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Índice

Avaliação dos doentes com hiperlipidémia............................................... 3

Tratamento da hiperlipidémia: objectivos e selecção ................................ 5

Reconhecimento do abuso de álcool e drogas ........................................ 9

Terapêutica anti-microbiana ..................................................................... 13

Depressão ............................................................................................... 19

Depressão no idoso................................................................................. 23

Tratamento Farmacológico da Depressão ................................................ 29

Exame Objectivo da Articulação do Ombro.............................................. 37

Osteoporose............................................................................................ 39

Terapêutica Hormonal de Substituição Pós-Menopausa .......................... 51

1
Avaliação dos doentes
Autores
com hiperlipidémia Hannu Vanhanen
Timo Strandberg
Criado a
16.12.2007
Traduzido e adaptado a
16.06.2009

Objectivos Exames Laboratoriais


• Valores séricos de colesterol total, colesterol HDL,
• Identificar os doentes com hipercolesterolémia fa- triglicéridos; o colesterol LDL sérico pode ser calcu-
miliar e respectivos familiares. lado pela fórmula1: LDL = colesterol total – HDL –
• Identificar a hiperlipidémia secundária (mais frequen- 0,45 x triglicéridos séricos.1
temente causada por hipotiroidismo, quer seja sin- m Estão também disponíveis métodos directos para
tomático ou subclínico). determinação da concentração sérica de coles-
• Identificar as hiperlipidémias associadas a outros terol LDL no entanto a utilização não está esta-
factores de risco (com especial ênfase em pessoas belecida e não é recomendada como rotina.
com cardiopatia isquémica ou outras patologias ar- • Glicémia
teriais, história familiar de doença cardiovascular, hi-
pertensão arterial, diabetes mellitus, síndrome • TSH sérica, conforme necessário
metabólica e fumadores). • Proteinúria

___________________________
Avaliação dos doentes cujas
concentrações lipídicas indicam 1
Equação de Friedewald, LDL = Colesterol – HDL – 0,45 x Triglicéri-
tratamento dos, em mmol/L. Não é válida se a concentração sérica de triglicé-
ricos for superior a 4 mmol/L. A avaliação lipídica sérica deve ser
Anamnese realizada após 12 h de jejum.

• Doenças ateroscleróticas e concentração sérica de


colesterol nos familiares
• Sintomas de doença arterial
• Hábitos dietéticos e de exercício físico, curso do au-
mento ponderal nos doentes com excesso de peso

Exame objectivo
• Pressão Arterial
• Auscultação cardíaca e das grandes artérias
• Exame com Doppler das extremidades inferiores, na
suspeita de isquémia periférica
• Exame da pele para detecção de xantelasmas (em
redor dos olhos) e xantomas tendinosos (nos ten-
dões de Aquiles)
• Num doente com suspeita de hiperlipidémia familiar,
a avaliação ecográfica pode revelar xantomas no
tendão de Aquiles.

3
Tratamento da hiperlipidémia:
objectivos e selecção
Autores
Timo Strandberg
Hannu Vanhanen
Produzido a
09.02.2007
Traduzido e adaptado a
16.06.2009

Regras básicas m triglicéridos séricos inferiores a 2,0 mmol/L (≈ 177


mg/dl)
• Os objectivos são:
m ratio colesterol total sérico : colesterol HDL sérico
m Prevenção secundária da doença arterial (o inferior a 4,0
grupo dos indivíduos com diagnóstico de doença
arterial é o mais importante para tratamento). • O tratamento da diminuição da concentração sérica
de colesterol HDL e da hipertrigliceridémia é prova-
m Diminuição do risco de doença arterial ateroscle- velmente benéfico, pelo menos em doentes com
rótica de acordo com o risco total (efeito combi- diabetes mellitus não-insulino dependente.
nado dos factores de risco). A determinação do
risco de doença arterial pode ser facilitada pela • A concentração sérica de triglicéridos deverá ser in-
utilização de diferentes calculadoras de risco (por ferior a 10 mmol/L (≈ 886 mg/dL) para minimizar o
exemplo, SCORE). risco de pancreatite.

n Notar que o SCORE apenas fornece a proba-


bilidade de morte; o risco de doença arterial é Doentes com cardiopatia isquémica
significativamente mais elevado. • Nos doentes com cardiopatia isquémica o risco de
• O objectivo primário é a alteração dos estilos de vida enfarte do miocárdio ou morte por causa cardíaca
em todos os doentes. aumenta de forma abrupta com o aumento da con-
centração sérica de colesterol total.
• Excluir hipercolesterolémia secundária antes de ini-
ciar tratamento farmacológico (TSH sérica, glicémia • A eficácia da farmacoterapia foi claramente de-
em jejum, análise sumária de urina). monstrada em estudos controlados (Nível de Evi-
dência A)i. A concentração sérica alvo de colesterol
• O objectivo de tratamento é manter:
total é inferior a 4,5 mmol/L (≈ 174 mg/dL) (coleste-
m colesterol total sérico inferior a 5,0 mmol/L (≈ 193 rol LDL inferior a 2,5 mmol/L ≈ 97mg/dL). Há evi-
mg/dl) (inferior a 4,5 mmol/L ≈ 174 mg/dL nos in- dência de que os doentes com doença coronária
divíduos de alto risco) beneficiam com níveis de LDL inferiores (bem infe-
m colesterol LDL sérico inferior a 3,0 mmol/L (≈ 116 riores a 2 mmol/L ≈ 77mg/dL).
mg/dL) (em indivíduos de alto risco, inferior a 2,5 • Ver tabela 1
mmol/L ≈ 97 mg/dL).
m colesterol HDL sérico superior a 1,0 mmol/L (≈
39 mg/dL)

5
Tabela 1.  Hipercolesterolémia em doentes com cardiopatia isquémica

Colesterol total Colesterol LDL Risco de


(mmol/L) (mmol/L) progressão Acção
de doença

≥ 4,5 ≥ 2,5 Muito Melhorar a dieta, alterar estilos de vida,


≈174 mg/dL) (≈97 mg/dL) aumentado controlar os níveis de colesterol em 1 a 2 meses.
Reduzir o risco modificando outros factores
de risco. A terapêutica está sempre indicada
quando os níveis alvo não são atingidos.

Doentes com outras doenças se consideram indicações para intervir deve ter-se
em conta a idade, o sexo e o risco total do doente.
ateroscleróticas (doença cerebrovascular,
(O grupo mais importante é o dos indivíduos profis-
doença arterial periférica) sionalmente activos.) Ver tabela 2.
• Ver acima. • Nos indivíduos assintomáticos de alto risco o valor-
-alvo para a concentração sérica de colesterol total
Indivíduos assintomáticos é inferior a 4,5 mmol/L (≈ 174 mg/dL) (colesterol
LDL inferior a 2,5 mmol/L ≈ 97 mg/dL).
• O alvo geral para os níveis séricos de colesterol total
é inferior a 5,0 mmol/L (≈ 193 mg/dL) (colesterol
LDL abaixo de 3,0 mmol/L ≈ 116 mg/dL). Quando

Tabela 2.  Hipercolesterolémia em indivíduos assintomáticos

Colesterol total Colesterol LDL Risco de


(mmol/L) (mmol/L) progressão Acção
de doença

≥ 8,0 ≥ 6,5 Muito Determinar factores de risco. Melhorar


(≈309 mg/dL) (≈251 mg/dL) aumentado a dieta e alterar estilos de vida. Avaliar os níveis
de colesterol em 1 a 2 meses. Há indicação para
terapêutica farmacológica quando não forem
atingidos valores próximos dos níveis-alvo.
A probabilidade de doença hereditária
é alta. Investigar os familiares.

6,5 – 7,9 5,0 – 6,4 Moderada- Determinar factores de risco e iniciar terapêutica
(≈251-305 mg/dL) (≈193-247 mg/dL) mente pela dieta. Avaliar os níveis de colesterol em
aumentado 2 a 4 meses. Medidas adicionais (farmacoterapia)
conforme o resultado da dieta e outros factores
de risco. As doenças hereditárias do metabolismo

6
Colesterol total Colesterol LDL Risco de
(mmol/L) (mmol/L) progressão Acção
de doença

dos lípidos são possíveis (e deverão ser


tratadas do mesmo modo que em doentes
com níveis de colesterol total superior
a 8 mmol/L ≈ 309 mg/dL).

5 – 6,4 3,0 – 4,9 Discretamente Aconselhar dieta saudável e determinar


(≈193-247 mg/dL) (≈116-189 mg/dL) aumentado factores de risco. Medidas adicionais de acordo
com outros factores de risco. Avaliar
o colesterol total após cerca de 5 anos.

Doentes idosos (> 80 anos) _________________________________

• Neste grupo etário não existem estudos aleatoriza- i O efeito das estatinas na mortalidade e incidência de eventos co-
dos de prognóstico. ronários na prevenção secundária da cardiopatia isquémica
Sumários de Evidência, 31.07.2007
• A idade biológica e o prognóstico global deverão ser Nível de evidência = A
tidos em conta no momento da decisão de trata-
mento, especialmente naqueles com doença arte- O tratamento com sinvastatina é eficaz na diminuição da incidên-
cia de enfarte agudo do miocárdio não-fatal, necessidade de ci-
rial.
rurgia coronária e mortalidade por cardiopatia isquémica nos
• Os princípios do tratamento são os mesmos que doentes com angina de peito ou enfarte agudo do miocárdio pré-
para doentes mais jovens. vio

O ensaio 4S1 incluiu 4444 doentes com angina de peito ou enfarte


Referências agudo do miocárdio (EAM) prévio e concentração sérica de coles-
terol entre 5,5 e 8,0 mmol/L sob dieta hipolipemiante. Os doentes
Cannon CP, Braunwald E, McCabe CH. Intensive versus moderate lipid
foram aleatorizados entre tratamento duplamento cego com sinvas-
lowering with statins after acute coronary syndromes. N Engl J Med.
tatina ou placebo. Durante um período de follow-up médio de 5,4
2004 Apr 8;350(15):1495-504
anos a incidência de EAM não-fatal diminuiu (RR 0,66, IC95% 0,59
– 0,75, p<0.00001) em comparação com o placebo, a necessidade
de cirurgia coronária diminuiu em 37% (p < 0.00001) e a mortalidade
por cardiopatia isquémia diminuiu (RR 0,58, IC95% 0,46 – 0,73). A
mortalidade global diminuiu em 30%. A diminuição foi totalmente
explicada pela diminuição na mortalidade por cardiopatia isquémica.
O benefício do tratamento foi evidente nos homens e mulheres, em
jovens e idosos (idade igual ou superior a 65 anos) e o efeito não foi
dependente da concentração sérica basal de colesterol.

Referência:
1
Randomised trial of cholesterol lowering in 4444 patients with coro
naryheart disease: the Scandinavian Simvastatin Survival Study (4S)
Lancet 1994 Nov 19;344(8934):1383-9.

7
Autor

Reconhecimento do abuso Antti Holopainen


Produzido a

de álcool e drogas
21.09.2009
Traduzido e adaptado a
20.12.2009
Autores da tradução e adaptação
Miguel Julião*
Raquel Ascenção**
Filipa Fareleira***
António Vaz Carneiro****

*Interno do 3.º ano do Internato Complementar de MGF – CS Marvila


** Interna do 3.º ano do Internato Complementar de MGF – CS Sete Rios
*** Interna do 2.º ano do Internato Complementar de MGF – USF AlphaMouro
****Director, Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência da Faculdade de Medicina de Lisboa

Introdução m Absentismo laboral ou escolar

• O abuso de álcool ou drogas causa frequentemente m Declínio da prestação laboral ou escolar


problemas de saúde que levam o consumidor a pro- m Declínio do funcionamento geral do indivíduo e
curar consulta médica. Este facto torna possível a incapacidade de concentração
detecção do abuso e o seu tratamento precoce. m Alterações do comportamento em crianças e
• A melhor forma de abordar este assunto é perguntar adolescentes
directa e claramente ao doente sobre este compor- m Marcas cutâneas de punção e infecções cutâ-
tamento. Os questionários, como por exemplo o neas em locais de punção
AUDIT, podem ser usados como ferramentas de
m Intoxicações, aumento da frequência de aciden-
apoio (Nível de Evidência A)1,2,3.
tes
• A observação e discussão de achados clínicos com
m Insónia e depressão
o doente ajudam à abordagem desta situação.
m Queixas abdominais vagas e dor sem origem
aparente
Detecção directa do abuso de álcool m Problemas relacionais na esfera privada ou labo-
e drogas ral
• O abuso alcoólico pode ser identificado através do m Problemas financeiros e domésticos
odor oral típico, pela utilização de um espirómetro ou
pela determinação sérica da concentração de álcool.
• A utilização de drogas é detectável por rastreio qua-
Entrevista estruturada dirigida
litativo na análise urinária. Quando existe suspeita ao abuso de álcool
de abuso ou intoxicação por drogas é necessária • O AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test)
investigação mais extensa. é a escala recomendada para avaliação do abuso
de álcool. A sua sensibilidade é de aproximada-
mente 90%. O valor limite de risco para consumo
Sintomas decorrentes pelo abuso alcoólico é de 8 pontos para o homem e 6 para a
de álcool ou drogas mulher.
• Flutuações do nível de consciência e humor • O doente deve ser estimulado a fazer testes de
• Alucinações auto-avaliação de consumo alcoólico na Internet,
pois estes podem facilitar a posterior discussão do
• Considerar alterações neurológicas e psiquiátricas
problema.
como diagnósticos diferenciais
• Outros testes estão disponíveis, a maioria dos quais
• Considerar outras doenças como diabetes mellitus,
baseados no MAST (Michigan Alcoholism Screening
infecção ou traumatismo craniano
Test) (Nível de Evidência C)4.
• Diversos sinais inespecíficos podem sugerir abuso
de álcool ou drogas:

9
Exames laboratoriais e outros testes • A normalização do VGM é lenta, podendo levar al-
para detecção do risco de uso excessivo guns meses (tempo de semi-vida de 120 dias)
de álcool • Não é considerado um bom indicador para detec-
ção de recaída.
Espirómetro
• Permite a medição da concentração de álcool exa- Transferrina Deficiente em Glícidos (CDT)
lada. É um método eficaz para estabelecer o risco • A concentração sérica aumenta quando o consumo
e o uso excessivo de álcool, assim como a proba- alcoólico diário excede as 50-80 g
bilidade de dependência.
• A sua semi-vida é de 15 dias.
• A concentração sérica de álcool inferior a 0,1% su-
gere consumo de risco. A dependência alcoólica é • Este exame é sensível para o reconhecimento de al-
mais provável se o resultado exceder 0,1%. coolismo (sensibilidade superior a 90%) e pode de-
tectar consumo excessivo nos casos em que a
• Se o resultado exceder 0,15% sem sinais de intoxi- história clínica, VGM e GGT não indicam um diag-
cação, ou se exceder 0,3%, a dependência alcoó- nóstico claro. No consumo excessivo a sensibili-
lica pode ser confirmada (Nível de Evidência A)5. dade é tão baixa como a da GGT (30%).
• O limite superior de referência é 20 U/l nos homens
Testes laboratoriais
e 26 U/l na mulher. Mesmo um pequeno desvio do
• Os testes laboratoriais que indicam indirectamente valor de referência é significativo.
o consumo alcoólico excessivo podem ser utilizados m A disialotransferrina (DST sérica) é uma isoforma
em conjunto com a entrevista clínica e determinação da transferrina que constitui uma porção da
da alcoolémia. A sua sensibilidade é baixa (30-40%), transferrina deficiente em glícidos. O resultado é
especialmente nas fases precoces de consumo ex- expresso como percentagem da transferrina
cessivo (Nível de Evidência A)6,7,8. total. Valores de referência: homem < 1.8%, mu-
lher < 1.6%
Gamaglutamiltransferase (GGT) m O método de determinação para a DST é mais
específico do que o da CDT
• A concentração está aumentada em 70-90% dos
alcoólicos. • Podem ser encontrados valores patológicos na es-
clerose múltipla, cirrose biliar primária e na hepatite
• A sua sensibilidade na detecção de consumidores
crónica agudizada.
excessivos é apenas de 10-30%.
• Pode ser usada como teste de seguimento na de-
sintoxicação alcoólica. Aplicação de entrevista estruturada para
• Os valores normalizam lentamente após abstinência avaliação de dependência de drogas
(tempo de semi-vida de 26 dias).
• Deve ser realizada entrevista sistematizada com
• Concentrações elevadas de GGT são também ob- questões direccionadas ao abuso de substâncias
servadas noutras doenças como patologia hepato-
• Idade do primeiro consumo, sugestão de utilização
-biliar, diabetes mellitus e obesidade.
problemática ou compulsiva, tentativas de abstinên-
• Medicamentos como a amitriptilina, barbitúricos, fe- cia ou tratamento, sucesso das tentativas de ces-
nitoína e varfarina, podem aumentar as concentra- sação do consumo, etc.
ções de GGT.
• A utilização de questionários mais extensos, como
o EuropASI (European Addiction Severity Index) –
Volume Globular Médio (VGM) não validado para a população portuguesa – requer
instruções básicas e treino na respectiva utilização.
• O aumento do VGM verifica-se em 48-90% dos al-
coólicos m O EuropASI é indicado para uma avaliação mais

10
alargada das necessidades dos doentes em ter- • O questionário Pompidou (Pompidou Group of the
mos de tratamento e reabilitação, por exemplo, Council of Europe) é utilizado para recolha da histó-
em unidades de desintoxicação. ria de abuso de drogas e comportamentos de risco
• Existem testes menos extensos, de auto-preenchi- em estudos epidemiológicos. É aplicável em Cuida-
mento em alguns minutos, como por exemplo o dos de Saúde Primários quando o número de indi-
DAST (Drug Abuse Screening Test) e o SDS (Seve- víduos com abuso de drogas for elevado na
rity of Dependence Scale, vide tabela 1). Ambos os população em estudo. Também é utilizado pelo Eu-
testes são aplicáveis em Cuidados de Saúde Primá- ropean Monitoring Centre for Drugs and Drug Ad-
rios. diction.

