida afastou-se devagar, virou-se e saiu do quarto.
Desceu as escadas como um raio, mas Isaiah a interceptou no meio do
caminho.

- Onde pensa que vai? - ele perguntou parando na sua frente

Ela olhou para ele de forma impaciente - vou para Londres! Quando eles
acordarem, diga que fui resolver um probleminha relacionado aos meus
amigos e que não posso adiar isso, e volto logo - esclareceu.

- Mas... -ele ia tentar dizer algo


- Eu sei me cuidar, meu amigo! – ela disse. Deu um beijo no rosto dele e saiu.

Atila a esperava com o motor ligado como o esperado. Ela entrou no carro e
saíram com pressa.
Tocou a campainha do apartamento e quando Fernan atendeu a porta, a
abraçou e começou a chorar. - Hey! Calma – Adriana dizia abraçando o
amigo. Vê-lo daquela forma a deixou extremamente preocupada, pois Fernan
era uma pessoa doce e sensível e não suportava vê-lo sofrer. Entraram no
apartamento e foi direto para o quarto da amiga.

Gevy quando viu Adriana, primeiro olhou para o chão envergonhada. Depois
teve uma crise de choro quando ela sentou-se ao seu lado e a abraçou - eu não
sabia! – disse tentando se justificar.

Adriana a olhava num misto de compreensão e raiva por não estar por perto –
Não foi culpa sua - disse ainda abraçada a sua amiga tentando consola-la, e
olhou para Atila por cima dos ombros da amiga. Ele estava parado na porta
do quarto e fez um sinal para que a deixasse a sós com a amiga.

Gevy enxugou o rosto e depois fitou Adriana por um tempo - Ele parecia tão
gentil e legal, tinha aquele charme que a gente não resiste. Saímos por alguns
dias e ele parecia apaixonado e eu cai como uma pata. Bebemos vinho,
ouvimos música e conversamos a noite inteira, e depois eu não me lembro de
mais nada - ela parou de falar, estava envergonhada.

Adriana respirou fundo para controlar sua fúria - Quem não presta, nunca
mostra o que é realmente. Só descobrimos no momento do ataque – disse
desviando os olhos da amiga, não queria que notasse sua mudança, mas ela a
observava enquanto falava.

Gevy a encarou por um segundo - você está diferente! -disse intrigada


enquanto enxugava mais lágrimas.
Disfarçou - você acha? Talvez seja o clima da Escócia - respondeu – vou
leva-los para a casa no campo – ela ressaltou para tirar sua atenção.

- Não podemos ir! Não vou parar minha vida por causa disso – Gevy
respondeu sobressalta.

Adriana bufou - Lá terão proteção, não posso protegê-los de longe – rebateu


irritada ficando de pé de repente num ímpeto de raiva, nem pensou que sua
reação a assustaria.

Gevy a olhava de boca aberta - calma! – disse achando sua atitude estranha -
o que fizeram com você? – perguntou desconfiada

Adriana a encarou sem graça, esquecendo que não era mais a mesma pessoa -
nada! Só não consigo deixar de ficar possessa com o cara que fez isso – disse
tentando disfarçar a raiva.

- Não é isso, está estranha! - disse – me conta a verdade, o que está


acontecendo? Olha pra você, tão ameaçadora e radiante ao mesmo tempo.
Não sei explicar – dizia levantando-se da cama e se aproximando da amiga
que se afastou desconcertada.

- Não tem nada de errado comigo! – disse secamente

- Tem sim! Só não sei o que é, fico com a mesma sensação de quando estou
perto do Felipe e dos outros que andam com ele – Gevy parecia sondar seus
olhos.

Adriana a encarou por um momento sabia que não conseguiria esconder por
muito tempo o que tinha acontecido. E suspirou ao pensar naquilo - depois
conversamos sobre tudo o que aconteceu comigo – disse prendendo a atenção
de sua amiga.

Mas Gevy insistiu - O que eles fizeram com você? - perguntou novamente
como se soubesse a resposta e parou para pensar um instante - você mudou!
Eu posso sentir isso em você, sinto uma vibração muito, muito forte e em
você - insistia.

Adriana a olhou fixamente, mas parecia que não a enxergava. Olhava além de
seu rosto assustado e curioso - não importa! Não se preocupe comigo. Temos
que nos preocupar em pegar esse cara, e faze-lo pagar pelo que fez – disse
endurecendo sua expressão - você tem alguma coisa dele, ou que ele tenha
usado? – perguntou mudando de assunto.

Gevy ficou em silêncio olhando meio embasbacada para sua amiga. Foi então
que Adriana intensificou seu olhar e fez a pergunta novamente, e a viu virar-
se e ir até seu guarda roupas e pegar uma jaqueta preta de couro, voltando-se
para ela em seguida como se estivesse em transe e disse - ele deixou essa
jaqueta aqui outro dia – disse com o olhar meio perdido.

Adriana sorriu suavemente ao pegar a jaqueta das mãos de Gevy e depois a


libertou do seu olhar. Surpreendeu-se com o que havia acabado de fazer.
Depois de libertar sua amiga de sua influência hipnótica, sentiu-se um pouco
mal por ter que usar aquele artifício com ela.

Gevy saiu do transe e olhou confusa para sua amiga - que estranho! – olhou
para a jaqueta nas mãos de Adriana e fez uma cara confusa - como isso foi
parar na sua mão? – e riu mais confusa ainda.

Adriana olhou para ela com a cara mais inocente que poderia fazer – você
acabou de me entregar! – disse virando-se e indo em direção à porta do
quarto.

Sua amiga não parecia convencida daquilo e a seguiu - aonde você vai com
essa jaqueta? – disse puxando-a pelo braço, mas a alcançou quando ela já
estava no meio da sala.

Adriana virou-se para ela com um sorriso calmo - vamos caçar - e jogou a
jaqueta para Atila, e ele entendeu de imediato o que ela queria. Pegou a
jaqueta no ar e a farejou, em seguida a largou no balcão e foi em direção à
porta de saída. E antes de sair ele olhou para ela e sorriu.

Fernan e Gevy se entreolharam confusos e depois olharam para ela, que os


encarou despreocupada - O que foi aquilo? – Fernan perguntou perplexo –
merda Honey! O que está acontecendo? – ele explodiu assustado.

Ela sorriu novamente - não está acontecendo nada! – respondeu sentando-se


calmamente no sofá, cruzando as pernas e olhando para eles como se não
houvesse acontecido nada.

Ele foi até ela e apontou o dedo em riste - Eu não sou idiota! Aquele homem
enorme me disse que era seu guardião. Que porra de guardião? O que é isso?
Somos seus melhores amigos e merecemos uma explicação sobre o que está
acontecendo com você.

Anoiteceu rapidamente e teve de uma longa conversa com os seus amigos


que pareciam perplexos e céticos demais, para acreditarem em tudo o que ela
havia relatado desde a sua partida. Primeiro eles gargalharam desacreditando
e ela manteve-se séria. Depois pararam de rir e ficaram conversando entre si
juntando as coisas, e mesmo assim ainda não acreditavam nela.

Algum tempo depois Atila retornou entrando de repente no apartamento.


Adriana imediatamente pôs-se de pé um pouco ansiosa, depois se virou para
os seus amigos - vou sair! Depois volto e conversamos mais sobre isso –
acompanhou Atila quando ele saiu novamente pela porta.

Eles não paravam de ligar, mas ignorou várias vezes aquelas ligações. Sabia
que provavelmente já estavam a caminho para busca-la. Enquanto desciam as
escadas do prédio, Atila relatava o que tinha descoberto sobre o rapaz. Ele
havia seguido o mesmo cheiro que havia na jaqueta e que tinha sido muito
fácil encontra-lo, pois ainda rondava pelo centro, mas que trabalhava sozinho.
Disse também que o cheiro estava mais forte na portaria de uma boate
próxima da boate que ela havia trabalhado e de imediato seguiram para lá.

Atila parou o carro na porta da boate e um manobrista encostou ao lado, mas


antes de descer ela virou-se para Atila e disse para ele deixar o carro na porta
do prédio de Fernan e Gevy, pois teria outros planos após aquilo, e que se ele
quisesse,= poderia voltar para a Escócia para não se comprometer com
Kaimel. Mas ele somente sorriu em resposta.
Capitulo 19

A primeira vítima

Adriana saiu do carro chamando muito a atenção para si. Apesar de seus
trajes basicamente simples, percebeu que tinha o mesmo magnetismo que os
vampiro e começou a se lembrar de como Diego, Miguel, Felipe e Morgan se
pareciam para ela quando era humana, e como seus amigos ficavam perto
deles. Os vampiros eram mestres em atrair suas vítimas para se alimentarem
delas, e faziam aquilo facilmente por puro instinto. E naquele momento
descobriu que conseguiria usar aquilo ao seu favor.

Tinha uma fila de pessoas bem vestidas que se aglomeravam na portaria


quando a hostes aparecia e escolhia as pessoas que entrariam na boate.
Conseguiu atrair a atenção dela assim como das outras pessoas que ansiavam
serem escolhidas. A host era um moça de cabelos negros longos e bem lisos,
alta e com pinta de modelo que escolhia as pessoas baseada na própria
aparência. Em questão de segundos ela a olhou e sorriu que nem boba
fazendo um gesto para que se aproximasse e entrasse. Adriana passou pela
fila andando suavemente e sorrindo esbanjando seu charme anormal,
lembrando-se de como Diego fazia aquilo naturalmente. A moça ainda sorria
quando se aproximou e disse - Venha, por favor! – e a conduziu para dentro
da boate.

Quando entrou finalmente, olhou ao redor percebendo que aquela era uma
antiga boate para a nata de Londres uma a qual todos desejavam entrar, mas
que pouquíssimas pessoas conseguiam. Aquele lugar era frequentado ricas,
famosas, modelos, ou apenas algum anônimo que misteriosamente conseguiu
entrar ali de alguma forma e se divertia com os seus amigos.
Contudo, uma vez lá dentro tudo poderia acontecer, pois era tudo às claras,
sexo, drogas, prostituição de luxo. Quem entrava jamais comentava o que
tinha visto ou vivenciado ali. Já tinha ouvido falar sobre a boate, e uma vez
ela e Fernan tentaram entrar ali, mas sequer olharam para eles.
Adriana continuou olhando em volta enquanto caminhava até bar, notou que
algumas pessoas se viravam para olha-la com curiosidade, e alguns
esboçavam sorrisos ou piscavam, mas apenas os ignorava, pois, o seu
objetivo ali era outro. Chegou ao bar e pediu um Martini para o barman
moreno de cabelos negros cacheados e sedosos, ele deu um sorriso sedutor e
ela de propósito lhe lançou outro. Estava adorando testar os poderes que
havia adquirido, mas logo perdeu o interesse no barman, pois tinha que se
concentrar.

Sentiu o cheiro de Atila de repente e soube naquele momento que ele estava
no segundo andar. Sorriu quando olhou para cima e se certificou de que
estava certa. Ele fez um sinal com a cabeça mostrando algo e se virou para
olhar o outro lado do balcão do bar. Apertou os olhos e sorriu suavemente
sentindo o seu sangue ferver.

Viu um rapaz magro e alto com um rosto delicado como o de um adolescente


bonito com enormes olhos verdes e um sorriso sedutor. O tipo que dava a
impressão de ser inofensivo e simpático, mas que escondia toda sua
perversidade atrás daquela máscara inocente. Ficou observando-o de longe
vendo que ele já havia escolhido sua vítima e a espreitava. Automaticamente
olhou para o alvo do rapaz que se tratava de uma moça loira e bonita que
acabava de ser abandonada por sua amiga que se afastava com outro rapaz.
Logo deduziu que o rapaz que afastava sua amiga espevitada era comparsa do
rapaz que a espreitava e já ensaiava sua aproximação. Foi nesse exato
momento que usou seu poder atrativo nele, o olhou fixamente e o chamou
mentalmente. Espantou-se consigo mesma, pois agiu por instinto e ele
obedeceu ao seu chamado virando-se e procurando por ela até que os seus
olhos se cruzaram e ele a encarava um pouco confuso. Esboçou um sorriso
sedutor para o rapaz e ele esqueceu-se totalmente da mocinha loira e mudou o
seu trajeto. Respirou fundo e sentiu-se estranha em relação aquilo, pois estava
gostando do que estava fazendo.

- Oi – ele disse ao se aproximar e fixou seus olhos verdes em Adriana, estava


um pouco ansioso.
Adriana riu disfarçadamente dele ao perceber que ele achava que seu olhar
patético funcionária com ela - oi! – ela respondeu com um sorriso.

- Nunca te vi por aqui! – ele disse

Ela o analisou em segundos e seus olhos brilharam, estava adorando caçar


sua primeira vitima - é porque nunca venho aqui! – Respondeu

- E o que te atraiu aqui hoje! – perguntou tentando ser charmoso

- Disseram que é um ótimo lugar para caçar! – rebateu como se fosse um


convite.

Ele sorriu excitado e se inclinou na sua direção fingindo que fazia aquilo por
causa da música alta - veio ao lugar certo! - Bebericou o liquido do copo de
plástico que imitava um copo de uísque.

Olhou nos olhos dele - eu sei! – ela disse analisando seus movimentos
ansiosos sem que ele percebesse.

- Veio sozinha gata? – ele perguntou olhando a sua volta como se procurasse
seu acompanhante ou amigos.

Ela riu dele novamente e pensou como era fácil atrair essas pessoas, mas
tinha que ser paciente e brincar um pouco – sim e não – ela disse se
inclinando para sussurrar em seu ouvido, e quando voltou a olhar para o
rapaz viu que sua pupila havia dilatado em sinal de excitação. Ele achava que
ela era uma presa muito fácil, mas nem fazia idéia de que ele era a presa.

- Mas não precisa ir embora sozinha certo? – disse tocando em seu braço
suavemente o acariciando com o polegar.

Ela acompanhou seu movimento com os olhos quando a tocou, depois o


encarou. Teve uma vontade enorme de arrancar sua cabeça, mas se afastou
em direção a pista de dança para se acalmar. Misturou-se a multidão que
dançavam despreocupados demais para notarem o perigo eminente que os
cercavam a todo o momento. Fugiu da visão do rapaz e o deixou desesperado
procurando por ela por um tempo. Desligou-se dele por um momento quando
começou a tocar uma música que sempre ouvia na boate que trabalhava o DJ
sempre oferecia aquela música para ela e seus amigos, e por um breve
momento sentiu falta da badalação, dos amigos, e das lembranças do que não
teria mais, e aquilo doeu um pouco.

Lembrou-se de Alex, pois eles sempre se divertiam juntos com aquela


música. Onde ele estaria? O que havia acontecido ao seu amigo? Fechou os
olhos por um instante e começou a sacudir a cabeça de um lado para o outro
no ritmo da música eletrônica. Tentava pensar em outra forma de acabar com
o que aquele rapaz fazia, sem ter que mata-lo. Continuou a dançando por um
tempo como se estivesse em transe, depois abriu os olhos e olhou para cima,
para onde Atila estava e os olhos dele estavam presos nela fixamente. Não
conseguiu olhar para outro lugar enquanto dançava e se concentrou nele por
alguns minutos, até decidir o que faria realmente.

Quando mudou a música, parou de dançar lentamente e percebeu vários olhos


curiosos e excitados que a olhavam além do rapaz que conseguiu encontra-la.
Era fácil atrai-los, sua aparência, seu olhar, sua influência mental e todo o
magnetismo. Achou estranho pensar neles como humanos indefesos, pois
meses atrás ela também era como eles e foi atraída pela mesma armadilha.
Tinha que admitir a forma que eles a atraíram foi bem mais elaborada e cheia
de pequenos detalhes, e mesmo que tivessem um propósito para atrai-la, caiu
na armadilha fácil demais. Sorriu de forma maliciosa e saiu da pista indo na
direção do outro bar e ele foi atrás dela e parou do seu lado novamente, sabia
que ele a seguia como um cãozinho.

Ele estava um pouco agitado, como se estivesse desesperado por sua atenção
- você é muito excitante! – ele sussurrou em seu ouvido.

Virou-se para ele contendo o ímpeto de pegar sua cabeça e bate-la com força
contra o balcão do bar. Mas se controlou e sorriu.

- É tão diferente de todo mundo aqui! – ele continuou e tocou em seus


cabelos, ela se afastou devagar não suportando aquele toque, mas não
respondeu.
- Beba comigo! – ele disse pedindo duas bebidas ao barman, que as
providenciou depois de fazer uma série de movimentos iguais os que ela fazia
na The Fever antigamente.

Ela olhou por um segundo o que o barman fazia e depois desviou o olhar,
pois pensar no seu passado humano era torturante. Nada seria mais como
antes. Voltou o olhar para o rapaz e na hora ela percebeu o que ele realmente
queria com aquilo, quando o barman lhe entregou os copos. Ele agiu tão
rápido que um ser humano normal nem perceberia, pois ele atraia sua atenção
aos seus enormes olhos verdes e falando sem parar. Ele tinha um anel
extravagante no dedo indicador da mão direita, e com um movimento com o
dedo polegar o destampou e despejou um pó branco no copo que seria para
ela. Riu dele, pois ele achava seu olhar patético e seu sorriso idiota,
conseguiria distrai-la. Mas ele era muito experiente no que fazia sem dúvida,
porque suas vítimas nem percebiam o que se passava, e sua amiga havia sido
uma delas - Não bebo! – Respondeu a ele. A reação desapontada do rapaz foi
nítida, pois ele ainda insistiu que pegasse o copo de sua mão.

- Puxa! Que pena - ele fez um beicinho infantil

Ela sorriu esbanjando todo o seu charme anormal - Nunca se sabe o que
podem colocar em sua bebida, e o que podem fazer com você depois – disse.
Ele não demonstrou perturbação, sabia atuar muito bem. Notou.

- Não confia em mim, gata? – Perguntou olhando em seus olhos procurando


algum sinal de que ela percebera alguma coisa - como eu poderia colocar
algo em sua bebida na sua frente e você não perceber? – Ele foi muito cínico
nessa observação.

Gargalhou, e ele sem entender acompanhou sua risada mesmo assim - é


verdade! - ela disse depois de pegar o copo - Mas mesmo assim, e se eu
fizesse isso com você? – rebateu olhando por cima de seu ombro, o rapaz
virou-se curioso para ver quem era. Atila parou ao lado dele no bar como um
cliente qualquer, mas um bem grande. Adriana aproveitou sua distração e
trocou os copos de maneira muito rápida, num movimento que nenhum ser
humano poderia notar.
O rapaz voltou-se para ela com um sorriso - você não seria tão má, para fazer
isso comigo não é mesmo? - perguntou com um ar malicioso, quando ela
pegou o copo e bebeu tudo de uma vez só. Os olhos dele brilharam excitados.

Adriana sorriu e seus olhos mudaram de cor – não, de forma alguma. Eu não
faria isso – disse.

Ele sorriu triunfante – eu sabia que você era uma boa garota – disse enquanto
a observava atentamente esperando o efeito da bebida. Mas ficou sem graça
quando percebeu que a bebida não surtiu efeito, apenas teve a nítida
impressão de que os olhos dela mudaram de cor.

Fez um muxoxo – mas eu não sou uma boa garota! – disse encarando os
olhos confusos do rapaz - porque eu faria coisa bem pior com você, do que
apenas paralisar seu corpo, te estuprar e te roubar – riu ao sentir o medo dele.

O rapaz a encarou com espanto e pegou o copo em cima do balcão e bebeu


todo o liquido para disfarçar o medo que sentiu dela. De repente olhou para
trás e aquele homem enorme o encarou de maneira severa, voltou os olhos
para Adriana e sorriu sem graça. E naquele momento pensou que havia caído
em uma armadilha e que aqueles dois eram policiais. Já estava pronto para
sair dali quando começou a sentir-se um pouco tonto.

Adriana o pegou pela mão e o conduziu para os fundos da boate e ele


obedeceu de forma quase que involuntária, pois não conseguia desviar os
olhos dela e começava a ficar meio tonto e trôpego. Era o efeito da droga que
havia preparado para ela e que agia muito rápido em seu corpo. E antes
mesmo dele perder os sentidos e bater no chão, Atila o amparou e o jogou
nos ombros em seguida, saindo porta fora sem que percebessem.

Adriana observou Atila se afastar com o rapaz e em seguida voltou para o bar
para encontrar os amigos dele, e os avistou. Eram dois e rodeavam a mocinha
loira que era espreitada antes pelo amigo desmaiado. E a amiga dela estava
um pouco bêbada demais e aceitava a bebida que era oferecida por eles.
Aproximou-se no exato momento em que a moça levava o copo aos lábios,
tomou o copo da mão dela e os encarou.
- Hey! – disse o rapaz irritado - O que pensa que está fazendo?

-é – fez a moça bêbada, mas não tanto para não perceber o que acontecia a
sua volta.

Virou-se para ela muito irritada e pegou no seu braço, enquanto a amiga a
olhava assustada. Provavelmente achava que era alguma namorada
escandalosa. Encarou uma e depois a outra com mais intensidade – vão pra
casa e nunca mais aceitem nada de estranhos! – ordenaram - eles iriam te
estuprar e te roubar depois – disse

Elas olharam para o copo, depois para os rapazes que olhavam para Adriana
desconfiados e assustados. Depois se entreolharam.

Adriana virou o copo para derramar o liquido e soltou o braço da moça.


Sentiu uma ira enorme apossar-se dela – sai daqui agora! – ordenou. As
moças a obedeceram de forma urgente, vendo algo em sua expressão que as
deixou assustadas.

- Sua doida! O que está fazendo? – disse um dos rapazes

Ela nem pensou duas vezes, deu-lhe um soco tão potente que ele voou longe.
O outro ficou sobressaltado e jogou-se na direção dela com a mão fechada,
que ela segurou paralisando o seu movimento, e aquilo o assustou. Depois
torceu-lhe o pulso e o pegou pelos cabelos e meteu sua cara com força contra
o balcão do bar, manchando-o todo com o sangue que espirrou do nariz.
Havia esperado a noite inteira para fazer aquilo com um deles, e até sorriu de
pura satisfação.

As pessoas se agitaram e algumas começaram a gritar e a sair correndo, olhou


em volta com um sorriso frio e viu que havia um rosto pálido que a observava
no canto do bar, sabia o que ele era, mas deu de ombros por causa da histeria
das pessoas que corriam de um lado para o outro. Então foi na direção do
primeiro que bateu, ele ainda tentava se levantar e com impaciência o pegou
pelos cabelos e o arrastava sem dó até a porta dos fundos da boate. O rapaz
tentava em vão segurar as mãos grudadas em seus cabelos, puxando-as com
força para se soltar, pois machucava seu couro cabeludo. Ele berrava para que
o soltasse.

Os seguranças da boate que apareciam na sua frente e tentavam impedi-la,


eram derrubados facilmente com a mão livre ou com um golpe com a perna
direita.
Quando passou pela porta de saída dos fundos e chegaram a um
estacionamento, soltou o rapaz choroso. Ele correu e começou a gritar por
socorro e ela muito paciente pegou a tampa do latão de lixo e jogou com
força contra ele como se fosse um frescobol, acertou em cheio e o derrubou
com tudo no chão. Andou devagar até ele e grudou em sua orelha a puxando
com força. Agachou-se a sua frente disse - Quem te vendeu a droga que usa
nas suas vitimas – ela perguntava com raiva quase arrancando a orelha do
rapaz que tremia de medo.

- Me solta, por favor! – ele pedia chorando

Adriana deu um soco no rosto dele e até ouviu o “crack” do nariz se


quebrando - FALA! Ou será pior que isso - gritou colérica.

Ele chorava e chorava - não fui eu! Foi o Josh, eu só estava junto. Por favor.
O que você é? – ele se encolheu colocando os braços em volta da cabeça, na
tentativa de se defender caso ela lhe batesse de novo.

Ela olhava para o rapaz que acabava de se encolher de medo, mas não sentiu
nenhuma dó, e foi uma sensação estranha - sabe! – ela dizia pensativa – Por
que sempre choram quando estão com medo? – suspirou ao falar – parece até
uma piada ruim, porque se fosse ao contrário, eu já estaria nua e toda
machucada em cima de uma cama enquanto vocês se revezariam. A mulher
sempre vista como o sexo mais frágil, até que desperte dessa letargia
patriarcal – ela riu sem humor e viu os olhos confusos do rapaz que a
encarava - Pode escolher me contar, ou me contar - inclinou-se na direção do
rapaz caído no chão e que olhava para ela em pânico - Posso ficar fazendo
isso durante horas, até mesmo porque estou um pouco obcecada com isso –
ameaçou. Refletiu por um segundo enquanto olhava o rapaz encolhido e
choroso, não conseguia controlar seu impulso violento mesmo sabendo que
não era o correto a fazer.
O rapaz chorava copiosamente olhando para ela, percebendo sua mudança
repentina de humor, e também os seus olhos mudaram tornaram-se escuros e
ameaçadores e suas pequenas presas ficaram proeminentes. Não conseguiu
segurar e urinou-se todo de medo.

Adriana riu ao ver aquilo - Ahhhhh está com medo? – ela rosnou na sua
direção.

- O que você é? – ele perguntou soluçando

- Essa perguntinha é muito chata - puxou-o pela orelha novamente.

Ele gritou - ele é um professor de biologia – ele começava a falar - ele é um


maluco que consegue isso em uma clínica veterinária da faculdade que ele da
aula – ele disse

- E onde ele fica? – ela perguntou de forma maquiavélica

- Ele costuma ficar numa praça próxima daqui onde tem um parque. Ele fica
lá, vendendo suas drogas e observando - ele parou de falar.

Puxou a orelha dele de novo - observando o que? – perguntou já imaginando


qual seria a resposta.

Hesitou antes de falar – você sabe – disse o rapaz choroso.

Ela gargalhou de forma nervosa. Era tudo o que ela queria um maldito
traficante que era pedófilo. Antes de o rapaz desmaiar de tanto pavor, disse
para ele espalhar a notícia de que ela caçaria todos que faziam parte daquela
rede. Largou ele ali desmaiado e todo arrebentado.

Correu para se esconder quando ouviu as sirenes da Scotland Yard se


aproximando, farejou o ar para saber onde Atila havia levado o outro rapaz e
seguiu seu rastro. Escalou um prédio que estava há algumas quadras dali, e
fez aquilo com tremenda facilidade, adorando a sensação de não ter mais
medo de altura. Quando os alcançou se aproximou dos dois e ficou olhando
para o rapaz imóvel que a olhava em pânico, mas que não conseguia se mexer
e nem gritar.

Atila a estudou por alguns instantes depois de ver os carros da Scotland Yard,
passando de forma barulhenta nas ruas lá em baixo – O que pretende fazer
com ele? – perguntou curioso – O que tiver que fazer, faça logo. Primeira
lição: não perca tempo com os humanos porque eles te atrasam.

Encarou Atila por alguns segundos e se aproximou do rapaz paralisado. Seu


sorriso era calmo naquele momento - Achou que seria fácil, não é?– ela disse
enquanto o rodeava e ele a seguia com os olhos apavorados - nem imaginou
que estaria sendo caçado – ela continuou sorrindo - Quer saber quem eu sou?
Eu tenho certeza que sim, porque parece uma pergunta muito comum entre
vocês – agachou ao lado dele – Nesse momento eu sou o seu pior pesadelo –
ela começou a rir e Atila somente olhava para ela de forma quase impaciente
porque odiava joguinhos, preferia ir direto ao assunto.

Encontraram o rapaz quase 48hs depois e já estava se decompondo. Havia


algumas ampolas da droga que ele usava em sua jaqueta, e o que o levou a
morte foi o pescoço quebrado com fratura exposta. Os detetives que
investigavam o caso eram os mesmos que haviam investigado as mortes da
boate fever meses antes. Ambos os detetives Crowe e Gellinhal chegaram à
conclusão que os dois casos tinham algum tipo de ligação, pois pareciam
relacionados à vingança, mas a que a pessoa que cometeu o último homicídio
não era experiente, e que havia quebrado o pescoço daquela vítima por não
conseguir assisti-lo morrer por overdose. Os olhos da vítima estavam
injetados a boca aberta e uma baba escorria pelo canto, no entanto, o que o
matou foi o pescoço que quase foi arrancado devido à urgência e a força. E
mais uma vez nada levava aos assassinos, nem digitais havia no local. Mas
descobriram que os amigos da vítima faziam parte de uma quadrilha que
roubavam, estupravam e matavam por toda Londres e também Paris.
Capitulo 20

Caçando

Adriana não voltou para casa dos amigos nem para buscar o carro, passou
mal depois de tentar assistir aquele rapaz morrendo, vomitou depois que Atila
quebrou o pescoço dele de forma impaciente e a arrastou dali para um lugar
seguro. Ele ficou zangado com ela dizendo que se não fosse matar, não era
para começar e depois ficar com remorso ou algo parecido, pois se sua vítima
sobrevivesse haveria uma grande possibilidade dela se vingar depois.
Aprendeu a segunda lição, apesar de tudo.

Estava agindo por impulso devido as sede de vingança e era sua primeira
vítima, então tomou uma decisão. – Não vou hesitar da próxima vez – disse
encarando seu guardião.