Tabela 1. Tradução da Severity of Dependence Scale – SDS

Pense no seu consumo de álcool ou droga no último ano. Responda às seguintes perguntas acerca da(s)
substância(s) que mais utilizou.

1. Alguma vez pensou que o seu consumo de álcool Nunca (0) Algumas vezes (1) Frequentemente (2)
ou drogas estava fora de controlo? Sempre (3)

2. A ideia de não obter álcool ou drogas tornou-o Nunca (0) Algumas vezes (1)
ansioso ou preocupado? Frequentemente (2) Sempre (3)

3. Sentiu-se preocupado acerca da utilização Nunca (0) Algumas vezes (1) Frequentemente (2)
de álcool ou drogas? Sempre (3)

4. Já sentiu o desejo de parar? Nunca (0) Algumas vezes (1)


Frequentemente (2) Sempre (3)

5. Que dificuldade teria em parar ou manter-se Nenhuma (0) Pequena (1)


sem consumir? Bastante Difícil (2) Impossível (3)

________________________________ 5
Criteria for the diagnosis of alcoholism. Ann Intern Med 1972
Aug;77(2):249-58.
1
Coulton S, Drummond C, James D, Godfrey C, Bland JM, Parrott 6
Coulton S, Drummond C, James D, Godfrey C, Bland JM, Parrott
S, Peters T, Stepwice Research Team. Opportunistic screening for
S, Peters T, Stepwice Research Team. Opportunistic screening for
alcohol use disorders in primary care: comparative study. BMJ 2006
alcohol use disorders in primary care: comparative study. BMJ 2006
Mar 4;332(7540):511-7.
Mar 4;332(7540):511-7.
2
Aertgeerts B, Buntinx F, Ansoms S, Fevery J. Screening properties 7
Aertgeerts B, Buntinx F, Ansoms S, Fevery J. Screening properties
of questionnaires and laboratory tests for the detection of alcohol
of questionnaires and laboratory tests for the detection of alcohol
abuse or dependence in a general practice population. Br J Gen
abuse or dependence in a general practice population. Br J Gen
Pract 2001 Mar;51(464):206-17.
Pract 2001 Mar;51(464):206-17.
3
Aertgeerts B, Buntinx F, Ansoms S, Fevery J. Questionnaires are bet-
ter than laboratory tests to screen for current alcohol abuse or de- 8
Aertgeerts B, Buntinx F, Ansoms S, Fevery J. Questionnaires are bet-
pendence in a male inpatient population. Acta Clin Belg 2002 ter than laboratory tests to screen for current alcohol abuse or de-
Sep-Oct;57(5):241-9. pendence in a male inpatient population. Acta Clin Belg 2002
Sep-Oct;57(5):241-9.
4
Storgaard H, Nielsen SD, Gluud C. The validity of the Michigan Al-
coholism Screening Test (MAST). Alcohol Alcoholism 1994;29:493-
502.

11
Autor
Editores Duodecim

Terapêutica
Medical Publications Ltd
Produzido a
23.7.2008

anti-microbiana Traduzido e adaptado a


10.06.2010
Autores da tradução e adaptação
Miguel Julião*
Raquel Ascenção**
Filipa Fareleira***
António Vaz Carneiro****

* Interno do 3.º ano do Internato Complementar de MGF – CS Marvila


** Interna do 3.º ano do Internato Complementar de MGF – CS Sete Rios
*** Interna do 2.º ano do Internato Complementar de MGF – USF AlphaMouro
**** Director, Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência da Faculdade de Medicina de Lisboa

Estas orientações clínicas foram adaptadas e traduzidas tigação clínica e laboratorial é essencial para o correcto
a partir das Guidelines Duodecim, também elas redigidas diagnóstico. Os padrões de resistência locais devem ser
a partir de guidelines baseadas em evidência. Os núme- sempre considerados antes de qualquer decisão tera-
ros indicam a ordem de prioridade de escolha. A inves- pêutica aplicada ao doente individual.

Fármaco Dosagem Notas

Amigdalite estreptocócica

1 Penicilina G – Adultos: 600.000 a 1.200.000 UI


em dose única, IM
– Crianças (<12 anos): 300.000
a 600.000 UI em dose única, IM

2 Cefadroxil – Adultos: 750 mg, 2xdia, 10 dias – Na alergia à penicilina


ou 1 g, 1xdia, 10 dias sem anafilaxia
– Crianças: 50 mg/Kg/dia, 2xdia,
10 dias

3 Clindamicina – Adultos: 300 mg, 2xdia, 10 dias – Amigdatites recorrentes


– Crianças: 10-20 mg/Kg/dia 3xdia, – 1.ª escolha para anafilaxia
10 dias a penicilina

Sinusite e otite média em adultos

1 Amoxicilina 500-750 mg, 2xdia, 7 dias

2 Doxiciclina 150 mg/dia, 7 dias

3 Amoxicilina + Clavulanato 875 mg, 2xdia, 7 dias

4 Co-trimoxazol 500-800 mg + 160 mg, 2xdia, 7 dias

13
Fármaco Dosagem Notas

5 Cefaclor 500 mg, 2xdia, 7 dias – Apenas se alergia


Azitromicina 500 mg/dia, 3 dias a outros fármacos
Roxitromicina 150 mg, 2xdia, 7 dias

Sinusite e otite média em crianças

1 Amoxicilina 40-50 mg/kg/dia, 2xdia, 7 dias

2 Amoxicilina + Clavulanato 40-50 mg/kg/dia, 2xdia, 7 dias

3 Cefaclor 40 mg/kg/dia, 2xdia, 7 dias

Cefuroxime 40 mg/kg/dia, 2xdia, 7 dias – Apenas se alergia a outros


fármacos
Sulfa-trimetoprim 25 mg + 8 mg/kg/dia, 2xdia, 7 dias

Pneumonia adquirida na comunidade em adultos (tratamento em ambulatório)

1 Amoxicilina 1g, 3xdia, 10 dias ou – Não cobre Chlamydia


750 mg, 3-4xdia, 10 dias pneumoniae ou mycolasma

2 Telitromicina 800 mg/dia, 7-10 dias – Cobertura de Chlamydia


Doxiciclina 100 mg, 2xdia, 10 dias pneumoniae ou mycolasma

3 Moxifloxacina 400 mg/dia, 10 dias Considerar se:


Levofloxacina 500 mg, 1-2xdia, 10 dias ou – antibioterapia prévia (3M)
750 mg/dia, 10 dias – viagem ao estrangeiro
– doença grave de base

Cistite em adultos (tratamento em ambulatório)


(o padrão de resistência microbiana local deve orientar a escolha terapêutica)

1 Trimetoprim 160 mg, 2xdia, 3 dias ou 300 mg/dia, – Resistência microbiana


3 dias variável

Nitrofurantoína 75 mg, 2xdia, 5 dias – Não utilizar em IR


– Eficaz contra estirpes
multiresistentes de E.
coli e klebsiella

Pivmecillinam 200 mg, 3x/dia, 3 dias ou – Não eficaz contra


400 mg, 2x/dia, 3 dias staphylococcus
saprophyticus

14
Fármaco Dosagem Notas

Fluoroquinolona Dose única: – Particularmente quando a dose


Norfloxacina: 800 mg única trouxer benefício
Ciprofloxacina: 500 mg – Diminuição de dose se IR
Levofloxacina: 250 mg
Ofloxacina: 400 mg

2 Cefadroxil 1g, 1xdia, 5 dias – Se contra-indicação para


500-800 mg + 160 mg, outros fármacos
Sulfa-trimetoprim 2xdia, 3 dias – Se nível de infecção
desconhecido especialmente
em infecções por enterococcos
Amoxicilina 500 mg, 3xdia, 5 dias

Cistite em adultos: situações particulares


IR:
amoxicilina, cefadroxil e pivmecillinam; reduzir dose

Gravidez:
pivmecillinam (não repetidamente), nitrofurantoína, cefadroxil e amoxicilina de acordo com antibiograma
5 dias de duração

Homens:
7 dias de duração de tratamento com trimetoprim e fluoroquinolonas

Cistite com febre (pielonefrite)

10 dias, PO:
Norfloxacina: 400 mg, 2xdia
1 Fluoroquinolona Ciprofloxacina: 500 mg, 2xdia
Levofloxacina: 250 mg/dia
Ofloxacina: 200 mg, 2xdia

2 Cefuroxime 750 mg, 3xdia, 10 dias, EV – Quando tratamento PO


não é eficaz

3 Co-trimoxazol 500-800 mg + 160 mg, 2xdia, – Se estirpe conhecida ou


10 dias terapêutica com fluoroquinolo-
nas contra-indicada

Cistite na criança (tratamento em ambulatório)


(10 dias em crianças mais jovens e 5 dias em crianças mais velhas)

1 Nitrofurantoína 5 mg/kg/dia, 2xdia

15
Fármaco Dosagem Notas

2 Trimetoprim 8 mg/kg/dia, 2xdia

3 Pivmecilinam 20-40 mg/kg/dia, 3xdia

Mastite

1 Cefadroxil 500 mg, 3xdia, 7-10 dias

2 Dicloxacilina 500 mg, 2xdia, 7-10 dias

3 Roxitromicina 150 mg, 2xdia, 7-10 dias – Ou qualquer outro


macrólido

Erisipela

Penicilina G 1,2 milhões UI, 4 dias, EV Continuação tratamento


(mínimo 3 semanas):
– Cefadroxil 750 mg, 2-3xdia

Penicilina Procaínica 1,2-1,5 milhões UI, 1xdia Continuação de tratamento:


ver penicilina G

Cefuroxima 750-1500 mg, 3 dias, EV – Em caso de alergia à penicilina

Clindamicina 300-600 mg, 4 dias, EV

Erisipela (tratamento profilático)

Penicilina benzatínica 1,2-1,5 milhões UI, IM, cada – Intervalo entre administrações
3 a 4 semanas deve ser ajustado de acordo
com resposta

Impetigo em crianças

Cefadroxil 50 mg/kg/dia, 3xdia, 7 dias

Infecções estafilocócicas purulentas da pele (adultos)

– Nota: as estirpes MRSA


também são encontradas
Cefadroxil 500 mg, 2-3xdia, 7 dias em ambulatório e as cefalo-
porinas não são eficazes.
O tratamento deve ser
escolhido de acordo com TSA

16
Fármaco Dosagem Notas

Erradicação Helicobacter pylori

Amoxicilina 1000 mg, 2xdia, 7 dias


+
Claritromicina 500 mg, 2xdia, 7 dias
+
IBP Dose normal

Infecção por Campylobacter

Roxitromicina 150 mg, 2xdia, 10 dias – Ou outro macrólido

Gastroenterite por Salmonella

– A necessidade de terapêu-
tica antibiótica deve ser
Ciprofloxacina (ou outra 750 mg, 2xdia, 14 dias avaliada caso-a-caso;
fluoroquinolona) as estirpes resistentes
a fluoroquinolonas são
comuns

Gonorreia

1 Ciprofloxacina 500 mg em dose única – As estirpes resistentes são


comuns
– Para doença complicada:
500 mg, 2xdia, 5-7 dias

2 Ceftriaxone 250 mg em dose única, IM – Em combinação com


lidocaína

Cervicite ou uretrite por Chlamydia

1 Azitromicina 1g em dose única – Também durante


a gravidez

2 Doxiciclina 100 mg, 2xdia, 7-10 dias

EV, endo-venoso; g, grama; mg, IBP, inibidor da bomba de protões; IM, intra-muscular; IR, insuficiência renal; miligrama; MRSA, Stafilococcos
aureus meticilino-resistentes; PO, per os, por via oral; UI, unidades internacionais.

17
Autor
Erkki Isometsä

Depressão
Produzido a
07.06.2007
Traduzido e adaptado a
01.08.2009

Regras básicas • Divórcio, viuvez e viver só.

• Avaliar a gravidade da depressão (ligeira/mode- • Desemprego de longa duração.


rada/grave/psicótica) porque determinará, em • Abuso de álcool ou de outros tóxicos.
grande parte, o contexto e modo de seguimento.
• Avaliar a capacidade funcional, realização de tarefas Diagnóstico e sintomas
domésticas e laborais e necessidade de incapaci-
dade temporária para a actividade profissional, me- • O diagnóstico de depressão é feito com base na en-
didas de suporte ou internamento. trevista clínica. O seu reconhecimento pode ser fa-
cilitado por um ambiente tranquilo, seguro e livre,
• Avaliar o risco de suicídio e a necessidade de se- que permite a colocação de questões relacionadas
guimento em regime ambulatório ou de interna- com o humor.
mento.
• Durante a consulta, o doente pode referir queixas
• A utilização conjunta de medicação antidepressiva somáticas ou sintomas isolados associados à de-
e psicoterapia é frequente e revela maior eficácia te- pressão, como insónia e cansaço.
rapêutica.
• A consulta deve iniciar-se com perguntas abertas,
avançando para perguntas mais fechadas que per-
Prevalência e história natural da doença mitam a identificação de sintomatologia depressiva
• A perturbação depressiva é uma doença comum específica.
com uma prevalência de 4-5% nos estudos popu- • A entrevista deve concentrar-se em:
lacionais e ao longo da vida de 15%. m sintomas e gravidade da depressão
• Factores hereditários e de personalidade estão as- m possíveis sintomas psicóticos
sociados a depressão, sendo frequentemente um
m outros sintomas psíquicos essenciais
factor de stress psicológico o factor desencadeante.
m factores precipitantes na situação de vida (família
• A depressão grave geralmente inicia-se após um
e trabalho)
acontecimento vital negativo (divórcio, desemprego,
perda). m incapacidade funcional
• Episódios recorrentes são comuns (≥ 50%). m ideias de auto-destruição, tentativas e planos de
suicídio
• O risco suicida aumenta com a gravidade depres-
siva e a ideação e tentativas de suicídio são co-
muns. Nos homens, o risco de morte por suicídio é • Os principais sintomas depressivos são:
superior ao das mulheres. m humor depressivo
m perda de prazer e interesse
Factores de Risco
m fadiga
• Episódio anterior de depressão. m perda de confiança e respeito pelo próprio
• História familiar de perturbação depressiva. m auto-crítica e culpa aumentados
• Alterações vitais negativas e graves. m ideias recorrentes de morte ou suicídio ou com-
• Factores de personalidade predisponentes. portamento suicida
• Sexo feminino. m perda de iniciativa, concentração e sentimento de
• Adultícia e meia-idade. indecisão

• Período pós-parto. m lentificação psico-motora ou excitação

• Doença somática crónica. m perturbações do sono

• Baixa condição socio-económica. m alteração de apetite e peso

19
• O diagnóstico de depressão requer a existência de Aspectos clínicos
quatro sintomas da lista apresentada anteriormente,
num período mínimo de duas semanas. Devem • Frequentemente, o doente não reconhece o seu
estar presentes pelo menos dois dos três primeiros humor depressivo e não consegue caracterizar o
sintomas mencionados. sofrimento como depressão. Analisar os sintomas
organiza as experiências pessoais do doente.
• É frequente que os doentes que procuram os cui-
dados de saúde primários descrevam queixas so- • Muitos doentes deprimidos apresentam discurso
matizadas relacionadas com a depressão, mas não lentificado e dão respostas curtas. A sua aparência
revelem ou escondam as alterações de humor que é triste e pouco expressiva.
vivenciam. • Na depressão psicótica o sentido de realidade está
alterado e, geralmente, com pessimismo pouco rea-
lista. Os doentes podem apresentar-se não comu-
Gravidade dos sintomas e capacidade nicativos, isolados e com má aparência.
funcional dos doentes • Muitos doentes apresentam alteração das funções
• O estabelecimento do diagnóstico de depressão in- cognitivas, queixando-se frequentemente de dificul-
dica que o doente sofre de síndrome depressiva dades com concentração e memória.
grave.
• Os estados de depressão podem ser divididos em Tratamento
categorias, de acordo com a gravidade e a sinto-
• As opções de tratamento para a depressão major
matologia associada.
incluem:
• Depressão ligeira: geralmente 4-5 sintomas
m psicoterapia
m Capacidade laboral mantida
m terapêutica antidepressiva
• Depressão moderada: geralmente 6-7 sintomas
m combinação da terapêutica antidepressiva e psi-
m Capacidade laboral e tarefas diárias comprome- coterapia
tidas, incapacidade temporária para o trabalho
m em alguns casos outras formas de terapia (foto-
geralmente indicada.
terapia ou terapia electroconvulsiva)
• Depressão grave: geralmente 8-10 sintomas
• O tratamento do episódio depressivo agudo está re-
m Necessária vigilância contínua, geralmente em presentado na tabela 1.
meio hospitalar
• Deve realizar-se o seguimento da resposta à tera-
• Depressão psicótica: pêutica e sua possível mudança com intervalos de
m Para além dos sinais e sintomas de depressão poucas semanas, até ausência de sintomas do pa-
grave, o doente apresenta sintomas psicóticos ciente.
(estupor depressivo, delírio, alucinações).
Tabela 1. Gravidade da depressão e opções
Escalas de avaliação terapêuticas na fase aguda