Naquela mesma noite ficou perambulando pela cidade com Atila, estava se
adaptando a vida noturna descobrindo várias coisas. Inclusive que era muito
forte, ágil, rápida e também poderia ouvir a mente de qualquer humano
quando se concentrava. Podia ouvir até os vampiros mais jovens, pois eram
mais fracos que ela. Descobriu também que sentia a presença de Atila mesmo
se estivesse longe, mesmo sem sentir o cheiro dele, e deduziu que seria assim
com os outros guardiões que lhe deram o sangue também.
Mas outros vampiros mais antigos não conseguia perceber a presença,
somente quando estavam muito próximos, e acabou deparando-se com alguns
pela cidade, mas que não pareciam se importar com sua presença mesmo
sendo diferente.
E por mais que Atila a alertasse dos riscos que corria, de que provavelmente
eles a identificariam e espalhariam a informação para seus inimigos reais, não
lhe dava ouvidos. Dizia que ele tinha que fazer aquilo e ele poderia ir embora
se quisesse, mas que não interferisse na sua vontade.
Sabia que a qualquer momento Felipe e os outros surgiriam e que aquela
altura já estavam com Gevy e Fernan e os interrogavam, mas não fariam nada
contra eles. Mesmo assim, sentia-se culpada por envolver seus amigos
naquilo. Atila decidiu ajuda-la somente porque tinha que mantê-la a salvo, e
conseguiram se esconder dos outros guardiões quando já estava quase
amanhecendo, pois passaram a noite fugindo.

Colocou o seu plano em prática logo de manhã cedo, e observou o seu alvo o
dia inteiro quando descobriram onde era sua casa. O tal traficante morava em
um bom bairro de classe média alta, mas gostava de ir aos bairros da periferia
para fazer negócios e observar, e concluiu que ele nunca cometia os delitos
no lugar onde morava.

Entrou sorrateiramente em seu apartamento luxuoso, era um homem bem


sucedido, solteiro e com um emprego de fachada. Fazia o tipo gentil,
inteligente, um bom professor, bom vizinho, uma pessoa agradável e
prestativa a todos, acima de qualquer suspeita. O odiou! Mexeu em todas as
suas coisas, achou drogas, dezenas de fotos de crianças com o mesmo
biótipo, e quando viu aquilo teve vontade de mata-lo no mesmo instante, mas
teve que seguir com o seu plano e ser o mais fria possível, mas achar as fotos
a perturbou muito.
Continuou mexendo nas coisas e encontrou guloseimas nos armários da
cozinha, ele se alimentava como uma criança ou usava tudo aquilo como isca,
atrativo! Um predador supostamente inteligente pensou.

Encontrou luvas de látex, algemas e outras coisas. Ele também gostava de


pornografia adulta e contratava prostitutas regularmente, pois o computador
estava ligado e havia esquecido a página de uma prestadora de serviços
adultos aberta, e ao lado do telefone havia um papel com o nome “Sabrina às
12hs” olhou o relógio do computador era 11hs, então resolveu brincar um
pouco de Sabrina. Respirou fundo para se acalmar, e sentiu seu corpo
começar a esquentar mais que o normal. Estava sozinha no apartamento, pois
Atila aguardava na rua enquanto vigiava.

Ouviu o homem desligar o chuveiro e sorriu de maneira diabólica. Foi até o


quarto e sentou-se na cama dele, e o esperou ali no escuro. Aquilo começou a
ficar excitante para ela, principalmente quando ouviu os passos dele indo à
sua direção. Quando o homem acendeu a luz do quarto e a viu, levou um
enorme susto, gritou e levou a mão no peito como se sentisse alguma dor.
Depois ficou hesitante na porta, olhando-a de maneira confusa e desconfiada.
Ela permaneceu imóvel e o olhava fixamente de forma fria, depois sorriu e
disse - Bu! – fez ao se levantar lentamente com movimentos graciosos como
o de um lobo cauteloso quando observa à presa.

Ele a olhava assustado – mas que...quem é você? – perguntou vacilante


olhando ao redor a procura de um possível cúmplice – é a garota que chamei
hoje cedo? – perguntou desconfiado.

Ela olhou em volta também e voltou os olhos arregalados para ele - o bicho
papão – respondeu fazendo uma voz fantasmagórica – o verdadeiro! – disse
com deboche, ao mesmo tempo em que se inclinava em sua direção
lentamente. Não conseguia se lembrar de onde ouvira aquilo, mas quis dizer
– a Sabrina vai chegar no horário, não se preocupe – disse calmamente.

Ele endireitou os ombros depois de olha-la de baixo a cima como se ela não
oferecesse perigo por ser menor que ele. Ainda estava envolto a sua toalha de
banho - veio me roubar, sozinha? – perguntou com sarcasmo - uma mulher?
Muito corajosa. É melhor sair, antes que eu chame a policia – ameaçou ao
mesmo tempo em que zombava dela.

Adriana começou a sacudir o corpo enquanto ria muito – que medo! - Depois
parou de repente como se aquilo perdesse a graça e endureceu sua expressão.
Percebeu de relance que ele tinha uma tatuagem no braço direito, uma
mistura de triângulos e corações concêntricos disfarçados por uma imagem
de Buda e tribais. O encarou com seus olhos furiosos e rosnou de maneira
que ele deu um passo para trás, em sinal de alerta. O impediu de sair, se
aproximando muito rápido segurando-o pelo pulso e torcendo-o de maneira
que ele sentiu dor e mal conseguia se mexer, gritou para que ela o soltasse,
mas o esbofeteou com força. Ele sangrou e ela sorriu com satisfação. Virou-
se meio débil tentando imaginar de onde vinha tanta força - leve o que quiser
– disse – tenho dinheiro, jóias – disse tentando se proteger do próximo golpe.

O agarrou pelos cabelos com força e o puxou para baixo, de maneira que ele
se mantivesse ajoelhado aos seus pés, depois de inutilmente acertar um soco
no estômago dela. Quando viu que não surtiu efeito se desesperou – Por que
vocês sempre choram? – disse impaciente depois bufou - Não vim atrás de
seu dinheiro. Só quero uma lista com os nomes de seus amiguinhos, aqueles
que você compartilha drogas e vítimas inocentes – disse enquanto o arrastava
para o meio da sala.

O homem começou a gritar por socorro, então ela parou e o soltou - vai gritar
que nem uma menininha? Aposto que se fosse você no meu lugar, iria gostar!
– ela disse sombriamente - grite! Isso. O seu medo me excita, e fico com mais
vontade de espalhar seu sangue por toda a sala – ela olhava para ele com nojo
– engraçado como a idéia começa a me agradar – sorriu.

Ele se pôs de pé com dificuldade, se apoiava nas paredes sujando-as com o


sangue que saia em profusão de seu nariz e tentou estancar com as mãos - vai
me matar? – perguntou com a voz embargada. Ela começou a balbuciar algo
que ele não entendeu, e a olhava confuso - você é louca - ele disse com medo
e a mulher o encarou furiosa - Quem é você? – ele berrou. Tremia
compulsivamente enquanto ela começou a se aproximar lentamente. Mais
uma vez tentou ataca-la com um taco de golfe que estava pendurado em um
suporte na parede da sala. Ela segurou o taco rapidamente e o tomou dele.
Deu-lhe uma pesada no peito, fazendo-o cair para trás e espatifou o taco no
próprio joelho.

- Sou a consequência de um ato criminoso como o seu - falava ofegante, pois


se irritava novamente – some todos seus atos imundos contra todas as
crianças que pegou e verá que serei a sua morte – ela olhou para ele com
raiva – respondi a sua pergunta? – ela sorriu

O homem estava aterrorizado e começou a se encolher, principalmente


quando viu os olhos brilhantes e ferozes e presas proeminentes surgirem em
um sorriso maquiavélico- Não sei do que está falando, eu não fiz nada! -
Gritou choroso - Deus! – gritou novamente.

– Mas eu não fiz nada! – zombou fazendo uma vozinha fina. E continuou –
Deus acabou de virar o rosto para o outro lado. Você deu uma brecha agora
aguente as consequências. Agora levanta esse traseiro peludo daí e imprima
minha lista, quero o nome de todo mundo – ordenou.
O homem caminhou de forma desconfiada até o computador. A olhava de
soslaio com medo de ser esbofeteado novamente - o que você é? – ele
perguntou sem olhar para ela sentando-se de costas.

Olhou para ele impaciente e bufou – você não precisa saber, porque vou te
matar de qualquer jeito.

- Você é um monstro - ele xingou

Teve que se controlar, pois não queria mata-lo antes de lhe dar a listagem de
suas próximas vitimas, sabia que ele mantinha contato com outros pedófilos e
trocavam fotos, vídeos e vítimas.
Ouviu burburinhos vindo do corredor fora do apartamento, eram os vizinhos
esperando o elevador, mas ele não ouviu. Tinha que ser mais rápida – É...
talvez eu seja mesmo um monstro – voltou o olhar para ele - Mas qual será o
pior monstro aqui, eu ou você? – sussurrou em seu ouvido e depois rosnou
baixinho e viu tremer novamente e fechar os olhos – Engraçado, todo mundo
sem exceção sempre colhe aquilo que planta – ela virou a cadeira do homem
para que ele a encarasse - contemple a sua colheita - Já podia ouvir o barulho
da impressora, era hora de dar um fim nele.
Mas Sentiu algo encostar na sua barriga e olhou, ele pegara o revólver calibre
38 da gaveta da mesa do computador, e ela nem notara. Provavelmente foi
quando se distraiu com os vizinhos. Olhou para a arma e riu - isso não pode
me matar – disse encarando-o sem se afastar.

Suas mãos estavam instáveis naquele momento, pois tremiam muito. Mas
queria parecer valente - eu vou atirar – disse com a voz embargada.

Olhou nos olhos daquele homem - não vai não! O que você vai fazer é
aponta-la para a sua cabeça – queria saber se podia fazer aquilo que fizeram
com ela, hipnotiza-lo. E conseguiu, porque ele obedeceu. O homem a olhava
confuso, como se não quisesse fazer aquilo, mas não tinha controle sobre sua
própria ação - Talvez Deus tenha misericórdia de sua alma – ela dizia -
porque eu em minha imperfeição, não sinto mais medo, nem dó e muito
menos compaixão com algo como você. Atira nessa maldita cabeça e me
poupe o trabalho - ordenou novamente.
Ele puxou o gatilho, mas tremia tanto que o tiro pegou de raspão em sua
orelha esquerda, ele gritou assustado e caiu no chão com a mão esquerda na
orelha ferida.

Ficou irada e bateu muito nele, pois o estampido do tiro havia sido em vão e
provavelmente alguém já ligava para a policia - você é tão imprestável, que
nem consegue se matar – bufou - é impressionante a capacidade do ser
humano ficar indefeso, inútil e apavorado, quando se depara com algo mais
terrível que si próprio – Então terminou aquilo de uma vez. Arrancou a
genitália do homem, e depois o decapitou com uma faca que encontrou na
cozinha. O apartamento ficou lavado de sangue, fez muita sujeira, mas foi
muito rápida. Depois rapidamente espalhou as fotos e deixou seu computador
ligado, tudo o que o incriminava ficou exposto. Pegou sua lista e saiu pela
mesma janela que entrara. Era hora de sumir novamente e planejar o próximo
ataque.

Do alto de um prédio de cinco andares, viu sua segunda vitima. Uma mulher
que fazia o trafico de órgãos e mexia com escravidão sexual de mulheres
menores, adultas e transgêneros. Essa ela matou muito rápido, sempre
deixando seus crimes exposto para a policia encontrar.

Começou uma caçada sem fim, foi para vários lugares. E não ficou somente
em Londres. Aquilo durou alguns dias e sempre mudava de lugar e cidade,
estava ansiosa, com raiva e incontrolável. Tinha a fixação por fazer aquilo e
fez muitas vítimas, sempre com requinte de crueldade e tortura. E sempre se
escondia estrategicamente com a ajuda de Atila que era um perito naquilo,
mas sabia que ele não gostava do que estava fazendo porque achava perda de
tempo, mas tinha que ficar e protege-la.

No último ataque no centro de Londres depois de matar uma de suas vitimas,


foi vista e filmada por uma pessoa de um prédio vizinho, onde pegara um
casal de pedófilos. E isso foi passado em cadeia nacional. Toda a Europa
estava em alerta para a pessoa que estava matando pedófilos, e pessoas
envolvidas com tráfico e escravidão humana. Foi filmada, mas não filmaram
seu rosto só conseguiram distinguir a cor de seus cabelos. Então, por
insistência de Atila decidiu dar um tempo, pois estava em um pub na Irlanda
quando passou no noticiário o que ela havia feito. Todos pararam o que
estavam fazendo para ouvir.

Ligou para Morgan algumas vezes, para dizer que estava bem e que logo
voltaria. Sempre ligava de um orelhão diferente de vários lugares diferentes,
e ele insistia para ela voltar para casa, que ela corria perigo e para parar de
fazer aquela loucura. Mas sempre se desculpava e desligava no meio da
conversa. Sabia que eles a procuravam e que só não a encontraram, porque
teve a ajuda de Atila.

Naquela noite foi para uma espelunca em Glasgow. Escolhera um quarto sem
janelas, o último em um corredor que tinha saída de emergência. Tomou um
banho rápido, trocou de roupas, por roupas novas que comprara em uma loja
em Londres. Havia pegado uma grande quantia do dinheiro do cofre das duas
últimas vitimas, antes de partir para Glasgow.
Tinha que fazer tudo sempre muito rápido, qualquer sinal de seus protetores
ela fugia rapidamente despistando-os, mas começava a ficar difícil, pois
naquela semana havia se separado de Atila. Era semana da lua cheia e ele
estava muito impaciente e cansado de segui-la naquela loucura, disse-lhe que
era melhor se separarem por uma semana e se ela tivesse bom senso voltasse
para o castelo, onde estaria segura. E também não era seguro ele ficar na
cidade no meio de tantos humanos, pois começava a se sentir tentado a caçar
por ali.

Adriana tentou ao máximo não chamar muito atenção e já estava ficando


cansada daquilo, principalmente lidar com aqueles tipos de seres humanos.
Estava entediada e às vezes passava algumas horas em algum lugar acessando
a internet, respondendo os e-mails de sua família e às vezes ligava para saber
como estavam, mas só fazia isso de dia.

Ouviu um barulho no corredor e ficou de prontidão. Depois ouviu alguém


gritar - Hey! Não pode entrar aqui! - A voz masculina anasalada e irritada
havia parado a sua porta. Não houve batidas somente a voz forte que soou do
outro lado da porta - já te encontrei, abra a porta! – dizia o homem
Reconheceu a voz do amigo - é impossível me esconder de você! – ela disse
ao abrir a porta.

O homenzinho atarracado atrás de Atila apertou os olhos quando olhou para


ela e depois para cima e encarar seu guardião. Depois saiu resmungando algo.

Atila voltou os olhos para ela - não foi difícil encontrar seu rastro. Conheço
seu cheiro de longe e agora temos uma forte ligação - ele disse ao entrar e
olhar em volta fazendo uma cara desaprovando o lugar – não tinha um lugar
pior para você ficar?

- Hum! – ela fez depois de fechar a porta – não precisava se preocupar


comigo, sei me virar muito bem - disse virando-se para arrumar suas coisas.

Ele riu com deboche - poderia ter ido para a aldeia já que está perto – disse
enquanto olhava para ela de baixo a cima, como se estivesse verificando se
cada parte de seu corpo estava no lugar.

O encarou impaciente - ta! Não quero isso agora – rebateu

Atila riu - vão te encontrar de qualquer jeito! – disse – com quem acha que
está lidando? – perguntou – são antigos e poderosos. São todos soldados da
casa de Valérius, sabem rastrear. Embora eu seja melhor nisso que eles –
gabou-se – e... - Ele a rodeava pensativo – eles não são os únicos! – ela o
encarou - Você causou um estardalhaço com o que fez. E isso chamou a
atenção desnecessária. Acha mesmo que o está fazendo vai adiantar alguma
coisa? – falava ao mesmo tempo em que parava analisando sua reação.

Voltou os olhos incrédulos para ele - acho! – ela foi ríspida na resposta e
tentou sair de perto dele. Mas ele a segurou pelo braço.

- Mas não vai! Sempre haverá outros. São humanos – disse

- Então continuarei aqui para caça-los, até enfim eles cansarem de


continuarem aqui – ela puxou o braço bruscamente ele a encarou com um
olhar zangado – por que você está se intrometendo? – ela perguntou – disse
que não faria isso!
- Estou te alertando! Disse que te protegeria, mas isso já foi longe demais e
você agora é uma guardiã – ele respondeu com a voz carregada pela raiva que
sentiu de sua teimosia - A ordem está te caçando e se a pegarem ira a
julgamento – foi mais claro.

Ela o encarou sobressaltada - Que ordem? – perguntou surpresa, não sabia do


que ele falava.

- A ordem dos chupadores – agora havia deboche em suas palavras

- Não os que eu conheço! – rebateu

- São da mesma raça! – acusou

- Mas não os mesmos! - se irritou um pouco com ele

- Por que os defende? – Perguntou contrariado

- Por que os acusa? - Rebateu – essa rivalidade devido à diferença entre vocês
é ridícula! Então deveriam me odiar, já que faço parte dos dois agora.

Atila pareceu pensar no que ela acabara de dizer – não é por causa da
diferença entre nós, e sim porque eles foram os primeiros a abandonar a
causa – ele disse de repente – corre perigo! Está exposta demais. Pode voltar
comigo para a nosso acampamento, Vladimir está vigiando o lado de fora.
Pegue suas coisas – ele ordenou abrindo a porta do quarto e parando na
soleira a sua espera.

Ela olhou para ele e sentiu-se sem alternativa. Não gostou da idéia de ir para
o acampamento deles, mas naquele momento só haveria aquela alternativa.
Não voltaria para debaixo das asas de Felipe porque ele a controlaria e os
outros o apoiariam, e como estava sendo caçada provavelmente iriam atrás
deles também, e não queria que aquilo acontecesse.

Havia anoitecido e caia uma garoa fina e fria. Quando saíram do hostel antigo
que ficava em um prédio antigo próximos ao trem de Charing Cross ,
deparou-se com algo que não esperava ver. Vladimir rosnando ferozmente na
direção de pelo menos 30 vampiros, todos vestidos de preto e usando coletes
a prova de balas apontando suas armas com mira a laser na direção dele que
tremia compulsivamente a ponto de se transformar. Só viu Atila atirar-se na
frente dele quando deram o primeiro tiro. Era prata!

- Atila - Adriana gritou em desespero quando viu ele cair debilmente. Aquilo
com certeza doía muito, pois sua pele queimava e ele gritou. Correu na
direção dele que a olhou furioso como se uma coisa fosse saltar de dentro
dele, parou no meio do caminho quando viu expelir a bala e transformar-se
muito rápido, assim com Vladimir.
Olhou para trás e viu os que os vampiros se afastavam apreensivos mesmo
estando todos armados, e voltou os olhos devagar na direção de Atila, ele
tornara-se uma enorme fera de quase três metros, musculosa com pelos
espessos e negros e seus olhos eram de um amarelo com as bordas
avermelhadas assustadoras. Ele rosnava furiosamente apoiado nas duas patas
traseiras e era muito ameaçador, ficou sem reação, pois não sabia se iria
ataca-la. Mas ele deu um salto na direção dos vampiros, passando por ela e
ignorando-a totalmente.

Ficou parada no meio da calçada olhando ao redor, mas quando viu a


quantidade de vampiros surgir de repente, só teve reação quando o primeiro a
atacou e o desarmou golpeando-o com força e tomando sua arma e adaga.
Depois olhou na direção de quatro vampiros armados que vinham em sua
direção com tudo e pararam de repente olhando assustados para algo a suas
costas. Ouviu um rosnar longo e alto como se fosse um motor de caminhão e
pareceu bem enfurecido, pois se intensificou. Ela olhou para trás receosa e
viu uma enorme fera com pelos castanhos avermelhados encara-la e continuar
rosnando enquanto a baba escorria por entre sua bocarra cheia de dentes
afiados, e aquele era Vladimir. Enorme com um olhar cruel e ensandecido.
Olhou para os quatro vampiros que mostravam suas presas ameaçadoras na
direção deles e dois deles foram pra cima dela, a enorme fera deu um salto,
derrubando-os e rasgando-lhe a carne pálida com seus dentes afiados e
enormes e depois correu atrás dos outros que se aproximaram.

Atila se desviava habilmente das balas e escondia-se nas sombras, escalando


os prédios baixos daquela rua e depois rosnava furioso saltando em cima do
alvo. Adriana ouvia os tiros na sua direção e desviava das balas muito rápido,
desarmava um, mas sempre aparecia outro. Pareciam formigas, ela pensou.
Vladimir recebeu uma saraivada de balas e caiu pesadamente no chão depois
um gemido longo agudo, Atila foi na direção do seu amigo para protegê-lo e
Adriana fez o mesmo, mas não se aproximou muito, mas apontava a arma
que havia tomado de um dos vampiros na direção de centenas deles que
surgiram, e naquele momento notou que qualquer ação deles seria inútil, pois
foram cercados. O enorme lobisomem negro que era Atila, ria atacar
novamente, mas se pôs na frente dele e a enorme fera a encarou furioso
rosnando de forma colérica, mas de alguma forma sabia que ele não a
machucaria lembrou-se do que Sophie havia dito que eles saberiam quem ela
era mesmo se estivessem naquela forma. Desviou os olhos de Atila por
alguns segundos e olhou para Vladimir que devido à quantidade de balas de
prata, voltava lentamente a sua forma humana e a encarava ofegante devido
às dores que sentia. Atila rosnava baixinho e foi diminuindo seu tamanho
devagar até voltar a sua forma humana também. Não conseguiu desgrudar
seus olhos daquela cena, e somente quando Atila já estava na forma humana
foi que se aproximou de Vladimir.

Um homem alto de cabelos longos e avermelhados presos a uma trança, abriu


caminho entre as dezenas de vampiros armados e aproximou-se deles. Usava
uma túnica vermelha até os joelhos que caia por cima de sua calça escura,
suas botas pretas eram reluzentes e ele parecia ser muito limpo e impecável,
tinha os movimentos cuidadosos, como de um felino, suas unhas eram
compridas e seus olhos eram violetas e sua pele muito pálida. Teve uma
postura cuidadosa devido à presença dos dois lobisomens, e aproximou-se
mais apenas quando já estavam rendidos de joelhos e algemados com os
braços para trás. Olhou para a fêmea por um momento longo e silencioso,
depois aproximou-se dela pegando em seu queixo e a analisou - conheço seu
rosto! – disse a ela

Adriana o fitou com uma calma forçada.

- Hum! Sim eu a vi na Tv – Estava tentando ler a mente dela – Qual clã você
pertence? – perguntou calmamente – não consigo distinguir sua raça. É
diferente, como se fosse única – seus olhos brilharam ao dizer aquilo – os
Garous a protegem, muito intrigante. Trouxe alarde para a minha raça - dizia
Continuou em silêncio enquanto era avaliada.

- Responda à pergunta! - Disse um dos guardas que a empurrou com o cano


do seu fuzil.

Atila nessa hora tentou se soltar, mas as algemas eram de prata e queimavam
sua pele. Adriana praticamente implorou com o olhar para ele não fazer nada.
Ouviu Vladimir gemer baixinho, pois sentia dores por causa das balas, depois
voltou seu olhar sombrio para o guarda que recuou um pouco. Depois
encarou o vampiro que parecia o líder – clã Drako! – respondeu entredentes

- Impossível! – disse o vampiro contrariado como se ela mentisse – os Drakos


não criam. Diga a verdade – ele ordenou autoritário.

Ela riu ao ouvir o que ele dissera – só basta saber que pertenço ao clã dos
Drakos, e que pertenço a Morgan – disse. Pode ouvir o burburinho abafado
dos vampiros a sua volta.

– Morgan e o clã Drako jamais fariam tal coisa. E o príncipe não se juntaria a
algo como você – disse desacreditando – mas se dissesse os insuportáveis
garous a tivesse transformado em um deles, eu acreditaria – debochou ao
mesmo tempo em que olhou com desprezo para Atila que o fuzilava com os
olhos - pagará por sua afronta e seus crimes. Assim como manda a lei
decretada pelo rei Valérius. Suas mentiras e seus crimes serão julgados, e
seus comparsas serão destruídos – ele fez um sinal para que os guardas os
levassem. Jogaram-nos num furgão preto e saíram.
Capitulo 21

O julgamento

Separaram os garous dela, colocando-os em celas diferentes uma próxima da


outra. Vladimir ainda estava caído e fazia força ao mesmo tempo em que
gemia para expelir as balas de seu corpo e elas caiam uma depois da outra no
chão. Depois ele respirou ofegante até a dor e o ardor do ferimento passar
enquanto a ferida se fechava. Mesmo assim, ainda ficou ali parado esperando
como se estivesse controlando sua fúria e olhou para Atila. Olhou para
Adriana que andava de um lado para o outro impaciente sem saber o que
fazer, pois as grades eram de prata como as balas, e o lugar era uma prisão
construída na idade média, e não era uma prisão para humanos.

Atila aproximou-se das grades e as analisou, depois olhou para Adriana que
estava na cela de frente a sua - fará um buraco no chão se continuar andando
assim! – disse

Ela olhou para ele aflita, estava se sentindo culpada, pois se não houvesse
causado tantos problemas com sua sede por vingança eles não estariam ali.
Pensou nas milhares de vezes que Felipe lhe disse para que tivesse controle, e
não fizesse besteira e que estaria sempre segura perto deles. Atila nunca a
impedira de fazer nada, somente queria lhe proteger e a advertiu várias vezes
lhe pedindo para que parasse. E agora estavam ali, num lugar estranho com
criaturas que tinham regras que ela sequer conhecia. Arriscou a vida de seus
amigos porque foi desobediente e imprudente e por isso acabaria com os
planos de livrar o mundo de um possível demônio - quem é esse cara que nos
prendeu? E por que estão fazendo isso? – perguntou contrariada, ainda tinha
as mãos presas para trás.

Atila a encarou de forma severa estava furioso por ser preso por vampiros e
sabia muito bem o que acontecia ali - o nome dele é Melked, ele foi capitão
da guarda de Valérius há era atrás. Quando o rei morreu e o seu ilustre
príncipe sumiu, ele deixou o clã dos Drakos criando o próprio clã de
vampiros. Agora ele está agindo como se fosse o próprio rei dos vampiros –
ele havia ficado nu quando voltou a sua forma humana, mas os guardas
arrumaram roupas velhas para ele e Vladimir, pois seriam levados a arena.

- O que faremos agora? – Perguntou olhando em volta verificando se havia


alguma brecha que facilitasse a fuga.

- Você desobedeceu a centenas de regras dos chupadores, e chamou a atenção


desnecessária. – Ele disse com certa ironia

- E o que vai acontecer agora? – ela perguntou novamente

- Não sigo as regras dos chupadores. Mas acredito que tudo nos levará a
morte. Provavelmente você será julgada primeiro, porque ele parece bem
curioso com o que você é – ele fez uma força brusca com os braços e
conseguiu arrebentar as algemas. E olhou para Vladimir que fez o mesmo –
vamos tentar sair daqui de alguma forma. Seja o que for, lutaremos juntos,
certo? – seus olhos pareciam prender o olhar dela por um momento. Sabia
que ela temia mais pela vida deles do que a dela.

-Estão voltando! – disse Vladimir de repente com sua voz gutural enquanto
olhava para o corredor.

Alguns guardas apareceram e abriram a cela de Adriana, que lançou um olhar


para Atila que se agitou enquanto os guardas a arrastavam para fora - Não
ofereça resistência, darei um jeito de sair daqui - ele disse.

Adriana percebeu que era conduzida por um túnel extenso, alto e pouco
iluminado. Estava cercada pelos guardas, a sua frente, a suas costas e mais
dois um de cada lado, e todos armados com armas de grossos calibres. E o
que estava a suas costas a cutucava a todo momento forçando-a a andar mais
rápido. Viu uma claridade no fim do túnel e ouviu uma agitação de várias
vozes. Quando alcançaram no final daquele corredor um enorme portão foi
aberto e quando passaram por ele, sentiu o chão um pouco fofo e olhou para
baixo vendo que estava coberto por areia, depois olhou em volta e descobriu
que estavam dentro de uma arena em ruínas, mas grande o suficiente para
acomodar os vampiros que estavam ali nas arquibancadas.
Não imaginava que existiam tantos aqueles rostos pálidos que não deixavam
dúvida o que eles eram, todos muitos bem vestidos como se estivessem
participando de um grande evento de gala, e gritavam algo que ela não
conseguia entender enquanto gesticulavam furiosos na sua direção. Os
guardas a forçaram ficar de joelhos quando a colocaram no centro da arena
em frente a um camarote alto. Quando tiraram suas algemas olhou para seus
pulsos que estavam em carne viva, teve que sufocar sua raiva porque de nada
adiantaria reagir. Olhou em volta percebendo alguns humanos vestidos como
os góticos que viu pelas ruas de Londres, e muitos tinham marcas nos
pescoços e pulsos. Eles recolhiam dinheiro entre os que estavam ali gritando,
como se fosse algum tipo de aposta. Levantou os olhos para o camarote e
encontrou os olhos do vampiro que era o líder e a encarava, e ele a encarou
por um longo tempo e ela manteve seu olhar firme. Depois ele desviou os
olhos e levantou os braços para a plateia e ficaram em silêncio imediato, daria
até para ouvir o tilintar de uma agulha cair no chão, e aquele vampiro estava
bem orgulhoso por fazê-los calarem a boca, pois sorria cheio de si.