• Várias escalas de sintomas validadas podem ser Tratamento Ligeira Moderada Grave Psicótica
usadas para o diagnóstico de depressão. São
exemplo as seguintes: BDI - Beck Depression In- Psicoterapia + + (+) –
ventory, PHQ-9, HDRS - Hamilton depression rating Antidepressivos + + + +
scale ou MADRS - Montgomery-Åsberg depression
Antipsicóticos – – – +
rating scale.
Terapia
electroconvulsiva – – + +

20
Tratamento do episódio depressivo Tratamento após fase aguda
agudo • Deve manter-se o tratamento farmacológico durante
6 meses após remissão de sintomas.
Farmacoterapia • Avisar os pacientes sobre o risco de recorrência e
• Deve-se considerar se o paciente também neces- informar como pedir assistência médica.
sita de terapêutica ansiolítica ou antipsicótica. • Perante episódios de depressão major recorrentes,
• Monitorização do estado clínico do doente e res- deve considerar-se manutenção de tratamento por
posta ao tratamento a cada 1 ou 2 semanas. vários anos. Alguns doentes necessitam de trata-
mento farmacológico contínuo.
• Informar o paciente e seus familiares acerca da de-
pressão, do seu curso e tratamento. • Devem utilizar-se abordagens psicoterapêuticas nas
consultas de seguimento:
ajudar o doente a clarificar a sua condição de
Psicoterapias m

vida
• As intervenções psicológicas estão particularmente m reforçar a auto-estima do doente
indicadas na depressão ligeira e moderada.
m ajudar no processo de luto
• A variação na sua disponibilidade é um problema.
m ajudar na alteração do pensamento depressivo
• O doente deve ser motivado e estar disponível para
um seguimento semanal regular. m cooperar com a rede social do doente

• Alternativas: m informar o doente e sua família sobre a depres-


são e seu tratamento
m Psicoterapia cognitiva (Nível de Evidência B)
• Quando necessário, organizar apoio social com o
m Psicoterapia psico-dinâmica (Nível de Evidência apoio do serviço social.
C)
m Terapia interpessoal
Critérios de referenciação
• Deve recorrer-se a um especialista perante:
Terapia electroconvulsiva
m risco de suicídio
• Indicada na depressão grave, psicótica ou melan-
cólica, especialmente se existir risco imediato de m dificuldades diagnósticas ou terapêuticas
suicídio. m dificuldades graves na cooperação com o doente
• Realizada conjuntamente com tratamento psiquiá- m absentismo laboral com duração prevista que ex-
trico em regime de internamento. cede os 3 meses
• Eficácia superior ou comparável à farmacoterapia, m suspeita de doença bipolar
(Nível de Evidência A) m previsão de início de tratamento crónico
m necessidade de tratamento psicoterapêutico
Fototerapia
• Eficácia demonstrada na depressão de apareci- • Para o seguimento do tratamento, consultar a ta-
mento no Inverno (alterações afectivas sazonais). bela 2.
• A luz é administrada a uma intensidade de 2500 lux
durante 30-60 minutos.
• O efeito pode ser avaliado após uma semana.

21
Tabela 2. Seguimento do tratamento na depressão

Cuidados de Saúde Primários Seguimento em Psiquiatria Internamento psiquiátrico


(CSP) (ambulatório)

Episódio depressivo agudo


Depressão moderada associada Depressão psicótica
Depressão ligeira a múltiplas patologias Risco elevado de suicídio
ou Comportamento auto-destrutivo Depressão e incapacidade
moderada Depressão refractária a tratamento graves
Depressão e absentismo laboral
prolongado (>3 meses)

______________________________
• A referenciação para o hospital, imediata ou invo-
luntária se necessário, deve ser feita perante: 1
Gloaguen V, Cottraux J, Cucherat M, Blackburn IM. A meta-analysis
m incapacidade de auto-cuidados of the effects of cognitive therapy in depressed patients. Journal of
Affective Disorders 1998;49:59-72
m perda de sentido da realidade 2
Brown C, Schulberg H C. The efficacy of psychosocial treatments
m comportamento suicida ou incapacidade de coo- in primary care: a review of randomized clinical trials. General Hos-
peração pital Psychiatry 1995;17:414-424

• Deve garantir-se tratamento até que o doente esteja


3
Geddes J, Butler R, Hatcher S, Cipriani A. What are the effects of
treatments in mild to moderate or severe depression? Clinical Evi-
internado, pois as fases de transferência são peri-
dence 2005;13:1244-1263
gosas, considerando por exemplo o risco de suicí-
4
UK ECT Review Group. The efficacy and safety of electroconvulsive
dio.
therapy in depressive disorders: a systematic review and meta-ana-
lysis. Lancet 2003;361:799-808

22
Autor
Tuula Saarela

Depressão no Idoso
Produzido a
29.04.2008
Traduzido e adaptado a
01.07.2009

Objectivos tar o diagnóstico: dor episódica ou persistente, hi-


pocondria, distúrbio do sono, diminuição de apetite
• Reconhecer a depressão no idoso, uma doença fre-
e perda de peso.
quentemente sub-diagnosticada e sub-tratada.
• Tratar o episódio depressivo agudo com o objectivo
de aliviar todos os sintomas. Diagnóstico Diferencial
• Melhorar a qualidade de vida dos doentes pres- • Luto
tando cuidados médicos e administrando terapêu- • Demência
tica cujos efeitos adversos sejam reduzidos.
n Avaliação cognitiva e funcional
m Diferentes medidas são usadas para a avalia-

Epidemiologia ção cognitiva e funcional do idoso. A escolha


• A incidência de depressão grave diminui com a depende do grupo de indivíduos a que são
idade. A prevalência de episódio depressivo major aplicadas (idoso independente, idoso depen-
é 2-3% nos homens e 3-5% nas mulheres com dente de terceiros, de serviços domiciliários ou
idade superior a 64 anos. institucionalizados) e do número de variáveis a
quantificar.
• A incidência de depressão, incluindo a ligeira, está
m A avaliação cognitiva pode ser avaliada pelo
estimada em 12-13%. A depressão é comum nos
Mini-Mental State Examination (MMSE) (Nível
idosos que procuram uma consulta médica (17-
de Evidência C)1. Este teste não é específico
30%) e também naqueles internados em hospital ou
para demência, podendo ser afectado por es-
lar.
tados delirantes. Não deve ser realizado em
• O envelhecimento está relacionado com perdas, fra- doentes com disfasia.
gilidade e redução de oportunidades. As dificulda- m Escalas de avaliação funcional
des de adaptação a novas situações podem ser nO Índice de Barthel (tabela 1)2 é uma escala
factores predisponentes, tal como o luto (perda de largamente utilizada em idosos domiciliados.
um cônjuge ou de outro familiar). A sua utilização é fácil e rápida. Apresenta
moderada sensibilidade na avaliação da evo-
lução do estado funcional, necessidade de
Sinais e Sintomas
institucionalização e resposta à reabilitação.
• Os sintomas são diversos, muitas vezes coinciden- nOs testes que medem o funcionamento das
tes com outras doenças físicas, levando à dificul- actividades de vida diárias como a Lawton
dade de reconhecimento. and Brody IADL test3 – Escala de Actividades
• Os sintomas principais incluem tristeza com a du- de Vida Diária – apresentada na tabela 2,
ração mínima de 2 semanas, diminuição de inte- podem ser um instrumento de avaliação
resse ou prazer nas actividades de vida diárias complementar na avaliação de idosos domi-
(anedonia), cansaço fácil e diminuição da energia ciliados.
(astenia).
• Dor crónica
• Sintomas como a apatia e a diminuição da motiva-
• Hipotiroidismo, hiperparatiroidismo
ção podem assemelhar-se à demência.
• Doença de Parkinson
• Tristeza matinal e dificuldade em manter actividades
diárias. • Deficiência em Vitamina B12
• Irritabilidade, choro fácil, ansiedade, pessimismo, • Efeitos adversos medicamentosos (β-bloqueantes,
perda de sentido, auto-desvalorização e auto-cul- diuréticos, L-dopa, indometacina, digoxina, corti-
pabilização, ideias suicidas, medo do futuro e de- costeróides, neurolépticos, fármacos hipoglicemian-
pendência de terceiros. tes)
• Os sintomas físicos podem, frequentemente, dificul- • Alcoolismo

23
Diagnóstico são quando os sintomas se tornam frequentes e in-
tensos.
• Discutir com o doente os seus sintomas e a sua si-
tuação de vida actual. É importante obter uma visão • Os doentes podem encontrar na fisioterapia uma in-
de como o doente olha para si e para a sua vida. tervenção positiva de suporte. Existem dados váli-
Os familiares/cuidadores podem fornecer informa- dos sobre experiências de grupos de idosos em
ção de grande valor (“ele(a) já não é o(a) mesmo(a)”). ginásios.

• História clínica: antecedentes psiquiátricos, medica- • Medicação:


ção actual.
n Na selecção de antidepressivos, devem conside-
• Exame físico e mental. rar-se a sintomatologia (apatia vs agitação), as
• Diagnóstico de depressão comorbilidades e as interacções medicamento-
sas.
n Existe grande variedade de escalas para diag-
nóstico de depressão. Uma das mais utilizadas é n Não existem diferenças na eficácia dos diferentes
a Geriatric Depression Screening Scale (GDS), fármacos antidepressivos (Nível de Evidência A)5.
apresentada na tabela 3. n Os inibidores Selectivos da Recaptação da Sero-
• Diagnóstico de Demência, através do MMSE tonina (ISRS) são mais activadores. Estes incluem
citalopram, escitalopram, sertralina, paroxetina e
• Avaliação analítica (para exclusão de outras patolo-
fluvoxamina. O IMAO moclobemida também
gias): TSH, T4 livre, hemograma, vitamina B12, cálcio,
pode ser usado para a depressão no idoso.
enzimas hepáticas, ionograma e creatinina.
n Alterações na condução do estímulo eléctrico
cardíaco, glaucoma, hipotensão ortostática, re-
Acompanhamento tenção urinária ou tendência para quedas são
contra-indicações para a terapêutica com antide-
• Fornecer informação acerca de depressão ao
pressivos tricíclicos.
doente e sua família e cuidadores, i.e., a depressão
pode ser tratada. n Os antidepressivos tricíclicos, como a amitripti-
lina, não são recomendados para idosos pelos
• Ter em consideração outras comorbilidades, ten-
seus efeitos anticolinérgicos. Não devem ser uti-
tando reduzir ou compensar os seus efeitos. Esta
lizados em doentes com idade superior a 75
atitude contribui para o melhor acompanhamento
anos, podendo ser considerados em regime de
da depressão.
internamento. A nortriptilina pode ser uma boa
• O status psico-social e a rede social do doente opção para a depressão com características de
devem ser definidos. apatia.
• Deve monitorizar-se a resposta terapêutica para ga- n A mirtazapina em dose inicial de 15-30 mg/dia é
rantir a adesão do doente. A ansiedade concomi- uma boa opção terapêutica na depressão com
tante pode atrasar o tratamento. ansiedade ou distúrbio do sono concomitantes.
• A idade avançada não é um obstáculo ao trata- n A venlafaxina (37,5 a 150 mg/dia) pode ser eficaz na
mento. depressão refractária à terapêutica antidepressiva.
• Num idoso deprimido a relação médico-doente n Se a depressão está associada a aspectos para-
deve ser activa, encorajadora e consistente. nóides/psicóticos, deve tentar-se um fármaco an-
• Existe evidência da eficácia das intervenções psico- tipsicótico (inicialmente atípico como a
lógicas, especialmente a terapia cognitiva (Nível de risperidona ou a quetiapina). Neste caso, a con-
Evidência B), em idosos deprimidos e motivados. sulta com um psiquiatra é aconselhada.
• O doente deve viver a tristeza intrínseca ao luto. n O efeito da medicação torna-se aparente após 4-
Contudo os profissionais de saúde deverão estar 8 semanas de tratamento. Se este for apenas li-
alerta para a possibilidade de ocorrência de depres- geiro ou não existir, a dose deve aumentar-se ou,

24
se dose máxima já atingida, mudar-se para outro __________________
grupo farmacológico.
1
Holsinger T, Deveau J, Boustani M, Williams JW Jr. Does this patient
n O tratamento deve manter-se durante 1-2 sema- have dementia? JAMA 2007 Jun 6;297(21):2391-404
nas depois da recuperação. Se ocorrer recor-
rência, o idoso deverá receber medicação anti- 2
Mahoney FI, Barthel DW. Functional evaluation: The Barthel index.
depressiva durante alguns anos. Maryland State Med J 1965;14(2):61-5

n As ideias suicidas no idoso são indicação para 3


Lawton MP, Brody EM. Assessment of older people: self-monitoring
internamento. and instrumental activities of daily living. Gerontologist 1969;9:179-
86

Consultoria e Aconselhamento 4
Wilson KCM, Mottram PG, Vassilas CA. Psychotherapeutic treat-
ments for older depressed people. Cochrane Database Syst Rev.
• Os cuidados ao idoso deprimido podem ser difíceis 2008; (1):CD004853.
e desafiadores para a equipa médica e para as fa-
mílias/cuidadores. O doente pode abandonar a es- 5
Anderson IM, Tomenson BM. Treatment discontinuation with selec-
perança, culpabilizar-se, tornar-se dependente e tive serotonin reuptake inhibitors compared with tricyclic antidepres-
sants: a meta-analysis. BMJ 1995 Jun 3;310(6992):1433-8
emocionalmente lábil.
Menting JE, Honig A, Verhey FR, Hartmans M, Rozendaal N, de Vet
• Grupos de apoio às equipas médicas e famílias/cui- HC, van Praag HM. Selective serotonin reuptake inhibitors (SSRIs)
dadores podem ser úteis. in the treatment of elderly depressed patients: a qualitative analysis
of the literature on their efficacy and side-effects. Int Clin Psychop-
• Deve consultar-se um psiquiatra na presença de harmacol 1996 Sep;11(3):165-75
dúvidas diagnósticas ou quando o doente mantém Mittmann N, Herrmann N, Einarson TR, Busto UE, Lanctôt KL, Liu
depressão apesar do tratamento. Diversos antide- BA, Shulman KI, Silver IL, Narango CA, Shear NH. The efficacy, sa-
pressivos podem ser usados em conjunto em casos fety and tolerability of antidepressants in late life depression: a meta-
analysis. J Affect Disord 1997 Dec;46(3):191-217
de depressão grave. A Terapia Electroconvulsiva
Mottram P, Wilson K, Strobl J. Antidepressants for depressed elderly.
(TEC) é segura e eficaz em casos de depressão Cochrane Database Syst Rev 2006 Jan 25;(1):CD003491.
grave. Wilson K, Mottram P, Sivanranthan A, Nightingale A. Antidepressant
versus placebo for depressed elderly. Cochrane Database Syst Rev
• Doentes com depressão grave com ideias suicidas
2001; (2):CD000561
devem ser tratados em regime de internamento.