Melked voltou o olhar para a fêmea cativa - Sabe por que está aqui? Seus
crimes chamaram a atenção desnecessária, podendo até quase traze-los ao
nosso meio. Isso não é aceito em nossa comunidade – Referia-se aos
vampiros. Ele falava em voz alta para que todos pudessem ouvir, pois olhava
em volta compartilhando o que falava.

- traze-los a sua comunidade? – Adriana rebateu com deboche – como pode


ser? Se nem sabem da existência de tais criaturas – ela sentiu o lampejo
furioso dos olhos de Melked, e houve um burburinho colérico e abafado que
vinha das arquibancadas.

- Desrespeito! – ele berrou apontando para ela e todos silenciaram – é uma


aberração! – gritou em seguida

Todos a sua volta repetiam suas palavras murmurando - Aberração!


Aberração! –
Adriana olhava em volta analisando cada rosto pálido que a agredia com
aquelas palavras de xingamento, achando aquele circo ridículo digno de uma
seita de filme de terror.

- Será julgada, assim como mandam as leis que se seguem em nosso meio -
dizia com desprezo enquanto a olhava.

Ela o encarou - não pode me julgar, não sou uma de vocês – disse em
protesto.

Melked apenas a olhava impaciente e ignorando o que ela falava continuou-


Eu a condeno a morte por seus crimes bárbaros contra os humanos,
envergonhando o seu criador e o condenando ao mesmo destino que o seu. A
não ser... - ele fez uma pausa quase que dramática virando-se para sua plateia
ansiosa por sangue - ...que alguém aqui presente interceda por vós – isso ele
disse virando-se para ela novamente com uma expressão de satisfação
quando a viu baixar a cabeça de forma impotente, mas foi apenas por um
segundo, pois voltou a encara-lo de maneira severa.

- Suas leis não funcionam nem com vocês vampiros, e ousam me julgar pelo
que fiz e ainda julgar outros que não são da mesma raça que vocês? Você
quer começar uma guerra? – ela berrou colérica ao mesmo tempo em que
voltava o olhar furioso para ele. Mas recebeu um tapa potente no rosto que a
fez virar a cabeça para o outro lado. Havia sido o mesmo guarda que a
cutucava o tempo todo com o fuzil.

Melked ficou em silêncio por um momento como se estivesse engolindo as


palavras ditas por ela – Talvez se não fosse por sua indisciplina, pouparia a
sua insignificância. Porém, as leis devem ser aplicadas como exemplo para
aqueles que talvez partilhem do mesmo pensamento que o seu. E seus amigos
garous, servirão para outra utilidade – ele riu de maneira fria.

Ela arregalou os olhos furiosa em sua direção, mas manteve-se em silêncio.

- Sua convicção com os nossos segredos a deixou segura demais. E isso lhe
torna muito perigosa para ambos os mundos. Sabe demais e recebeu poder
demais, tem que ser extinta! – ele falava num tom ríspido e severo como se
fosse a maior autoridade entre os vampiros.

Ela o encarava como se a qualquer momento fosse saltar para o camarote e


mata-lo. Imaginou como seria bom matar aquele tirano. Melked continuava a
falar, mas suas palavras não entravam em sua mente, o que ele havia dito
sobre o que fazer com Atila e Vladimir a deixou furiosa demais. Mas estava
em desvantagem, pois eles eram em maior número e muito bem armados e
Melked era poderoso, pois era antigo. E ele continuou falando - matou muitos
humanos, deixando os rastros de suas atrocidades. Descuidada! Apenas
matando por prazer.

Ela o interrompeu – Por justiça! – ela berrou

- Silêncio! – disse o guarda que a esbofeteou novamente.

Sentiu o impacto daquele tapa que fez seu ouvido esquerdo zunir, pois foi
onde recebeu o golpe novamente e se enfureceu – Eu vou arrancar suas mãos
quando eu conseguir me libertar – disse entredentes para o seu agressor
quando o encarou com aqueles olhos enegrecidos pela fúria.

O guarda fez menção de bater nela novamente, mas Melked disse algo em
uma língua que ela não entendeu. E o guarda parou a mão no ar e deu um
passo para trás de forma obediente.

- Sua justiça – disse Melked pausadamente - não pode interferir nos


problemas dos humanos. Os problemas deles são somente deles. Quem lhe
criou não lhe disse isso? - ele disse sem esperar a resposta.

- Não sabe nada sobre meu criador – rebateu com irritação.

- Agora tem um criador? – ele disse pensativo – descobriremos quem é esse


criador e ele receberá o mesmo destino que o seu, por não a orientar e a
controlar. Adriana riu ao ouvir aquilo, pois não acreditava nela duvidando do
que lhe dissera antes, dando pouca importância, pois ansiava por um
julgamento.
Ele a fitou curioso - vamos ver se ainda irá rir quando sua sentença for
iniciada! – ele disse irritado com o seu comportamento.
Foi empurrada para mais perto do camarote e quando olhou na direção deles,
viu que havia rostos conhecidos junto a Melked, os mesmos rostos que
estavam no baile. Viu Marguerite com sua cabeleira cheia vermelha e perfeita
que emoldurava seu rosto branco maquiavélico e que a fitava de forma cruel
e os seus gêmeos adestrados e alguns outros também.

Melked agora olhava para ela de forma curiosa, lembrando-se de que um dia
ele mesmo fora julgado da mesma forma. Mas na ocasião ele era inocente e
agora a criatura a sua frente que se parecia com sua intercessora no passado,
era culpada. E não demonstrava culpa ou sequer arrependimento por seus
crimes. Ele olhou em volta e viu centenas de rostos ansiosos que faziam
apostas contra a ré ali presente, e lembrou-se dos mesmos rostos que um dia o
acusavam e ansiavam por sua morte. Voltou o olhar para a acusada
novamente e franziu o cenho endurecendo sua expressão, depois olhou para a
plateia ansiosa.

- Ouso fazer a pergunta que todos anseiam antes de cada sentença. Embora
acredite que não haverá resposta como sempre – fez-se um burburinho entre
os que estavam nas arquibancadas.

Olhou apreensiva em volta e teve que engolir aquilo a seco.

Ele continuou - há alguma criatura aqui presente, que interceda por esta
criatura que é julgada por seus crimes? – ele varria a arena com os olhos e
como sempre o silêncio que já esperava.

Adriana fechou os olhos e pensou em sua família, seus amigos, seus


guardiões, em Morgan. Sentiu por não ter voltado para seus braços e ter sido
imprudente. Sentiu por Atila e Vladimir, que se arriscavam para salvar sua
vida. Podia até imaginar a decepção e a dor nos olhos de Felipe, Diego e
Miguel. Sua imprudência a levou a tudo aquilo, fugiu ensandecida a procura
de vingança e justiça, acabando com os propósitos e esperança que tinham
nela. Podia ouvir os gritos de Atila e Vladimir desesperados, confusos e
cheios de fúria, pois naquele exato momento tentavam se livrar das celas,
mas não conseguiam, pois, as grades de prata pura eram intransponíveis.
Baixou a cabeça, sabia que ninguém iria interceder por ela, sabia que iria
morrer.

- Alguém que queira interceder por essa criatura? – Repetiu Melked mais
uma vez, e depois a plateia começou a gritar e xingar novamente “mate-a,
mate-a, mate-a”.

Ela até se assustou quando ouviu a plateia novamente, e olhou para Melked
com olhos arregalados de puro pânico.

- Eu intercedo! – a voz ecoou por toda a arena de forma que silenciou os


gritos eufóricos.

Adriana pode ver a expressão surpresa de Melked olhando na direção de onde


vinha à voz. E mesmo sem ela olhar para ver quem era, ela saberia,
reconheceria aquela voz imponente em qualquer lugar. Seus olhos encheram-
se com as lágrimas, mas não ousou virar-se para ver seu intercessor.

Ele entrou de forma imponente na arena, e era seguido por seus três aliados
que tinham o mesmo porte altivo e expressões sérias.

- Morgan! – ela disse baixinho para si mesma sem se virar para olha-lo.

Ele parou ao seu lado quando os guardas se afastaram dela. Olhou-a dos pés à
cabeça de forma rápida e seus olhos azuis pararam sob os dela quando essa se
virou lentamente para olhar para ele. Sentiu uma pontada de angustia por vê-
la ali sendo julgada e machucada, mas desviou os olhos endurecendo sua
expressão depois de alguns instantes e voltou-se para Melked que lhe fez uma
reverência a ele.

- Alteza! – dizia Melked com uma breve mesura sendo imitado pelos os
outros presentes no camarote e arquibancada.

Morgan levantou a mão em sinal de protesto - Não vim para receber sua falsa
reverência! – disse com um tom seco demais – É uma era diferente, sem reis
ou príncipes! – continuou com sua voz imponente - Quero somente interceder
por ela como ordena a lei de Valérius... Meu pai – concluiu
Adriana ainda o olhava e depois voltou os olhos para o camarote.

Melked não sabia o que dizer e pensou por um segundo que era o momento
perfeito para dar um fim no último Drako, no entanto, outros ainda o queriam
vivo para a volta de Tyros - Sim! Conhece as regras que vosso pai mesmo
criou - disse-lhe. Mas o fitou com curiosidade - mas se me permite alteza,
que importância teria tal criatura que causou tamanho horror entre os
humanos, colocando nossos segredos em risco? – perguntou.

Morgan o fitou friamente. Felipe, Diego e Miguel mantiveram-se em silêncio


somente observando centenas de rostos que assistiam ao julgamento,
gravando em suas mentes a face de cada inimigo presente naquele circo.

Adriana olhou para trás e os viu. Felipe olhou para ela ao mesmo tempo em
que ela se virou para olha-los, e mesmo com aquela expressão carrancuda ele
estava preocupado, viu aquilo em seus olhos mesmo que não lhe dissesse
nada enquanto a olhava. Mas quando ele desviou os olhos para Melked, seus
olhos brilharam furiosos. Olhou para frente novamente e depois para Morgan
que não a olhou de volta. Sentia-se caindo em um abismo sem fim, para o
qual estava carregando seus amigos.

- Essa criatura a que se refere é a herdeira de Kaimel, e nós somos seus


guardiões – Morgan respondeu num tom mais alterado.

Melked arregalou os olhos confusos em direção à fêmea e depois se virou


para Morgan - como sabe Alteza, não posso mais voltar atrás. Ela cometeu
crimes sendo observada por muitos de nossa raça, e foi vista e filmada por
humanos colocando nossa existência em risco - ele fez uma pausa - sabe que
se interceder por ela, terá que lutar até a morte para livra-la dessa sentença.

Adriana arregalou os olhos para Morgan - Não! – ela gritou em protesto - não
pode, não deve lutar por minha causa - ela disse quase que em desespero para
ele, que se virou para ela com um meio sorriso frio - Por favor! – ela
implorou.

- Não se preocupe! – ele disse baixinho quando passou por ela, indo para o
meio da arena para se posicionar.
Melked fez um gesto para os guardas trazerem o guerreiro que lutaria com
Morgan, minutos depois viu o homem loiro, alto e musculoso sendo
empurrado para a arena. Ele usava apenas uma calça, descalço e com os
braços presos as costas novamente.

Todos se viraram para olha-lo, gritos e xingamentos começaram a ecoar pela


a arena. Melked disfarçou um sorriso, pois teria trocado o capitão da sua
guarda pelo lobisomem de propósito – Este será o seu oponente - disse para
Morgan - que lutem até a morte – sabia que seria uma luta mortal e torcia
para o príncipe morrer.

Adriana se virou para ver quem era e quase caiu quando tentou correr, mas
foi impedida pelos guardas - Não pode fazer isso! - gritou em protesto para
Melked - Não pode! – gritava tentando se livrar dos guardas

Felipe, Miguel e Diego, não poderiam se aproximar dela até o fim por causa
do protocolo das regras. No entanto, seu olhar zangado na direção dos
guardas que a seguravam com força, era de que eles a qualquer momento os
atacariam. E com certeza não se importavam muito com as regras impostas
por Melked.

- Atila! – ela disse olhando para seu amigo como se implorasse para ele não
lutar com Morgan - Não! – ela balbuciou. Sabia que mesmo ele sendo forte,
Morgan era muito mais e talvez não tivesse chance – Não! – sua voz quase
não saiu.
Os guardas que a seguravam mediante os olhares de advertência dos
guardiões a soltaram.

Morgan olhou para ela e não gostou nada da troca de olhares cúmplices entre
ela e Atila. Ela olhou para ele em seguida e correu em sua direção se
desvencilhando dos guardas, que pararam de persegui-la quando Felipe deu
apenas um passo à frente fazendo menção de que os atacaria se continuassem
- Por favor, não faz isso! – ela implorava, ele não a olhou. Era nítido que ele
estava magoado com ela de alguma forma. Fugiu se escondeu e o tempo todo
Atila estava com ela - Olha pra mim! – ela pediu quase chorando.
Ele a encarou

- Não faça isso, por favor! É uma luta até a morte, por nada – implorou a ele
que apenas a olhava com frieza.

- É por você – ele fez uma pausa - Tudo é por você. E não... - ele parou de
falar, como se estivesse sendo calado pelo ciúme e pela raiva que sentia
naquele momento. Desviou os olhos dela – Vamos começar! – ele disse em
voz alta de repente.

- NÃO! – ela gritou enquanto era arrastada para longe deles. Pois devido às
regras teriam que dar continuidade ao confronto, ou ela morreria!

Quando todos se afastavam, Morgan ficou de prontidão com a sua espada.


Soltaram as algemas de Atila, e ele ficou somente analisando o oponente de
forma paciente até começar a tremer e todos seus ossos estalar e foi ele quem
deu a primeira investida com um golpe. Mas Morgan desviou habilmente e
acertou-lhe a lâmina da espada de raspão em sua barriga. Atila rosnou para
ele e Morgan fez o mesmo mostrando suas presas. Um foi de encontro ao
outro de forma violenta e pareciam medir a força que tinham. Atila tentava
prender os braços de Morgan as suas costas, mas Morgan se desvencilhou e
girando o corpo para o lado, acertou-lhe um soco nas costelas e ele urrou.
Afastaram-se e ficaram de prontidão como se a qualquer momento fossem se
atracar novamente.
Mas a raiva que o cigano sentiu era tamanha que não conseguiu controlar sua
transformação e foi muito rápido, seu rosto ganhou outra forma e um focinho
surgiu, rosnava, babava, se esticava e aumentava de tamanho como se a fera
ensandecida quisesse saltar de seu corpo, podiam-se ouvir os estalos de seus
ossos como se estivessem quebrando em várias partes, e quando a fera saltou
já era um monstro com pelos enegrecidos e focinho enorme arreganhando
seus dentes afiados. Aquilo causou pânico entre os que estavam nas
arquibancadas. O enorme lobisomem estufou o peito e rosnou de forma
colérica para a plateia, e em seguida soltou um uivo ensurdecedor e voltou
seus olhos flamejantes para o vampiro. Morgan deu um salto para trás se
desviando daquelas enormes garras e pegando sua espada do chão desferiu
um golpe na perna direita da besta.
Adriana estava petrificada em seu lugar sem conseguir reagir. Parecia que
não iriam acabar com aquele confronto até um deles tombar morto no chão.
Sentiu raiva de si mesma por aquilo.

O enorme lobisomem acertou um golpe com sua garra no peito de Morgan,


que gritou e depois desviou do golpe seguinte. Atila tinha quase três metros
de altura e rosnava furiosamente. Eram compatíveis em força, mas ambos
tinham experiência e aquele confronto poderia durar a noite inteira.
Separaram-se novamente e ficaram dando voltas pela a arena, um espreitando
o outro provavelmente para ter o melhor ângulo para um ataque fatal. Morgan
já sabia o que iria fazer e Atila também.

Adriana teve que pensar rápido e usou toda a sua força para livrar-se das
mãos dos guardas novamente e conseguiu. Saiu derrubando todos que
apareciam na sua frente, pois não queriam e nem deixariam que ela parasse a
luta. Correu até o centro da arena e o guarda que a esbofeteou várias vezes
parou na sua frente e lhe apontou o fuzil carregado de bala de prata, parou e o
encarou furiosa pegando a arma pelo cano e muito rápido a puxou com força
tirando-a de suas mãos com facilidade. O guarda a olhava em choque, pois
não esperava que ela fosse tão rápida e tão forte, mas não tinha tempo para
aquilo, então apenas bateu nele com o fuzil e com muita força de maneira que
ele bateu com tudo na grade de ferro que separava o público das
arquibancadas da arena.

O vampiro e o Lobisomem preparavam-se para se atracar novamente, um


rosnando furioso e incontrolável e o outro certo de que acabaria rápido com
aquilo no próximo ataque. Era pessoal, algo além do confronto real. E no
mesmo segundo que se jogaram um na direção do outro, Adriana se colocou
entre eles.

Atila parou a meros centímetros de seu rosto e rosnou de forma ameaçadora


pra ela, furioso, pois não poderia continuar se ela ficasse ali - NÃO! -
Adriana gritou de forma autoritária.

O lobisomem rosnou furioso depois a farejou e ficou parado na sua frente


ofegando, encarando-a como se não pudesse toca-la e nem a machucar,
mesmo que sentisse vontade de fazer aquilo somente para tira-la de seu
caminho e destruir seu oponente. Inclinou o seu corpo musculoso e cheio de
pelos na sua direção de forma ameaçadora, pois era um gigante diante
daquela mulher. Ofegou mais e mais e rosnava de forma colérica, estava
furioso com sua intromissão, mas não poderia machuca-la porque era o seu
guardião.

- VOCÊ É UM GUARDIÃO! – berrou para o lobisomem. Enquanto impunha


sua força segurando Morgan com a mão espalmada em seu peito para impedi-
lo de prosseguir. E estava sendo muito difícil ficar ali e faze-los parar, pois
eram criaturas extremamente perigosas e poderosas e naquele exato momento
queriam muito se matar. Ela não desviou os olhos do lobisomem ele urrava
de forma colérica enquanto tentava acertar o ar com suas garras e babava
enlouquecido de raiva, e por um momento enquanto o observava achou que
aquele urro era humano.
Ele lentamente cedeu a sua vontade e deu alguns passos para trás se afastando
dela. Voltou lentamente a sua forma humana ficando completamente nu, mas
em nenhum momento desviou os olhos ferozes de Morgan, que ainda o
encarava da mesma forma.

Morgan viu como a besta cedeu à vontade dela, nunca viu um lobisomem
agir daquela maneira somente para não machucar alguém. Olhou lentamente
para Adriana, e também fazia um esforço enorme para se controlar naquele
momento, ela ainda tinha a mão em seu peito tentando mantê-lo longe de
Atila - você é um guardião! – ela dizia com o rosto voltado para ele - meu
guardião – ela lhe disse.
A expressão de Morgan e seus olhos frios e furiosos começaram a se suavizar
quando ela disse aquilo.

– Por favor, não continue com isso – disse baixinho somente para ele ouvir.
Ele a olhou nos olhos e seus olhos enegrecidos pela fúria voltavam ao azul
profundo.

- Não vou a lugar algum! – ele disse ofegante enquanto recobrava a calma.
Tocou no rosto de sua amada suavemente – lugar algum – dizia quase que
sussurrando sem tirar os olhos dela e sua mão pendeu ao lado do corpo em
seguida, pois ainda estava furioso.
Todos que haviam se mantido em silêncio nas arquibancadas e no camarote,
começaram a gritar em protesto e a xingar ao mesmo tempo. Nesse momento
Felipe, Diego e Miguel, se aproximaram rodeando o casal com suas espadas
desembainhadas de forma protetora, inclusive a Atila que ficara confuso com
aquilo. Adriana enfureceu-se com aqueles xingamentos e protestos e
afastando-se de seu grupo indo até o centro da arena deu um grito de (calem a
boca). E todos pararam.

- Por que não descem aqui e lutam vocês mesmos? Já que apreciam tanto a
carnificina – ela os provocou estava irada com tudo aquilo.

- A luta foi interrompida! - gritou uma voz feminina que se afastava


lentamente do camarote, mas a cabeleira vermelha deixou claro quem era a
interlocutora. Aquilo incitou mais xingamentos e protestos de que a mulher
deveria receber a punição já que não houve a luta.

- Isso é ridículo! – Adriana protestou ao se virar na direção deles que a


olhavam com desprezo. Foi em direção ao camarote e ficou de frente a eles -
o que acham que estão fazendo seus parasitas? – ela xingou.

- Deixe isso comigo! – Felipe aproximou-se ficando ao seu lado.

Ela o encarou contrariada, depois baixou os olhos em sinal de respeito. Felipe


olhou para ela de forma paternal. E mesmo que estivesse muito zangado por
seus erros, sentiu-se orgulhoso pela forma que corajosamente se colocou
entre dois guerreiros poderosos. Voltou os olhos frios para o camarote - isso é
realmente ridículo! – disse Felipe de forma calma, mas com firmeza em sua
voz - não faz sentido. A luta deveria ter sido contra um dos seus, e não essa
coisa banalizada que fez. Suas novas regras não se aplicam a esse clã. Incitou
um confronto com o herdeiro dos lobisomens e o herdeiro do trono dos
vampiros, podendo causar uma guerra entre as raças. Você mesmo infringiu
as leis, deveria você então segui-las na sua própria arena – Felipe o encarava
como se estivesse desafiando-o a um duelo.

Melked ficou em silêncio e depois forçou um sorriso enquanto olhava sem


graça a sua volta - ainda continua o mesmo protetor! – disse suavizando a
expressão. Sabia que um confronto com Felipe era a última coisa de que
gostaria – mas devo declinar ao seu pedido.

Felipe o encarou de forma desafiante - Sim! E se for sensato aceitará nossas


condições. Conhece-nos muito bem – respondeu

- Nunca ficaria do lado oposto dos guardiões da aliança! - ele disse isso
olhando para a protegida do clã Drako - e nunca ficaria do lado oposto do
nosso verdadeiro líder – desviou os olhos para Morgan - mas o que fará em
relação a ela?– ele apontava o dedo cadavérico para Adriana - ela tem
dezenas de crimes, talvez até os guerreiros de Davi já estejam a nossa
procura.

Morgan deu um passo à frente - Ela é nosso problema - disse com voz
carregada e autoritária, depois voltou os olhos frios para Adriana. Ela o
encarou um pouco ansiosa mas quando percebeu sua frieza baixou os olhos
decepcionada.

Saíram de lá convencidos de que Melked era comparsa de Willian. Mas como


não tinham como provar suas suspeitas, deixaram para cuidar dele depois.

Adriana voltou em silêncio para casa, lembrando-se da sua tentativa frustrada


de falar com Morgan, quando ele passou por ela parando somente para dizer
que iriam para casa e que tinham assuntos para resolver, depois continuou se
afastando abrindo caminho entre os seus em direção da saída - agora terá que
seguir nossas regras se quiser continuar viva – Lhe disse enquanto se
afastava. Recebeu aquilo como um golpe no peito, mas ficou em silêncio até
chegarem no castelo.
Capitulo 22

O despertar do demônio

A torre estava bem guardada, era a torre de um antigo castelo em Glasgow e


havia seguranças espalhados pelos arredores. Quando Willian entrou no
laboratório olhou para o grande tubo de ensaio, mas ele já estava vazio e não
gostou muito porque não teve um bom pressentimento. Lançou um olhar
cruel para o homem de baixa estatura que o seguia pelo laboratório.

- Onde ele está? – perguntou irritado

-No tanque senhor! – respondeu um pouco trêmulo, pois estava apavorado -


ele precisava se alimentar depois de tanto tempo, mas ainda está fraco – disse
esfregando uma mão na outra de uma forma nervosa. Também pudera, não
estava ali de livre e espontânea vontade, havia sido sequestrado pelos homens
de Willian quando ele o escolheu anos antes.

Willian foi em direção a porta de metal a empurrou entrando no que parecia


um SPA desativado e olhou para a piscina que estava cheia de sangue ao
invés de água, percebendo pela ondulação que havia algo submerso. Seus
guardas o rodearam com suas armas de fogo com grossos calibres e ficaram
esperando aquilo emergir.

Ele emergiu lentamente e o sangue escorria por seu corpo nu enquanto subia
os degraus da piscina. Abriu bem os seus olhos cruéis de repente e era nítida
sua maldade e sede, pois olhava para seus próprios seguidores vampiros
como se fossem comida. Depois desviou seus olhos para Willian e eles eram
ameaçadores de tal forma que fez o vampiro dar alguns passos cautelosos
para trás.
Quando Ravengar chegou à superfície e se pôs a sua frente, olhou tão rápido
para um dos guardas que tremia que nem deu tempo do vampiro amedrontado
correr. Ele o pegou pelo pescoço e o puxou para junto de si, mordeu sua
jugular e sugou todo o seu sangue até ele virar uma coisa seca e enrugada.

Willian acompanhou o que ele fazia somente com os olhos horrorizados, pois
nunca vira um vampiro se alimentar de outro vampiro. Viu jogar o corpo
dentro da piscina e inspirar com força, voltando seu olhar mortal para ele em
seguida.

- Há quanto tempo estou adormecido? – perguntou com uma voz rouca


assustadora.

Willian hesitou no começo e depois respondeu – 1800 anos se passou desde


que provou o néctar de Tyros – respondeu.

Ravengar captou as imagens do sangue daqueles que foram sacrificados para


revive-lo - 1800 anos? – ele repetiu ao mesmo tempo em que repuxava a
cabeça para o lado – e Tyros? – perguntou inclinando-se para frente.

Willian sentiu medo dele e olhou para o chão quando respondeu - Morto! A
guerreira descendente de Kaimel o matou – tentou evitar os olhos mortais que
os encarava.

Ele riu diabólico ao ouvir a notícia da morte de Tyros, e saber que tinha o seu
poder depois de sorver apenas uma pequena quantidade de seu sangue.

Willian não riu, mas parecia muito satisfeito com o resultado de suas
experiências em ressuscitar o seu líder. Mas estava mais satisfeito com o
poder que ele adquirira e devido a isso poderia ter o maior exército de
vampiros do mundo inteiro e dominar o mundo dos humanos, e depois de
descartar seu líder natural. Curvou-se na frente de Ravengar em uma falsa
reverência - Meu senhor, eis que essa é uma era diferente, e o trono ainda o
aguarda vazio – disse-lhe de maneira servil.

Ele o encarou curioso - Morgan está morto? - perguntou analisando seu servo
Willian gaguejou, pois nunca conseguiu exterminar o príncipe - não, meu
senhor, mas.

Ele o interrompeu - então não posso me assentar nele – berrou colérico

- Mas poderá mata-lo e matar todos que fazem parte da aliança, até mesmo a
nova herdeira – respondeu de forma que tentava convence-lo.

Ravengar o olhou com desprezo e passou por ele empurrando-o. Entrou no


laboratório olhando com curiosidade para tudo e todos que via a sua volta -
uma nova herdeira, uma nova herdeira – repetiu pensativo – quero um
exército, mas um exército de puros como o exército de Tyros – apenas sorriu
pensativo enquanto Willian se afastava com seus homens.
Consequências

Eles chegaram no castelo muito rápido e os outros já os aguardavam. Gevy e


Fernan haviam sido levados para segurança do castelo e ficaram sob
supervisão e cuidados de Isaiah, longe daqueles que não eram humanos.

Seguiram direto para o salão de visitas e Adriana sequer pode falar com seus
amigos. Foi levada imediatamente pra lá, pois fariam uma reunião de
emergência mediante os últimos acontecimentos. Ela ficou sentada numa das
poltronas da enorme sala perto da lareira olhando o criptar do fogo enquanto
todos os outros se acomodavam a sua volta. Atila chegou logo depois com
Vladimir e ficaram no canto perto da janela onde estava sua irmã. Felipe e
Miguel ficaram de pé ao lado de Adriana e Diego logo a sua frente ao lado de
Morgan, que parecia ainda não querer lhe dirigir a palavra.

Adriana já estava ficando impaciente olhando para todos aqueles rostos


carrancudos e silenciosos, enquanto esperavam Kaimel. Mas também sabia
que ela era o maior motivo daquela reunião, ficou de pé de repente atraindo
toda a atenção para si - Isso realmente é necessário? – perguntou com certa
irritação – Por que não posso falar com os meus amigos enquanto
esperamos?

Morgan a encarou impaciente - Você realmente não tem noção do que fez,
não é?

O encarou perplexa – Sim, eu sei. Mas isso é necessário? Não podemos


resolver isso logo de uma vez? – ela perguntou novamente com certa
irritação.
Ele riu sem humor algum - Você foi julgada por centenas de nossos reais
inimigos que apostavam na sua morte. Virão atrás de você porque queriam
um motivo para isso e te consideram uma ameaça - ele respondeu tentando se
controlar – Poderia ter evitado tudo isso ao invés de se divertir com seu
amiguinho por ai, fazendo seu joguinho de esconde-esconde, se esquivando
de nós... SEUS GUARDIÕES - berrou para ela – E enquanto ficava por ai
agindo sem qualquer controle, eles a observavam e colhiam informações.
Agora sabem que você ainda não tem a espada - ele parou de falar e desviou
o olhos dela, emanava raiva e ciúmes.

Ficou sem reação por alguns segundos antes de responder, depois de ver a
reação furiosa de Morgan e ter a certeza de que ele estava mais com ciúmes
do que preocupado com a situação – ok! Mas não estava me divertindo -
disse com calma - E Atila estava comigo apenas para me proteger. Não houve
nada, além disso – ela olhou em volta e todos olhavam para ela como se
esperassem uma justificativa melhor que aquela – Eu agi por impulso, estava
obcecada em castigar cada pedófilo que encontrasse, estava descontrolada e
com raiva, mas Atila só tentou me manter segura e até tentou me parar, se
quiserem culpar alguém... eu sou a única culpada, não ele - se alterou um
pouco e foi na direção de Morgan de forma contrariada.

Ele voltou a encara-la de forma dura - Então por que fugiu e se escondeu?
Com certeza ele te ajudou a fazer isso – disse desconfiado

Ele estava irredutível naquele momento e respirou fundo antes de responder,


tentando manter a calma - Porque eu sabia que vocês iriam me impedir de
fazer o que eu queria fazer – baixou os olhos como se estivesse com
vergonha – Nada poderia me fazer mudar de idéia naquele momento, eu
estava experimentando algo totalmente novo, e queria usar tudo pra destruir
cada um daqueles monstros. Uma coisa levou a outra e perdi o controle da
situação – respirou fundo com pesar.

Morgan olhava para ela contendo a vontade de toca-la e suavizou sua


expressão zangada, mas não a tocou e olhou de relance para Atila que
observava a cena com cara de poucos amigos.

Felipe os observava assim como todos faziam. Sabia que eles se entenderiam
de alguma forma, porque se amavam. Mesmo que Morgan estivesse
convencido de que ela tinha algo com Atila, porque estava cego de ciúmes.
Vampiros sempre foram criaturas totalmente possessivas, passionais e
territoriais quando trata-se de seu par, mas lobisomens eram mais e aquele em
especial dava sinais claros de que não desistiria de Adriana. Já podia enxergar
que Atila seria um enorme problema para o seu clã.

Morgan tentava pensar racionalmente e não se levar por seus ciúmes, pois via
como Atila olhava para Adriana. Voltou-se para ela um pouco mais calmo e a
olhou um longo tempo antes de falar – Eu entendo. Entendo que tudo o que
você passou desencadeou esse ódio com o que te leva lembrar-se do seu
passado sombrio. E que mata-los te da certo alivio, como se estivesse
limpando o mundo e protegendo as crianças humanas. Mas sim, tudo tomou
outro rumo devido a sua imprudência e quase foi morta nas mãos daqueles
assassinos – Ele inspirou e ficou em silêncio por um segundo e depois disse -
Se fosse Willian que a tivesse encontrado estaria morta agora, porque nunca
teríamos chance de encontrá-la a tempo – ele olhou na direção de Atila como
se quisesse mata-lo - E você faz exatamente o que ela quer não o que tem que
ser feito. Era seu dever protegê-la mesmo que fosse dela mesma - acusou

Atila o encarou, havia vestido as roupas que Sophie havia levado para ele e
Vladimir - Minha missão é apenas protege-la! – retrucou de onde estava com
um tom de ironia - Não me importo se ela quer matar vampiros ou humanos,
ela faz isso muito bem. E ela não é um fantoche para ser manipulado por
você ou por eles – deu um passo à frente enquanto o encarava agora com uma
expressão sombria.

Morgan ainda o encarava de forma severa - Pela segunda vez, a vida dela
quase se foi por sua culpa! – acusou novamente

Atila ficou sobressaltado e deu outro passo à frente contrariado com a


acusação - como ousa me dizer isso, chupador? – disse entredentes

- Tem sorte dela se pôr entre nós dois! – Morgan rebateu dando um passo à
frente também

Atila se aproximou mais - Não tenho medo de você e ninguém da sua raça de
chupadores! – disse desafiador – Sou um Argus, o primeiro nascido da minha
raça e nunca temi e nem temerei a sua raça – cuspiu no chão quando terminou
de falar.

- Mas deveria - disse Felipe que se pôs ao lado de Morgan. Diego e Miguel o
imitaram – Pois morreria facilmente naquela arena, se Adriana não
interferisse - concluiu.

Vladimir e Sophie se colocaram ao lado de Atila quando Felipe, Diego e


Miguel ficaram ao lado de Morgan. Se viessem a se enfrentar ali naquela
sala, com certeza seria um confronto terrível, e Adriana novamente se viu no
meio deles. Mas ela não conseguiria detê-los, pensou - HEY! – gritou –
Estamos do mesmo lado certo? – olhava abismada para eles enquanto os
empurrava para se afastarem uns dos outros - Se não podemos ficar todos do
mesmo lado, então vamos todos nos separar e seguir por caminhos diferentes.
Estou cheia dessa rixa ridícula – todos olharam para ela, mas pareciam que
não a enxergavam, pois se estudavam silenciosamente como fossem se
atracar a qualquer momento.

Bufou quando percebeu que ainda se mediam - Qual o problema de vocês? –


ela dizia – se esquecem de que não tenho nada a ver com o passado de vocês
e que nosso problema ainda está lá fora? – ela parou olhou para o chão e pôs
as mãos na cintura de maneira impaciente - O problema é que vocês pensam
demais no passado, me comparam demais com Helena e eu não sou um
maldito de um fantasma - ela olhou para Atila e depois para Morgan - Parem
de tentar encontrar algo dela em mim. Mas que merda! – ela parou o olhar em
Morgan que a fitava com seus olhos escurecidos pela raiva - Eu não sou
Helena! - ela disse apontando o dedo para ele.

Morgan a encarou muito sério - Não disse que era! – ele respondeu de
repente, mas sua voz parecia sombria demais naquele momento - Não se trata
dela e sim de você. Atila foi imprudente, deixando você fazer o que queria
mesmo sabendo que atraia a atenção dos nosso inimigos. Você não conhecia
as regras e nem os inimigos, mas ele sabia de tudo isso - ele ia se aproximar
dela, mas ela se afastou e ele parou.

- Ele me protegeu Morgan! Foi encarcerado por minha causa, Vlad quase
morreu por minha causa. E acho que ninguém me protegeria melhor do que
ele naquele momento, porque ele fez isso dia e noite - ela explicava
calmamente - Acontece que a culpa toda foi minha! Eu o convenci a fazer e
ele apenas concordou por ser um amigo fiel. E acho que eu precisava passar
por isso, pois vocês ocultam coisas demais - explicou olhando para ele como
se implorasse que a entendesse, mas não o deixou se aproximar.

Morgan apenas ficou parado olhando com aquela expressão carrancuda e


sombria, como se não acreditasse em uma só palavra do que ela dizia. Olhou
para Atila que o encarou como uma criança birrenta que provocava a outra
com o olhar. Desviou a atenção do cigano e voltou o olhar para Adriana
novamente não entendia porque ela protegia tanto Atila talvez a idéia de
parentesco entre eles, mas ele sem dúvida havia percebido o efeito que tinha
sobre ela. Mas Adriana era dele e não iria deixar Atila corrompe-la, nem
muito menos tentar toma-la - Eu disse que se arrependeria se me desse
trabalho, e eu falei sério. Sou responsável por este clã e se eu não estivesse
aqui, com certeza Felipe pagaria com a vida por sua causa. Eu estou tentando
ser razoável e entender o seu lado. Mas... – sufocou sua raiva mais uma vez e
passou a mão pelos cabelos.

Adriana olhou para ele depois baixou a cabeça percebendo o quanto seria
difícil convence-lo da verdade, viu o quanto estava enciumado. Parecia que
nem se importava mais com o fato dela ter fugido e matado vários humanos e
depois ter sido capturada. Ficou em silêncio olhando para suas botas e nem
ousou olhar para os lados naquele momento.

Morgan voltou os olhos para ela novamente – As regras existem por isso.
Suas ações refletem em todos os outros que fazem parte desse clã, como
posso pedir para que fique ao meu lado se age com imprudência? – ele
aproximou-se dela de repente e segurou seu rosto com as duas mãos, e a
forçou olhar em seus olhos – Olha pra mim. Tem noção da angustia que me
fez passar? – Aproximou-se mais e inalou o perfume de seus cabelos, pegou
em suas mãos e as beijou.

Ela pensou por um momento que nunca mais ele tocaria nela, depois de toda
aquela confusão. E pensar naquilo fez seu chão estremecer um pouco, não
gostou daquela sensação de perda e da possibilidade de ele não querer mais
ficar com ela. Não imaginou que suas ações causassem tanto impacto na vida
dos guardiões, não imaginou que eles seriam responsabilizados por ela ter
matado humanos. E quando ele lhe disse que era imprudente para ficar ao seu
lado, sentiu-se um pouco abalada e seu coração estava prestes a se partir
naquele momento. Mas então ele se aproximou e parou na sua frente esperou
ser rechaçada de vez, mas não foi o que ele fez. Ele tomou seu rosto entre
suas mãos – eu... eu não fazia idéia de que ...- não conseguia dizer –
perdoem-me! – disse

Morgan a abraçou ternamente e depois a beijou suavemente – Por favor, não


fuja mais! – Seu sorriso era preocupado e ela devolveu outro aliviado, mas
não respondeu aquilo.

Felipe aproximou-se deles e deu um suspiro pesado - Acho que agora


podemos prosseguir... mas ainda terá que se acertar comigo - disse encarando
Adriana muito sério, mas seus olhos transpareciam o quanto estava aliviado
por vê-la ali novamente.

Ela o encarou preocupada por um segundo, porque ele não era como Morgan
e era muito mais inflexível. E estranhamente tinha uma obediência
involuntária em relação a ele mesmo antes de tomar seu sangue, e não estava
sabendo lidar com aquilo – Perdoe-me! Não deveria ter feito uma série de
coisas idiotas que os colocou em risco... eu jamais o teria feito se soubesse..-
suspirou e olhou para todos que estavam presentes e parou os olhos em Diego
e Miguel - Desculpa por roubar seu carro – disse para Diego que deu um
sorriso maroto e aquiesceu com a cabeça e Miguel lhe lançou um sorriso
cúmplice.

Felipe tentou disfarçar a satisfação que sentia em vê-la fora de perigo - depois
conversamos mais sobre isso! – ele disse – temos outro assunto de maior
urgência que não pode mais esperar, a espada – sentiu a inquietação dos
guardiões presentes e a tensão somente aumentou quando mencionou a
espada.
Adriana não teve a mesma reação que os guardiões, porque não fazia ideia do
risco que corria - Talvez você não possa mais toca-la – ele disse.

- Por quê? – ela perguntou um tanto confusa


- Foi atacada por um lobisomem, lembra? Kaimel não pode usar a espada por
causa da maldição e você foi mordida – ele respondeu

Ela parecia refletir sobre o que ele acabara de dizer – mas não me
transformei! Não acredito que tenha a maldição de Kaimel. Eu posso tentar
toca-la - Disse confiante

- De jeito nenhum! Se tocar naquela espada ela irá matá-la – Morgan disse
sobressaltado.

Olhou para ele e depois para Felipe sem entender o medo que sentiam – Eu
sei que não estou amaldiçoada nem nada disso, então acho que posso toca-la
– disse um pouco contrariada.

- Não! – Felipe disse inconformado com sua teimosia - você pode lutar de
outra forma - tentava convence-la.

Tentou não se irritar com aquilo e respirou fundo – Desde que cheguei aqui,
fui seguida e ameaçada, tive o ombro deslocado, fui atacada por um
lobisomem, morri e voltei, fui presa e condenada à morte. Tudo por causa
dessa bendita espada a qual sempre me disseram que era minha
responsabilidade. Agora eu quero essa responsabilidade e me dizem que não
posso toca-la – disse impaciente.

Morgan riu irritado – Por que você é tão teimosa? Não entende – disse
contrariado.

- Entendo que precisam ter mais fé. Não podem se basear em apenas
acontecimentos passados – Ela rebateu indignada.

- É exatamente pelos acontecimentos do passado que sabemos muito bem o


que pode acontecer hoje. Anjos geralmente não mudam de opinião quando
trata-se de maldições – Morgan disse impaciente

- Maldições são diferentes de mordidas. Pelo que me lembro da história de


Kaimel, ele foi amaldiçoado até a sua quarta geração. Mordidos não entram
na conta, se pensarmos racionalmente. Tanto que depois da quarta geração
nenhum nascido nasceu com a mesma condição, por isso estou bem aqui
nesse momento. Mordidos tornam-se por causa do veneno na mordida e não
por uma maldição, por este motivo a maioria deles morre – disso aquilo
muito rápido – Então nesse caso, tocarei na espada. E sinceramente essa
superproteção me faz parecer um bibelô de vidro, é sufocante e me deixa
maluca. Por favor, parem com isso – concluiu respirando fundo em seguida.

Miguel olhava para o rosto do irmão que ficou furioso com a atitude dela e
depois olhou para Felipe que tinha quase a mesma expressão. Quase riu! Se o
assunto não fosse tão sério, iria rir. Ela causava reações devastadoras em
todos eles – Acho que eles têm razão, cherié! – ele disse

Adriana encarou o amigo – Não podem saber se isso irá acontecer ou não! Eu
não sou de vidro – rebateu

Ele disfarçou o sorriso - Claro que não! – Miguel concordou – mas e se


acontecer? – Perguntou. Mas não houve resposta imediata, ela parecia pensar
sobre o assunto.

- É a minha escolha – Adriana disse de repente após refletir por um segundo


enquanto o encarava – A decisão sempre foi minha.

Felipe bufou contrariado e disse algo na língua eslava que os vampiros


costumavam falar, e carregou no sotaque, pois estava irritado enquanto falava
e olhava para Morgan e depois para os outros amigos, e pela primeira vez ela
entendeu o que ele dizia.

“criatura teimosa! Juro por Deus que vou agora encontrar Kaimel e impedi-
lo de trazer a espada”.

Adriana fingiu não entender e viu Atila e Vladimir trocar risinhos


desdenhosos e Sophie encarando-a como se concordasse com Felipe. Olhou
de volta para Morgan e ele se aproximou – Escuta... – ele dizia em voz baixa
para somente ela ouvir, e ela de braços cruzados olhou para ele impaciente -...
não vou te impedir de fazer o que você quer, mas isso é perigoso e gostaria
que não o fizesse – disse esperando que ela concordasse com ele.
Sabia o que ele queria, mas era o seu destino e não era ele quem decidia.
Lamentou por ter que dizer aquilo – Eu sei que está preocupado, mas tenho
que arriscar. Nunca vamos saber se eu não tentar, é essa a espada que pode
matar Ravengar se ele estiver acordado – ela respondeu convencida de que
nada aconteceria a ela.

Ele bufou contrariado - Será que você não entende mulher? Você quer ir
contra tudo que eu peço – explodiu porque sabia que não a convenceria.

Não gostou do tom e da explosão e o encarou um pouco irritada – Sou eu


quem decide, e não você – rebateu.

Morgan a encarou em silêncio por alguns segundos, pois não esperava aquela
resposta. Depois disse - Depois que tudo isso passar, poderá fazer o que
quiser - o olhar dele parecia um pouco decepcionado com o que ouvira da
boca dela. O que fez a expressão dela mudar e quase se arrepender do que
dissera subitamente - Enquanto isso... - ele continuou - vou te proteger.
Afinal, é a minha missão assim como a de todos os outros, nos
comprometemos a isso - ele a olhava nos olhos estudando sua reação e
olhando em volta continuou - Ficaremos todos juntos, já que somos mais
fortes assim - usou as próprias palavras que ela usara no dia em que reataram
a aliança.

Ela o olhava sem saber o que dizer, sentiu até uma pontada de
arrependimento, pois havia dado a impressão de que não se importava.
Sentiu-se um lixo de repente.

Morgan estava extremamente preocupado com ela e um pouco decepcionado,


pois não levou o seu pedido em consideração, mas ele ficaria ao seu lado até
o fim. Queria dizer que sentia muito por ter dito aquilo, mas tinha que ser
firme em sua decisão porque sabia que ele faria qualquer coisa para protegê-
la. Ficou em silêncio e o seu silêncio pareceu contaminar a todos, pois todos
estavam silenciosos olhando para ela - ok! – disse encarando Morgan que
ainda a olhava como se não entendesse sua atitude, em resposta ele desviou o
olhar aborrecido e se afastou.
Só pode ficar olhando-o se afastar e sair do salão. Olhou para os lados um
tanto perturbada e viu Atila sorrir de forma maliciosa, como se acabasse de
ganhar uma aposta e Vladimir cochichar no ouvido dele e depois saírem do
salão rindo. Sophie a olhava de forma compreensiva, era a única que a olhava
daquela forma. Pois Miguel, Diego e Felipe pareciam muito zangados com
ela - Ouça o que eles têm a lhe dizer, e dessa vez apenas ouça – Sophie disse
quando se aproximou antes de sair do salão.

Diego aproximou-se de Adriana - Obrigada cigana! – disse lançando um


olhar cheio de interesse para Sophie e ela olhou para trás e sorriu para ele
antes de sair.

Adriana olhou sem graça para ele – Quanto estardalhaço – disse olhando para
os próprios pés, não conseguia mais encarar seus guardiões.

Diego a olhava como se a compreendesse - é, fez sim! - ele concordou e


depois riu -sabemos que não tem culpa de muitas coisas porque não lhe foi
ensinado a tempo. Mas se tentar pegar a espada pode morrer e isso está
acabando com ele - ele dizia referindo-se a Morgan.

Ela sentou-se em cima da mesa e ele sentou-se ao seu lado. Encarou Diego
novamente – Eu tenho que tentar. É a única coisa que mata o demônio. Vocês
me disseram isso, tem que acreditar em mim – disse suspirando.

- Entendemos que tenha fé nisso, também a temos de certa forma. Mas se


você morrer acaba com a fé de todos, é a nossa última esperança – disse
Miguel compartilhando da conversa e parecia um pouco angustiado –
Morgan principalmente, creio que ele não ficaria muito tempo nesse mundo
se você se for. É meio extremista, mas somos assim. Já passamos por muitos
e muitos séculos intactos por causa dos nossos cuidados arcaicos – ele ficou
em silêncio por um momento antes de continuar e encontrou os olhos dela.
Ele sorriu.

Adriana olhou para Felipe que estava de pé ao lado da janela e olhava para
ela – Eu prezo tudo o que fizeram por mim e ainda fazem... eu não suportaria
se acontecesse algo a vocês. Deram-me algo que eu nunca imaginei que
pudessem dar... amor, lealdade e amizade. Mas não curto quando tomam a
decisões por mim ou tentam me manipular, eu sei dos riscos – ela parou.

Miguel entendia o que ela sentia porque os sentimentos humanos dela


estavam à flor da pele, e ela levava o livre arbítrio muito a sério - Esse clã
sempre foi assim, desde o reinado de Valérius e que foi passado para meu
irmão, seu filho de sangue – Não queria convence-la a não tocar na espada,
mas queria fazer com que entendesse as atitudes cuidadosa que tinham em
relação a ela, principalmente Morgan - Todo esse cuidado, toda a atenção que
você julga deixa-la sufocada, é porque além dele ama-la, também quer que
você faça parte disso. Assim como nós. Somos leais a ele, e ele a nós e todos
nós a você, e gostaríamos que fosse leal a nós como é para com seus amigos
humanos, entende? - Miguel a olhava e viu que ela desviou o olhar e sabia
que aquilo a tocou de certa forma.

Diego olhou de relance para Felipe que se mantinha em silencio, achou


curioso ele não tentar repreende-la naquele momento - é compreensível que
tenha mudado – disse voltando-se para Adriana pegando seu queixo e virando
seu rosto para que pudesse fita-lo - embora tenhamos uma grande parcela de
culpa em sua mudança, e... Em sua personalidade – ele fez uma careta que a
fez sorrir – Mas você já faz parte de tudo isso minha pequena, faz parte desse
clã também e queremos isso. E se exageramos é porque nossa natureza nos
impede de sermos diferentes com quem amamos e protegemos - Ele fez uma
pausa e pegava em suas mãos prendendo-as entre as suas - Mas não podemos
força-la minha querida Adriana, você tem que querer participar disto também.
Ninguém a forçaria a ficar, muito menos Morgan por mais que ele deseje isso
- ele ficou olhando para ela vendo sua reação inquieta.

Felipe ficou em silêncio somente ouvindo e pode sentir que ela havia
entendido, e refletia sobre aquilo. Então viu ela pegar as mãos de Diego e as
beijar uma e depois a outra, mas sem dizer nada. Depois se afastou dele e foi
na sua direção parando na sua frente encarando-o em silêncio por alguns
segundos. Entendeu sua reação, porque sabia que ela tinha dificuldade em
lidar com sua autoridade desde o começo, mas ela o surpreendeu pegando sua
mão direita e beijando-a. Não esperava por aquilo e quando ela o olhou com
carinho, sentiu um nó entalar na garganta.
E antes mesmo que ele pudesse ter alguma reação, ela se afastou e se
aproximou de Miguel lhe dando um beijo no rosto – Obrigada! – disse a eles
e afastou-se com certeza tinha ido atrás de Morgan. Não conseguiu evitar
sorrir levemente e olhou para seus dois amigos, mas somente Diego sorria
suavemente de forma pensativa e Miguel estava sério e tenso, mas depois o
encarou e deu um sorriso torto e lhe perguntou – Uísque? – riu e aceitou o
convite do amigo.

Virou-se quando a porta abriu e ela entrou a olhou por alguns segundos e
depois desviou o olhar para a camiseta que estava em suas mãos, a vestiu e
olhou muito sério para ela novamente. Ela o fitava apreensiva, pois não sabia
exatamente o que dizer para ele, mas ficou esperando em silêncio.

Deu um suspiro pesado – Se continuar me olhando assim, não vou conseguir


dizer o que vim dizer – Adriana disse sem graça.

Ele parecia mais zangado que antes, mas manteve-se em silêncio e cruzou os
braços e a encarou. E ela ficou mais tensa que antes e olhou em volta - Ta! –
ela fez e entrou completamente no quarto dele e olhou em volta novamente,
embora já conhecesse aquele quarto. Ficou séria e virou-se para ele
novamente – Eu não quero parecer uma idiota e fingir que não me importo
com a sua preocupação e opinião, porque eu aprecio – assumiu.

Ele a mediu e sua expressão começou a suavizar - hum! – foi o que ele fez

Ela continuou - eu. eu..- ela se esforçava – não devia ter dito aquilo, sei o
quanto são cuidadosos e querem me proteger - Se aproximou e ele ainda a
olhava em silêncio – Mas ainda não estou acostumada com pessoas decidindo
coisas por mim, não gosto que tentem me manipular e odeio receber ordens –
suspirou – Não sei até onde vai levar tudo isso, se vou morrer ou não. Mas eu
preciso tentar eu sinto que preciso, é mais forte do que eu. Eu me importo e
aprecio o tudo o que fazem por mim. Só sei que... - ela fez outra pausa, mas o
olhou nos olhos – o que estou tentando dizer é, nem eu sei o que estou
tentando dizer. Mas esperei tanto por alguém como você, e agora que
finalmente você está aqui... eu tenho medo disso, mas eu quero...entende? Eu
o amo e já lhe disse isso – Olhou para ele esperando qualquer reação.

Morgan a olhava, mas não se aproximou – É muito confuso! – disse antes de


dar um sorriso torto contido, mas depois endureceu a expressão novamente
quase que a deixando em pânico - E você realmente quer isso? – ele
perguntou sério

- Quero o que? – ela perguntou confusa

- Você me quer por perto? Minha proteção sufocante que te deixa louca? –
ele fingia estar zangado somente para tortura-la.

Ela pensou no quanto ele não esquecia as coisas que ela dizia - Sim! - a voz
dela saiu quase aguda, devido à urgência da resposta.

Ele ainda disfarçava o sorriso - Você foge com o cigano, se esconde como se
quisesse nos manter longe e queria. Agora volta dizendo que vai fazer o que
bem entender, mesmo sabendo da nossa preocupação por você, e depois de
tudo o que passamos... - Ele começou a andar a sua volta bem devagar -
Agora me quer, porque me ama. E depois? Vai fugir novamente? – perguntou
dando um sorriso quando parou as suas costas e ela não viu.

Ela baixou a cabeça sentindo-se impotente - Eu não fugi com Atila, quer
dizer, fugi, mas não pra ficar com ele... e ele nunca me tocou. Eu o induzi a
me seguir. Fui irresponsável, Morgan, eu sei – Parou de falar, pois ele a
virava para ficasse de frente pra ele.

- Foi mesmo. Viu o que aconteceu naquela arena, e afirmo que ainda não viu
nada – disse – mas apenas me diga – a fez olhar em seus olhos azuis
penetrantes e deu um sorriso sedutor.

- O que? – ela perguntou um pouco confusa

- Diga que me ama e será somente minha. Minha e de nenhum outro - ele
ordenou segurando seus ombros – É sua última chance de se decidir.

Ela sorriu quando ouviu aquilo – Não vou dizer isso! – e viu arquear a
sobrancelha direita com impaciência e riu – Eu o amo e serei leal a você. E
ninguém terá meu coração, porque ele é todo seu - disse olhando nos olhos
dele de forma apaixonada.
Ele segurou seu rosto com as duas mãos e a beijou apaixonadamente. E
amaram-se se entregando um ao outro loucamente.

Abraçados na cama ficaram em silêncio, ouvia o bater calmo do coração de


sua amada e sentia o calor do corpo dela emaranhado ao seu. Nunca a
perderia como perdeu Helena, pensava. Embora não tivesse como comparar
as duas porque eram extremamente diferentes e nunca teve o coração de
Helena, ela somente despertou sua primeira paixão que chegou e se foi como
um furacão que deixa tudo destruído. Adriana era o molde perfeito para ele, o
amor de sua existência a essência que trouxe vida ao seu coração destruído e
não suportaria perde-la por nada, e ela o amava.
Sentiu quando ela deu um suspiro silencioso, enquanto estava aninhada em
seu peito envolta por seus braços. Olhou para ela - O que foi meu amor? –
perguntou com suavidade.

Ela virou a cabeça para ele - vamos selar isso? – ela disse de repente - você
será só meu também – sentou-se.

A olhou sem entender o que ela queria dizer, mas sentou-se também recostou
na cama e continuou olhando de forma curiosa para ela. Mas quando ela
afastou o cabelo do pescoço e o fitou de forma sugestiva, entendeu de
imediato o que ela queria e a olhou mais confuso que antes.

Ela sorriu suavemente - Eu tenho o seu sangue! Agora quero que tenha o meu
novamente. E se por ventura a morte me levar, terá uma parte de mim com
você - ela disse suavemente.

Ele franziu o cenho demonstrando sua perturbação com as palavras


repentinas dela - Não! – ele protestou e a puxou com urgência e segurou seu
rosto com as duas mãos e olhava em seus olhos - Não diga isso! Não diga que
irá morrer – repetiu aquilo de forma angustiada - Você não vai morrer – disse
lhe dando um beijo rápido nos lábios.

Adriana entendeu sua angustia, mas mesmo assim insistiu - Faça! – ela disse
pegando sua mão, e passando por seu seio e depois alcançando seu pescoço -
mesmo assim eu quero, por favor! – ela implorou com os olhos cheio de
desejo. Sabia que aquilo o deixava excitado e que lhe daria um prazer
enorme, afinal era sangue. Seu sangue.

Morgan a olhava incrédulo, depois a beijou e acariciou seu pescoço e o roçou


com os lábios - Sabe que não vou resistir. Eu a quero por inteiro novamente,
mas não precisa fazer isso – ele sussurrava enquanto a beijava.

- Já fez isso uma vez, mas agora é diferente e eu quero que faça – ela
sussurrou excitada - faça! - ela disse

Ele a forçou encara-lo em silêncio novamente

Olhou nos seus olhos intensos - faça! – sussurrou novamente

Ele a puxou de repente se encaixando entre suas pernas, a segurou com


firmeza passando o braço em volta a sua cintura e a outra mão a segurava
pela nuca. Ofegou excitado! Seus olhos brilharam e suas presas despontaram
afiadas. Ele hesitou, mas depois o fez, seguindo seu instinto e o desejo de sua
amada. Sentiu-a prender a respiração e depois gemer quando sentiu suas
presas. Sorveu um pouco, o suficiente para deixa-lo tonto devido à mistura
que tinha nele e afastou-se por um instante, mas ofegou de desejo quando ela
o puxou de volta e gemeu pedindo para continuar. E fez novamente,
deitando-a na cama penetrando-a novamente ao mesmo tempo em que sorvia
seu sangue. Depois parou de beber, e continuou arremetendo de forma
frenética e cheia de desejo. Ela o puxava mais e mais até que atingiram o
orgasmo juntos.