25
Tabela 1. Índice de Barthel

Higiene pessoal 0 Necessita ajuda com o cuidado pessoal


1 Independente no barbear, higiene dos dentes, rosto e cabelo (utensílios fornecidos)

Evacuar 0 Incontinente (ou necessita de enema)


1 Acidente ocasional (uma vez por semana)
2 Continente

Urinar 0 Incontinente ou algaliado e incapacitado para o fazer


1 Acidente ocasional (máximo uma vez em 24 horas)
2 Continente (por mais de 7 dias)

Ida ao WC 0 Dependente
1 Necessita ajuda, mas consegue fazer algumas coisas sozinho
2 Independente

Alimentar-se 0 Incapaz
1 Necessita ajuda para cortar, barrar manteiga, etc
2 Independente

Deslocações 0 Incapaz – sem equilíbrio ao sentar-se


1 Grande ajuda física (uma ou duas pessoas), consegue sentar-se
2 Pequena ajuda (verbal ou física)
3 Independente

Mobilidade 0 Imobilizado
1 Independente na cadeira de rodas, incluindo cantos, > 50 m
2 Anda com ajuda de uma pessoa (verbal ou física) > 50 m
3 Independente 50 m (ajuda de bengala)

Vestir-se 0 Dependente
1 Necessita ajuda, mas faz cerca de metade sem ajuda
2 Independente (incluindo botões, fechos e atacadores)

Escadas 0 Incapaz
1 Necessita ajuda (verbal, física, ajuda carregando)
2 Independente para subir e descer

Tomar banho 0 Dependente


1 Independente (ou no chuveiro)

26
Tabela 2. Escala de Actividades de Vida Diária (adaptada da IADL scale)

Destreza na utilização 1 Manuseia o telefone por iniciativa própria; procura e marca números de telefone, etc
do telefone 1 Marca alguns números de telefone conhecidos
1 Atende o telefone, mas não o usa para fazer chamadas
0 Nunca utiliza o telefone

Ir às compras 1 Realiza todas as compras independentemente


0 Realiza pequenas compras independentemente
0 Necessita acompanhamento em todas as compras
0 Totalmente incapaz de realizar compras

Preparação de alimentos 1 Planeia, prepara e serve adequadamente refeições de forma independente


0 Planeia refeições adequadamente se ajudada com os ingredientes
0 Aquece e serve refeições preparadas, mas não mantém dieta adequada
0 Necessita das refeições confeccionadas e servidas

Actividade doméstica 1 Mantém actividade doméstica sozinho ou com ajuda ocasional


(“trabalho pesado” – ajuda doméstica)
1 Realiza tarefas diárias leves como lavar a loiça e fazer a cama
1 Realiza tarefas diárias, mas não mantêm nível aceitável de limpeza
1 Necessita ajuda com as tarefas domésticas
0 Não participa em nenhuma actividade doméstica

Roupa/lavandaria 1 Realiza tratamento completo da roupa


1 Lava e seca pequenas peças de roupa – meias, cuecas, etc
0 Todo o tratamento de roupa é feito por terceiros

Meio de transporte 1 Viaja de forma independente em transportes públicos ou conduz o seu carro
1 Utiliza táxi, mas não utiliza outro transporte público
1 Viaja em transporte público se acompanhado
0 Viagens limitadas de táxi ou carro com a assistência de terceiros
0 Não viaja

Responsabilidade 1 É responsável pela toma dos medicamentos em horário e dosagem correctas


pela medicação 0 Toma responsabilidade se a medicação for preparada
0 Não é capaz de tomar a medicação

Capacidade de manutenção 1 Realiza a manutenção de finanças de forma independente (gorjetas, passar cheques,
de finanças pagamento de renda e contas, ida ao banco), tem noção do dinheiro a receber
1 Realiza compras diárias, mas necessita ajuda com o banco e compras maiores, etc
0 Incapaz de realizar a manutenção de finanças

27
Tabela 3. Geriatric Depression Screening Scale (adaptada)
Instruções ao doente:
As seguintes questões dizem respeito ao humor, atitudes e sentimentos.
Por favor, escolha a melhor resposta de como se sentiu na última semana.
Estas perguntas serão lidas e é-lhe pedido que responda “sim” ou “não”.

Sim Não
Está satisfeito com a sua vida? 0 1
Desistiu da maioria das suas actividades ou interesses? 1 0
Sente que a sua vida é vazia? 1 0
Sente-se, frequentemente, aborrecido? 1 0
Sente falta de esperança sobre o futuro? 0 1
Sente-se aborrecido com ideias que não consegue afastar da sua cabeça? 1 0
Sente-se bem-disposto a maioria do seu tempo? 0 1
Tem medo que algo de mau lhe aconteça no futuro? 1 0
Sente-se feliz a maioria do seu tempo? 0 1
Sente-se, frequentemente, sem esperança? 1 0
Sente-se, frequentemente, cansado e tenso? 1 0
Prefere ficar em casa em vez de sair e realizar actividades? 1 0
Preocupa-se, frequentemente, sobre o futuro? 1 0
Sente que tem mais problemas de memória do que os outros? 1 0
Acha que é extraordinário estar vivo neste momento? 0 1
Sente-se, frequentemente, desencorajado e triste? 1 0
Sente-se inútil pela forma como está? 1 0
Preocupa-se bastante com o passado? 1 0
Acha que a vida é muito entusiasmante? 0 1
É difícil para si começar novos projectos? 1 0
Sente-se cheio de energia? 0 1
Sente que a sua situação não tem solução? 1 0
Pensa que existem pessoas que estão melhores do que a sua pessoa? 1 0
Fica, frequentemente, chateado por pormenores? 1 0
Apetece-lhe, frequentemente, chorar? 1 0
Tem dificuldades de concentração? 1 0
Tem prazer em levantar-se de manhã? 0 1
Prefere evitar situações de contacto social? 1 0
É fácil para si tomar decisões? 0 1
A sua mente está clara como antigamente? 0 1
0-10 Normal
Total 11-20 Depressão moderada
21-30 Depressão grave

28
Autor
EBM Guidelines

Tratamento Farmacológico
Produzido a
28.09.2009
Traduzido e adaptado a

da Depressão
20.12.2009
Autores da tradução e adaptação
Miguel Julião*
Raquel Ascenção**
Filipa Fareleira***

*Interno do 2.º ano do Internato Complementar de MGF – CS Marvila


** Interna do 2.º ano do Internato Complementar de MGF – CS Sete Rios
*** Interna do 2.º ano do Internato Complementar de MGF – USF AlphaMouro

Informações relevantes tratamento para o alívio da ansiedade grave (não


devem ser esquecidos os riscos da sua utilização
• Deve escolher-se o antidepressivo adequado. prolongada) (Nível de Evidência B).6 As benzodiaze-
• Deve assegurar-se a dosagem adequada para pro- pinas isoladas não possuem efeito antidepressivo
duzir um efeito terapêutico benéfico. (Nível de Evidência B).7
• O tratamento deve ter uma duração suficiente e
adequada.
Duração do tratamento
• A medicação deve ser acompanhada por outros tra-
• O objectivo do tratamento é a recuperação total dos
tamentos (psicoterapia).
sintomas. Aproximadamente dois terços dos doen-
• A profilaxia é necessária na depressão recorrente.1 tes revela uma resposta objectiva aos medicamen-
tos e em cerca de metade ocorre remissão
Quando começar com sintomática completa.

antidepressivos? • Após duas semanas de tratamento é possível veri-


ficar se existe benefício clínico.8 Se não existir res-
• A maioria dos doentes com depressão (Nível de Evi- posta, a dosagem deve ser aumentada ou mudado
dência A)2 ou distímia (Nível de Evidência A)3,4 be- o medicamento antidepressivo.
neficiam do tratamento com antidepressivos.
• A acção medicamentosa é esperada no período de
Contudo, a medicação deve ser ajustada e modifi-
6 semanas.
cada individualmente. O benefício da terapêutica
antidepressiva não é directamente proporcional à • Após a remissão total dos sintomas, o tratamento
gravidade da depressão. deve continuar com a mesma dosagem por um pe-
ríodo de 6 a 9 meses.
• Se a depressão se tornar crónica, o médico deve,
apesar da gravidade, estar preparado para iniciar • A dosagem deve ser ajustada individualmente: a do-
antidepressivos. sagem baixa não é eficaz, e a dosagem elevada não
aumenta o efeito antidepressivo e pode conduzir a
• Os antidepressivos são eficazes em doentes com
efeitos adversos (principalmente os dos antidepres-
depressão causada por doença subjacente (Nível
sivos tricíclicos).
de Evidência A).5
• A medicação deve ser retirada gradualmente, mo-
• De acordo com alguma investigação, o tratamento
nitorizando os possíveis sinais e sintomas de de-
antidepressivo pode ser benéfico no luto prolon-
pressão recorrente.
gado.
• O tratamento de curta duração pode ser benéfico
• A eficácia da medicação depende sempre de outros
para distúrbios do sono e distímia.
tratamentos simultâneos. O contacto médico com
os doentes deprimidos é essencial, mesmo que • Se um doente apresentar antecedentes pessoais de
ocasional. perturbação depressiva com resposta favorável à
medicação anterior, então deve ser considerado tra-
• A terapêutica ansiolítica em associação à antide-
tamento de manutenção durante alguns anos (Nível
pressiva é frequentemente necessária no início do

29
de Evidência A).9,10 Após três episódios de depres- plasmática é baixa em 30% dos doentes.
são este tratamento é sempre indicado. • Os efeitos adversos anticolinérgicos são os mais fre-
quentes:
Escolha da medicação m Xerostomia
• Deve escolher-se um pequeno número de antide- m Obstipação
pressivos e conhecê-los em profundidade.
m Retenção urinária
• Principais grupos terapêuticos
• Outros efeitos adversos incluem aumento de peso,
m Inibidores Selectivos da Recaptação da Seroto- sedação e hipotensão ortostática.
nina (ISRS) (Nível de Evidência A)11
• Ter atenção:
m Inibidores MAO (Nível de Evidência A)12
m Doenças cardiovasculares
m Tricíclicos
m O uso concomitante de quinino aumenta a con-
m Inibidores de recaptação da serotonina e nora- centração de amitriptilina, clomipramina, nortrip-
drenalina tilina e trimipramina
m Outros antidepressivos m Existe risco ligeiramente aumentado de disritmias
• Os medicamentos antidepressivos diferem nos efei- m Doentes com insuficiência cardíaca compensada
tos adversos (Nível de Evidência A)13 e não de forma podem utilizar antidepressivos tricíclicos
significativa no efeito terapêutico (Nível de Evidência
m O limiar convulsivo é diminuído nos doentes epi-
C).14,15,16,17,18
lépticos.
• Os ISRS são frequentemente o medicamento de
m Na anestesia local, a acção da adrenalina e no-
primeira linha porque a sua utilização é fácil e pos-
radrenalina pode aumentar significativamente.
suem poucos efeitos adversos (especialmente nos
idosos) (Nível de Evidência A).19,20,21,22,23 m A utilização em alcoólicos deve ser evitada pelo
risco de intoxicação.
• A tolerância medicamentosa merece especial aten-
ção nos doentes idosos. Os antidepressivos tricícli- m A sua utilização provavelmente não é teratogé-
cos devem ser prescritos aos idosos apenas como nica, mas deve ser evitada no terceiro trimestre
tratamento alternativo. de gravidez.

• A mirtazapina, mianserina, trazodona ou tricíclicos


são os medicamentos de eleição para doentes de-
Inibidores Selectivos da Recaptação
primidos com distúrbio de sono ou ansiedade.
da Serotonina
• A sua eficácia é comparável à dos antidepressivos
Antidepressivos tricíclicos
tricíclicos.
• Substâncias activas: amitriptilina, clomipramina, nor-
• Não apresentam efeito sedativo, pelo que um indu-
triptilina e trimipramina, comercializadas há muito
tor de sono pode estar indicado por um período
tempo, havendo inúmera evidência científica e ex-
curto no início do tratamento.
periência na sua utilização.
• O efeito terapêutico pode observar-se 2 a 3 sema-
• A dosagem habitual de adulto é 75-150 mg/dia, po-
nas após o início do tratamento.
dendo ser administrado à noite. Na maioria dos
casos a dosagem diária eficaz é 150-300 mg. Não • São medicamentos consideravelmente mais caros
existe evidência da eficácia utilizando dosagem do que os antidepressivos de gerações anteriores.
baixa (Nível de Evidência A)24. Deve ser realizada a • Os efeitos adversos são menores quando compa-
determinação da concentração plasmática de me- rados com os tricíclicos, aumentando, por isso, a
dicamento para a monitorização da terapêutica. adesão terapêutica.
Com a dosagem diária de 150 mg a concentração

30
• Os efeitos adversos mais frequentes são as náu- • Deve ser respeitado um período de “wash out” de,
seas, perda de apetite, diarreia, perturbação do pelo menos, 5 semanas, quando for considerada a
sono e ansiedade. mudança para os inibidores MAO26,27,28.
• A mudança para um inibidor MAO deve ser antece- • Os efeitos adversos são os típicos do grupo tera-
dida de um período de “wash out” de 2 a 5 sema- pêutico: náuseas, vertigens e perturbação do sono.
nas25. • Devem ser aumentadas as concentrações de algu-
mas substâncias metabolizadas pelo fígado como
Citalopram os antidepressivos tricíclicos, carbamazepina, ben-
zodiazepinas de longa acção e valproato.
• Dosagem de 20-60 mg/dia, geralmente de manhã.
A dosagem inicial para os idosos deve ser 10 mg.
Fluvoxamina
• A semi-vida é aproximadamente 36 horas.
• Não existem interacções significativas com outros • A dosagem deve ser 100-200 mg/dia, até 300 mg.
medicamentos, mas quando usados concomitan- • As dosagens que excedam os 150 mg devem ser
temente com neurolépticos, a concentração de ci- divididas em 2 a 3 tomas. O início do tratamento
talopram pode aumentar, sem significado clínico. deve ser realizado de manhã.
• Os efeitos adversos incluem as náuseas, perturba- • O tempo médio de semi-vida é de 20 horas.
ção do sono e edema. • Os efeitos adversos são os típicos do grupo tera-
• Deve ter-se precaução no tratamento de doentes pêutico: náuseas, vómitos, insónia, cefaleias, tremor
epilépticos. e vertigens.
• A fluvoxamina diminui a metabolização hepática de
Escitalopram determinadas substâncias.
• Existem interacções medicamentosas significativas
• Dosagem de 10-20 mg/dia, geralmente de manhã.
com os beta-bloqueantes, haloperidol31 e varfarina.
• A semi-vida é aproximadamente 36 horas.
• A concentração plasmática dos antidepressivos tri-
• Não existem interacções significativas com outros cíclicos pode aumentar com o uso concomitante de
medicamentos, mas pode ocorrer aumento da con- fluvoxamina.
centração de escitalopram quando usado concomi-
• Pode observar-se aumento das transaminases e da
tantemente com neurolépticos.
creatinina.
• Os efeitos adversos incluem as náuseas, perturba-
• Deve ser dada especial atenção ao tratamento de
ção do sono e edema.
doentes com epilepsia pois o risco convulsivo pode
• Deve ter-se precaução no tratamento de doentes estar aumentado.
epilépticos.

Paroxetina
Fluoxetina
• A dosagem inicial deve ser de 20 mg de manhã, de-
• A dosagem utilizada para a depressão deve ser 20- vendo ser aumentada de 10 a 50 mg (máximo de
-40 mg/dia, divididas em 1 a 2 doses de manhã ou 40 mg em doentes com idade superior a 65 anos).
ao longo do dia. A dosagem para a bulimia é 60 A dosagem segura para doentes com insuficiência
mg/dia, geralmente em toma única de manhã. renal ou hepática é de 20 mg/dia.
• O tempo de semi-vida é 2 a 4 dias e o tempo de • O tempo de semi-vida é de 24 horas, mas varia in-
semi-vida dos metabolitos activos é mais longa. dividualmente.
• A insuficiência renal ou hepática pode aumentar a • Os efeitos adversos mais comuns incluem as náu-
semi-vida da fluoxetina. seas, sudorese e distúrbios do sono. Nos homens

31
pode ocorrer diminuição da líbido e alterações da tratamento (o efeito activador pode causar insó-
ejaculação. nia).
• Existem interacções medicamentosas com os anti- m Não deve ser utilizado em combinação com os
depressivos tricíclicos, neurolépticos fenotiazídicos, inibidores da recaptação da serotonina, com
varfarina, cimetidina, antiarrítmicos da classe IA e analgésicos como tramadol ou petidina, com me-
IC, fenitoína e outros anticonvulsivantes. dicamento anti-parkinsónicos (selegilina e rosa-
gilina), com triptanos utilizados para a enxaqueca
Sertralina ou com a bupropiona para a cessação tabágica.
m É necessário um período de “wash out” de, pelo
• A dosagem é de 50 mg, de manhã ou à noite. Se
menos, 2 semanas quando for efectuada a mu-
necessário esta pode ser aumentada gradualmente
dança de um inibidor selectivo da serotonina para
no período de várias semanas até 200 mg (Nível de
a moclobemida, não sendo necessário para
Evidência B)29.
nenhum outro antidepressivo.
• O tempo médio de semi-vida é de 36 horas.
m Pode aumentar e prolongar o efeito de medica-
• Não existe nenhum efeito psico-motor particular, mentos simpaticomiméticos administrados siste-
contudo, os doentes devem ser alertados para a micamente.
condução de veículos ou maquinaria pesada.
• Os efeitos adversos incluem cefaleias, náuseas, dis-
túrbios do sono, vertigens e xerostomia. Outros Antidepressivos
• Não existe efeito significativo sobre a metabolização Agomelatina
hepática de outros medicamentos.
• Medicamento com propriedades crono-biológicas
• Podem verificar-se interacções minor com alguns
que estimula os receptores MT1 e MT2 da melato-
medicamentos. Por exemplo, a dosagem de lítio
nina e inibe os receptores 5-HT2C da serotonina.
deve manter-se a mais reduzida possível e o valor
de INR deve ser monitorizado pois pode aumentar. • A dosagem inicial para o tratamento da depressão
é de 25 mg à noite. Após 2 semanas a dosagem
• Deve ser dada especial atenção no tratamento de
pode ser aumentada para 50 mg se o estado clínico
doentes com epilepsia.
não tiver melhorado.
• O medicamento não é recomendado para doentes
Inibidores Selectivos MAO-A com idade inferior a 18 anos. É necessária precau-
ção nos doentes com idade superior a 65 anos.
Moclobemida
• A avaliação da função hepática deve ser realizada
• Inibidor selectivo MAO-A que pode ser utilizado sem no início do tratamento e às 6, 12 e 24 semanas de
restrição dietética. utilização do medicamento. O uso de agomelatina
• É usado em todas as formas de depressão. tem que ser descontinuado se se verificar um au-
mento das transaminases para o triplo do valor de
• A dosagem inicial é de 150 mg, duas vezes ao dia. referência e a normalização destas deve ser moni-
• Deve ser considerado que: torizada.
m Trata-se de um medicamento bem tolerado. • Não existem interacções com medicamentos que
m Trata-se de um medicamento activador. inibem as enzimas CYP1A2 e CYP2C9/19. A utili-
zação de agomelatina está especialmente contra-
m Trata-se de um medicamento indicado para ido-
-indicada com os inibidores potentes da CYP1A2
sos.
(fluvoxamina e ciprofloxacina). Deve ser tomada pre-
m Pode ser combinado com ansiolíticos e antipsi- caução em doentes alcoólicos pelo risco aumen-
cóticos, se necessário. A combinação com ben- tado de lesão hepática.
zodiazepinas pode estar indicada no início do

32
• Os efeitos adversos incluem náuseas, vertigens, • Não há registo de intoxicação mortal.
tonturas e ansiedade. • Quanto aos efeitos adversos:
• Os efeitos adversos que são típicos para outros an- m Foram reportados casos de depressão medular
tidepressivos, como por exemplo, disfunção sexual, (agranulocitose e granulocitopénia), pelo que os
aumento de peso ou alterações cardiovasculares doentes devem recorrer aos seus médicos assim
não foram observados com a agomelatina. que existir qualquer sinal de infecção. As reco-
mendações apontam para contagem leucocitária
Duloxetina à 4.ª e 6.ª semanas após o início do tratamento.