Nunca tinha experimentado algo tão bom, em toda sua vida. Sexo com aquele
vampiro era sempre espetacular e quando ele a mordia sentia um prazer
inexplicável, adorou aquilo. Era o tesão misturado com a paixão, a
necessidade de possuir, de se entregar e ser possuída e de se fazer uma só
com o amor de sua vida. E embora já houvessem feito aquilo antes, sempre
queria novamente e novamente e sempre era diferente.

Morgan sentia-se extasiado por aquela mulher, o laço que tinha com ela era
diferente, pois a amava cada vez mais, adorava cada centímetro do seu corpo
e sua existência. E isso fez com que sentisse um medo terrível de perdê-la e
ficou ali olhando-a adormecida em seus braços por um longo tempo depois
sussurrou em seu ouvido - Não se esqueça de nosso trato! Eu a amo e a
adoro, meu amor - disse mesmo sabendo que ela dormia e se afastou devagar
para não a acorda-la.
Capitulo 23

A herança de Kaimel

Ele vinha devagar e seus olhos eram furiosos e sua boca estava arreganhada
com dentes que pareciam pertencer a arcada de um tubarão, e aquilo se
desmanchava em um sorriso bestial e malicioso, como alguém que queria
realmente lhe fazer mal. Sentiu um frio percorrer sua espinha pois ele saia de
dentro de uma piscina que era cheia de sangue e não água, e estava repleta de
corpos boiando a sua volta. Reconheceu os corpos de seus guardiões quando
ele deu uma gargalhada metálica. De repente ele ficou muito próximo e disse
- estou te vendo! - esticou seu braço ossudo com dedos compridos em forma
de garras afiadas na sua direção. Ela gritou!

Estava suando muito e ofegava quando acordou assustada. Sentou-se na cama


e a tateou como se estivesse procurando por algo real, procurando por seu
amante na cama, mas ele não estava ali. Aquele pesadelo havia sido muito
real, como se aquela coisa estivesse ali observando-a de perto. Pulou da cama
correu para o banheiro e lavou o rosto, ficou olhando seu reflexo no espelho e
pensando nos corpos boiando em uma piscina de sangue. Só de pensar
naquilo sentiu calafrios e sacudiu a cabeça na tentativa de voltar à realidade e
parar de sentir medo.
Depois de um tempo se encarando no espelho do banheiro, Adriana entrou no
chuveiro e tomou um banho rápido, vestiu roupas limpas e foi atrás de seus
amigos humanos antes que fosse tarde demais. Desde que chegara não tinha
ido falar com eles ainda, e provavelmente estavam acordados esperando por
alguma notícia sua.

Fernan e Gevy estavam em um quarto com duas camas, separados da ala


onde estavam os outros que não eram humanos. Gevy estava entretida com
alguma coisa na internet sentada na cama com o notebook no colo, enquanto
Fernan estava olhando pela janela com o olhar distante e preocupado.
Adriana entrou no quarto de forma suave e ficou parada na porta até eles
perceberem sua presença.
Fernan foi o primeiro a perceber sua presença e virou-se devagar para olha-la.
Já sabia de tudo o que tinha acontecido e no que sua amiga havia se tornado,
Gevy olhou em seguida e deixou o notebook de lado. Os dois ficaram
olhando de forma apreensiva para ela e o que ela percebeu foi medo em seus
amigos. Entrou devagar ao mesmo tempo em que deu um sorriso bobo e sem
graça para eles.

- Eu não seria capaz de lhes fazer mal! - disse olhando para um e depois para
o outro.

Fernan apenas suspirou e Gevy ficou de pé fazendo menção de se aproximar,


mas depois parou e conteve a ansiedade como se o próprio medo lhe
impedisse de continuar.

- é uma coisa extraordinária! - disse Fernan com a voz embargada.

Adriana o encarou sem saber o que dizer e parou no meio do quarto, com
receio de assusta-los se desse mais um passo - Isaiah lhes contou tudo eu
presumo! - ela disse meio sem jeito e olhou para sua amiga que aquiesceu
com a cabeça - realmente é algo extraordinário! No começo eu pirei, mas
agora estou bem, consigo controlar – caminhou até janela e observou a
movimentação do lado de fora do castelo, vaga-lumes, o cantar das cigarras e
a escuridão. Olhou em seguida para seu amigo que ainda olhava para ela de
forma curiosa.

- O que vai acontecer agora? - ele perguntou ainda sem se aproximar

Adriana o fitou séria - não sei! Tem muita coisa acontecendo ao mesmo
tempo. Eu só posso dizer que eu preciso que fiquem aqui dentro esperando.
Não saiam desse quarto ou do castelo, não é mais seguro. Perdoem-me! – ela
baixou a cabeça e se afastou.

- Baby! – Fernan a chamou


Ela não se virou para olhar, somente parou no meio do quarto novamente
para ouvi-lo - estamos com você, independente do que você seja agora - ele
disse.

Ela se virou para olhar seu amigo e foi abraça-lo. Fernan praticamente se
jogou em seu pescoço soluçando e depois Gevy abraçou os dois ao mesmo
tempo - isso é perigoso para você, você pode morrer? - ele perguntou ainda
abraçado a ela.

Ela hesitou em responder - sim! – respondeu com pesar e se afastou deles


quando escutou o barulho da porta abrindo. Ela se virou para ver Isaiah
entrando e ele lhe fez um sinal para segui-lo, ela entendeu. Kaimel já estava
na mansão.

- Tenho que ir agora. Ficarão aqui com Isaiah que fará tudo o que puder para
deixá-los seguros. Depois conversamos – deu as costas e saiu.
Adriana chegou muito rápido no salão da aliança e todos os guardiões
estavam lá, e todos se viraram para olha-la quase que ao mesmo tempo. Suas
expressões eram sérias e preocupadas. Olhou para todos os presentes e parou
seu olhar em Felipe que desviou o olhar para a caixa dourada que estava
depositada em cima da mesa na frente de Kaimel. Aproximou-se parando na
outra extremidade, olhou para a caixa e depois para Morgan que estava do
outro lado, e pela expressão sabia que estava muito tenso.

Entendeu o porquê da tensão, era o conteúdo da caixa que os preocupavam, a


espada. Talvez se a tocasse viesse a morrer e virar um monte de cinzas, e eles
não queriam aquilo. Felipe imediatamente saiu de seu lugar e parou ao seu
lado - não precisa fazer isso! - Ele disse apreensivo.

Ela o encarou muito séria e ficou em silêncio. Sabia o que passava na mente
dele naquele momento, era o mesmo que se passava na mente de Morgan,
Miguel e Diego e todos os outros. Mas não na sua mente. Acreditava que
uma vez escolhida por deus, jamais esquecida, jamais abandonada. Voltou os
olhos para a caixa novamente e depois para Kaimel que olhava para a caixa
de maneira estranha, como se estivesse em transe ou preso em suas
lembranças. Ele havia sido o primeiro escolhido, mas quando perdeu sua fé
foi amaldiçoado e nunca mais tocou naquela espada. Tentou sondar sua
mente, mas era insondável parecendo um buraco negro e ele percebeu o que
tentava fazer e a encarou de maneira irritada.

- Nunca mais tente entrar sem ser convidada! – ele pareceu rosnar quando
disse aquilo.

Todos olharam para ele e depois para ela que ficou sobressaltada na hora, a
voz dele parecia ter o mesmo efeito de um trovão como se conseguisse tremer
tudo a sua volta. Ficou quieta!

Kaimel se recompôs da irritação devido à intromissão da guardiã. Saiu de seu


lugar parou na sua frente e a encarou – Quero que saiba da importância e do
peso de ser o guardião dessa espada – ele respirou fundo e tocou o ombro
dela suavemente e todos ficaram mais tensos, porque ele poderia matá-la
somente com um leve tapa. Era um guerreiro enorme e poderoso e não havia
sequer uma criatura ali presente que pudesse com ele – Não pode falhar
Adriana! É a última guardiã, é a última descendente escolhida. E entenda que
muitos tentarão matá-la por causa disso, mas outros também irão protegê-la, e
mesmo assim, ainda será perigoso para vós – ele olhou para Morgan por
alguns segundos e depois para Atila e por último Felipe que não saia de perto
dela com receio de que tentasse matá-la – Sei que irá conseguir, porque
sonhei com o dia em que a minha herdeira venceria todo esse mal. Não perca
sua fé e nem seu caminho pequena, porque foi assim que fracassamos –
concluiu pegando a enorme caixa nas mãos, olhou para aquela caixa por um
momento e depois olhou nos olhos de sua herdeira que o encarou, e seus
braços se esticaram para lhe entregar a caixa.

Adriana ficou olhando para caixa por alguns segundos e depois a pegou dos
braços de Kaimel. Podia sentir a tensão aumentar a sua volta, e olhou para
Felipe que parecia que a qualquer momento tomaria a caixa de suas mãos e
sairia correndo, mas desviou a atenção para a caixa novamente e a colocou
em cima da mesa a sua frente. Olhou para ela por alguns segundos
silenciosos e depois a abriu rapidamente, e quando fez isso todos que estavam
em volta da mesa se afastaram menos Morgan que ficou olhando mais
ansioso que Felipe como se quisesse dizer algo que não saia de sua boca.
O conteúdo da caixa começou a brilhar intensamente, tanto que os vampiros
protegiam seus olhos da claridade anormal. Depois que aquele estranho
brilho cessou, aproximou-se mais da mesa e olhou para dentro da caixa, seus
olhos brilharam em uma excitação intensa e sem pensar e antes mesmo de
qualquer um protestar, pegou a espada. Mas algo estava errado, pois sua mão
ficou grudada nela ao mesmo começasse a brilhar intensamente cegando mais
ainda todos os presentes. Sentiu-se sem fôlego, sem ar, seu corpo parecia
preso a algum tipo de objeto de alta tensão.
Fechou os olhos por causa daquela forte luz e os manteve fechados por um
tempo, mas depois tornou a abri-los para olhar o que acontecia ali, e então
pode vê-lo vindo em sua direção lentamente e pronunciando seu nome
suavemente como se estivesse se movimentando em câmera lenta – Adriana!
- o anjo que forjara a espada estava bem na sua frente. Ele era muito alto e
envolto a uma luz branca incandescente que emanava uma energia poderosa,
mas latente. Não conseguiu distinguir muito bem sua feição, pois estava um
tanto chocada demais com aquela presença, pois ele era a perfeição e a pureza
com asas enormes que em seu formato lembrava-lhe os pinheiros e mostrava
toda a sua imponência.
Ele se curvou na sua direção para aproximar mais o seu rosto do dela, e tinha
um sorriso calmo e tranquilo – Guerreira, descendente de Kaimel. Sua fé e
coragem são tão inabaláveis quanto à dele. Foi escolhida desde o ventre de
sua mãe, não está aqui por acaso, foi tudo planejado para este momento.
Então não tem a maldição e poderá usa-la. Tens a benção do Criador, do
Deus que te escolheu. E lembre-se disso: acerte o coração do inimigo, destrua
o coração e o destruirá completamente. Mas não se deixe enganar, esse é
apenas o começo. Ainda há muito por vir e o inimigo deseja apenas a
aniquilação das raças - ele lhe disse aquilo e depois de tocar em sua fronte
sumiu deixando aquela sensação de bem-estar como se ainda a tocasse.
Voltou do transe e a luz cessou liberando todos os presentes que protegiam
seus olhos. Ela ainda estava lá, viva, inteira e olhando fixamente a espada
sem conseguir dizer uma só palavra. Todos ficaram em choque olhando para
ela e para a espada em suas mãos, mas depois explodiram falando todos ao
mesmo tempo.

Adriana pegou a bainha da espada dentro da caixa, e a embainhou


rapidamente antes que alguém a tocasse, depois a prendeu a suas costas
transpassando a correia de couro no peito. Felipe a olhava com seus olhos
arregalados e a boca entreaberta como se ainda estivesse em choque, depois
piscou e voltou ao normal - Meu Deus! – ele disse relaxando finalmente,
aproximou-se e segurou o rosto dela com as duas mãos, olhando-a como se
ainda não acreditasse que ela estivesse ali - Calma! Estou bem, Ta tudo bem -
disse Adriana tocando em suas mãos fazendo-o voltar à realidade.

Felipe respirou fundo - D... Desculpe! – ele disse – achei por um momento
que... - ele parou de falar pois não havia necessidade de continuar, ela sabia.
Afastou-se alguns centímetros, pois logo foram rodeados por Miguel, Diego e
Morgan.

Ela olhou para um após o outro – foi assustador! – disse lentamente vendo as
expressões indecifráveis deles.

- Eu disse que conseguiria – a voz de Kaimel ecoou de maneira que todos o


olharam curiosos. Então ele aproximou-se dela novamente e olhava em seus
olhos – você vai mudar o rumo de toda história. Não tenha medo disso! – deu
um leve sorriso e se virou para sair, olhou para Morgan e tocou seu ombro e o
apertou suavemente depois se afastou.

Adriana ficou olhando-o se afastar – Kaimel! – O chamou e viu o enorme


homem parar diante do símbolo da aliança e se voltar para ela. Foi até ele e o
olhava um pouco apreensiva enquanto todos os outros a olhavam intrigados –
Quero sua benção, você é o primeiro guardião e o meu ancestral vivo – Disse
esperando ouvir um não, pois ele a olhava com aquela expressão dura.

Ela era uma criatura realmente intrigante, Kaimel pensava. Porque até os que
viviam na aldeia debaixo de sua proteção o temiam, e aquela pequena criatura
a sua frente que era sua descendente não se importava e nem o temia como os
outros. Nona havia lhe alertado sobre a última guardiã, que ela seria diferente
de tudo que já haviam conhecido e que ele viveria para conhecê-la, mas que
depois expiraria em paz. Tocou a cabeça dela com sua mão direita e deu um
leve sorriso – Tem a minha benção. Você realmente nasceu para ser uma
Argus – olhou para os guardiões dela – Façam com que ela cumpra sua
missão – afastou-se dela e juntou-se aos seus do outro lado do salão.

Ainda podia sentir a enorme energia de Kaimel na sua cabeça, ele tinha a
mão quente e quando olhou em seus olhos sentiu o tamanho de seu poder.
Morgan a tocou suavemente nas suas costas e olhou pra ele, mas ficou em
silêncio.

Miguel aproximou-se dos dois – Aquilo foi assustador – disse apertando os


olhos enquanto olhava para Adriana – Não queria quebrar o encanto familiar,
mas o anjo disse alguma coisa? – Perguntou curioso.
- Sim o que ele disse? – Atila repetiu a pergunta do primeiro, ao se aproximar
para ouvi-la.

Olhou para todos eles de forma preocupada – disse: Não se deixe enganar,
esse é apenas o começo. Ainda há muito por vir e o inimigo deseja apenas a
aniquilação das raças – respondeu depois de um suspiro pesado.

- Como? – Morgan perguntou aquilo quase que sobressaltado quando ela


revelou o que o anjo dissera - ele disse como? Porque está parecendo muito
com o que Tyros tentou fazer. Não pode ser possível que ele tenha
sobrevivido – ele ficou bem perturbado com aquela revelação.

Começaram a discutir entre si, pois não sabiam do que se tratava. Nem muito
menos que Willian usava a tecnologia humana para criar uma arma. Ela ouvia
suas vozes misturada enquanto tentava raciocinar, os ouvia discutir várias
possibilidades, mas não prestava atenção neles. E lembrou-se do que o anjo
lhe dissera (destrua o coração!) só poderia destruir o coração se estivesse
frente a frente com ele, e não tinha nem idéia de onde poderia estar – Ele
deve ter uma fortaleza, como esse castelo – disse atraindo a atenção de todos.

- O que? – Morgan perguntou

Ela o fitou séria - ele deve estar escondido em um lugar seguro, uma fortaleza
– falou pensativa olhando para ele.

- Então vamos destruir a fortaleza! – disse Atila quase rosnando excitado com
a idéia.

Morgan ainda sondava os olhos de Adriana - Não é tão fácil assim, cigano!
Temos que acha-la primeiro. Isso quer dizer que teremos que nos dividir e
procurar - disse apreensivo ao mesmo tempo em que olhava para sua amada
como se soubesse o que ela intencionava fazer.

- é uma boa ideia! – concordou Felipe – podemos achar o covil mais fácil e
mais rápido. Percebeu a perturbação de Morgan - podemos nos dividir em
dois grupos – disse ainda olhando para ele.
Morgan deu um suspiro pesado - Sim! – ele concordou - Mas ela ficará aqui –
seu tom era uma ordem.··.

Adriana abriu a boca em protesto, mas desistiu. Seria inútil discutir com ele
ou até mesmo com Felipe. Olhou a sua volta inconformada com o que ouvira
e depois o encarou - O que adianta ter a espada se não posso usa-la? –
Perguntou desapontada.

Morgan sorriu um pouco quando ouviu aquilo - é mais seguro que fique aqui
por enquanto. Não sabemos onde é o covil, e não acredito que eles se
arriscariam vir até aqui sabendo que está rodeada por seus guardiões. E a
espada, você poderá utilizá-la no momento oportuno - aproximou-se dela.

Olhava para ele pouco convencida do que ele dizia - não gosto dessa idéia! -
respondeu contrariada

- eu também não! Pouco me agrada deixa-la aqui. Mas a deixarei em boas


mãos – disse olhando para Diego e depois para Miguel e ela acompanhou seu
olhar.

Atila deu um passo à frente para protestar, mas a mão forte de Kaimel o
deteve - Irá com eles e Sophie ficará aqui com ela - Disse de maneira que
somente seu filho ouvisse, viu bufar irritado com a idéia, mas o obedeceu.
Kaimel sabia o que movia o filho naquele momento e não era o sentimento de
proteção.

Morgan encarou Atila, pois ouviu o que Kaimel lhe dizia. Não gostou do que
percebeu da parte dele, mas tinha que agir com diplomacia - precisaremos de
seus talentos e do grandão também - disse referindo-se a Vladimir.

Atila concordou em silêncio e lançou um olhar cúmplice para Adriana que


olhou para ele e depois voltou o olhar para Felipe, que os observava. Sabia
que o vampiro tinha percebido algo e também sabia que ele faria qualquer
coisa para mantê-la longe dele.

Felipe olhou rapidamente para o cigano que o encarava, e depois voltou os


olhos para sua protegida - Morgan tem razão! Aqui estará segura. É preferível
que fiquem aqui aguardando - disse entendendo o seu olhar impaciente - Por
favor, obedeça dessa vez! – ele quase implorou para ela.

- Ok! - ela concordou, mas Felipe sabia que era a contragosto.

Morgan aproximou-se mais dela - seja boazinha! – ele provocou - Miguel e


Diego, não são tão pacientes como eu e Felipe - brincou. Sabia que eles eram
mais propensos a ceder aos caprichos dela do que qualquer outro.

Ela o encarou e depois olhou para os dois amigos os quais ele se referia. Um
piscou e o outro riu achando graça, e riu relaxada também, mas no fundo
estava apreensiva, pois naquele momento estava sentindo a ameaça de um
perigo real. E enquanto os observava rindo da piadinha particular entre eles,
pensava em todas as possibilidades de ficar cara a cara com o tão temido
inimigo, e de seus amigos se machucarem e até morrer naquele confronto. E
era mais fácil o inimigo aparecer sem ser convidado ali onde estavam, do que
o encontrarem em uma caçada para destruí-lo. E tinha a forte sensação de que
eles iriam até ela. Aceitou o que tinha sido proposto por Morgan, mesmo a
contragosto e quando eles saíram para a caçada juntos com Kaimel, Atila e
Vladimir. Ficou parada na porta da frente olhando eles se afastarem até
sumirem de suas vistas. Morgan foi o último, pois queria um pouco de
privacidade para se despedir dela, e não saiu até fazê-la jurar que não fugiria
para segui-los.
Capitulo 24

A armadilha

Diego estava na janela olhando fixo para o jardim que surgia logo após o
enorme pátio, sabia que algo estava para acontecer e que os observavam o
tempo todo. Espreitando, esperando o momento, e certo era somente uma
questão de tempo para serem atraídos até ali.

Miguel estava sentado em uma poltrona que ficava no hall posicionada no


canto, seu silêncio era estratégico, pois prestava atenção em cada criatura que
se movia no lado de fora do castelo.

Sophie estava perto da escada folheando de forma tranquila uma revista de


moda, como se nada estivesse para acontecer.

E Adriana andava de um lado para o outro impaciente e um pouco agitada.


Às vezes sentava perto de Sophie e logo depois ficava de pé e recomeçava a
andar de um lado para o outro novamente.

Diego sorriu ao perceber o nervosismo dela, mas não olhou para ela - se ficar
quieta cherié conseguirá ouvir qualquer coisa que se aproximar – disse de
forma calma, mas ainda com o olhar fixo para o lado de fora.

Ela somente olhou impaciente para ele e sentou-se ao pé da escada que dava
para os quartos. Sophie parou de folhear a revista e olhou para ela com um
sorriso - precisa aprender a se concentrar! – disse

Revirou os olhos - Odeio esperar qualquer coisa, isso me deixa louca –


respondeu bufando novamente.
Sophie ainda sorria - tudo tem seu próprio tempo, até para a guerra – rebateu.

- Concordo com a cigana! – disse Miguel que ficou de pé e se aproximou


delas de repente.

Adriana balançou a cabeça e encarou o amigo - sabe o que eu acho? Que não
adianta ficar aqui esperando alguma coisa acontecer.

- Acho que está enganada! – Miguel rebateu com um brilho estranho no olhar
como se soubesse algo que ela não sabia.

Sondou sua expressão quando ele a encarou - está falando do que? –


perguntou curiosa.

Ele não sorriu, mas algo no seu olhar dizia o quanto estava satisfeito por estar
esperando - esse seria o primeiro lugar que Willian atacaria, sem dúvida! –
respondeu.

Ficou de pé sobressaltada - está dizendo que sou uma isca? - ela perguntou
com certa irritação.

Diego saiu de onde estava aproximando-se deles interessado no que falavam -


não é uma isca! – ele disse de repente - mas uma armadilha!

Olhava para eles indignada - Esqueceram que os meus amigos humanos estão
aqui? - quase berrou - Esqueceram que Isaiah também está aqui? Isso é
loucura! -

- Não! Não é loucura, é estratégia – Miguel rebateu - eu lhe ensinei isso


lembra? – refrescou sua memória.

- Não foi esse tipo de prática que imaginei – ela temia por seus amigos e por
Isaiah - Não se deve arriscar a vida de pessoas inocentes. É cruel! – Disse
com indignação.

- Não, na pratica é a mesma coisa! Talvez um pouco pior. Não estamos aqui
com você atoa, e os humanos estão mais seguros aqui do que em qualquer
outro lugar. Não se esqueça de que somos experientes nisso – Agora Diego
tentava lhe explicar – Nossos inimigos têm informações demais sobre você e
os seus amigos, e usariam isso contra você. Poderiam sequestra-los em
Londres e usa-los como barganha. Não tem noção com quem está lidando,
são astutos, cruéis e mortais. Fariam qualquer coisa para te atrair e destruir e
nos destruir - disse tentando faze-la entender.

- Quer dizer, que vocês já esperavam que eles viessem para cá atrás de mim?
– perguntou pensativa.

Miguel analisou seu grau de perturbação - Estamos esperando por isso desde
o dia do baile! – disse

Ela os encarou irritada – O que não estão me contando? Tipo, se tivessem me


contado eu teria dado um jeito de tira-los do país, manda-los de volta para o
Brasil – disse aquilo passando por Diego e indo irritada em direção à porta.

Diego foi atrás dela - Não tivemos tempo pra isso – ele acompanhou com o
olhar a mão dela na maçaneta da porta e iria impedi-la de continuar, mas ela a
abriu com tudo.

Adriana queria sair para o jardim e tentar se acalmar, estava irritada por eles
nunca lhe contarem tudo. Mas esqueceu daquilo completamente quando abriu
a porta, pois não esperava ver o que viu.
Havia em torno de cinquenta homens armados até os dentes, todos de preto
como se fossem da SWAT. Usavam visores noturno e suas armas tinham
mira a laser. Automaticamente acompanhou as luzes vermelhas que
apontavam para o seu peito e imediatamente fechou a porta com violência,
pois eles estavam prontos para atirar nela e com certeza usavam prata. E foi
exatamente o que aconteceu.

Miguel e Sophie ficaram sobressaltados e Adriana se jogou contra Diego


derrubando-o no chão violentamente. Ele ficou alarmado, pois não sabia o
que acontecia. Saiu de cima do seu amigo - são balas de prata! – ela gritou
caindo de costas do outro lado.
Diego ainda estava no chão e encarava Adriana com os olhos esbugalhados.
Ela o olhava ofegante e berrou pra ele - Eu disse que era mais fácil atirar e
que tinham evoluído. Ela ficou de pé de repente quando os tiros cessaram e
olhava irritada para a porta.

- Quem são esses homens? Já os viu antes? - perguntou Miguel aproximando-


se de maneira urgente da janela para ver o que se passava do lado de fora.

Adriana o encarou - Se parecem com os mesmos vampiros que me


capturaram - ela respondeu desembainhando sua espada. Miguel a imitou e
Diego fez o mesmo. Sophie ficou parada no centro olhando fixamente para a
porta, concentrada como se a qualquer momento fosse se atirar contra ela e
pegar tudo o que se movia lá fora, seus olhos brilhavam intensos naquele
momento.

- Não deixe acertarem as balas em vocês, isso conseguiu derrubar Vladimir –


ela os alertava. A prata lhe causava um tipo de alergia e dependendo da
quantidade, até a morte.

- Certo! – disse Diego excitado

- Conseguiremos pega-los facilmente! – disse Miguel confiante para seu


amigo

- Daremos a volta pela casa e os pegamos de surpresa! – Diego disse ao


mesmo tempo em que sumia de suas vistas.

- Consegue nos acompanhar cherié! – perguntou Miguel a Adriana sumindo


em seguida, suas risadas ecoaram pela casa. Com certeza se divertiam com
aquilo.
Matar ou Morrer

Adriana ficou parada olhando para a porta fechada e cheia de buracos. Sophie
colocou-se ao seu lado olhando na mesma direção. Ouviram os tiros
novamente, mas eram destinados para a outra direção. Diego e Miguel já
estavam lá fora.

Olhou para Sophie por dois segundos e disse - Não deixem que te acertem! –
e meteu o pé na porta com força derrubando-a com tudo em cima de um dos
homens. Ela correu em direção aos vampiros armados e era tão rápida que só
era possível ver a poeira dos vampiros que ao contato com sua espada eram
destruídos facilmente. Olhou abismada para o efeito que a sua espada
causava, e descobriu porque nenhum ser noturno poderia toca-la.

Sophie não se transformou totalmente apenas acertava-os com golpes letais


com suas garras afiadas. Movia-se agilmente contra eles e rosnava
ferozmente até ser atingida na coxa por uma das balas, ela caiu urrando
devido à dor. Diego de longe a vendo cair, correu ao seu auxilio e a arrastou
para dentro do jardim para escondê-la enquanto se recuperava do ferimento.

Isaiah surgiu no pátio usando um colete a prova de balas e uma arma calibre
12. Começou a atirar nos vampiros que tentavam entrar na casa, e cada tiro
que dava abria um enorme buraco no peito deles ou arrancava parte de suas
cabeças, e mesmo que não fosse prata o estrago que causava matava-os assim
mesmo.

Miguel estava realmente se divertindo com aquilo, pois ria quando usava sua
velocidade enganando-os quando sumia e depois aparecia e os acertava com
golpes que arrancavam suas cabeças facilmente e muito rápido. Mas aquilo
parecia fácil demais para eles, pois aniquilaram com 50 vampiros armados e
prontos para mata-los em poucos minutos. E quando aparentemente havia
acabado, olhavam uns para os outros se certificando de que estavam bem e
depois Adriana, Miguel e Diego automaticamente olharam para Isaiah e
acompanharam seu olhar assustado para o céu.

Adriana ficou parada no meio do jardim olhando abismada para cima e nem
ouvia os gritos de Miguel e Diego a sua volta. Criaturas enormes e com asas
negras e disformes voavam vários metros acima de suas cabeças e de repente
deram um rasante na sua direção, e quando foi puxada por Diego e correram
para entrar na casa novamente, foi atingida violentamente por uma daquelas
coisas que a agarrou fincando suas garras enormes e afiadas nas suas costas e
a puxou com força jogando-a para o outro lado do jardim. Miguel e Diego
voltaram-se violentamente contra a criatura.

Diego fazia movimentos com a espada cortando o ar de forma ameaçadora na


direção à criatura que estava de pé perto de Adriana. De longe a criatura se
parecia com um homem alto e suas asas quando fechadas se pareciam com
uma capa preta. Mas já conhecia aquelas criaturas e sabia que de perto não
deixava dúvidas do que realmente era um demônio de 2 metros e meio pálido
e sedento. E se estavam ali queria dizer que alguém com o mesmo poder de
Tyros os dominava. E o único que desejava o mesmo poder de Tyros, era
Ravengar.

A criatura se virou para encara-los e sorriu de forma diabólica. Bateu sua pata
com força no chão e rosnou feroz ao mesmo tempo em que abria suas asas
disformes - não se aproximem párias – ordenou colérico.

Adriana estava caída aos pés daquela criatura olhando para ele sem acreditar
no que via depois se virou para ver onde tinha caído sua espada e viu que ela
estava há alguns metros longe dela.

- Afaste-se dela demônio! – ordenou Miguel de forma ameaçadora

- Não queremos matá-la vampiro, mas não hesitaremos se der mais um passo
– a voz gutural da criatura era como se fosse dezenas de vozes falando ao
mesmo tempo.

Enquanto isso, Adriana olhava para a espada pensando no que fazer, pois a
criatura estava muito próxima dela e perceberia se fizesse qualquer
movimento brusco para pega-la. Avistou Sophie que agachada tentava se
aproximar da espada, a olhou em pânico para ela e fez um sinal para que não
a tocasse, porque com certeza morreria.

Sophie se esgueirava do outro lado do jardim muito próxima aos arbustos


mais altos, quando viu a espada de Adriana caída entre o corredor onde ela
estava e o pátio onde Adriana estava caída aos pés de um puro, e se assustou
quando o viu a criatura. Hesitou quando seus olhos e o de Adriana se
encontraram em silêncio, viu que Adriana arregalou os olhos e quase deu um
grito quando fez menção de pegar a espada e parou entendendo o desespero
de sua amiga. Olhou para o demônio que ainda debatia com Miguel e Diego,
depois para o céu quando ouviu o bater de asas próximo deles. Havia mais
quatro deles sobrevoando o castelo como se fossem abutres atrás da carniça
voando em círculos. Eram extremamente perigosos, mais que os próprios
lobisomens e eram inteligentes.

Adriana tinha uma única opção, e essa era correr até sua espada e tinha que
pensar rápido. Então olhou para Diego e Miguel e depois olhou para Sophie
agachada, que entendeu o seu olhar e se esticou inteira uivando de forma
ensurdecedora para chamar os outros, em seguida se transformou muito
rápido e furiosamente chamando a atenção da criatura. Aproveitou a distração
e rolou para o lado, levantou e correu.

O demônio virou-se alerta em direção ao enorme lobisomem castanho


avermelhado, depois para Adriana, e deu um salto para alcança-la. Mas Diego
e Miguel moveram-se muito rápido e o atacaram, um acertando a perna e o
outro acertando suas costas. O demônio urrou colérico e até babava entre seus
vários dentes pontudos como os da boca de um tubarão e caiu quando tentou
escapar dos vampiros. Mas se esticou todo para alcançar seu alvo, mas foi em
vão, pois Adriana se jogou com tudo na direção da espada e quando a pegou
virou-se rapidamente apontando a espada na direção do demônio que recuou
imediatamente, pois conhecia a lâmina. Com um movimente rápido colocou-
se de pé e abriu suas asas disformes ao mesmo tempo em que rosnava, depois
com um impulso alçou voo muito rápido, mas voltou mais rápido ainda, só
que acompanhado de mais quatro criaturas.

Adriana ficou de pé e manteve-se ali parada, esperando. Firmou seus pés no


chão e bem baixinho disse para si mesma - Que Deus me dê forças - e girou
sob os pés, virando todo o seu corpo tão ágil e rápido que a criatura não teve
tempo de parar quando chegou perto demais. O acertou em cheio no peito e
viu que a criatura pegou fogo ao invés de virar pó como os vampiros. Isso fez
com que os outros quatro demônios ficassem alvoroçados, e deu a chance de
Diego e Miguel os atacarem com facilidade. Sophie transformada saltou de
onde estava para cima de uma das criaturas que alçava voo e os dois se
atracaram violentamente, com mordidas e golpes violentos com suas garras
afiadas.

Surgiram dezenas deles que pousavam no jardim e partiam para cima de


Adriana e de seus amigos. Desviava dos golpes mortais de garras e bocarras
com dentes pontudos que acertavam apenas o ar quando desviava da
mordida. Depois se voltava contra eles e acertava-os sem piedade.

Diego e Miguel atacavam-os usando toda força e habilidade para arrancar-


lhes a cabeça com suas espadas. Mas Miguel acabou trocando a espada por
uma das armas dos soldados e começou a atirar sem parar.

Ouvira um uivo, depois outro e depois vários outros que respondiam ao


primeiro. E de repente vários lobisomens surgiram saltando ferozmente
contra os demônios e os vampiros armados que surgiram novamente. Kaimel
parou no meio do jardim depois de arrancar facilmente a cabeça de uma das
criaturas e nem estava transformado, seus olhos cruzaram com os de Adriana,
mas ela via os olhos da besta e não do homem.

Mais tiros e barulho de vidros quebrando, automaticamente Adriana olhou


em direção a casa e correu passando por Miguel que acabava de matar um
demônio. Seu coração disparou quando viu que todas as janelas do hall
estavam despedaçadas, e que havia rastros de sangue no chão que seguia pelo
corredor. Correu seguindo o rastro que acabava na porta do salão de festas e
que fora arrancada, pode sentir o cheiro acre do sangue humano e congelou
em seu lugar por um segundo. Primeiro viu Isaiah no chão, pois estava ferido,
mas ainda se mexia, depois viu Fernan e Gevy acuados no fundo do salão
sendo ameaçados por um vampiro que se virou imediatamente para olhar para
ela. Levou um susto quando viu quem era e por um segundo sentiu seu
coração bater tão rápido que lhe faltou o ar por um instante.

Alex estava ensandecido com um olhar louco e sua boca estava suja com o
sangue que provavelmente era de Isaiah. Quando ele a viu, pareceu lembrar-
se dela e voltar à realidade por um instante. Olhou confuso para o chão e
depois voltou olhar para ela novamente, a boca entreaberta em um sorriso
bobo e as presas expostas que em nada combinava com aquele sorris. Ele era
uma fera faminta que não sabia exatamente o que estava fazendo.

Desviou os olhos dele para Isaiah caído no chão e que se esforçava para
sentar, ficou sem reação naquele momento, sem saber que atitude tomar, pois
Alex era seu amigo e haviam transformado ele em vampiro e provavelmente
estava louco por causa daquilo. O avaliou rapidamente e pode ver as marcas
em seus pulsos e tornozelos, estava descalço, seus cabelos haviam crescido e
estavam desgrenhados e ensebados como se não tomasse banho há dias,
estava muito magro com manchas escuras em volta de seus olhos amarelados
e fundos. Conseguiu captar a confusão de sua mente enquanto o avaliava,
havia sido torturado por Marguerite e seus gêmeos e ela o transformou como
ele queria, mas o prendeu acorrentado em um porão por vários dias depois de
transformá-lo, com certeza havia feito aquilo para deixa-lo faminto e
enlouquecido. Depois disso o soltou no castelo, pois ela sabia que seus
amigos humanos estavam ali. Foi à forma que ela achou para se vingar.
Respirou fundo enquanto olhava para Alex que a encarava de forma quase
infantil, como se ainda houvesse um pouco de sanidade na sua mente.

- Estou com sede! Muita sede! – ele começou a dizer olhando para ela como
se explicasse o motivo daquilo - é insuportável, porque isso não passa –
choramingou.

Ela não conseguia dizer nada, pois se sentiu impotente por vê-lo daquela
forma. Não esperava por aquilo, nem imaginava que ele tinha algum tipo de
envolvimento com eles àqueles vampiros.
Alex deu um passo na sua direção e depois parou, pois olhou para a sua
espada - Eu senti sua falta! – murmurou e deu um sorriso deixando suas
presas mais expostas ainda e depois sibilou – xiiiiiiiiii! Não vim sozinho! –
riu confuso

- Alex! – Adriana disse angustiada – vou cuidar de você – estendeu a mão


esquerda para ele que ficou olhando para sua mão como se não tivesse
certeza se deveria toca-la. Ela deu um passo para frente e ele assustado deu
um salto para trás e chiou como um gato assustado.

- VOCÊ NÃO É MAIS A MESMA COISA! – ele gritou assustado

Não esperava aquela reação e se assustou um pouco - Sou sim! Só um pouco


diferente – Disse com tristeza e parou.

-NÃO! - gritou colérico - eles mudaram você também como fizeram comigo,
eu não sabia – disse se acalmando e depois escondeu o rosto com as duas
mãos como alguém que entra em desespero - Estou com sede! Muita sede.
Você não sabe como isso me tortura. Não consigo, eu preciso – e olhou para
Fernan e Gevy novamente. Soltou um gemido bestial e ameaçador e se
posicionou para ataca-los.

Adriana rapidamente se colocou na frente deles de forma protetora, mas não


o ameaçou com sua espada - Não faça isso! – ela disse angustiada - Eles são
seus amigos! –

- Não! – Jogou-se contra ela com toda a sua força, mas Adriana era muito
mais forte que ele e somente com o braço esquerdo o jogou contra a parede.
Ele bateu com força e caiu meio débil no chão olhando-a com espanto.

- Por favor, não me obrigue! – Ela balbuciou com os olhos cheios de lágrimas
- Eu não quero machucar você, Alex. Mas se continuar terei que acabar com
isso, não posso deixar que machuque os nossos amigos – implorou.

Alex ficou de pé rapidamente sendo movido pela ânsia de sua fome. Não
conseguia entender, somente satisfazer sua necessidade primal que naquele
momento era saciar sua sede de sangue humano. Olhou para Adriana um
pouco aturdido e depois sorriu como se estivesse possuído por um demônio –
Dói... É insuportável! Eu preciso parar com a dor... eu preciso porque dóiiiii –
choramingou para ela e avançou mais uma vez

Seu coração pareceu parar quando o viu avançar mais uma vez, pois sabia
que não haveria salvação para ele, aquela loucura era irreversível - eu sei! –
disse ao mesmo tempo em que fincou a espada no abdômen dele, quando ele
partiu pra cima com suas presas ameaçadoras e segurou o seu rosto com as
duas mãos. Viu a surpresa em seus olhos enquanto a encarava e suas mãos
deslizarem por seu rosto enquanto lentamente tornava-se pó, e caia aos seus
pés como se fosse em câmera lenta. Sentiu seu corpo tremer e as lágrimas
escorrerem por seu rosto, sequer teve coragem de olhar para baixo. Começou
a respirar com dificuldade sentindo uma pressão inexplicável em seu peito,
era como se a falta de ar surgisse do nada, pois acabara de matar seu amigo e
aquilo a devastou por dentro, pois a última coisa que queria era que um de
seus amigos se machucasse ou fossem mortos por causa do que estava
acontecendo.
E foi exatamente o que aconteceu, o transformaram num vampiro
ensandecido e o colocaram ali para que visse o que fizeram. Sabiam que seu
ponto fraco naquele momento eram seus amigos inocentes e Alex era um
deles. Sentia tanto ódio de Marguerite e seus gêmeos naquele momento, ódio
do que estava acontecendo e de não ter tido outra escolha se não matar seu
amigo. Um soluço escapou por sua garganta, mas tentou sufoca-lo e ainda
não conseguia olhar para seus pés, seu corpo inteiro vibrava
involuntariamente.

Sufocou suas lágrimas mais uma vez que teimosamente desciam por seu
rosto, apertou a mão no cabo da espada, pois não poderia amolecer naquele
momento, estavam em guerra, uma guerra que o resto do mundo era alheia, e
ainda tinha que proteger os seus amigos que ainda eram humanos.

Bem devagar deu dois passos para trás para se afastar das cinzas em suas
botas, depois olhou para baixo e segurou o choro mais uma vez, quando viu o
montinho de cinzas caírem ao lado. Não conseguiu segurar o soluço que
escapou por sua garganta e chorou compulsivamente – Deus! - balbuciou e
tentou se controlar rapidamente. Fernan correu para ajudar Isaiah a se
levantar e Gevy ficou onde estava, mas vendo o estado de sua amiga
aproximou-se – não era mais o Alex – disse tocando em seu braço
suavemente.

Adriana se controlou e olhou lentamente para ela - Não era o mesmo, porque
o transformaram naquela coisa – respondeu com revolta e enxugou suas
lágrimas, endurecendo sua expressão – Eu juro que eles irão pagar por isso!

Gevy a fitou e começou a chorar de repente pelo amigo - O que está


acontecendo aqui? – perguntou sentindo o pânico começar a tomar conta
dela.

Adriana a encarou e um frio passou por sua espinha - Preciso tira-los daqui o
mais rápido possível – disse olhando em volta como se estivesse tentando
achar uma saída - preciso escondê-los! – disse indo em direção à porta e
parou no meio do caminho quando foi interceptada de repente.
Capitulo 25

Eternos inimigos

- Milady! – disse o homem que educadamente fez uma mesura. Ele era alto e
com seus cabelos grisalhos lisos e curtos. Vestia uma túnica vermelha que
combinava com sua calça, suas mãos compridas eram garras muito brancas e
suas unhas pareciam emendar-se aos dedos como se fosse uma coisa só. Ele
tinha a cor da porcelana e sua pele era reluzente como se tivesse passado óleo
em seu corpo. Suas presas reluziam a luz artificial do salão por serem muito
brancas e pontiagudas e seus olhos eram cinzentos. Tinha uma expressão
cruel e ameaçadora, mesmo enquanto sorria.

Adriana deu um passo para trás em sinal de alerta e quase caiu, pois soube na
hora de quem se tratava.

Ele sorria com malicia – Admiro sua coragem em salvar os seus amigos
humanos – disse entrando calmamente - Apesar de um deles não ser mais
humano, e mesmo assim não serviria para nada – Lançou um olhar cruel para
Isaiah e depois voltou o olhar para ela novamente - Acha que pode acabar
comigo com o brinquedinho forjado por um arcanjo com nome de Miguel? –
ele deu um sorriso malicioso para ela, e olhou para a espada em sua mão.

Fico onde estava e o encarou friamente - é, acho sim! – rebateu vendo pela
visão periférica que Fernan, Gevy e Isaiah estavam afastados o suficiente
daquela coisa, e se ele se movesse para ataca-los teria espaço para golpeá-lo.

Ele a analisou de baixo a cima e apertou os olhos quando a encarou


novamente - Sou mais antigo que qualquer um de seus guardiões - ele dizia –
Sou o herdeiro legitimo de um trono que me foi revogado. Sou descendente
nascido, não fui criado por uma linha fraca e criada, sou um Drako e tenho o
néctar do primeiro vampiro, e hoje eu destruirei todos os meus inimigos.
Começando é claro pela a herdeira predestinada a me destruir. A não ser... –
Ele parou de falar, e apontou suas garras para ela e mesmo sem a tocar a fez
voar contra a parede e bater nela com força, deixando cair sua espada.

- Adriana! - Fernan gritou em desespero vendo que sua amiga corria perigo.

Ravengar olhou na direção do rapaz e depois olhou para a amiga ao lado dele.
Isaiah havia se recuperado e se pôs na frente deles de maneira protetora,
apontando a calibre 12 que havia usado do lado de fora e que carregara
consigo desde quando descobrira o plano de Morgan e Felipe.

Adriana olhou na mesma direção, mas não conseguiu sair dali, pois uma
força invisível a grudava na parede impedindo-a de se mover. Sentiu um frio
na espinha quando percebeu o que aquele demônio intencionava. Mas
Ravengar moveu-se muito rápido na sua direção e grudou em seu pescoço
com sua garra afiada. Ficou muito próximo, a farejou como um animal ao
mesmo tempo em que apertava sua garganta. Depois segurou em seu rosto e
virou sua cabeça forçando-a olhar para o outro lado. Ele viu a marca em seu
pescoço, dois pequenos orifícios cicatrizados que foram deixados por
Morgan.

Ravengar riu excitado - A marca da paixão! – disse com deboche – ele a


marcou como sua propriedade, mas você não sabia disso não é mesmo? –
Disse. Ela tentava livrar-se de suas garras, mas era mais forte que ela.

Adriana sentiu-se uma formiga na mão de um gigante naquele momento, ele


iria mata-la facilmente. Que Diabo estava pensando quando achou que
poderia com ele? Pensava. E ele disse como se acabasse de ouvir sua mente -
Achou que poderia viver entre imortais sem se machucar? Olha o que fizeram
com você, mestiça – dizia ameaçador. Depois a forçou olhar para os seus
amigos e apontava para eles - Eles não são nada além de comida – disse com
desprezo - Se ficar ao meu lado, lhe ensinarei tudo o que sei lhe mostrarei
coisas que nunca sequer imaginou e lhe darei o poder para liderar as legiões –
Ele riu friamente enquanto sondava seus olhos - A tornaram poderosa e matá-
la seria realmente um desperdício. Uma criatura como você sendo
manipulada por mim seria indestrutível! – dizia

Ela o encarou de forma fria – Eu odeio ser manipulada, ainda mais por uma
múmia! E para sua informação, não é mais antigo que qualquer guardião.
Você pode ter o sangue de Tyros, mas nunca será ele - começou a rir sem
parar.

- Do que está rindo? – esbravejou apertando mais seu pescoço quase que o
quebrando e ela não parou de rir mesmo assim.

- De você! – sussurrou com dificuldade olhando por cima de seus ombros.

Ele acompanhou seu olhar e virou-se para trás se deparando com o seu mais
antigo inimigo. Ficou surpreso e não abalado por aquela presença - Kaimel! –
disse com um sorriso frio.

Kaimel estava parado na porta e entrou lentamente - Solte-a demônio. Será


que não aprendeu nada e ainda prefere enfrentar mulheres? – Provocou, mas
seu olhar era ameaçador e selvagem.

Ravengar a libertou e Adriana caiu no chão e passou a mão no pescoço para


massagear o local que fora apertado com força. Ficou olhando para os dois
que se encaravam, mas mantinham distância enquanto se estudavam.

Ravengar esfregava uma mão na outra enquanto o estudava - tanto tempo e


ainda acha que pode me enfrentar? – provocou - Tenho os mesmos poderes
daquele que o amaldiçoou, é como se fossemos o mesmo -.

Kaimel não demonstrou reação alguma as suas provocações – Não é como


ele, com certeza. Posso sentir o poder que emana, e acredite, realmente não é
o mesmo.

Aqueles olhos faiscaram de ódio - Está velho e fraco, não tem mais a mesma
fúria e força de outrora. Tanto, que está sendo substituído por uma pequena
mulher – Gesticulava enquanto falava e mantinha o mesmo sorriso
desdenhoso na cara, somente para provocar Kaimel – Tenho um exército
inteiro para devastar esse mundo superlotado de humanos. A criação inferior
e decepcionante de Deus, que tem tanto amor por eles. Difícil de entender
como ele pode ama-los.

Kaimel bufou - Fala demais para quem quer fazer o impossível! – Respondeu
calmamente enquanto o analisava.

Ravengar o encarou irado – Olha só quem fala! Você mesmo não os suporta,
se alimenta deles quando tem oportunidade. Matou milhares de humanos
durante centenas de anos, amaldiçoou outras centenas deles e ainda gerou
mais amaldiçoados com o seu sangue. Seja razoável Kaimel, isso só está
sendo o começo, todos sabiam que andaríamos sobre a terra – ele olhou para
cima quando disse aquilo e depois voltou a sorrir diabolicamente para Kaimel
– andamos sobre ela há muito tempo.

Kaimel o encarava de forma fria e começou a ofegar – Posso ser amaldiçoado


e não gostar dos humanos. Mas gosto menos ainda de você – cuspiu no chão
em seguida - Se esqueceu como a maldição me faz ficar? Acho que não!
Você foi o primeiro a correr quando viu o que aconteceu – Kaimel se
transformou com uma rapidez impressionante.

Adriana pegou sua espada e correu em direção aos seus amigos para tira-los
dali empurrando-os para o lado de fora, mas de repente a porta fechou muito
rápido e a prendeu do lado de dentro, se virou e viu que Ravengar usara sua
magia para fecha-la e ele riu daquilo. E descobriu o motivo dele fazer aquilo
quando viu a forma aterrorizante de Kaimel, e o porquê de todos terem medo
dele. Ele era dez vezes mais aterrorizante do que aqueles que a atacaram, e do
que Atila e Vladimir juntos. Ele realmente a deixou assustada! Era um
lobisomem maior que qualquer outro, pelos espessos e todo negro, sua
bocarra era enorme com dentes afiadíssimos e suas garras eram realmente
ameaçadoras e enormes. Ele deu um uivo que a forçou tapar os ouvidos.

Kaimel era muito poderoso, mas quando transformado dificilmente


reconhecia um aliado. Por este motivo nunca se misturava, às vezes era
drástico o estrago que causava, pois não tinha o mesmo controle que seus
descendentes. Ele olhou para Adriana de forma furiosa como se não a
reconhecesse e babando rosnou e rosnou ferozmente e com um salto foi na
sua direção. Ela paralisou olhando para aquela fera de quase 4 metros e ele
sentiu seu medo. Não desviou os olhos dele, pois não conseguia, olhava para
cima para aquela criatura gigantesca poderosa e aterrorizante, enquanto ele se
curvava quase encostando aquela bocarra cheia de dentes afiados na sua
cabeça.
Mas ele apenas a farejou e rosnou para ela novamente, abriu a bocarra em
sinal de que a atacaria, mas depois a fechou e estreitou o olhar da besta como
se naquele momento a reconhecesse, e olhou para a espada na sua mão.
Depois sacudiu a cabeça e olhou para cima uivando mais uma vez. Virou-se
de repente para Ravengar e seus olhos coléricos brilharam de satisfação e por
um momento achou que ele sorria de forma maquiavélica antes de saltar na
direção de seu inimigo.
Adriana soltou a respiração que nem percebera que havia prendido, e tentou
sair dali enquanto Kaimel e Ravengar iniciaram uma luta de igual para igual.
Morgan foi o primeiro a entrar na mansão a procura de Adriana, logo em
seguida Felipe que correu em direção ao corredor, encontrando Isaiah, Gevy
e Fernan no meio do caminho. Imediatamente foi ao encontro deles para
saber de sua protegida.

- Ela vinha logo atrás! – Isaiah disse ofegante e olhando para trás.

- Onde vocês estavam? – Felipe perguntou quase que em desespero. Morgan


surgiu logo atrás deles e foi até onde a porta que havia sido travada por
dentro. Começou a dar pesadas e por mais força que usasse e mesmo tendo a
ajuda de Felipe, não conseguiam derruba-la.

Ele passou a mão pelos cabelos de forma nervosa - ela está ai dentro! –
Morgan gritou - Posso senti-la! - Felipe olhou para seu amigo vendo seu
desespero em tira-la de lá.

- Vamos tentar novamente! – disse Felipe se jogando contra a porta.

Adriana olhava estarrecida Kaimel saltando ferozmente contra Ravengar, e o


mordia violentamente sacudindo a cabeça no processo na tentativa de
arrancar um naco de carne. Ravengar por sua vez tentava impedi-lo e
segurava seu enorme focinho e o empurrava e saltava para o lado fugindo de
suas investidas. Kaimel saia colérico ao seu encalço rosnando e babando ao
mesmo tempo em que destruíam tudo em volta.

Aquela cena era digna de um filme de terror. Então Adriana se encolheu no


canto com sua espada, mas de repente podia ouvir Morgan e Felipe
chamando por ela do outro lado da porta, mas não conseguia se mover para ir
até ela, pois os dois gigantes batiam com violência contra tudo, e muitas
vezes Ravengar tentou pega-la, mas Kaimel o agarrava com uma fúria latente
o mordia e depois fincava suas garras poderosas em sua carne e o jogava para
o outro lado.

Tentou chegar até a porta mais uma vez e ainda ouvia os rosnados furiosos de
Kaimel e também de Ravengar que o amaldiçoava e o xingava em um dialeto
que não conhecia. Depois ouviu um grito lancinante de dor encher seus
ouvidos e de repente tudo parou e ficou quieto. Ficou paralisada de costas
para eles e depois virou d evagar para olhar. Kaimel com uma mordida
potente arrancou o braço de Ravengar que deu um grito horrendo de dor. O
poderoso lobisomem que ainda estava em pé sobre as patas traseiras parecia
sorrir de uma forma maquiavélica quando seus pelos se eriçaram enquanto
olhava para o demônio ferido a sua frente. Depois farejou seu inimigo de
longe, pois jorrava sangue do ferimento causado por ele, aproximou-se
lentamente e rosnou antes de dar a investida final.

Adriana gritou quando viu que Ravengar reagir muito rápido quando o
lobisomem se aproximou e deu um golpe certeiro no peito dele, que voou
longe caindo do outro lado. Ficou chocada com a rapidez do ataque de
Ravengar, que mesmo muito ferido e sem conseguir se mover direito acertou
o enorme lobisomem. Correu até Kaimel e viu que seu peito estava rasgado e
jorrava sangue, lentamente ele voltou a sua forma humana e agonizava seus
olhos brilhantes a encaravam – Não pode morrer! – disse em pânico – não
pode morrer! – Gritou ao mesmo tempo em que tentava parar o sangramento
dele, mas não estava adiantando, pois havia acertado sua artéria.
Enfureceu-se porque sabia que ele morreria, seus olhos tornaram-se negros e
suas presas despontaram e já não conseguiu evitar seu ódio. Se se afastou de
Kaimel enquanto ele ainda a olhava e ficou de pé de repente, virou-se
lentamente na direção de Ravengar que estava caído novamente, mas ria e se
engasgava com o sangue que expelia pela boca – maldito! – disse em voz
baixa, pois ele continuou rindo e se colocou de joelhos para ter impulso para
ficar de pé e conseguiu. Não sabia de onde ele tirava forças para continuar.
Caminhou em sua direção e tentou golpeá-lo, mas ele temia a lâmina e
conseguia desviar de seus golpes – maldito! - Gritou furiosa por não
conseguir acerta-lo e ele sumiu de repente usando sua rapidez. Sentiu uma
dor lancinante no seu braço esquerdo, pois ele tentava se alimentar para se
regenerar mais rápido, mas quando reagiu ele sumiu surgindo do outro lado
novamente.
Berrou e depois tentou acerta-lo novamente, mas ele desviava e isso a
deixava mais e mais furiosa. Não ouviu quando a porta se espatifou, e
também não viu quando Morgan gritou seu nome e Felipe corria na sua
direção. Somente viu que Ravengar lançou Felipe longe e ficando cega de
ódio, avançou na direção dele e por impulso quando lançou sua espada não
viu que acertara o peito dele em cheio e o fez cair sobre os joelhos e tentava
desesperadamente retirar a lâmina.
Estava furiosa e Ravengar a olhava num misto de fúria e espanto, depois
começou a rir, pois não havia sido destruído ou virado pó como os outros.
Ficou um pouco confusa com aquilo só estava paralisado no lugar. Então
chegou mais perto e empurrou a espada para atravessar o corpo dele, pois
sabia que aquilo lhe causaria mais dor.

Ele a encarou surpreso e depois riu - Sou muito poderoso você não consegue
me matar – as palavras saíram em meio ao sangue que expeliu pela boca e
tentou se afastar dela – Não sabe como me matar. Sou imortal e indestrutível
– dizia ainda tentando ficar de pé sem conseguir.

O encarou - Não! – trincou os dentes – Você é limitado – tirou a espada de


seu peito e sorriu quando ele puxou o ar com força e a encarou novamente.
Esperou um segundo ou dois e sorriu de forma sombria quando muito rápido
fincou a espada novamente no peito dele, só que daquela vez foi lugar
correto, exatamente no coração. Ele soltou um urro metálico e o seu corpo
tremeu enquanto aos poucos se contorcia e virava brasa viva, e depois apenas
cinzas. Aquilo pareceu durar uma eternidade.

Morgan aproximou-se de Adriana que ofegava olhando para as cinzas


espalhadas no chão. Lentamente ela embainhou a espada e olhou para ele
devagar e começou a tremer - eu o matei! – ela balbuciou para ele. A abraçou
subitamente com força e beijou o alto de sua cabeça - Eu sei! – ele disse
aliviado enquanto beijava seu rosto.

Felipe levantara depois de ser golpeado por Ravengar, foi em direção a


Adriana, mas não disse nada apenas tocou seus cabelos. Mas Morgan
percebendo sua emoção tocou o ombro do amigo. Os dois sentiam a mesma
coisa naquele momento, alivio.
- Adriana! – Kaimel ainda agonizava – Adriana!

Adriana olhou para ele de repente e correu até seu ancestral. Kaimel grudou
no braço dela quando se aproximou dele - Ele morreu? Você o matou? – ele
perguntou encarando seus olhos, apertando seu braço para puxa-la para mais
perto quando ajoelhou ao seu lado.

Olhou para seu ferimento - sim! Acertei o coração – disse já com os olhos
embaçados, pois ele já estava morrendo.

Kaimel apenas sorriu ao ouvi-la – finalmente! – disse aliviado e depois puxou


o ar com força e a puxou para mais perto e disse lentamente em seu ouvido -
Não se esqueça de quem você é - fechou os olhos lentamente e soltou um
suspiro de alivio.

Adriana franziu o cenho quando ele a soltou lentamente - não! – balbuciou –


não pode morrer! Não pode – dizia sacudindo-o na tentativa de acorda-lo do
sono dos mortos – não pode! – disse sem acreditar que aquela poderosa
criatura morria daquela forma como se já esperasse por aquilo.

Morgan teve que parar as suas mãos frenéticas que sacudiam Kaimel - ele se
foi! – disse para ela com calma – está em paz agora - Ela o encarou
angustiada como se não entendesse aquilo e a abraçou e ela chorou. Não
conseguiu deixar de sentir a perda dele também e sentiu-se estranho em
relação aquele sentimento.