• Inibidor da recaptação da serotonina e noradrena-


Milnaciprano
lina e também um inibidor fraco da recaptação da
dopamina. Não apresenta efeito sobre os recepto- • Inibidor da recaptação da serotonina e noradrena-
res histaminérgicos, dopaminérgicos, colinérgicos lina.
ou adrenérgicos. • Dosagem de 50 mg, duas vezes ao dia.
• Outra das indicações terapêuticas é a dor neuropá- • A dosagem deve ser diminuída se existir insuficiên-
tica dos doentes diabéticos adultos. cia renal.
• A dosagem inicial deve ser 60 mg/dia, com dosa- • O tempo de semi-vida é cerca de 8 h. A concentra-
gem máxima de 120 mg/dia, dividida em doses ção estável irá obter-se após 2 a 3 dias.
iguais.
• A eliminação é realizada preferencialmente por via
• A resposta ao tratamento é geralmente alcançada renal, por isso, a insuficiência hepática não afecta a
após 2 a 4 semanas e não existe evidência clínica farmacocinética do medicamento.
que dosagens superiores melhorem a resposta se
esta não tiver sido alcançada com a dosagem inicial. • Nos distúrbios do sono e na ansiedade, o trata-
mento sintomático é necessário.
• A dosagem não necessita ser ajustada no trata-
mento a idosos, mas deve ser vigiada quando a do- • Atenção ao risco de suicídio, pois a actividade
sagem máxima de 120 mg é usada. psico-motora dos doentes pode aumentar antes da
melhoria depressiva.
• Os efeitos adversos incluem náuseas, xerostomia,
obstipação, sonolência e vertigens. • Não deve ser feita utilização concomitante com ini-
bidores MAO, triptanos (especialmente sumatrip-
• O tratamento de adolescentes, crianças, grávidas tano), digoxina, epinefrina, norepinefrina e clonidina.
ou puérperas a amamentar, doentes com insuficiên-
cia hepática ou renal grave não está indicado. • Não deve ser utilizado na hiperplasia prostática e
noutras doenças do foro uro-genital.
• Não deve ser combinada com inibidores potentes
da CYP1A2 como a fluvoxamina e a ciprofloxacina. • Não deve ser utilizado durante a gravidez e ama-
mentação.
• A utilização concomitante com inibidores MAO não
está indicada. • Os efeitos adversos mais comuns incluem vertigens,
hiperhidrose, ansiedade, afrontamentos e disúria.
Podem ocorrer náuseas, vómitos, efeitos anticoli-
Mianserina nérgicos, palpitações e agitação, embora menos
• Provoca menos efeitos adversos do que os antide- frequentemente.
pressivos tricíclicos.
• Administração habitual à noite. Mirtazapina
• Podem existir efeitos adversos consideráveis, em- • A dosagem inicial é de 15 mg em toma única ao dei-
bora transitórios como fadiga no início do trata- tar ou em duas tomas, de manhã e à noite. A dosa-
mento o que pode comprometer a adesão gem média eficaz é de 15 a 45 mg. A dosagem para
terapêutica.

33
os idosos é a mesma dos adultos, mas a resposta Trazodona
e os possíveis efeitos adversos devem merecer mo-
nitorização mais apertada. • Medicamento indicado para doentes com depres-
são ligeira a moderada, com contra-indicação para
• A resposta terapêutica será melhor quando existi- o uso de antidepressivos tricíclicos.
rem sintomas somáticos depressivos como anedo-
nia, inibição psicomotora, distúrbios do sono, perda • Os efeitos cardiovasculares são mais moderados
de interesse, ideias suicidas e humor depressivo quando comparados com os dos antidepressivos
mais marcado no período vespertino (Nível de Evi- tricíclicos.
dência A)30. • Os efeitos adversos incluem hipotensão ortostática
• A Mirtazapina pode potenciar os efeitos do álcool e e priapismo.
das benzodiazepinas. • A dosagem máxima é 600 mg/dia, dividida em três
• O uso concomitante com os inibidores MAO está tomas.
desaconselhado.
• Os efeitos adversos incluem aumento do apetite e Venlafaxina
peso, fadiga, hipotensão ortostática, mania, convul-
• A venlafaxina deve ser iniciada com a menor dosa-
sões, tremor, mioclonias, edema, depressão medu-
gem possível, usualmente 37,5 mg, duas vezes por
lar aguda, aumento das transaminases e exantema.
dia (75 mg/dia). Se necessário a dosagem pode ser
aumentada para 225 mg/dia (quatro administrações
Reboxetina de 75 mg) ou 375 mg/dia em doentes com depres-
são grave. A dosagem máxima recomendada por
• A reboxetina é um potente inibidor da recaptação administração é de 125 mg, três vezes por dia.
da noradrenalina, actuando também como um ini- Deve ser tida especial precaução no tratamento em
bidor fraco da recaptação da serotonina. idosos.
• A dosagem inicial para adultos é 4 mg, duas vezes • O tratamento deve ser retirado com precaução, re-
ao dia. A dose diária pode ser aumentada até 10 duzindo a dosagem progressivamente num período
mg, após 3 a 4 semanas, com dosagem diária má- de 2 semanas. Os sintomas de privação incluem
xima de 12 mg. Este medicamento não é indicado náuseas, vertigens, cefaleias, distúrbios do sono,
para idosos. mal-estar geral, ansiedade e espasmos musculares.
• A reboxetina é activadora e não hipnótica. • A utilização concomitante com inibidores MAO está
• Os efeitos adversos incluem xerostomia, obstipa- contra-indicada.
ção, insónia e hiperhidrose. • Os doentes medicados com Venlafaxina devem
• A reboxetina não está indicada nos doentes com avaliar regularmente a pressão arterial pois é espe-
epilepsia. Deve ser tomada especial atenção em rado que esta se eleve durante o tratamento.
doentes com hiperplasia benigna da próstrata, glau- • Deve ser tida especial precaução em doentes com
coma e doenças cardíacas. patologia cardíaca.
• A reboxetina deve ser utilizada com precaução jun- • São necessárias avaliações regulares de saúde em
tamente com medicamentos metabolizados por en- doentes com distúrbios da micção, glaucoma de
zimas que não a CYP2D6. ângulo fechado, pressão intra-ocular aumentada, hi-
• A utilização concomitante com inibidores MAO não potensão ou queixas do foro cardíaco. O período
deve ser realizada. depressivo da psicose maníaco-depressiva pode
• O tratamento durante a gravidez e amamentação transformar-se em mania durante o tratamento com
não está indicado. venlafaxina.
• Os efeitos adversos possíveis incluem vertigens, in-
sónia, tonturas, ansiedade, sintomas gastro-intesti-

34
nais, cefaleias, hipertensão, aumento do apetite e com um antidepressivo, isto é, perfenazina, risperi-
peso, sintomas do sistema nervoso central, pertur- dona, olanzapina em doentes com delírio ou aluci-
bações da acomodação visual, polaquiúria, pertur- nações.
bações sexuais, sudorese e fraqueza. • O lítio pode ser combinado a um antidepressivo tri-
• A venlafaxina deve ser interrompida pelo menos 1 cíclico se a resposta terapêutica for inadequada. Se,
semana antes da mudança para um inibidor MAO. ainda assim, a resposta clínica se mantiver inade-
• Existem interacções com vários medicamentos me- quada, podem adicionar-se lentamente doses bai-
tabolizados no fígado como a paroxetina, cetoco- xas de hormonas tiroideias, sendo o efeito esperado
nazol, eritromicina, verapamil e cimetidina. em algumas semanas.
• Os antidepressivos tricíclicos podem ser combina-
dos com os inibidores selectivos da recaptação da
Sulpirida serotonina e vice-versa.
• A sulpirida é um neuroléptico com efeito antidepres- • Os antidepressivos, com excepção dos inibidores
sivo. da MAO, podem cautelosamente ser combinados
• A dosagem de adulto mais eficaz é de 50 a 400 com antidepressivos sedativos em doentes com de-
mg/dia, administrada de manhã ou à tarde, pois se pressão e distúrbios do sono. O risco de síndroma
administrada à noite pode conduzir a distúrbios do serotoninérgico deve ser lembrado e o doente deve
sono. descontinuar o tratamento, contactar o seu médico
ou recorrer a um serviço de urgência se ocorrerem
• Os efeitos adversos incluem galactorreia (por esti-
sinais ou sintomas como sudorese profusa, ataxia,
mulação de secreção da prolactina), aumento de
agitação, vertigens, hiperreflexia, mioclonias, tremor,
apetite e peso e acatisia.
diarreia, alterações de coordenação motora, hiper-
• A discinésia tardia pode desenvolver-se com o tra- termia, alterações do estado de consciência e hipo-
tamento prolongado, particularmente em idosos e mania.
o primeiro sinal encontrado é a protrusão da língua.
• Os inibidores selectivos da MAO-A não podem ser
Se este persistir por um período longo pode tornar-
combinados com outros antidepressivos pelo risco
-se permanente. É geralmente reversível após des-
de síndroma serotoninérgico.
continuação imediata do fármaco.
• A fluoxetina, a fluvoxamina e a paroxetina podem
duplicar a concentração plasmática dos antidepres-
Plantas Medicinais sivos tricíclicos por diminuirem a metabolização he-
pática.
Erva de São João
• O extracto de hipericão (Erva de São João) é mais
eficaz do que o placebo e parece apresentar eficá- Bibliografia
cia comparável aos antidepressivos utilizados para 1
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• O extrato de hipericão pode reduzir a concentração


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Int Clin Psychopharmacol 1996 Sep;11(3):165-75.
21
Anderson IM, Tomenson BM. Treatment discontinuation with se-
lective serotonin reuptake inhibitors compared with tricyclic an-

36
Autor
Editores EBM Guidelines
Produzido a
Exame Objectivo 04/08/2009
Traduzido e adaptado a

da Articulação do Ombro
17/01/2010
Autores da tradução e adaptação
Raquel Ascenção*
Manuel Rodrigues Pereira**
Miguel Julião***
Filipa Fareleira****
António Vaz Carneiro*****

* Interno do 2.º ano do Internato Complementar de MGF – CS Marvila


** Interno do 3.º Ano do Internato Complementar de MGF – CS Póvoa de Santa Iria
*** Interna do 2.º ano do Internato Complementar de MGF – CS Sete Rios
**** Interna do 2.º ano do Internato Complementar de MGF – USF AlphaMouro
*****Director, Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência da Faculdade de Medicina de Lisboa

Generalidades síndrome do ombro congelado a escápula ergue-


-se mais precocemente no lado não afectado.
• O exame objectivo trará informação importante
acerca da localização exacta da dor na coifa dos ro- • Testes de resistência isométrica: abdução (teste do
tadores e estado funcional do ombro. Os testes clí- supraespinhoso), rotação externa (teste do infraes-
nicos são relativamente fiáveis na exclusão de rotura pinhoso), flexão do cotovelo e supinação do ante-
da coifa dos rotadores (Nível de Evidência B). braço (teste do bicípede).

• A ecografia pode confirmar a rotura da coifa dos ro- • Palpação dos tendões
tadores nos casos em que a apresentação clínica • Compressão do espaço subacromial (teste da
sugira a necessidade de intervenção cirúrgica (Nível bursa): com uma mão no ombro e outra por baixo
de Evidência B). A ecografia é tão fiável quanto a do cotovelo, o úmero é comprimido contra a bursa.
ressonância magnética, mas menos dispendiosa, • Testes de provocação da articulação acromio-clavi-
na detecção da rotura da coifa. A ressonância mag- cular (hiperabudção e teste dos braços cruzados).
nética também pode ser utilizada.
• Se a dor persistir por um longo período de tempo, Critérios de Diagnóstico
a radiografia do ombro é o exame de segunda linha
mais importante. • Capsulite adesiva do ombro (ombro congelado)
m A amplitude dos movimentos activos e passivos
da articulação do ombro está significativamente
Exame Objectivo
reduzida e
• Inspecção do pescoço e ombro: atrofia (sugere m Dor nocturna e
lesão de nervo ou tendão)
m Dor com o movimento (particularmente movi-
m Mais comum na região do supraespinhoso e in- mentos súbitos e em posições extremas).
fraespinhoso.
• Síndrome da coifa dos rotadores
• Movimentos activos de abdução, flexão, rotação
m História apropriada da dor (a dor irradia até me-
(dor, restrição)
tade do braço, em redor da inserção do deltóide)
m Examinar a mobilidade passiva nos casos em e
que o raio de movimentos activos estiver dimi-
m Pelo menos um teste de resistência isométrica
nuído (isto é, se a função activa do ombro estiver
positivo e
comprometida ou se existir rigidez articular, por
exemplo, ombro congelado) m Síndrome do Arco Doloroso.
• Síndrome do arco doloroso aos 60º-120º (tendão • Síndrome de Conflito Sub-Acromial
do supraespinhoso, bursa subacromial) m História apropriada da dor
m Avaliar também os movimentos da escápula. No m Teste de resistência isométrica positivo (rotação

37
interna) e testes clínicos sugestivos de conflito Diagnóstico diferencial
sub-acromial
• O teste de compressão axial é realizado pressio-
n Teste de Neer: o examinador eleva e flecte ante- nando o topo da cabeça do doente enquanto este
riormente, de forma passiva, o ombro – dor na se encontra sentado;
flexão completa sugere conflito entre o tendão do
supra-espinhoso e a face anterior do acrómio. • Testes para o “síndrome do desfiladeiro torácico”

n Dor no Teste de Hawkins (rotação interna com o • Testes para epicondilite


ombro em 90º de abdução e o cotovelo com 90º • Testes para síndrome do canal cárpico
de flexão)

38
Autor

Osteoporose
Criado a
15.05.2008
Traduzido e adaptado a
20.09.2009

Regras básicas sitometria óssea de duplo fotão) não está indicado


(Nível de Evidência B). A determinação da DMO
• O objectivo da prevenção e tratamento da osteopo- dirigida a indivíduos com risco aumentado é custo-
rose é a prevenção de fracturas (fémur proximal, -efectiva e deve integrar as iniciativas de saúde pú-
punho, úmero proximal, vértebras). blica.
• O benefício do tratamento é superior nos doentes • As causas de osteoporose secundária devem ser
com história prévia de fractura de baixo impacto, identificadas e tratadas de forma adequada (hiper-
geralmente após uma queda em terreno plano. paratiroidismo, hipertiroidismo, Síndrome de Cus-
Nestes doentes há indicação para determinação da hing, hipogonadismo, urémia, doença celíaca,
densidade mineral óssea (DMO) (idade inferior a 80 terapêutica com glicocorticóides, artrite reuma-
anos) ou tratamento imediato. Apresentam um risco tóide).
duas a quatro vezes superior de nova fractura.
• Os bisfosfonatos são os fármacos de primeira linha
• O diagnóstico precoce da osteoporose é da respon- no tratamento e prevenção da osteoporose. A tera-
sabilidade dos Cuidados de Saúde Primários. As pêutica com estrogénios é adequada na prevenção
especialidades cirúrgicas partilham a responsabili- da osteoporose em mulheres com menopausa sin-
dade terapêutica nos doentes com história prévia tomática que justifique tratamento e não apresen-
de fractura. tem doença arterial.
• A determinação da DMO deve ser dirigida a grupos • O sucesso da terapêutica farmacológica é avaliado
de risco (Tabela 1). A DMO está diminuída apenas pela determinação da DMO e, a nível populacional,
em alguns destes indivíduos. Em geral, o rastreio pelo decréscimo das complicações associadas.
universal por DXA (Dual energy X-ray absorptiome-
try, absorciometria por duplo feixe de raio X ou den-

Tabela 1. Circunstâncias que exigem a realização de DXA.