Atila e Sophie entraram de repente e correram até eles, quando perceberam o


que havia acontecido. Adriana os olhava sem saber o que dizer, pois era o pai
deles, e sabia como era o sentimento de perder o pai, seu coração se partiu
quando Atila se ajoelhou ao lado do corpo de Kaimel e começou a chorar
copiosamente abraçando o corpo do pai. Olhou para Sophie que tocava o
corpo do pai enquanto tentava conter as lágrimas e abraçava seu irmão que
estava inconsolável demais para notar que todos os assistiam naquele
momento.

Sophie passou a mão no rosto de seu pai mais uma vez e beijou sua testa, e
Atila debruçado sob o corpo inerte dele soluçava desolado. Nunca havia visto
seu irmão mais velho naquele estado, ele era sempre tão forte que vê-lo
daquele jeito a preocupou, pois Atila era tão apegado ao pai e o pai a ele, que
não sabia como ele lidaria com sua perda. Kaimel era a fonte de seu clã, a
origem do que eram e a origem da aliança, e não haveria outro líder como ele,
mesmo Atila sendo o primogênito da raça e sendo treinado pelo próprio pai
para sucessão. Kaimel era a fonte e sua imponência e autoridade era lenda em
meio ao seu povo, seu heroísmo e sua luta contra a maldição era motivo de
orgulho para toda a sua linhagem. Foi o primeiro de muitos e agora Atila
como seu primogênito teria que trilhar o mesmo caminho do pai e continuar o
seu legado, guiando seu povo, ensinando-os e liderando-os.
Estariam de luto para sempre, mas não poderia deixar seu irmão e agora líder,
daquela forma vendo que ele não se importava que os outros vissem que
estava vulnerável, poderiam mata-lo facilmente se quisessem, pois com seu
pai morto os vampiros não precisavam honrar com a aliança. Então agiu
rapidamente quando olhou para os vampiros e retirou o anel que estava na
mão direita de seu pai e o pôs no dedo anelar da mão direita do irmão. Atila
olhou para ela com os olhos inchados e espantados e depois para o anel em
seu dedo – Agora é o nosso líder e deve continuar com a missão de nosso pai
– Ela disse engolindo o soluço que tentou escapar e encarando o irmão com
um pouco de frieza.

Nem se dera conta de que era o novo líder dos ciganos, dos lobisomens.
Havia sido criado para lidera-los, mas mesmo após séculos ainda achava que
não estava preparado para aquela responsabilidade principalmente perder seu
pai para tê-la. Mas naquele momento olhando para o anel em seu dedo
percebeu que não tinha outra escolha senão liderar seu o povo, e ser mais
forte que todos eles. Inspirou com força e enxugou suas lágrimas
endurecendo sua expressão em seguida tornando-a sombria. Olhou para
Adriana que apenas o olhava com tristeza, e não precisou das palavras dela
para saber o que estava sentindo e sabia que só não se moveu na sua direção,
porque o vampiro estava em pé atrás dela. Sentiu uma fúria crescente quando
olhou para Morgan, ele nem sequer se abalou pelo primeiro guardião da
aliança que ele fez tanta questão de reaver, ele apenas olhava de forma
estranha para o corpo de Kaimel e depois o encarou.

Engoliu todo seus orgulho naquele momento e beijou a testa de seu pai, olhou
em volta inconformado, pois sabia que seu pai morreria nas mãos de um
maldito chupador, aquela maldita linhagem sempre o quis morto.

Sentiu seu corpo tremer somente por pensar naquilo, mas se conteve.
Colocou-se de pé, pois estavam em uma guerra naquele momento, pediu para
sua irmã chamar alguns dos homens que estavam no corredor para
carregarem seu pai para fora daquele castelo.

Aproximou-se de Adriana parando diante dela – Serei grato a ti por ter


vingado nosso líder, serei grato pelo resto da minha vida. A honrarei como
meu pai honrou – pegou a mão dela e a segurou espalmada em seu peito na
altura do seu coração – Guardião até morrer! – a sentiu estremecer enquanto
o encarava com aqueles olhos brilhantes, mas aquilo durou somente alguns
instantes pois Morgan colou ao lado dela.
Não brigaria com o vampiro, pois ainda sentia aqueles demônios do lado de
fora e seus homens brigando ferozmente. Apenas afastou-se deles enquanto
alguns de seus homens carregavam seu pai para longe dali.
Vingando o passado

- Morgan! – Diego entrou correndo no salão passando apressadamente por


Atila e seus homens que carregavam Kaimel para fora do salão. Voltou os
olhos interrogativos para seu líder - Esse lugar está totalmente tomado por
demônios – disse agitado

Todos olharam na sua direção.

- Mas Ravengar está morto! – Adriana disse sobressaltada

- Mas Willian está lá fora com seus homens e com os homens de Melked –
ele disse atraindo mais ainda o interesse de todos – E os puros ainda
continuam atacando -

- O que? – fez Felipe com indignação. E olhou para Morgan preocupado -


tem alguma coisa errada! Eles não estariam tão confiantes se não tivessem
outra carta na manga – disse

Morgan apenas olhou para Adriana - Quero que saia daqui! – disse para ela,
enquanto segurava seus ombros.

Sacudiu a cabeça quase entrando em pânico - não! – protestou em desespero,


sabendo o que ele pretendia.

- Por favor! Faça o que eu estou pedindo! – ele lhe deu um beijo e em seguida
virou-se para Felipe - cuide dela! – depois olhou para ela novamente -
lembre-se do nosso trato! – disse e saiu correndo sendo seguido por Diego.
- Morgan - ela gritou indo atrás dele. Felipe a segurou - Não! Me solta.
Morgan! –ela gritava

- Vamos sair daqui agora! – Felipe disse autoritário e lançou um olhar para
Sophie – Sei que não gosta de mim, mas preciso da sua ajuda! Preciso que
encontre Isaiah e os humanos e os traga até aqui – Disse ao mesmo tempo em
que arrastava Adriana contra sua vontade para fora do castelo. Abriu a
enorme janela do salão que dava para o lado oposto de onde havia sido
invadido, pois era uma janela que ia praticamente do chão ao teto. Estava
com Adriana presa pela cintura quando saltou pela janela caindo ambos de pé
na parte lateral da casa. Ela se debatia em suas mãos - Não pode fazer isso,
ele precisa de mim, de você. O que está fazendo? - ela esbravejava tentando
se soltar

Felipe a sacudiu e fez encara-lo – Todos nós precisamos de você viva. Não
percebeu que ainda não acabou? – ele esbravejou de volta - tem alguma coisa
errada! Foi muito fácil matar Ravengar e eles ainda continuam aqui.

Ela parecia não ouvir o que ele dizia – Me solta, essa briga é minha – dizia
olhando em direção ao pátio que estava tomado. Pode até ver Willian de
longe enquanto lutava com Miguel e Diego ao mesmo tempo, tentando abrir
caminho para chegar até Morgan. Teve um mau pressentimento horrível em
relação aquele confronto.

Sophie surgiu na janela de repente e saltou com Fernan e Gevy. Isaiah


esperou e depois saltou sozinho. Felipe abria caminho cautelosamente
circundando o jardim, era a única maneira de sair dali. Ele parava
cautelosamente quando via os homens de Willian. Poderia acabar com eles
facilmente, mas teria que seguir com o plano que haviam combinado e tirar
sua protegida viva daquele lugar.

Morgan eliminava os demônios com facilidade. Por alguma razão ainda


estavam ali, não foram embora mesmo depois de Ravengar ter sido destruído.
Os vampiros que estavam ali para lutar contra eles, não eram paria para os
guardiões da aliança. Porém, eram centenas deles. Sua intenção era chegar até
o maldito assassino de Helena que se escondera durante séculos.
Willian se defendia habilmente de Miguel e Diego, porque era mais
experiente do que eles e mais velho também. E quando conseguiu se
desvencilhar dos dois, partiu furiosamente na direção de Morgan que fez o
mesmo quando o viu. Mediram-se, analisaram-se se encaravam até Willian
dar a primeira investida contra Morgan que se defendeu e girou dando outro
golpe que pegou de raspão no braço dele. Willian riu com surpresa e disse - o
príncipe parece maduro e hábil com sua espada agora - provocou

Morgan sorriu com desdém – Terá o mesmo fim que seu líder - rebateu

Willian franziu o cenho confuso e depois gargalhou - Ele já serviu para o


meu intento. Não precisava mais dele mesmo, eu só queria o sangue dele.
Vocês Drakos sempre se acharam superiores, e o seu tio era insuportável -
rebateu orgulhoso de si - Depois que eu acabar com você, vou matar sua
amante ou torna-la a minha amante – ele riu.

Os olhos de Morgan lampejaram furiosos – Não chegará perto dela – disse

Willian ainda tinha um sorriso maldoso estampado na cara - Será assim como
eu fiz com a primeira, qual era o nome daquela criatura irritante mesmo? Ah!
Helena. Se bem que foi ela quem veio atrás de mim, tão fraca e perturbada. E
agora vou matar o último Drako já que o seu herdeiro foi junto com a mãe
louca. Emocionante! – ele riu mais uma vez vendo a fúria de Morgan surgir

- Nunca chegará perto dela! – Morgan disse mais uma vez, mas sua voz era
sombria naquele momento.

- Ah não? – respondeu com deboche – Vou mata-lo e atrai-la até aqui. Ela é
bem mais interessante que aquela humana burra, porque essa não é mais
humana afinal – ele riu.

Morgan partiu para cima dele com tanto ódio que suas espadas faiscavam,
devido à força em que foi desferida. Willian defendeu-se novamente, mas
Morgan não cessava seus golpes devido à fúria que sentia. Tentou usar sua
rapidez para se esquiva, mas os seus movimentos foram antecipados e
Morgan o desarmou derrubando-o no chão. Ficou sobressaltado com a
destreza e agilidade do seu inimigo e tremeu diante a espada dele que
espetava o seu nariz - Era o que eu deveria ter feito ha muito tempo atrás –
Morgan dizia com raiva - deveria ter ignorado as leis de Valérius e te matado.
Adriana olhava impaciente para a mão de seu protetor que apertava seu pulso
para que não houvesse chance de se livrar dele. Puxou seu braço pela última
vez, e ele a soltou.

Felipe a encarou sobressaltado com sua rapidez - Por favor, Adriana. Não vá!
– ele implorou sabendo o que ela intencionava fazer.

O encarou por um momento e depois olhou para seus amigos, voltando o


olhar para ele novamente - Me perdoe, mas não posso fugir – disse dando-lhe
as costas em seguida e correndo em direção ao jardim.

- Adriana! – Felipe gritou – Adriana! Volte! – Gritou novamente, mas ela


havia usado sua velocidade e sumiu de suas vistas, mas partiu ao seu encalço.

O que ela viu quando deu a volta no jardim a deixou em extremo desespero.
Morgan levantou sua espada para dar o golpe final em Willian que estava
caído no chão, mas foi surpreendido por dois dos puros que o prendeu,
segurando-o pelas costas puxando seus braços para trás e o forçando largar a
espada. Eles eram maiores e ele estava totalmente distraído, e aproveitaram
sua distração para imobiliza-lo, então Willian se pôs de pé e foi em sua
direção. Era como se aquela cena acontecesse em câmera lenta, pois não
conseguia pensar direito no que fazer para salva-lo. Olhou para o outro lado
vendo Diego tentando se livrar de três puros e Miguel que desviava da
saraivada de tiros dos homens de Melked, que atiravam sem parar na sua
direção para que não conseguisse chegar até o seu irmão. Voltou os olhos
desesperados para Morgan e viu Willian pegando a espada dele do chão, indo
em sua direção com os olhos ensandecidos e um sorriso diabólico. Tinha que
pensar rápido no que fazer.
Morgan olhava para Willian com um ódio imenso. Sabia que se morresse ali,
logo em seguida seu inimigo iria atrás de Adriana e tentaria matar cada
guardião para chegar até ela. Sentia como se o destino conspirasse contra ele
mais uma vez, mas não o deixaria vencer, não novamente. Olhou em volta
disfarçadamente tentando achar uma forma de se livrar daqueles demônios e
matar Willian de uma vez, mas esperaria ele se aproximar o suficiente para
fazer o que tinha em mente. O encarou de volta vendo que seu inimigo tinha
um sorriso maldoso em êxtase como se houvesse vencido pela segunda vez.

Willian parou diante de Morgan e o encarou saboreando aquele momento


antes de mata-lo - Você não sabe como é fácil negociar com o demônio
quando se tem o mesmo objetivo que ele – olhava para os dois demônios que
o prendiam - Ravengar era a isca, claro! Mas o sangue de Tyros vai
desencadear muitas coisas – ele gesticulava com a outra mão - Eu apoiei o
seu estupido tio, mas nunca fui leal a ninguém, se é que me entende – Seu
sorriso desapareceu dando lugar a um olhar vago.

Morgan o analisava friamente - Não vai conseguir o que quer dessa vez –
disse com uma calma aparente.

Willian voltou a encara-lo de forma cruel – Você e seus aliados da aliança


são tão arcaicos. Ainda usam espadas - debochou e riu enquanto analisava a
espada de Morgan em sua mão direita – Ainda não aprendeu que os humanos
são frágeis e volúveis, são corruptos e autodestrutíveis. Mas dá para
aproveitar o sangue e a tecnologia. E é tão fácil compra-los – Sentia-se
extasiado com o que dizia e riu novamente – Vou contar-lhe um segredo
alteza já que vai o levar para o túmulo mesmo. Imagine que com um pouco
do sangue de Tyros, conseguimos fazer uma arma poderosa que vai
desencadear uma super evolução. Finalmente terei meu próprio império e
serei o rei dessa vez, e só precisava libertar alguns demônios – disse.

Morgan o encarou confuso e depois endureceu sua expressão. Entendeu o que


Willian havia feito e que ele não havia feito sozinho, teve ajuda além da
aliança com os demônios. Ele havia sido o aprendiz mais dedicado de
Ravengar, e Ravengar o tolo mais empenhado entre os de sua raça, pois com
a alta magia conseguia o que queria até ser dominado por ela. Viu a
expressão de Willian mudar novamente e levantar a espada e ir na sua direção
com tudo. Teria que agir rápido e desviar do golpe para que acertasse um dos
demônios que o segurava, e com a distração matar todos eles. Mas o que
aconteceu foi tão rápido que não teve a chance de impedir, apenas gritou –
NÃAAOOOOOO.

Adriana conseguiu chegar a tempo, no momento exato em que Willian


mataria seu amado. Colocou-se muito rápido entre Morgan e a espada e
apenas sentiu a lâmina atravessar sua carne pelas costas bem do lado direito
atravessando seu peito, fazendo com que sentisse uma dor excruciante, pois a
espada era revestida de prata e muito afiada. Ouviu milhares de coisas ao
mesmo tempo em que sentiu a espada atravessa-la, os gritos de Morgan e de
Felipe que pareciam longe, as vozes metálicas daquelas criaturas horrendas
que seguravam Morgan e que estavam espalhadas por todo o pátio, os
rosnados furiosos dos lobisomens. Sua mente entrou em choque devido à dor
que a afligia e o contato do seu sangue com a prata que parecia asfixia-la.

Morgan gritou e gritou ao vê-la entrar na frente da espada que era para ele, os
olhos dela encheram-se de lagrimas devido à dor e o choque com a prata e
olhavam para ele como se não conseguisse enxerga-lo. Ouviu Willian
gargalhar ao ver quem ele acertara se divertindo com o que tinha acabado de
acontecer sem ele planejar. O tempo parou naquele momento e só conseguia
ouvir o coração acelerado e a respiração entrecortada de Adriana que ofegava
e caia pesadamente sobre os joelhos. Não conseguia ouvir nem Miguel, nem
Diego e nem Felipe que se aproximavam atacando os demônios a sua volta.
Só via Adriana e Willian. Ficou tão cego e tomado pela fúria que se soltou
dos demônios que o prendiam, e com um golpe arrancou a cabeça de um e o
outro ele rasgou-lhe as asas e deu-lhe um soco potente no peito fazendo um
buraco enorme que fez a fera urrar, depois agarrou seu pescoço com sua mão
e puxou com força separando a cabeça do corpo. Foi muito rápido!

Adriana sentiu-se tonta, a prata entrava em contato com sua corrente


sanguínea e a paralisava. Sua espada escorregou por seus dedos, pois
começara a perder os movimentos e sua coordenação motora. Sentia tanta dor
que ela não parava, ia e voltava muito rápido a perturbando, a afligindo,
como aquilo podia doer tanto? Mas tinha que resistir, pensava! Sacudiu a
cabeça para clarear as ideias e fez um esforço enorme com o braço débil para
alcançar a espada fincada nas suas costas, mas doeu demais. Quando fez
outro esforço teve que parar porque não conseguia respirar, mas em seguida
fez outra tentativa e quando a alcançou, precisou ter coragem para tira-la dali
e deu um grito quando conseguiu puxa-la – oh Deus! – gritou caindo
debruçada no chão. Ainda estava tonta, a prata causava um efeito estranho,
nauseante, atordoante. Então fechou os olhos e tentou controlar sua
respiração. Tornou a abrir os olhos e olhou para sua espada e lentamente
conseguiu alcança-la e fechando os dedos em volta dela bem devagar.
Precisava achar sua força novamente - Deus! - parou por causa da dor que
latejava e com dificuldade tentou lembrar a oração que sua mãe sempre fazia
- O senhor é o meu pastor... – Mas não conseguiu continuar, pois seu peito
ardia e sua visão ficou um pouco nublada. Fechou os olhos novamente e os
abriu em seguida e teve o vislumbre do anjo que pousava no meio do campo
de batalha e vinha na sua direção para resgata-la. Fechou e abriu os olhos
novamente e viu Morgan atravessa-lo, quando correu até ela. Estava tudo
muito confuso. Mas sentiu um puxão forte e dolorido em seu cabelo de
repente, um puxão que a forçou ficar de pé.

- Olhe majestade! – dizia Willian que a segurava pelos cabelos de costas para
ele, e depois a prendeu junto ao seu corpo, puxando-a com a outra mão.

Ela sangrava muito e mal conseguia ficar de pé. Olhou para Morgan que
olhava para ela em total desespero sem saber o que fazer. Pode vislumbrar o
jardim se tornando um campo sangrento no meio do caos, lobisomens contra
demônios em uma luta violenta e os vampiros que se aproximavam para
ajudar o líder.

Willian a puxou com mais violência – Que coincidência mais uma guardiã
morrer pela minha espada, e eu nem tentei matá-la – ele riu de forma se
divertindo muito com aquilo.

Ela olhou para Morgan e viu toda sua fúria enquanto olhava para o inimigo.

- Assim como Helena! – Willian continuou rindo.

Mesmo meio débil e fraca se enfureceu quando ouviu o que Willian acabava
de dizer. Queria matá-la assim como fez covardemente com Helena. Fez um
esforço enorme para clarear as idéias e falar – Mas eu não sou Helena! –
sussurrou pausadamente e Willian não entendeu e aproximou-se para ela
repetir - Eu não sou Helena! – Disse quando ele se aproximou demais e
juntou o que restava de sua energia mordendo-lhe o pescoço. Ele berrou
colérico e a soltou para estancar o sangue que jorrava em profusão, e quando
ele a soltou se jogou para Morgan que entendeu o que ela queria e a pegou.
Ainda segurava a espada, mas quem a manejou foi ele, que a amparou com o
braço esquerdo e com o direito segurou a mão que prendia a espada, girou o
corpo junto com o dela e muito rápido acertou Willian em cheio separando a
cabeça do corpo, ele virou poeira debaixo de seus olhos.

As pernas de Adriana vacilaram mais uma vez e a espada caiu, mas a


manteve firme em seus braços. Fitou o rosto dela e seus olhos se fechavam
contra sua vontade e quase que não deu pra ouvir quando ela disse - Eu disse
que não era a porra da Helena! – Ela desmaiou em seguida. Morgan só pode
sorrir com certo alivio quando ouviu aquilo.
Ainda não é o fim

Após aquele confronto violento, a morte de vários inimigos e a perda de


alguns aliados, descobriram que os inimigos tinham a tecnologia a favor
deles e a certeza de que jogavam com algo mais além da tecnologia. Magia e
evocação de demônios era somente o começo, e Melked, Marguerite e
Aquiles que haviam sumido, eram somente os peões como em uma peça em
um tabuleiro de xadrez. Ninguém sabia do paradeiro deles o que era
preocupante, pois, Willian confessara que havia criado uma arma e não
sabiam sobre o que ele falava. O clima no castelo não era mais o mesmo,
estava tenso. E mesmo com a rápida recuperação de Adriana, Morgan não
conseguia evitar o sentimento de culpa por ela arriscar a própria vida por ele.

Estavam todos na aldeia dos ciganos, o funeral de Kaimel foi solene e cheio
de emoção e fizeram sua enorme pira no meio do monte mais alto onde
poderiam ver o mar, e o queimaram como um verdadeiro rei. Todos na aldeia
choravam a perda do líder e entoavam uma canção na língua antiga de
Kaimel enquanto as chamas ganhavam vida e força. Foi uma canção triste e
cheia de dor, puxada pelo ancião da aldeia e por Atila e todos cantavam e se
despediam dele a sua maneira.

Logo depois no mesmo dia, foi celebrado a coroação do novo líder dos
lobisomens. Mas Atila não estava muito feliz e ainda não aceitava aquilo
muito bem, odiava aquela responsabilidade simplesmente pelo fato de todos
esperarem grandes coisas dele, como ser o responsável pela vida de cada
membro do clã, a reorganizar a aldeia novamente e protege-los. E ele só
pensava no quanto aquilo iria consumi-lo deixando-o longe de Adriana e da
sua obrigação de guardião. Também não tinha terminado o assunto com seu
irmão rebelado e Aquiles ainda era uma grande ameaça para seu povo.
O Clã Drako equipou a segurança do castelo com tecnologia, pois as
habilidades que tinham não era o suficiente para a proteção do clã e de
Adriana. Miguel era o responsável pela evolução no armamento pesado e
pela segurança, ficou obcecado com aquilo após se recuperar de várias balas
de prata. Empenhou-se em conhecer armas de fogo de todos os tipos e
tamanhos, e toda e qualquer tipo de tecnologia e outros tipos de munições
que poderiam destruir seres noturnos. Fez amizade com um rapaz muito
inteligente que conhecera em uma convenção tecnológica em Londres, era
um tipo de gênio. E depois de meses sondando e observando o rapaz, o
contratou para trabalhar para eles e assim que teve permissão para leva-lo
para a Escócia, contou sobre a verdadeira identidade dos habitantes do
castelo. Claro que o rapaz entrou em choque, mas depois de duas horas
aceitou bem a condição deles, pois também era viciado em histórias de terror
e quadrinhos e acabou achando aquilo incrível apesar do medo que sentia o
tempo todo.

Investigavam a fundo os arredores de toda a Europa, procurando por


vestígios dos inimigos que não haviam sido aniquilados. Descobriram através
de alguns aliados que Marguerite vivia em Budapeste com seus gêmeos e
financiava uma boate na cidade onde os jovens turistas se divertiam e muitos
não voltavam para suas casas. Adriana imediatamente tentou convencer
Morgan e Felipe autorizar que a caçasse, mas eles negaram.

Felipe continuava se preocupando com tudo o que havia acontecido com


Adriana, e sempre conversavam muito com ela sobre tudo o que tinha
acontecido até ali. Ela passou a confiam mais nele e acabou confessando sua
tristeza com a perda de Alex, e como aquilo havia lhe afetado e que achou a
morte de Kaimel totalmente desnecessária. Ele simplesmente respondeu - Na
guerra, perdemos e ganhamos, afinal é guerra. O Bem e o mal, perdas e
conquistas. Mas sempre temos a nossa fé para nos manter firmes, e sempre
haverá outras pessoas que amamos para continuar lutando por elas - Quando
lhe disse isso estavam na sacada do seu quarto e o sol estava se deitando
naquele momento, e a noite começava a cair lentamente.

Ela o encarou por um segundo apenas e depois olhou para além da floresta –
gostaria de entender porque tudo isso acontece! - disse pensativa

Felipe sorriu quando olhou para ela – A história mais antiga da humanidade,
bem e mal. um dia haverá a última batalha que porá fim em tudo isso. Mas é
somente a versão humana para acalentar os corações mais fervorosos ou
medrosos. Um fio de esperança para a sanidade – a viu virar o rosto
lentamente – E nós ainda teremos que travar as nossas próprias batalhas, é a
nossa missão.

Adriana disfarçou um sorriso – E qual é a nossa missão? – perguntou


desconfiada

Felipe suspirou – A nossa é te proteger, a sua... - ele fez uma pausa e olhou
para o céu – Ainda é usar a espada, a aliança - ele se apoiou no parapeito da
sacada e ficou em silencio mais uma vez e não olhou para ela novamente.

Olhava para ele tentando imaginar sobre o que ele falava – Que aliança... está
dizendo que é a mesma aliança que fez com Kaimel, antes da maldição? Até
hoje não entendi direito.

Olhou para ela como se estivesse incomodado, e estava. Lembrar os motivos


da aliança, lhe incomodava – O símbolo da aliança tem um significado forte,
o eclipse do sol representa uma noite sem fim. Isso quer dizer que para
criaturas noturnas como nós, não haverá barreiras nos impedindo de ir e vir,
isso facilitaria a dominação dos humanos. Isso era o que Tyros sempre quis,
mas estamos aqui para impedir isso. Não queremos um mundo dominado
pelo medo, terror, escravidão. O símbolo serve para nos lembrar de que
estamos aqui para impedir isso – ele tocou seu rosto suavemente.
Ela o olhava sem acreditar no que ouvia – Mas por que o anjo escolheu vocês
para me proteger? Não entendo – disse confusa

Felipe sorriu suavemente – Você já viu os seus inimigos? Ele precisava de


criaturas como eles para te proteger, porque conhecemos o ponto fraco do
inimigo. Então seja forte e lute até o último suspiro – beijou-lhe a testa e se
afastou.

Continuou ali na sacada pensando sobre o Felipe lhe dissera.

Felipe tratou de arrumar a vida dos amigos humanos de sua protegida,


pagando-lhe uma grande soma em dinheiro por causa do terror que haviam
passado, pois não quiseram voltar para a boate e trabalhar para eles. Fernan
arrumou outro emprego, mas mantinha seu contato diário com ela. Somente
Gevy ainda se mantinha trancada no apartamento, e saia na rua somente de
dia. Felipe achou necessário deixar um dos rastreadores no apartamento deles
por precaução. Eram rastreadores criados por Mike o gênio que Miguel havia
encontrado. Sua protegida não permitiu que os encantasse, achou injusto
faze-lo, apagando suas lembranças e continuarem achando que estava tudo
bem e normal com o mundo.

Tiveram que aprender a conviver com Mike, o gênio por trás das armas que
Miguel passou a usar. Ele era um rapaz magro e esguio de 22 anos, muito
estiloso, usava o cabelo no estilo Black Power e roupas largas como os
rappers. Tinha um rosto bonito, com o sorriso tímido com dentes perfeitos, e
olhos castanhos escuros muito espertos, era falante e de pensamento rápido.
Tinha a mania de escutar rap e chamava Isaiah de irmão, apesar dele lhe dizer
que não eram parentes, mas o rapaz sempre esquecia e acabava falando
novamente, e Isaiah o corrigia. Ele havia criado o rastreador antes de ser
contratado por Miguel, e foi por causa do rastreador que Miguel o achou
interessante. Funcionava via satélite e captava movimentos de qualquer
criatura abaixo de 35 graus. Ou seja, abaixo da temperatura do corpo
humano, um vampiro. E acima da temperatura do corpo humano, acima de 40
graus, com certeza era um lobisomem. E tudo o que encontravam era
investigado. Estavam muito atentos a tudo.

Adriana mantinha o habitual contato com sua família. E fez com que sua mãe
comprasse uma casa grande e segura com dinheiro que enviara para isso,
ainda pagava as despesas e seguranças, mas nunca dizia por que fazia aquilo.
Ligava todos os dias e já estava se programando para ir ao Brasil com Fernan
e Gevy para visitar a família. Morgan insistiu em ir com eles já que Felipe
havia comprado uma propriedade em São Paulo anos antes para ficar perto de
Adriana.
Ela e Morgan não se desgrudavam e por insistência dele passaram a dividir o
mesmo quarto que ele adaptou para os dois.