Circunstância clínica

1 História de fractura de baixo impacto com suspeita de etiologia osteoporótica. Este grupo apresenta um risco particular-
mente elevado de novas fracturas, as quais podem ser prevenidas com terapêutica farmacológica adequada.

2 O indivíduo é uma mulher com mais de 65 anos de idade com factores de risco:
• fractura da anca na geração anterior (mãe)
• estilo de vida sedentário, imobilização prolongada (por exemplo, após AVC)
• hábitos tabágicos pesados
• baixo aporte de cálcio
• baixo peso

3 O indivíduo apresenta outras doenças e factores que aumentam o risco de osteoporose tais como:
• menopausa precoce sem terapêutica com estrogénios
• hipogonadismo
• terapêutica prolongada com glicocorticóides sistémicos (> 3 meses)
• deficiência de vitamina D
• transplante de órgãos com tratamento farmacológico associado
• insuficiência renal crónica
• síndrome de Cushing

39
• hiperparatiroidismo
• hipertiroidismo
• doenças gastrointestinais: doença celíaca, colite ulcerosa, doença de Crohn, status pós-gastrectomia,
e intolerância grave à lactose excepto na presença de suplementação com cálcio
• doença hepática grave
• artrite reumatóide e doenças relacionadas
• medicamentos: fenitoína, carbamazepina, tiroxina em doses altas na neoplasia da tiróide (já não utilizado),
terapêutica prolongada com heparina, inibidores da aromatase
• castração cirúrgica ou médica no cancro da próstata

4 Suspeita de osteoporose baseada numa radiografia (alterações numa vértebra ou aparente diminuição da concentração
de cálcio). Nos doentes com fractura vertebral, a determinação da DMO não é indispensável para iniciar terapêutica.

5 Diminuição superior a 5 cm na estatura, cifose dorsal.

6 Osteoporose periférica numa mulher com idade superior a 50 anos.

7 Uso prolongado de alguns fármacos (fenitoína, carbamazepina, heparina).

Definições (Para as recomendações dos aportes diários de cál-


cio e vitamina D consultar a tabela 2).
• Define-se osteoporose como a condição em que a
m Quatro copos de leite magro ou soro de leite (but-
diminuição da resistência óssea predispõe à ocor-
termilk) contêm 1 g de cálcio; a mesma quanti-
rência de fracturas. A resistência do osso está rela-
dade é obtida com 100 g de queijo.
cionada com a quantidade (densidade) e qualidade
ósseas. Uma história de fractura sugere má quali- m Deve assegurar-se um aporte suficiente de cálcio
dade óssea. logo desde o período de crescimento ósseo.
m Os locais mais comuns de fractura incluem o m A quantidade de cálcio disponível nos suplemen-
fémur proximal (colo do fémur e trocanteres), o tos de cálcio é variável; as doses superiores às
punho e vértebras torácicas. recomendadas não são benéficas quer na pre-
venção quer no tratamento.
• A osteomalácia é um distúrbio da mineralização da
matriz óssea. Ocasionalmente, a osteomalácia e a m Não existe informação suficiente sobre o efeito
osteoporose podem estar simultaneamente presen- do cálcio nos ossos dos indivíduos do sexo mas-
tes. culino.
• A osteoporose é grave quando a densidade óssea • As fontes mais importantes de vitamina D são o
osteoporótica está associada a uma ou várias frac- peixe e os produtos diários suplementados com vi-
turas osteoporóticas. tamina D.
• Na osteopénia, a DMO está apenas ligeiramente di- n Os indivíduos com idade superior a 70 anos são
minuída (–2,5 < T score ≤ –1). um grupo de risco para o aporte inadequado de
vitamina D. A terapêutica de substituição com vi-
tamina D (800 UI diárias) é segura e justificada
pela evidência do efeito benéfico na prevenção
Prevenção
de fracturas nos indivíduos de ambos os sexos
• O cálcio deve estar disponível em quantidades su- (Nível de Evidência A)5.
ficientes na dieta (1 – 1,5 g/dia nos grupos de risco).

40
m Em particular, os idosos institucionalizados com m A imobilização (doentes acamados) conduz a
mobilidade mantida devem receber suplementa- uma rápida perda mineral no osso trabecular.
ção com vitamina D (800 UI/dia) e cálcio. A vita- • A calcitonina e os bisfosfonatos assim como o ralo-
mina D também reduz as quedas em pessoas xifeno (Nível de Evidência A) podem ser utilizados
idosas (Nível de Evidência A) através da melhoria nos indivíduos não medicados com estrogénios. Foi
da capacidade muscular. Nos mais idosos, o demonstrado que os bisfosfonatos aumentam a
efeito da luz solar é insignificante. DMO e previnem fracturas. O tratamento preventivo
m A suplementação com vitamina D e cálcio reco- deve ser sempre considerado nos doentes sob cor-
menda-se igualmente nos doentes sob cortico- ticoterapia de longa duração (Nível de Evidência A)
terapia de longa duração (Nível de Evidência B). em adição à terapêutica básica (cálcio e vitamina D)
Estes necessitam, muitas vezes, de terapêutica (Nível de Evidência B).
adicional com bisfosfonatos.
m A concentração sérica de 25-hidroxivitamina D Substituição Hormonal Pós-menopausa
varia consideravelmente com a exposição solar.
Uma concentração inferior a 40 nmol/L sugere • A terapêutica hormonal de substituição (THS) utili-
deficiência e inferior a 20 nmol/L uma grave defi- zada para o tratamento dos sintomas associados à
ciência. O nível-alvo situa-se entre os 40 e 80 menopausa também previne a osteoporose (Nível
nmol/L. de Evidência B), especialmente durante os primeiros
m A transformação de vitamina D em calcitriol bio- 10 anos. Após este período a THS mantém efeitos
logicamente activo tem lugar no rim e pode estar benéficos e reduz, pelo menos, a taxa de fracturas
reduzida nas doenças renais e também nos ido- vertebrais. Nos doentes com idade inferior a 75-80
sos. anos é igualmente provável a redução da ocorrência
de fracturas no fémur proximal.
m A deficiência em vitamina D e cálcio resulta em
hiperparatiroidismo secundário. • No entanto, devido ao risco de cancro da mama e
tromboembolismo, a THS não está indicada na pre-
• O exercício físico2 é uma medida preventiva eficaz
venção ou tratamento da osteoporose em mulheres
na osteoporose (Nível de Evidência A).
que não precisam de THS por sintomas relaciona-
m É suficiente a realização de trinta minutos de mar- dos com a menopausa.
cha ou outro exercício em carga (por exemplo,
• O raloxifeno tem um efeito estrogénio-like no osso
aeróbica) três vezes por semana.
mas não tem efeito sobre o hipotálamo, útero ou
m O exercício é necessário na infância e adolescên- mama. Foi demonstrado que reduz o risco de can-
cia; contudo, é ainda possível aumentar a DMO cro da mama3.
aos 40 anos de idade.

Tabela 2. A§orte recomendado de cálcio e vitamina D (climas temperados e do Norte)

Idade ou circunstâncias vitais Cálcio, mg Vitamina D, IU 1)

Fase Crescimento 900 300

21-60 anos 800 300

> 60 anos 800 2) 400

Gravidez e aleitamento 900 400

1) 40 IU = 1 µg
2) O aumento no aporte diário de cálcio até 500-1000mg pode ter algum efeito na prevenção da osteoporose no sexo feminino.

41
Determinação da DMO mes. Nas situações problemáticas, a tomografia
computorizada poderá esclarecer a anatomia da
• O diagnóstico precoce de osteoporose, antes da coluna vertebral.
ocorrência de fractura, é possível apenas com a de-
terminação da DMO. Os métodos recomendados n A DXA da anca não apresenta fontes de erro
são baseados na radiação de Raio-X de baixa ener- significativas; a DXA do fémur proximal é mais
gia (Densitometria Óssea / “Dual Energy X-Ray Ab- adequada para a determinação da osteopo-
sorptiometry”, “DXA”). Estes métodos são utilizados rose da anca em pessoas idosas.
na determinação da DMO no fémur proximal e co- m A dose de radiação envolvida numa DXA é pe-
luna lombar. quena e dependendo do equipamento corres-
m Os resultados são comparados com os valores ponde, no máximo, à radiação do meio natural
de DMO de indivíduos saudáveis entre os 20 e durante duas semanas. A dose é muito inferior à
40 anos de idade (valor máximo, T score). de uma radiografia da mesma região.
Quando são tomadas decisões acerca do trata- m A osteoporose diagnosticada por medição no
mento, a DMO do indivíduo é comparada com calcâneo periférico (P-DXA), constitui um factor
valores de referência para a respectiva idade (Z de risco significativo para osteoporose central
score). numa mulher com idade superior a 50 anos. A P-
m Os resultados são considerados significativos DXA é adequada para o rastreio do risco de frac-
para osteoporose quando a DMO é inferior a 2,5 tura. Um resultado anormal deve geralmente ser
desvios padrão (DP) (aproximadamente 25%) confirmado com uma determinação da DMO por
abaixo do valor máximo. A diminuição da DMO DXA central.
constitui um factor de risco independente para • A medição ecográfica do calcâneo (Nível de Evidên-
fracturas. A determinação da diminuição de 1 DP cia C) é um método de rastreio rápido que não en-
(osteopénia) no colo femoral aumenta o risco de volve radiação ionizante. Não é uma determinação
fractura para mais do dobro (Nível de Evidência da DMO e não substitui a DXA. A correlação com a
B). DMO é moderada e melhor em mulheres mais ido-
m A osteoporose é considerada grave se a DMO for sas. A ecografia avalia também outros factores e
superior a 2,5 desvios padrão abaixo do valor pode ter implicações na avaliação do risco de frac-
máximo e o doente apresentar uma complicação tura.
da osteoporose (fractura).
m A DXA da coluna lombar é fiável em indivíduos jo- Indicações para determinação da DMO
vens e de meia-idade que não apresentem alte-
• Deve ser dirigida a grupos de risco que beneficiarão
rações que interfiram com o exame. Com o
de tratamento (Tabela 1).
avançar da idade, alterações como calcificações
aórticas, osteofitos, alterações degenerativas das • Indivíduos com fractura provocada por lesão de
superfícies articulares, fracturas osteoporóticas e baixa energia
diminuição da altura dos espaços intervertebrais m A terapêutica farmacológica para a osteoporose
começam a interferir com a determinação da pode ser iniciada sem determinação prévia da
DMO nos corpos vertebrais. Num idoso, um DMO nos doentes idosos (idade superior a 80
score baixo na DXA é fiável mas um indivíduo anos) que sofreram uma fractura desse tipo.
com um score normal pode apresentar osteopo-
• Mulheres com idade superior a 65 anos de idade e
rose mais grave devido a fontes de erro.
três ou mais factores de risco para osteoporose ou
m A radiografia simples da coluna vertebral pode re- com apenas um factor de risco significativo, por
velar fontes de erro nos casos em que surjam dú- exemplo, história familiar, fractura anterior ou
vidas. A diversidade destas fontes exige um doença ou terapêutica que predisponha a osteopo-
profissional com conhecimento e prática clínica rose.
especiais na interpretação e relatório destes exa-
• Doentes com idade inferior a 65 anos com períodos

42
Tabela 3. Critérios de diagnóstico para osteoporose. Diferentes aparelhos fornecem estimativas
discretamente diferentes para osteoporose/osteopénia.

Classificação Critérios

Normal Massa óssea/DMO situa-se no intervalo que corresponde à DMO média numa
pessoa saudável com idade entre 20 e 40 anos (pico de DMO) ± 1 DP.

Densidade Óssea Baixa, A DMO é 1 – 2,5 DP inferior ao pico de densidade óssea.


i.e. Osteopénia

Osteoporose A DMO é ≥ 2,5 DP inferior ao pico de densidade óssea.

Osteoporose Grave Adicionalmente aos critérios de osteoporose, o doente apresenta uma ou mais
fracturas osteoporóticas.

prolongados (> 3-6 meses) ou repetidos de cortico- • Investigação laboratorial primária (após o diagnós-
terapia oral. tico de osteoporose)
• Foram desenvolvidos diferentes índices locais para m Velocidade de sedimentação, hemograma, cálcio
a determinação do risco de fracturas osteoporóticas sérico, cálcio em urina de 24 horas, fosfatase al-
e necessidade de terapêutica farmacológica. calina sérica e nos homens testosterona sérica.
m Dependendo da situação: TSH sérica, teste de
Rastreio da DMO supressão com 1,5 mg de dexametasona, elec-
troforese das proteínas séricas e urinárias, anti-
• Não se justifica a determinação não seleccionada corpos anti-transglutaminase, 25-hidroxi-vitamina
da DMO (Nível de Evidência: B). A osteoporose pe- D.
riférica (diagnosticada com P-DXA) deve ser geral-
mente confirmada por DXA antes de qualquer • A diminuição da calcémia está frequentemente as-
decisão terapêutica. sociada à diminuição da albuminémia numa pessoa
idosa e doente (nesse caso, o cálcio ionizado é mais
• As determinações da DMO realizam-se com o ob- fidedigno).
jectivo de avaliar o risco individual de fractura em
doentes com um ou vários factores de risco quando • Valores normais ou diminuídos de calcémia junta-
se considera um tratamento prolongado. O aparelho mente com níveis diminuídos de fosfatémia sugerem
utilizado para seguimento deve ser o mesmo utili- má absorção e osteomalácia. Nestas circunstân-
zado para diagnóstico. cias, os níveis de fosfatase alcalina óssea sérica
estão elevados e, secundariamente, os da hormona
da paratiroideia (PTH) também. O nível de fosfatase
Avaliação Laboratorial na suspeita alcalina total sérica não é útil no diagnóstico de os-
de osteoporose teoporose primária.
• Actualmente não existem testes laboratoriais dispo- • Os testes laboratoriais para a detecção de osteo-
níveis para o diagnóstico de osteoporose primária. porose secundária são escolhidos tendo em conta
Os testes laboratoriais têm como objectivo revelar a anamnese e exame objectivo (hipertiroidismo, hi-
osteoporose secundária, osteomalácia e excluir ou- perparatiroidismo, deficiência de vitamina D, sín-
tras causas de dor óssea. No homem e mulher pré- drome de Cushing, urémia, doença celíaca,
-menopausa, a osteoporose é na maioria dos casos intolerância à lactose, mieloma, artrite reumatóide,
secundária e frequentemente necessita de consulta possível terapêutica hormonal para cancro da prós-
especializada. tata).