Morgan não conseguia parar de pensar em selar sua união com Adriana que
aceitou o pedido, mas não quis marcar a data de casamento até tudo estar na
perfeita ordem e ainda tinha o fator família. Todos tiveram que se adaptar a
nova aliança. Por este motivo Morgan e Atila baixaram a guarda e fizeram
uma trégua por um tempo. Estariam sempre perto um dos outros, e ninguém
de fora era permitido entrar na nova aliança, e nenhum humano poderia se
envolver com eles sem autorização dos mais velhos.
Havia levantado muito cedo naquele dia. Abriu os olhos com preguiça e se
deparou com belo rosto de seu amado, estava rodeada por seus fortes braços
protetores e aconchegantes. Estava se acostumando a sua nova condição de
não ser mais humana e mudar mais a cada dia, e estava gostando daquela
mudança. Ficou olhando para ele em silêncio e sorriu, pensando em como sua
vida mudara em um ano e jamais havia imaginado encontrar tais criaturas e
se apaixonar perdidamente por um vampiro, ainda mais um lindo como
aquele. Mexeu-se devagar para sair da cama. Ele dormia profundamente
naquele horário, mas se ficasse se mexendo muito ele acordaria lentamente.
O quarto deles estava todo equipado, tinha persianas de metal que de dia
ficavam totalmente travadas, impedindo que a luz do dia entrasse. Foi para o
banheiro tomou um longo banho, e depois de se trocar saiu do quarto e foi
para a cozinha. Não tinha tanto apetite como antigamente, ainda mais, depois
de sua mudança radical. Comia menos a cada dia que passava. Entrou na
cozinha e viu Sophie preparando alguma coisa com bacon e ovos, e achou o
fato dela estar ali bem curioso, mas fingiu não saber de nada. Sentou-se na
cadeira de madeira e olhou para sua amiga, como se algo a incomodasse.

- Bom dia! – disse Sophie sem olha-la – Qual o problema? - perguntou


virando-se em seguida, e despejando uma quantidade generosa de ovos
mexidos com bacon, presunto e queijo num prato para Adriana.

- Não estou com fome! – Adriana respondeu olhando desanimada para os


ovos

Sophie arqueou a sobrancelha numa típica reação de impaciência - Acho


melhor você comer logo. Não estou nada paciente hoje - respondeu e virou-se
para o fogão novamente.
Adriana sorriu sem graça e depois sacudiu a cabeça e deu uma garfada nos
ovos.

- ainda não me disse o que te preocupa! – Sophie falou virando-se novamente


e sentando-se na cadeira a sua frente - eu te conheço muito bem! Se parece
comigo, algo genético em nossa família - ela sorriu.

Adriana achou o comentário engraçado, porque os ciganos sempre a faziam


lembrar de que era descendente deles – Estou um pouco impaciente, irritada.
Essa coisa de eu não poder fazer o que eu quero, quando eu quero, me deixa
louca - falou

Sophie a analisou - E o que você quer fazer? – perguntou

Adriana a fitou – vingança. Caçar Marguerite faze-la pagar pelo que fez ao
meu amigo – disse de forma irritada e bufou.

- Sozinha? – Sophie perguntou num tom irônico

- Não! Mas queria que fizessem algo para acha-la e me levassem com eles –
afastou o prato ainda cheio depois de comer um pouco mais.

Sophie a olhou com reprovação – Se ela descobrir algo do tipo vai te esperar
com um batalhão deles. Você não terá chance de entrar na cidade – Sophie
sabia do que estava falando – tem que ser algo muito bem pensado.

- Você a conhece? - perguntou curiosa

- Sim! – Sophie riu com desdém ao se lembrar - Ela é muito cruel! Evite-a se
puder. Você ainda é muito jovem no nosso mundo, ela está aqui há mais
tempo. E é mais forte que você – alertou. Mas seu olhar estava perdido na
chama do fogão que fervia a água na panela.
Adriana deu de ombros. Não se importava se ela era mais velha e nem mais
forte, queria matá-la a todo custo. E não importava o tempo que levasse, mas
iria acha-la e acertaria as contas com ela um dia - Qual o seu problema com
ela? – perguntou curiosa vendo sua amiga pensativa.
Sophie a encarou como se voltasse à realidade subitamente - não tenho
problemas com ela, estou pensando em outras coisas hoje. Só vim ver como
estava e já tenho que ir embora, e não sei quando vou voltar aqui. Atila
precisa de mim - ela disse levantando-se e tirando o avental.

Adriana se pôs de pé - você tem que ir agora? - perguntou incrédula - qual a


urgência?

Sophie ia saindo pela porta dos fundos da cozinha - Todas! – ela respondeu
enquanto Adriana a seguia – Você poderá ir para a aldeia quando quiser, sabe
que será sempre bem-vinda. E todos a adoram. Atila já te fez milhares de
convites – ela olhou de soslaio para a amiga - Ele dispensou mais uma filha
de um dos nossos. Não quer saber de se casar, mas agora que é o líder
proposta de casamento e alianças é o que não falta – a fitou por um segundo
vendo a reação sem graça da guardiã.

Adriana fingiu não ouvir a última parte - Irei assim que eu conseguir! – disse
parando na porta enquanto Sophie continuava.

- Não demore! Ou teremos que nos organizar e vir te resgatar – disse se


afastando depois de acenar para Adriana.

- Como se fosse fácil - berrou para ela ouvir. Esquecendo-se de que não
precisava mais utilizar aquele artifício, era apenas um reflexo humano ainda.

Pode ouvir as gargalhadas de Sophie da estrada de terra. Ficou pensando no


que ela havia lhe dito realmente se sentia uma prisioneira. E não entendia o
motivo de Atila não ir mais ao castelo. Sophie e Angelus iam quase todos os
dias a mando do líder, mas no fim da tarde Sophie sempre sumia e
coincidentemente Diego também sumia.

Sentia falta de seus amigos humanos, mas preferia eles longe da loucura que
era viver com vampiros super protetores, lobisomens e os possíveis inimigos
que os rodeavam e estava se cansando daquilo. Embora amasse ficar nos
braços de Morgan, tinha o espírito combativo e não gostava de ficar sem
fazer nada por muito tempo, amava sua liberdade e prezava por ela. Teria
uma briga séria com Morgan novamente se ele não cedesse a sua vontade, e
com Felipe consequentemente por apoiar Morgan quando se referia a sua
super segurança.
Não era bem o que ela queria, mas não teve como ganhar aquela discussão.
Morgan era inflexível às vezes e Felipe manipulador, e quando se juntavam
não conseguia convence-los. Diego e Miguel, tão pouco conseguiriam ajuda-
la, eram seus cúmplices e parceiros prediletos, pois sempre cediam as suas
vontades, além de sempre saberem como se divertir num lugar longe como
aquele na Escócia. Apesar de Morgan relaxar quando estava com eles e não
com os ciganos, sempre dava um jeito de saber o que estavam aprontando.
Felipe por outro lado procurava ficar por perto, pois sabia como ela
conseguia persuadi-los a fazer o que ela queria. Não tinha muita alternativa a
não ser continuar a insistir. Queria caçar Marguerite e seus gêmeos para
vingar seu amigo Alex, mas Morgan não queria que fosse caça-la por motivos
óbvios. Marguerite era astuta demais e não estava sozinha tinha Melked e
Aquiles ao seu lado e possivelmente outros.

- Por que estamos tendo essa discussão? – ele a fitou impaciente e ela não
olhou para ele.

Encarar os olhos de Morgan quando estava irritado, não era o que havia
planejado - Você acha que eu não seria capaz de fazer isso? – disse tentando
fazer com que a discussão virasse contra ele. E ele percebeu sua intenção.

- Minha vida – Morgan disse se aproximando dela – não duvido de sua


capacidade, apenas acho perigoso para você agora. E como líder desse clã e
na posição de seu noivo, não posso concordar com isso – segurou seu rosto
aborrecido com as duas mãos.

- Não está sendo justo! – ela protestou

Ele lhe deu um beijo rápido - realmente não estou, mas são as regras. E você
sabe disso, agora faz parte do clã também. E independente de ser minha, deve
seguir as regras – ele dizia isso encarando seus olhos intensos. Ele a beijou
suavemente e depois intensificou o beijo, encaixando os lábios carnudos nos
dela.

Ela retribuiu, pois era impossível ela não reagir ao toque dele. Mas mesmo
não resistindo ao seu toque, ela não conseguia se concentrar muito nele
naquele momento. Pois odiava ser contrariada e ele queria tirar seu foco do
assunto em questão.

Ele parou de beija-la e a encarou novamente - Você realmente quer isso, não
é? – ele perguntou sério – A vingança não é o melhor caminho no momento –
disse isso analisando sua reação

Ela o encarou impaciente – Eu só fico pensando que nesse momento, eles


estão se reagrupando para nos atacar novamente. E nada mais justo que caça-
la! Não apenas pelo meu amigo, mas por tudo. Sabe que não poderão me
impedir por muito tempo! – alertou.

Morgan sabia que ela era determinada quando queria uma coisa, e sabia que
ela poderia usar vários artifícios para conseguir chegar até Marguerite. Não
gostou de ouvi-la falando daquela forma – Não sabe do que somos capazes!
Se fugir novamente, iremos acha-la. E por outro lado, ainda não é seguro para
você – seus olhos escureceram pela irritação – Que Diabos! Você não
aprendeu nada como tudo o que aconteceu? – explodiu

Adriana o encarou e depois baixou os olhos contrariada, pois ele tinha razão.
Ficou em silêncio não conseguia responder devido à irritação e se afastou
dele.

Morgan percebeu – Amor! Não posso arriscar te perder – Aproximou-se dela


novamente – pode até ser um gesto egoísta de minha parte. Mas... Mas deixa-
la fazer isso, seria como joga-la na cova dos leões. E por outro lado estamos
atentos a tudo – ficou um pouco perturbado com a idéia de perdê-la. Ainda
não se perdoava por ela ter se jogado na frente da espada que era para ele.
Vislumbrou os olhos que se levantaram para fita-lo, e pareciam angustiados e
aquilo o perturbou – Não me peça para deixa-la! – disse como se sentisse
alguma dor no peito.

- Você não me jogaria na cova dos leões, só me daria à chance de fazer


justiça – Ela suspirou, era mais um reflexo humano que ainda tinha – Não
vou mais insistir, pois não suportaria vê-lo angustiado por minha causa. Mas
não vou desistir.

- Não vou perdê-la! – ele disse passando a mão no rosto dela

Ficou olhando para ele. Primeiro com impaciência depois seu olhar suavizou
entendendo a angustia que ele sentia. Quantas vezes quase morreu? E o pior,
a única vez que ele estava por perto, foi quando se jogou na frente da espada
de Willian. Sabia muito bem que ele quase enlouqueceu quando fugiu,
quando ficou paranóica com a mudança. Ainda mais com Atila junto dela,
pois era inseguro em relação a ele.

Ela o abraçou, mas não queria dizer que concordava com ele. Ele tinha razão,
pois a quantidade de inimigos havia aumentado com certeza, e haviam muitos
recém-transformados, sedentos e obedientes aos seus mestres. Sabia muito
bem como era a loucura da transformação, e como ficavam obcecados com
certas coisas. Devia ter cautela. Mas havia outra coisa que teria que lidar
também, queria ir à aldeia dos ciganos e Felipe não aprovava que fosse
sozinha e havia aconselhado Morgan em não deixa-la ir e não sabia o motivo
real daquela decisão.

O líder do clã dos vampiros e o líder do clã dos ciganos haviam dado uma
trégua às rivalidades por um tempo. Mas Morgan sabia que se ela pedisse,
Atila a seguiria novamente porque era fiel a ela e a protegeria até o fim. E
não confiava nele, não por ser parte inescrupuloso, pois ouvia sua mente de
vez em quando. Mas pelo fato de saber o que ele sentia por Adriana. E ele a
desejava e amava ardentemente a ponto de a qualquer momento perder o
equilíbrio. Ouviu a mente dele da última vez que havia ido até o castelo e o
advertiu. Morgan sabia perfeitamente que ela poderia pedir aquilo ao cigano e
semicerrou os olhos antes mesmo que ela falasse algo.

Ela bufou impaciente - Vou ceder a sua vontade por enquanto, mas somente
em relação à caça a bruxa - disse percebendo o olhar desconfiado de seu
amado.

- Eu sei! – ele disse ao mesmo tempo em que roçava seu pescoço com os
lábios – mas não é difícil de saber que trama alguma coisa – sentiu-a enrijecer
em seus braços. E a encarou.

- Como pode? – disse tentando livrar-se dele, mas ele a manteve ali sem
esforço.

- Não foi de propósito! – ele se justificou ao mesmo tempo que ria de sua
irritação.

- Ah não foi? – ela rebateu cruzando os braços, enquanto ele ainda a


segurava.

- É como se você pensasse alto, entende? – dizia – é fácil ouvir – ele tinha um
sorriso malicioso esboçado.

Ela apertou os olhos analisando o humor dele - Isso é tão injusto! – protestou
– nunca serei capaz de esconder nada de você. É irritante, porque não consigo
te ouvir, ou Felipe, Diego e Miguel.

Ele a soltou por um momento para lhe analisar. Ela se afastou um pouco -
Vai conseguir isso com o tempo, assim como bloquear sua mente pra mim –
ele ainda tinha a expressão divertida estampada na cara.

Não conseguiu disfarçar sua irritação - Eu quero aprender agora! – disse


fitando-o ele não demonstrou surpresa com a revelação. Sabia o que ela
queria e respeitava a parte de sua individualidade.

- Não é tão simples! – ele disse cruzando os braços fortes no peito quando se
recostou na mesa para observa-la melhor. Ele adorava fazer aquilo, irrita-la.

Ela deu alguns passos na sua direção e parou na sua frente. Arqueou a
sobrancelha esquerda – Eu acho que não sou nada simples, não acha? –
Provocou.
Ele riu – sem dúvida alguma. Não é mesmo. Por isso é minha rainha – Ele a
puxou novamente para si.

Ela não deu sinal de resistência e o beijou. Depois o olhou nos olhos que
estavam azuis e intensos – Me ensina! – ela pediu com uma voz doce e sutil.

Ele ficou olhando para ela incapaz de desviar os olhos dela. Sondando sua
atitude, pois não era comum ela agir daquela forma. Mas sentiu outra coisa
também, era como se fosse incapaz de lhe dizer um não. Sentiu certo
incomodo entre seus olhos, mas foi algo muito rápido e sorriu satisfeito, mas
era muito forte e não surtiria efeito nele. Pensou rapidamente em ceder
somente para agrada-la, mas sua atitude repercutia nos outros integrantes do
clã, sempre tinha que pensar muito bem antes de tomar uma decisão. E talvez
ceder aquela vontade de sua amada não fosse uma boa idéia. Ele riu - você é
incrivelmente persuasiva. Quase me convenceu. – Ele ria ainda, mesmo
vendo o sorriso dela se desmanchar em uma expressão de decepção – Está
ficando mais forte a cada dia, e tenho certeza de que aprenderá isso sozinha.
Não precisará de minha ajuda – ele enfatizou a última parte.

Ela bufou - minha persuasão não foi o suficiente para te convencer –


lamentou

Ele a analisou - Me convenceu por um momento. Herdou um dom que


conseguimos aperfeiçoar com o passar do tempo. Eu nasci com ele, mas não
sabia usa-lo assim como você. Demorei algum tempo. Mas você recebeu
poder demais, e em pouco tempo manifestou um potencial incrível para
dominar outras criaturas, mas ainda está aprendendo. – Acariciou seus braços
e depois seu rosto, para lhe passar ânimo.

Ela o mediu de baixo a cima - E se eu treinasse isso! Digo, se você me


dissesse como – Ela sugeriu com um olhar confiante.

- Não existe um treinamento para isso, amor. – Ele queria convence-la a


desistir na verdade, mas parecia uma tarefa um pouco difícil.

Ela sorriu com malicia – Talvez eu convença outro a me ajudar - provocou


Ele entendeu na hora quem ela se referia – Duvido que ele saiba como fazer
isso – rebateu divertido com o desafio.

- É um desafio milorde? – riu divertida

- Talvez! – ele deu um sorriso sedutor, deixando seus dentes perfeitos a


mostra quando alargou o sorriso – mas – ele fez fingindo pensar – pensando
melhor, eu prefiro não. Nunca se sabe o que aquele cigano pode entender. E
se ele se atrever a seduzi-la, eu serei obrigado... – as palavras morreram na
sua boca, quando fitou os olhos que o repreendia por pensar tal coisa.

O encarava indignada – como pode pensar nisso? - acusou

Desviou o olhar – sou muito grato à ajuda dele em mantê-la viva. Mas isso
não nos torna amigos – esclareceu – Eu sei que ele pensa o mesmo que eu –
Morgan endureceu a expressão outrora animada.

Ela não gostaria de estender aquele assunto com ele. Parecia um absurdo
discutir sobre ciúmes com um vampiro. Morgan era tão seguro de si, que até
pensar que ele sentia ciúmes de Atila era ridículo. Mas não era o caso, pois
ele tinha ciúmes. Mas sabia também que no fundo, ele não tinha tanta
confiança nela e sentiu isso em seu olhar frio naquele momento – Tem
ciúmes? – ela perguntou – por isso não me deixa ir até a aldeia, arrumando
pretextos para que eu fique aqui? – sua pergunta saiu como acusação

Ele hesitou por dois segundos antes de responder – Sim! – não conseguiria
esconder aquilo dela por muito tempo e tinha que deixar claro que não
gostava de Atila ao redor dela.

Não gostou muito da resposta porque parecia um absurdo - ele não ousaria
me tocar, ou se insinuar, se é o que pensa. Somos amigos – ela queria
defender Atila, mas sabia o quanto ele era audacioso.

Sua expressão endureceu mais um pouco - Se ouvisse a mente dele, não diria
isso! – rebateu com mau humor

- Mas sou sua! Todos sabem disso, estou marcada e noiva – ela tentou sorrir,
mas mediante o olhar zangado dele que se desviou do seu para a enorme
janela, ela desistiu.

- Você é muito tentadora para ele. O fato de ele fornecer algumas gotas de
seu sangue para te salvar a marcou de certa forma mesmo em pequena escala.
É como se fosse feita pra ele, como se fosse à fêmea escolhida – Morgan se
afastou em direção a janela – Ele não vai desistir de você. E isso me irrita por
que você é minha – Ele parou de falar quando abriu a janela e recebeu um
golpe de ar gelado, fechando os olhos ao contato. Uma reação para se
acalmar.

Aproximou-se devagar e passou a mão suavemente nas suas costas largas –


Nada me fará desistir de você. O que você teme? – perguntou preocupada.

Ele baixou a cabeça - você já se sentiu tentada antes – Ele olhou devagar para
avaliar sua reação.

Não se perturbou com aquilo de início, mas ao encara-lo ficou na defensiva -


É ridículo pensar isso. Aconteceu quando eu estava confusa com a
transformação. Foi uma explosão de sentimentos que eu não conseguia
controlar. Nunca aconteceu nada – disse endurecendo sua expressão.

Morgan pareceu respirar fundo – Não vou te perder para ninguém e nem por
nada nesse mundo. Eu não suportaria isso... -Hesitou novamente – se ele
tentar alguma coisa me verei forçado a fazer alguma coisa também. Estou
tentando evitar um confronto - advertiu

- Morgan... - o nome dele saiu de sua boca de forma doce – ele nunca irá me
tocar, relaxe! – ela o abraçou e ficou ali sentindo os braços fortes dele
envolvê-la

Ele deu um suspiro pesado - eu a amo, amo, amo... e nada vai mudar isso! –
disse com os lábios em seus cabelos.

- Eu também! – respondeu com sinceridade. O amava muito e seria capaz de


fazer qualquer coisa por ele. Mas qualquer coisa, que não envolvesse sua
liberdade de ir e vir. Sentia-se segura ali naqueles braços como se nada fosse
capaz de arranca-la sem a permissão dele. Morgan era super protetor, assim
como Felipe. Teria que enfrentar aquela situação e persuadi-los a esquecer da
rivalidade e conviver em paz.

A porta se abriu e os dois olharam ao mesmo tempo para Felipe que entrara
sem bater e sorria com certo contentamento ao vê-los juntos - Recebi uma
ligação interessante, meu caro! – disse para Morgan – Dubois disse que
alguns de sua casa sumiram de repente sem deixar vestígios em qualquer
parte. E uma boate em Roma invadida por humanos armados com estacas de
prata e armas de fogo – ele sentou-se pensativo na enorme cadeira de sua
mesa de estudo e depois voltou o olhar para os dois que estavam boquiabertos
a sua frente.

Morgan pareceu voltar à realidade, e se agitou preocupado - quando foi isso?


– perguntou se apoiando na mesa de Felipe com as duas mãos, de forma
impaciente.

O avaliou rapidamente e percebeu que havia outra coisa que o perturbava


além do que havia acabado de revelar - Quatro noites atrás. Ele está alertando
somente aos amigos, sabe como ele é. Está em Londres nos esperando para
uma reunião – disse olhando para sua protegida que o olhava confusa.

- Caçadores? – ela perguntou perplexa – caçadores de vampiros, como Van


Helsing e Dracula? – Iria começar a rir, mas segurou assim que viu que os
dois prestavam atenção nela e estavam sérios – Isso é tão improvável, se
vivem escondendo o que são.

- É uma sociedade secreta, muito, muito antiga. Eles caçam vampiros e


lobisomens há séculos. Mas é muito difícil capturar um vampiro ou um
lobisomem com vida. Difícil até quatro noites atrás quando capturaram
recém-transformados – Felipe fez uma pausa com certo desdém – Esses
humanos são grandes estudiosos, com tecnologias avançadas e que além de
querer estudar nossa raça, pretendem extermina-la. Somos uma ameaça aos
humanos - debochou.

Morgan bufou contrariado - Tenho que investigar isso de perto! – disse – irei
até Londres para falar com Dubois – Ele olhou de relance para sua noiva
imaginando se ela pediria para ir junto. Mas ela não pediu.

Adriana ficou pensativa por um segundo - Então irei à aldeia avisar para Atila
que temos caçadores a nossa espreita – Disse como um aviso e não um
pedido de permissão.

Felipe a encarou com impaciência - não! – disse ficando de pé em protesto –


não precisa avisa-los, eles sabem se cuidar. E por outro lado, Londres está
longe daqui.

-É mesmo? – ela disse irritada – Mas quanto tempo eles demorariam em


chegar até aqui? – perguntou impaciente – Ou até mesmo, já podem estar
nessas terras e você nem sabe.

- Impossível! Sempre sentimos os humanos por perto – Felipe rebateu

- E se essa caçada já for algo coordenado por um dos vampiros, ou um dos


lobisomens banidos da aldeia? Somente para tirar nosso foco de nossos
inimigos – nessa hora Morgan olhou para Felipe que o encarou rapidamente e
voltou o olhar indignado para Adriana.

- Faz sentido o que ela disse Felipe! – Morgan concordou

Felipe parecia pensar muito rápido – Muito inteligente de sua parte, minha
querida! – disse pensativo – Mas mesmo assim, os ciganos ainda sabem se
cuidar sozinhos – ele olhou rapidamente para Morgan.

Ela tentou controlar a irritação - São nossos aliados Felipe, não seja egoísta.
Não podem me monopolizar para sempre - explodiu

Ele a encarava zangado - Não confio neles! Não quando não estamos por
perto. – Ele rebateu sendo inflexível novamente.

Ela olhou para Morgan na tentativa de buscar algum apoio - Não é possível
que não confiam que eu seja capaz de me cuidar sozinha, dentro do território
dos ciganos. Estou me sentindo prisioneira dos meus próprios guardiões. Isso
é exagero - disse
Felipe semicerrou os olhos num sinal de impaciência – Não é exagero,
Adriana! – cruzou os braços – Sabe que não confiamos nos outros.

Ela arregalou os olhos indignada - Nem em mim? – rebateu – Estou mais


forte agora. Será que não posso ir à aldeia ver os meus amigos, que também
são meus guardiões? – Isso ela disse olhando para Morgan que desviou o
olhar para Felipe, como se lhe dissesse algo mentalmente e ela percebeu que
Felipe pareceu ficar num sobressalto silencioso e contrariado.

Morgan virou-se para ela sorrindo, mas seus olhos não. Como se ainda
houvesse uma sombra enigma neles – Vá até a aldeia deles avisa-los – Disse
devagar e olhando em seus olhos – Mas volte o quanto antes – concluiu, e viu
os olhos dela se iluminarem de contentamento.

Não deixou de notar a preocupação nos olhos de Morgan, e não era por ela, e
sim por ele. Sabia que ele queria evitar que ela ficasse perto de Atila, então
diminuiu seu entusiasmo – Mas vá somente amanhã. Hoje é a primeira lua
cheia e os mais jovens ficam irritadiços, não é seguro para você que tem 90%
de nós e 10% deles – alertou.

Ela sorriu - Eu sei! – concordou e depois se arrependeu de dizer, sua


expressão mudou de alegre para culpada. Sabia que não deveria ter dito
aquilo.

Morgan na hora percebeu seu erro. Só queria uma brecha para fazê-la desistir,
uma brecha para ter a desculpa e impedi-la de ir até os ciganos. E ela acabava
de lhe dar aquilo sem querer. Ele a olhou desconfiado sabia que o sorriso que
ela esboçava era para esconder o que seus olhos mesmo com o sorriso
forçado a entregava. Ela ainda era péssima em forjar uma máscara para
outros vampiros – O que quis dizer com (eu sei) – ele perguntou como se
acabasse de pegar alguém no flagra. Mas da forma pausada e macia que a
pergunta saiu não parecia acusa-la.

Ela não hesitou em responder – Quando eu fugi – começou a falar indo em


direção à janela sem olhar para Morgan – Atila ficou uma semana fora
precisava voltar ao acampamento, pois não era seguro ficar tanto tempo perto
dos humanos, afinal. - Ela tentava demonstrar firmeza na voz, mas nunca
conseguiria enrolar aqueles dois ao mesmo tempo.

- Hum! – Fez Felipe levando as mãos cruzadas às costas como sempre fazia –
Ele é muito cuidadoso em esconder a verdadeira natureza assassina, quando
você está por perto – ele parecia se divertir enquanto falava aquilo.

Ela o encarou sem demonstrar qualquer tipo de reação. O olhou por alguns
segundos antes de dizer qualquer coisa – Isso nunca vai acabar não é? –
perguntou com um sorriso sarcástico brotando dos lábios – Essa rivalidade
idiota, como se fossem inimigos mortais. Vampiros, lobisomens – ela desviou
o olhar para a escuridão do jardim. – Se odeiam por nada, se acusam o tempo
todo e no fundo são a mesma coisa. Predadores perigosos no mundo dos
humanos, mais perigosos que vocês. Quanto tempo terei que ficar entre vocês
para impedir que se matem? –aquilo saiu com uma pontada de angustia, pois
tinha parte das duas raças. Mais uma do que a outra. Porém, não queria
escolher um lado.

Morgan se aproximou - Não iremos fazer isso – disse segurando sua mão –
Estamos do mesmo lado – mas ela não olhou para ele, e ele continuou a falar
– Nossas diferenças não nos impede de ter o mesmo inimigo há séculos. E
também não nos impede de amar a razão que nos uniu para destruí-lo. Você –
Ele concluiu virando-a para que o olhasse. Ele se referia a ele e a Atila, e não
aos clãs.

Adriana levantou os olhos para Morgan – Saiba que eu jamais escolheria um


lado, e nunca o abandonaria. Você sabe, não é? – ela perguntou muito séria.

Morgan pareceu não gostar muito do fato dela não querer escolher um lado.

- Você entendeu não foi? – ela perguntou – Não me refiro a você e a ele.
Porque eu escolhi você, e nada mudaria isso. Eu me refiro...

Ele a interrompeu – Eu entendi! – disse suavemente quando lhe beijou a testa


– jamais a faria escolher.

Ela fechou os olhos quando sentiu os lábios de Morgan em sua testa.


- Não a impedirei de ir até o acampamento dos ciganos. Mas tenha cuidado
amor! Pois estarei longe, e ficarei insuportavelmente angustiado por estar
junto dele e não de mim – Ele segurou seu rosto com as duas mãos e lhe deu
um beijo rápido – E não esgote a paciência de Felipe, ou ele poderá invadir o
acampamento e tira-la de lá. – brincou – ele é bem mais protetor que eu e
obsessivo também – debochou analisando a carranca do amigo.

- Eu poderia acompanha-la – Felipe sugeriu

Adriana o olhou perplexa – Felipe! – disse impaciente – você prometeu! -

Ele endireitou os ombros – não me lembro de ter prometido, e não gosto da


idéia de você ir até lá sozinha. Como seu... - Ele pensou para falar – seu
guardião – ele fitou os olhos irritados de sua protegida e sorriu.

- Eles também são meus guardiões! – o lembrou

Ele manteve a postura inalterada, mas seus olhos lampejavam contrariados


novamente. Ela vencera! Desviou os olhos para o líder - Morgan! - Disse
buscando apoio.

Ele o fitou – Não vejo problema por enquanto. Temos que lhe dar um voto de
confiança – Disse sem muita firmeza, ainda tinha dúvida. Sentiu-a entrelaçar
os dedos macios nos dele, e vislumbrou o sorriso vitorioso dela para Felipe
que a olhava com reprovação.

Ela tentou fazer com que ele ficasse tranquilo - Felipe! Você é protetor
demais. Eu sei me cuidar. Sou uma mulher adulta. Pelo menos era quando me
tornei o que sou agora – disse sorrindo para ele.

Morgan riu do comentário - Para ele você nunca será adulta! – zombou

Felipe não parecia nada convencido. Concordou contra sua vontade quando
Morgan cedeu à vontade dela – Bom! – ele fez – Não gosto da idéia. Mas
Morgan pode ter razão. Acho que podemos confiar em você... um pouco. Mas
se não estiver aqui até a noite, juro por Deus que vou te buscar – Advertiu
vislumbrando o sorriso satisfeito dela e ele apenas forçou outro. Já
imaginando o que estava por vir.

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