43
• Quando há suspeita de hiperparatiroidismo primá- Tratamento da Osteoporose
rio
m As concentrações séricas de PTH e cálcio estão Objectivos
aumentadas; os níveis séricos de creatinina e al- • O objectivo do tratamento da osteoporose é a pre-
bumina são normais. O aumento secundário da venção de fracturas ósseas – em particular as ver-
PTH é comum na doença celíaca, deficiência em tebrais e da anca – de um modo custo-efectivo. A
cálcio e vitamina D e insuficiência renal. terapêutica farmacológica deve ser dirigida a doen-
• Quando há suspeita de deficiência de Vitamina D tes de alto risco e idosos que apresentem uma mul-
tiplicidade de factores de risco para fractura quando
m O nível sérico de 25-hidroxi-vitamina D está dimi-
comparados com os jovens.
nuído. A concentração de fosfatase alcalina está
aumentada, a calcémia está diminuída ou pró- • O tratamento de um doente com fractura tem como
ximo do normal, a concentração de cálcio na objectivo adicional o alívio da dor. A calcitonina
urina de 24 horas está diminuída e a concentra- actua também como analgésico no tratamento das
ção de PTH pode estar secundariamente aumen- fracturas vertebrais.
tada. • A base do tratamento para a osteoporose consiste
m A deficiência de vitamina D é comum nos mais nas medidas já descritas para a prevenção – aporte
idosos e causa frequentemente um aumento dis- de cálcio e vitamina D em quantidade suficiente,
creto na concentração sérica de fosfatase alca- exercício físico e evicção dos hábitos tabágicos.
lina. • A osteoporose diagnosticada por DXA nem sempre
m A concentração sérica de vitamina D depende obriga a terapêutica farmacológica. Esta decisão
em grande parte da estação do ano e da quanti- deve ser baseada na determinação do risco total de
dade de luz solar nos jovens, complicando a in- fractura.
terpretação de resultados, uma vez que o
intervalo de referência é abrangente. Nos mais
idosos, o efeito da luz solar é insignificante ou
mesmo inexistente. Os valores de referência en- Terapêutica Farmacológica
contram-se entre 20 e 105 nmol/L. No entanto,
Base para as decisões terapêuticas
valores entre 20 e 40 nmol/L já sugerem deficiên-
cia. O limite inferior seguro situa-se por volta dos • A diminuição da DMO em 1 DP aumenta duas a três
40 nmol/L; nesta concentração, previne-se o au- vezes o risco de fractura.
mento da concentração de PTH. • Uma história de fractura prevê uma nova fractura in-
m Em crianças, a deficiência de vitamina D causa dependentemente da DMO2 como foi demonstrado
raquitismo; nos adultos, osteomalácia. em doentes com fracturas prévias a nível vertebral,
• Radiografia punho ou anca. O risco de nova fractura aumenta
em particular logo após a primeira fractura. No ano
m A interpretação da presença de osteoporose li- após uma primeira fractura vertebral, uma em cada
geira é difícil e reflecte apenas uma sugestão ou cinco mulheres pós-menopausa regista uma nova
probabilidade para este diagnóstico. Uma frac- fractura vertebral.
tura vertebral diagnosticada por radiografia não
pode ser interpretada como osteoporótica até • A idade é um factor de risco independente para
que sejam excluídas outras patologias. fractura óssea, não dependendo da DMO. O risco
de fractura duplica a cada 10 anos de idade.
• O tratamento da osteoporose ao nível da coluna
vertebral é mais custo-efectivo (isto é, tem de ser
tratado um número inferior de doentes para prevenir
uma nova fractura) quando é dirigido a doentes com
história de fractura vertebral em comparação com

44
aqueles que apresentam apenas uma DMO baixa. Bisfosfonatos
Uma DMO baixa não significa que o tratamento da
osteoporose seja custo-efectivo. • Os bisfosfonatos são os fármacos de primeira linha
no tratamento da osteoporose.
• Nos ensaios clínicos, a prevenção da fractura da
anca foi bem sucedida em doentes que apresenta- • Dos bifosfonatos, o alendronato (Nível de Evidência
vam apenas DMO baixa. O custo-efectividade do A) (70 mg/semana) e o risedronato (Nível de Evidên-
tratamento foi melhorado quando dirigido a doentes cia B) (35 mg/semana) demonstraram ser eficazes
que, para além de DMO baixa, também apresenta- na melhoria da osteoporose e prevenção da ocor-
vam fractura vertebral prévia. Para ser custo-efec- rência de fracturas no fémur proximal e coluna ver-
tiva, a terapêutica farmacológica para a prevenção tebral.
da fractura da anca deve ser dirigida a indivíduos • O etidronato (utilização intermitente, 400 mg uma
suficientemente idosos, com DMO baixa e fractura vez por dia durante duas semanas a cada 3
prévia. A terapêutica farmacológica deve ser consi- meses) (Nível de Evidência B) e o clodronato de-
derada apenas em indivíduos que deambulam de monstraram prevenir fracturas osteoporóticas da
forma independente. coluna vertebral.
• Os bisfosfonatos são prescritos como profilaxia nos
Indicações para terapêutica doentes de alto risco que iniciem corticoterapia de
farmacológica longa duração ou em doses elevadas.
• O ibandronato é o bisfosfonato mais recente e é ad-
• A terapêutica farmacológica, adicionalmente ao tra-
ministrado uma vez por mês por via oral6.
tamento básico, é iniciada quando o doente apre-
sentar uma fractura osteoporótica (Tabela 4). • Pode considerar-se a utilização de zoledronato nas
situações em que outros fármacos se mostraram
• Nos doentes com fractura vertebral ou da anca, a
inadequados ou não foram realizados por má ade-
terapêutica farmacológica pode ser iniciada sem de-
são terapêutica.
terminação da DMO após exclusão de neoplasia ou
outras causas de osteoporose secundária. m O zoledronato é administrado anualmente numa
perfusão endovenosa curta de 4-5 mg. A osteo-
• Em doentes com outras fracturas (por exemplo,
porose foi introduzida na lista de indicações tera-
punho ou antebraço), a osteoporose é confirmada
pêuticas após ter sido inicialmente utilizado no
com determinação da DMO antes do início da tera-
tratamento das metástases ósseas e da doença
pêutica.
de Paget.
• Nos casos em que a decisão de iniciar terapêutica
m Durante um seguimento de 3 anos, o zoledronato
seja baseada apenas num valor de DMO que indica
demonstrou reduzir o risco relativo de fracturas
osteoporose (T score ≤ - 2,5 DP), os factores a
vertebrais em 70% e de fracturas do colo do
considerar incluem: a gravidade da osteoporose de
fémur em 41% (Nível de Evidência A).
acordo com a determinação da DMO, a idade do
doente (maior idade favorece tratamento), história m Nos três dias subsequentes à perfusão do fár-
familiar de osteoporose, estado geral do doente, co- maco, cerca de 15% dos doentes desenvolve
morbilidades e terapêutica farmacológica concomi- sintomas gripais; também pode ocorrer febre e
tante, nomeadamente corticoterapia. dores musculares.
• Se o doente não apresentar história prévia de frac- m De forma semelhante aos outros bisfosfonatos, a
tura, factores de risco ou história familiar de osteo- terapêutica com zoledronato requer boa função
porose recomenda-se adiar a determinação da renal e a utilização concomitante de cálcio e vita-
DMO até aos 70-75 anos de idade para evitar tra- mina D.
tamentos pouco custo-efectivos. Nesta altura, a
idade por si só é factor de risco.

45
Tabela 4. Prevenção e tratamento da osteoporose

Intervenção Implementação

Prevenção e terapêutica • Aporte suficiente de cálcio e vitamina D


básica
• Actividade física regular

• Evicção de hábitos tabágicos

Terapêutica Farmacológica

Estrogénios • Estradiol oral 1-2 mg/dia ou sistema transdérmico com libertação de 25-50 µg de
estradiol/dia ou gel com 0,5-1,5 mg de estradiol aplicado na pele uma vez por dia

• Deve ser adicionado um progestagénio contínuo ou cíclico de acordo com o status de me-
nopausa; o progestagénio é desnecessário nos casos de histerectomia prévia

Tibolona • 2,5 mg por via oral uma vez por dia

Raloxifeno • 60 mg por via oral uma vez por dia

Bisfosfonatos • Alendronato 70 mg uma vez por semana de manhã meia hora antes do pequeno-almoço
com bastante água; o doente deve permanecer em posição erecta durante essa meia hora

• Risedronato 35 mg uma vez por semana de manhã, de forma semelhante ao alendronato

• Ibandronato 150 mg uma vez por mês de manhã, de forma semelhante ao alendronato, ou
3 mg por via endovenosa a cada 3 meses

• Zoledronato 5 mg por perfusão endovenosa uma vez por ano

Calcitonina • 200 UI diariamente por via intranasal; para alívio da dor nas fracturas vertebrais pode ser su-
ficiente uma dose inferior

Testosterona • De acordo com a preparação, 250 mg de ésteres de testosterona a cada 2-4


(apenas em homens) semanas ou 1000 mg de undecanoato de testosterona a cada 10-14 semanas por via in-
tramuscular

• Testosterona 5 mg de gel de testosterona (contendo 50 mg de testosterona) na pele, uma


vez por dia

Teriparatida • 20 µg por injecção subcutânea uma vez por dia durante 18 meses

Ranelato de Estrôncio • 2 g por via oral uma vez por dia 2 horas após uma refeição, preferencialmente ao deitar

46
Calcitonina terapêutica farmacológica como profilaxia ou trata-
mento de osteoporose incipiente.
• A calcitonina foi um dos primeiros fármacos dispo-
níveis antes dos bisfosfonatos. É menos potente do • O alendronato inibe a destruição óssea. Como raro
que os últimos. Pode estar indicada se os bifosfo- efeito adverso, pode impedir a formação óssea e
natos se mostrarem inadequados. A calcitonina tem paradoxalmente aumentar o risco de fracturas ou
poucos efeitos adversos. atrasar a recuperação de uma fractura em doentes
com múltiplas patologias.
• As fracturas osteoporóticas com dor são uma indi-
cação especial para calcitonina. A duração do tra- • A eficácia óssea dos bisfosfonatos mantém-se du-
tamento é geralmente um a dois meses. rante vários anos. Deste modo, a terapêutica deve
ter uma duração fixa de, por exemplo, 5 anos.
• A calcitonina demonstrou melhorar a DMO do osso
esponjoso na coluna vertebral e diminuir o risco de • Determinar a DMO por DXA 2 a 3 anos após o fim
novas fracturas vertebrais em mulheres pós-meno- do tratamento.
pausa1. É aplicada numa dose intranasal de 200 UI. • De acordo com o conhecimento actual, não é ne-
m A calcitonina melhora ligeiramente a DMO. O cessário interromper o tratamento durante a recu-
efeito é mediado através da melhoria da quali- peração de uma fractura ou convalescença após
dade do osso, a qual é difícil de medir. artroplastia de substituição.

• O efeito no alívio da dor é parcialmente mediado


pelo sistema nervoso central. Outros medicamentos
• No tratamento da fractura vertebral com dor, a cal- • A teriparatida (Nível de Evidência A) é um análogo
citonina pode ser combinada com um bisfosfonato. da PTH, administrado uma vez por dia por via sub-
cutânea. Está indicada no tratamento da osteopo-
m A duração da terapêutica é restrita, geralmente,
rose grave da coluna vertebral quando os
a alguns meses. A utilização prolongada pode re-
bifosfonatos não são eficazes ou adequados. A uti-
sultar na chamada osteopatia adinâmica.
lização é restringida pelo preço. A duração máxima
de tratamento é de 18 meses.
Utilização prolongada de bisfosfonatos • Os esteróides anabolizantes (testosterona 250 mg
e calcitonina por via intramuscular a cada 3 semanas) estão indi-
• A utilização prolongada destes fármacos é dispen- cados no hipogonadismo masculino. Foram admi-
diosa; portanto, o diagnóstico de osteoporose deve nistrados em casos particulares de indivíduos do
ser confirmado e o efeito terapêutico avaliado. sexo masculino sob corticoterapia. A sua utilização
Deste modo, são geralmente pré-requisitos para a não está recomendada no sexo feminino, nem
decisão terapêutica a possibilidade de realizar as mesmo em doses baixas.
determinações da DMO na coluna lombar e fémur m A terapêutica não traz benefícios para o osso se
proximal necessárias para o seguimento do efeito a concentração sérica de testosterona estiver
terapêutico ou determinar a taxa de destruição discretamente diminuída mas ainda assim dentro
óssea por parâmetros bioquímicos (por exemplo dos valores de referência. O hipogonadismo de-
NTX urinário a cada 2 a 3 anos ou CTX após 3 finitivo constitui um pré-requisito para atingir be-
meses). nefício.
• Estes fármacos são cada vez mais utilizados profi- • O calcitriol é a forma activa da vitamina D e é utili-
laticamente nos doentes com história de fractura ou zado em doentes com patologia renal. A utilização
múltiplos factores de risco. Os doentes sob cortico- no tratamento e prevenção da osteoporose nos ido-
terapia de longa duração também podem beneficiar sos está sob investigação. As áreas problemáticas
destes fármacos. incluem a necessidade de uma dosagem exacta e
• Os doentes com cancro da próstata sob terapêutica as consequências adversas resultantes de uma so-
hormonal prolongada também podem necessitar de bredosagem.

47
• As tiazidas diminuem a excreção urinária do cálcio • A redução do risco de fractura tem sido mais difícil
e protegem contra a osteoporose (Nível de Evidên- de demonstrar do que o efeito na DMO. Ainda
cia C), o que deve ser tido em conta na escolha da assim, uma DMO reduzida constitui um factor de
terapêutica na hipertensão e insuficiência cardíaca. risco para fractura e por isso uma indicação tera-
• O ranelato de estrôncio é fármaco com efeito ana- pêutica. O problema essencial na prevenção primá-
bolizante. O efeito assemelha-se ao da teriparatida ria é identificar os doentes que necessitam de
mas o preço é muito inferior. determinação da DMO e tratamento.

m O ranelato de estrôncio diminui a reabsorção • Os bisfosfonatos e estrogénios demonstraram ter


óssea, não afectando a formação óssea. De- efeitos benéficos em mulheres até aos 75 anos de
monstrou-se a eficácia na redução da incidência idade. Em princípio, o tratamento da osteoporose
de fracturas da anca e vertebrais em mulheres será de longa duração se os factores de risco não
osteoporóticas na pós-menopausa (Nível de Evi- puderem ser eliminados. Todavia, o tratamento pode
dência B). frequentemente ser descontinuado aos 5 anos,
desde que DMO seja monitorizada. Nos idosos nos
m O mecanismo de acção não é claro. quais se estime que a restante duração de vida inde-
m O fármaco está indicado nos doentes em que os pendente seja curta, o tratamento pode ser encur-
bisfosfonatos não foram tolerados ou se mostra- tado porque o efeito dos bisfosfonatos permanece
ram ineficazes. Os efeitos adversos são raros, vários anos após a descontinuação da terapêutica.
mas é possível a ocorrência de uma reacção de • Nos indivíduos com idade superior a 80 anos, a os-
hipersensibilidade grave. teoporose já não é um factor de risco principal para
m O tratamento é contínuo: 2 g dissolvidos em fractura. Nesta idade, os factores de risco principais
água, ingeridos após esvaziamento gástrico, à são as doenças neurológicas e cardiovasculares
noite. que causam quedas4. As quedas devem ser preve-
nidas e o doente deve ser simultaneamente prote-
gido de fracturas utilizando protectores da
anca (Nível de Evidência C).
Efeitos dos fármacos na redução do risco
de fracturas
• A primeira fractura osteoporótica prediz novas frac- Terapêutica combinada e duração
turas. Este é o motivo pelo qual a prevenção secun- da terapêutica
dária é mais eficaz que a prevenção primária e pelo • A adição de outros fármacos nos casos em que já
qual o grupo alvo para tratamento é constituído por foi instituída terapêutica básica com estrogénios por
aqueles com fractura prévia. sintomas relacionados com a menopausa, não pro-
• Foi demonstrado o efeito dos estrogénios na pre- duz benefícios adicionais na profilaxia da osteo-
venção primária e secundária  das fracturas verte- porose primária. No entanto, a utilização de estro-
brais e da anca (Nível de Evidência B). génios em monoterapia é insuficiente em 20% das
• O alendronato e o risedronato demonstraram ser mulheres sendo necessária a utilização adicional de
eficazes na prevenção secundária em doentes com um bisfosfonato. Na fractura vertebral dolorosa, a
osteoporose instalada ou complicações relaciona- calcitonina combinada com um bifosfonato é fre-
das, reduzindo o risco de fractura. A calcitonina quentemente indicada num período de tempo limi-
também demonstrou eficácia na prevenção secun- tado.
dária com uma dose de 200 UI /dia.
• A prevenção de nova fractura com bisfosfonatos Seguimento
(prevenção secundária) é eficaz, e os NNT (number • No caso de optar por não instituir terapêutica num
needed to treat) são muito inferiores aos da preven- doente de risco com osteopénia, a situação clínica
ção primária. deve ser reavaliada após 2 a 5 anos.

48
• Se necessário, o NTX urinário ou o CTX sérico cor- Referências Bibliográficas
respondente são avaliados antes do início do trata-
1
Chesnut CH 3rd, Silverman S, Andriano K, et al. A randomized trial
mento e novamente após 3 meses: uma diminuição
of nasal spray salmon calcitonin in postmenopausal women with
de 50% a 60% indica boa resposta à terapêutica.
establi-shed osteoporosis: the prevent recurrence of osteoporotic
• Determinações para controlo da DMO no trata- fractures study. PROOF Study Group. Am J Med 2000;109(4):267-
mento farmacológico da osteoporose 76

m A determinação pode ser repetida após 2 a 3 2


Klotzbuecher CM, Ross PD, Landsman PB, Abbott III TA, Berger
anos (preferencialmente com o mesmo aparelho M. Patients with prior fractures have an increased risk of future frac-
de DXA; até neste caso é frequente existir um tures: a summary of the literature and statistical synthesis. J Bone
erro de medida na ordem dos 2% a 3%). A DMO Miner Res 2000;15:721-39

deve manter-se semelhante ao determinado 3


Vogel VG, Costantino JP, Wickerham DL, et al; National Surgical
antes do início do tratamento. Adjuvant Breast and Bowel Project (NSABP). Effects of tamoxifen
vs raloxifene on the risk of developing invasive breast cancer and
m No caso de descontinuação de uma terapêutica
other disease outcomes: the NSABP Study of Tamoxifen and Ralo-
inicialmente planeada como temporária, deve
xifene (STAR) P-2 trial. JAMA 2006;295(23):2727-41
realizar-se uma DXA 1 a 2 anos após desconti-
nuação da terapêutica planeada como temporá-
4
Kanis JA, Borgström F, De Laet C, et al. Assessment of fracture risk.
Osteoporos Int 2005;16:581-9
ria.
5
Bischoff-Ferrari HA, Willett WC, Wong JB, Giovannucci E, Dietrich
• Se a terapêutica farmacológica tiver sido iniciada
T, Dawson-Hughes B. Fracture prevention with vitamin D supple-
pela presença de fractura vertebral, o seguimento
mentation: a meta-analysis of randomized controlled trials. JAMA
pode ser baseado em radiografias de controlo.
2005;293(18):2257-2264DARE
• Os doentes com fracturas devem ser encaminha- 6
Reginster JY, Adami S, Lakatos P, et al. Efficacy and tolerability of
dos por uma enfermeira especializada em fracturas once-monthly oral ibandronate in postmenopausal osteoporosis: 2
para detecção e tratamento de osteoporose. year results from the MOBILE study. Ann Rheum Dis
2006;65(5):654-61

49
Autor
Aila Tiitinen

Terapêutica Hormonal de Produzido a


26.05.2009
Traduzido e adaptado a

Substituição Pós-Menopausa 11.12.2009

Regras Básicas apresentar sintomas claramente relacionados com


a menopausa.
• Fornecer informação à utente acerca dos aspectos
• Devem ser consideradas outras causas para as ir-
essenciais, vantagens e desvantagens da terapêu-
regularidades menstruais pelo menos em mulheres
tica hormonal bem como dos benefícios e riscos a
sintomáticas com idade inferior a 45 anos. São úteis
longo prazo. A decisão final de iniciar terapêutica
no diagnóstico diferencial: prolactina sérica, TSH,
deve ser tomada pela utente. Discutir as alternativas
FSH (> 30 UI significa deficiência de estrogénio), e
à terapêutica hormonal.
prova com progestagénio. A determinação isolada
• Quanto mais precoce for a menopausa, mais pron- do estradiol sérico não é suficiente.
tamente deve ser iniciada a terapêutica.
• A prova com progestagénio – por exemplo, admi-
• Nas mulheres com útero intacto adicionar proges- nistração diária de 10 mg de acetato de medroxi-
tagénio à terapêutica com estrogénio. progesterona (AMP) durante 10 dias – dá uma ideia
• A indicação primária para a terapêutica hormonal de da produção ovárica de estrogénio. Se a utente
substituição (THS) na pós-menopausa é o trata- apresentar hemorragia de privação (o que normal-
mento dos sintomas relacionados com a meno- mente ocorre uma semana após descontinuação da
pausa. terapêutica) então deve manter-se a terapêutica cí-
clica com progestagénio entre os dias 15 e 25 do
ciclo enquanto ocorrerem hemorragias uterinas re-
Indicações para Terapêutica gulares.
Hormonal de Substituição • A terapêutica com estrogénios pode ser adicionada
• Sintomas da menopausa (afrontamentos, sudorese, ao tratamento das mulheres sintomáticas sem he-
perturbações do sono). morragia ou com hemorragias muito escassas já
que nestes casos existe ausência de produção de
• Profilaxia da osteoporose apenas nas utentes que
estrogénio endógeno.
apresentem concomitantemente sintomas da me-
nopausa, necessitando assim de tratamento. Nos
restantes casos, os bifosfonatos poderão ser uma Investigação Clínica
opção mais adequada. • Antes de iniciar o tratamento:
m A terapêutica hormonal poderá ser utilizada m realizar observação ginecológica e mamária;
quando outros fármacos não forem adequados
e não haja contra-indicações para a respectiva m realizar citologia cervico-vaginal e mamografia
utilização, mesmo quando os sintomas da me- (exames anteriores são aceitáveis se realizados
nopausa por si só não exijam terapêutica. no máximo há 2 anos);

• Os sintomas urogenitais são tratados com agentes m registar pressão arterial e peso;
tópicos (Nível de Evidência: A). m determinar a presença de eventuais contraindi-
cações (não esquecer a história familiar).
Início do Tratamento
• A terapêutica com estrogénios não deve ser intro- Contraindicações para a Terapêutica
duzida prematuramente mas apenas, preferencial- Hormonal de Substituição
mente, depois dos ciclos menstruais se tornarem
• Cancro da mama;
raros, ou terem mesmo cessado, e quando a utente

51
m Nas mulheres que sobreviveram a cancro da mento dos sintomas decorrentes da menopausa. O
mama, a instituição da terapêutica hormonal de seguimento é feito de acordo com a resposta clí-
substituição deve ser feita com precaução. No nica; geralmente o doseamento de estrogénio não
ensaio clínico aleatorizado HABITS, a terapêutica traz benefícios.
combinada com estrogénios e progestagénios • O tratamento tópico com cremes ou pessários é a
realizada durante dois anos aumentou significati- melhor escolha na presença isolada de sintomas
vamente o risco de recidiva do cancro da mama. urogenitais (Nível de Evidência: A). Nas utentes mais
No entanto, o ensaio clínico de Estocolmo não idosas, incapazes de auto-administrar agentes tó-
demonstrou um aumento do risco de recidiva picos, pode ser considerado um anel vaginal liber-
(Nível de Evidência: C). O estudo LIBERATE de- tador de estrogénio. Não é necessário combinar o
monstrou que também a tibolona aumenta o tratamento tópico com estrogénios com um proges-
risco de recidiva. tagénio cíclico (Nível de Evidência: B). Deve ser es-
• História de trombose venosa profunda, embolia pul- clarecida a etiologia de qualquer hemorragia uterina.
monar ou doença da coagulação (relativa);
• Carcinoma do endométrio (relativa, é necessária Progestagénios
avaliação por ginecologista);
• A administração de progestagénios pode ser oral,
• Patologia cardíaca de difícil controlo; transdérmica (combinada com estrogénio) e tópica
• Doença hepática grave; (dispositivo intra-uterino com libertação hormonal).
• Hipertensão arterial resistente ao tratamento (os fár- • Os efeitos adversos subjectivos dos diferentes pro-
macos anti-hipertensores, por si só, não constituem gestagénios são variáveis.
contra-indicação); • Os efeitos dos diferentes progestagénios no tecido
• Lúpus eritematoso sistémico (LES) quando anticor- mamário são variáveis. A progesterona natural e a
pos antifosfolipídicos estão presentes (risco de didrogesterona provavelmente têm menos efeitos
trombose);  adversos do que os outros progestagénios.
• Hemorragia vaginal de etiologia não esclarecida. A • Os 19-norprogestagénios têm um maior efeito anti-
terapêutica hormonal pode ser iniciada quando for proliferativo sobre o endométrio do que a progeste-
excluída a presença de neoplasia maligna. rona natural, a didrogesterona, ou derivados da
17-alfa-hidroxiprogesterona; são por isso eficazes
em perturbações hemorrágicas (menorragia) mas
Selecção do Regime Terapêutico devem ser utilizados em doses diárias mais eleva-
e Modo de Administração das (5 a 10 mg de noretisterona diariamente durante
12 dias por ciclo).
Estrogénios
• O estradiol é o estrogénio mais frequentemente Princípios do Tratamento
utilizado, podendo ser administrado por via oral,
• A terapêutica isolada com estrogénio deve ser utili-
sistema transdérmico ou gel. O modo de adminis-
zada apenas em mulheres histerectomizadas. Nas
tração deve ser decidido de acordo com a conve-
restantes, deve ser sempre adicionado progestagé-
niência.
nio para impedir a hiperplasia endometrial (Nível de
• A administração transdérmica é mais vantajosa nas Evidência: A).
doentes com tendência ou história familiar de pato-
• O tratamento é iniciado com uma preparação cíclica
logia trombótica (Nível de Evidência: A). Também
combinada de estrogénio/progestagénio ou com
pode trazer mais vantagens nas utentes com enxa-
estrogénio fornecido continuamente e progestagé-
queca, diabetes mellitus e sob terapêutica anti-epi-
nio nos primeiros 12-14 dias de cada mês do ca-
léptica.
lendário.
• Deve ser prescrita a dose mínima eficaz no trata-

52
• Se a mulher não pretender hemorragia uterina incomodativos ou persistirem por um período supe-
podem ser utilizados esquemas combinados contí- rior a 3 meses.
nuos em que os estrogénios e progestagénios são • As formas de reduzir os efeitos adversos progesta-
fornecidos diariamente. No entanto, recomenda-se génicos incluem a utilização da dose mínima eficaz
que este regime terapêutico não seja prescrito até e a alteração do modo de administração para apli-
que estejam completos 12 meses após a meno- cação transdérmica ou sistema intra-uterino.
pausa, quando a terapêutica cíclica tiver reduzido a
hemorragia uterina. • A terapêutica hormonal de substituição com estro-
génio aumenta até um terço a necessidade de
m A terapêutica é iniciada com uma dose baixa de tiroxina nas mulheres sob terapêutica por hipotiroi-
estrogénio, por exemplo estradiol 1 mg ou sis- dismo.
tema transdérmico de 25 µg, combinada com
uma dose baixa de progestagénio ou com um
dispositivo intra-uterino libertador de progestagé- Hemorragia Uterina
nio. As doses podem ser ajustadas posterior- • Pretende-se que a hemorragia uterina ocorra du-
mente de acordo com a resposta e eventuais rante a semana livre de tratamento ou após o fim da
efeitos adversos. fase com progestagénio no tratamento cíclico. A
• A tibolona pode ser utilizada como método de tra- quantidade e duração da hemorragia deve ser nor-
tamento livre de hemorragia (apenas 12 meses após mal. Após vários anos de terapêutica, a quantidade
o último período menstrual). Foi demonstrado que de sangue perdido diminuirá ou até cessará em
a tibolona reduz a ocorrência de fracturas vertebrais muitas mulheres.
osteoporóticas. Em mulheres saudáveis com idade • Nos regimes livres de hemorragia, esta deve cessar
superior a 60 anos, a tibolona reduziu a ocorrência totalmente 4 a 6 meses após o início do tratamento.
de fracturas e cancro da mama mas aumentou o
• Na presença de perdas hemáticas irregulares deve
risco de acidente vascular cerebral.
ser considerada a necessidade de investigação (ci-
• Os inibidores selectivos da recaptação da seroto- tologia ginecológica, ecografia ginecológica, biopsia
nina e os mais recentes inibidores da recaptação da endometrial).
noradrenalina parecem ter algum efeito nos afron-
• A ecografia por via endovaginal é um bom método
tamentos e podem ser considerados nas mulheres
para detecção de hiperplasia endometrial, miomas
nas quais a terapêutica com estrogénios é inade-
submucosos e pólipos. A presença de espessa-
quada (Nível de Evidência B).
mentos anormais do endométrio exige a realização
m Ex.: venlafaxina 37,5-75 mg (libertação prolon- de exame histológico.
gada), paroxetina 20 mg, citalopram 10-20 mg
• A biópsia endometrial é fácil de obter durante uma
m Gabapentina 900 mg por dia é uma alternativa. consulta habitual sendo a curetagem raramente ne-
cessária.
Efeitos Adversos da Terapêutica
Hormonal de Substituição Seguimento do Tratamento
• Recomenda-se a realização de uma consulta de se-
• Durante os primeiros meses de THS são comuns
guimento 12 meses após o início da TSH.
efeitos adversos como edema ou tensão mamária.
• Durante o primeiro ano deve ser dada atenção ao
• Não há evidência de que a THS resulte em aumento
desaparecimento ou persistência de sintomas,
ponderal (Nível de Evidência: A).
ocorrência de quaisquer efeitos adversos e satisfa-
• Os efeitos adversos progestagénicos incluem cefa- ção das utentes com o tratamento.
leias e sintomas psicogénicos.
• Durante a consulta anual de seguimento deve ser
• A preparação progestagénica deve ser alterada ou registada a pressão arterial e realizado exame gine-
reduzida se os efeitos adversos subjectivos forem cológico e mamário.

53
• A cada dois anos é recomendada mamografia e ci- depressivo menopáusico (Nível de Evidência: C),
tologia ginecológica (recordar a calendarização dos mas não melhora a função cognitiva em mulheres
programas de rastreio). assintomáticas (Nível de Evidência: A).
• Durante a consulta de seguimento deve ser ponde- • Quer a terapêutica isolada com estrogénios quer a
rada uma eventual diminuição da dose ou descon- combinada com estrogénios e progestagénios
tinuação do tratamento. estão associadas a um aumento do risco de trom-
boembolismo venoso (Nível de Evidência: A). Cal-
cula-se que o risco adicional anual seja 1 em cada
Vantagens e Desvantagens 10 000 utilizadoras de estrogénios entre os 50 e os
da Terapêutica Hormonal 59 anos de idade sendo que o risco de morte por
de Susbtituição embolia pulmonar é estimado em 1 por cada
100 000. O risco aumenta com a idade. O risco de
• Os benefícios da THS no tratamento dos sintomas tromboembolismo parece ser máximo no início do
decorrentes da menopausa estão bem estabeleci- tratamento (Nível de Evidência: A). A introdução da
dos (Nível de Evidência: A). THS deve ter em consideração a história familiar,
• A THS reduz claramente a atrofia e a inflamação da episódios tromboembólicos prévios, obesidade
área urogenital. grave e imobilização.
• O tratamento com estrogénios previne o desenvol- • As desvantagens da THS são a ocorrência de efei-
vimento da osteoporose relacionada com a meno- tos adversos hormonais e hemorragia vaginal. A
pausa, assim como a ocorrência de fracturas THS aumenta o risco de cancro da mama (Nível de
osteoporóticas (Nível de Evidência: A). Evidência: A), em menor dimensão quando são uti-
lizados estrogénios isolados em comparação com
• Os estrogénios têm efeitos directos e indirectos (lí-
a terapêutica combinada com estrogénios e proges-
pidos) no sistema vascular. O efeito da terapêutica
tagénios (Nível de Evidência: B).
com estrogénios e combinada estrogénio/proges-
tagénio no risco de doença cardíaca coronária de- m De acordo com o resultado de meta-análises, o
pende da idade e da fase relativamente à risco relativo de cancro da mama é de 1,35 nas
menopausa aquando do início da terapêutica. mulheres que utilizaram THS por pelo menos 5
anos. Entre os 50 e os 65 anos de idade, a inci-
m Estudos epidemiológicos sugerem que a THS, se
dência cumulativa de cancro da mama é de 45
iniciada numa mulher saudável menos de 10
por cada 1000 mulheres que nunca fizeram THS.
anos após a menopausa, tem um efeito protector
A utilização de THS durante 10 anos causa um
relativamente a eventos cardíacos. A terapêutica
risco adicional (risco atribuído) de 6 casos por
combinada em mulheres assintomáticas com
1000 mulheres (intervalo de confiança, 3-9). De
idade média de 63 anos de idade promove um
acordo com o estudo WHI, a utilização isolada de
discreto aumento do risco cardiovascular a 5
estrogénios em mulheres histerectomizadas se-
anos (Nível de Evidência: A).
guidas pelo menos durante 7 anos não parece
m No entanto, num estudo controlado (o estudo aumentar o risco de cancro da mama (Nível de
HERS) no qual a combinação de estrogénios e Evidência: B).
progestagénios foi usada para prevenção secun-
• De acordo com estudos epidemiológicos, a tera-
dária da doença cardíaca coronária, verificou-se
pêutica prolongada (> 10 anos) com estrogénios
que o número de eventos cardiovasculares au-
pode estar associada a um aumento do risco de
mentou durante os primeiros 12 meses mas di-
cancro do ovário (Nível de Evidência: B). O risco
minuiu até ao final do período de seguimento no
está aumentado quer na terapêutica isolada com
grupo do tratamento (Nível de Evidência: B).
estrogénios quer na combinada com estrogénios e
m A THS está associada a um risco aumentado de progestagénios. O risco não é influenciado pela via
AVC isquémico (Nível de Evidência: A). de administração.
• A THS pode ser benéfica no tratamento do humor • Se for adicionada uma dose suficiente de proges-

54
tagénio à terapêutica não se verifica um aumento Bibliografia
do risco de cancro do endométrio (Nível de Evidên-
1
Petri M, Kim MY, Kalunian KC et al; OC-SELENA Trial. Combined
cia: A).
oral contraceptives in women with systemic lupus erythematosus.
• A combinação de estrogénios e progestagénios N Engl J Med 2005 Dec 15;353(24):2550-8. 
reduz o risco de cancro do cólon (Nível de Evidên- 2
Anderson GL, Limacher M, Assaf AR et al; Women's Health Ini-
cia: A), mas estes podem ser mais avançados nas tiative Steering Committee. Effects of conjugated equine estrogen
utilizadoras de THS, o que de certo modo anula o in postmenopausal women with hysterectomy: the Women's
Health Initiative randomized controlled trial. JAMA 2004 Apr
benefício.
14;291(14):1701-12. 
• A TSH pós-menopausa aumenta o risco de coleli- 3
Canonico M, Plu-Bureau G, Lowe GD, Scarabin PY. Hormone re-
tíase (Nível de Evidência: A) e está também asso- placement therapy and risk of venous thromboembolism in
ciada a um risco 1,8 vezes superior de colecistite. postmenopausal women: systematic review and meta-analysis.
BMJ 2008 May 31;336(7655):1227-31.
4
Rossouw JE, Prentice RL, Manson JE et al. Postmenopausal hor-
mone therapy and risk of cardiovascular disease by age and
Recursos Relacionados years since menopause. JAMA 2007 Apr 4;297(13):1465-77. 
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Kenemans P, Bundred NJ, Foidart JM et al; LIBERATE Study
Group. Safety and efficacy of tibolone in breast-cancer patients
• Outros sumários de evidência
with vasomotor symptoms: a double-blind, randomised, non-in-
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6
Cummings SR, Ettinger B, Delmas PD et al; LIFT Trial Investiga-
tors. The effects of tibolone in older postmenopausal women. N
Engl J Med 2008 Aug 14;359(7):697-708. 

Autor:
Identificação do Artigo: ebm00550 (025.051)
© 2009 Duodecim Medical Publications Ltd

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